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DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE PROTEÍNAS Fonte e usos dos aminoácidos: - Reserva de aminoácidos dentro do organismo é resultante entre o equilibro entre aa disponíveis para síntese de proteína e aa disponíveis a partir da proteólise. Também influenciado pelo con- teúdo de aa proveniente da dieta e conteúdo que sofre catabolismo para produção da ureia. - Reserva de aminoácidos livres no organismo é resultante de diferentes fontes e usos do aa. Há vários usos possíveis dessa reserva. - Fontes dos aa presentes no sangue: - Dietas proteicas: absorção de aa do intes- tino - Renovação dos tecidos - Síntese endógena principalmente no fígado (exceto aa essenciais - obtidos apenas através da dieta) - Grande variedade de aminoácidos, com diferen- tes propriedades. Cerca de 20 tipos são capazes de serem uti- lizados na síntese proteica - Aminoácidos divididos em dois tipos principais, de acordo com a sua utilidade após o catabolismo: - Glicogênicos: catabolismo leva a formação de intermediá- rios passiveis de serem utilizados pela via de gliconeogê- nese (síntese de glicose) - Cetogênicos: catabolismo leva a formação de de interme- diários passiveis de serem utilizados para síntese de cor- pos cetônicos Proteínas da dieta - Origem animal: leite/lacticínios, carnes, peixe, ovos, etc - Origem vegetal: cereais, leguminosas, castanhas, etc - O cozimento destrói inibidores enzimáticos, bactérias e mi- croorganismos patogênicos ‣ alimento mais seguro e mais facilmente assimilável pelo organismo. - Inibidor de tripsina: presente na clara do ovo e soja - Tiaminase (enzima): presente em marisco cru. Aumento da atividade dessa enzima, ao se alimentar de marisco cru, promove prejuízo da absorção de algumas vitami- nas - Diferentes classes dos aminoácidos em função de suas ca- deias laterais - Aminoácidos da dieta de ocorrência natural - Essenciais: não podem ser sintetizados a partir de ou- tros componentes da dieta e precisam estar incluídos nessa dieta para que possam ser utilizados. Não são sintetizados endogenamente. - Não-essenciais: podem ser sintetizados pelo organismo a partir de componentes não ni- trogenados. Quando inclusos na dieta, poupam a síntese endógena. - Diferentes processos possibilitam a síntese desses aminoácidos - Pode haver interconversão entre aa - exemplo: glutamato, sintetizado a partir de alfa-cetoglutarato com incorporação do grupamento amina (NH3). Esse grupa- mento amina pode ser transferido para outros componentes, a partir da ação das transaminases, e permitir a síntese de outros compostos nitrogenados. Síntese de aminoácidos não essenciais - Glutamato: alfa-cetoglutarato + NH3 (fonte de N para síntese de aminoácidos e uréia) - Cisteína e tirosina (não essenciais): forma- dos a partir de metionina e fenilalanina (es- senciais), ou seja, os precursores para sín- tese endógena de cisteína e tirosina são outros aminoácidos, mas nesse caso es- senciais. - Além de serem utilizados para incorpo- ração das proteínas, metionina e fenilalanina são fundamentais, pois são precursores desses aminoácidos não essenciais. - Caso cisteína e tirosina sejam fornecidos na dieta, não há necessida- de de muita mobilização de metionina e fenilalanina, que podem ser poupados para outras funções. DIGESTÃO DE PROTEÍNAS - Não existe enzima proteolítica na cavidade oral - não ocorre digestão de proteínas nesse segmento - Locais de digestão: - Estômago: - Início da digestão das proteínas pelo contato do bolo alimentar com a secreção gástrica - Tanto enzimas proteolíticas quanto o HCl da secreção gástrica contribuem para a digestão parcial de proteínas. - Intestino: - Continuidade da digestão de proteínas pelo contato do bolo alimentar com