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2013 Análise de BAlAnço e ConCessão de Crédito Prof. Luciano Fernandes Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof. Luciano Fernandes Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.15076 F363a Fernandes, Luciano Análise de balanço e concessão de crédito / Luciano Fernandes, José Alfredo Pareja Gomez de La Torre. Indaial : Uniasselvi, 2013. 283 p. : il ISBN 978-85-7830-826-1 1. Contabilidade. 2. Balanço contábil. 3. Análise de crédito. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III ApresentAção Caro(a) acadêmico(a)! Conceder crédito implica em uma relação de confiança com seu cliente, e neste processo deve-se observar, entre outras coisas, a segurança, a liquidez e a rentabilidade de seus clientes, para oferecer crédito com certa margem de segurança, que garanta a eficiência e eficácia das operações. Neste livro serão estudados todos os aspectos que envolvem a análise de balanço e concessão de crédito, e para se conseguir atingir este propósito, dividiremos este caderno em três unidades. A Unidade 1 abordará os conceitos básicos para introdução à análise das demonstrações contábeis. Para isto, serão vistos de forma sucinta os tipos de sociedades existentes em nossa legislação atual, as principais demonstrações contábeis obrigatórias pela Lei 6.404/76 e atualizada pelas leis 11/638/07 e 11.941/09, conhecidas como Leis das Sociedades por Ações – LSA. Por fim, serão apresentados os conceitos teóricos relacionados ao seu fundamento, objetivos, processo e metodologia, padronização e reclassificação das demonstrações contábeis. Na Unidade 2 será abordada a análise das demonstrações contábeis propriamente ditas, quanto ao seu método e principais indicadores de análises, bem como os indicadores fundamentalistas, os métodos quantitativos para previsão de insolvência e a etapa final quanto à elaboração do relatório ou parecer de análise das demonstrações contábeis. Finalmente, na Unidade 3 será abordada a análise para concessão de crédito, explicitando seus fundamentos, o papel da informação no processo de crédito, os principais títulos de crédito e tipos de garantias, os riscos na concessão do crédito e a formação do parecer de crédito. Bons estudos! Luciano Fernandes José Alfredo Pareja Gomez de La Torre IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ........................................................................... 1 TÓPICO 1 – CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL ............................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 OS TIPOS DE SOCIEDADES ............................................................................................................ 3 3 A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NA ATIVIDADE EMPRESARIAL ..................... 5 4 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS ................................................................................................................. 7 5 REGIME DE COMPETÊNCIA VERSUS REGIME DE CAIXA .................................................... 7 6 PROVISÕES, DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES ....................................... 9 6.1 PROVISÕES ...................................................................................................................................... 9 6.2 DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES ............................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2 – ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .......................................... 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 BALANÇO PATRIMONIAL ............................................................................................................... 20 2.1 ATIVO CIRCULANTE .................................................................................................................... 24 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE .......................................................................................................... 26 2.3 PASSIVO CIRCULANTE ................................................................................................................ 27 2.4 PASSIVO NÃO CIRCULANTE ..................................................................................................... 29 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................................................................................................................ 30 3 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO – DRE ................................................. 34 3.1 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS - DLPA. ...................... 40 4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – DMPL .................. 44 5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC .................................................................. 44 6 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – DVA ............................................................ 51 7 NOTAS EXPLICATIVAS E RELATÓRIOS QUE ACOMPANHAM AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .................................................................................................. 55 7.1 NOTAS EXPLICATIVAS ................................................................................................................. 56 7.2 RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE ......................................................................... 56 7.3 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO .......................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60 TÓPICO3 – INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...... 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 FUNDAMENTOS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRACÕES CONTÁBEIS ....................... 63 2.1 OBJETIVOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...................................... 64 2.2 USUÁRIOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ....................................... 64 2.3 PROCESSO, METODOLOGIA E ETAPAS DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ..................................................................................................................................... 65 2.4 PADRONIZAÇÃO E RECLASSIFICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PARA EFEITOS DE PREPARAÇÃO DA ANÁLISE ........................................... 71 sumário VIII LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 75 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 UNIDADE 2 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS .............................................. 83 TÓPICO 1 – ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES ........................................................... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS ÍNDICES OU QUOCIENTES ..................................... 86 3 ÍNDICES DE LIQUIDEZ (OU SOLVÊNCIA) ............................................................................... 90 3.1 ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE OU LIQUIDEZ COMUM (LC) ................... 91 3.2 ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA (LS) .................................................................................... 92 3.3 ÍNDICE DE LIQUIDEZ IMEDIATA (LI).......................................................................... 93 3.4 ÍNDICE DE LIQUIDEZ GERAL (LG) ............................................................................... 94 4 ÍNDICES DA ESTRUTURA DE CAPITAL ................................................................................... 96 4.1 PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS (GRAU DE ENDIVIDAMENTO) ......... 97 4.2 COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO.................................................................................. 98 4.3 IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ...................................................................... 99 4.4 IMOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS NÃO CORRENTES ........................................................ 100 5 ÍNDICES DE RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE ............................................................ 101 5.1 GIRO DO ATIVO .......................................................................................................................... 102 5.2 MARGEM LÍQUIDA .................................................................................................................... 103 5.3 RENTABILIDADE OU RETORNO DO ATIVO (ROI OU ROA) ............................................ 104 5.4 RENTABILIDADE OU RETORNO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO (ROE) ........................... 104 5.5 ANÁLISE DO ROI PELO MÉTODO DUPONT ....................................................................... 105 5.6 GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA (GAF) ............................................................... 107 5.7 ALAVANCAGEM OPERACIONAL ............................................................................................ 115 5.8 ÍNDICE DE ATIVIDADE, PRAZO MÉDIO OU ROTATIVIDADE ....................................... 118 5.8.1 Prazo Médio de Estoques – PME ....................................................................................... 118 5.8.2 Prazo Médio de Clientes – PMC ........................................................................................ 120 5.8.3 Prazo Médio de Pagamento – PMP ................................................................................... 121 5.8.4 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ................................................................................ 123 5.9 ÍNDICE-PADRÃO ........................................................................................................................ 127 5.10 ATRIBUIÇÃO DE PESOS NA ESTRUTURA DE ÍNDICE-PADRÃO ................................. 131 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 139 TÓPICO 2 – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL .................................................................. 143 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 143 2 TÉCNICA DA ANÁLISE VERTICAL (AV) .................................................................................. 143 3 TÉCNICA DA ANÁLISE HORIZONTAL (AH)........................................................................... 145 4 ANÁLISE CONJUNTA – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL ........................................ 148 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 153 TÓPICO 3 –ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO .............................................. 157 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 157 2 MODELO FLEURIET – RECLASSIFICAÇÃO DAS CONTAS DO ATIVO E PASSIVO CIRCULANTE .................................................................................................................................... 157 3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO NA GESTÃO EMPRESARIAL ...... 163 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 167 IX TÓPICO 4 – ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA .....................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 VALOR ECONÔMICO ADICIONADO NAS EMPRESAS .......................................................169 3 EBITDA – EARNING BEFORE INTEREST, TAXES, DEPRECIATION AND AMORTIZATION OU LAJIDA – LUCRO ANTES DE JUROS, IMPOSTOS, DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO ..............................................................................................173 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................177 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178 TÓPICO 5 – MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA .....................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA .........................................................................182 2.1 MODELO ALTMANN ..................................................................................................................182 2.2 MODELO ELIZABETSKY ............................................................................................................1822.3 MODELO MATIAS ........................................................................................................................183 2.4 MODELO PEREIRA ......................................................................................................................184 3 MODELO DE KANITZ ......................................................................................................................184 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 TÓPICO 6 – RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...............193 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................193 2 PASSOS PARA ELABORAR UM RELATÓRIO DE ANÁLISE .................................................193 3 ESTRUTURA DE UM RELATÓRIO DE ANÁLISE .....................................................................195 3.1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................195 3.2 SUMÁRIO .......................................................................................................................................195 3.3 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .......................................................................................196 3.4 CORPO ............................................................................................................................................196 3.5 ANEXOS ..........................................................................................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................198 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................199 UNIDADE 3 – PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES ..........................................................................................................201 TÓPICO 1 – ANÁLISE DE CRÉDITO ...............................................................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 OBJETIVOS E CONCEITO ..............................................................................................................203 3 FUNDAMENTOS DA ANÁLISE.....................................................................................................204 4 O BOM SENSO E O PROCESSO DE DECISÃO..........................................................................205 4.1 OS 4 “C” DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO ..............................................................................206 4.1.1 C.1 Caráter ............................................................................................................................206 4.1.2 C.2 Capacidade ....................................................................................................................207 4.1.3 C.3 Capital..............................................................................................................................208 4.1.4 C.4 Condições ........................................................................................................................209 4.1.5 Colateral .................................................................................................................................210 5 DECISÕES ANALISANDO OS 4 “C” NAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO ...........................210 6 SEGURANÇA NA DOCUMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES ....................................................211 6.1 INFORMAÇÕES E DADOS CADASTRAIS ..............................................................................212 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 X TÓPICO 2 – RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO.............................................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 ANÁLISE DO RISCO NA OPERAÇÃO .........................................................................................220 3 LINHAS E LIMITES DE CRÉDITO ................................................................................................222 3.1 TIPOS E COMPATIBILIDADES DE LINHAS DE CRÉDITO ..................................................224 3.1.1. Crédito Pessoas Físicas ........................................................................................................224 3.1.1.1 Rotativas, crédito pessoal .......................................................................................224 3.1.1.2 Específicas, Crédito Pessoal ...................................................................................225 3.1.2. Crédito Empresas.................................................................................................................226 3.2 CONTROLE E GESTÃO DO RISCO EM FUNÇÃO DOS LIMITES DE CRÉDITO .............228 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................230 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................234 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................235 TÓPICO 3 – GARANTIAS NAS OPERAÇÕES ...............................................................................237 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................237 2 FONTES DE PAGAMENTO .............................................................................................................238 3 TIPOS DE GARANTIAS EM FUNÇÃO DOS LIMITES DE CRÉDITO .................................239 3.1 GARANTIAS PESSOAIS ..............................................................................................................239 3.1.1. Aval ........................................................................................................................................240 3.1.1.1 Fiança ...................................................................................................................................241 3.2 GARANTIAS REAIS .....................................................................................................................241 3.2.1 Hipotecas ...............................................................................................................................242 3.2.2 Alienação fiduciária ..............................................................................................................243 3.2.3 Penhor Mercantil ...................................................................................................................244 3.2.4 Caução de duplicatas e cheques .........................................................................................244 3.2.5 Caução de cheques ...............................................................................................................245 4 PROCESSOSDE COBRANÇA E CONTROLE DAS GARANTIAS ........................................245 4.1 ALERTAS DE RISCO .....................................................................................................................246 4.2 PERFIL DEVEDOR ........................................................................................................................247 4.3 MEDIDAS PREVENTIVAS ...........................................................................................................248 4.4 PROCEDIMENTOS DE COBRANÇA ........................................................................................249 4.4.1 Contato telefônico .................................................................................................................250 4.4.2 Mensagens .............................................................................................................................250 4.4.3 Visita in loco ...........................................................................................................................250 4.4.4 Agência de cobrança e protesto ..........................................................................................251 4.4.5 Processo Judicial ...................................................................................................................251 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................252 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................256 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................257 TÓPICO 4 – ELABORAÇÃO DE PARECERES ................................................................................259 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................259 2 MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DE PARECERES .......................................................................259 3 PROCESSOS NA GESTÃO DE ELABORAÇÃO DE PARECERES ..........................................260 4 ANÁLISE COM TÉCNICAS ESTATÍSTICAS ..............................................................................262 5 RATINGS DE CRÉDITO ....................................................................................................................266 5.1. GRAUS DE RATINGS ...................................................................................................................267 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................271 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................274 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................275 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................277 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • conhecer os principais tipos de sociedades; • conhecer os principais princípios contábeis e sua influência nas entidades; • identificar conceitos relacionados aos eventos contábeis; • conhecer as principais demonstrações e relatórios contábeis obrigatórios; • identificar os principais fundamentos e objetivos de análise das demons- trações contábeis; • conhecer e aplicar o processo e a metodologia de análise; • conhecer as formas de padronização e reclassificação durante a prepara- ção para as demonstrações contábeis. Esta unidade está dividida em três tópicos. No primeiro você conhecerá os principais tipos de sociedades relacionadas com a legislação atual, o funcionamento da empresa, os postulados, princípios e convenções contábeis. Também será abordada a diferença entre regime de competência e caixa e ainda serão tratados conceitos envolvendo eventos contábeis. No segundo tópico será abordada a estrutura e apresentação das demonstrações contábeis obrigatórias pela Lei das Sociedades por Ações – LSA. No terceiro tópico serão abordados os principais fundamentos, processo, padronização e reclassificação das demonstrações contábeis. TÓPICO 1 – CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL TÓPICO 2 – ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 1 INTRODUÇÃO A necessidade de atender aos seus mais diversos usuários ao longo da história fez da Contabilidade uma ciência que acompanhou a evolução da necessidade de seus usuários. Isto se deu desde seus proprietários, que de forma rudimentar controlavam sua riqueza, até o surgimento do método das partidas dobradas para evidenciar as transações e garantir aporte de recursos nas atividades empresariais. Aliás, a atividade empresarial sempre existiu, desde os tempos mais remotos, concebida através do meio de troca das mercadorias excedentes da produção (escambo). Mais tarde a produção passou a ser trocada por moeda (dinheiro), estabelecendo um comércio mais dinâmico, estruturado e organizado. Como tema relevante no estudo desta disciplina, este tópico abordará uma visão contábil focada em conceitos, estruturas e relatórios adequados aos novos padrões harmonizados com os padrões internacionais. Além destas, a compreensão do tipo de sociedade analisado poderá influenciar em seus aspectos legais, tributários e fiscais, entre outros, sendo determinante sua compreensão. 2 OS TIPOS DE SOCIEDADES Caro acadêmico! Imagine que você tenha uma ideia que possa lhe render economicamente e queira abrir um negócio! Qual é o primeiro questionamento que provavelmente virá à sua mente? Acredito que você deva se perguntar: – Qual o tipo de sociedade mais compatível com a atividade empresarial que pretendo desenvolver? Talvez você já tenha pensado ou vivido tal situação. O fato é que o tipo de sociedade pode ser preponderante, dependendo do tipo de negócio que se queira desenvolver economicamente. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 4 Para compreender melhor este assunto, vamos abordar os conceitos dos principais tipos de sociedades, mas lembre-se de que maiores detalhes podem ser estudados no Caderno de Estudos da disciplina de Direito. ATENCAO Na realidade, a constituição de um negócio implica na junção de capitais alheios. A necessidade de criação de uma sociedade se torna imprescindível para separar o patrimônio dos sócios do patrimônio da sociedade. No Brasil, em se tratando do direito societário e empresarial, a legislação que regulamenta os tipos de sociedades empresariais está definida no novo Código Civil, conforme Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, nos artigos 1.039 a 1.096. Porém, as sociedades anônimas são regidas pela Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conforme preceitua o próprio Código Civil no artigo 1.089. Então, conforme a Lei 10.406/2002 (novo Código Civil), as sociedades passam a ser classificadas quanto à sua natureza como: sociedade simples ou sociedade empresária. A diferença entre uma e outra se baseia na presença ou não de uma estrutura empresarial organizada, de forma a exercer uma atividade empresarial, que caracteriza a sociedade empresária. Portanto, sua personificação jurídica implica na existência de atividades de produção de bens e serviços, com patrimônio constituído com o objetivo de gerar lucro, enquanto as sociedades simples se aplicam a atividades não empresariais, por não possuírem uma estrutura organizacional. Nestas são exploradas as atividades de intelecto literário, artístico,entre outras. QUADRO 1 – PRINCIPAIS TIPOS DE SOCIEDADES EMPRESARIAIS NO BRASIL Sociedade em Nome Coletivo (arts.1.039 a 1.044). Tipo de sociedade composta apenas e tão somente por pessoas físicas. Possui responsabilidade solidária e ilimitada, isto requer dizer que os sócios respondem com seu patrimônio pelo excedente das dívidas da empresa. Sociedade em Comandita Simples (arts. 1.045 a 1.051). Este tipo de sociedade possui dois tipos de sócios: comanditados e comanditários. Os comanditados são pessoas físicas que respondem de forma solidária e ilimitada, ou seja, com seu próprio patrimônio, em caso de excedente das dívidas da sociedade. Os comanditários respondem apenas pelos valores de suas quotas. TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 5 Sociedade Limitada (arts. 1.052 a 1.087), Neste tipo de sociedade a responsabilidade dos sócios perante o capital social é limitado, ou seja, responde de forma limitada à sua participação ao capital social, que é composto por quotas proporcionais à sua participação. Sociedade Anônima (arts. 1.088 e 1.089). Neste tipo de sociedade o capital social é dividido em ações e os sócios ou acionistas respondem de forma limitada ao capital social, baseado no preço da emissão das ações que subscrever ou adquirir. Pode ser de capital fechado ou aberto. Sociedade em Comandita por Ações (arts. 1.090 a 1.092). Este tipo de sociedade é regido por normas especiais da sociedade anônima. Da mesma forma que na sociedade em Comandita Simples, existem os sócios comanditados, que respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações contraídas pela sociedade, e os comanditários, que respondem apenas pelas ações subscritas. Trata-se de uma sociedade de capitais em que somente o acionista pode ser diretor e exercer função de administrador. FONTE: Adaptado de: Lei 10.406/2002 – Código Civil 3 A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NA ATIVIDADE EMPRESARIAL A contabilidade nunca foi tão necessária como nos dias atuais. A razão é muito simples, eis que vivemos na era da informação e o sistema contábil em uma empresa é o principal gerador de informação para tomada de decisão. A estrutura contábil em uma empresa depende fundamentalmente do seu tamanho. Empresas de pequeno porte dificilmente terão profissionais da área contábil dentro da empresa para atender à sua demanda, e empresas de grande porte poderão ter profissionais especializados por área: tributária, contábil, societária, gerencial, fiscal, custos, entre outros. Contudo, a realidade é bem outra! Muitas empresas fecham suas portas pouco tempo após o início de suas atividades, e os motivos são diversos, porém os mais impactantes são a falta de conhecimentos básicos acerca de informações financeiras e contábeis que ajudariam a gerir sua atividade e torná-la lucrativa a longo prazo para garantir sua sobrevivência. Você sabia que, em geral, calcula-se que mais de 50% das empresas se extinguem antes de completar cinco anos? ATENCAO UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 6 Outro fator preponderante é que no Brasil existe uma forte influência normativa que acabou por desenvolver uma cultura para atender muito mais ao fisco do que aos interesses societários. Assim, há uma nítida preferência da contabilidade para fins de apuração dos tributos do que propriamente voltados para a eficiência e eficácia das operações. Se nem todas as empresas podem ter contadores exclusivos, contudo seus empreendedores deveriam ter profundo conhecimento contábil para extrair e interpretar informações para a gestão financeira, como: fluxo de caixa, resultado econômico e financeiro, previsão de insolvência, formação de preços, entre outros. IMPORTANT E Mas, então, para que serve a Contabilidade, afinal? Atkinson (2000, p. 37) define a contabilidade financeira como “Processo de elaboração de demonstrativos financeiros para propósitos externos: pessoal externo à organização, como acionistas, credores e autoridades governamentais”. Desta forma, a contabilidade financeira deve gerar informações aos seus usuários sempre baseadas em normas governamentais (aspectos tributários) e conforme os princípios fundamentais da Contabilidade (aspectos societários), levando-se em conta a objetividade, clareza e precisão das informações. Neste contexto, pode-se inferir que um sistema de informação contábil é o resultado das extrações de dados do sistema contábil para alimentar o processo de gestão de uma empresa que se compõe de vários subsistemas e que, segundo Crepaldi (2004, p. 28), são assim relacionados: • Subsistema contabilidade financeira. • Subsistema contabilidade gerencial. • Subsistema contabilidade em outras moedas. • Subsistema custos e orçamento. • Subsistema contabilidade por unidades de negócios. • Subsistema gestão de impostos. • Subsistema análise financeira e de balanço. • Subsistema gestão de tesouraria. • Subsistema de controladoria. Caro acadêmico! Perceba que todos esses subsistemas alimentam o sistema contábil responsável pela geração de informações úteis ao processo de gestão das empresas. Entre eles, o subsistema de análise financeira e balanço, que gera a seus usuários informações de qualidade para uma boa tomada de decisão. TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 7 4 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Para que o analista obtenha informações úteis e com qualidade, extraídas da Contabilidade, é necessário que as demonstrações contábeis estejam conforme os Princípios de Contabilidade, descritos na Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº. 750/93, que foi atualizada pela Resolução nº 1.282/10. Conforme explica Iudícibus (2009, p. 11): “A formação dos princípios contábeis deveu-se principalmente a respostas graduais que os contadores foram desenvolvendo, ao longo dos séculos, a problemas e desafios formulados pelas necessidades práticas”. Não há pretensão de discutirmos os Princípios de Contabilidade em sua profunda reflexão teórica, mas tão somente discutir os pontos principais que levam ao entendimento básico e compreender uma base de informações contábeis geradas pelas demonstrações contábeis. Segundo a Resolução CFC 750/93, o conceito pode ser assim disposto: Art. 2º. Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso país. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 1993). Tem-se desta forma, nos Princípios de Contabilidade, um arcabouço teórico que orienta a padronização das práticas contábeis aplicáveis à interpretação e uniformidade das demonstrações contábeis. 5 REGIME DE COMPETÊNCIA VERSUS REGIME DE CAIXA Administradores e contadores possuem visões diferenciadas sob a ótica da gestão e, naturalmente, suas análises possuem objetivos diferentes. Contudo, compreender estas visões se faz necessário para uma análise das informações econômico-financeiras geradas pelas demonstrações contábeis. O interesse do administrador se volta para a solvência da empresa, logo seu foco principal está relacionado à gestão financeira no que se refere à capacidade de pagamento de suas obrigações assumidas, mediante a gestão adequada dos fluxos de caixa da empresa. No regime de caixa as receitas são reconhecidas no momento em que os recursos financeiros entram (entradas) no caixa da empresa e as despesas são reconhecidas no momento em que os recursos saem (saídas) do caixa da empresa. Estes movimentos de entradas e saídas responsáveis pela gestão adequada dos investimentos, financiamento e operações, denominamos de fluxo de caixa. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 8 O interesse do contador se direciona mais para a eficiência econômicadas operações, logo, segue os Princípios Contábeis, já estudados neste tópico, em que as receitas são reconhecidas no momento das vendas e as despesas no momento em que incorrem. IMPORTANT E O regime de competência se baseia nos Princípios Contábeis, portanto utiliza o Princípio da Competência para estabelecer que receitas são integralmente reconhecidas com a confrontação de todas as despesas incorridas, enquanto o regime de caixa se baseia nos fluxos monetários. Caro acadêmico, veja o exemplo a seguir. QUADRO 2 – QUADRO DAS OPERAÇÕES REALIZADAS Atividades realizadas pela empresa Vendebem Ltda. no ano 20x1 Vendas Realizadas R$ 400.000 (50% das vendas a prazo) Custo das Operações R$ 160.000 (Pagamento à vista) Despesas Gerais R$ 140.000 (Pagamento à vista) FONTE: Os autores Vamos agora ver as diferenças que ocorrem em cada uma das formas (regime de competência versus regime de caixa). QUADRO 3 – COMPARATIVOS ENTRE REGIME DE COMPETÊNCIA E CAIXA Demonstração Resumos em 20x1 COMPETÊNCIA CAIXA Vendas R$ 400.000 R$ 200.000 (-) Custo das Operações R$ (160.000) R$ (160.000) (=) Margem Bruta R$ 240.000 R$ (40,000) (-) Despesas Gerais R$ (140.000) R$ (140.000) Lucro (Prejuízo)/Saldo de caixa R$ 100.000 R$(100.000) FONTE: Os autores TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 9 Comparativamente, observa-se que o regime de competência enfocou o resultado real das operações, cujo lucro representou o valor de R$ 100.000,00, enquanto o regime de caixa enfocou o fluxo financeiro e considerou apenas as entradas e saídas efetivas do caixa da empresa. Desta forma, representando um déficit de caixa no valor de R$ 100.000,00 que deverão ser financiados e suportados por outras fontes de recursos. Neste contexto, infere-se que o administrador financeiro utiliza-se das informações das demonstrações contábeis para a correta tomada de decisão quanto ao adequado tratamento dos fluxos monetários e quanto aos investimentos frente às fontes de financiamento disponíveis na organização. 6 PROVISÕES, DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES Caro acadêmico! Vamos aqui esgotar mais alguns conceitos contábeis importantes, cujos elementos encontram-se evidenciados nas demonstrações contábeis e devem ser objetos de análise. 6.1 PROVISÕES As provisões se constituem em um importante componente contábil, pois tais provisionamentos em determinadas contas contábeis garantem o cumprimento ao Princípio da Competência. A provisão refere-se à constituição de um valor estimado, com base em métodos e técnicas, que seja certo ou com alta probabilidade de ocorrência, cuja expectativa gere perdas de ativo ou da existência de obrigações no futuro. Quanto ao reconhecimento de uma provisão, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC (2009) descreve da seguinte forma: Uma provisão deve ser reconhecida quando: (a) a entidade tem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de evento passado; (b) seja provável que será necessária uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidar a obrigação; e (c) possa ser feita uma estimativa confiável do valor da obrigação. Se essas condições não forem satisfeitas, nenhuma provisão deve ser reconhecida. Existem casos clássicos na contabilidade, como, por exemplo: a) Provisão para férias. b) Provisão para 13º salário. c) Provisão para contingências trabalhistas. d) Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social, entre outras. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 10 Importa relatar que tais provisionamentos ocorrem pela certeza do desembolso e pela incerteza do valor a ser realizado em determinado momento futuro. Contudo, quando de fato acontecem, deixam de ser provisões para se tornarem obrigações. Por exemplo, a constituição da provisão para o Imposto de Renda se torna imposto de renda a pagar, as provisões para férias se transformam em salários a pagar, e assim por diante. 6.2 DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES Todos os bens corpóreos que compõem o ativo permanente da empresa possuem certa limitação em sua vida útil e econômica, quer pela ação da natureza ou mesmo pelo seu uso na atividade operacional para geração de fluxos de caixa. O processo de desgaste do bem ao longo do tempo determinará um valor residual que poderá ser vendido, porém, ao recuperar este valor, caso não tenha efetuado nenhuma reserva financeira, terá que repor o bem pelo seu valor de mercado quando comprar um novo. Com a finalidade de garantir uma reserva técnica para reposição do bem ao final de sua vida útil, atendendo ao princípio da competência e evitando antecipar lucros, utiliza-se do método de depreciação para apropriar valores e bens destinados ao uso em suas operações. Apesar de tratar-se de uma reserva técnica com a finalidade de repor o bem no final de sua vida útil, este não gera desembolso de caixa, mas tão somente apropria o resultado econômico do período (princípio da competência) em confrontação com as receitas reconhecidas em decorrência dos custos e despesas incorridos. No balanço patrimonial a depreciação é representada como uma conta retificadora do ativo, com a denominação de “Depreciação Acumulada”, cujo bem a subtrai e seu saldo deduzido do valor de custo do bem, resulta no valor contábil conforme se demonstra na figura a seguir: TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 11 FIGURA 1 – EXEMPLO DE “DEPRECIAÇÃO ACUMULADA” FONTE: Os autores Ativo 2.350 Ativo Circulante 1.000 Ativo Não Circulante 1.350 Realizavel de Longo Prazo 1.000 Investimentos 50 Imobilizado 200 Equipamentos 500 (-) Depreciação Acumulada -300 Intangível 100 Para estimativa dos valores da depreciação utilizam-se vários métodos, entre eles: (i) linear ou cotas constantes; (ii) soma dos dígitos (método cole); (iii) unidade de tempo trabalhada ou unidades produzidas. IMPORTANT E Caro acadêmico! Os métodos aplicáveis para realização do cálculo estimativo das depreciações não são o foco do estudo deste Caderno de Estudos. A amortização constitui-se com a mesma finalidade que a depreciação, porém refere-se aos bens incorpóreos e diferenciando-se no que tange ao fator de limite “tempo” e não pelo desgaste em relação ao uso. Portanto, a amortização reconhece a perda de valor de um ativo intangível ao longo de sua vida útil. A exaustão decorre do desgaste na exploração de recursos minerais, florestais ou quaisquer fontes de recursos naturais esgotáveis de bens destinados a esta exploração. Portanto, é reconhecida a perda de valor durante o período em que os recursos minerais ou florestais são extraídos. Sua estimativa de exaustão pode ocorrer pelo (i) volume de produção no período e sua relação com a reserva potencial de exploração conhecida, ou ainda (ii) pelo prazo de concessão dado pela autoridade governamental. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 12 IMPORTANT E Caro acadêmico! Os métodos aplicáveis para realização do cálculo estimativo das exaustões não são o foco do estudo deste Caderno de Estudos. Agora que você viu os principais conceitos a respeito da contabilidade, vamos conhecer as principais demonstrações contábeis exigidas por lei e suas implicações na análise de performance econômico-financeira das empresas. 13 Neste tópico você estudou que: • Foi a partir da Lei 10.406/2002 (novo Código Civil) que as sociedades passaram a ter uma nova classificação quanto à sua natureza, denominando-as como sociedade simples ou sociedade empresária. • Os principais tipos de sociedade são: • Sociedade em Nome Coletivo (arts. 1.039 a 1.044). • Sociedade em Comandita Simples (arts. 1.045 a 1.051). • Sociedade Limitada (arts. 1.052 a 1.087). • Sociedade Anônima (arts. 1.088 e 1.089). • Sociedade em Comandita por Ações (arts. 1.090 a 1.092). • Em uma empresa, a estrutura contábil depende do tipo da estrutura organizacional, a qual determinará a demanda de profissionais maisespecializados. • Os Princípios de Contabilidade referem-se a um arcabouço teórico que orienta a padronização das práticas contábeis aplicáveis à interpretação e uniformidade das demonstrações contábeis. • Os Princípios de Contabilidade, definidos conforme a Resolução CFC 750/93, são: • O princípio da ENTIDADE. • O princípio da CONTINUIDADE. • O princípio da OPORTUNIDADE. • O princípio do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL. • O princípio da COMPETÊNCIA. • O princípio da PRUDÊNCIA. • Voltando-se à continuidade da empresa, o interesse do administrador está na solvência da empresa, logo seu foco principal está relacionado à gestão financeira, ou seja, garantir a capacidade de pagamento de suas obrigações assumidas, mediante a gestão adequada dos fluxos de caixa da empresa. • Já o contador volta seu interesse mais para a eficiência econômica das operações, logo, segue os Princípios Contábeis, em que as receitas são reconhecidas no momento das vendas e as despesas no momento em que incorrem. • Desta forma, a gestão financeira deve compreender ambos os regimes, competência e caixa. Eis que o regime de competência deve sinalizar ao administrador a eficiência econômica da empresa relacionada com as ameaças e oportunidades das atividades em qualquer tipo de negócio. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 O novo Código Civil define os tipos de sociedades empresariais, excluídas as sociedades anônimas que são regidas pela Lei das Sociedades por Ações. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Sociedade em Nome Coletivo. II- Sociedade em Comandita Simples. III- Sociedade Limitada. IV- Sociedade Anônima. V- Sociedade em Comandita por Ações. ( ) Sociedade com dois tipos de sócios, denominados de comanditados e comanditários. Responsabilidade perante o capital pelos sócios comanditados é ilimitada e pelos comanditários no limite de suas cotas. ( ) Sociedade dividida em ações e os acionistas respondem de forma limitada, de acordo com o preço das ações subscritas. ( ) Sociedade de capital, portanto regida pela Lei das Sociedades por Ações. Responsabilidade dos comanditados é ilimitada e os comanditários respondem limitados ao número de ações subscritas. ( ) Composta por pessoas físicas e seus sócios respondem com seu próprio patrimônio o excedente das dívidas. ( ) Responde de forma limitada ao capital social na proporcionalidade de suas cotas de participação. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV - I - V - II - III. b) ( ) II - I - III - IV - V. c) ( ) V - III - IV - II - I. d) ( ) I - II - V - IV - III. 2 Complete as lacunas da sentença a seguir: No Brasil, a forte influência normativa sobre a Contabilidade permeou uma cultura muito mais voltada para atender ao interesse do fisco do que aos interesses societários. A Contabilidade deve atender seus ____________ para suprir informação referente aos aspectos tributários emanados pelas normas _____________ e referente aos aspectos societários emanados pelos ____________ de Contabilidade. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) usuários – governamentais – princípios fundamentais. b) ( ) proprietários – fundamentais – regimes tributários. AUTOATIVIDADE 15 c) ( ) executivos – reguladoras – sistemas. d) ( ) aspectos normativos – contábeis – registros. 3 As demonstrações contábeis são alvo de contadores e administradores. O primeiro produz as demonstrações contábeis para servir de suporte informacional aos administradores. Contudo, o interesse nas informações é diferente, pois possuem objetivos diferentes. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) No regime de caixa as receitas são reconhecidas no momento da saída de recursos no caixa e as despesas no momento da entrada de recursos do caixa. ( ) O interesse do administrador nas demonstrações contábeis busca identificar a eficiência econômica das operações, por isto, baseia-se sempre nos princípios contábeis. ( ) Fluxo de caixa refere-se à gestão adequada dos recursos de entradas e saídas do caixa para investimentos, financiamentos e operações. ( ) O regime de competência baseia-se no princípio contábil da competência, em que as receitas devem ser reconhecidas e confrontadas com as despesas no momento em que foram incorridas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F - F - V - V. b) ( ) V - V - V - F. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) V - F - F - V. 4 As provisões são importantes mecanismos contábeis que, seguindo alguns critérios de reconhecimento, determinam a constituição de um valor com desembolso certo, mas valor estimado. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma estimativa confiável do valor a ser provisionado é pré-requisito. ( ) Um dos requisitos que definem uma provisão é a improvável saída de recurso que poderia incorporar benefícios econômicos no momento da liquidação da obrigação. ( ) Uma provisão será sempre uma provisão e jamais uma obrigação. ( ) Em uma constituição de provisão existe a certeza do desembolso e a incerteza do valor que será realizado em determinado período futuro. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - V. b) ( ) F - F - V - V. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) F - F - V - V. 16 17 TÓPICO 2 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A expressão análise de balanço surgiu devido à análise inicialmente se referir apenas ao balanço patrimonial. Com o passar do tempo e o aprimoramento da contabilidade, surgiram novas demonstrações contábeis, como a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), entre outras. Então, passou a denominar-se de análise das demonstrações contábeis, contudo, o primeiro nome ainda é muito utilizado. Este termo também será encontrado na literatura, principalmente quando relacionado com a legislação, denominando-se Demonstrações Financeiras, devido à forte relação e interesse com a situação econômico-financeira. A análise das demonstrações contábeis tem grande importância na tomada de decisão no que se refere ao interesse de investidores para tornarem-se acionistas das empresas, na avaliação de desempenho das organizações, concorrentes, sindicatos, empregados, entre outros. Numa visão de processos, pode-se inferir que as demonstrações contábeis são os relatórios que representam o produto final (saída) do processo contábil que será o insumo (entradas) no processo de finanças, em que o administrador se utilizará para analisar as informações e torná-las úteis na sua tomada de decisão. Segundo relata Marion (2009, p. 2): “Relatório contábil é a exposição resumida de dados colhidos pela contabilidade. Objetiva relatar às pessoas que se utilizam da contabilidade (usuários da contabilidade) os principais fatos registrados pela contabilidade em determinado período”. Os relatórios contábeis são os mais importantes e mais utilizados, conforme a Lei 6.404/76, conhecida como Lei das Sociedades por Ações (LSA). Além disto, a estrutura e divulgação das demonstrações contábeis também são regidas pela Lei 10.406/02, conhecida como o Novo Código Civil (NCC). Contudo, a Contabilidade sofreu profundas alterações em sua forma de contabilizar e evidenciar fatos contábeis no Brasil. Estas alterações foram alinhadas com os padrões contábeis internacionais, depois da Lei das Sociedades por Ações (LSA) ser editada e alterada pelas leis 11.638/07 e 11.941/09, que foi editada pela Medida Provisória 449/08. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 18 No Brasil, alguns segmentos, como as instituições financeiras, seguros e concessionárias de serviços públicos (energia elétrica, telefonia e saúde), emitem suas regulamentações contábeis e, por força de lei, não podem delegarseus poderes constituídos. O processo de harmonização contábil no Brasil partiu da criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que passou a emitir pronunciamentos técnicos, os quais eram automaticamente transformados em normas nos diversos órgãos participantes das audiências públicas, como, por exemplo: (i) Conselho Federal de Contabilidade – CFC; (ii) Comissão de Valores Mobiliários – CVM; (iii) Banco Central – BACEN; (iv) Superintendência de Seguros Privados – SUSEP; (v) Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Na figura a seguir demonstram-se, como exemplo, as deliberações dos órgãos em relação ao pronunciamento técnico emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. FIGURA 2 – EMISSÃO DAS NORMAS DOS ÓRGÃOS REGULADORES CONFORME CPC FONTE: Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pronunciamentosIndex.php>. Acesso em: 13 out. 2013. CPC 23 - Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro Aprovado por: CVM - Deliberação CVM n°. 592/09; CFC - NBC TG 23 - Resolução n°. 1.179/09; CMN - Resolução n°. 4.007/11 (Banco Central do Brasil); ANEEL - Despacho n° 4.722/09; ANS - Instrução Normativa n°. 37/09; SUSEP - Circular n°. 424/11, anexos, anexo IV Observe que cada órgão emite sua regulamentação em consonância com o CPC, tornando, desta forma, as práticas contábeis adotadas no Brasil unificadas e em convergência com as normas contábeis internacionais. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 19 IMPORTANT E Caro acadêmico! Você pode consultar diretamente todas as normas emitidas pelos órgãos reguladores diretamente no site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: <www.cpc.org.br>. O pronunciamento técnico CPC 26 (2011) conceitua as demonstrações contábeis da seguinte forma: As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligente dos recursos que lhe foram confiados. Para satisfazer a esse objetivo, as demonstrações contábeis proporcionam informação da entidade acerca do seguinte: (a) ativos; (b) passivos; (c) patrimônio líquido; (d) receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas; (e) alterações no capital próprio mediante integralizações dos proprietários e distribuições a eles; e (f) fluxos de caixa. Essas informações, juntamente com outras informações constantes das notas explicativas, ajudam os usuários das demonstrações contábeis a prever os futuros fluxos de caixa da entidade e, em particular, a época e o grau de certeza de sua geração. Entende-se, segundo o conceito do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a importância das demonstrações contábeis como geradora de informações patrimonial, financeira, econômica das entidades, para controle e gestão de usuários nas análises e tomada de decisão. As principais demonstrações contábeis exigidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) são: (i) Balanço Patrimonial, (ii) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), (iii) Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), (iv) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e (v) Demonstração do Valor Adicionado (DVA), esta somente para companhias abertas, e (vi) Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido, que substituirá no caso de sociedades anônimas a DLPA. Estão dispensadas da elaboração e publicação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) , segundo a Lei 11.638/07, as companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a dois milhões de reais, na data do fechamento do balanço patrimonial. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 20 Outra alteração importante, a partir da Lei 11.638/07, determina a obrigatoriedade de empresas de sociedade limitada por quotas, consideradas de grande porte, cujo ativo seja superior a 240 milhões ou tenham receita bruta superior a 300 milhões, a elaborar e publicar suas demonstrações contábeis de acordo com a regulamentação da Lei das Sociedades por Ações (LSA). As notas explicativas, e no caso das companhias abertas, o Relatório do Auditor Independente e o Relatório da Administração, complementam as demonstrações contábeis. Caro acadêmico! Vamos agora compreender cada uma das demonstrações contábeis. 2 BALANÇO PATRIMONIAL O Balanço Patrimonial é a principal demonstração contábil, pois evidencia a situação patrimonial e financeira de uma empresa em um determinado momento. Pode ser comparado a uma fotografia da empresa, na qual você registra todos os bens em seu poder, valores a receber ou a pagar em algum momento. Segundo Silva (2010, p. 41), o Balanço Patrimonial “deve representar de forma quantitativa e qualitativa a posição financeira e patrimonial da empresa, a qual é composta por bens, direitos e obrigações em um determinado momento”. Na sua estrutura serão classificados os elementos patrimoniais de acordo com a natureza de seus registros e agrupados de forma compreensiva ao entendimento da situação patrimonial e financeira da entidade. Desta forma, o Balanço Patrimonial é dividido em três grandes grupos e demonstrado em duas colunas, sendo o lado esquerdo representado pelo Ativo e o lado esquerdo pelo Passivo e pelo Patrimônio Líquido, conforme a figura a seguir. FIGURA 3 – EQUILÍBRIO PATRIMONIAL FONTE: Os autores BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 21 Nestes três grupos, Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, são classificadas as contas que representam o patrimônio da empresa, que é o objeto de estudo da contabilidade. O termo “balanço” deriva do sentido figurado representativo do equilíbrio dos saldos das contas do patrimônio. Demonstra a igualdade da balança entre os dois lados, ou seja, o ativo sempre deverá ter o mesmo saldo do passivo mais o patrimônio líquido. Isto nos leva à primeira e mais importante equação da teoria contábil, sendo: ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO O ativo representa os bens e direitos que estão em poder ou sob controle da entidade adquiridos em momento anterior ao Balanço Patrimonial e sob os quais existe a expectativa de geração de fluxos de caixa futuro. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011), em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, define ativo como “um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”, ou seja, um ativo pode ser um bem que esteja apenas em posse ou ainda possua de fato a propriedade. Um exemplo clássico é o leasing financeiro, em que o bem é do arrendador (portanto o proprietário de direito), porém na contabilidade do arrendatário deverá ser contabilizado no ativo como bem do mesmo, visto que o leasing financeiro nada mais é do que uma operação financeira disfarçada, em que o arrendatário já fez a opção de compra do bem, inclusive lhe proporciona benefícios futuros (fluxos de caixa). O passivo é representado pelas obrigações presentes que a empresa possui, ou seja, aquelas que já ocorrem e espera a sua liquidação para que seja capaz de produzir benefícios futuros para a empresa. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011), em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro, o “passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícioseconômicos”. Todas as obrigações decorrentes de operações que a empresa assume no presente com promessa de pagamento futuro devem ser registradas no passivo, portanto, representam as dívidas com terceiros. As dívidas com os sócios ou proprietários são representadas pelo grupo do patrimônio líquido. Em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011) define patrimônio líquido como “o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 22 Os valores do patrimônio líquido representam os investimentos aplicados pelos sócios quotistas ou acionistas na entidade, com a finalidade de obter vantagens econômicas derivadas das riquezas geradas pelas atividades do negócio. DICAS Na teoria contábil denominamos o lado direito do Balanço Patrimonial como Passivo e Patrimônio Líquido, mas pela Lei das Sociedades por Ações é denominado apenas de Passivo. Caro acadêmico, você pode visualizar os principais agrupamentos de contas do Balanço Patrimonial na figura a seguir. FIGURA 4 – AGRUPAMENTO DE CONTAS DO BALANÇO PATRIMONIAL FONTE: Adaptado de Silva (2010, p. 41) ATIVO PASSIVO + PATRIMÓNIO LÍQUIDO Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante Realizável a Longo Prazo Patrimônio Líquido Investimentos Capital Social Imobilizado Reservas de Capital Intangível Reservas de Lucros Ajuste Aval. Patrimonial (-) Ações em Tesouraria Prejuízo Acumulado Mas você deve estar se perguntando: – Por que as contas são agrupadas e classificadas nesta ordem? Como já explicamos anteriormente, as contas devem ser agrupadas de forma compreensível e que demonstre a real situação patrimonial e financeira da empresa, lembra? Portanto, para uma adequada análise do Balanço Patrimonial, imaginando a possibilidade de uma descontinuidade das operações, seria importante que as contas do ativo fossem agrupadas pelo seu grau de liquidez, ou seja, pela capacidade de converter seu patrimônio (ativo) em dinheiro mais rapidamente. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 23 Por outro lado, partindo do pressuposto de uma descontinuidade de operações, também seria interessante que as contas do passivo fossem agrupadas pelo seu grau de exigibilidade, ou seja, as dívidas que devem ser pagas mais rapidamente. Desta forma, o Balanço Patrimonial foi dividido em Circulantes e Não Circulantes. O grupo Circulantes deve compreender um período superior a 12 meses após o encerramento do exercício social e são as contas de curto prazo, enquanto o Não Circulantes compreende um período superior a 12 meses após o encerramento do exercício e são as contas de longo prazo, conforme se pode observar na figura a seguir. FIGURA 5 – CICLO CONTÁBIL FONTE: Os autores Dentro desses dois grupos, Circulantes e Não Circulantes, são agrupadas as contas segundo seu grau de liquidez para ativos e exigibilidade para passivos em ordem decrescente, conforme apresentamos na figura a seguir: FIGURA 6 – DEMONSTRATIVO DE CONVERSIBILIDADE DAS CONTAS PATRIMONIAIS FONTE: Adaptado de Marion (2009, p. 64) Grau de Liquidez Decrescente Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Rápida Circulante Circulante Lenta Não Circulante> Realizável a LP Não Circulante > Exigível de Longo Prazo Não há Bens de uso (não paravenda) Patrimônio Líquido Capital (Sócios) * Excepcionalmente a empresa vende bens de uso. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 24 Como podemos observar, comparativamente com o agrupamento de contas, as contas que compreendem o grupo circulante, como as disponibilidades de caixa e bancos, clientes, estoques, entre outras contas que compõem as operações da empresa, terão conversão mais rápida em dinheiro do que as contas do grupo Realizável a Longo Prazo. Como exemplos das contas do grupo Realizável a Longo Prazo temos os créditos a receber em longo prazo, ou seja, os bens da empresa, os quais praticamente não há velocidade na conversão, visto que os bens não são destinados à venda, mas, sim, destinados às operações para gerar benefícios futuros ao longo de sua vida útil. 2.1 ATIVO CIRCULANTE O grupo de ativo circulante compreende as contas das movimentações que se espera dentro de suas operações normais, em até 12 meses após o encerramento do exercício social da entidade. Desta forma, para que este grupo seja classificado como um ativo, ele deve atender alguns pré-requisitos descritos no pronunciamento técnico CPC 26 (2011), sendo que: O ativo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido no decurso normal do ciclo operacional da entidade; (b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; (c) espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou (d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido no Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Com base nestes critérios, demonstramos, na figura a seguir, as principais contas deste agrupamento. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 25 FIGURA 7 – ESTRUTURA DO ATIVO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE - Disponibilidades (caixa e bancos e aplicações financeiras) - Clientes ou duplicatas a receber - Estoques - Despesas pagas antecipadamente PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A composição do Disponível é formada pelas contas: caixa, depósitos bancários à vista e clientes ou duplicatas a receber. Na conta caixa o saldo representa o dinheiro disponível em espécie ou cheques em poder, mas ainda não depositados, porém são recebíveis de imediata realização. A conta Depósito Bancários à Vista representa os saldos da movimentação bancária da empresa, juntamente com os cheques, depósitos efetuados e recebimentos de cobranças, entre outros. A conta Clientes ou Duplicatas a Receber representa os saldos das vendas de mercadorias e/ou serviços prestados a prazo, pela emissão de títulos em cobranças no prazo acordado com o cliente. Porém, devido à incerteza no recebimento e aos riscos de crédito, a empresa registra em uma conta redutora, denominada de Provisão para Devedores Duvidosos, os valores que reconhecidamente não serão recebidos, que venceram e não serão recebidos no fim do exercício social. A contrapartida desta conta deverá ser a conta de despesas com devedores duvidosos, reduzindo o lucro das operações. FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DA PROVISÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS FONTE: Os autores Ativo R$ Ativo Circulante Disponivel Clientes 300.000 (-) Provisão p/ Dev. Duvidosos -30.000 270.000 Ativo Não Circulante UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 26 A conta Estoques representa os saldos das mercadorias destinadas a vendas e mercadorias inacabadas (em transformação) e matéria-prima in natura, aguardando para ser consumida no processo de fabricação. A conta Despesas Pagas Antecipadamente representa saldos de despesas pagas que trarão benefícios até o próximo exercício social e que somente neste período é que devem ser apropriados, independente do desembolso. As despesas Pagas Antecipadamente mais conhecidas são: seguros, juros, aluguéis, impressos e materiais de uso personalizado. 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE Todos os demais ativos que não se enquadram no circulante deverão ser classificados como Não Circulantes. Após a edição da Lei 11.941/09, que extinguiu o grupo de Realizável e o incorporou ao Não Circulante, este passou a ser estruturado com as contas: (i) Realizável a Longo Prazo, (ii) Investimentos,(iii) Imobilizado e (iv) Intangível, conforme a figura a seguir. FIGURA 9 – ESTRUTURA DO ATIVO NÃO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE - Realizável de longo prazo - Investimentos - Imobilizado - Intangível PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Realizável de Longo Prazo representa menor liquidez às contas do grupo circulante, conforme já discutido anteriormente. Segundo Lima (2010, p. 42), nesta conta são classificados: [...] os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia. Na conta Investimentos são classificadas as participações em outras sociedades, não mantidas para venda (caráter permanente), e as aplicações permanentes que não se destinam à atividade operacional da empresa, como, por exemplo, terrenos, imóveis alugados a terceiros, obras de arte, entre outros. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 27 A conta Imobilizado representa os saldos em que são classificados os bens corpóreos da empresa que tenham sido destinados às atividades operacionais que promovam benefícios futuros e estejam sob controle e risco da empresa. IMPORTANT E São características obrigatórias de um Ativo Não Circulante – Imobilizado para tal classificação: (i) ser de natureza duradoura (vida útil superior ao exercício social); (ii) ser utilizado nas operações da empresa; e (iii) não se destinar à venda. A conta Intangível representa os saldos em que são classificados todos os direitos que tenham como objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da empresa, inclusive os fundos de comércio adquiridos (SILVA, 2010). Caro acadêmico! Agora que estudamos o ativo, passaremos a conceituar o passivo e o patrimônio líquido. 2.3 PASSIVO CIRCULANTE O grupo de passivo circulante compreende as contas em que existe uma obrigação presente, cujo pagamento resulte em benefícios futuros. Em outras palavras, são obrigações assumidas pela empresa que tenham como vencimento para liquidação dentro do exercício social seguinte. Desta forma, para que seja classificado como um passivo, este grupo deve atender alguns pré-requisitos descritos no pronunciamento técnico CPC 26 (2011), sendo que: O passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou (d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos doze meses após a data do balanço (ver item 73). Os termos de um passivo que podem, à opção da contraparte, resultar na sua liquidação por meio da emissão de instrumentos patrimoniais não devem afetar a sua classificação. Com base neste critério, têm-se as contas, demonstradas na figura a seguir, como principais neste agrupamento. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 28 FIGURA 10 – ESTRUTURA DO PASSIVO CIRCULANTE FONTE: Os autores BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE - Fornecedores; - Salários a Pagar; - Encargos Sociais a recolher; - Impostos a recolher; - Imposto de Renda e Provisões; - Empréstimos Bancários; e - Outras Obrigações. ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Fornecedores representa os saldos das compras realizadas, dos insumos adquiridos para o processo produtivo (indústrias) ou compras para revenda (comércio). A conta Salários a Pagar representa os saldos de dívidas com salários dos colaboradores da empresa, cujo pagamento somente ocorrerá no quinto dia útil após o fechamento do balanço. A conta Encargos Sociais a Recolher representa os saldos das despesas incorridas e decorrentes da folha de pagamento dos colaboradores que ainda serão pagos, portanto se tornam obrigações. A conta Impostos a recolher representa os saldos dos impostos aferidos sobre vendas ou lucros, devidamente apuradas suas compensações, quando lhe couber, cujas despesas incorreram e obrigação de pagamento tem vencimento futuro. Como exemplos podemos citar o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS, entre outros. A conta Imposto de Renda a Pagar representa os saldos da obrigação existente, proveniente da apuração do lucro do exercício que deverá ser recolhido no exercício seguinte ao fechamento. A conta Provisões representa os saldos de obrigações presentes existentes para com terceiros, cujo valor não pode ser aferido com precisão, portanto representa estimativas de valores. A constituição de provisões mais conhecidas refere-se a férias, gratificação a empregados, 13º salário e contingências. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 29 A conta Empréstimos Bancários representa os saldos dos empréstimos realizados com instituições financeiras, cujas obrigações têm vencimento dentro do próximo exercício social. As outras obrigações representam os saldos correspondentes a valores adiantados de clientes, dados em garantia da entrega do bem ou execução do serviço no futuro, a contas a pagar referente a gastos de pequena monta, como água, telefone, energia elétrica, e ainda aos dividendos a pagar que são a distribuição sobre os lucros. Agora que você conheceu sobre as principais contas do passivo circulante, veremos as contas do passivo não circulante. 2.4 PASSIVO NÃO CIRCULANTE Todas as demais obrigações que sejam superiores a 12 meses após o encerramento do exercício devem ser contabilizadas no Passivo Não Circulante. A partir da Lei 11.941/09 (Medida Provisória 449/08), o grupo de contas denominado de Exigível de Longo Prazo foi substituído pelo Passivo Não Circulante, e este, por sua vez, tornou-se um subgrupo. As principais contas dentro do Exigível de Longo Prazo podem ser: (i) Financiamentos, (ii) Debêntures, entre outras. FIGURA 11 – ESTRUTURA DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE - Exigível a longo prazo PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Financiamento representa os saldos de empréstimos nacionais e internacionais realizados pela empresa com pagamento em longo prazo. Os juros devem ser calculados e apropriados de acordo com o sistema de amortização contratado que corresponda aos juros que deverão incorrer em longo prazo. A conta Debêntures representa os saldos das dívidas com os detentores dos direitos de crédito contra a empresa pela emissão dos títulos que apresentam característica de vencimento em longo prazo. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 30 Agora que você conheceu sobre as principais contas do passivo não circulante, veremos as contas do patrimônio líquido. 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO O Patrimônio Líquido pode ser compreendido como uma diferença residual entre ativos e passivos exigíveis. Os passivos exigíveis representam os recursos aplicados no ativo e reclamados por terceiros (fornecedores, bancos, entre outros) no momento de seu vencimento. Neste contexto, o Patrimônio Líquido representa os recursos aplicados no ativo pelos sócios quotistas ou acionistas que não possuem data de vencimento, ou seja, trata-se de recursos não exigíveis, porém esperam que uma remuneração lhes seja conferida na forma de distribuição dos dividendos. Conforme Iudícibus (2009, p. 29), o Patrimônio Líquido “evidencia recursos dos proprietários no empreendimento”. O Patrimônio Líquido está representado do lado direito do Balanço Patrimonial, com o ativo circulante, não circulantee o subgrupo do Exigível de Longo Prazo, conforme a figura a seguir. FIGURA 12 – ESTRUTURA DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO. FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO - Capital Social - Reservas de Capital - Ajustes de Avaliação Patrimonial - Reservas de Lucros - (Lucros ou) Prejuízos Acumulados - Reservas de Incentivos Fiscais - Ações em tesouraria TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 31 O Passivo representa a exigibilidade de recursos reclamados (Passivo Exigível) e o Patrimônio Líquido, denominados de fontes de recursos, e ativo são os lucros dos recursos. Para visualizar a exigibilidade com clareza, observe a figura a seguir: FIGURA 13 – CLASSIFICAÇÃO DO PASSIVO EXIGÍVEL E PATRIMÔNIO LÍQUIDO FONTE: Os autores Passivo Circulante + Exigível de Longo Prazo CAPITAIS DE TERCEIROS (EXIGÍVEIS) Patrimônio Líquido CAPITAL PRÓPRIO(NÃO EXIGÍVEIS) Caro acadêmico! Para simplificar seu entendimento, basta compreender que há igualdade entre o lado esquerdo e o lado direito do Balanço Patrimonial e que os valores do Patrimônio Líquido representam o residual de ativos e passivos exigíveis. ATIVO – PASSIVO EXIGÍVEL = PATRIMÔNIO LÍQUIDO O ativo e o passivo exigível já foram objetos de estudos anteriores. Quanto ao Patrimônio Líquido, sua estrutura tem como principais contas: (i) Capital Social, (ii) Reservas de Capital, (iii) Ajustes de Avaliação Patrimonial, (iii) Reservas de Lucros, (iv) Reservas de Incentivos Fiscais e (v) Ações em Tesouraria, que serão Lucros ou Prejuízos Acumulados. A conta Capital representa o saldo inicial dos proprietários investidos na entidade e demais acréscimos ao capital resultantes de lucros retidos e reservas que foram incorporadas ao capital social. A conta reserva de capital representa os saldos que não se originam do lucro da empresa, como, por exemplo, ágio na emissão de ações, alienação de partes beneficiárias ou bônus de subscrição. As reservas de capital se destinam a completar a absorção de prejuízos não cobertos pelos lucros retidos e reservas de lucros ou incorporar o capital social pelo aumento de capital. A conta Ajustes de Avaliação Patrimonial representa os saldos em substituição, conforme explica Marion (2009, p. 410): No lugar de Reservas de Reavaliação surge Ajustes de Avaliação Patrimonial, que serão classificados como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao Regime de Competência as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, em decorrência de sua avaliação a preço de mercado. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 32 Desta forma, as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, são os direitos e títulos de créditos classificados no Ativo Circulante e Realizável de Longo Prazo, quando se destinarem para a venda. A conta Reservas de Lucros representa os saldos apropriados pela empresa, conforme determina a Lei das Sociedades por Ações (LSA), ou instituídas por vontade de seus proprietários instituídos por estatuto social (reservas estatutárias) ou por assembleias (reservas para contingências, lucros retidos para expansão ou reservas de lucros a realizar). A conta Lucros Acumulados, especificamente, foi extinta para empresas regidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA), após a Lei 11.638/07. A partir desta lei as empresas devem dar um destino aos saldos, transferindo para reservas ou distribuindo sob forma de dividendos, e se ainda houver saldo remanescente, este deve ser destinado ao aumento do capital social. A conta prejuízos acumulados terá como tratamento a seguinte forma: primeiramente serão absorvidos pelos saldos de reservas de lucros e reservas de capital, contudo ficam evidenciados até o momento em que sejam compensados ou assumidos pelos sócios. IMPORTANT E Lembre-se de que a conta Acumulados foi extinta apenas para as empresas regidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA), sendo que as empresas de pequeno e médio porte (limitadas) continuam com a conta e acumulando saldos de lucros acumulados. A conta Reserva de Incentivos Fiscais representa os saldos do acréscimo ao lucro de doações ou subvenções que se tornaram obrigatórios transitar por resultado do exercício, mas que podem ser destinados especificamente para uma reserva denominada de Reservas de Incentivos Fiscais. A conta Ações em Tesouraria representa os saldos de aquisições de ações da própria empresa que devem ser excepcionalidade e evidenciados tais registros. Caro acadêmico! Estudamos os principais conceitos atribuídos aos grupos e subgrupos que compõem a estrutura de contas do Balanço Patrimonial de uma empresa regida pela Lei das Sociedades por Ações (LSA). Na figura a seguir você poderá verificar a estrutura completa de um modelo de apresentação desta demonstração contábil, conforme determina a lei. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 33 FIGURA 14 – MODELO DE BALANÇO PATRIMONIAL FONTE: Os autores O Balanço Patrimonial, assim como a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), são as principais demonstrações contábeis utilizadas para análise. Vamos, agora, compreender a estrutura de uma DRE. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 34 3 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO – DRE A medição da performance das operações da empresa é de suma importância para a sua continuidade, portanto, periodicamente os resultados do confronto das receitas com os custos e despesas são apurados e seu resultado (lucro ou prejuízo) é transferido para o grupo do Patrimônio Líquido. Trata-se de uma demonstração contábil com o objetivo de evidenciar, em determinado período (normalmente 12 meses), o resultado das atividades operacionais, denominada de Demonstração do Resultado do Exercício, também conhecida por DRE. IMPORTANT E Lembre-se de que o nível de detalhamento da DRE pode variar de tipo de empresa. Imagine que informações necessárias a uma companhia de energia elétrica não terão o mesmo nível de detalhes para um bar, mercearia ou minimercado, contudo, algumas informações mínimas devem ser atendidas. Para conhecermos a estrutura da DRE, primeiramente precisamos compreender sua organização informacional. Segundo Silva (2009, p. 39), a DRE “é apresentada de forma dedutiva (vertical), ou seja, das receitas subtraem-se as despesas e, em seguida, indica-se o resultado (lucro ou prejuízo)”. Esta disposição informacional pode ser visualizada na figura a seguir: FIGURA 15 – GERAÇÃO DE INFORMAÇÃO FONTE: Adaptado de Silva (2009, p. 39) DRE Receita ( - ) Deduções ( - ) Custos do período ( - ) Despesas ( - ) ................ .................... Lucro ou prejuízo V ER TI C A L TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 35 Assim sendo, o objetivo econômico de qualquer entidade é gerar lucro, contudo, este lucro também deve ser suficiente para remunerar o capital investido. O detalhamento da DRE, conforme determina a Lei das Sociedades por Ações (LSA), objetiva evidenciar informações relevantes das atividades da empresa na geração dos resultados econômicos. FIGURA 16 – COMPOSIÇÃO DA DRE FONTE: Adaptado de Marion (2009, p. 131) e Iudícibus (2009, p. 45) Receita Operacional Bruta Deduções da Receita Bruta Devolução e abatimentos Impostos Incidentes s/ Vendas Impostos Incidentes s/ Serviços Receita Operacional Líquida Custo das Vendas Lucro Operacional Bruto Despesas Operacionais Com Vendas, Administrativas e Gerais Lucro Antes das Desp. e Rec. Financeiras Despesas Financeiras Receitas Financeiras Lucro antes do Resultado Não Operacional Receita Não Operacional Despesas Não Operacional Lucro antes dos Tributos Contribuição Social sobre o Lucro Imposto de Renda sobre o Lucro Lucro líquido antes das participações Debêntures,Empregados. Participações de Administradores, Partes Beneficiárias, Fundos de Assistência e Previdência para Empregados Lucro Líquido do Período A Receita Operacional Bruta representa a venda do produto (serviços ou mercadoria) da empresa e pode ser conceituada por Iudícibus (2009, p. 39) como “total bruto vendido no período. Nela estão inclusos os impostos sobre vendas (os quais pertencem ao governo) e dela não foram subtraídas as devoluções (vendas canceladas) e os abatimentos (descontos) ocorridos no período”. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 36 A Receita Operacional Bruta gera os impostos que incidem sobre as operações de vendas e devem ser repassados ao governo. Os impostos incidentes sobre a venda podem ser: Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços – ICMS, Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, Programa de Integração Social – PIS, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISQN, entre outros. Como os impostos pertencem ao governo, não devem ser considerados como parte de sua receita, pois, independente de suas operações, sempre deverão ser repassados ao governo. As devoluções por vendas canceladas são efetivadas pelo descumprimento em relação ao pedido, que pode ser qualidade, preço, quantidade ou mesmo defeito. Na tentativa de evitar o cancelamento, a empresa propõe ao cliente um desconto (abatimento) para que ele fique com a mercadoria, evite a devolução e compense possíveis prejuízos. Tanto as devoluções como os descontos/abatimentos são deduzidos da receita bruta, resultando na RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA. Receita Operacional Bruta (-) Devolução e abatimentos (-) Impostos s/ Vendas Receita Operacional Líquida Da receita operacional líquida são deduzidos os custos das operações envolvidas com a venda da mercadoria ou serviços que devem ser confrontados com as receitas. Quando as operações envolverem empresas industriais, a conta será denominada de Custo dos Produtos Vendidos (CPV); quando empresas comerciais, será denominada de Custos das Mercadorias Vendidas (CMV), e ainda, quando empresas de serviços, será denominada de Custos dos Serviços Prestados (CSP). Depois de deduzido o custo dos produtos, das mercadorias ou serviços vendidos, tem-se o LUCRO OPERACIONAL BRUTO. Receita Operacional Líquida (-) Custos das Vendas (=) Lucro Operacional Bruto Na mesma proporção em que são reconhecidas as receitas das operações de vendas, também são reconhecidos os custos nesta mesma proporção, logo se tem uma variabilidade dos custos e das vendas, ou seja, quanto maiores as vendas, maiores serão os custos. Partindo do pressuposto do lucro marginal nas operações, TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 37 tem-se que quanto maiores forem as vendas, maior será o lucro operacional bruto, contribuindo desta forma para suportar as despesas operacionais necessárias para gerar as receitas. As Despesas operacionais são necessárias para gerar a receita, visto sua existência nas operações para vender os produtos e administrar a empresa, como controlar o faturamento e contas a receber, por exemplo. As despesas com vendas são necessárias no processo de comercialização de distribuição dos produtos da empresa. Elas envolvem as despesas com pessoal da área comercial, comissões, propaganda e publicidade, fretes sobre vendas, participação em feiras e eventos, entre outros. As despesas administrativas são gastos necessários para a gestão da empresa, envolvendo gastos com pessoal da administração, aluguéis, seguros, depreciações do escritório, entre outros relacionados com a área administrativa. Incorrem também as despesas gerais, que podem ser as que envolvem despesas tributárias, como tributos, taxas de licenças e alvarás. Além dos resultados de participação societária ou, ainda, outras despesas operacionais como resultado da venda de bens que foram destinados às operações. Subtraindo os valores correspondentes a estas despesas, tem-se o Lucro Antes das Desp. e Rec. Financeiras. Anteriormente à Lei 11.638/07 não havia uma preocupação em separar as despesas e receitas financeiras, e desta forma compunha o saldo das operações. Contudo, com a implantação da Demonstração dos Fluxos de Caixa e o entendimento das atividades que se destinam às operações, aos investimentos e aos financiamentos, as despesas financeiras não fazem parte das operações, mas destinam-se a financiar as operações da empresa, desta forma, mensuram-se os juros de dívidas sobre financiamentos que se destinam às operações ou aos investimentos do negócio. As receitas financeiras representam os valores excedentes das operações que foram aplicados no mercado financeiro, portanto não se referem às atividades operacionais. Os acréscimos (receitas financeiras) ou diminuições (despesas financeiras) ao Lucro Antes das Desp. e Rec. Financeiras representam o Lucro antes do Resultado Não Operacional. (=) Lucro Operacional Bruto (-) Despesas Operacionais Com Vendas, Administrativas e Gerais (=) Lucro Antes das Desp. e Rec. Financeiras UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 38 (=) Lucro Antes das Desp. e Rec. Financeiras (-) Despesas Financeiras (+) Receitas Financeiras (=) Lucro antes do Resultado Não Operacional As despesas e receitas que não estejam relacionadas com as operações da empresa são classificadas como Não Operacionais, que ocorrem de forma excepcional, portanto referem-se a perdas ou ganhos não operacionais. As despesas não operacionais podem ser consideradas as perdas com a baixa de imobilizados, e as receitas não operacionais podem ser consideradas as doações e subvenções para investimentos. (=) Lucro antes do Resultado Não Operacional (+) Receita Não Operacional (-) Despesa Não Operacional (=) Lucro antes dos Tributos Como resultado dos acréscimos e diminuições do lucro tem-se o lucro antes dos tributos, que são incidentes sobre o lucro das operações da empresa. A apuração dos tributos sobre o lucro é o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), em que, devido à influência regulatória nas demonstrações contábeis, os impostos sobre o lucro não são aplicados diretamente sobre o mesmo. Os impostos incidentes sobre o lucro são apurados através do Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR). No caso de Sociedades Anônimas, que são tributadas por este regime, os efeitos da contabilidade são neutralizados pela opção do Regime Tributário de Transição, mais conhecido como RTT. IMPORTANT E Os regimes tributários utilizados para apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), como, por exemplo, lucro real, lucro presumido, SIMPLES, entre outros, não são objetos de estudo deste caderno. Deduzindo os tributos do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), obtém-se como resultado o Lucro Líquido antes das Participações. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 39 (=) Lucro antes dos Tributos (-) Contribuição Social sobre o Lucro (-) Imposto de Renda sobre o Lucro (=) Lucro líquido antes das participações As participações sobre o lucro estão dispostas na Lei das Sociedades por Ações (LSA) nos artigos 187 e 190. Estas serão calculadas com base no percentual determinado pelo estatuto da empresa e na seguinte ordem: a) debêntures; b) empregados; c) administradores; e d) partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa. As partes beneficiárias referem-se a valores mobiliários que proporcionam ao titular direito de crédito eventual contra a empresa de sociedade anônima que emitiu o título, concedendo-lhe uma determinada participação durante determinado tempo nos lucros da empresa. Conformedisciplina a Lei das Sociedades por Ações (LSA), em seu artigo 47, a emissão de tal instrumento somente se aplica às Sociedades Anônimas de capital fechado. Vamos exemplificar! Suponha que uma determinada Sociedade Anônima tenha um lucro Líquido antes das Participações no valor de R$ 100.000. Considerando que a empresa não apresentou prejuízo acumulado no exercício anterior e que no estatuto estão previstas participações a serem distribuídas da seguinte forma: 10% para debêntures; 10% para empregados e 10% para os administradores, de quanto será o Lucro Líquido do Exercício? Demonstração do Resultado do Exercício - DRE Lucro depois dos Tributos 100.000 (-) Participação de Debêntures (10.000) >>>> (100.000 x 10%) (-) Participação de Empregados (9.000) >>>> (90.000 x 10%) (-) Participação Administração (8.100) >>>> (81.000 x 10%) Lucro Líquido do Exercício 72.900 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 40 Depois de deduzidas todas as participações definidas em estatuto, o saldo representa o lucro líquido do exercício, cujo valor a ser distribuído (dividendos) e valor que ficará retido será definido em assembleia. Contudo, a Lei das Sociedades por Ações (LSA) ainda determina que ao final da Demonstração de Resultado do Exercício seja demonstrado o lucro por ação do capital social, desta forma dividindo-se o lucro líquido do exercício pelo número de ações da empresa. Por força de lei, a parcela do lucro líquido distribuído ou que fica retido na empresa deverá ser evidenciada através da demonstração contábil denominada de Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados – DLPA, da qual passaremos a explicar a partir de agora. 3.1 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS - DLPA. A grande parte do lucro apurado na Demonstração de Resultado do Exercício fica retida para ser reinvestido no negócio. Trata-se de uma demonstração contábil obrigatória, prevista no artigo 176 da Lei das Sociedades por Ações (LSA), que evidencia a movimentação da conta contábil Lucros acumulados que não poderá apresentar saldos, pois obrigatoriamente deverá ser dada uma destinação para o lucro do exercício. FIGURA 17 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA * Lucros Acumulados – de acordo com a Lei nº 11.638/07, não pode mais permanecer, nos balanços, saldo na conta Lucros Acumulados. O resultado deverá ser obrigatoriamente destinado, ou seja, as parcelas do resultado a serem retidas precisarão ser contabilizadas em reservas próprias. FONTE: Iudícibus (2009, p. 50) TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 41 O lucro retido pode ser utilizado de várias formas, como, por exemplo: “Pode ser utilizado para aumentar o capital circulante da empresa. Pode, ainda, ser destinado a algum fim específico e, nesse caso, será tratado em forma de reserva [...]” (MARION, 2009, p. 173). A parte residual do lucro líquido que não for distribuída sob forma de dividendos, ou utilizada para aumento de capital ou destinada a reservas, será acumulada na conta Lucros Acumulados, apenas nas empresas que não seguem a Lei das Sociedades por Ações (LSA). IMPORTANT E Nas empresas regidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) a demonstração DLPA será substituída pela Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, que estudaremos a seguir. Pode-se inferir que a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados - DLPA demonstra as alterações ocorridas no saldo da conta Lucros Acumulados entre um período e outro. Vamos então visualizar o modelo da DLPA para depois explicitarmos seu preenchimento. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 42 FIGURA 18 – ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados Companhia Modelo S.A Em R$ mil Saldo em 31/12/20x0 (ou saldo inicial em 01/01/20x1 ................... ( +/- ) Ajustes de exercícios anteriores ................... Reversões de Reservas ................... Lucro Líquido do Exercício em (20x1) ................... Saldo Disponível ................... Proposta da Administração para Destinação do Lucro Reserva Legal (...................) Reserva Estatutária (...................) Reserva para Contingência (...................) Reserva Orçamentária (para expansão) (...................) Reserva de Lucros a Realizar (...................) Dividendos (...................) Saldo em 31/12/20x1 ................... FONTE: Marion (2009, p. 431) A DLPA é iniciada com o preenchimento do saldo da conta Lucros Acumulados do Balanço Patrimonial do período anterior ou o saldo inicial do Balanço Patrimonial atual. Os Ajustes de Exercícios Anteriores devem ser utilizados quando se constatar erros nos registros contábeis que afetem significativamente o resultado do exercício. Estes efeitos não devem ser considerados no período corrente, por ferir os Princípios Contábeis e também suprimir dividendos a que investidores tenham direito e que não tenham relação com estes eventos que causariam a redução do lucro no período corrente. Desta forma, os ajustes seriam realizados diretamente na conta de lucros acumulados, não afetando o resultado econômico (DRE) do período. Algumas reservas destinadas para certos fins, como reserva para lucros a realizar ou reservas para contingências, podem sofrer a reversão para a conta lucros acumulados e que são reincorporadas a Lucros Acumulados em exercícios posteriores. Estas reincorporações são classificadas na DLPA como Reversões de reservas. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 43 Como vimos anteriormente, a DRE termina com a apuração do lucro líquido após as participações, e este saldo será transferido para a conta Lucros Acumulados e, a partir desta, são tomadas decisões para quais destinos este saldo remanescente será distribuído. Normalmente, as destinações propostas pela Administração são aprovadas na primeira Assembleia Geral Ordinária (AGO) e são destinadas às reservas, com base na lei ou nos estatutos, denominadas como reservas de lucros, tais como: Reserva legal – está prevista por lei, sendo fixado o percentual de 5% do lucro líquido que serão destinados antes que qualquer outra reserva seja constituída. Sua finalidade é garantir a integridade do capital da empresa, sendo sua compensação permitida somente para aumento de capital ou compensação de prejuízos. Reservas estatutárias – o estatuto da empresa poderá criar reservas, desde que obedeçam aos seguintes critérios: (i) indique com clareza a sua finalidade, (ii) determine os critérios de fixação da parcela anual do lucro líquido que será destinada com essa finalidade e (iii) estabeleça o limite máximo permitido para esta reserva. Reservas para contingência – segundo Marion (2009, p. 411), este tipo de reserva poderá “[...] destinar parte do lucro líquido à formação de reservas com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado”. A reserva poderá ser revertida caso as causas que gerarem a contingência deixarem de existir. Reservas de Lucros para Expansão (Retenção de Lucro) – poderá em assembleia, por proposta da administração, reter parte do lucro e se destinar na execução de orçamento de capital previamente aprovado. Reservas de Lucros a Realizar – destina-se a apropriar parcela do lucro em que a realização financeira ocorrerá em exercícios posteriores, ou seja, houve a realização econômica, mas a realização financeira do lucro que se transformará em caixa somente acontecerá em outro momento. Desta forma, seriam pagos os dividendos sobre a parcela do lucro a realizar somente quando o lucro se realizar financeiramente. Dividendos – refere-se à parte do lucro destinado aos acionistas da empresa. Como vimos, a DLPA é uma demonstração simples de ser preenchida. No caso das empresas regidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA), deve ser substituída pela Demonstração das Mutaçõesdo Patrimônio Líquido – DMPL, que será demonstrada a seguir. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 44 4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – DMPL A publicação desta demonstração é uma obrigação apenas para as empresas regidas pela Lei nº 6.404/76, art. 186, § 2º (Lei das Sociedades por Ações), todavia, autoriza a inclusão da DLPA na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). Assim, quando as empresas apresentarem a DMPL, dispensam apresentação da DLPA. A principal diferença entre a DLPA e a DMPL está na amplitude das informações demonstradas, pois enquanto a DLPA explica apenas a movimentação da conta Lucros Acumulados, a DMPL explica a movimentação de todo o patrimônio líquido. 5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC No Brasil, a DFC é obrigatória para as empresas que possuem Patrimônio Líquido superior a R$ 2.000.000,00 na data do fechamento do balanço. As orientações regulatórias para preenchimento desta demonstração foram aprovadas e estão contidas no Comitê de Pronunciamentos Contábeis CPC 03/2010. Ribeiro (2008, p. 72) conceitua a Demonstração de Fluxo de caixa como: [...] um relatório contábil que tem por fim evidenciar as transações ocorridas em um determinado período e que provocaram modificações no saldo da conta caixa. Trata-se de uma demonstração sintetizada dos fatos administrativos que envolvem os fluxos de dinheiro ocorridos durante determinado período, devidamente registrados a débito (entradas) e a crédito (saídas) da conta Caixa. O Caixa compreende os recursos da empresa em espécie ou equivalentes a caixa, como os depósitos bancários com saldos disponíveis. Conforme CPC 03/2010, equivalentes de caixa “são aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversíveis em caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor”. Desta forma, a DFC tem como objetivo demonstrar o fluxo financeiro de caixa e equivalentes a caixa, explicando os motivos, a partir do saldo inicial, os fatos que provocaram o saldo final das disponibilidades e onde foram aplicados os recursos que deram entrada no disponível, conforme demonstrado na figura a seguir. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 45 FIGURA 19 – O QUE EXPLICA A DFC FONTE: Marion (2009, p. 459) Circulante 31/12/X0 31/12/X1 Disponível 180.000 250.000 A Demonstração dos Fluxos de Caixa evidenciará as razões do acréscimo de S 70.000 no disponível. Cia..... Demonstração dos Fluxos de caixa Período ___/___/___ a ___/___/___ Saldo no início do período (1°.-1-X1)* (+) (+) Entradas (Fontes) 180,000 ................................................... ................... ................................................... ................... ................................................... ................... .................. (-) Saídas (Aplicações) ................................................... ................... ................................................... ................... ................................................... ................... (..................) (=) Saldo no final do período (31/12/X1) 250.000 * Note que o saldo de 1° –1–X1 é o mesmo de 31/12/X0. Observa-se na figura que o saldo no Balanço Patrimonial do disponível em 31/12/x0 está representado na DFC, como saldo inicial no valor de R$ 180.000,00, e que depois das movimentações de entradas e saídas apresentou o saldo final de R$ 250.000,00, que é o saldo do balanço patrimonial em 31/12/20x1. Silva (2010, p. 54) explica que “essa demonstração será obtida de forma direta (a partir da movimentação do caixa e equivalente de caixa) ou de forma indireta (com base no lucro/prejuízo do exercício)”. Ainda segundo o CPC 03, os Fluxos de Caixa devem ser demonstrados por uma classificação por atividades (i) operacionais, (ii) de investimentos e (iii) de financiamentos. Nas atividades operacionais são demonstradas todas as atividades que causam a geração das receitas e que tenham relação com o objetivo social da empresa. As atividades de investimentos estão relacionadas com a demonstração dos fluxos relativos à compra e à venda de ativos e investimentos que são destinados às operações, ou seja, investimentos destinados à geração de fluxos de caixa presentes ou futuros. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 46 Por último, nas atividades de financiamentos estão relacionadas com a demonstração dos fluxos as fontes de recursos utilizados para financiar as operações da empresa, seja de capital próprio ou de fornecedores de capital. Desta forma, na elaboração de uma DFC pode-se utilizar o método direto e o método indireto, conforme se demonstra a seguir: FIGURA 20 – ESTRUTURAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA – MODELO DIRETO FONTE: Marion (2009, p. 469) Nas atividades operacionais, o método direto evidencia os recursos equivalentes às atividades operacionais originadas dos valores de recebimentos e pagamentos das operações normais da empresa, cujo desembolso ocorreu efetivamente. No caso dos recebimentos podem se referir às entradas de vendas à vista ou a prazo que deram origem a duplicatas a receber, recebimentos de juros sobre empréstimos concedidos, resgates de aplicações, dividendos de participações em outras empresas, vendas de ativos destinados à venda, como, por exemplo, títulos de valores mobiliários. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 47 FIGURA 21 – ESTRUTURAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA – MODELO INDIRETO As saídas podem se referir a pagamentos realizados a fornecedores de matérias-primas, pagamento de juros, dividendos, compras de bens do ativo destinados à venda ou destinados às operações da empresa. Enquanto o método direto baseia-se nas entradas e saídas efetivamente realizadas no caixa, o método indireto baseia-se na composição (conciliação) do caixa a partir do lucro líquido, acrescida das despesas e excluídas as receitas que estão inclusas no resultado econômico, mas que não afetam o caixa, como pode ser observado no modelo apresentado na figura a seguir. FONTE: Marion (2009, p. 469) Caro acadêmico! Observe que no método indireto, o Lucro Líquido no exercício deverá ser reconciliado com os valores que afetam o caixa. Um exemplo é a depreciação, que nada mais é do que uma provisão constituída para reservar parte do lucro para repor um novo bem ao fim da vida útil do bem atual. Como não afeta nem entrada e nem saída de caixa, logo, deve ser acrescido para ajustar o Lucro que Afeta o Caixa. Podem ainda representar ajustes ao lucro líquido: (i) lucro na venda do imobilizado (provisões); (ii) despesas financeiras de longo prazo, (iii) resultado de participação societária, entre outras. Mas como identificar as entradas e saídas de caixa neste método? UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 48 Vimos anteriormente que uma DRE é composta por receitas menos custos e despesas, cuja diferença resulta no lucro das operações. O Balanço Patrimonial (BP) e a DRE estão intimamente ligados quando da ocorrência dos eventos contábeis, sendo que aumentos de receitas provocam aumentos do ativo ou reduções de passivo, enquanto aumentos de despesas provocam reduções do ativo ou aumento do passivo. Neste caso, uma venda à vista ou a prazo gerará um evento que aumentará o ativo (caixa ou duplicatas a receber no BP); por outro lado, a ocorrência de uma despesa à vista ou a prazo gerará um evento que reduzirá o ativo (caixa no BP) ou aumentará o passivo (Fornecedores no BP). Por exemplo, uma venda à vista e a prazo no valor de R$ 1.200,00, para saber os efeitos causados no balanço patrimonial, tem-se a seguinte apresentação: FIGURA 22 – VENDA À VISTA E A PRAZO FONTE: Os autores DESCRIÇÃO VENDA Contas Grupo SaldoInicial À Vista Saldo A Prazo Saldo Caixa Ativo 1.000 1.200 2.200 Contas a Receber Ativo 2.500 1.200 3.700 Vendas Resultado 5.000 1.200 6.200 1.200 6.200 Podemos observar que uma venda à vista, cujo saldo inicial da empresa era de R$ 1.000,00 passará a ter um saldo de R$ 2.200,00 devido à entrada de recursos no caixa (ativo), em contrapartida, aumentará as vendas (Resultado). Da mesma forma, uma venda a prazo aumentará a contas a receber (ativo) que tinha um saldo inicial de R$ 2.500,00 e com o acréscimo terá um novo saldo de R$ 3.700,00 em contrapartida com o aumento das vendas (resultado). Vamos agora verificar a situação das contas para um evento de geração de despesas com desembolso à vista e a prazo. FIGURA 23 – DESPESAS COM DESEMBOLSO À VISTA E A PRAZO DESCRIÇÃO GASTO Contas Grupo Saldo Inicial À Vista Saldo A Prazo Saldo Caixa Ativo 1.000 - 400 600 Fornecedores Passivo 500 400 900 Despesas Resultado 2.000 400 2.400 400 2.400 FONTE: Os autores TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 49 No caso da despesa com desembolso à vista no valor de R$ 400,00 observa- se que o saldo do caixa (ativo) reduzirá seu saldo em relação ao saldo inicial de R$ 1.000,00 e aumentará as despesas (resultado), enquanto uma despesa a prazo aumentará o saldo de fornecedores (passivo) de R$ 500,00 para R$ 900,00 e também o aumento da despesa (resultado) para R$ 2.400,00. Para identificar entradas e saídas de caixa pelo método indireto, devemos ter como regra geral, segundo Marion (2009, p. 470), as seguintes definições: • os aumentos no Ativo Circulante provocam o uso do dinheiro (caixa); as reduções do Ativo Circulante produzem caixa (origem de caixa); • os aumentos do Passivo Circulante evitam a saída de mais dinheiro, aumentando o caixa; as reduções do Passivo Circulante significam que o pagamento foi feito, reduzindo o caixa (uso de caixa); • para calcular as variações líquidas, basta subtrair o saldo anterior do saldo atual das contas do Circulante (Ativo e Passivo). Pode-se concluir que, pela diferença de saldos das contas do Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido é que será possível determinar as entradas e saídas do caixa ajustado pelo acréscimo ou redução do lucro líquido pelas contas que não afetam o caixa. Vamos ver o exemplo para a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC apresentado em nosso tópico. TABELA 1 – CÁLCULO DAS VARIAÇÕES DO CIRCULANTE (CAPITAL DE GIRO) Fonte: Marion (2009, p. 470) ATIVO 31-12-X1 31-12-X2 VARIAÇÃO REFLEXO NO CAIXA Duplicatas a receber 500 1.000 500 Adia recebimento: reduz o caixa Estoques 1.000 1.500 500 Mais aquisição: reduz o caixa PASSIVO Fornecedores 1.000 2.000 1.000 Posterga pagamento: favorece o caixa Empréstimos Bancários 1.000 1.470 470 Tratado como Atividade de Financiamento Imposto de Renda a Pagar - 1.050 1.050 Posterga pagamento: favorece o caixa Observe que no caso das duplicatas a receber houve um aumento em 31-12-X2 que representa uma variação de R$ 500, e o aumento da conta indica que o cliente não efetuou o pagamento, logo representa uma redução de caixa. O mesmo princípio se aplica à conta de estoque, cujo aumento do saldo indica redução de caixa. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 50 No Passivo há o aumento da conta Fornecedores, a variação de R$ 1.000 indica que o pagamento foi adiado, logo não houve a saída de caixa, portanto se considera um aumento do caixa, aplicando-se o mesmo caso para o Imposto de Renda a Pagar. FIGURA 24 – ESTRUTURAÇÃO DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS FONTE: Marion (2009, p. 471) Desta forma, a Composição da DFC, relativa às atividades operacionais, pode ser refletida pelo saldo do Caixa Gerado nos Negócios. Para a elaboração das atividades de financiamento e de investimento será elaborada da mesma forma, ou seja, pela diferença dos saldos entre o período anterior e o período atual no Balanço Patrimonial. DICAS Leia o Pronunciamento do Comitê de Pronunciamentos Contábeis CPC 03, neste poderão ser observadas com mais detalhes as regras para apresentar e divulgar a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC. Vamos agora conhecer outra demonstração que se tornou obrigatória a partir de 2008, apesar de que muitas já a publicavam, para as empresas de Sociedade Anônima: a Demonstração do Valor Adicionado, conhecida como DVA. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 51 6 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – DVA Trata-se de uma demonstração contábil que objetiva demonstrar a riqueza gerada por uma empresa em um determinado período, evidenciando sua distribuição. Ribeiro (2008, p. 91) conceitua a DVA como “um relatório contábil que evidencia o quanto de riqueza uma empresa produziu, isto é, o quanto ela adicionou de valor aos seus fatores de produção e o quanto e de que forma essa riqueza foi distribuída (entre empregados, governo, acionistas, financiadores de capital e outros)”. A partir das alterações na Lei das Sociedades por Ações (LSA), a DVA passou a ser obrigatória para as empresas de capital aberto no Brasil, e sua forma de apresentação foi definida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis CPC 09. As informações da DVA se originam da Demonstração do Resultado do Exercício – DRE, logo, as informações de elaboração são baseadas no Princípio da Competência e o cerne desta demonstração utiliza o conceito de VALOR ADICIONADO. O valor adicionado ou valor agregado pode ser compreendido como custos que são gerados dentro da empresa que remunera os fatores de produção. Os fatores de produção podem ser compreendidos como trabalho, capital, capacidade tecnológica, entre outros. IMPORTANT E Você sabia que nem todos os custos são gerados dentro das empresas? As empresas podem decidir transferir alguns custos para que outras empresas forneçam insumos necessários à produção. Os custos que são gerados externamente (produção ou serviços) e que são adquiridos por uma empresa para incorporar o custo dos produtos ou das mercadorias são denominados de insumos. Os mais conhecidos são a matéria- prima, serviços variados como os de contabilidade, auditoria, limpeza, vigilância, engenharia, advocacia, ou materiais diversos, como lubrificantes e combustíveis, materiais de escritório ou de limpeza, entre outros. Desta forma, pode-se inferir que uma empresa, para vender um produto, necessita adquirir insumos que serão agregados ao valor necessário para remunerar seus fatores de produção. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 52 Caro acadêmico! Você deve estar pensando: como uma entidade adiciona valor aos seus insumos e como a remuneração aos fatores de produção é distribuída? Imagine que uma empresa tenha produzido e vendido o equivalente a R$ 150.000,00. Para isto, precisou comprar R$ 80.000,00 de matéria-prima e utilizou mão de obra que lhe custou R$ 30.000,00. O valor agregado pela empresa ficaria desta forma: Valor de Produção (venda) 150.000 ( - ) Materiais (insumos) 80.000 Valor Adicionado (Riqueza Gerada) 70.000 Observe que no exemplo acima a empresa adicionou valor aos insumos na ordem de R$ 70.000,00. A mão de obra não entra no cálculo, pois se trata de um custo gerado dentro da empresa e apenas devem ser eliminados custos de bens e serviços intermediários, de terceiros, ou seja, os custos gerados externamente à empresa. Mas de que forma ou para que fatores de produção foram distribuídos? Distribuição do Valor Adicionado 70.000 ( - ) Funcionário (Mão de obra) 10.000 ( - ) Acionistas (Lucro) 60.000 Do valor adicionado, R$ 10.000 foram distribuídos aos funcionários e o valor restante, de R$ 60.000, seria o lucro destinado aos detentores do capital social da empresa. IMPORTANT E Caro acadêmico! Observe que toda a riqueza gerada teve uma destinação, logo, o valor adicionado a distribuir deve ser igual ao valor adicionado distribuído. Para melhorar o exemplo anterior, vejamos como ficaria a DRE e como ficaria a DVA se,além das informações citadas, a empresa ainda tivesse como gastos incorridos: despesas com propaganda e publicidade de R$ 3.000,00, serviços de contabilidade de R$ 2.000,00 e impostos sobre o lucro de R$ 12.000,00. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 53 FIGURA 25 – COMPARATIVO DRE VERSUS DVA DRE Descrição R$ Vendas de Produto 150.000 (-) Custo Produtos Vendidos Matéria-prima + Mão de Obra 90.000 (=) Lucro Bruto 60.000 (-) Despesas 5.000 (=) Lucro Antes dos Impostos 55.000 (-) Impostos s/ Lucro 12.000 (=) Lucro Líquido 43.000 DVA Descrição R$ Receita 150.000 (-) Insumos Matéria-prima 80.000 Serviços Contábeis 2.000 Propaganda e Publicidade 3.000 (=) Valor Adicionado a Distribuir 65.000 (=) Valor Adicionado Distribuído 65.000 Pessoal 10.00 Governo 12.00 Acionistas 43.000 FONTE: Os autores Ao incluir as informações de gastos, o resultado econômico conforme DRE apresentou um lucro de R$ 43.000,00. Ao evidenciar tais informações da DVA, tem-se que a nova apresentação teria como insumos (custos gerados externamente) o valor de R$ 85.000,00 e, portanto, deduzido das receitas, determinou um valor a distribuir (riqueza gerada) de R$ 65.000,00. Observe que esta pode ser compreendida como a primeira parte da DVA, em que são evidenciados a riqueza gerada pela entidade e o valor adicionado distribuído; a segunda parte da DVA, em que são demonstrados como foram distribuídos esta riqueza, que, neste caso, foram destinados R$ 10.000,00 aos colaboradores pelos gastos de mão de obra, R$ 12.000,00 ao governo pelos tributos sobre o lucro e R$ 43.000,00 aos acionistas pelo lucro final gerado das operações. Neste sentido, é preciso compreender que a DVA indica a parte da riqueza distribuída (i) aos sócios ou acionistas, (ii) aos demais capitalistas que financiam a entidade (capital de terceiros), (iii) aos empregados, e (iv) ao governo. Perceba que a lógica de construção da DVA é bem simples, porém alguns cuidados devem ser tomados: a) A depreciação, amortização e exaustão devem ser consideradas como redutoras do Valor Adicionado Bruto, portanto devem compor o Valor Adicionado Líquido. b) As receitas financeiras da entidade obtidas pela empresa não representam uma criação de riqueza, pois refletem uma remuneração do seu capital aplicado em terceiros, os quais produziram sua riqueza e transferiram uma parte à entidade na forma de juros. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 54 c) O mesmo caso se aplica ao resultado das participações societárias, e este deve ser considerado como valor adicionado recebido em transferências. d) Tem-se, nas demonstrações contábeis, dificuldade em identificar os insumos separados do que é adicionado, visto que o Custo dos Produtos Vendidos - CPV costuma englobar todos os valores de uma conta única (Insumos, mão de obra, depreciação, entre outros), ou mesmo as despesas operacionais não costumam separar os custos com pessoal dos demais custos gerados externamente. Na figura a seguir demonstra-se o modelo proposto pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 03. FIGURA 26 – MODELO II – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – EMPRESAS EM GERAL DESCRIÇÃO Ano Ano 1 — RECEITAS 1.1) Vendas de mercadorias. produtos e serviços 1.2) Outras receitas 1.3) Receitas relativas à construção de ativos próprios 1.4) Provisão para créditos de liquidação duvidosa — Reversão / (Constituição) 2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui os valores dos irrpostos— ICMS, IPI, PIS e COFINS) 2.1) Custos dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos 2.2) Materiais. energia. serviços de terceiros e outros 2.3) Perda, Recuperação de valores ativos 2.4) Outras (especificar) 3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2) 4 – DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO 5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4) 6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 6.1) Resultado de equivalência patrimonial 6.2) Receitas financeiras 6.3) Outras 7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) Empresa: ___________________________________________ Demonstração de valor adicionado (DVA) Em milhares de reais TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 55 FONTE: Pronunciamento Técnico CPC 09. 8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO ( = 7 ) 8.1) Pessoal 8.1.1 — Remuneração direta 8.1.2 — Benefícios 8.1.3 — F.G.T.S 8.2) Impostos. taxas e contribuições 8.2.1 — Federais 8.2.2 — Estaduais 8.2.3 — Municipais 8.3) Remuneração de capitais de terceiros 8.3.1 — Juros 8.3.2 — Aluguéis 8.3.3 — Outras 8.4) Remuneração de Capitais Próprios 8.4.1 — Juros sobre o Capital Próprio 8.4.2 — Dividendos 8.4.3 — Lucros retidos / Prejuízo do exercício 8.4.4 — Participação dos não-controladores nos lucros retidos (só p/ consolidação) A Demonstração do Valor Adicionado – DVA representa um avanço na geração de informações de natureza social, ao evidenciar a riqueza gerada pelas empresas e como ela é distribuída: a) aos funcionários pela obtenção dos salários e benefícios; b) aos detentores do capital social pela obtenção da remuneração do capital investido sob forma de dividendos; c) aos financiadores de capital pela obtenção da remuneração de seus recursos emprestados; e d) à sociedade pela obtenção dos tributos recolhidos ao governo. Caro acadêmico! Agora que você compreendeu a composição da DVA, vamos conhecer outros elementos que compõem as demonstrações contábeis. 7 NOTAS EXPLICATIVAS E RELATÓRIOS QUE ACOMPANHAM AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS A partir deste momento, trataremos sobre outros elementos que compõem as administrações contábeis, tais como: notas explicativas, relatório do auditor independente e relatório da administração. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 56 As Notas Explicativas são descrições que buscam complementar e explicar os relatórios contábeis relativos aos saldos que as compõem. Obrigatórias para as sociedades de capital aberto, as notas explicativas estão previstas na Lei das Sociedades por Ações (LSA) no § 4º do artigo 176 da Lei 6.404/1976, o qual descreve que "as demonstrações serão complementadas por Notas Explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis, necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício". O Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu um Pronunciamento Técnico a respeito da estrutura e conteúdo das demonstrações contábeis, cujo objetivo seria: definir a base para a apresentação de demonstrações contábeis, no sentido de assegurar a comparabilidade tanto com as demonstrações contábeis de períodos anteriores da mesma entidade, quanto com as demonstrações contábeis de outras entidades (CPC 26, 2011, p. 3). Neste sentido, tem grande importância quando da publicação das demonstrações contábeis, pois buscam suprir a necessidade de informação de seu público usuário e esclarecer saldos, transações relativas à situação de ordem econômica, financeira e patrimonial da entidade relacionadas a eventos que ocorreram no exercício ou que venham afetar a empresa no futuro. 7.2 RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE 7.1 NOTAS EXPLICATIVAS O Parecer de Auditor Independente teve sua nomenclatura alterada para Relatório do Auditor Independente quando da reestruturação das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). A obrigatoriedade de que as empresas de capital aberto sejam submetidas à opinião dos auditores independentes em relação às demonstrações contábeis está prevista na Lei 11.941/09, em seu § 3º, art. 177, cujo relato descreve que “as demonstrações financeiras das companhias abertas observarão, ainda, as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e serão obrigatoriamente submetidas a auditoria por auditores independentes nela registrados”. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 57 NOTA Sobre as opiniões emitidas pelos auditores independentes, você pode acessar as Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC relativasaos trabalhos da auditoria: NBC TA 700 (Formação da opinião e emissão do Relatório do Auditor Independente); NBC TA 200 (objetivos gerais do auditor independente); e NBC TA 705 (modificação na opinião do auditor). Basicamente, o Relatório do Auditor Independente busca aferir a qualidade das demonstrações contábeis, no que tange (i) à adoção das práticas contábeis adequadas; (ii) se as informações das demonstrações e notas explicativas são suficientes para entendimento; e se (iii) as demonstrações contábeis foram classificadas e agrupadas de forma adequada e aderente às normas e práticas contábeis. 7.3 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO O Relatório da Administração está previsto no artigo 133 da Lei das Sociedades por Ações (LSA), portanto é parte integrante das demonstrações contábeis, quando de sua publicação. Segundo Silva (2010, p. 64), o Relatório da Administração tem como objetivo “servir como complemento às demonstrações financeiras, de forma a subsidiar o leitor com informações sobre o contexto operacional da companhia, com fatos relevantes que aconteceram ao longo do exercício e com planos da mesma para os exercícios seguintes”. A sua elaboração busca demonstrar fatos ou eventos ocorridos ou que indiquem tendências de: (i) seu cenário econômico; (ii) inovações tecnológicas; (iii) planos de expansão da empresa; (iv) políticas adotadas de responsabilidade socioambiental; (v) indicadores de desempenho de qualidade e produtividade em relação aos concorrentes; (vi) informações e dados estatísticos, entre outros. Todavia, este relatório expressa fatos relevantes ocorridos no exercício e quais as tendências para o futuro, sob a ótica dos administradores e somente destes, sendo que os auditores não emitem sua opinião acerca do relatório da administração, logo, deve-se analisar criteriosamente para evitar o viés das informações. 58 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • As principais demonstrações contábeis exigidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) são: (i) Balanço Patrimonial, (ii) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), (iii) Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), (iv) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e (v) Demonstração do Valor Adicionado (DVA), esta última somente para companhias abertas, bem como a (vi) Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido, que substituirá, no caso de sociedades anônimas, a DLPA. • O Balanço Patrimonial é a principal demonstração contábil, pois evidencia a situação patrimonial e financeira de uma empresa em um determinado momento, sendo o lado esquerdo representado pelo Ativo, e do lado direito o Passivo e o Patrimônio Líquido. Tanto o ativo quanto o passivo se dividem em Circulantes e Não Circulantes. Os circulantes devem compreender um período inferior a 12 meses após o encerramento do exercício social e são as contas de curto prazo, enquanto o Não Circulantes compreende um período superior a 12 meses após o encerramento do exercício e são as contas de longo prazo. • Uma demonstração contábil, com o objetivo de evidenciar em determinado período (normalmente 12 meses) o resultado das atividades operacionais, é denominada de Demonstração do Resultado do Exercício, também conhecida por DRE, e a grande parte do lucro apurado na Demonstração de Resultado do Exercício fica retida para ser reinvestida no negócio. • A DLPA é uma publicação obrigatória apenas para as empresas regidas pela Lei nº 6.404/76, art. 186, § 2º (Lei das Sociedades por Ações), todavia, autoriza a inclusão da DLPA na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), assim sendo, quando a empresa apresentar a DMPL dispensa apresentação da DLPA. • A Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC é uma demonstração introduzida no Brasil a partir da Lei 11.638/07 em substituição à Demonstração de Origens e Aplicação de Recursos – DOAR, baseada no modelo utilizado nos Estados Unidos em suas publicações obrigatórias. Contudo, no Brasil a DFC é obrigatória para as empresas que possuem Patrimônio Líquido superior a R$ 2.000.000,00 na data do fechamento do balanço. • A Demonstração do Valor Adicionado – DVA é uma demonstração contábil que objetiva demonstrar a riqueza gerada por uma empresa em um determinado período, evidenciando sua distribuição. 59 • As Notas Explicativas são descrições que buscam complementar e explicar os relatórios contábeis relativos aos saldos que as compõem. • O Parecer de Auditor Independente teve sua nomenclatura alterada para Relatório do Auditor Independente quando da reestruturação das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). • O Relatório da Administração está previsto no artigo 133 da Lei das Sociedades por Ações (LSA), portanto, também é parte integrante das demonstrações contábeis, quando de sua publicação. 60 1 O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é o órgão composto pelos principais órgãos reguladores do Brasil e tem como objetivo padronizar as normas de contabilidade no Brasil, em convergência com os padrões internacionais de contabilidade. Sobre algumas mudanças advindas da padronização das normas contábeis, analise as seguintes sentenças: I- Introdução da Demonstração dos Fluxos de Caixa obrigatório para sociedades de capital aberto e para empresas de capital fechado com patrimônio líquido inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) na data do fechamento do balanço patrimonial. II- A obrigatoriedade da Demonstração do Valor Adicionado pela Lei das Sociedades Anônimas (LSA) convergiu com as normas internacionais de contabilidade. III- Sociedades limitadas com ativo superior a R$ 240 milhões ou receita bruta superior a R$ 300 milhões devem elaborar e publicar suas demonstrações de acordo com a Lei das Sociedades por Ações. IV- As empresas de sociedades anônimas estão dispensadas da elaboração e publicação de notas explicativas às demonstrações contábeis. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) ( ) Somente a afirmativa Ill está correta. c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa I está correta. 2 O conjunto de relatórios contábeis a ser utilizado como gerador de informação financeira, econômica, patrimonial de uma entidade é denominado de demonstrações contábeis ou demonstrações financeiras. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma das principais demonstrações financeiras é o Balanço Patrimonial, que deve evidenciar a situação econômica e financeira da empresa em um determinado momento. ( ) As notas explicativas, o Relatório do Auditor Independente e Relatório da Administração são complementos que incorporam-se e compõem as demonstrações contábeis. ( ) A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) substituirá a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) nos casos em que se referir a empresas de sociedades anônimas. ( ) As demonstrações contábeis fornecem informações sobre ativos, passivos e patrimônio líquido, receitas e despesas (incluso ganhos e perdas), fluxos de caixa e alterações no capital próprio com a integralização dos proprietários ou sua distribuição. AUTOATIVIDADE 61 Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - F. b) ( ) F - F - F - V. c) ( ) F - V - F - F. d) ( ) F - F - V - V. 3 O balanço patrimonial está dividido em três grandes grupos, sendo o Ativo representado do lado esquerdo e o Passivo e o Patrimônio Líquido representados do lado direito, e sua igualdade leva ao conceito de uma das mais importantes equações da teoria contábil. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As contas do ativo devem ser organizadas em ordem de liquidez, enquanto as contas do passivo devem ser ordenadas por grau de exigibilidade. ( ) A separação das contas que deve ser classificada entre de curto e de longo prazo levando em consideração como critériopara curto prazo vencimento superior a 18 meses, após o encerramento do exercício, e após 18 meses, será de longo prazo. ( ) No grupo do circulante são agrupadas contas como disponibilidades, estoques, imobilizado. ( ) O intangível é um grupo classificado no curto prazo, destinado às operações. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - F. b) ( ) F - F - V - V. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) F - F - V - V. 4 Complete as lacunas da sentença a seguir: O passivo representa todas as____________ de operações assumidas no presente, com promessa de pagamento futuro, cuja ____________ espera- se produza benefício futuro, ou seja, que produza ____________ para a empresa. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) obrigações – liquidação – fluxos de caixa. b) ( ) situações – contabilização – lucro. c) ( ) formas – flutuação – resultados. d) ( ) obrigações – contabilização – lucro. 5 As demonstrações contábeis ou demonstrações financeiras representam uma posição da situação patrimonial, financeira e de desempenho organizacional. Dentre as demonstrações contábeis, algumas são obrigatórias pelas 62 sociedades anônimas que são regidas pela LSA. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Demonstração do Resultado do Exercício – DRE II- Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados – DLPA III- Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido - DMPL IV- Demonstração dos Fluxos de Caixa - DFC V- Demonstração do Valor Adicionado – DVA ( ) Demonstração introduzida com as alterações na Lei das Sociedades Anônimas e que evidencia a movimentação de recursos de caixa ou equivalentes a caixa. ( ) Demonstração obrigatória para empresa S.A. e que substitui a DLPA, que está contemplada na amplitude de evidência da movimentação do patrimônio líquido. ( ) Tem como objetivo demonstrar os resultados obtidos com as atividades operacionais em um determinado período contábil, normalmente 12 meses. ( ) Tem como objetivo demonstrar a riqueza gerada e como ela foi distribuída durante um determinado período. ( ) Tem como objetivo evidenciar a movimentação da conta contábil lucros acumulados, ou seja, a parcela do lucro líquido que permanecer na empresa. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV - III - I - V- II. b) ( ) II - I - III - V - IV. c) ( ) III - IV - I - V - II. d) ( ) III - II - I - IV - V. 63 TÓPICO 3 INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A alta competitividade das empresas nos dias atuais exige cada vez mais preparo destas para atuarem no mercado. Neste contexto, há a demanda por informações que possibilitem conhecer padrões de operações, estimar e prever ocorrências futuras, entre outras. Na realidade, estamos na era da informação e quem a possui detém privilégios que orientam uma vantagem competitiva em relação ao mercado em que atua. Dentre os vários tipos de informações obtidas, as demonstrações contábeis possibilitam aos gestores tomar decisões que orientam a eficácia e a eficiência operacional, econômica, financeira e patrimonial. Para que as demonstrações contábeis forneçam informações úteis para avaliação do desempenho da empresa, utilizam-se técnicas para análise das demonstrações contábeis, como análises por índices ou, ainda, análise vertical e horizontal. Como introdução aos conceitos de análise das demonstrações contábeis, neste tópico serão abordados aspectos relacionados aos objetivos, ao processo, à metodologia de aplicação e ainda quanto à padronização das demonstrações contábeis para sua preparação. 2 FUNDAMENTOS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRACÕES CONTÁBEIS Caro acadêmico! Antes de iniciarmos propriamente as técnicas que envolvem a análise das demonstrações contábeis, é imperativo compreender os principais fundamentos que orientam a aplicação desta metodologia de análise de cenários econômico, financeiro e patrimonial de uma empresa. 64 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2.1 OBJETIVOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Todos que utilizam as demonstrações contábeis buscam produzir informações que tornem possível atender às suas expectativas em relação ao seu objeto de análise. Como produto final da contabilidade, os relatórios contábeis são dados que, uma vez agrupados, geram informações em níveis diversos para os usuários que deles se utilizam. Conforme explica Matarazzo (2003, p. 15), “a análise de balanços objetiva extrair informações das Demonstrações Financeiras para a tomada de decisões”. Isto significa compreender que a utilização do método de Análise das Demonstrações Contábeis tem como objetivo investigar, analisar e contextualizar o desempenho organizacional, produzindo informações de ordem econômica, financeira e patrimonial. Em sentido amplo, comparar períodos passados e prever tendências ou perspectivas futuras de lucratividade e retorno, e ainda projetar cenários que orientem o direcionamento operacional e estratégico nas decisões de financiamento e investimento. 2.2 USUÁRIOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Segundo explica Silva (2010, p. 8), inicialmente, a Análise das Demonstrações Contábeis foi um instrumento utilizado preponderantemente pelas instituições financeiras com o objetivo de avaliar os riscos de crédito; mais tarde, porém, se firmou como instrumento de apoio gerencial e fornecedor de informações para investidores. Os usuários que detêm interesse nas demonstrações contábeis podem representar um vasto número de pessoas, com interesses e necessidades diferentes e que desejam de alguma forma, particular ou coletiva, relacionar-se com a empresa. Estes usuários podem ser denominados de analistas internos ou externos. Os analistas internos são caracterizados pelos sócios ou gestores da empresa que devem possuir uma visão mais proativa, voltados para ações que indiquem desvios e diretrizes da empresa. Seu foco na análise das demonstrações contábeis busca apoiar suas decisões de aumentar ou reduzir investimentos, captar recursos próprios ou de terceiros, expandir ou reduzir as operações, operar na capacidade instalada ou terceirizar no todo ou em parte suas operações, comprar e vender à vista ou a prazo. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 65 Os analistas externos possuem uma enorme gama de usuários, entre eles pode-se destacar: Instituições financeiras: têm como foco analisar a concessão de empréstimos, mediante análise do risco de devolução do principal e da sua remuneração. Fornecedores e clientes: têm como foco analisar a concessão do crédito em termos de volume e prazo, mediante análise da liquidez, rentabilidade e endividamento. Investidores: têm como foco analisar as decisões de investir na compra de ações, adquirir controle acionário, avaliando o risco e o retorno do investimento. Governo: tem como foco analisar a situação de liquidez da empresa em caso de participação em licitações públicas, realizar análise econômica por atividade ou setor econômico e, ainda, analisar situações de evasão fiscal. Empregados e sindicatos: têm como foco analisar a capacidade de gerar valor agregado e distribuir aos empregados, sob forma de participações de lucros, salários e benefícios, e ainda analisar a situação da empresa em termos de continuidade de suas operações (solvência), rotatividade de funcionários e investimentos socioambientais. 2.3 PROCESSO, METODOLOGIA E ETAPAS DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS A informação advinda da análise das demonstrações contábeis depende muito da qualidade gerada no processo contábil responsável pela captação, organização e compilação dos dados gerados pelos eventos contábeis. FIGURA 27 – SEQUÊNCIA DO PROCESSO CONTÁBIL FONTE: Matarazzo (2003, p. 16) Fatos ou eventos econômico- financeiros Demonstrações Financeiras = dados Informações financeiras para a tomadade decisões Processo Contábil Técnicas de Análise de Balanços O contador mantém seu foco nos registros contábeis com a finalidade de produzir as demonstrações contábeis confiáveis em conformidade com seus princípios contábeis. Já o analista de balanços mantém seu foco no produto final da contabilidade, que são as demonstrações contábeis. Estas alimentarão 66 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS o processo de análise das demonstrações contábeis e produzirão informações que atendam às necessidades informacionais de seus usuários, como: liberação de crédito, desempenho da administração, eficiência operacional, solvência, liquidez, entre outros. “A análise de balanços começa onde termina a contabilidade” (MATARAZZO, 2003, p. 17). Este conceito explica muito bem o contexto do processo que alimenta a análise das demonstrações contábeis. Conforme Marion (2005, p. 16), “o estudo da análise das demonstrações contábeis compreende três níveis de complexidade, sendo (i) introdutório, (ii) intermediário e (iii) avançado”. No nível introdutório o entendimento baseia-se apenas nos pontos fundamentais da análise econômico-financeira, sendo liquidez, rentabilidade e endividamento. Este conjunto denomina-se de tripé da análise, conforme se observa na figura a seguir. FIGURA 28 – TRIPÉ DA ANÁLISE FONTE: Marion (2005, p. 15) Este conjunto básico de indicadores proporciona um nível de entendimento básico suficiente, relacionado com a liquidez (seca, corrente e geral), com a rentabilidade gerada (empresa e proprietário) e com o endividamento (na sua quantidade e qualidade). No nível intermediário, aprofunda-se um pouco mais este tripé, buscando mais subsídios para alimentar o sistema de informação e identificar com mais qualidade a situação econômico-financeira de uma empresa. Veja a figura a seguir. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 67 FIGURA 29 – NÍVEIS INTRODUTÓRIO E INTERMEDIÁRIO. FONTE: Marion (2005, p. 16) Neste nível, por exemplo, pode-se aprofundar as análises dos indicadores de liquidez, utilizando-se a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC, estabelecer os níveis de necessidade de capital de giro e os saldos disponíveis em tesouraria. Para o endividamento, pode-se aprofundar as análises com a alavancagem financeira, enquanto que nas análises de rentabilidade se pode obter lucratividade das operações, produtividade gerada e investigar as variações de retorno do investimento através do conceito margem versus giro do modelo DU PONT. No nível avançado, as análises se tornam mais consistentes e as informações geradas proporcionam maior qualidade das decisões em relação à situação econômico-financeira da empresa analisada, que, segundo Marion (2005, p. 17), entre outras podem ser: • indicadores combinados (avaliar a empresa ponderando a capacidade conjuntamente ao tripé, dando uma nota final); • análise da Demonstração do Valor Agregado (avalia a capacidade de gerar renda, e como essa renda gerada é distribuída); • liquidez dinâmica (liquidez econômica, patrimonial etc.); • projeções das Demonstrações Contábeis e sua análise; • análise com ajustamento das Demonstrações Contábeis no nível geral de preços; • análise por meio de dividendos por ações e outros indicadores para as empresas de capital aberto com ações cotadas no mercado; 68 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS • análise das variações de fluxo econômico versus financeiro; • outros modelos de análise: EVA, MVA, Balanced Scorecard etc. Tais indicadores, considerados no nível avançado, proporcionam informações mais complexas, porém extremamente ricas e úteis à tomada de decisão e que devem ser preparadas da forma mais simples possível, para facilitar a compreensão da conclusão obtida com a análise dos dados extraídos. Desta forma, os relatórios produzidos pelas demonstrações contábeis devem apresentar uma linguagem compreensível a todos os seus usuários, inclusive com o uso de ilustrações, gráficos e tabelas que facilitem o entendimento das proposições mais complexas. Neste contexto, concorda-se com as palavras de Iudícibus (1997, p.113), o qual ressalta que “é importante utilizar, nas demonstrações, uma terminologia clara e relativamente simplificada”. IMPORTANT E Os relatórios produzidos pelas análises das demonstrações contábeis serão estudados no próximo capítulo. Segundo explica Matarazzo (2003, p. 19), “a Análise de Balanços baseia-se no raciocínio científico”, conforme se observa na figura a seguir: FIGURA 29 – PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO FONTE: Matarazzo (2003, p. 19) Escolha de indicadores Decisões Etapa 1: 2 3 4 Comparação com os padrões Diagnóstico ou conclusões Análise A escolha dos indicadores é a primeira etapa do processo e condiciona as informações que servirão de base comparativa com os padrões para estabelecer o diagnóstico e concluir a melhor decisão baseada na análise dos dados. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 69 Imagine que você vai preparar uma receita de bolo. Neste caso, a receita é o padrão estabelecido que serve de comparação com os ingredientes que serão utilizados para preparar o bolo. O cozinheiro analista verifica os ingredientes (indicadores) e compara com receita (padrões) e conclui que está seguindo adequadamente a receita, portanto tomou a decisão assertiva para preparar um delicioso bolo para servir aos convidados. O campo das medicinas, das engenharias, entre outras profissões, também se baseia no raciocínio científico, assim como na análise das demonstrações contábeis, cujo processo deve, segundo Matarazzo (2003, p. 20), proceder da seguinte forma: 1. extraem-se índices das demonstrações financeiras; 2. comparam-se os índices com os padrões; 3. ponderam-se as diferentes informações e chega-se a um diagnóstico ou conclusões; 4. tomam-se decisões. Desta forma, observa-se que para garantir um adequado e eficiente processo de análise das demonstrações contábeis, o analista deve ponderar tais etapas durante a análise. Contudo, pressupõe que o analista das demonstrações contábeis tem conhecimento suficiente sobre os efeitos causados no patrimônio líquido da entidade por meio dos eventos contábeis e, portanto, deverá seguir algumas etapas que o tornarão apto no processo de análise das demonstrações contábeis, conforme se demonstra a seguir: FIGURA 30 – ETAPAS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS FONTE: Silva (2010, p. 87) Coleta de dados Conferência dos dados coletados Preparação dos dados para análise Processamento de dados Análise dos dados Elaboração do relatório ou parecer Conforme se observa na figura anterior, baseada em Silva (2010), a análise das demonstrações contábeis deve ser concluída em seis etapas, a saber: Coleta de dados: nesta etapa o analista busca obter os dados das demonstrações contábeis que alimentarão o sistema de análise, como: balanço patrimonial (BP), demonstração de resultados do exercício (DRE), demonstração dos fluxos de caixa (DFC), demonstração das mutações do patrimônio líquido (DMPL), demonstração dos lucros acumulados (DLPA), entre outros. As informações podem ser coletadas em jornais e revistas especializadas, ou ainda em sites das empresas ou no site da Bolsa de Valores Mobiliários do Estado de São Paulo (BOVESPA) ou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 70 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS O analista deve também se utilizar, principalmente, dos relatórios da administração para coletar informações relevantes do negócio da empresa, como concorrência, tendências e implicações de conjuntura econômica e principais direcionamentos estratégicos da empresa para o futuro, relacionados com seu mercado, produtos, tecnologias, entreoutros. Conferência dos dados coletados: nesta etapa se busca o nível de qualidade dos dados coletados, que darão subsídio ao tratamento das informações obtidas das peças contábeis, relacionados com confiabilidade, objetividade, compreensibilidade, comparabilidade, entre outras considerações de padronização de informações. Preparação dos dados para análise: esta é uma das etapas mais importantes, visto que é de grande valia na padronização e adequação das demonstrações contábeis. Também há a necessidade de reclassificar algumas contas que deverão ser ajustadas a um padrão que torne possível comparar os dados da empresa com os de outras. Processamento de dados: nesta etapa os dados são preparados em formato eletrônico ou não, cujo processamento dos dados levantados será transformado em informações de análise vertical ou horizontal e em indicadores econômico- financeiros. Análise dos dados: esta etapa envolve a percepção e experiência do analista das demonstrações contábeis, que com base no conhecimento da empresa, seu cenário econômico e os efeitos inflacionário e cambiais, poderá inferir sobre os dados resultantes da análise vertical e horizontal, alavancagem, necessidade de capital de giro, estrutura de capital da empresa. Esta análise levará o analista a inferir sobre a situação econômica e financeira da empresa e decidir sobre a concessão ou não do crédito solicitado. Esta formalização se materializa através da elaboração do relatório ou parecer de análise das demonstrações contábeis. Elaboração do relatório ou parecer: etapa final em que o analista propõe organizar e estruturar todos os pontos da situação econômico-financeira a serem recomendados em sua análise sobre as demonstrações contábeis da empresa. Conclui-se então que um analista precisa expor de forma clara e simples, porém com objetividade e consistência, uma análise da situação econômico- financeira da empresa analisada, para que seja tomada a decisão mais adequada para satisfazer a finalidade de sua análise. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 71 2.4 PADRONIZAÇÃO E RECLASSIFICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PARA EFEITOS DE PREPARAÇÃO DA ANÁLISE A necessidade de padronização para apresentação das demonstrações contábeis busca facilitar a sua elaboração, e indiscutivelmente as normas emitidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) seguem uma padronização de apresentação que ajuda na simplificação e na comparabilidade, evitando reordenar as contas, principalmente as relacionadas com o balanço patrimonial, que normalmente precisam ser reorientadas para proporcionar uma adequada análise econômico-financeira. Para a elaboração e publicação das demonstrações contábeis, em consonância com a LSA em seus artigos 176 e 177, algumas regras de padronização devem ocorrer com periodicidade, logo deve ser preparada ao fim de cada exercício social, que pode ou não coincidir com o exercício fiscal. Também devem ser claras em relação à informação do patrimônio líquido da empresa, e para que haja comparabilidade devem sempre ser publicadas, juntamente com os saldos correspondentes ao exercício anterior. Não são permitidos agrupamentos de contas com denominações genéricas do tipo “contas diversas”, que interfiram na clareza das demonstrações contábeis. As demonstrações contábeis, quando auditadas, permitem maior confiabilidade em seus saldos, pois nas não auditadas existe maior probabilidade de se incorrer em erros de classificação das contas e devem ser objeto do analista para sua correção antes da análise. Pode-se inferir que a qualidade das informações contábeis, para fins de análise das demonstrações contábeis, deve sempre levar em consideração a confiabilidade, com base em relatórios precisos e devidamente auditados, com uma abrangência de informações completa acerca da empresa analisada, com objetividade para enfocar o ponto principal e sempre oportunizar dados atuais. Cada empresa apresenta de forma diferente a publicação das demonstrações contábeis, de acordo com as normas brasileiras, portanto, cabe ao analista, quando necessário, reclassificá-las para adequá-las a um padrão comparável, conforme se observa na figura a seguir: 72 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS FIGURA 31 – AJUSTES OU RECLASSIFICAÇÕES DE CONTAS FONTE: Os autores Demonstrações Contábeis Demais informes Contábeis Demonstrações contábeis ajustadas para análise dos indicadores Interpretação, análise e parecer Reclasssificação O analista das demonstrações contábeis deve fazer as adaptações que julgar necessárias, sem transgredir as normas estabelecidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) e as normas emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis alinhadas com os padrões internacionais. A reclassificação não ocorre apenas pelo agrupamento de contas dentro de um mesmo grupo, mas também reclassificando as contas, conforme explica Silva (2010, p. 91): Antes de serem procedidas quaisquer reclassificações de contas, o analista deverá verificar se os saldos das contas expressam relevância em relação ao grupo de contas ao qual pertencem. Caso a permanência do saldo da conta no seu grupo natural não venha a distorcer significativamente os índices apurados, o analista poderá dispensar tal reclassificação. Contudo, para que o analista das demonstrações contábeis obtenha dados mais confiáveis, principalmente relacionados com o balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício, seria necessário reclassificar algumas contas, conforme se evidencia na figura a seguir. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 73 QUADRO 4 – AJUSTES QUE PODERÃO SER EFETUADOS NO BALANÇO PATRIMONIAL Conta Grupo Natural Grupo pós- reclassificação Comentários Duplicatas Descontadas Ativo Circulante Passivo Circulante (Aumentando) Existe a corresponsabilidade da empresa junto ao banco pela liquidação do título, caso seu cliente não quite a dívida. Despesas do Exercício Seguinte Ativo Circulante Patrimônio Líquido (Reduzindo) O que existe é um direito a receber por um serviço a ser prestado por terceiros durante o exercício seguinte. Dessa forma, o saldo desta conta será transferido para a conta de resultado do exercício seguinte e, portanto, não se transformará em disponibilidade. Imobilizações em andamento Ativo Não Circulante/ Imobilizado Eliminado Como estes recursos estão aplicados em bens que ainda não estão em fase de produção, não deverão ser considerados na análise de rentabilidade do ativo. Receita Diferida* Passivo Não Circulante/ Receita Diferida Patrimônio Líquido (Aumentando) Esses valores são efetivamente receitas ou despesas de exercícios futuros, que devem ser reclassificados em razão do não desfazimento do negócio. * De acordo com as alterações da LSA, introduzidas pela Lei nº 11.638/07 e Lei nº 11.941/09, o saldo porventura existente em 1º-1-2008, no grupo Resultado de Exercícios Futuros, deverá ser reclassificado para o passivo não circulante em conta representativa de receita diferida, evidenciando o respectivo custo diferido. FONTE: Silva (2010, p. 91) Vamos considerar, como exemplo, uma situação em que uma empresa detém evidenciados, em seu Balancete Patrimonial, um ativo circulante de R$ 120.000,00 e um saldo em contas a receber em 20x1 de R$ 50.000,00 desta carteira, e no mesmo período efetuou uma operação bancária de desconto no valor de R$ 10.000,00, com um passivo circulante de 60.000,00, assim configurado: FIGURA 32 – BALANÇO PATRIMONIAL EM 20X1 FONTE: Os autores Ativo 20x1 Ativo Circulante 120.000 Disponibilidades 20.000 Contas a receber 50.000 (-) Duplicatas descontadas -10.000 40.000 Estoques 60.000 Passivo 20x1 Passivo Circulante 60.000 Fornecedores 40.000 Empréstimos 20.000 74 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Observe que no Balanço Patrimonial a conta “Contas areceber” teve seu saldo reduzido pelo valor referente a duplicatas descontadas, que foi disposto de forma a representar o saldo real de duplicatas a receber pela empresa. Porém, em uma análise econômico-financeira o índice de liquidez seria influenciado por esta configuração do Balanço Patrimonial, pois obteria um índice de liquidez de 2,00, indicando a existência de R$ 2,00 de ativos de curto prazo para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo. O analista, ao perceber, fará a reclassificação dos saldos, ficando disposto em nova configuração, conforme se apresenta na figura a seguir: FIGURA 33 – BALANÇO PATRIMONIAL EM 20X1 RECLASSIFICADO FONTE: Os autores Ativo 20x1 Ativo Circulante 130.000 Disponibilidades 20.000 Contas a receber 50.000 Estoques 60.000 Passivo 20x1 Passivo Circulante 70.000 Fornecedores 40.000 Empréstimos 30.000 Na nova reconfiguração do Balanço Patrimonial em 20x1, reclassificamos os valores provenientes das operações de desconto do lado do ativo para o lado do passivo, pois se trata de uma dívida da empresa e, portanto, aumentará o saldo por se tratar de obrigações desta em curto prazo, caso seu cliente não pague. Com base nesta reclassificação, o indicador de liquidez (ativo circulante ÷ passivo circulante) será de 1,86 (130.000/70.000), indicando que para cada R$ 1,00 de dívidas a curto prazo a empresa possui R$ 1,86 em ativos de curto prazo para receber. Perceba que uma simples reclassificação afetou a análise de liquidez em 7% (2,00 para 1,86) e, portanto, este tipo de situação deve ser observada pelo analista das demonstrações contábeis. Caro acadêmico! Agora que você conheceu as demonstrações contábeis que podem ser utilizadas e recebeu as instruções iniciais para começar a coletar, conferir e preparar as análises das demonstrações contábeis, entraremos na análise propriamente dita, que será objeto da próxima unidade. Bons estudos e até lá! TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 75 LEITURA COMPLEMENTAR ASPECTOS RELEVANTES DA ANÁLISE DE BALANÇOS SÃO IGNORADOS EM PROCESSOS DE LICITAÇÃO Aderbal N. Müller Percebe-se na prática que muitos aspectos importantes do processo de análise das demonstrações contábeis, mais conhecida como análise de balanços, são ignorados por seus usuários. As demonstrações contábeis ou financeiras, previstas no artigo 176 da Lei 6.404/76, são elaboradas por profissionais da área contábil, atendendo aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade. Ocorre que sua utilização dentro dos processos de licitação, notadamente nas concorrências públicas, encontra a análise e a preparação de editais por profissionais leigos à ciência contábil. Assim, encontramos análises simples e descompromissadas com o real objetivo do processo, análises com pura aplicação de fórmulas transcritas de outros editais ou de livros, sem a preocupação com o seu fundamento intrínseco. É lamentável que os acadêmicos ainda não tenham se manifestado com tamanha ênfase a respeito, e que a discussão sobre este tema ainda seja tão escassa. Dentro deste artigo, vamos analisar alguns aspectos que podem ser discutidos, sem elucubrações ou variantes adicionais, preservando o bom entendimento do leitor, que também pode ser leigo. A Lei 6.404/76, conhecida como Lei das Sociedades por Ações, teve mais uma recente alteração, com a edição da Lei 10.303/2001, porém sem modificações no que se refere às demonstrações financeiras. Esta lei é também aplicável, em muitos casos, às sociedades de outros tipos jurídicos, como as sociedades por quotas de responsabilidade limitada e as sociedades civis, com ou sem caráter mercantil. O artigo 176 da Lei 6.404/76 prevê a elaboração, ao final de cada exercício social, das seguintes demonstrações: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) e Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). O artigo 186 disciplina que, quando elaborada a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e nela contida, portanto, a DLPA, esta não precisa ser elaborada. A Instrução CVM 59/86, emitida pela Comissão de Valores Mobiliários, reforça o artigo 186. Sendo a DOAR obrigatória apenas para as sociedades por ações, inclusive de capital fechado, ficam as limitadas dispensadas de sua elaboração. Assim, uma sociedade limitada tem por obrigação a confecção do Balanço Patrimonial, da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e da Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). Esta última, porém, é muitas vezes ignorada na elaboração do rol de demonstrações a serem apresentadas nas licitações. É um erro formal, mas ressaltamos que a DLPA é uma demonstração obrigatória. O escopo desta perspectiva pode também ser encontrado no Regulamento do Imposto de Renda, Decreto 3.000/99. 76 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS As demonstrações financeiras ou contábeis são elaboradas de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade. Em especial, destaque-se a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 686/90, que aprova a NBC T 3, Norma Brasileira de Contabilidade Técnica número 3, que trata de dispositivos de estruturação das demonstrações. Deste modo, as demonstrações contábeis são formais, e obedecem a uma estrutura singular, não cedendo margem a manobras ou interpretações que possam prejudicar o bom entendimento delas. Os grupos de contas são classificados de acordo com uma sistemática bem definida, e qualquer irregularidade pode comprometer a demonstração. Os grupos de contas dentro do Balanço Patrimonial, por exemplo, identificados como Ativo Circulante, Ativo Realizável a Longo Prazo e Ativo Permanente, e no Passivo os grupos do Passivo Circulante, Exigível a Longo Prazo, Resultados de Exercícios Futuros e Patrimônio Líquido, possuem características próprias e bem definidas para a Contabilidade. Para iniciarmos um processo de análise de balanços, devemos conhecer seus objetivos. Os objetivos de uma análise de balanços são diversos, e podem atender a uma infinita gama de usuários. Conhecidos os objetivos, devemos preparar as demonstrações para a análise, reclassificando muitas vezes alguns saldos, padronizando as demonstrações para efeitos de comparabilidade, readequando sua apresentação, entre outros procedimentos. Tem-se percebido que, nos processos de licitações, em especial na qualificação econômico- financeira solicitada nos editais de concorrência, este aspecto é simplesmente ignorado. Os cálculos são justificados por fórmulas de conhecimento comum entre os licitantes, normalmente sendo sempre as mesmas ou muito similares, sem qualquer menção à reclassificação de contas ou tratamentos particulares para atendimento ao objetivo proposto. Aqui, deve-se identificar o previsto no artigo 31, parágrafo 5º da Lei 8.666/93, que roga pelo uso de indicadores comuns e impede a utilização de modelos especiais, procurando evitar aberrações à ciência contábil. Ainda assim, devemos ter o cuidado necessário a um bom processo de análise. Por exemplo: estaria correta a alocação das despesas antecipadas dentro do ativo circulante, para efeitos de análise da liquidez? Vamos lembrar a fórmula da liquidez corrente, que é obtida pela divisão do montante do ativo circulante pelo montante do passivo circulante. São componentes do grupo Ativo Circulante as contas representativas de saldos de disponibilidades (caixa, bancos, aplicações financeiras), os créditos de curto prazo (conforme entendimento contábil), os estoques e as despesas antecipadas (despesas pagas antecipadamente, que comporão o resultado em períodos futuros). São componentes do Passivo Circulante as obrigações vencíveis a curto prazo (no entendimento contábil, curto prazo refere-se a vencimentos que ocorrerão até o término do exercício social seguinte ao ano da demonstração).Analisados os componentes, verifica-se que dentro do Ativo Circulante algumas parcelas não se convertem em espécie, não sendo componentes representativos de liquidez da entidade analisada. Em especial podemos citar as despesas pagas antecipadamente, que se apropriarão ao resultado na DRE, não gerando caixa. No processo de análise, este tipo de saldo deveria ser reclassificado. Outros casos que se pode mencionar referem-se ao saldo redutor de duplicatas descontadas TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 77 ou ao valor do estoque mínimo de segurança, dentro do ativo circulante. Vamos tomar outro exemplo, lembrando agora a fórmula da liquidez geral, apenas para completarmos a visão com a reclassificação dentro dos grupos passivos. No Passivo Circulante são lançadas as obrigações de curto prazo. As obrigações de longo prazo são lançadas no grupo do Passivo Exigível a Longo Prazo, e correspondem às obrigações com vencimento além do término do exercício social subsequente à elaboração das demonstrações. Ocorre que existe um grupo de contas logo abaixo do exigível a longo prazo, e antes do Patrimônio Líquido (PL), denominado de Resultados de Exercícios Futuros, previsto na Lei 6.404/76 em seu artigo 178, parágrafo 2º, e no artigo 181. Este grupo contempla uma dificuldade especial de utilização pela classe contábil, face à sua especificidade. É muito difícil encontrar uma conta que realmente se enquadre nas características deste grupo, razão pela qual a NBC-T 3 o omite. A natureza das contas deste grupo indica que os valores ali alocados não podem representar obrigação de qualquer espécie por parte da entidade. Quando representam obrigação, tais valores devem ser devidamente consignados nos grupos de passivo circulante ou exigível a longo prazo, conforme o caso. A pergunta a se fazer é: qual o tratamento a ser dado ao grupo de Resultados de Exercícios Futuros, que eventualmente apareçam nas demonstrações de algum licitante, para fins de análise? Observe a fórmula de liquidez geral e perceba que haveria uma alteração em seu denominador, caso a reclassificação acontecesse para os grupos passivos. Alguns autores na área de análise de balanços consideram a possibilidade de reclassificação deste tipo de saldo diretamente ao PL, o que viria a interferir em outros índices no processo de análise, como os índices de rentabilidade ou de endividamento, considerados sobre o PL. O processo de análise das demonstrações contábeis pode ser realizado de diversas formas: análise propriamente dita, análise por quocientes, análise vertical, análise horizontal ou comparação com padrões (setoriais, por exemplo). De toda forma, a análise reveste-se de aspectos estáticos e dinâmicos e nenhum índice deve ser considerado isoladamente. Neste contexto, surge um novo questionamento, que diz respeito aos valores apresentados nas demonstrações e o conceito de tempo: e o aspecto inflacionário? Ainda que tenhamos certa estabilidade de nossa moeda e um processo inflacionário mais estável, certamente a variação dos valores no tempo é um fator a ser considerado. O que disciplinaria a matéria nos casos de licitações seria o artigo 31 da Lei 8.666/93, quando prevê a possibilidade de atualização dos valores apresentados nas demonstrações exigidas, quando estas forem encerradas há mais de três meses. Tal atualização seria realizada por índices oficiais. Devemos analisar o contexto, observando a qualidade e a distinção dada por outro diploma legal, a Lei 9.249/95, que, em seu artigo 4º, extinguiu a correção monetária de balanços, inclusive para fins societários. Não se pode afirmar a revogação de um artigo pelo outro, por tratarem-se de leis especiais, tratando de objetos específicos, mas também não se pode ignorar a interferência direta que isto oferece no processo de análise desses balanços. Em um exemplo hipotético, em que o edital corrobore com o citado artigo 31 e aceite uma atualização, como haveria comparabilidade entre os indicadores dos diversos participantes, se alguns atualizassem seus números e outros não? É verdade que muitos editais 78 UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS não estão prevendo a atualização dos saldos, mas a discussão permanece e, aos olhos de um analista e dos juristas interessados pela matéria, esta controvérsia precisa ter um fim. Por fim, e para enaltecer uma visão de objetivos dada por um texto normativo, o item 7.2 da IN MARE 05/95 flexibiliza a apresentação alternativa de um indicador por outro. Este item prevê a possibilidade de uma empresa apresentar índice de liquidez geral, solvência geral ou liquidez corrente inferior a um. Nesta situação, alternativamente, considerados os riscos para a administração e a critério da autoridade competente, deverão comprovar capital mínimo ou PL mínimo como exigência para a classificação, ou ainda ser solicitada uma garantia para fins de contratação. Justo e aplicável, pois a flexibilidade é uma exigência do mercado e a análise de balanços fica congratulada pelo respeito à variabilidade dos índices e pela análise conjugada de diversos fatores do processo, sem um entendimento castrado pela simples observância de um indicador isolado. Devemos enaltecer também modelos, como o adotado pela SERASA há vários anos, onde índices setoriais parametrizam, estatisticamente, os diversos indicadores a serem considerados no processo de análise. Lamentamos, no entanto, a falta de divulgação destes parâmetros e a dificuldade que nós, analistas, encontramos, quando solicitamos tal tipo de informação para a SERASA. A sugestão que se faz, para engrandecimento da própria entidade e da sociedade, é a da criação de um boletim setorial ou panorâmico nacional, com os indicadores SERASA. Elogios à Gazeta Mercantil1, que realiza uma análise setorial com as maiores empresas de cada segmento, e divulga o Balanço Anual, explicitando todos estes números. Apenas para lembrar, e como relato histórico, o estimado Professor Stephen Charles Kanitz idealizou um modelo de indicador de solvência empresarial, há vários anos, que ficou conhecido como o Termômetro de Solvência de Kanitz. Tal indicador foi bastante utilizado, e junto com outros, como o de Mathias, Altman, Elizabetsky e José Pereira da Silva, criaram uma nova forma à análise de balanços. Em verdade, parâmetros estatísticos pré-admitidos podem causar distorção nos processos de licitação, o que ocasiona a vedação de modelos especiais, também prevista no artigo 31, parágrafo 5º da Lei 8.666/93. Por que, então, ainda encontramos fórmulas como a CFD – Capacidade Financeira Disponível nos Editais? Não seria um modelo especial? Há ainda muito de moralidade a ser discutida nas licitações ocorridas em nosso país. Bem, moralidade, auditoria e corrupção podem ser objeto de outro artigo, talvez. 1 O jornal Gazeta Mercantil circulou pela última vez em maio de 2009. TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 79 Por enquanto, permaneço a observar as análises de balanços efetuadas e suas incoerências, pensando a cada dia em como melhorar os processos e sintonizar as ideias que possam contribuir com a ciência contábil e com o nosso país! FONTE: Disponível em: <http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/revista/revista137/ aspectos.htm>. Acesso em: 4 set. 2013 80 Neste tópico vimos que: • O objetivo das demonstrações contábeis é produzir informações que tornem possível atender às expectativas em relação ao seu objeto de análise. • Os usuários das demonstrações contábeis são as instituições financeiras, fornecedores e clientes, investidores, governo, empregados e sindicatos, entre outros. • As etapas para a análise das demonstrações contábeis são a coleta de dados, conferência dos dados coletados, preparação dos dados para análise, processamento de dados, análise dos dados e elaboração do relatório ou parecer. • A qualidade das informações contábeis parafins de análise das demonstrações contábeis deve sempre levar em consideração a confiabilidade, relatórios precisos e devidamente auditados, com informações completas acerca da empresa analisada e objetividade para enfocar o ponto principal e manter dados atuais. • Para que o analista das demonstrações contábeis obtenha dados mais confiáveis, principalmente relacionados com o balanço patrimonial e com a demonstração do resultado do exercício, seria necessário reclassificar algumas contas que interferem nos indicadores econômico-financeiros. RESUMO DO TÓPICO 3 81 1 Aplicação da Análise das Demonstrações Contábeis requer etapas a serem seguidas. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Coleta de dados II- Conferência de dados coletados III- Preparação dos dados para análise IV- Processamento de dados V- Análise dos dados ( ) Momento em que o analista forma sua opinião baseado em sua percepção e experiência. ( ) Momento em que os dados serão transformados em informações para análise. ( ) Momento em que o analista busca obter dados. ( ) Momento em que os dados são padronizados e adequados para análise. ( ) Momento em que o analista busca cercar-se da qualidade dos dados. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - IV - I - III - II. b) ( ) II - IV - III - V - I. c) ( ) I - IV - II - V - III. d) ( ) V - II - IV - III - I. 2 Os usuários que detêm algum interesse nas demonstrações contábeis possuem as mais variadas necessidades informacionais. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Analistas internos II- Instituições financeiras III- Fornecedores e clientes IV- Investidores V- Governo ( ) Interesse em analisar a liquidez para fins de participação em licitações públicas e análise de possível evasão fiscal. ( ) Interesse em analisar a concessão de crédito em relação a volume e prazo com base na sua capacidade financeira. ( ) Interesse em analisar o risco e retorno de investir na compra de ações ou adquirir o controle acionário. ( ) Interesse em analisar a concessão de empréstimos mediante avaliação dos riscos envolvidos. ( ) Interesse em analisar o desempenho sob a ótica de gestão operacional e financeira com ações voltadas para a correção dos desvios em relação ao plano. AUTOATIVIDADE 82 Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - III - IV - II - I. b) ( ) II - IV - III - V - I. c) ( ) I - IV - II - V - III. d) ( ) V - II - IV - III - I. 3 Complete as lacunas: O objetivo da análise das demonstrações contábeis é extrair os dados ____________ da contabilidade produzidos pelas ______________ para gerar as informações de interesse do ____________. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) bruto – demonstrações contábeis – usuário. b) ( ) líquidos – DVAs – analista. c) ( ) financeiros – demonstrações dos fluxos de caixa – analista. d) ( ) econômicos – estruturas contábeis – profissional contábil. 83 UNIDADE 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • conhecer, calcular e interpretar índices ou quocientes de liquidez, estrutu- ra de capital, lucratividade e rentabilidade; • conhecer, calcular e interpretar os indicadores de atividade; • calcular o índice-padrão; • conhecer e aplicar a técnica de análise vertical e horizontal para interpre- tação das demonstrações contábeis; • reclassificar as contas do ativo circulante para analisar as dinâmicas de capital de giro na gestão empresarial; • conhecer os conceitos de criação de valor econômico e calcular o indicador EVA – Economic Value Added. • conhecer os conceitos de EBITDA e calcular o indicador; • identificar alguns indicadores fundamentalistas e seus conceitos; • conhecer os principais modelos de insolvência; • identificar os componentes de um relatório de análise das demonstrações contábeis. Esta unidade está dividida em seis tópicos. No primeiro, você conhecerá os principais indicadores econômico-financeiros e como interpretá-los. Além disso, terá conhecimento de como desenvolver o índice-padrão. No segundo tópico será abordada a técnica de análise vertical e horizontal para identificar variações relevantes em sua estrutura e em sua evolução histórica. No tercei- ro tópico será demonstrado como reclassificar as contas do circulante para identificar as dinâmicas envolvidas com o capital de giro e a necessidade de capital de giro. No quarto tópico você conhecerá os conceitos relacionados com a criação de valor das empresas, EBITDA e indicadores fundamenta- listas. No quinto tópico serão apresentados os modelos de previsão de in- solvência mais conhecidos e aplicados no Brasil. No sexto e último tópico serão abordados os aspectos relacionados com a estrutura e composição dos relatórios de análise das demonstrações contábeis. TÓPICO 1 – ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES TÓPICO 2 – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL 84 TÓPICO 3 – ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO TÓPICO 4 – ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA TÓPICO 5 – MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA TÓPICO 6 – RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 85 TÓPICO 1 ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Seria óbvio imaginar que qualquer atividade, por mais simples que possa parecer, envolverá uma análise crítica de seu desempenho. Por exemplo, o simples fato de nos locomovermos de um ponto a outro, independente da distância, requer, no mínimo, uma análise de percurso para identificar se há obstáculos no caminho, uma avaliação tempo versus a distância a ser percorrida, desse modo estabelecemos uma análise baseada em dados empíricos. É verdade, contudo, que esta análise e a interpretação dos dados foram necessárias para realizar a tarefa com sucesso. Outro exemplo que pode ser utilizado é o de um piloto de corrida automobilística que precisa estar atento a todos os indicadores do painel de instrumentos, seja a temperatura do motor, pressão do óleo, combustível, pneu, velocidade e assim por diante. Mas o que todos esses casos têm em comum? Caro(a) acadêmico(a), a resposta é muito simples! Em todos os casos, a análise realizada que proporcionou a interpretação dos dados exigiu, obrigatoriamente, uma comparação com um padrão preexistente. Nas empresas, o seu diagnóstico econômico-financeiro também necessita de análise baseada em padrões que determinem ou indiquem o desempenho atribuído. Neste contexto, a análise de balanços utiliza-se de várias técnicas, entre elas a análise por índices ou quocientes, que será vista neste tópico. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 86 2 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS ÍNDICES OU QUOCIENTES A técnica de análise de índices ou indicadores, também denominados de quocientes, é a mais utilizada em análise de balanços, pois sua finalidade baseia- se em suprir o analista de informações econômico-financeiras de uma empresa. A extração de um índice de uma ou mais demonstrações contábeis se dá pela inter-relação entre os dados de valores absolutos, de um numerador e um denominador, que resultam no quociente ou índice. Numerador = Índice ou quociente Denominador Imagine que a empresa mantém um saldo médio de disponibilidade diária de entradas no caixa da empresa de R$ 50.000,00 e que as vendas diárias sejam de R$ 125.000,00. Logo, se percebe que nem todas as vendas da empresa são realizadas à vista, ou seja, apenas 40%, conforme podemos observar a seguir. 50.000,00 = 0,40 125.000,00 O cálculo do índice é apenas a primeira etapa do processo, pois ainda é necessário interpretar, ou seja, explicar o seu significado e comparar com um padrão para concluir se o desempenho do índice é bom ou ruim. IMPORTANT E Lembre-se de que para realizar o cálculo dos indicadores para análise é necessário primeiro padronizar as demonstrações contábeis, preparando-as para gerar a informação correta originada pelos indicadores. Em uma análise de balanço,o analista não deve se preocupar em elaborar um grande número de índices, seu foco deve ser na qualidade, para atingir os objetivos da análise para o público interessado. Deve-se, portanto, preparar um conjunto de índices que forneçam a informação necessária da situação da empresa, conforme o nível desejado. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 87 Por exemplo, se a profundidade de um conjunto de indicadores tem como objetivo atender à demanda de crédito para venda de mercadoria, talvez alguns indicadores básicos relacionados com o endividamento, liquidez e rentabilidade sejam suficientes. Contudo, se o objetivo for uma proposta para aquisição de uma empresa, lógico que a profundidade de análise do conjunto de indicadores seria muito maior. Isto, no intuito de confirmar com mais assertividade as políticas da empresa que determinam seu estado de solvência. Neste contexto, o conjunto de indicadores para análise de balanço é dividido em indicadores financeiros e indicadores econômicos que revelam a situação da empresa, conforme demonstrado na figura a seguir: FIGURA 34 – CLASSIFICAÇÃO DOS ÍNDICES FONTE: Os autores Situação Financeira Estrutura Liquidez Situação Econômica Rentabilidade Lucratividade A situação financeira relaciona os indicadores da estrutura de capital da empresa e de liquidez. Como exemplos de indicadores da estrutura de capital temos: Participação de Capitais de Terceiros, Composição do Endividamento e Imobilização do Patrimônio Líquido; e como exemplos de indicadores de liquidez: Liquidez Geral, Liquidez Corrente e Liquidez Seca. O detalhamento de cada um destes e outros indicadores será visto mais adiante em nosso Caderno de Estudos. Uma das etapas mais importantes na análise por índices consiste em compreender o significado de cada um, avaliando desta forma o seu desempenho indicativo ou de alerta. Segundo descreve Matarazzo (2003), há três formas de avaliação de um índice, sendo: (i) pelo seu significado intrínseco, (ii) pela comparabilidade ao longo do tempo e (iii) pela comparabilidade com índices de outras empresas, utilizando-se o índice-padrão. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 88 Numa avaliação de índice pelo seu significado intrínseco, busca-se apenas compreender a essência do índice com base no julgamento do analista. Supondo que o índice de Rentabilidade do Ativo Total (Lucro Líquido dividido pelo Ativo Total) é de 0,30, o analista pode concluir que a empresa gera R$ 0,30 de lucro para cada R$ 1,00 de ativos investidos. Nesta avaliação também poderia se concluir que o lucro deverá remunerar o investimento (ativo total) em três anos e quatro meses, pois uma folga de 30% de lucro gerado em relação ao ativo por ano causará um retorno no tempo indicado (100% dividido por 30% será igual a 3,33 anos). Para o analista, um índice de Rentabilidade do Ativo de 0,30 ou 30% poderia ser considerado excelente em termos de desempenho; contudo, no contexto de um determinado setor econômico pode não representar um bom desempenho. Por exemplo, imagine um supermercado que necessita comprar e vender produtos com giro rápido. Como sua margem de lucro (ganho operacional) é pequena, precisa fazer girar as vendas tantas vezes mais para obter um retorno adequado. Agora imagine que este supermercado, para manter estoques em giro muito alto, requer níveis de capital de giro elevado e suas dívidas de curto prazo tendem a ser elevadas. Neste caso, devido ao custo de captação, talvez seu custo de capital apresente nível mais elevado, necessitando obter lucratividade maior para remunerar adequadamente seus investimentos (ativo total). Uma avaliação de índice pela comparabilidade ao longo do tempo permite ao analista perceber as tendências da empresa ao longo de determinado período comparável: meses, semestres, anos, entre outros. Por exemplo: ao longo do tempo, pode-se perceber um aumento do endividamento da empresa, porém com aumento mais acentuado da lucratividade. Com o aumento do endividamento em curto prazo, gera-se uma redução do grau de liquidez. Todas essas informações juntas podem fornecer ao analista uma posição ou tendência, ao longo do tempo, baseada na gestão dos recursos da empresa. A avaliação de índice pela comparabilidade com os índices de outras empresas compara e avalia através de índices predeterminados, denominados de índice-padrão, se o seu desempenho é bom ou ruim. Quando comparado aos padrões, podemos inferir um sentido de qualificação, classificando-o, por exemplo, em ótimo, bom, satisfatório, razoável ou deficiente. Isto não quer dizer que, quando comparado ao padrão, sempre será desta forma! Observe que, por melhor que você possa pilotar, jamais poderia ser comparado a um piloto de Fórmula 1, acostumado com o padrão deste tipo de circuito. Por isso, comparações de um elemento somente devem ser feitas dentro de um conjunto ou universo, para então podermos qualificá-lo. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 89 Partindo deste princípio, agora você pode comparar corredores como Ayrton Senna, Nigel Mansell, Nelson Piquet, Juan Manuel Fangio, Michael Schumacher ou Alain Prost, que, sem dúvida, foram excepcionais pilotos de Fórmula 1, e suas qualificações podem ser comparadas. Matarazzo (2003, p. 184) explica que “não se pode conceber uma boa análise sem a comparação dos índices da empresa analisada com padrões”. Para que seja realizada uma comparação, é preciso inferir que um índice deve ser QUANTO MAIOR, MELHOR ou QUANTO MENOR, MELHOR ou que atinja um ponto ótimo em torno de um parâmetro. Vamos imaginar, como exemplo, que uma empresa do ramo alimentício detenha um índice de liquidez corrente de 1,60 e que 90% das empresas deste mesmo ramo tenham um índice inferior. Supondo que o índice signifique QUANTO MAIOR, MELHOR, podemos inferir que a empresa possui um índice de liquidez corrente com desempenho superior ao das empresas do seu ramo. O índice-padrão é fundamental em uma análise de demonstrações contábeis para estabelecer a comparabilidade e fornecer um diagnóstico da situação da empresa. IMPORTANT E Abordaremos a elaboração de índice-padrão, com mais detalhes, um pouco mais à frente. Como vimos até aqui, os índices têm a importante função de relacionar e explicar os fenômenos, principalmente das contas patrimoniais (ativo, passivo e patrimônio líquido) e sua relação com os recursos investidos nos ativos da empresa. Para explicar tais indicadores, passaremos a usar uma demonstração contábil fictícia da empresa denominada Cia. VTEX S.A. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 90 FIGURA 35 – DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores Utilizando como base as informações da Cia. VTEX S.A., vamos agora conhecer os principais indicadores econômicos e financeiros utilizados para análise das demonstrações contábeis. 3 ÍNDICES DE LIQUIDEZ (OU SOLVÊNCIA) Conforme Padoveze e Benedicto (2010, p. 147), “[...] os índices de liquidez querem medir se os bens e direitos da empresa (ativos) são suficientes para a liquidação das dívidas”. Portanto, os índices de liquidez têm como função avaliar a capacidade da empresa de liquidar seus compromissos assumidos frente aos recursos disponíveis de curto e longo prazo. Normalmente, os analistas trabalham com quatro indicadores de análise da liquidez: (i) Liquidez Corrente – LC, (ii) Liquidez Seca – LS, (iii) Liquidez Imediata (LI) e (iv) Liquidez Geral (LG). TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 91 3.1 Índice de Liquidez Corrente ou Liquidez Comum (LC) O índice de liquidez corrente tem como função explicar, através desta medição, a capacidade que a empresa possui para liquidar suas dívidas de curto prazo, ou seja, até 360 dias após o encerramento do exercício contábil. Podemos obtê-lo a partir da fórmula: LC AC PC In = (Ativo Circulante) (Passivo Circulante) tterpretação : Quanto maior, melhor LC AC PC = = = 1,20134140139140 0 96 157589 131029 , 20x1 20x2índice índice A intepretação do indicador demonstra que a Cia. VTEX S.A. melhorou seu índice em 20x2, uma vez que apresentou índice maior, portanto melhor. Como sua função é evidenciar a quantidade de bens e direitos frente às obrigações, no curto prazo, temos que em 20x1 a empresa possui R$ 0,96 de recursos em ativos de curto prazo, para cada um R$ 1,00 de obrigações de curto prazo, demonstrando uma situação vulnerável de liquidez. Contudo, em 20x2 a empresa melhorou sua situação de liquidez corrente, demonstrando que possuía R$ 1,20 de recursos em ativos de curto prazo para cada R$ 1,00 de obrigações de curto prazo. O fato é que mesmo essa melhora aparente pode esconder problemas de liquidez, logo, o indicador não estaria demonstrando uma situação verdadeira, por vários motivos: 1) O aumento de ativos do circulante, que originaram a cobertura das obrigações circulantes, pode ter sido resultante de produtos estocados e que não foram vendidos e/ou obsoletos ou, ainda, de valores de clientes inadimplentes. 2) Como não é possível aferir a precisão de seus vencimentos com base neste indicador, seria possível que a empresa estivesse em uma iminente falta de liquidez se, por exemplo, seus pagamentos tivessem como prazo de pagamento em 30 dias e seus recebimentos de clientes em 90 dias. Essa falta de sincronismo no fluxo de caixa não pode ser prevista pelo índice de liquidez corrente. 3) Os estoques são registrados pelo custo histórico, porém sempre será realizado a valor de mercado; isto implica que o estoque, para fins de conversão em moeda, não teria a mesma velocidade que outros ativos do circulante, como disponibilidade ou aplicações financeiras. Na avaliação do índice de liquidez corrente, quanto maior o índice, maior será a quantidade de recursos disponíveis no giro da empresa, porém há de UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 92 se observar que os recursos excedentes ao capital de giro deveriam ser melhor dimensionados em aplicações de investimentos com maior retorno, como, por exemplo, máquinas e equipamentos do parque de produção. A liquidez de uma empresa é um objeto muito apreciado pelos credores, portanto a liquidez se faz necessária para garantir margem de segurança aos credores. 3.2 Índice de Liquidez Seca (LS) O índice de liquidez seca (LS) segue a mesma lógica da Liquidez Corrente (LC), porém excluindo os estoques. Segundo a teoria de finanças, os estoques demoram muito mais que os demais ativos circulantes para serem convertidos em moeda, visto que precisam ser transformados em produto final, estocados, vendidos, para enfim receber o valor do insumo. Além disso, os estoques representam a conta do balanço patrimonial mais suscetível a manipulações, visto que podem estar deteriorados, obsoletos ou inexistentes. O índice de liquidez seca (LS) tem como função explicar a liquidez das empresas para aferir se existe dependência do volume de vendas para liquidar suas dívidas de curto prazo, ou seja, demonstra a capacidade de liquidar seus compromissos de curto prazo com os valores do ativo circulante, excetuando-se os estoques. Segundo explica Silva (2010, p. 136), “este índice é muito útil quando necessitamos ver a capacidade da empresa nas situações em que a mesma tem uma rotação de estoques muito baixa, o que pode refletir uma má gestão sobre o volume de compras [...]”. O que podemos depreender destas reflexões é que a liquidez seca deve sempre ser analisada em conjunto com os demais indicadores de liquidez, pois é preciso tomar alguns cuidados em sua análise. Por exemplo, se considerar um supermercado em que a maior parte das vendas é feita à vista ou com cartão de crédito e não há processo de transformação dos produtos, mas apenas a comercialização, há a necessidade de manter níveis de estoques elevados e, portanto, será normal apresentar indicadores de liquidez seca muito baixos. Podemos obter os indicadores de Liquidez Seca a partir da fórmula: LS AC E PC = − (Ativo Circulante - Estoques) (Passivo Circullante) Quanto maior, melhorInterpretação : LS AC E PC = − = = 0,80 1,01110940 139140 131900 131029 20x1 20x2índice índice TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 93 A interpretação simples do indicador evidencia quanto maior, melhor, pois menor será a dependência dos estoques. Desta forma, desconsiderando os estoques, temos que em 20x1, para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo, a empresa possuía apenas R$ 0,80 de ativos circulantes; contudo, em 20x2 o índice melhorou, indicando que para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo, possuía R$ 1,01 de ativos circulantes para liquidar esses compromissos. A interpretação do índice de liquidez seca, em conjunto com o índice de liquidez corrente, evidencia que a empresa tinha uma dependência dos estoques muito semelhante em 20x1 e 20x2. Assim, a dependência de ocorrência das vendas para transformar os estoques em moeda era praticamente a mesma. Isto pode ser percebido observando a figura a seguir, com a informação sintetizada. FIGURA 36 – GRAU DE DEPENDÊNCIA DOS ESTOQUES FONTE: Os autores O leve crescimento de 20x1 para 20x2 pode ser percebido se comparado a LC com a LS, pois em 20x1 a liquidez seca representava 83% da liquidez corrente e em 20x1 representava 84%, indicando que a dependência ou influência dos estoques na liquidez corrente era maior em 20x2. Na realidade, para avaliar se o indicador apresentado é bom ou ruim, frente ao desempenho da empresa, devemos nos orientar, em primeiro lugar, em relação ao tipo de negócio, e, em segundo lugar, estabelecer um índice padrão para suportar a análise conclusiva. Indicador 20x1 20x2 LC 0,96 1,20 LS 0,80 1,01 83% 84% 3.3 Índice de Liquidez Imediata (LI) Outro indicador muito utilizado, principalmente pelos analistas de bancos, é o Índice de Liquidez Imediata (LI). Este indicador tem como função detalhar um pouco mais o nível de liquidez da empresa, considerando sua capacidade de liquidar suas dívidas com as disponibilidades imediatas, ou seja, recursos disponíveis do circulante de rápida conversão, como: os valores em caixa ou disponível em contas bancárias. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 94 3.4 Índice de Liquidez Geral (LG) O Indicador de Liquidez Imediata (LI), em sua interpretação, evidencia que quanto maior for o índice, melhor será a liquidez imediata, ou seja, a empresa dispõe de mais recursos de alta conversão em moeda, frente aos seus compromissos de curto prazo. No exemplo da Cia. VTEX S.A., temos que em 20x1 a empresa possuía para cada R$ 1,00 de obrigação, uma disponibilidade imediata (caixa, bancos e aplicações financeiras de curto prazo) de R$ 0,40 de cobertura. Comparativamente, em 20x2 a empresa apresentou uma redução de disponibilidade imediata, indicando que para cada R$ 1,00 de dívidas e empresa possuía apenas R$ 0,51 de disponibilidades imediatas. Em termos de objetividade para análise, este índice não é um dos mais relevantes, visto que normalmente as empresas mantêm poucos recursos em caixa ou bancos, disponíveis de forma imediata. Outro fator ponderado implica na comparabilidade das disponibilidades imediatas com os recursos do circulante. Não é uma das melhores práticas, visto que no circulante existem valores com vencimentos em até 360 dias após o encerramento do período. Podemos obtê-lo a partir da fórmula: LI D PC = = = 0,40 0,5155940 139140 66900 131029 20x1 20x2índice índice Conforme Marion (2005, p. 89), o Índice de Liquidez Geral (LG) “mostra a capacidade de pagamento da empresa a longo prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro (a curto e longo prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu como dívida (a curto e longo prazo)”. Como diz o próprio nome, pode-se compreender que se trata de um indicador de liquidez geral, considerando-se todas as dívidas exigíveis, ou seja, passivos de curto e longo prazo são suportadospelos ativos realizáveis de curto e longo prazo. Este indicador tem como função evidenciar a sua saúde financeira, com relação à sua liquidez a longo prazo. Podemos obtê-lo a partir da fórmula: TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 95 LG AC RLP P = + (Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo) CC PNC Interpretaçã + (Passivo Circulante + Não Circulante) oo : Quanto maior, melhor LG= AC+RLP PC+PNC 199140 204140 = 0,98 242589 186029 = 1,30 20x1 20x2índice índice A sua interpretação evidencia que quanto maior for o índice, melhor será, pois maior será a capacidade financeira de liquidar suas dívidas no longo prazo. Na análise da Cia. VTEX S.A., em 20x1 existe, a longo prazo, para cada R$ 1,00 de dívidas (curto e longo prazo), o equivalente a R$ 0,98 de ativos realizáveis (curto e longo prazo). Contudo, observa-se uma melhora do índice de R$ 1,30, indicando que para cada R$ 1,00 de dívidas (curto e longo prazo) a empresa possui R$ 1,30 de ativos realizáveis (curto e longo prazo) para converter em moeda. Este indicador é de difícil análise, pois é preciso comparar recebimentos (realização) e pagamentos (exigibilidades) com datas de vencimentos muito diferentes (curto e longo prazo). Isto torna difícil precisar sobre sua conversão em moeda, exceto quando existe a possibilidade de comparar seu comportamento ao longo do tempo e diagnosticar se a empresa está incorrendo em uma perda de liquidez ao longo do tempo. DICAS Ao analisar um indicador de liquidez pense nisto: a) nunca considere isoladamente os indicadores para uma análise, devendo sempre associá- los para compreender seu comportamento; b) avalie um indicador considerando o efeito temporal, ou seja, analise-o ao longo do tempo (dias, meses, anos); c) a utilização do índice-padrão, como forma de comparar o desempenho da empresa com o seu setor ou concorrentes, é sempre uma forma saudável de analisar a saúde financeira da empresa. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 96 4 ÍNDICES DA ESTRUTURA DE CAPITAL Os indicadores da estrutura de capital visam demonstrar as decisões de financiamentos tomadas pela empresa quanto à obtenção dos recursos e como foram aplicados, logo, revelam o comportamento do endividamento da empresa. Quando analisamos as políticas de financiamentos adotadas por uma empresa, é preciso levar em consideração, além do custo, o impacto das modificações sobre a estrutura de capital da empresa, ou seja, a proporção da participação de capitais próprios e de terceiros no financiamento dos ativos. Para uso interno da empresa, os indicadores de endividamento sinalizam o grau de risco acarretado pelos financiamentos. A administração financeira também se preocupa com os níveis de endividamento, porque bancos, fornecedores, clientes e concorrentes também avaliam a solidez financeira da empresa com base nesses indicadores (SILVA, 2010, p. 138-139). Normalmente, as empresas recorrem ao capital de terceiros para financiar suas operações e o crédito é essencial para suportar o crescimento das empresas. O endividamento pode ser visto como uma condição saudável para que haja crescimento em participação de mercado ou mesmo projetos de expansão fabril, e o lucro das operações geradas pela empresa deverá suportar o pagamento dos juros e da dívida. O problema é quando a empresa não consegue que suas operações sejam lucrativas e acaba refinanciando suas dívidas. Este ciclo de renovação fatalmente resultará na falência da empresa. IMPORTANT E Mas, então, qual é o nível de endividamento ideal? Não existe um nível de endividamento ideal! O importante é que recursos de curto prazo devem financiar as operações de curto prazo (capital de giro) e recursos de longo prazo devem financiar operações de longo prazo (imobilizado). Esta premissa parte do princípio de que os ativos de imobilizado deverão gerar receitas a longo prazo e representam valores expressivos, portanto, ao serem financiados em longo prazo, poderão suportar as dívidas com mais folga para a empresa. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 97 Ao realizar dívida de curto prazo para financiar operações de longo prazo, a empresa deverá devolver o principal muito antes do bem trazer o retorno através das operações da empresa; e como a dívida de curto prazo é mais onerosa, a empresa acabará pagando mais juros da dívida. IMPORTANT E Neste caso, o analista deve ficar atento à composição da dívida com capital de terceiros e capital próprio e sua concentração em curto e longo prazo, bem como observar o custo das dívidas. A utilização dos indicadores da estrutura de capital tem por objetivo informar como e quanto a empresa utiliza dos capitais próprios e de terceiros. Os indicadores utilizados na análise são: (i) Participação de capital de terceiros, (ii) Composição do endividamento, (iii) Imobilização do patrimônio líquido e (iv) Imobilização dos recursos não correntes. 