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Anestesiologia- aula 2 ( NEUROFISIOLOGIA APLICADA AOS ANESTÉSICOS LOCAIS) Anestésicos locais: substâncias químicas que impedem a geração e a condução de um impulso nervoso. Anestesia Local: é a dessensibilização pela depressão da excitação das terminações nervosas ou pela inibição do processo de condução dos nervos periféricos. (SNC não consegue fazer a leitura desse estímulo como dor) Propriedades desejáveis dos anestésicos locais: 1. não ser irritante para o tecido, não causar alteração permanente da estrutura nervosa, 2. deve ser eficaz na aplicação por injeção nos tecidos ou tópica em mucosas, 3. baixa toxicidade sistêmica, 4. o tempo de latência deve ser o menor possível (± 5min), 5. a duração do anestésico tem que ser suficiente para a conclusão do procedimento, 6. deve ter uma potencia suficiente para produzir anestesia sem o uso de soluções concentradas, 7. deve ser relativamente incapaz de causar reações alérgicas 8. deve ser estável em solução e rapidamente sofrer biotransformação no corpo 9. deve ser estéril ou passível de ser esterelizada sem deterioração. Estrutura da molécula A divisão funcional da molécula que determina a sua difusão através dos tecidos é a seguinte: Uma parte lipofílica apolar e uma hidrofílica polar, ambas unidas por uma cadeia intermediaria aberta, que é éster ou amida. A parte lipofílica é responsável pela difusão do anestésico para dentro do axônio. · Os anestésicos locais são bases fracas, instáveis e pouco solúveis. Sob esta forma eles não podem ser utilizados no organismo. Por isso, são combinados com o ácido clorídrico, formando cloridatos (solúveis e estáveis). Juntos formam soluções anestésicas iônicas ácidas, de pH 3 a 6. · Os anestésicos do tipo amida são os mais usados: lidocaína, articaína, bupivacaína... · Quanto menor o pH de uma solução anestésica, mais lento será o início da ação; Anestésicos com adrenalina, potente vasoconstritor, são acidificados para inibir a oxidação da adrenalina. · Um tecido inflamado possui pH 5 a 6, enquanto o normal pH= 7,4 Mecanismo de ação dos anestésicos locais: a membrana nervosa é o local onde os anestésicos locais exercem suas ações farmacológicas Eles se ligam à receptores específicos no canal de sódio. A medida que rompem-se as ligações fármaco-receptor, o fármaco deixa de agir assim que diminui sua concentração nos fluidos extracelulares. Nem todas as moléculas do A.L atingem o interior do neurônio por causa do processo de difusão e porque algumas serão absorvidas pelos vasos sanguíneos locais e pelos tecidos moles extracelulares no local da injeção. Dissociação dos anestésicos locais (influência do pH e do pKa) Solução anestésico contem moléculas de A.L não carregadas (RN), também denominadas bases, e moléculas positivamente carregadas (RNH+), chamadas cátion: RNH+ RN + H+ A proporção relativa de cada forma na solução depende do pH da solução ou dos tecidos adjacentes. · pH baixo: RNH+ > RN + H+ · pH alto: RNH+ < RN + H+ A porção carregada (RNH+) é responsável pelo bloqueio do canal de sódio, enquanto a porção não carregada (RN) se difunde para dentro do axônio. · Quando o (pH = pKa), a dissociação é equivalente : RNH+ = RN + H+ - Os dois fatores envolvidos na ação de um anestésico local são a difusão do agente através da bainha nervosa e a ligação com o sitio receptor no canal iônico. -A forma básica livre (RN) lipossolúvel, neutra, do anestésico é responsável pela difusão através da bainha do nervo. No lado axoplasmático, a forma catiônica (RNH+) liga - se ao receptor do canal e acaba responsável pelo bloqueio da condução resultante. 1. Ao injetar a anestesia a base livre (RN) passa para o interior do axônio e La existe anestésico na forma livre e na forma de cátion. Ela ira se dissociar na mesma proporção que ocorreu no lado extracelular, pois o pH não mudou. 