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1 2 3 4 5 6 1 @mp_estadual Thiago Diniz Sumário 1. Causalismo .................................................................. 4 2. Neokantismo.............................................................. 4 3. Finalismo ..................................................................... 4 4. Funcionalismo racional ou teleológico ............... 4 5. Funcionalismo sistêmico ......................................... 4 6. Funcionalismo reducionista ou contencionista . 4 7. Novas propostas doutrinárias: direito penal e enfrentamento da criminalidade moderna ............. 4 7.1. Direito intervencionista ou de intervenção (Hassemer) ................................................................. 4 7.2. Velocidades do Direito Penal (Jesus-Maria Silva Sanches) ............................................................ 5 7.3. Direito penal do inimigo ................................. 5 Conceito ................................................................. 5 Efeitos da aplicação do Direito Penal do Inimigo .................................................................... 5 7.4. Neopunitivismo (Daniel Pastor)..................... 5 7.5. Direito Penal como proteção de contextos da vida em sociedade (Stratenwerth) .................. 5 PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL ................................ 6 1. Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade ................................................................... 6 2. Princípio da anterioridade ................................. 6 3. Princípio da insignificância ou da criminalidade de bagatela ...................................... 6 4. Princípio da individualização da pena ............ 7 5. Princípio da alteridade (Roxin) .......................... 7 6. Princípio da confiança ......................................... 7 7. Princípio da adequação social .......................... 7 8. Princípio da intervenção mínima (ultima ratio) ...................................................................................... 7 9. Princípio da proporcionalidade (razoabilidade ou convivência das liberdades públicas) ............ 7 10. Princípio da humanidade ................................. 7 11. Princípio da ofensividade (lesividade) ............ 8 12. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos ....................................................................... 8 13. Princípio da imputação pessoal ...................... 8 14. Princípio da responsabilidade pelo fato ....... 8 15. Princípio da personalidade ou da intranscendência ...................................................... 8 16. Princípio da responsabilidade penal subjetiva ...................................................................................... 8 17. Princípio do ne bis in idem ............................... 8 18. Princípio da isonomia........................................ 8 Conceito de crime ........................................................ 9 1. Critério analítico .................................................... 9 2. Conceito formal ou legal ................................... 9 3. Conceito substancial ou material ..................... 9 4. Conceito criminológico ...................................... 9 5. Diferenças entre crime e contravenção ......... 9 Fato típico ....................................................................... 9 Elementos do fato típico ........................................ 9 1. Conduta............................................................. 10 2. Nexo .................................................................. 10 3. Resultado ......................................................... 10 4. Tipicidade: formal e material ....................... 10 Exclusão do crime ........................................................ 11 Classificação dos crimes ............................................. 11 Crimes de dano e de perigo................................. 11 Crimes materiais, formais e de mera conduta . 11 Outras classificações ............................................... 11 1. Conceito ..................................................................... 12 2. Espécies ..................................................................... 12 2.1. Tipo legal ............................................................ 12 2.1.1. Conceito ...................................................... 12 2.1.2. Funções ....................................................... 12 2.1.3. Estrutura ..................................................... 12 2.1.4. Classificação............................................... 12 3. Tipo doloso ............................................................... 13 3.1. Previsão legal: art. 18, CP. ............................... 13 3.2. Conceito............................................................. 13 3.2. Elementos do dolo .......................................... 13 3.3. Teorias do dolo ................................................ 13 V. Espécies de dolo ................................................. 13 4. Crime culposo .......................................................... 15 4.1. Conceito ............................................................. 15 1 2 3 4 5 6 2 @mp_estadual Thiago Diniz 4.2. Elementos ......................................................... 15 4.3. Espécies de culpa ............................................ 16 4.4. Graus de culpa ................................................ 16 4.5. Compensação de culpas ............................... 16 4.6. Concorrência de culpas ................................. 16 4.7. Caráter excepcional do crime culposo ...... 16 4.8. Exclusão da culpa ........................................... 16 5. Crime preterdoloso ................................................ 16 5.1. Espécies de crimes agravados pelo resultado .................................................................................... 16 5.1. Conceito..............................................................17 5.2. Natureza do preterdolo .................................17 5.3. Versari in re illicita ............................................17 1. Aplicação da lei penal (arts. 1 ao 12) ................... 18 1.1. Interpretação da lei penal .............................. 18 1.2. Lei penal em branco ....................................... 19 Espécies ................................................................ 19 Lei penal em branco e conflito de leis no tempo ................................................................... 19 1.3. Conflito aparente de normas ....................... 19 1.4. Jurisprudência .................................................. 19 1.5. Analogia ............................................................. 19 1.6. Lei penal no tempo ......................................... 20 1.7. Tempo do crime .............................................. 20 1.8. Lugar do crime ................................................. 20 2. Crime (arts. 13 ao 25, CP) ...................................... 20 Relação de causalidade (art. 13, CP) .................. 20 Teorias .................................................................. 20 Omissão própria x omissão imprópria ......... 21 Dupla causalidade.............................................. 21 Tentativa (14, CP) .................................................... 21 Teorias explicativas do início da execução .. 21 Espécies de tentativa ......................................... 21 Outras questões ................................................. 22 Desistência voluntária e arrependimento eficaz (15, CP) ....................................................................... 22 Crimes que não admitem tentativa ............... 22 Arrependimento posterior (16, CP) .................... 22 Jurisprudência .....................................................22 Crime doloso e crime culposo (18, CP) ............. 22 Teorias do dolo .................................................. 23 Erro ............................................................................ 23 Erro de tipo ......................................................... 23 Crime putativo por erro de tipo ......................... 23 Descriminantes putativas ................................. 23 Ilicitude ..................................................................... 23 Exclusão da ilicitude .......................................... 23 3. Imputabilidade penal (26 ao 28) ........................ 24 4. Concurso de pessoas (29 ao 31) ......................... 24 Conceito de autor – teorias ............................ 24 Coautoria/Participação ..................................... 25 Teorias sobre a punição do partícipe ........... 26 5. Penas (32 ao 95) ..................................................... 26 Função da pena ...................................................... 26 Teorias da pena ...................................................... 26 Regime prisional (art. 33 e segs., CP) ................ 26 Pena-base ................................................................ 26 Agravantes e atenuantes ...................................... 27 Agravantes .......................................................... 27 Causas de aumento e de diminuição ................ 27 Concurso de causas de aumento ou de diminuição (68, CP) ........................................... 