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Soluções Anestésicas Carolina Magalhães 2021.1 2 Principais soluções anestésicas utilizadas em Anestesiologia Como seriam as propriedades de um anestésico local ideal? · Não ser irritante; · Não provocar alteração permanente nos tecidos; · Ser eficaz independente do local de aplicação e via de aplicação; · Não causa danos sistêmicos; · Apresentar o menor período de latência (tempo necessário entre a deposição do anestésico e o início do seu efeito); · Duração e potência clinicamente eficazes; · Ser estéril ou esterilizável. Tipos de anestésicos locais: · Ésteres: butacaína, cocaína, benzocaína (tópico), hexilcaína, piperocaína, tetracaína (spray), cloroprocaína. · Cadeia intermediária: ligação do tipo éster. · Amidas: articaína, bupivacaína, dibucaína, etidocaína, lidocaína, mepivacaína, prilocaína e ropivacaína. · Cadeia intermediária: ligação do tipo amida. FARMACOCINÉTICA DOS ANESTÉSICOS LOCAIS 1. Captação: absorção do anestésico local para a corrente sanguínea. Isso não é bom, quanto mais próximo o anestésico ficar do nervo, seria melhor pra anestesia. a. Dilatação dos vasos no local de infiltração (exceto quando usa a cocaína). b. As melhores drogas (sem vasoconstritores) nesse quesito são as que causam menor vasodilatação (a mepivacaína e a prilocaína são as que apresentam menor atividade vasodilatadora relativa). c. Quanto maior a vasodilatação, ou seja, quanto maior a vasoatividade do anestésico, terei maior absorção da droga pela corrente sanguínea. d. Se o local onde você está injetando o anestésico é mais vascularizado (exemplo: lábio – alta vascularização) também terei maior absorção da droga pela corrente sanguínea. e. Quanto maior a absorção pela corrente sanguínea, menos anestésico terei ao redor do nervo. Então, quanto maior a absorção, menor será o efeito anestésico (profundidade de duração) e maior vai ser a toxicidade pro paciente. 2. Distruibução: sangue -> tecidos. Tecidos com maior perfusão (SNC, fígado, baço, pulmões, rins, músculos) apresentarão maior concentração desse anestésico. Nesse quesito, temos o tempo de meia vida (tempo necessário para redução dos níveis saguineos de uma droga em 50% - depende da velocidade com que a droga sai do sangue é distribuída para os tecidos e da eliminação de vias metabólicas e ou excretoras) a. Quanto menor o tempo que esse anestésico se mantiver em altos níveis sanguíneos, mais segura será essa droga. 3.1 Metabolismo dos anestésicos do tipo AMIDA b. Fígado: lidocaína, mepivacaína, articaína, bupivacaína e prilocaína. c. Pulmões: prilocaína – embora também se metabolize em duas regiões, a porcentagem que sofre metabolismo no pulmão é muito pequena. d. Sangue: articaína – menor meia vida, porque o metabolismo dela se dá de forma expressiva em duas regões, no fígado e no plasma. Metabolismo hepático · Velocidade de biotransformação Articaína > Lidocaína = Mepivacaína = Prilocaína > Etidocaína = Bupivacaína Todos possuem um tempo bem próximo, exceto a articaína, que se metaboliza bem rápido. Tempo de meia vida plasmática da lidocaína: · Paciente hígido: 1,8h · Paciente hepatopata: 4,9h · Se o paciente relatar ou você suspeitar que ele tem hepatite/cirrose, ficar atento a isso e reduzir a dose de anestésico nesses casos. 3.2 Metabolismo dos anestésicos do tipo ÉSTER a. Plasma sanguíneo (principalmente pela enzima pseudoclinesterase plasmática): Cloroprocaína, procaína e tetracaína. b. Após o metabolismo, há a formação de um metabólito: ácido para-aminobenzóico (o PABA – associado a maior ocorrência de alergias nesses anestésicos). c. Desencadeiam alergias muito mais do que o anestésicos do tipo amida; d. Alguns pacientes tem um traço hereditário onde essa enzima não funciona de maneira correta (pseudocolinesterase atípica). 4. Excreção: os rins são os principais órgãos excretores dos anestésicos locais e dos metabólitos. 