2. Então se dissociará na proporção de 75% de RNH+ para 25% de RN. Das 250 RN que passaram, 80 serão RNH+ e 70RN. 3. A forma que não esta dissociada (RNH+) bloqueará o canal de sódio e impedirá o fluxo nervoso. Isto vai acontecendo até que o gradiente de concentração seja invertido. No interior do axônio o pH não altera mesmo em situações em que o lado de fora esteja mais ácido. · É o pH do liquido extracelular que determina a facilidade com a qual o anestésico sai do local da sua administração para o axoplasma da célula nervosa. · O efeito anestésico permanecerá enquanto houver RNH+ no meio extracelular. OBS: Anestesia em locais infeccionados: É mais difícil de conseguir um bloqueio adequado do nervo, pois os tecidos apresentam escassez de moléculas capazes de atravessar a bainha do nervo (RN), e há maior absorção das moléculas de anestésico remanescentes pelos vasos sanguíneos dilatados nessa região. Assim, a anestesia não é muito eficaz e o anestésico é eliminado com maior rapidez. Processo de bloqueio: · Parte da droga é absorvida por tecidos não nervosos · Parte é diluída pelo líquido intersticial · Parte é removida por capilares sanguíneos · AL do tipo éster são hidrolisados Tempo de indução do A.L: · Depende da concentração da droga e do pH da solução · Depende do pKa e das barreiras anatômicas Propriedades físicas e ações clínicas: 1. Lipossolubilidade: quanto mais lipossolúvel mais potente O anestésico vai penetrar com mais facilidade pela membrana nervosa, pois é formada por lipidios (90%). 2. Grau de ligação com proteínas: é responsável pela duração da atividade do Anestésico, pois quanto maior o seu grau de ligação com a proteína, maior vai ser a sua fixação nos receptores. Quanto maior a ligação proteica, maior a potência do anestésico. 3. Atividade vasodilatadora: quanto mais vasodilatador for o anestésico menor será a sua potência. O aumento do fluxo sanguíneo promove uma remoção rápida das moléculas de anestésico, diminuindo sua potência e seu tempo de duração. 4. Constante de dissociação: (pka) influencia no inicio da ação anestésica. Quanto maior for o Pka, menor vai ser a porcentagem de moléculas disponíveis na forma de base livre em um pH tecidual 7,4, portanto, o inicio é mais lento. Quanto menor o pKa e mais próximo for do pH, mais rápido será o início da ação (mais moléculas RN para se difundirem). Efeitos locais dos anestésicos locais: Bloqueio diferencial: as diversas fibras não respondem da mesma maneira ao contato com o A.L. Isso depende de: posição e diâmetro das fibras, presença de mielina, potência do anestésico, concentração de base livre (quanto mais base livre maior será o efeito do anestésico). Primeiro bloqueia as fibras de menor diâmetro, responsáveis pelas sensibilidade térmica, dolorosa e tátil, a seguir as relacionadas à pressão e vibração, e por último as proprioceptivas e motoras. Quanto maior espessa a camada de mielina e maior a distância internodal, menor a sensibilidade da fibra ao A.L. A recuperação de função das fibras de uma área anestesiada é inversa a sua perda. Cinética dos anestésicos locais: Absorção: todo anestésico local possui certo grau de vasoatividade, aumentando a velocidade de absorção, reduzindo a duração da anestesia e aumentando o nível sanguíneo do A.L Fatores que determinam a velocidade de absorção: 1. Quanto à técnica de administração: a) Evitar injeção intravascular, b) Injetar lentamente c) Evitar volumes excessivos de solução d) Vascularização da região de aplicação 2. Quanto a presença de vasoconstritor a) Retarda a absorção do anestésico local b) Varia de acordo com a potência do próprio vasoconstritor e com o tipo e concentração do anestésico. Distribuição: as barreiras naturais como a hematoencefalica e placentária não se opõem a passagem de anestesia local. Metabolismo: 1. Anestésicos locais do tipo éster: são rapidamente hidrolizados no plasma pela enzima pseudocolinesterase. É degr adado em 70% PABA que vai ser eliminado na urina e dietilamino que ainda sofre outra biotransformação. O PABA é responsável pelas reações alérgicas e tamém a pseudocolinesteraseatípica que acarreta na incapacidade de hidrolisar os anestésicos. 