27 Continuidade delitiva ............................................ 27 Limite das penas (75, CP) ..................................... 27 Sursis ......................................................................... 28 Espécies ................................................................ 28 Livramento condicional ........................................ 28 Reabilitação ............................................................. 28 6. Medidas de segurança (96 ao 99) ...................... 28 7. Ação penal (100 ao 106) ........................................ 28 8. Extinção da punibilidade (107 a 120).................. 28 Prescrição ................................................................. 28 9. Decorar na Parte Geral ......................................... 28 1. Crimes contra a pessoa ......................................... 30 2. Crimes contra o patrimônio................................. 30 1 2 3 4 5 6 3 @mp_estadual Thiago Diniz Furto .......................................................................... 30 Jurisprudência ..................................................... 30 Roubo ........................................................................ 30 Majorantes do roubo ........................................ 30 Roubo qualificado .............................................. 30 Jurisprudência ..................................................... 30 Extorsão (158, CP) ................................................... 30 Jurisprudência.......................................................... 30 3. Crimes contra a propriedade imaterial (184 a 196) ......................................................................................... 31 4. Crimes contra a organização do trabalho ........ 31 5. Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos .................................................... 31 6. Crimes contra a dignidade sexual ...................... 31 Estupro ...................................................................... 31 Manutenção de casa de prostituição (art. 229, CP) .............................................................................. 31 7. Crimes contra a fé pública .................................... 31 Art. 297, CP: Falsidade material de documento público....................................................................... 31 Art. 307, CP: Falsa identidade .............................. 31 Lei de Execução Penal ................................................ 32 Trabalho do preso .................................................. 32 Falta grave ................................................................ 32 Reconhecimento da falta grave ..................... 32 Consequências decorrentes da prática de FALTA GRAVE:..................................................... 32 Regime disciplinar diferenciado (RDD) ............. 33 Progressão de regime ........................................... 33 Competência............................................................ 33 Remição .................................................................... 33 Lei n° 8.137/90.............................................................. 33 Lei de Lavagem de Dinheiro .................................... 34 Lei dos Crimes Ambientais ....................................... 35 Estatuto do Desarmamento ..................................... 35 Lei Maria da Penha ..................................................... 35 Resumo ..................................................................... 35 Súmulas STF e STJ .................................................. 36 Lei de Drogas ............................................................... 36 Noções gerais ......................................................... 36 Jurisprudência correlata........................................ 36 Súmulas STF e STJ ............................................. 36 Lei de Organização Criminosa................................. 37 Compilado de Teorias Penais .................................. 38 1. Teorias sobre o conceito analítico de crime 38 2. Teoria das velocidades do Direito Penal ...... 38 3. Lugar do crime e tempo do crime ................ 38 4. Combinação de leis penais ............................. 39 5. Conceito de conduta ........................................ 39 6. Omissão penal .................................................... 40 7. Nexo de causalidade ......................................... 40 8. Teorias do dolo ................................................... 41 9. Teoria da tipicidade conglobante ................... 41 10. Teorias sobre a relação entre tipicidade e ilicitude ...................................................................... 42 11. Teorias sobre a transição dos atos preparatórios para os atos executórios ............ 42 12. Punibilidade da tentativa ............................... 43 13. Crime impossível .............................................. 43 14. Estado de necessidade ................................... 44 15. Teorias da culpabilidade ................................ 44 16. Teorias da coculpabilidade ............................ 45 17. Teorias explicativas do conceito de autor .. 45 18. Tipificação das condutas no concurso de pessoas ..................................................................... 46 19. Teorias sobre a punição do partícipe.......... 47 20. Teorias da pena ............................................... 48 21. Teorias sobre o concurso formal de crimes .................................................................................... 48 22. Teorias sobre o crime continuado (a continuidade delitiva exige unidade de desígnios?) ............................................................... 49 1 2 3 4 5 6 4 @mp_estadual Thiago Diniz EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO DIREITO PENAL 1. Causalismo • Final do século XIX e início do séc. XX. • Von Liszt; Beling (desenvolveu a teoria da tipicidade, em 1906). • O fato típico é objetivo e valorativamente neutro, possuindo os seguintes requisitos: a) conduta humana; b) resultado naturalístico, apenas nos crimes materiais (ex: homicídio); c) nexo de causalidade; d) adequação típica, ou seja, subsun- ção do fato à norma. • O dolo é mero vínculo subjetivodo agente com o fato. 2. Neokantismo • 1900 - 1930. • Mezger, Nélson Hungria, Jimenez de Asúa. • O tipo penal é objetivo e valorativo. Assim, tipo é o fato valorado negativamente pelo legislador. • Os requisitos do tipo são os mesmos do causalismo. A mudança está no enfoque, agora valorativo, dado aos mesmos requi- sitos do causalismo. As diferenças extrapo- lam o tipo penal. • O dolo possui dois requisitos: a) consciência do fato; b) consciência da ilicitude. 3. Finalismo • 1939 – 1960. No Brasil, 1970. • Hans Welzel. • O tipo penal possui duas dimensões: obje- tiva e subjetiva. Welzel é o primeiro autor a afirmar a dupla dimensão do fato típico. No plano objetivo, os requisitos continuam idênticos. Já no plano subjetivo, inserem- se dolo e culpa, antes situados na culpabi- lidade. 4. Funcionalismo racional ou teleoló- gico • 1970. • Roxin. • O tipo penal possui três dimensões: a) objetiva (com os mesmos requisi- tos); b) subjetiva (dolo + requisitos subje- tivos especiais); c) imputação objetiva • Por que imputação objetiva? Introduz no TIPO OBJETIVO 2 elementos novos: a) Criação ou incremento de risco proibido relevante (CIRPR) b) Realização do risco no resultado. • (3 dimensões: objetiva, subjetiva e imputa- ção objetiva). 5. Funcionalismo sistêmico • Jakobs • Com base na teoria dos sistemas de Luh- mann, Jakobs cria sua teoria da imputação normativa. • Para ele, o Direito Penal é um sistema au- tônomo, autorreferente e autopoiético. • A função do Direito Penal, portanto, é apli- car o comando contido na norma penal, pois somente sua reiterada incidência lhe confere o merecido respeito. 6. Funcionalismo reducionista ou con- tencionista • Zaffaroni. • O tipo penal possui três dimensões: a) sistemática; b) normativa; c) subjetiva. • Zaffaroni desenvolve a teoria da tipici- dade conglobante. 7. Novas propostas doutrinárias: di- reito penal e enfrentamento da crimi- nalidade moderna 7.1. Direito intervencionista ou de inter- venção (Hassemer) O direito de intervenção consiste na manutenção, no âmbito do Direito Penal, somente das condutas lesivas aos bens jurídicos individuais e também daquelas que causam perigo concreto. As demais, de índole difusa ou coletiva, e causadoras de perigo abstrato, por serem apenadas de maneira mais branda, seriam reguladas por um sistema jurídico diverso, com garantias materiais e processuais mais flexíveis, possibilitando um tratamento mais 1 2 3 4 5 6 5 @mp_estadual Thiago Diniz célere e amplo dessas questões, sob pena de tornar o Direito Penal inócuo e simbólico. Além disso, não seria tarefa do Poder Judiciário aplicá-las, e sim da Administração Pública. 7.2. Velocidades do Direito Penal (Jesus- Maria Silva Sanches) • Parte do pressuposto de que o Direito Penal, NO INTERIOR DE SUA UNIDADE SUBSTANCIAL, contém dois grandes blocos de ilícitos: 1º. Infrações às quais são cominadas PPL (DP nuclear); 2º. Infrações às quais são cominadas espécies diversas de sanções penais (DP periférico). OBS. Os 2 grupos têm natureza penal e devem ser processados e julgados pelo Poder Judiciário (≠ Di- reito Intervencionista). • Velocidades (Silva Sanches cuidou das duas pri- meiras velocidades): ✓ 1ª: PPL ➢ Rígida observância dos princípios clássicos; ➢ Regras de imputação. ✓ 2ª: PRD ➢ Flexibilização dos princípios pro- porcional à menor intensidade da sanção. ✓ 3ª: Direito Penal do Inimigo ✓ 4ª: Neopunitivismo ✓ 5ª: Estado policial: maior assiduidade do controle policial, no cenário em que o Di- reito Penal tem o escopo de responsabili- zar os autores, diante da agressividade pre- sente em nossa sociedade de relações complexas e por vezes incompreensíveis. 