a secre- ção pancreática (duodeno) - As enzimas proteolíticas da secreção pancreática degradam os fragmentos peptídi- cos em porções ainda menores - Parte da digestão de proteínas acontece também na borda em escova (enterócitos) - Na absorção intestinal é possível observar a absorção de aminoácidos livres (monômetros) e também de pequenos peptídeos (de 2-3 aminoácidos - dipeptídeo e tripeptídeo) - Diferente da absorção de carboidratos, que apenas monossacarídeos são absorvidos. - Figura: - Proteínas em contato com pH ácido leva a uma des- naturação dessas proteínas, que perde sua confor- mação tridimensional. Por conta disso, a pepsina consegue atuar fragmentando o polipeptídeo. - Nos segmentos posteriores (ex duodeno), sob pH bá- sico (que permite a ação das enzimas pancreáticas) e ação dessas enzimas (tripsina, carboxipeptidases, etc), os fragmentos são ainda mais fragmentados, - Aminoácidos e pequenos peptídeos são capazes de ser, então, absorvidos. - DIGESTÃO DE PROTEÍNAS NO ESTÔMAGO - Enzimas proteolíticas e HCl da secreção gástrica contribuem para a digestão parcial das proteínas, permitindo a liberação de vitaminas e minerais ligados às proteínas. - Digestão parcial, pois nesse momento ainda não há grande liberação de aminoácidos livres e fragmentos ainda são re- lativamente grandes - HCl: pH ácido da secreção gástrica favorece a desnaturação e desenovelamento das proteínas da dieta - Enzimas proteolíticas: promovem a clivagem dos polímeros em fragmentos menores - Exemplos de enzimas proteolíticas presentes na secreção gástrica: pepsina, renina (quimosina/coalho), gelatinase Enzimas digestivas - As enzimas que participam da digestão de proteínas são secretadas na forma de zimogê- nios. A secreção de zimogênio evita que as proteases ativas atuem dentro da célula epite- lial. - Pepsina - Pré-pepsinogênio sofre clivagem do peptídeo sinal, formando pepsinogê- nio. A partir da ativação do pepsino- gênio na luz do estômago, haverá for- mação da pepsina. - Processo de formação da enzima em sua forma ativa acontece na luz do estômago - Pepsinogênio: precursor inativado (zimogênio) de pepsina - Possui baixa atividade proteolítica, mas em meio ácido sofre auto-ativação (conver- são em pepsina). - Ativação intra-molecular - Ativação inter-molecular - A pepsina formada pode atuar na ativação de outros zimogênios presentes na secre- ção gástrica - ativação luminal - Ativa tanto zimogênio de pepsinogênio (formando mais pepsina), quanto outros zimogênios da secreção ‣ secreção gástrica passa a apresentar rápida ativação de suas enzimas - Figura: - Pepsinogênio sozinho: atividade proteolítica muito baixa, resultando em lentidão nessa processo - Pepsinogênio em contato com pH ácido: ob- serva taxa de conversão maior de pepsino- gênio em pepsina. - Ainda, a pepsina formada inicialmente auxilia na conversão de mais pepsinogênio, produ- zindo mais pepsina. - Pepsina: endopeptidase não específica. - Liberada pelas células principais da mucosa gástrica - Promove a digestão parcial de proteínas, formando pe- quenos peptídeos e poucos aminoácidos livres. - Cliva ligações peptídicas entre aminoácidos lipofílicos (mais expostos pela ação desnaturante do HCl ‣ cadeia perde sua conformação tridimensional, de modo que es- ses aminoácidos lipofílicos que naturalmente ficam mais internos, passam a ficar expostos a ação da pepsina) - Ou seja, hidrolisa ligações peptídicas internas à ca- deia - Geralmente cliva ligações peptídicas entre aminoácidos aromáticos (-COOH) - HCl é importante para permitir a ação da pepsina, pois os fragmentos precisam ficar acessíveis a ela, o que é possível pela ação desnaturante do ácido. - HCl - desnaturação e pepsina - fragmentação - Não hidrolisa proteínas do tipo queratina, fibroína (seda) e