1 a 10% são excretados na urina de forma inalterada. Atenção aos portadores de insuficiência renal, pois nesse caso o paciente pode apresentar um maior acumulo de metabólitos de anestésicos de ambos os tipos. - Insuficiência renal é contra-indicação para anestésicos locais. Ações sistêmicas dos anestésicos locais · Bloqueio reversível os potenciais de ação (impulsos nervosos) em todas as membranas excitáveis. Se ele ganha a circulação sanguínea, atua em todo o corpo do paciente. · Acontecem principalmente no SNC e no cardiovascular. · Quanto maior a concentração plasmática do anestésico, mais intensa será sua ação sistêmica. · SNC: Eles atravessam facilmente a barreira hematoencefálica, causando a depressão do SNC. Em baixas concentrações (0,5 a 4ug/ml), ele podem apresentar propriedades anticonvulsivantes (procaína, lidocaína e prilocaína). Porém, mesmo em baixas concentrações com efeitos positivos, quando essas concentrações sobem (4,5 a 7ug/ml), o paciente começa a apresentar efeitos deletérios do anestésico (tremor, sudorese intensa). Se o nível passa de 7,5 umg/ml terei uma convulsão tonico-clônica, podendo apresentar uma posterior depressão generalizada. · No SNC, temos um impulso inibidor e um impulso excitatório. Num paciente normal, existe equilíbrio entre essas duas vias. · Se o anestésico, por descuido, for injetado dentro do vaso, o nível dele no sangue vai começar a subir, podendo chegar ao SNC e a principio vai atuar nos neurônios de inibição, reduzindo sua atividade – rompe-se o equilíbrio e o paciente começa a apresentar sinais de excitação (tremor, agitação e calafrios) pois a via que causava inibição começou a ter sua ação diminuída/bloqueada por aquele anestésico e as vias excitatórias começa a ter uma ação predominante, e o paciente vai apresentar tremor, agitação e calafrios. Em um determinado momento, toda a via de neurônios de inibição será bloqueada, nesse momento teremos uma atuação da via de excitação sozinha, onde o paciente apresenta a convulsão. Porém, o nível do anestésico continua subindo, então, além de bloquear os neurônios da via de inibição, vai bloquear também os da via de excitação, então, ele terá depressão generalizada. · SISTEMA CARDIOVASCULAR: ações diretas sobre o miocárdio. Em baixas doses, tem uma ação antiarrítmica (procaína e lidocaína) mas conforme a dose vai aumentando, temos uma maior velocidade de despolarização do músculo cardíaco, o que se traduz em disfunção da função cardíaca (redução de: excitabilidade elétrica do miocárdio, da velocidade de condução e da força de contração). Em superdosagem, teremos redução da contratilidade miocárdica e do débito cardíaco. · O SNC é mais sensível a ação do anestésico, apresentará sinais e sintomas dessa toxicidade primeiro (agitação, tremor, sudorese, distúrbio visual, fala arrastada, convulsão tônico-clônica e depois começar a ter efeito de depressão no musculo cardíaco). · A lidocaína (e a procaína as vezes) faz com que os pacientes não apresentem a fase de excitação. Ele apresenta uma leve sonolência e já passa pra fase de depressão generalizada. · Ações diretas na rede vascular periférica: vasodilatação (exceto a cocaína). O efeito primário disso vai ser a presença de hipotensão (depressão miocárdica + vasodilatação). Níveis abaixo da superdosagem Sem alterações da PA Níveis próximos da superdosagem Hipotensão leve Níveis de superdosagem Hipotensão acentuada Níveis letais Colapso cardiovascular · SISTEMA RESPIRATÓRIO: Níveis abaixo da superdosagem Relaxamento da musculatura lisa dos brônquios Níveis de superdosagem Parada respiratória por depressão do SNC Duração do efeito anestésico · Tempo variável (ex: 3 a 5h – pode ser que em 1h30 passe a anestesia); · Fatores que influenciam nele: · Resposta individual do paciente; · Precisão na técnica; · Condições dos tecidos locais; · Variação anatômica; · Tipo de injeção. Drogas a. LIDOCAÍNA · Nils Lofgren 1943; · Potência 2; · Metabolismo hepático (tipo amida) e excreção renal; · Início de ação rápido, 3 a 5 min; · Duração: 60 min (pulpar) e 3-5h (tecidos moles); · Dose máxima recomendada (DMR) 7mg/kg (máxima 500 mg); · PADRÃO OURO – droga a qual os novosanestésicos são comparados. b. MEPIVACAÍNA · Ekenstam, 1957; · Potência 2; · Metabolismo hepático e excreção renal; · Inicio de ação: rápido 3-5min; · Duração de anestesia: 60 min (pulpar) e 3-5h (tecidos moles); · DMR: 6,6mg/kg (máxima absoluta: 400mg) c. PRILOCAÍNA · Lofgren & Tegner, 1953; · Potência 2; · Metabolismo hepático, pulmão e rins; · Excreção renal; · Inicio de ação rápido 3-5 min; · Duração de anestesia: 60 min (pulpar) e 3-5h (tecidos