7.3. Direito penal do inimigo Conceito Propõe a flexibilização ou mesmo a supressão de diversas garantias materiais e processuais, até en- tão consideradas absolutas e intocáveis. Quem é o inimigo? É o indivíduo que afronta a es- trutura do Estado, pretendendo desestabilizar a or- dem nele instaurada ou, até mesmo, destruí-lo. É a pessoa que revela um modo de vida contrário às normas jurídicas, demonstrando não ser um cida- dão (ex: terroristas). Efeitos da aplicação do Direito Penal do Ini- migo 1º. O inimigo não pode gozar de direitos pro- cessuais. 2º. Submete-se a um juízo de periculosidade (DP prospectivo). 3º. Antecipação da esfera de proteção da norma jurídica, para abranger inclusive atos preparatórios, sem redução quantita- tiva da pena. 4º. Novos meios de investigação, como ação controlada e infiltração de agentes. 5º. Mitigação do princípio da reserva legal. 6º. Condutas descritas em tipos de mera con- duta e perigo abstrato (flexibiliza o princí- pio da lesividade). 7º. Descrição vaga dos crimes e das penas (fle- xibiliza o princípio da legalidade). 8º. Preponderância do Direito Penal do Autor (flexibiliza o princípio da exteriorização do fato). 9º. "Leis de luta e combate", leis de ocasião (Di- reito Penal de Emergência). 10º. Endurecimento da execução penal (Re- gime Disciplinar Diferenciado - RDD). 7.4. Neopunitivismo (Daniel Pastor) • Relaciona-se com o Direito Penal Internacional, caracterizado pelo alto nível de incidência política e pela seletividade, com elevado desrespeito às re- gras básicas do poder punitivo. • Insere-se na linha do panpenalismo, que busca a todo custo o aumento do arsenal punitivo do Es- tado, inclusive de forma mais arbitrária que o mo- delo defendido pelo DP do Inimigo. 7.5. Direito Penal como proteção de con- textos da vida em sociedade (Stra- tenwerth) • Deixa em segundo plano a proteção dos interes- ses individuais, para salvaguardar imediatamente os bens jurídicos inerentes a toda a coletividade. • Ao contrário de Hassemer, busca justamente a proteção dos bens jurídicos difusos. • Com isso, desloca-se o foco da criação de infra- ções penais: antes, fundada na proteção de bens individuais contra lesões efetivas; agora, centrada nos crimes de perigo abstrato, como forma de proteção aos bens jurídicos transindividuais. 1 2 3 4 5 6 6 @mp_estadual Thiago Diniz PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL 1. Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade • Cláusula pétrea. • Medidas provisórias em Direito Penal? Se- gundo STF, somente pro reo. • Fundamentos: ✓ Jurídico = taxatividade, certeza ou determinação. Por isso não se ad- mite analogia in malam partem. ✓ Político = proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder punitivo. • Princípio da reserva legal e mandados de criminalização. CUIDADO: há mandado im- plícito de criminalização (ex: homicídio, em razão da superioridade do direito à vida). • Não é o princípio da legalidade que proíbe a criação de tipos penais vagos, mas, isto sim, o princípio da taxatividade. 2. Princípio da anterioridade • A lei deve ser anterior ao fato cuja punição se almeja. • A lei não incide nem mesmo sobre os fatos praticados durante o período de vacatio. 3. Princípio da insignificância ou da crimi- nalidade de bagatela • De minimus non curat praetor. • Veda a atuação penal do Estado quando a conduta não é capaz de lesar ou no mínimo de colocar em perigo o bem jurídico tute- lado pela norma penal. • Finalidade: diminuir a intervenção do Di- reito Penal. • Natureza jurídica: causa de exclusão da ti- picidade material. • Subsidiariedade (em abstrato) x Framenta- riedade (em concreto). • Requisitos (STF) – M.A.R.I. 1º. Mínima ofensividade da conduta; 2º. Ausência de periculosidade social da ação; 3º. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4º. Inexpressividade da lesão jurídica provocada. • Insignificância e reincidência ✓ Possibilidade de aplicar o regime ini- cial aberto ao condenado por FURTO, mesmo ele sendo reinci-dente, desde que seja insignificante o bem subtraído (Info 938, STF). ✓ STF reconheceu que o valor econô- mico do bem FURTADO era muito pequeno, mas, como o réu era rein- cidente, em vez de absolvê-lo apli- cando o princípio da insignificância, o Tribunal utilizou esse reconheci- mento para conceder a pena restri- tiva de direitos (Info 913, STF). • É cabível o princípio da insignificância: ✓ Descaminho e crimes tributários = até R$ 20 mil. ✓ Atos infracionais. ✓ Crimes ambientais, EXCEPCIONAL- MENTE. • Não cabe o princípio da insignificância: x Roubo e demais crimes com violên- cia ou grave ameaça. x Crimes contra a Administração (S. 599, STJ). x Crimes da LD. x Crimes ambientais (em regra). x Crimes contra a fé pública. x Tráfico internacional de arma de fogo. x Porte ilegal de munição (em regra). x Evasão de divisas – “dólar cabo”. x Crimes ou contravenções contra a mulher no âmbito das relações do- mésticas (S. 589, STJ). x Crimes habituais (tese p/ MP). x Art. 34, LCA: pesca proibida (em re- gra – tese p/ MP). x Rádio comunitária clandestina. x Apropriação indébita previdenciária. x Posse ou porte de arma ou munição. x Estelionato previdenciário. x Furto qualificado (em regra – tese p/ MP). x Violação de direito autoral. x Prefeitos: para o STJ, NÃO cabe insig- nificância (p/ MP, ficar com o STJ). • Princípio da insignificância imprópria (ou da bagatela imprópria) ✓ Configura-se o crime, ou seja, o fato é típico e ilícito, o agente é culpável 1 2 3 4 5 6 7 @mp_estadual Thiago Diniz e o Estado possui o direito de punir. ✓ Há, portanto, desvalor da conduta e desvalor do resultado. ✓ No entanto, a pena revela-se incabí- vel, ilegítima e desnecessária no caso concreto, pois diversos fatores justificam seu afastamento (ex: su- jeito com personalidade ajustada ao convívio social, colaboração com a Justiça, reparação do dano causado à vítima etc). ✓ Sua natureza, portanto, é a de causa supralegal de extinção da punibili- dade. 4. Princípio da individualização da pena • 3 aspectos ou dimensões: a) Legislativo b) Judicial c) Administrativa (execução da pena) 5. Princípio da alteridade (Roxin) • A conduta deve invadir patrimônio jurídico alheio (ninguém pode ser punido por cau- sar mal apenas a si próprio). 6. Princípio da confiança • Todos devem esperar por parte das demais pessoas comportamentos responsáveis e em consonância com o ordenamento jurí- dico, almejando evitar danos a terceiros. • Por isso, esse princípio tem especial aplica- ção nos delitos praticados na direção de veículo automotor. 7. Princípio da adequação social • Não pode ser criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afronta o sentimento social de Justiça. • Funciona, portanto, como causa supralegal de exclusão da tipicidade. • É INCORRETA a afirmação de que o princí- pio da adequação social serve de parâme- tro fundamental ao julgador, que, à luz das condutas formalmente típicas, deve deci- dir quais sejam merecedoras de punição criminal (MPCE/2020). Isso porque a impe- ratividade da lei penal impede que a ade- quação social seja empregada pelo juiz para decidir quais condutas merecem a pu- nição criminal. A esse respeito, confira-se o julgado veiculado no Informativo 515 do STJ: O ato de vender ou expor à venda CDs e DVDs falsificados é conduta formal e ma- terialmente típica, estando prevista no art. 184, § 2º, do CP. Assim, não se pode alegar que tal conduta deixou de ser crime por conta do princípio da adequação social. 8. Princípio da intervenção mínima (ul- tima ratio) • A criminalização de um fato só se mani- festa legítima quando constitui meio indis- pensável para a proteção de determinado bem ou interesse. • Disso resultam dois atributos do Direito Pe- nal (Obs: MASSON conceitua os atributos de modo inverso): Subsidiariedade Fragmentariedade Desnecessidade da incursão do Direito Penal, dada a sufici- ência da proteção conferida pelos de- mais ramos. Desnecessidade da atu- ação do Direito Penal, dada a irrelevância da lesão ou do perigo de lesão causado ao bem jurídico tutelado pena norma penal. Opera em abstrato. Opera em concreto. 9. Princípio da proporcionalidade (razoa- bilidade ou convivência das liberdades públicas) • A criação de tipos penais deve constituir-se em atividade vantajosa para os membros da sociedade, eis que impõe um ônus a to- dos os cidadãos, decorrente da ameaça de punição. • Vetor que se dirige a 3 destinatários: ✓ Legislador, ✓ Juiz, ✓ Órgãos da execução penal. • Possui dupla face: a) Garantismo hiperbólico monocu- lar: proibição do excesso; b) Garantismo hiperbólico binocu- lar: proibição do excesso + proibi- ção da tutela deficiente. 10. Princípio da humanidade • Decorre da dignidade da pessoa humana e proíbe a criação de tipos e a cominação de 1 2 3 4 5 6 8 @mp_estadual Thiago Diniz penas que violam a incolumidade física e moral de alguém. 11. Princípio da ofensividade (lesividade) • Não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de le- são ao bem jurídico. 12. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos • Veda ao Direito Penal a preocupação com as intenções e pensamentos das pessoas, do seu modo de viver ou de pensar, ou ainda de suas condutas internas, enquanto não exteriorizada a atividade delitiva. • Direito Penal não resguarda questões de ordem moral, ética, ideológica, religiosa ou política. STF: “A criação de crimes de perigo abs- trato não representa, por si só, comporta- mento inconstitucional por parte do legis- lador penal”. Espiritualização, desmaterialização ou li- quefação do Direito Penal: crescente in- cursão do Direito Penal na seara dos inte- resses metaindividuais e dos crimes de pe- rigo, especialmente os de índole abstrata. 13. Princípio da imputação pessoal • O Direito Penal não pode castigar um fato cometido por agente que atue sem culpa- bilidade (inimputável, sem potencial cons- ciência da ilicitude ou de quem não se possa exigir conduta diversa). 14. Princípio da responsabilidade pelo fato • Os tipos penais devem definir fatos, não estereotipar autores. • Direito Penal do fato x Direito Penal do autor. 15. Princípio da personalidade ou da in- transcendência • A pena não pode passar da pessoa do con- denado. 16. Princípio da responsabilidade penal subjetiva • Nenhum resultado penalmente relevante pode ser atribuído a quem não o tenha produzido por dolo ou culpa. • O princípio da culpabilidade afasta a res- ponsabilização objetiva em matéria penal, de modo que a punição penal exige a de- monstração de conduta dolosa ou culposa (MPCE/2020). • Vestígios de responsabilidade objetiva? ➢ Rixa qualificada (art. 137, § único, CP); ➢ Punição de infrações praticadas em estado de embriaguez voluntá- ria ou culposa. 17. Princípio do ne bis in idem • Proíbe a dupla punição pelo mesmo fato • S. 241, STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agra- vante e, simultaneamente, como circuns- tância judicial. 18. Princípio da isonomia • Produz reflexo na dosimetria da pena (ex: não merecem o mesmo sancionamento o traficante contumaz e aquele que se de- dica pela 1ª vez ao tráfico de drogas, em fa- vor de quem incide a minorante do art. 33, § 4°, da LD. 1 2 3 4 5 6 9 @mp_estadual Thiago Diniz TEORIA DO CRIME Conceito de crime 1. Critério analítico a) Teoria bipartida: crime é fato típico e ilícito b) Teoria tripartida: crime é fato típico, ilícito e praticado por agente culpável. c) Teoria quadripartida: Crime é fato típico, ilí- cito, praticado por agente culpável e punível. 2. Conceito formal ou legal Crime é aquilo que a leidefine como tal. De acordo com a Lei de Introdução ao CP: são as infrações pe- nais cujo preceito secundário comina pena de re- clusão ou detenção, isolada, alternativa ou cumu- lativamente com a pena de multa. 3. Conceito substancial ou material Crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. 4. Conceito criminológico Crime é um fenômeno social, caracterizado a partir dos seguintes parâmetros: 1. Incidência massiva; 2. Incidência aflitiva; 3. Persistência espaço-temporal; 4. Inequívoco consenso acerca da punição. 5. Diferenças entre crime e contravenção Crime Contravenção Penas Reclusão ou deten- ção. Prisão simples ou multa. Aplicação Admite extraterri- torialidade. Não admite extra- territorialidade. Tentativa Pune a tentativa. Tentativa não é pu- nível. Culpabili- dade Compatível com o erro de tipo e o erro de proibição. Admitem apenas a ignorância ou a er- rada compreensão da lei, se escusá- veis. Tempo máximo 40 anos. 5 anos. Período de prova sursis 2 a 4 anos; 4 a 6 anos. 1 a 3 anos. Prazo mí- nimo MS 1 a 3 anos. 6 meses. Ação penal Pública ou privada. Sempre pública in- condicionada. Fato típico Elementos do fato típico Crimes materiais consumados Crimes tentados, formais e de mera conduta Conduta Conduta Nexo Tipicidade Resultado naturalístico Tipicidade Crime Fato típico Conduta Nexo de causalidade Resultado naturalístico Tipicidade Ilícito "Culpável" Imputabilidade Exigibilidade de conduta diversa Potencial consciência da ilicitude 1 2 3 4 5 6 10 @mp_estadual Thiago Diniz 1. Conduta Conceito de conduta Depende da teoria adotada: Teoria clássica, naturalística, mecanicista ou causal Liszt, Beling Comportamento humano voluntário que produz mo- dificação no mundo exterior Conduta independe de dolo e culpa, bastando que o agente produza o resultado Teoria final ou finalista (CP) Welzel Comportamento humano, consciente e voluntário, di- rigido a um fim. Dolo e culpa no fato típico, dentro da conduta. Formou- se uma culpabilidade “va- zia”, porque desprovida de dolo e culpa. Teoria cibernética Zaffaroni Leva em conta o controle da vontade, presente nos cri- mes dolosos, assim como nos culposos. Teoria social Wessels, Jescheck Comportamento humano com transcendência social. Teoria jurídico- penal Francisco de As- sis Toledo Comportamento humano, dominado ou dominável pela vontade, dirigido para a lesão ou para a exposição a perigo de um bem jurí- dico, ou, ainda, para a cau- sação de uma previsível le- são a um bem jurídico. Formas de conduta 1. Ação 2. Omissão – há duas teorias sobre a omis- são: Naturalística Normativa (CP) Omissão é fenô- meno causal que pode ser consta- tado no mundo fático Omissão é não fa- zer o que a lei de- terminava que se fizesse. Quem se omite faz alguma coisa. “Do nada, nada vem”. 2. Nexo ➔ Teorias abordadas nos comentários ao art. 13 do CP. 3. Resultado • É a consequência provocada pela conduta do agente. • Pode ser: a) Jurídico ou normativo b) Naturalístico ou material • Todo crime tem resultado jurídico, embora possa não contar com resultado naturalís- tico. 4. Tipicidade: formal e material Tipicidade formal • Juízo de subsunção do fato à norma. • Espécies de tipicidade formal a) Adequação típica imediata ou direta: a conduta humana se enquadra diretamente na lei penal incriminadora, sem necessidade de qualquer norma interposta. b) Adequação típica mediata ou indireta: o ajuste entre o fato e a norma somente se realiza por meio da conjugação do tipo penal com uma norma de extensão. As normas de extensão, que permitem a subsunção indireta, podem ser: 1) de extensão temporal (art. 14, II, CP): na tentativa, antecipa-se a tutela penal para abarcar os atos executórios prévios à con- sumação; 2) de extensão pessoal: na participação (art. 29, CP), o tipo penal passa a alcançar não só o sujeito que praticou os atos executó- rios, mas todos que de qualquer modo con- correram para o delito; 3) de extensão causal: nos casos dos crimes omissivos impróprios (art. 13, § 2°, CP), há uma ampliação da conduta criminosa, en- globando a omissão daquele que não cum- priu seu dever de agir. Tipicidade material É a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penal- mente tutelado. 1 2 3 4 5 6 11 @mp_estadual Thiago Diniz Exclusão do crime Elemento Causa excludente F a to t íp ic o Conduta Caso fortuito Força maior Atos/movimentos reflexos, sonambulismo, hipnose Coação física irresistível Nexo causal Concausa... - relativamente indepen- dente, - superveniente, - que por si só produziu o re- sultado. Resultado Tipicidade Il ic it u d e (n ão p o ss u i e le m e n to s) Causas legais genéricas Estado de necessidade Legítima defesa Estrito cumprimento de dever legal Exercício regular de di- reito Causas legais específicas Exemplos Art. 128: aborto necessário Art. 142: injúria/difamação Art. 1.210, § 1°, CC: des- forço imediato. Art. 37, I, Lei 9.605/98: não é crime o abate de animal... Causa supralegal Consentimento do ofen- dido C u lp a b il id a d e Imputabili- dade Menoridade Doença mental + inteira- mente incapaz Desenvolvimento mental incompleto ou retardado + inteiramente incapaz Embriaguez completa pro- veniente de caso fortuito ou força maior Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição escusá- vel, invencível ou inevitá- vel Exigibilidade de conduta diversa Coação moral irresistível Obediência hierárquica (ordem não manifesta- mente ilegal) Classificação dos crimes Crimes de dano e de perigo • Crime de perigo abstrato: Os crimes de perigo abstrato, que são modalidades de tutela anteci- pada de bens jurídicos, podem ser considerados exemplos da forma de intervenção penal denomi- nada “Direito Penal do Inimigo” descrita por Ja- kobs. Esta forma de tutela é utilizada, por ex., no Direito Ambiental e na proteção de vítimas de vio- lência doméstica (MPSC/19). Crimes materiais, formais e de mera con- duta • Crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Tipo penal prevê conduta + resultado, que é DISPENSÁVEL para a consuma- ção do crime. MPSC/2019: A especial finalidade da conduta (também denominada “dolo específico”) é um elemento subjetivo do tipo existente em alguns delitos materiais, mas não é compatível com os de- litos formais. ERRADO! Outras classificações a) Crime obstáculo: é aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crimes autônomos. Ex: associação criminosa (art. 288, CP); petrechos para falsificação de moeda (Art. 291, CP). b) Crime de empreendimento ou de aten- tado: aquele em que a pena da tentativa é igual à pena do crime consumado. Ex: art. 352 do CP - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violên- cia contra a pessoa. c) Crime de ação astuciosa: é o praticado por meio de fraude, engodo. Ex: estelio- nato - Art. 171, CP. d) Crime de tendência ou atitude pes- soal: é aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação típica, ou seja, a tipicidade pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente. Ex: palavras dirigidas contra alguém podem ou não caracterizar o crime de injúria a depen- der da intenção do agente (se é ofender a honra, ou apenas brincar ou criticar). e) Crime de intenção ou de tendência in- terna transcendente: é aquele em que o agente quer e persegue um resultado, que não necessita ser alcançado para consuma- ção. Ex: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP). f) Crime remetido: tipo penal que se reporta expressamente ao preceitosecundário de outro tipo penal. Ex: uso de documento 1 2 3 4 5 6 12 @mp_estadual Thiago Diniz falso (art. 304 do CP). g) Crime vago: não possui vítima específica e o bem jurídico pertence a toda a coletivi- dade (ex: tráfico de drogas). h) Crime de olvido (crime de esqueci- mento): modalidade de crime omissivo impróprio, caracterizado pela natureza culposa, em que por negligência, impru- dência ou imperícia o sujeito deixa de pra- ticar uma conduta ativa, produzindo um re- sultado coberto pela norma penal incrimi- nadora (ex: pai que estaciona o carro no su- permercado e ESQUECE seu filho no veí- culo, vindo a criança a morrer por asfixia). i) Crimes aberrantes: classificação que in- clui os crimes praticados em erro de tipo acidental: 1. Aberratio causae (erro sobre o nexo causal); 2. Aberratio ictus (erro na execução); 3. Aberratio criminis (resultado di- verso do pretendido). j) Crimes de acumulação: embora isolada- mente a conduta seja incapaz de ofender o valor ou o interesse protegido pela lei pe- nal, a repetição delas, cumulativamente consideradas, configura crime, em face da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico (ex: poluição). k) Crimes de catálogo: aqueles compatíveis com a interceptação telefônica como meio de investigação ou de produção de provas. TEORIA DO TIPO 1. Conceito É o modelo genérico e abstrato, formulado pela lei, descritivo da conduta criminosa ou da conduta per- mitida. 2. Espécies a) Tipos incriminadores ou legais b) Tipos permissivos ou justificadores 2.1. Tipo legal 2.1.1. Conceito É o modelo sintético, genérico e abstrato da con- duta definida em lei como crime ou contravenção penal. 2.1.2. Funções a) De garantia: decorrência da previsão cons- titucional do princípio da reserva legal, so- mente a lei pode criar crime e cominar pena. b) Fundamentadora: fundamenta o direito de punir do Estado. c) Indiciária da ilicitude ✓ Presunção relativa de que o fato tí- pico é também ilícito. ✓ Opera a inversão do ônus da prova quanto às excludentes. d) Diferenciadora do erro: o dolo deve abran- ger todos os elementos do fato típico. Au- sente algum, afasta-se o dolo, configu- rando-se o erro de tipo. e) Seletiva: cumpre ao tipo penal selecionar as condutas que deverão ser proibidas (cri- mes comissivos) ou ordenadas (crimes omissivos). 2.1.3. Estrutura 2.1.4. Classificação I) Tipo normal e tipo anormal a) Tipo normal: prevê apenas elementos ob- jetivos. b) Tipo anormal: prevê elementos objetivos e também elementos subjetivos e/ou nor- mativos. II) Tipo fundamental e tipo derivado a) Tipo fundamental: retrata a forma mais simples da conduta criminosa. Núcleo Elementos Objetivos Subjetivos Normativos Modais (há controvérsia) Circunstâncias (figuras qualificadas ou privilegiadas) 1 2 3 4 5 6 13 @mp_estadual Thiago Diniz b) Tipo derivado: se estrutura com base no tipo fundamental, acrescentando circuns- tâncias que aumentam ou diminuem a re- provabilidade e, consequentemente, a pena. III) Tipo fechado e tipo aberto a) Tipo fechado (cerrado): possui descrição minuciosa da conduta criminosa. b) Tipo aberto: não possui descrição minuci- osa da conduta criminosa, cabendo ao in- térprete, na análise do caso concreto, com- plementar a tipicidade mediante um juízo de valor (ex: crimes culposos, com exceção da receptação culposa – art. 180, § 3°, CP). IV) Tipo de autor e tipo de fato V) Tipo simples e tipo misto a) Tipo simples: abriga um único núcleo. b) Tipo misto: abriga dois ou mais núcleos. i. Tipo misto alternativo: a prática de dois ou mais núcleos dá origem a um único crime. ii. Tipo misto cumulativo: a prática de mais de uma conduta acarreta concurso material (ex: abandono material – art. 244, CP). VI) Tipo congruente e tipo incongruente a) Tipo congruente: há perfeita coincidência entre a vontade do autor e o fato descrito na lei penal (ex: crimes dolosos consuma- dos). b) Tipo incongruente: não há coincidência entre a vontade do autor e o fato descrito na lei penal (ex: tentativa, crimes culposos e crimes preterdolosos). VII) Tipo complexo VIII) Tipo preventivo Associado aos crimes-obstáculo, traduz a antecipa- ção da tutela do Direito Penal em relação a deter- minados bens jurídicos, incriminando de forma au- tônoma comportamentos que seriam fase prepara- tória de outros delitos autônomos. 3. Tipo doloso 3.1. Previsão legal: art. 18, CP. 3.2. Conceito Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a reali- zar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo pena incriminador. 3.2. Elementos do dolo a) Intelectivo ou cognoscitivo. É a consci- ência. b) Volitivo. É a vontade. 3.3. Teorias do dolo a) Teoria da vontade. Dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal (adotada para o dolo direto). b) Teoria da representação. Ocorre dolo toda vez que o agente, prevendo o resul- tado como possível, continua a sua con- duta. A crítica feita à teoria da representa- ção reside no ponto em que funde os con- ceitos de dolo eventual e culpa consciente. c) Teoria do consentimento ou assenti- mento. Ocorre dolo toda vez que o agente, prevendo o resultado como possível, de- cide prosseguir com sua conduta, assu- mindo o risco de produzi-lo. Acrescen- tando esta parte final ao conceito de dolo, a teoria do consentimento distingue dolo eventual e culpa consciente (adotada para o dolo eventual). V. Espécies de dolo a) Dolo direto ou determinado. Ocorre quando o agente prevê determinado resul- tado, dirigindo sua conduta na busca de re- alizar esse mesmo resultado. O resultado é querido diretamente (como fim ou como consequência necessária do meio esco- lhido). 121 (quer) b) Dolo indireto ou indeterminado. O agente com sua conduta não busca realizar resultado determinado. b.1) dolo alternativo. O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo 121 1 2 3 4 5 6 14 @mp_estadual Thiago Diniz sua conduta na busca de realizar qualquer um deles. 121 (quer)/129 (quer) (mesma intensidade de vontade) b.2) dolo eventual. O agente prevê pluralidade de resultados, porém di- rige sua conduta para realização de um de- les, aceitando produzir o outro. 121 (pretende)/129 (assume) (diferentes intensidades de vontade) Dolo Direto De primeiro grau: quando o resultado é diretamente querido como fim. De segundo grau: quando o resultado é a consequência necessária do meio esco- lhido. Eventual Quando o sujeito repre- senta a possibilidade do re- sultado concomitante, e a inclui como tal na vontade realizadora. c) Dolo cumulativo. O agente pretende al- cançar dois resultados em sequência. Ex: pretendo ferir, depois pretendo matar. O dolo cumulativo é um caso de progressão criminosa. d) Dolo de dano. A vontade do agente é no sentido de causar efetiva lesão ao bem ju- rídico tutelado. Por exemplo, quando se cogita do bem jurídico ‘vida’, a intenção do agente é matar. e) Dolo de perigo. Neste, o agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado (Ex: se tomo o bem jurídico ‘vida’, a intenção é periclitar a vida de outrem). f) Dolo genérico. O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal, sem fim específico. g) Dolo específico. O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo pe- nal, com fim específico. h) Dolo geral (ou erro sucessivo). Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. É uma espécie de erro de tipo acidental, não isen- tando o agente de pena. Há controvérsia na doutrina sobre qual série causal deve ser considerada (se a visadaou a efetiva- mente ocorrida). Teoria psicológica da culpabi- lidade Teoria psico- lógica norma- tiva Teoria norma- tiva pura Causalista Neokantista Tem base finalista A culpabili- dade se divide em duas espé- cies: a) dolo; b) culpa. A culpabilidade não tem espé- cies. Fato típico: - Culpa - Dolo natural: . consciência . vontade Elemento da culpabilidade: a) imputa- bilidade. Elementos da culpabilidade: a) imputabili- dade; b) exigibilidade de conduta di- versa; c) culpa; d) dolo norma- tivo – constitu- ído de: 1. consciência 2. vontade 3. consciência atual da ilicitude (elemento nor- mativo). Culpabilidade: - potencial consci- ência da ilicitude. i) Dolo normativo (colorido ou valorado). Adotado pela teoria psicológica normativa da culpabilidade (de base neokantista), in- tegra a culpabilidade tendo como requisi- tos: a) consciência; b) vontade; c) consciência atual da ilicitude (ele- mento normativo). “O dolo é cha- mado de normativo, justa- mente porque conta com um elemento normativo: a consci- ência atual da ilicitude”. j) Dolo natural (incolor ou avalorado). Adotado pela teoria normativa pura da cul- pabilidade (de base finalista), integra o fato típico, tendo como requisitos: a) consciência; b) vontade. “Está despido do elemento nor- 121/129 121/129 1 2 3 4 5 6 15 @mp_estadual Thiago Diniz mativo (consciência da ilici- tude), que passa a integrar a própria culpabilidade”. k) Dolo antecedente, concomitante e sub- sequente Dolo antecedente Dolo