mucoproteínas, que são resistentes a sua ação. - pH ideal para sua atividade: ácido - Esse pH ácido é importante, portanto, tanto para sua ativação quanto para sua atividade proteolítica. - Atividade: - pH 2,0: atividade máxima - pH 3,5: inibição reversível - > pH 7,2: inibição irreversível - atividade é inibida de maneira irreversível - Outras enzimas proteolíticas presentesna secreção gástrica: - Renina - Zimogênio: prorrenina - Atividade ótima em pH 4,0 - Presente em recém-nascidos e ausente em adultos - Hidrolisa ligações peptídicas vizinhas a aminoácidos aromáticos. - Secretada na luz do estômago - Assim como a pepsina, promove a coagulação do leite, permitindo a degradação das proteínas para obtenção dos aminoácidos. - Caseína (proteína presente no leite em sua forma solúvel): sofre ação da renina, ou pepsina, formando paracaseína (solúvel) e proteose (Whey protein) - Paracaseína em contato com íons Ca2+ acaba precipitando, sofrendo posteri- ormente a ação de outras enzimas proteolíticas, de modo a permitir a absorção de aminoácidos presentes no leite. - Gelatinase - Ativa em meio ácido - Forma polipetídeos - Gastricina - Ativada na presença de HCl - pH ótimo entre 3-4 - DIGESTÃO DE PROTEÍNAS NO DUODENO - A mistura do bolo alimentar com o suco gástrico (quimo) ao chegar no duodeno se encontra com a secreção pancreática - Quimo: hiperosmótico, proteínas parcialmente digeridas (peptídeos e aminoácidos) e conteúdo lipídico - Enzimas atuantes nesse segmento necessitam de meio básico para sua atividade, de forma que o conteúdo ácido que está chegando ao duodeno deve ser neutralizado. Por isso, conteúdo de bicarbonato é importante. - Vão continuar com o processo de digestão de proteínas já inici- ado. - Ativação dos zimogênios: - Enzimas pancreáticas também são secretadas na forma de zi- mogênio - No pâncreas, além da presença de enzimas proteolíticas, são encontradas en- zimas envolvidas com a digestão de lipídeos (lipases). Ambas são secretadas na forma de zimogênio. - Zimogênios são lançados na luz intestinal - As enzimas inativas secretadas pelo pâncreas são ativadas em cascata - Dentre os zimogênios presentes na secreção pancreáti- ca, há o tripsinogênio (precursor da tripsina) - O tripsinogênio é ativado em tripsina pela enteropepti- dase da borda em escova (enteroquinase). - Após a conversão de tripsinogênio em tripsina, a tripsina ativa os outros zimogênios presentes na secreção pan- creática. - Envolvidos com a digestão de proteínas: - Quimiotripsinogênio ‣ quimiotripsina - Procarboxipeptidase ‣ carboxipeptida- se - Envolvidos com a digestão de lipídeos: - Procolipase ‣ colipase - Profosfolipase ‣ fosfolipase Secreção pancreática - A secreção do pâncreas exócrino ocorre sempre em direção ao lúmen. A maioria das enzimas digestivas é produzida, armazenada e secretada como pró- enzimas inativas (zimogênio). - Apresenta peptidases, lipases e amilases. - É majoritariamente aquosa (99,5%) - 0,5%: sólidos - Substâncias orgânicas: enzimas e outras substâncias orgânicas - substâncias inorgânicas - Proteases digestivas - A ativação das pró-enzimas digestivas ocorre só depois de terem sido liberadas pelas células na luz intestinal. - Enzimas: - Serino proteases e tripsina - Pró-enzima: tripsinogênio - Ativadores: enteropeptidase (presente na borda em escova) e tripsina (a própria tripsina formada pode servir como ati- vador) - Quimiotripsina - Pró-enzima: quimiotripsinogênio - Ativador: tripsina - Elastase - Pró-enzima: pró-elastase - Ativador: tripsina - Carboxipeptidase - Pró-enzima: pró-carboxipeptidase - Ativador: tripsina - A ação coordenada dessas enzimas permite a fragmentação de dife- rentes pontos da cadeia. - Tripsina, elastase e quimiotripsina clivam ligações peptídicas mais internas da