2. Anestésicos locais do tipo amida: são biotransformados no fígado, a prilocaina sofre metabolismo primário no fígado que também pode ocorrer no pulmão. Prilocaina -> Ortotoluidina -> Metemoglobina -> Metemoglobinemia (depressão respiratória e sincope Composição da solução anestésica: ⁃ sal anestésico (lidocaína, articaína, bupivacaína...) ⁃ Agua destilada ⁃ Cloreto de sódio ⁃ Vasoconstritor ⁃ Preservativo ou conservante -O vasoconstritor não duraria muito tempo sem o preservativo. -O Tubete odontológico: 1,8 ml -Escolha do anestésico: depende do tratamento e do tipo de paciente. Necessidade de se realizar ANAMNESE SUGERIDA : •HPP (histórico patológico progresso) •Ocorrência de fenômenos alérgicos (casos de alergia aos preservativos de vasoconstritores são mais comuns) •Uso regular de medicamentos (presença ou não de doenças sistêmicas) -Necessidade de têcnica anestésica correta ( conhecer a anatomia da face) : sempre deve ser feita a aspiração, para não atingir interior de vasos sanguíneos. -tamanho e calibre da agulha Técnicas de aspiração positiva: 1.Bloqueio do nervo alveolar inferior, que está a 4 mm do nervo lingual . Aspiração de 11,7% 2.Bloqueio do nervo mentoniano, que é de 5,7 % 3.Bloqueio do nervo alveolar superior posterior. SAIS ANESTÉSICOS : A função do A.L é impedir a geração e a condução de um impulso nervoso, através do bloqueio de sinapses. · A Escolha do sal anestésico vai depender: da duração do procedimento, da necessidade de hemostasia (anestésico com vasoconstritor) e saber da saúde do paciente. 1. ÉSTERES: possuem inicio de ação longo e alta taxa de alergia. Ex: benzocaína (anestésico utópico- pomada anestésica) 2. AMIDAS: anestésicos injetáveis (lidocaina, articaina, bupivacaína). Possuem uma molécula lipofílica, que vai anestesiar a bainha de mielina e uma molécula hidrofílica que vai anestesiar o nervo. Não tem alergia documentada. METABOLIZAÇÃO do AL: - fígado: lidocaína, prilocaína, bupivacaína (seria a indicada para gestantes pois tem 95% de ligação proteica/ apenas 5 podem passar a barreira placentária. Porém não é, pois o tempo de analgesia é muito grande. Passa a ser indicado então a lidocaína, com 65% de ligação proteica) -fígado e pulmões: prilocaína (contraindicada para gestantes, molécula muito pequena podendo ultrapassar a barreira placentária) -Fígado e plasma: articaína (90% no sangue). Torna o anestésico de pouca duração e é indicado para pacientes idosos e hepatopatas. -Sangue: benzocaína EXCREÇÃO: rins -> Em pacientes idosos ou com doenças hepáticas e ou renais devemos reduzir as doses máximas em 30% Maior chance de toxicidade de anestésicos, devido a hipofunção dos orgãos. · Procedimentos realizados em maxila deve se esperar 10 min apos a injeção do anestésico para o inicio do procedimento. Em mandíbula, 15 minutos. Isso, pois a maxila é mais porosa e antes do anestésico chegar ao osso, passa primeiro pelo tecido mole e depois para a polpa. -Anestésico tópico: secar a região antes; funciona com mais efetividade em contato direto com a mucosa. A presença de saliva atrapalha. LIDOCAÍNA: único com formulação injetável e tópica ; meia vida de 90min MEPIVACAÍNA: A mais produtiva sem vasoconstritor, durando de 30/40 min. Ela é a menos vasodilatadora, fazendo com que ela dure mais tempo. ARTICAÍNA: É a mais recente. Contraindicado em gestantes, em pacientes com alergia a enxofre e em pacientes menores que 4 anos. Possui grupamentos de esteres. Tem menor meia vida (27 min), sendo primeiro metabolizada no plasma e depois no fígado e de biotransformação curta. Assim é indicado para idosos e hepatopatas. É um dos mais potentes, devido a sua lipossolubilidade. PRILOCAÍNA: Contraindicada em pacientes gestantes, com