concomitante Dolo subsequente Antecede a conduta. Ao tempo da conduta Posterior à conduta. No Brasil, em regra, pune-se somente o dolo concomitante. Há um único caso em que se pune o dolo antecedente: a teoria da actio libera in causa. Nesta hipótese, analisa-se o dolo do bêbado completo não no momento da conduta, mas em momento anterior, quando ele bebia. l) Dolo de 1° grau. É o dolo direto. m) Dolo de 2° grau (ou necessário). Nessa espécie de dolo, o agente produz resultado paralelo ao visado, pois necessário a reali- zação à concretização de sua vontade. Pre- tendo matar ‘X’ colocando uma bomba no avião em que ele viaja. Em relação a ‘X’ o dolo é de 1º grau, já em relação aos demais passageiros, tem-se dolo de 2° grau. Para LFG, o dolo de 2° grau consagra a teoria da representação. Dolo de 2º grau Dolo eventual O resultado para- lelo é certo e neces- sário (no exemplo, a morte dos demais passageiros é certa e indispensável). O resultado para- lelo é incerto (even- tual, possível, des- necessário). n) Dolo de propósito. É o dolo refletido. Nem sempre majora a pena. o) Dolo de ímpeto. É o dolo repentino. Con- figura atenuante de pena. # Doente mental tem dolo? O doente mental tem consciência e vontade dentro do seu precário mundo valorativo, isto é, tem dolo. Se doente men- tal não tivesse dolo, a inimputabilidade não seria causa excludente da culpabilidade, mas do fato tí- pico. Ademais, o doente mental sofre sanção penal (medida de segurança). # Segundo a doutrina, a espécie de dolo pode inter- ferir na aplicação da pena. Ex: o dolo direto merece pena maior que o dolo eventual. 4. Crime culposo • Culpa é elemento normativo do tipo. • Os crimes culposos são previstos em tipos penais abertos. 4.1. Conceito É o que se verifica quando o agente, deixando de observar o dever objetivo de cuidado, por impru- dência, negligência ou imperícia, realiza voluntari- amente uma conduta que produz resultado natura- lístico, não previsto nem desejado, mas objetiva- mente previsível, e excepcionalmente previsto e desejado, que podia, com a devida atenção, ter evi- tado. 4.2. Elementos a) Conduta voluntária ✓ Vontade circunscrita à realização da conduta, e não à produção do resul- tado. ✓ Ação ou omissão. b) Violação do dever objetivo de cuidado ✓ Dever objetivo de cuidado é o com- portamento imposto pelo ordena- mento a todas as pessoas, visando o regular e pacífico convívio social. ✓ Modalidades de culpa: imprudência (atuação sem observância das caute- las necessárias), negligência (omis- são da conduta cuidadosa) e imperí- cia (≠ erro profissional: no erro pro- fissional, a falha é “da ciência”, o que exclui a culpa). c) Resultado naturalístico involuntário ✓ Todo crime culposo é material! ✓ Por isso o crime culposo é incompa- tível com a tentativa. d) Nexo causal e) Tipicidade f) Previsibilidade objetiva ✓ É a possibilidade de uma pessoa co- mum, com inteligência mediana, prever o resultado. Por isso a previ- sibilidade é objetiva: não leva em conta as características particulares do agente. g) Ausência de previsão ✓ Exceção: culpa consciente. 1 2 3 4 5 6 16 @mp_estadual Thiago Diniz 4.3. Espécies de culpa Culpa inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia Culpa consciente, com previsão ou ex lascívia Agente não prevê o re- sultado objetivamente possível. Agente, após prever o resultado, realiza a con- duta acreditando since- ramente que ele não ocorrerá. Culpa própria Culpa imprópria, por equi- paração ou por assimila- ção Agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Sujeito, após prever o resultado, e desejar sua produção, realiza a conduta por erro inescusável quanto à ilicitude do fato. Supõe uma situação de fato que, se existisse, tornaria a sua ação legítima. Para parte da doutrina, é a única espécie de crime culposo que admite tentativa. Culpa mediata ou indireta O agente produz o resultado naturalístico indiretamente, a título de culpa. Ex: agente tor- tura a vítima, que, desorien- tada, sai do carro e morre atro- pelada (responde por tortura + homicídio culposo). Culpa presumida ou in re ipsa Foi abolida do sistema penal pátrio, por traduzir manifes- tação da responsabilidade objetiva. 4.4. Graus de culpa Distinção antiga, não mais adotada, que distinguia a culpa, quanto à sua intensidade, em grave, leve e levíssima. 4.5. Compensação de culpas • Não se admite compensação de culpas no Direito Penal. • Nos termos do art. 59 do CP, no entanto, a culpa da vítima funciona como circunstância judicial fa- vorável ao acusado. • Por fim, a culpa EXCLUSIVA da vítima exclui a culpa do agente. 4.6. Concorrência de culpas Duas ou mais pessoas concorrem ou contribuem, culposamente, para a produção de um resultado naturalístico (ex: dois pedreiros, do alto de um pré- dio, arremessam uma tábua em uma caçamba que se encontrava no passeio, vindo a acertar um pe- destre). MASSON entende que não há que se falar em concurso de pessoas (coautoria ou participa- ção), por ausência do vínculo subjetivo. A doutrina majoritária, no entanto, admite a coautoria nos cri- mes culposos. 4.7. Caráter excepcional do crime cul- poso • Art. 18, § único, CP: princípio da excepcionali- dade do crime culposo. 4.8. Exclusão da culpa a) Caso fortuito e força maior; b) Erro profissional (falha dos métodos cien- tíficos); c) Risco tolerado (ex: piloto que testa, pela primeira vez, um novo conceito de aero- nave); d) Princípio da confiança (especialmente relevante nos crimes de trânsito). 5. Crime preterdoloso 5.1. Espécies de crimes agravados pelo re- sultado a) Dolo no antecedente e dolo no conse- quente (dolo/dolo); b) Culpa no antecedente e culpa no conse- quente (culpa/culpa) – ex: crimes culpo- sos de perigo comum, com resultado lesão grave ou morte (art. 258, in fine, CP); c) Culpa no antecedente e dolo no conse- quente (culpa/dolo) – ex: motorista atro- pela pedestre, ferindo-o culposamente, e, na sequência, deixa de prestar socorro à ví- tima, quando era possível. d) Dolo no antecedente e culpa no conse- quente (dolo/culpa) = crime preterdo- loso. LATROCÍNIO: pode ou não ser preterdoloso Situação 1 Situação2 Roubo doloso + Homicídio doloso Roubo doloso + Homicídio culposo Não é preterdoloso Latrocínio preterdoloso Admite tentativa Não admite tentativa 1 2 3 4 5 6 17 @mp_estadual Thiago Diniz 5.1. Conceito É uma espécie de crime qualificado pelo resultado, em que há dolo no antecedente e culpa no conse- quente. 5.2. Natureza do preterdolo • A natureza é de elemento subjetivo-normativo do tipo penal (subjetivo porque contém dolo; nor- mativo porque contém culpa). • O resultado mais grave deve ser objetivamente previsível (sob pena de responsabilidade objetiva). 5.3. Versari in re illicita • “Quem se envolve com coisa ilícita é responsável também pelo resultado fortuito”. • Esse princípio não é admitido em nosso sistema penal, devendo a culpa que agrava especialmente o resultado ser provada. 1 2 3 4 5 6 18 @mp_estadual Thiago Diniz CÓDIGO PENAL Alterações promovidas pelo Pacote Anticrime no CP Art. 25, CP: Especificação de hipótese de legí- tima defesa • Observados os demais requisitos, • agente de segurança pública que... • repele agressão ou risco de agressão a... • vítima mantida refém durante a prática de crimes. Art. 51, CP: Execução da pena de multa... • A multa é considerada dívida de valor; • Executada perante o juiz da execução penal; • Segundo as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública. Art. 75, CP: tempo máximo de cumprimento da pena privativa de liberdade 40 anos Art. 83, CP: requisitos do livramento condicio- nal [...] III – comprovado: a) bom comportamento durante a execução da pena; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) b) não cometimento de falta grave nos últi- mos 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei nº 13.964/2019) c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e (Incluído pela Lei nº 13.964/2019) d) aptidão para prover a própria subsistên- cia mediante trabalho honesto; (Incluído pela Lei nº 13.964/2019) [...] Art. 91-A, CP: confisco alargado • Condenação por infrações cuja pena má- xima é superior a 6 anos de reclusão; • Perda de bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito; • Exige requerimento expresso do MP na de- núncia. Art. 116, CP: causas impeditivas da prescrição [...] II - enquanto o agente cumpre pena no exte- rior; III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e IV – enquanto não cumprido ou não rescin- dido o acordo de não persecução penal. Art. 157, § 2°, VII; e §2°-B: nova disciplina do roubo majorado pelo emprego de arma... a) Arma branca: a pena aumenta-se de 1/3 até 1/2; b) Arma de fogo: a pena aumenta-se de 2/3; c) Arma de fogo de uso restrito ou proibido: aplica-se a pena em dobro. Art. 171, § 5°, CP: ação penal no crime de esteli- onato... • REGRA: ação penal pública condicionada à representação. • Exceções: se a vítima for... a) Administração Pública, direta ou indi- reta; b) Criança ou adolescente; c) Pessoa com deficiência mental; d) Maior de 70 anos; e) Incapaz. Art. 216, CP: pena máxima do crime de concus- são 2 a 12 anos PARTE GERAL 1. Aplicação da lei penal (arts. 1 ao 12) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1.1. Interpretação da lei penal a) Interpretação extensiva • Amplia-se o texto da lei, para amoldá-lo à sua efetiva vontade. • É possível sua utilização mesmo em relação às normas incriminadoras. b) Interpretação analógica • O legislador traz uma fórmula casuística (fe- chada) seguida de uma fórmula genérica. • A viabilidade da interpretação analógica não se define apenas pelo sistema da alternância expressa (ex: art. 251, CP), podendo derivar também do sistema de alternância implícita (ex: “121, § 2º Se o homicídio é cometido: I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”) ou do sistema de autonomia correlata (ex: art. 260, CP). Obs. Analogia não é forma de interpretação, mas modo de integração da lei penal. 