cadeia, por exemplo. • Tripsinogênio/tripsina: principal enzima - Ativação dependente de enteroquinase (pH 5,5) e de Ca2+ - Autocatálise em tripsina em pH 7,9 - Hidrolisa ligações peptídicas vizinhas a aminoácidos básicos (argenina, lisina), for- mando várias proteoses, peptonas, tri e dipeptídeos. - Não hidrolisa ligações com prolina - Inibidores de tripsina: presentes em colostro e soja - diminuem a atividade da enzima e a continuidade da digestão dos alimentos - Durante o cozimento e preparo do alimento, muitos desses inibidores são elimi- nados. • Quimiotripsina: - Contribui para a coagulação do leite • Elastase/colagenase: - Contribui para digestão de tecido conjuntivo • Carboxipeptidase A/B: - Exopeptidases (pH 7,5) - Hidrolisam um ligação peptídica na extremidade carboxi-terminal, liberando um ami- noácido livre por vez - Não hidrolisam dipeptídeos Secreção intestinal - O conteúdo enzimático se origina também dos frag- mentos de células epiteliais. - É majoritariamente aquosa - Apresenta proteases (enteroquinases), peptidases, ami- lases e lipases. - Enteroquinase (enteropeptidase): - Enzima glicoproteica presente na borda em escova dos enterócitos e na secreção intestinal (suco en- térico), responsável pela ativação da tripsina, per- mitindo a ativação de outros zimogênios. - DIGESTÃO DE PROTEÍNAS NO INTESTINO - Aminopeptidases: - Hidrolisam peptídeos até a formação de tripeptídeos - Não hidrolisam dipeptídeos ou ligações com prolina - Hidrolisam uma ligação peptídica na extremidade amino-terminal, liberando um ami- noácido livre por vez. - Prolidase: - Hidrolisa ligações terminais com prolina (colágeno), liberando prolina livre - Tri/dripeptidases: - Capazes de hidrolisas peptídeos com 2 ou 3 aminoácidos - Hidrolisam peptídeos na borda em escova ou no interior das células epiteliais (tripep- tídeo ‣ dipeptídeo e 1 aminoácido livre ‣ 2 aminoácidos livres) - Obs: lembrando que além da absorção de aminoácidos livres, di ou tripeptídeos também podem ser absorvidos (podem ser hidrolisados já no interior da célula) ABSORÇÃO DE AMINOÁCIDOS - Em condições normais, as proteínas da dieta/endógenas são digeridas até aminoácidos livres, di e tripeptídeos. - Há transportadores nos enterócitos capazes de identificar aminoácidos livres e outros ca- pazes de identificar di ou tripeptídeos. - Esses produtos são absorvidos rapidamente - Aminoácidos livres são absorvidos do jejuno ao íleo distal - Dri e tripeptídeos são absorvidos do duodeno ao jejuno proximal - Uma vez internalizados, vão ser hidrolisados internamente. Aminoácidos livres po- dem ser então direcionados ao espaço intersticial, e em seguida para o sangue, ou podem ser utilizados pelo próprio enterócito. - Absorção de aminoácidos livres na borda em escova - São absorvidos por: - Transportadores dependentes de Na+: transporte ativo secun- dário - simporte de aminoácido junto com íon sódio, que entra a favor do gradiente produzido pela bomba sódio/potássio AT- Pase na região basolateral - Transportadores independentes de Na+ - Ambos os tipos de transporte resultam no acúmulo de aminoácidos no interior dos enterócitos - Na região basolateral é observado outros transporta- dores, que possibilitam a difusão facilitada de ami- noácidos para o espaço intersticial e corrente sanguí- nea. - Alguns aminoácidos tem afinidade por mais de um transportador: especificidade sobreposta. Alguns de- les podem acabar competindo pelos mesmos trans- portadores, a fim de serem absorvidos, o que impacta a velocidade de absorção. - Absorção de aminoácidos livres na membrana basolateral dos enterócitos e outros tipos celulares - Após a refeição, apenas aminoácidos livres alcançam a veia porta (em adultos) - Glutamato, glutamina, aspartato e asparagina são meta- bolizados nos