anemia falciforme, e que usaram grandes doses de paracetamol. Isso porque ela pode causar metahemoglobinemia (moléculas de hemoglobina associada a moléculas de ferro 2+, responsáveis pelo transporte de oxigênio para os tecidos sofrem modificações quando há uso excessivo de prilocaína ou sua associação com elevadas doses de paracetamol . A modificação ocorre nas moléculas de ferro, que passam a ser Fe 3+, o que dificulta o transporte de oxigênio para os tecidos - forma mais pesada) Manifestações clínicas: Como consequência ocorre - logo após 4/5hrs da utilização da prilocaína: ⁃ cianose dos lábios, mucosas e leitos ungueais ⁃ Distúrbios respiratórios e circulatórios. ⁃ Tratamento: deve ser em ambiente hospitalar, com azul de metileno 1% EV por 5 min ; ou acudo ascorbico 100/200 mg por dia EV BUPIVACAÍNA: Anestésico de longa duração indicado para procedimentos maiores que 90 min. Importante para o controle da dor pós operatória, garantindo conforto ao paciente; contraindicada em pacientes jovens ou especiais. Cálculo para doses máximas de um AL: 1- concentração do sal anestésico no tubete 2- doses máximas em mg/kg 3- peso do paciente EXEMPLO: dose máxima da mepivacaína 2% num paciente de 80kg A) 2%= 2 g em 100 ml = 2000 mg em 100 ml = 20mg/ ml B) tubete tem 1,8 ml= 1,8. 20= 36 mg por tubete (Dose maxima 6,6 mg/kg com max de 400 mg) C) 80kg. 6,6= 528 (ultrapassa a dose max ) D) 400/ 36= mas de 11 tubetes REAÇÕES DE SUPERDOSAGEM: nével excessivo de uma droga em vários órgaos e tecidos, que pode ocorrer por injeção intravascular inadvertida; injeção rápida (ideal de 1ml por min) e violação da dose máxima. · Dose leve a moderada: sudorese, aumento da pressão arterial, aumento da frequência respiratória, ansiedade... · Alta dosagem: atividade convulsiva tônico-clônica, depressão generalizada do SNC e queda da pressão arterial, da frequência cardíaca e da frequência respiratória. VASOCONSTRITORES: Todos os anestésicos possuem característica vasodilatadora, sendo a bipivacaína de maior e mepivacaína de menor. O uso de vasoconstritores vai depender do local de injeção e da resposta de cada paciente. · Ex: lidocaína sem vasoconstritor : duração em tecido mole - 60 minutos; em polpa: 5 a 10 min. Com vasoconstritor: TM= 180 min; P= 60 min · Ex 2: Mepivacaína sem vasoconstritor: TM= 80 min e P= 30 a 40 min ; com vasocostritor: TM = 180 min e P = 60 min A adição de vasoconstritor provoca alterações: 1. menor velocidade de absorção da solução anestésica pelo sistema cardiovascular; 2. Menor alteração dos níveis plasmáticos do organismo (?) 3. Menor sangramento no local de administração 4. Maior duração de ação A escolha de adição ou não vai depender do procedimento cirúrgico, se há necessidade de hemostasia, se haverá muita geração de dor e das condições sistêmicas do paciente (analisar a classificação de ASA) EPINEFRINA: mais utilizado. Tem ação 7 min após a injeção e é excretado por completo depois de 6 horas. Concentrações por tubete: 0,018mg de 1:100000. Dose máxima de epinefrina por consulta= 0,2mg . · Em pacientes cardiopatas, essa dose cai para 0,04mg por consulta. 1:100.000 (2 tubetes) · Pacientes diabéticos suportam no máximo 3 tubetes (1:100.000) por consulta; mais do que isso ele pode ter um aumento da glicemia . · Em pacientes que tenham feito o uso de cocaína com menos de 24hrs é contraindicado o uso de epinefrina. Utiliza-se a felipressina, um análogo da vasopressina que atua na microcirculação venosa. É contraindicado para gestantes e é indicado para Asa III e IV, com dose máxima de 5 tubetes. O mesmo ocorre para o crack. O tubete deve ser de cristal (vidro) : melhor deslizamento durante a injeção, nao apaga informações de rótulo, melhor visualização de sangue e bolhas e altera também o tipo de preservativos. (os de plastico tem metilparabeno, que possui maior possibilidade de reação alérgica)
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