1 2 3 4 5 6 19 @mp_estadual Thiago Diniz 1.2. Lei penal em branco Espécies a) Própria (em sentido estrito ou hetero- gênea): complemento tem natureza jurí- dica diversa da norma incriminadora. b) Imprópria (em sentido amplo ou homo- gênea): complemento tem a mesma natu- reza jurídica da norma incriminadora. a. Homovitelina: a lei incriminadora e seu complemento estão no mesmo diploma normativo. b. Heterovitelina: a lei incriminadora e seu complemento estão em di- plomas normativos diversos. c) ao revés, ao avesso ou inversa: o pre- ceito secundário é que reclama comple- mentação. d) de fundo constitucional: complemento encontra-se em norma constitucional (ex: art. 121, § 2°, VII, CP complementado pelos arts. 142 e 144 da CF). e) ao quadrado: aquela cujo complemento também precisa de complementação (art. 38 da Lei 9.605/98). Lei penal em branco e conflito de leis no tempo Se o complemento da norma penal em branco é al- terado, precisamos distinguir 2 situações: a. Situação de normalidade: a modificação do complemento favorece o sujeito (ex: re- tirada de determinada substância da Porta- ria editada pelo Poder Executivo Federal). b. Situação de anormalidade ou excepciona- lidade: a modificação do complemento, ainda que benéfica ao réu, não pode retro- agir (ex: tabelamento de preços no caso de grave crise verificada no abastecimento de determinado insumo essencial). O funda- mento é a ultratividade das leis penais ex- cepcionais (art. 3°, CP). 1.3. Conflito aparente de normas • Princípios que atuam na solução (C.A.S.E.): 1. Consunção ▪ O fato mais amplo e grave absorve os demais fatos menos amplos e gra- ves. ▪ Hipóteses em que se aplica o princí- pio da consunção: 1) crime com- plexo; 2) crime progressivo; 3) pro- gressão criminosa; 4) fatos impuní- veis. 2. Alternatividade ▪ Não é aceito pela doutrina majoritá- ria como critério válido para a solu- ção do conflito aparente de normas. ▪ Isso porque o princípio da consunção resolve com vantagens os problemas aos quais prestaria a alternatividade. 3. Subsidiariedade ▪ A lei primária prevalece sobre a lei secundária. ▪ Observa-se graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico. ▪ Análise da subsidiariedade é feita em concreto. ▪ A lei subsidiária funciona como “sol- dado de reserva”. ▪ Pode ser expressa (ex: 129, § 3°, CP) ou tácita (ex: constrangimento legal em relação ao estupro). 4. Especialidade ▪ Elementos especializantes: relação de gênero/espécie. ▪ Contemporaneidade (no mesmo contexto fático – exemplo da mãe que tenta matar o filho durante o es- tado puerperal e, depois, consegue o que pretendia: responde por infanti- cídio tentado + homicídio consu- mado). ▪ Análise da especialidade é feita em abstrato. ▪ Verificada a especialidade, seu em- prego é peremptório. ▪ Não importa a gravidade dos delitos. 1.4. Jurisprudência • Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica- se ao crime continuado ou ao crime perma- nente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 1.5. Analogia • Método de integração da lei penal. • Espécies: 1. In malam partem 2. In bonam partem 3. Analogia legis 4. Analogia juris 1 2 3 4 5 6 20 @mp_estadual Thiago Diniz 1.6. Lei penal no tempo • Regra: tempus regit actum; • Exceções: 1. Novatio legis incriminadora 2. Lex gravior 3. Abolitio criminis 4. Lex mitior 5. Lei híbrida 1.7. Tempo do crime O CP adotou a teoria da atividade (art. 4°, CP). Nesse ponto, importante a mençãoà súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vi- gência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 1.8. Lugar do crime O CP adotou a teoria da ubiquidade (art. 6°, CP) 2. Crime (arts. 13 ao 25, CP) 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Relação de causalidade (art. 13, CP) Teorias Teoria Definição Teoria da equivalência dos antecedentes Causa é a condição sem a qual o resultado não teria ocorrido. Identifica-se o que é causa pelo processo hipotético de elimina- ção (Thyrén). Teoria da causalidade adequada É o antecedente necessário e também ADEQUADO à produção do resultado. Assim, não basta contribuir de qualquer modo para o resultado, deve-se contribuir de forma eficaz, levando em consi- deração as circunstâncias idôneas à sua produção. É aferida de acordo com o juízo do homem médio e com experiência comum. Imputação objetiva • Tipo subjetivo = dolo e culpa • Tipo objetivo 1) Nexo causal 2) CIRPR = criação ou incre- mento de risco proibido relevante. 3) Realização do risco no resultado. Teoria da qualidade do efeito Causa é a condição da qual de- pende a qualidade do resultado, havendo diferenciação entre con- dições estáticas e dinâmicas, sendo que somente estas últimas seriam causa decisiva ou eficiente para o efeito Teoria da relevância causal A causa da produção de um resul- tado depende, dentre outros cri- térios, da relevância jurídica da conexão causal do ato de vontade com o resultado • A chamada “teoria da imputação objetiva” re- úne um conjunto de critérios pelos quais se res- tringe o âmbito da relevância penal dos fatos abrangidos pela relação de causalidade, e que se- riam imputáveis ao sujeito caso não fossem empre- gados esses critérios (MPSC/19). • Nos delitos imprudentes (ou culposos), a afe- rição da concreção do risco na implementação do evento típico (ou resultado) é um dos critérios da “teoria da imputação objetiva” (MPSC/19). 1 2 3 4 5 6 21 @mp_estadual Thiago Diniz Omissão própria x omissão imprópria Omissão própria Omissão imprópria - Crime omissivo - Crime comissivo por omissão - Doloso - Doloso/culposo - Não admite tentativa - Admite tentativa - Não há nexo causal - Nexo causal normativo - Não exige resultado na- turalístico - Exige resultado naturalís- tico - Agente responde pela omissão - Agente responde pelo re- sultado que poderia e de- veria evitar - Crime de mera conduta - Crime material - Tipo mandamental - Figura do garantidor - Tipos penais específicos (ex.: omissão de socorro) - Cláusula geral (art. 13, §2º, CP) Subsunção direta Subsunção indireta Omissão é sempre rele- vante. Omissão é relevante quando o agente devia e podia agir p/ evitar o resul- tado. Dupla causalidade • Duas ou mais condutas provocam o resul- tado, sendo cada qual suficiente para pro- vocá-lo. • Os agentes não se encontram subjetiva- mente vinculados. Na verdade, um desco- nhece a conduta do outro. • Ex: “A” e “B” ministram veneno a “C”, que vem a morrer. • Prevalece que ambos respondem por homi- cídio consumado. Tentativa (14, CP) Teorias explicativas do início da execução Teoria Definição Teoria negativa Reconhece que é impossível definir o limite entre ato preparatório e ato de execução, devendo isso ficar a cargo do juiz. Conforme Fábio Roque Araújo, "os adeptos da teoria nega- tiva não reconhecem relevância na distinção entre as fases que com- põem o iter criminis". Teoria subjetiva Importa o plano do agente, culmi- nando na punição de atos prepara- tórios. Teoria da hostilidade ao bem jurídico Inicia-se a execução com a prática da conduta que ataca o bem jurídico. Teoria objetivo- formal Início da realização do verbo típico. Teoria objetivo- material Atos executórios são aqueles em que se começa a prática do núcleo do tipo, e também os imediata- mente anteriores ao início da con- duta típica, de acordo com a visão de terceira pessoa, alheia aos fatos. Teoria objetivo- individual Atos executórios são relacionados ao início da conduta típica, e tam- bém os imediatamente anteriores ao início da conduta típica, de acordo com o plano concreto do au- tor. Espécies de tentativa 1. Branca ou incruenta: objeto material não é atingido; 2. Vermelha ou cruenta: objeto material é atin- gido; 3. Perfeita, acabada ou crime falho: agente es- gota todos os meios executórios que esta- vam à sua disposição. 4. Imperfeita, inacabada ou propriamente dita: o agente inicia a execução sem, con- tudo, utilizar todos os meios que tinha ao seu alcance. 5. Qualificada ou abandonada: ocorre nos cri- mes em que o resultado não ocorre por cir- cunstâncias intrínsecas à vontade do agente, como se dá no arrependimento eficaz e na desistência voluntária. 