enterócitos - Enterócitos são capazes de absorver nutrientes a partir da luz, mas as outras células do epitélio que não apresentam capacidade absortiva terão que absorver pela região ba- solateral. - Células das criptas: não possuem atividade absortiva, é mais atividade secretória. - Nessas células secretórias, a captação de aminoáci- dos ocorre pela membrana basolateral, onde há transportadores responsáveis pelo transporte de aminoácidos para o interior das células. - Absorção de peptídeos nos enterócitos - A absorção de peptídeos ocorre por meio de uma classe de transportadores específica, que realiza o simporte de di e tripeptídeosjuntamente com H+ - Esse simporte é possível em razão de um trocador de Na+/H+ (antiporter) presente na borda em escova, que atua em função da bomba sódio/potássio ATPase na região basolateral: - Bomba retira Na+ do interior da célula, diminuin- do a concentração do sódio no interior do ente- rócito, o que permite a internalização de sódio e secreção de H+ pelo antiporter. - H+ pode ser reciclado, entrando na célula em conjunto com os di e tripeptídeos - Transportadores PEPT: - PEPT1: isoforma presente no intestino - importante para absorção a partir da dieta - PEPT2: isoforma presente nos rins - importante para evitar perdas juntamente com a urina - A absorção de di e tripeptídeos é mais rápida do que de aminoácidos livres, pois: - Apresentam menor efeito osmótico, já que não acumula di e tripeptídeos no interior do enterócito (e sim aminoácidos). Dessa forma, a concentração extracelular dessas substâncias é sempre maior do que a concentração intracelular, o que favorece a ab- sorção. - Menor competição pelos transportadores - Dependente do cotransporte com H+ - A absorção de di e tripeptídeos apresenta vantagem cinética se comparada com a absorção de aminoácidos livres - Figura: absorção do aminoácido glicina após a ingestão na forma de aminoácido livre, di ou tripeptídeo. - Em quantidade equivalente de glicina administrada (100 mM), quando digerida e absorvida, é possível verificar que: - Di e tripeptídeos fornecem maior quantidade de glicina na corrente sanguínea do que a sua for- ma monomérica ‣ são mais facilmente absorvi- dos, podendo ser rapidamente digeridos, lan- çando assim os aminoácidos na corrente san- guínea - Aumentando a dose administrada (200 mM), observa-se que: - Absorção de glicina na forma livre apresenta valor quase que equivalente a dose de 100 mM. Não é observada uma alteração significativa, mesmo do- brando o fornecimento de glicina livre. O fato dos aminoácidos livres preci- sarem competir por transportadores e se encontrarem mais concentrados no interior da célula, a capacidade absortiva dos aminoácidos livres encon- tra limitações. - Entretanto, quando aumentada a quantidade de di e tripeptídeo disponível, o valor de glicina absorvida também aumenta consideravelmente. Quanto mais di e tripeptídeo disponíveis, mais rapidamente são digeridos, forne- cendo mais glicina na corrente sanguínea. Isso porque a menor concentra- ção de di e tripeptídeos no interior da célula e a menor competição pelos transportadores favorecem a maior capacidade absortiva. - Figura: atividade de absorção de glicina (aminoácido livre) e glicina-prolina (dipeptídeo) em enterócitos de coelhos, em diferentes idades - Nos recém-nascidos, a absorção de glicina-prolina é muito mais significativa do que a absorção de glicina. - A maior absorção em neonatos compensa a me- nor atividade proteolítica do estômago (por conta da capacidade de produção reduzida de pepsi- na/HCl) e/ou menor atividade proteolítica do pâncreas que ainda está em desenvolvimento. - Por isso, durante o período neonatal, os enterócitos se encontram facilmente adaptados a absorção de di e tripeptídeos, pois