moles) – somente quando for usada como bloqueio de nervo. Quando for bloqueio de campo ou infiltração local costuma ter sua duração reduzida; · DMR: 8mg/kg com máxima absoluta de 600 mg; · NÃO USAR EM GESTANTES (no brasil, a prilocaína é usada associada a felipressina, e é ela que é contra-indicada em gestantes). d. ARTICAÍNA · Rusching, 1969; · Potência 3; · Duração da anestesia: 60-75 min (pulpar) e 3-6h (tecidos moles); · DMR: 7mg/kg (não foi determinado valor absoluto – prudente considerar 500mg); · Diferencial: alta capacidade de difusão em tecidos moles e duros, principalmente nas áreas da maxila onde temos maior porosidade (região de 3º molar); e. BUPIVACAÍNA · Ekenstam, 1957; · Potencia 8 · Metabolismo no fígado e excreção renal; · Inicio de ação lento (6-10min); · Duração da anestesia: 90-180 min (pulpar) 4-9h (tecidos moles) – alguns relatos constataram 12h; · DMR: 2mg/kg (máxima absoluta 90mg). Quantos tubetes posso injetar no paciente? Qual anestésico está sendo utilizado? Qual a concentração do anestésico? Qual o peso do paciente? Qual a dose máxima absoluta do anestésico? Se o paciente apresentar doença renal, o metabolismo não vai ocorrer de forma normal, a droga pode acumular no sangue e causar reações adversas. Nesse caso, usar a menor dose possível. Pra um bloqueio de nervo precisaremos de no máximo um frasco. Mesmo que for repetir a dose, vão ser dois frascos. Além disso, devemos dividir o tratamento em mais sessões para que precise anestesiar áreas mais restritas e assim, use menor quantidade de anestésico. - USO DE MEPIVACAÍNA 2% DMR: 6,6mg/kg – Dose máxima absoluta 400mg Paciente 60kg – 60x6,6 = 396mg Se ele tivesse 80kg e essa conta dado acima de 400mg, usar apenas 400mg; PRUDÊNCIA: utilizar 70kg como peso máximo para o cálculo. Quantos tubetes tem em 396mg? · Concentração do anestésico – 2% (2 em 100 – 2g em 100ml) = 20mg por ml · Cada frasco tem 1,8ml; 1 ml -------- 20mg 1 tubete ------ 36mg 1,8ml ------- X X tubetes ----- 396mg X = 36 mg (por tubete) X = 11 tubetes Se for usar anestésico sem vasoconstritor (procedimentos simples, paciente pediátrico, paciente não pode...) DMR: 6,6mg/kg – Dose máxima absoluta 400mg Paciente de 20kg - 20 x 6,6mg = 132 mg Quando a mepivacaína não está associada a vasoconstritor, a porcentagem dela é de 3%. 3% (3 em 100 – 3g em 100 ml) = 30mg por ml 1 ml ----- 30 mg 1 tubete ----- 36mg 1,8ml ----- x x tubetes ----- 132 mg X = 54 mg (por tubete) x = 2,4 tubetes Se em algum caso for usar 2 anestésicos diferentes, a dose total de ambos anestésicos juntos não deve ultrapassar o cálculo da dose máxima do menor. Ex: Paciente 45 kg Anestésico local Mepivacaína 2 % Mepicavacaína 2% = 36mg/tubete Mepivacaína: 6,6 mg/kg = 297mg (DMR) Paciente recebe 2 tubetes (72 mg), e vamos trocar o anestésico Qual dose de Articaína que esse paciente pode receber? Articaína 4% = 72mg/tubete Articaína: 7,0mg/kg = 315mg (DMR) *Sempre usar a menor DMR como referência A DOSE TOTAL DE AMBOS ANESTÉSICOS LOCAIS NÃO DEVE ULTRAPASSAR A MAIS BAIXA (297mg) A paciente recebeu 72mg (mepivacaína), portanto ainda pode receber 225 mg de articaína. Portanto, 225 mg/72 mg (tubete) = aproximadamente 3 tubetes. Anestésicos Tópicos · Anestesia atraumática; · Mucosa e pele escoriada; · Concentração maior que a solução injetável; · Toxicidade potencialmente maior; · Sem vasoconstritores –maior absorção; · Eficaz na superfície – 2 a 3mm; · Spray, gel, pomada, etc. a. LIDOCAÍNA · Cloridrato 2 % - hidrossolúvel; · Base 5% - pouco hidrossolúvel; · Spray 10% - necessário dosímetro; · Dose máxima: 200 mg (maior tendência a uma a absorção maior e mais rápida); · Risco de toxicidade maior; · Risco de alergia muito pequeno; · Cada aplicação de spray: 10mg. b. BENZOCAÍNA · Éster – pouco hidrossolúvel; · Pouca absorção; · Reações toxicas desconhecidas; · Inadequada para injeção; · Mais alérgico que amidas; · Concentração de 10 a 20%. EMLA (Mistura Eutética de Anestésicos Locais): mistura de Lidocaína a 2,5% + Prilocaína 2,5% - na forma de emulsão (1:1), atuam sobre a pele íntegra. Vem com uma bisnaga e 2 adesivos. Aplicar 1 hora antes do procedimento e tem duração 1 a 2 horas após remoção. Alivia desconforto em pequenos procedimentos.
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