1 2 3 4 5 6 22 @mp_estadual Thiago Diniz Outras questões • Masson sustenta, com apoio na doutrina de Hungria, que a tentativa é compatível com os delitos de ímpeto, apesar de reconhecer a existência de corrente no sentido da incom- patibilidade. • Prevalece, ainda, o entendimento favorável ao cabimento da tentativa nos crimes come- tidos com dolo eventual. Desistência voluntária e arrependimento eficaz (15, CP) Desistência Voluntária Arrependimento eficaz (Resipiscência) Art. 15, 1ª parte Art. 15, 2ª parte O agente abandona a execução do delito no decurso dos atos execu- tórios. Prevalece que se confi- gura a desistência volun- tária quando o agente opta por apenas adiar a prática do crime. Quando já esgotados os atos executórios, o agente adota conduta voltada a impedir a concretização do evento danoso. Logo, o arrependimento eficaz somente se confi- gura em relação à tentativa perfeita. Em ambos os casos, o crime não se consuma pela von- tade do agente. É por isso que esses institutos são de- nominados pela doutrina de "tentativa abando- nada". Em ambos os casos o agente responde apenas pelos atos já praticados, desde que sejam típicos. Ambos são incompatíveis com os crimes culposos, salvo a culpa imprópria. São irrelevantes os motivos que animam a nova pos- tura do agente. Crimes que não admitem tentativa x Crimes culposos (exceto culpa imprópria). x Crimes preterdolosos. x Crimes unissubsistentes (ex: desacato). x Crimes omissivos próprios ou puros (ex: art. 135, CP – omissão de socorro). x Crimes de perigo abstrato (ex: porte de arma de fogo). Obs. Os crimes de perigo concreto admitem tentativa. x Contravenções penais (art. 4°, LCP: Não é pu- nível a tentativa de contravenção). x Crimes condicionados: aqueles em que a pu- nição está sujeita à ocorrência de um resul- tado legalmente exigido. Ex: art. 164, CP - In- troduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de di- reito, desde que o fato resulte prejuízo: x Crimes de atentado ou de empreendimento: pena da tentativa = pena do crime consu- mado (art. 352, CP: “evadir-se ou tentar eva- dir-se...). x Crimes obstáculo: retratam atos preparató- rios tipificados de forma autônoma pelo le- gislador (ex: art. 288 do CP – associação cri- minosa) x Crimes com tipo penal composto de condu- tas amplamente abrangentes (ex: art. 50, I, da Lei 6.766/79 – Dar início, DE QUALQUER MODO, ou efetuar loteamento...). x Crimes habituais. Obs. Existem crimes que são punidos apenas na forma tentada: arts. 9° e 10 da Lei dos Crimes contra a Segurança Nacional. CUIDADO: crimes formais e de mera conduta ad- mitem tentativa. Arrependimento posterior (16, CP) Jurisprudência • Info. 590/STJ. P/ a incidência do arrependimento posterior, é indispensável queo crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Logo, “os crimes contra a fé pública, assim como os demais crimes não patrimoniais em geral, são in- compatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de ha- ver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída” (REsp 1.242.294, j. 18/11/2014). Crime doloso e crime culposo (18, CP) Dolo eventual Culpa consciente Agente não quer o resul- tado por ele PREVISTO, mas assume o risco de produzi-lo. O agente prevê o resul- tado, mas espera que ele não ocorra, supondo po- der evitá-lo com a sua ha- bilidade. MPSC/2019. No caso em que o sujeito realiza a con- duta e prevê a possibilidade de produção do resul- tado, mas não quer sua ocorrência e conta com a “sorte” para que ele não se materialize, pois sabe que não tem o controle sobre a situação imple- mentada, se configura um exemplo de culpa cons- ciente e não de dolo eventual, porque se o sujeito soubesse de antemão que o resultado iria ocorrer, provavelmente não teria atuado. ERRADO: se o agente não tem controle sobre o resultado, não 1 2 3 4 5 6 23 @mp_estadual Thiago Diniz tem poder para evitá-lo com sua habilidade, razão pela qual se configura dolo eventual. Teorias do dolo Teoria Definição Representação (ou possibilidade) • Basta a previsão do resultado. • CP não adotou. • Há quem defenda que foi aco- lhida para a culpa consciente. Vontade • Previsão + vontade de produ- zir o resultado. • CP adotou para o dolo direto. Assentimento (consentimento) • Previsão + agente assume o risco de produzir o resultado. • CP adotou p/ o dolo eventual. Erro Erro de tipo • Fenômeno que determina a ausência de dolo quando, havendo uma tipicidade objetiva, falta ou é falso o conhecimento dos elementos requeridos pelo tipo. • Falsa percepção da realidade acerca dos ele- mentos constitutivos do tipo. • É possível o erro de tipo nos crimes omissivos impróprios (ex: salva-vidas que não age, ima- ginando que banhista apenas brinvaca). Modalidades Essencial • recai sobre dados princi- pais do tipo. • sempre eli- mina o dolo Inevitável (escusável, invencí- vel ou desculpável) • Quando imprevisível. • Exclui também a culpa. Evitável (inescusável, vencí- vel ou indesculpável) • Quando previsível. • Permite a punição por crime cul- poso, se previsto. Acidental • recai sobre dados secun- dários do tipo Erro sobre o objeto Erro sobre a pessoa Erro na execução (aberratio ictus) Resultado diverso do pretendido (aberratio delicti) Erro sobre o nexo causal Crime putativo por erro de tipo O agente imagina que comete um crime, mas, por ausência de elemento típico, pratica um fato penal- mente irrelevante (ex: pretendo praticar tráfico de drogas, mas o que vendo é talco). Descriminantes putativas Conceito São as excludentes da ilicitude imaginadas pelo agente. A causa excludente não existe concreta- mente, encontra-se apenas na mente do agente. Por exemplo, o autor imagina estar agindo em legí- tima defesa, mas não está. Natureza Depende da teoria da culpabilidade adotada: Teoria limitada Teoria extremada Erro sobre pres- supostos fáticos Os requisitos da excludente estão presentes? Erro de tipo permissivo Erro de proibição Erro sobre a existência A excludente exis- te no ordenamen- to? Erro de proibição indireto Erro de proibição indireto Erro sobre os li- mites Houve excesso? Erro de proibição indireto Erro de proibição indireto Forma-se a teoria unitá- ria do erro. Consequências: • Sendo erro de tipo, aplica-se a disciplina do art. 20 do CP: a. Se inevitável, exclui dolo e culpa; b. Se evitável, exclui somente o dolo. • Sendo erro de proibição, aplica-se a disciplina do art. 21: a. Se inevitável, isenta de pena (na verdade, exclui a culpabilidade, pois retira a po- tencial consciência da ilicitude); b. Se evitável, reduz a pena de 1/6 a 1/3. Ilicitude Exclusão da ilicitude • O art. 23 do CP prevê as causas de exclusão da ilicitude e em todas elas é possível que o agente as considere presentes por erro plenamente justifi- cado pelas circunstâncias (excludente puta- tiva): estado de necessidade putativo, legítima de- fesa putativa, estrito cumprimento de dever legal putativo e exercício regular do direito putativo. 1 2 3 4 5 6 24 @mp_estadual Thiago Diniz I – Estado de necessidade Teoria unitária Teoria diferenciadora CP CPM Só admite estado de necessidade justifi- cante Admite duas espécies: EN justificante EM exculpante Bem preservado maior ou igual ao bem sacrificado Bem preser- vado maior ou igual ao bem sacrifi- cado Bem preser- vado menor que bem sa- crificado Exclui a ilicitude - Pelo CP, se bem preservado é menos “valioso” que bem sacrificado, reduz-se a pena de 1/3 a 2/3. Exclui a ilici- tude Exclui a cul- pabilidade (inexigibili- dade de con- duta di- versa). Como o tema foi cobrado em prova • MPPR/2019 - O policial e o bombeiro não são ga- rantidores da não ocorrência do resultado, não tendo, assim, o dever de evitar o resultado. Enun- ciado considerado CORRETO: Segundo Busato: “É muito importante a distinção entre o dever de en- frentar o perigo e o dever de evitar o resultado. O policial e o bombeiro dos exemplos não são garan- tidores da não ocorrência do resultado, ou seja, eles não têm o dever de evitar o resultado danoso deri- vado da situação de risco, mas sim e apenas de en- frentar o risco. O dever de agir para impedir o re- sultado é tema relacionado à tipicidade dos crimes omissivos impróprios. O dever de enfrentar o perigo é norma que impede a exclusão da ilicitude por es- tado de necessidade". • Um bombeiro pode alegar estado de necessidade como forma de se eximir de enfrentar um incêndio. ERRADO: ele não pode! ✓ Art. 24, § 1°, CP: Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. ✓ Art. 13, § 2°, CP: [...] O dever de agir in- cumbe a quem: a) tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção e vigilância. ✓ Logo, o bombeiro não pode alegar EN. • Em regra, o estado de necessidade não se aplica aos crimes permanentes e habituais (MPMT/19). Obs. A jurisprudência já reconheceu o estado de necessidade no crime habitual de exercício ilegal de arte dentária (art. 282, CP), em caso atinente a zona rural longínqua e carente de profissional ha- bilitado. • Espécies: a) Estado de necessidade agressivo: atinge bem jurídico de terceiro inocente; b) Estado de necessidade defensivo: bem ju- rídico atingido pertence ao causador da si- tuação de perigo. II – Legítima defesa • Não se admite legítima defesa contra quem age em estado de necessidade. Se uma excludente é real, não haverá a agressão injusta da qual de- pende a legítima defesa real. • Espécies: a) Legítima defesa agressiva: reação é fato tí- pico; b) Legítima defesa defensiva: reação não é fato típico. • Legítima defesa sucessiva: sujeito reage contra o excesso da legítima defesa anterior. É admitida. 3. Imputabilidade penal (26 ao 28) 26 27 28 29 30 31 • O CP adotou o critério biopsicológico, de modo que não basta a existência da doença men- tal, devendo o agente, em razão dela, ser inteira- mente incapaz de compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse en- tendimento. 4. Concurso de pessoas (29 ao 31) 29 30 31 32 33 34 Conceito de autor – teorias Teoria subjetiva ou unitária Não distingue autor e partícipe. Autor é todo aquele que contribui para o resultado. Teoria extensiva Não distingue autor e partícipe, mas admite causas de diminuição de pena, conforme o “grau de au- toria”. Surge a figura do cúmplice. Teoria objetiva ou dualista Subdivide-se em 3:
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