a digestão em si não formará tanto aminoácido livre. - Em adultos: em condições normais, há quantidades míni- mas de proteínas intactas que alcançam o espaço inters- ticial - associado ao processo de imunidade da mucosa - Boa parte das proteínas são digeridas na luz intesti- nal - Parte das proteínas pode ser fagocitada pelos ente- rócitos - Via de degradação: a maior parte das proteínas fagocitadas vai ser degradada no interior do enterócito, de modo que as proteínas chegam processadas ao espaço intersticial - Via direta: uma pequena parte das proteínas (10%) passa pelo interior do enterócito sem sofrer degradação, atingindo o espaço intersti- cial de forma intacta. - No epitélio intestinal também há células M, associadas ao sistema imune, que pos- suem capacidade de fagocitose de proteínas. - Nesse caso, metade das proteínas fagocitadas percorre a via direta e metade percorre a via da degradação. Assim, metade das proteínas atinge o espaço in- tersticial na forma intacta e metade processada. - Há também nesse contexto a apresentação dos fragmentos celulares para as células do sistema imune. - Em recém-nascidos: - Absorção de proteínas intactas no pinocitose no período neonatal - Proteínas internalizadas por pinocitose e lançadas em sua forma intacta no es- paço intersticial, como as imunoglobulinas - Imunoglobulinas: anticorpos presentes no leite. São ingeridos, não vão ser plenamente digeridos e parte desses anticorpos é absorvida pelo enteróci- to, sendo lançados na corrente sanguínea na forma intacta/funcional. Esses anticorpos serão funcionais na circulação do neonato. METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS - Proteínas provenientes da dieta, depois da digestão e absorção, vão contribuir para a reserva de aminoácidos circulante no sangue. Parte dos aminoácidos pode ser incorporados em proteínas; uma parte das proteínas endógenas está sendo degradada, fornecendo mais aminoácidos para a corrente sanguínea; parte dos aminoácidos pode ser direcionada para vias de síntese de compos- tos nitrogenados; parte pode ser oxidada; podem ser direcionados para ob- tenção de glicose; parte do grupamento amino dos aminoácidos pode ser di- recionado para ureia e exceção. Ou seja, há diversos caminhos de aproveita- mento possíveis. CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS - Apesar do repertório de 21 aminoácidos, é obtido um repertório de 6 intermediários comuns como resulta- do, importantes para o metabolismo energético. - Ciclo de krebs e gliconeogênese, por exemplo, são alimentados por intermediários do catabo- lismo de aminoácidos. - Grupamentos amino liberados por conta do catabo- lismo precisam de uma destinação: formação de ureia - Exemplos do catabolismo de aminoácidos: - Ciclo glicose-alanina: permite o transporte de nitrogênio do músculo e outros tecidos peri- féricos para o fígado. - Utilização de aminoácido para formação de alfa-cetoácido, intermediário do ciclo de Krebs. - Utilização do alfa-cetoglutarato para formação de glutamato, que dá origem a alanina a partir da utilização de piruvato, regenerando alfa-ce- toglutarato. - Alanina é liberada na corrente sanguínea e se dirige ao fígado, onde pode ser convertida no- vamente para formação de piruvato. Piruvato serve como substrato da gliconeogênese, de modo que a glicose gerada se direciona para o músculo. - O esqueleto carbono da alanina pode também ser convertida em glutamato. Com a retirada do grupamento amina, pode haver formação de ureia no fígado. - Transporte de nitrogênio pela glutamina: transferên- cia de nitrogênio dos tecidos periféricos para o fí- gado em troca de glutamato. - Outros aminoácidos podem ser formados nos músculos e tecidos periféricos ‣ formação de glutamina, que pode ser direcionada para o fígado, onde pode ser convertida em glutama- to e retornar para o circulação sanguínea. - Fígado: local de produção da ureia, produto de grupamentos nitrogenados - Glutamina é o aminoácido mais abundante no sangue. - Ciclo da ureia: - Importante para garantir a eliminação de gru- pamentos nitrogenados, provenientes especi- almente do metabolismo de aminoácidos. - Amônia é tóxica e pode interferir no valor de pH, de modo que precisa ser eliminada. - Série de reações que ocorrem na mitocôndria e no citosol que favorecem a formação de ureia, que possui dois grupamentos amino. - Ureia é facilmente solúvel em meio aquoso, diferente da amônia, de modo que é facilmente eliminável. - Comprometimento das enzimas participantes pode prejudicar a formação da ureia. Situações em que o metabolismo de aminoácidos está sendo promovido, mas não está conseguindo eliminar corretamente os produtos de excreção nitrogenados, pode produzir complicações. - Papel central do glutamato na eliminação do nitrogênio, sobretudo dos tecidosperiféricos, fa- vorecendo a formação de glutamina no fígado. - No fígado: catabolismo de aminoácidos leva a uma elevação nos níveis de grupamento amônia em função da hidrólise dos aminoácidos. Amônia é um compo- nente tóxico, de modo que seus níveis precisam ser controlados. - É uma substância alcalina que pode levar a al- calinização do meio celular ou da circulação sanguínea, por isso é importante que não se acumule. - Amônia é uma substância tóxica, que pode interferir no valor de pH e que apresenta baixa solubilidade em meio aquoso. - A utilização da amônia proveniente do catabolismo de aminoácido na formação de glu- tamina é uma forma de controle, pois reduz os níveis de amônia livre. - Síntese de ureia também auxilia nesse controle, eliminando esse produto. - O ciclo do ácido cítrico e o ciclo da uréia podem ser conectados (biciclo de krebs) - Gráfico: quantidade de ureia presente na urina em diferentes situações: - Indivíduo alimentado: baixo conteúdo de ureia eliminado - Indivíduo em jejum de 12 horas: alto conteúdo de ureia eliminado - Indivíduo em inanição de 3 dias: alto conteúdo de ureia eliminado - Indivíduo em inanição de 5-6 semanas: baixo conteúdo de ureia eliminado - Considerações: - Indivíduo alimentado não vai precisar utilizar o catabolismo de aminoácidos para produção de energia, pois há outras fontes preferenciais. - No período de jejum de 12 horas é necessário começar a mobilizar aminoácidos para obtenção de energia. - Conforme a situação se prolonga, outras fontes vão ser necessárias para obtenção de energia, o que não prioriza o catabolismo de aminoácidos e assim, o conteúdo de ureia excretada é reduzido. - Cortisol indica ao músculo que a degradação proteica precisa ser iniciada. Queda da glicemia é um sinal importante, que pode ser interpretado como sinal de estresse. - Liberação de cortisol permite a mobilização de proteínas pelos músculos para obter aminoácidos e gerar energia - Há outros mecanismos de adaptação do metabolismo que vão ocorrendo, para ga- rantir a estabilização da glicemia e que outros substratos sejam disponibilizados. - Conforme a glicemia vai se estabilizando, esse estímulo de cortisol vai diminuin- do. - Se não for mais possível mobilizar as reservas de lipídeos, e tem que retornar para degradação de proteínas, o indivíduo já está bastante debilitado, pois ha- verá perda de funcionalidade de muitas proteínas. CORRELAÇÕES CLÍNICAS - Ação tóxica da ureia - Defeitos genéticos nos transportadores de aminoácidos (não apenas no TGI) - Doença de Hartnup (aminoacidúria) - Cistinúria - Intolerância lisinúrica proteica - Comprometimento do pâncreas exócrino - Perda de proteínas não digeridas nas fezes.
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