4.1 PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS (GRAU DE ENDIVIDAMENTO) O índice de participação de capital de terceiros tem como função demonstrar em que nível existe dependência do capital de terceiros por parte da empresa, e pode ser representado pela seguinte fórmula: PCT= PC+PNC (Passivo Circulante + Não Circulante) PL (Patriimônio Líquido) 100 Interpretação: Quanto menor, melhor x PCT PC PNC PL = + = = 99,58% 204140 205000 186029 283900 65,53% 20x1 20x2índice índice UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 98 A sua interpretação evidencia que quanto menor for a participação do capital de terceiros em relação ao capital próprio, será melhor, pois menor será a dependência da empresa em relação às dívidas, podendo agir com mais liberdade em suas decisões financeiras, implicando em menor risco de insolvência. IMPORTANT E A Participação de Capitais de Terceiros (PCT) depende muito do segmento em que a empresa atua. Geralmente, empresas de serviços ou empresas comerciais necessitam ter uma alavancagem muito alta para proporcionar velocidade de rotação de seus ativos e produzir maior rentabilidade. Portanto, o índice de PCT deve ser analisado levando em consideração os índices do setor ou segmento. No caso da Cia. VTEX S.A., a análise dos indicadores aponta que em 20x1 a empresa operava com um comprometimento do total de seu capital próprio com as dívidas e em 20x2 a empresa reduziu seu endividamento em relação ao capital próprio, sinalizando, portanto, uma melhora substancial no risco de insolvência. Porém, para o caso analisado em 20x1 não podemos afirmar que o índice é desfavorável; para chegar a esta conclusão é preciso comparar com índice-padrão de endividamento setorial. 4.2 COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO Depois de compreender em que nível existe dependência dos capitais de terceiros (PCT), será necessário que o analista compreenda qual é o perfil da dívida, ou seja, se esta dívida está concentrada em curto ou longo prazo. Desta forma, este indicador tem como função evidenciar a concentração do vencimento das dívidas e seu risco de insolvência. Pode ser representada pela seguinte fórmula: CE PC PC PNC = + (Passivo Circulante) (Passivo Circulante ++ Não Circulante) Quanto menor, melhor x Interpretação 100 : CE PC PC PNC = + = = 68,16% 139140 204140 131029 186029 70,43% 20x1 20x2índice índice TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 99 A interpretação deste índice evidencia que quanto menor a participação do passivo circulante em relação ao passivo exigível (PC + PNC), melhor será o perfil da dívida, pois com os financiamentos concentrados em longo prazo, a empresa dispõe de mais tempo para obter lucros e formar reservas de investimentos (depreciação) para saldar estas dívidas. Na análise da Cia. VTEX S.A. observa-se que o perfil da dívida indica uma predominância de capital de curto prazo e que comparativamente entre 20x1 e 20x2 houve um aumento desta composição. O analista deveriaefetuar uma análise mais profunda para determinar as causas, visto que podem representar dívidas vencidas ou, ainda, um incremento de novas dívidas que podem consumir o lucro com pagamento de juros. 4.3 IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO O indicador de Imobilização do Patrimônio Líquido tem como função evidenciar em que nível os investimentos em capital fixo, representados pelo ativo não circulante (Investimentos + Imobilizado + Intangível), estão sendo financiados por capital próprio. O entendimento de que ativos de longo prazo devem ser financiados com recursos de longo prazo faz parte de uma boa política financeira. Contudo, quanto mais capital próprio for aplicado no ativo não circulante, menor será a disponibilidade de recursos no ativo circulante, que representa o capital de giro, e isso faz com que a empresa recorra a capitais de terceiros. Pode ser representado pela fórmula: IPL CF PL x: (Capital Fixo) (Patrimônio Líquido) 100 Interppretação: Quanto menor, melhor IPL CF PL = = = 102,44% 80210000 205000 227340 283900 ,,08% 20x1 20x2índice índice A interpretação deste indicador evidencia quanto do patrimônio líquido está sendo aplicado no ativo não circulante, em capital fixo (Investimentos + Imobilizado + Intangível). Esta relação entre o patrimônio líquido e o capital fixo representa o capital de giro próprio da empresa. O ideal seria que o ativo não circulante fosse totalmente financiado com o patrimônio líquido (capital próprio) e ainda financiasse uma parte do ativo circulante, evitando que a empresa recorresse a bancos para financiar o seu capital de giro (AC – PC). UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 100 Na análise da Cia. VTEX S.A., observa-se que em 20x1 a empresa apresentou um índice de 102,44%, indicando que o patrimônio líquido não foi suficiente para financiar os investimentos em capital fixo e que por este motivo a empresa deve recorrer a capital de terceiros para financiar parte do ativo não circulante e totalmente o ativo circulante. Apesar de 20x2 demonstrar uma redução da dependência de capitais de terceiros (IPL 80,08%), não podemos observar se a empresa adota uma política financeira adequada utilizando capital de terceiros de longo prazo. Contudo, o próximo indicador dará sinais da forma como esse endividamento vem ocorrendo. 4.4 IMOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS NÃO CORRENTES O indicador de Imobilização dos Recursos Não Correntes (IRNC) tem como função evidenciar a parcela de recursos não correntes (Patrimônio Líquido + Exigível de Longo Prazo) que está sendo utilizada para financiar o capital fixo da empresa. Pode ser representado pela fórmula: IRNC CF PL ELP = + (Capital Fixo) (Patrimônio Líquido + Exiggível de Longo Prazo) 100 Interpretação: Quanto menor, me x llhor IRNC CF PL ELP = + = = 77,78% 210000 270000 227340 338900 67,08% 20x1 20x2índice índice A interpretação deste índice evidencia que quanto menor, ou seja, quanto mais distante de 100%, melhor será seu desempenho, pois indica que o capital fixo está sendo financiado com capitais de longo prazo (PL + ELP) e ainda existe sobra aplicada no capital de giro (curto prazo). Na análise da Cia. VTEX S.A. fica evidente que a empresa possui uma folga de recursos aplicada no capital de giro em 20x1 de 22,22% (100% - 77,78%), e em 20x2 de 32,92% (100% - 67,08%), e como a interpretação do índice é “quanto menor, melhor”, houve uma redução em 20x2, indicando uma melhora. Caro acadêmico, como podemos perceber, os indicadores da estrutura de capital são importantes para determinar em que níveis e de que forma os capitais estão aplicados no ativo, proporcionando uma análise quanto ao risco de insolvência das empresas. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 101 5 ÍNDICES DE RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE Como todo investidor que aplica recurso em uma empresa espera que exista retorno de seus investimentos realizados, o credor, detentor do capital de terceiros, espera que ao emprestar seu capital obtenha a remuneração sobre o mesmo e a devolução do capital. Desta forma, o lucro da empresa é a fonte que deverá remunerar estes capitais, logo, trataremos agora de analisar o desempenho econômico, cujas informações estão contidas na Demonstração do Resultado do Exercício – DRE. A este desempenho econômico denominamos de análise da rentabilidade, que, conforme Padoveze (2003, p. 43), “está classificada em dois grandes grupos: (i) análise da geração da margem de lucro, em que leva em conta a performance das operações da empresa, e (ii) análise da destinação do lucro, que considera o uso do capital de terceiros e o reflexo de alavancagem sobre o aumento da rentabilidade do capital próprio, caracterizado pelo aumento de lucros”. Ao avaliar a rentabilidade, estamos avaliando o êxito econômico das operações que a empresa executou e se a expectativa de remuneração dos capitais empregados foi bem-sucedida. Os principais indicadores que vamos analisar serão: (i) Giro do Ativo, (ii) Margem Líquida, (iii) Rentabilidade ou Retorno do Ativo, (iv) Rentabilidade ou Retorno do Patrimônio Líquido, (v) Alavancagem Financeira e (vi) Alavancagem Operacional. Agora, uma vez que compreendemos que a utilização de capital de terceiros é saudável para o crescimento e expansão do negócio, a pergunta que poderia ser feita é: até que ponto uma empresa pode endividar-se, reduzindo seu risco de insolvência? Neste sentido, é interessante apresentar as palavras de Matarazzo (2003, p. 154), que menciona que “do ponto de vista de obtenção de lucro, pode ser vantajoso para a empresa trabalhar com capitais de terceiros, se a remuneração paga a esses capitais de terceiros for menor que o lucro conseguido com a sua aplicação nos negócios”. Assim, o endividamento é interessante sob o ponto de vista do lucro, indicando que empresas podem possuir um endividamento alto, desde que consigam remunerar este custo da dívida, ou seja, trazer retorno maior que o custo deste capital investido nos ativos. Compreender como analisar os retornos de capital será o assunto a seguir! UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 102 5.1 GIRO DO ATIVO Como já abordado anteriormente, o ativo é constituído com a finalidade de gerar receitas (fluxos de caixa) presente ou futuro, portanto, é inegável a relação entre receitas e investimentos realizados no ativo. O indicador de Giro do Ativo tem, portanto, a função de evidenciar qual o nível de eficiência na aplicação de recursos, ou seja, o giro indica a quantidade de vezes que as vendas retornaram em relação aos recursos aplicados no ativo total. O ativo ou patrimônio líquido considerados nas fórmulas de retorno do capital podem ser utilizados pela média entre os períodos (N e N-1), cuja “razão é que nem o Ativo Final e nem o Ativo Inicial geraram o resultado, mas a média do ativo utilizado no ano. Idem para o Patrimônio Líquido” (MARION, 2005, p. 140). Esta é uma corrente a ser utilizada, porém muitos autores consideram apenas os saldos finais de ativo e patrimônio líquido. Podemos representar o Giro do Ativo da seguinte forma: GA VL AT ou = ou RL (Vendas Líquidas ou Receitas Líquidas) AATM Interpretação Qua (Ativo Total ou Ativo Total Médio) : nnto aior m melhor, GA VL AT = = ou RL ou ATM 1,15 472000 409140 555900 4669929 = 1,18 20x1 20x2índice índice Na interpretação do indicador temos que quanto maior este índice melhor, pois indica que as vendas aumentam em relação aos investimentos, logo será melhor, visto que está aumentando a produtividade da empresa. Neste contexto, a exemplo da Cia. VTEX S.A., o giro do ativo em 20x1 evidencia que cada R$ 1,00 investido no ativo total gerou em vendas R$ 1,15 e que em 20x2 cada R$ 1,00 de ativo total gerou R$ 1,18 em vendas, o que indica que a empresa conseguiu produzir mais vendas com as aplicações realizadas no ativo total. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES103 DICAS Ao analisar o giro do ativo, esteja atento a possíveis distorções, como: (i) aos itens não relacionados com as atividades operacionais, (ii) observar se a empresa está numa fase de expansão ou ampliação, ou (iii) mudanças drásticas de saldos do ativo total inicial e final, devendo então aplicar o critério do saldo médio. 5.2 MARGEM LÍQUIDA A margem líquida é o indicador que tem como função medir o desempenho das operações da empresa em relação ao volume de vendas. A relação percentual entre lucro líquido e vendas também pode ser denominada de percentual de lucratividade e pode ser representado pela seguinte fórmula: ML LL VL = Lucro Líquido ou RL (Vendas Líquidas ou Receitaas Líquidas) maior, melhorInterpretação Quanto: LL LL VL = = = ou RL 99000 20,97% 118900 472000 555900 21,39% 20x1 20x2índice índice A interpretação do indicador evidencia que quanto maior o índice, maior será a lucratividade da empresa, portanto, melhor será o desempenho. A análise da Cia. VTEX S.A. apresenta um bom desempenho econômico, pois em 20x1 conseguiu gerar um lucro de 20,97%, sobre o montante de vendas do período, e apesar do aumento das vendas significativas (R$ 472.000 para R$ 555.900) conseguiu superar o desempenho anterior, gerando um desempenho favorável. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 104 5.3 RENTABILIDADE OU RETORNO DO ATIVO (ROI OU ROA) As denominações de ROI e ROA para o retorno do ativo têm origem do inglês, sendo, respectivamente, Return On Investiment (Retorno sob Investimentos) e Return On Assets (Retorno sob Ativos), ou ainda poderão ser encontradas pela sigla TRI (Taxa de Retorno sob Investimentos). Este indicador tem a função de medir o desempenho da geração de lucros da empresa em relação aos investimentos realizados no ativo e pode ser visualizado pela seguinte fórmula: ROI LL AT = Lucro Líquido ou ATM (Ativo Total ou Ativo Totaal Médio) 100 Interpretação: Quanto maior, melhor x ROI LL AT = = ou ATM 24,20% 11890099000 409140 469929 == 25,30% 20x1 20x2índice índice A interpretação do indicador ROI/ROA evidencia que quanto maior o índice, mais rápido será o retorno do capital investido, portanto, será melhor para seu desempenho da empresa. Na análise da Cia. VTEX S.A. observa-se um ROI de 24,20% em 20x1 e 25,30% em 20x2, cujo crescimento da taxa evidencia uma melhora do desempenho do lucro em relação aos investimentos do ativo. Também em uma análise de taxa de retorno pelo payback é possível constatar que o retorno do investimento em 20x2 acelerou em relação a 20x1 de 4,13 anos (100% ÷ 24,20%) para 3,95 anos (100% ÷ 25,30%). 5.4 RENTABILIDADE OU RETORNO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO (ROE) O Retorno do Patrimônio Líquido ou Return On Equity (ROE) é o indicador que tem como função medir o desempenho na geração de lucros em relação ao capital próprio, ou seja, representa a taxa de remuneração do capital investido pelos acionistas e pode ser comparável com outros rendimentos, como, por exemplo, aplicações em CDB, fundos de investimentos, caderneta de poupança, aluguéis, entre outros. A taxa de retorno do patrimônio líquido pode ser obtida pela fórmula: TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 105 ROE LL PL = (Lucro Líquido) ou PLM (Patrimônio Líquido Médio ou Total) 100 Interpretação: Quanto maior, melhor x ROE LL PL = = ou PLM 48,29% 99000 205000 118900 2839900 = 41,88% 20x1 20x2índice índice A interpretação do ROE evidencia que quanto maior o índice, maior será a remuneração do acionista com relação aos investimentos realizados. No exemplo da Cia. VTEX S.A., em 20x1 para cada R$ 1,00 investido de Capital Próprio retornou sob a forma de lucros R$ 0,48 ou 49,29%, e em 20x2 para cada R$ 1,00 investido retornou R$ 0,42 de lucros ou 41,88%, indicando um desempenho desfavorável. 5.5 ANÁLISE DO ROI PELO MÉTODO DUPONT O método DuPont foi criado no início do século XX e disseminado pela empresa que levou o seu nome. Este método foi desenvolvido partindo de uma análise de dois componentes que determinam a geração de lucro da empresa, denominado de GIRO versus MARGEM, cuja fórmula demonstra-se a seguir: ROI/ROA (DuPont) = Margem Líquida x Giro do Ativo O giro é estabelecido pela fórmula da relação entre as receitas geradas e o investimento em ativos utilizados na geração da receita. A ideia está centrada na relação do giro, pois quanto maior este, maior será a probabilidade de gerar mais retorno, visto que as vendas geram ganhos operacionais marginais que aumentam o lucro final. Vamos observar o desempenho da Cia. VTEX S.A.! ROI/ROA (Dupont) = 20,97% x 1,15 = 24,20% ROI/ROA (Dupont) = 21,39% x 1,18 = 25,30% 20x2 20x1 Índice Índice UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 106 A interpretação deste é a mesma do ROI/ROA, porém o método permite avaliar duas variáveis de geração de lucros e estabelecer formas de avaliar o desempenho conjunto. Na análise da Cia. VTEX S.A. podemos observar que o ROI/ROA em 20x2 em relação a 20x1 teve uma lucratividade maior (20,97% para 21,39%) e um giro maior também (1,15 para 1,18), que resultou em ROI/ROA superior de 25,30%. Empresas com margem de lucro pequena, mas que conseguem manter um alto giro de seus ativos, tendem a ter uma boa performance e vice-versa, e desta forma é possível determinar as causas que levaram a um giro mais rápido ou mais lento e uma lucratividade maior ou menor. ANÁLISE DA TAXA DE RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS PELO MÉTODO DUPONT DESDOBRAMENTO DA FÓRMULA PELO MÉTODO DUPONT FIGURA 37 – ANÁLISE DA EMPRESA CIA. VTEX S.A. PELO MÉTODO DUPONT FONTE: Os autores TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 107 O diferencial do método DuPont está no desdobramento da fórmula margem versus giro, em que é possível estabelecer uma relação de causa e efeito, e podemos perceber que da taxa de retorno ROI/ROA desdobrou-se em margem líquida e retorno do ativo. Da relação com a margem de lucro desdobrou-se em receita líquida dividida pelo lucro líquido, e desta se desdobra em receita líquida menos custos e despesas operacionais, e assim por diante, até o último desdobramento da fórmula. Pode-se observar que à medida que se aplica o método DuPont, desdobrando-se a fórmula, é possível comparar a evolução de um período ao outro e identificar as causas que motivaram o aumento ou redução do indicador de rentabilidade. 5.6 GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA (GAF) O Grau de Alavancagem Financeira tem como função avaliar o impacto causado nos lucros pela utilização de encargos financeiros, que são alavancados na utilização dos capitais de terceiros. Segundo explica Silva (2010, p. 150), a alavancagem financeira: [...] é a medida que avalia a capacidade da empresa em utilizar encargos financeiros fixos para maximizar os efeitos da variação do lucro. A força da alavancagem financeira pode aumentar o retorno do investimento dos acionistas e, frequentemente, há vantagens fiscais associadas com a obtenção de empréstimos, por conta da possibilidade de dedução no Imposto de Renda das despesas com os juros. O indicador Grau de Alavancagem Financeira (GAF) envolve os índices de retorno do ativo líquido (RsAL), o retorno do patrimônio líquido (ROE) e o custo da dívida. Espera-se que o RsAL seja superior ao custo da dívida, e neste caso os acionistas ganham e o ROE será maior; agora, se o custo da dívida for maior que o RsAL, os acionistas têm seu ROE menor, em função da redução do lucro das operações. Desta forma, podem-se perceber os efeitos dos financiamentos no lucro gerado aos acionistas. Contudo, esta percepção de alavancagem requer perceber alguns conceitos sob a taxa de retorno que será discutida a seguir. Primeiramente, será necessário discutir o conceito de lucro operacional, que representa o lucro antes de qualquer encargo financeiro, porém no Brasil, diferentemente do conceito americano, inclui como despesaoperacional também as despesas financeiras. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 108 As despesas financeiras representam os juros reais incorridos com uso de capital de terceiros. As dívidas com capital de terceiros são utilizadas para financiar suas atividades e alavancar o lucro das empresas. No entanto, pode-se observar que a empresa obtém uma vantagem fiscal ao deduzir esta despesa sob o lucro. Conforme Padoveze e Benedicto (2010, p. 136) explicam: [...] para dar consistência analítica, é necessário considerar o efeito dos impostos sobre o lucro, tanto para o lucro operacional, como para as despesas financeiras líquidas. Para este fim, tendo em vista que esses impostos são genéricos para a empresa, o critério mais usado é utilizar a alíquota média real observada no exercício, que incidiu no lucro antes desses impostos, e aplicá-la ao resultado das despesas financeiras líquidas, reduzindo seu efeito econômico. O valor restante é atribuído ao lucro operacional. Para identificar o valor das despesas operacionais antes das despesas financeiras, será necessário recalcular os impostos sobre o lucro, com base nas taxas reais incidentes sobre o lucro e os efeitos desta taxa sobre o valor das despesas financeiras, conforme se demonstra no caso da Cia. VTEX S.A.: FIGURA 38 – DEMONSTRAÇÃO DE LUCRO OPERACIONAL AJUSTADO FONTE: Os autores TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 109 Ao comparar o lucro operacional antes das despesas financeiras (R$ 177.000,00 em 20x1 e R$ 210.900,00 em 20x2) e o lucro líquido (R$ 99.000,00 em 20x1 e R$ 118.900,00 em 20x2), na DRE com o AJUSTE DO LUCRO OPERACIONAL, observa-se que não houve alterações de valores, pois o ajuste ocorre nos efeitos sob o lucro causado pela dedutibilidade da despesa financeira. O primeiro passo é identificar o percentual da alíquota média dos impostos sob o lucro, que foi de 41,4201% em 20x1 e 40,2212% em 20x2, obtidos da seguinte maneira: ALM = IL ÷ LAT x 100 ALM: Alíquota Média IL: Impostos sob o Lucro em reais (R$) LAT: Lucro antes dos tributos em reais (R$) Uma vez identificada a alíquota média, aplica-se esta sobre o lucro antes das despesas financeiras, conforme a figura anterior. Neste caso, o lucro antes dos tributos deixa de considerar o valor das despesas financeiras, e com isso o valor de tributos incidentes passa a ter um valor de R$ 73.314 em 20x1 que antes era de R$ 70.000. Essa diferença de R$ 3.314 corresponde ao efeito da despesa financeira (em 20x1 R$ 8.000 x 41,4201%), cuja dedutibilidade proporcionou uma redução de impostos. Contudo, o valor deve ser creditado ao lucro, pois se a empresa não tivesse captado recursos de terceiros para financiar suas operações, não teria este ganho de impostos, e desta forma o lucro seria em 20x1 de R$ 107.000 e em 20x2 de R$ 130.900. O outro conceito importante para entendimento das taxas de retorno é o de ATIVO OPERACIONAL. Nas palavras de Padoveze e Benedicto (2010, p. 134), o ativo operacional “deve ser igual ao valor das fontes de capital que financiaram o investimento, ou seja, o capital próprio dos acionistas e o capital de terceiros, das instituições financeiras que estão financiando a empresa”. Neste conceito, considera-se que todos os passivos que sejam geradores de encargos financeiros, como empréstimos e financiamento, são considerados como passivo financeiro, e todos os passivos que não geram encargos financeiros são denominados de passivos de funcionamento e, portanto, não são considerados como fontes de financiamento, sendo deduzidos do ativo total da seguinte forma: Ativo Total (-) Passivos de Funcionamento Fornecedores Impostos a Recolher Salário a Pagar Dividendos a Pagar (=) Investimentos UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 110 O ativo operacional representa os valores de investimentos que são financiados pelos passivos financeiros geradores de encargos, que se compõem de capital de terceiro e capital próprio. Neste caso, os passivos de funcionamento representam as obrigações decorrentes de aquisições de bens e serviços destinados às operações, por isso podem ser considerados como redutores do capital de giro, denominados de capital de giro próprio ou capital de giro líquido. No caso da Cia. VTEX S.A., podemos observar o ativo operacional, conforme a figura a seguir: FIGURA 39 – COMPOSIÇÃO DO ATIVO OPERACIONAL FONTE: Adaptado de: Padoveze e Benedicto (2010, p. 135-136) Ativo Operacional 20x1 20x2 Ativo Total 409.140 469.929 (-) Aplicações Financeiras 40.000 40.900 (-) Passivos de Funcionamento Fornecedores 25.140 27.728 Impostos a Recolher 15.000 16.000 Salário a Pagar 39.000 41.301 Títulos a Pagar 25.000 20.000 (=) Investimentos 265.000 324.000 No caso da Cia. VTEX S.A., após a redução dos passivos de funcionamento do total do ativo total, temos como ativo operacional R$ 265.000 em 20x1 e R$ 324.000 em 20x2. O Custo da Dívida (CD) representa quanto a empresa paga de juros tomado de credores, referente ao capital de terceiros, podendo ser estabelecido pela seguinte fórmula: CD = DF x 100 CD: Custo da dívida DF: Despesas Financeiras PE: Passivo Gerador de Encargos PE TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 111 No caso da Cia. VTEX S.A. o custo da dívida foi de 13,33% (R$ 8.000 ÷ R$ 60.000) em 20x1 e 29,93% (R$ 12.000 ÷ R$ 40.100) em 20x2. Os passivos geradores de encargos financeiros representam a remuneração dos passivos de financiamento utilizados com capital de terceiros, logo, referem- se ao custo da dívida (CD) que, juntamente com o capital próprio, denomina-se de passivo operacional. Padoveze e Benedicto (2010, p. 134) explicam que, em relação ao ativo operacional e às fontes de capital: [...] o ativo operacional deve ser igual ao valor das fontes de capital que financiaram o investimento, ou seja, o capital próprio dos acionistas e o capital de terceiros, das instituições financeiras que estão financiando a empresa. O capital próprio será representado, como sempre, pelo valor do patrimônio líquido das demonstração das financeiras e o capital de terceiros será representado pelos empréstimos e financiamentos com ônus financeiros. Da mesma forma, o passivo operacional possuirá o mesmo valor do ativo operacional, ficando assim composto: 20x1 20x2 Capital de Terceiros 60.000 40.100 Empréstimos de Curto Prazo 60.000 46.000 Empréstimos de Longo Prazo 40.000 35.000 (-) Aplicações Financeiras -40.000 -40.900 Capital Próprio 205.000 283.900 Capital Social 100.000 110.000 Reserva de Lucros 45.000 84.450 Reservas de Capital 60.000 89.450 Passivo Operacional 265.000 324.000 FIGURA 40 – COMPOSIÇÃO DO PASSIVO OPERACIONAL FONTE: Adaptado de: Padoveze e Benedicto (2010, p. 135-136) Depois de apresentar os principais conceitos para calcularmos o Grau de Alavancagem Financeira, apresentamos a fórmula que compõe o indicador GAF, que pode ser visualizado pela fórmula: GAF RsAO RsAO CD PE PL RsAO = + − ⋅ ÷( ) ( ) UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 112 Onde: RsAO – Retorno sobre o Ativo Operacional CD – Custo da Dívida PE – Passivo Gerador de Encargos PL – Patrimônio Líquido GAF – Grau de Alavancagem Financeira. Conforme Matarazzo (2003, p. 398), “esta fórmula mostra o efeito que a estrutura de capitais e os juros pagos produzem nos lucros finais, informando se esta estrutura está beneficiando ou não os acionistas”. UNI Caro acadêmico! Seguramente você deve ter se perguntado como é elaborado o Retorno s/ o Ativo Operacional (RsAO)? O índice RsAO é elaborado dividindo-se o lucro operacional ajustado pelo ativo operacional (investimentos), conforme cálculo demonstrado a seguir: 20x1 = (107.000 ÷ 265.000) x 100 = 40,38% 20x2 = (130.900 ÷ 324.000) x 100 = 40,40% Para ilustrar o cálculo do Grau de Alavancagem Financeira (GAF) e visualizar o indicador, segundo a empresa Cia. VTEX S.A., apresentamos o exemplo a seguir: 20X1 GAF = + − ⋅ ÷ =40 38 40 38 13 33 60 000 205 000 40 38 , % ( , % , %) ( . . ) , %1,196 Índice Índice GAF = + −( ) ⋅ ÷ = 40 40 40 40 29 93 40 100 283 9000 40 40 , % , % , % ( . . ) , % 1,0377 20X2 TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 113 A Cia VTEX S.A., em 20x1, apresentou um índice de GAF superior a 1, ou seja, de 1,196, indicando que para cada 1% de rentabilidade a empresa gera 1,2%, devido à alavancagem favorável. Também podemos inferir que a rentabilidade do patrimônio líquido foi superior em 20% em relação à rentabilidade do ativo operacional. Isto ocorre porque para cada R$ 100,00 investidos na operação a empresa obtém um retorno de R$ 40,38. Contudo, para cada R$ 100,00 captados de terceiros se ganha R$ 27,04 (40,38 – 13,33). Suponha que a empresa tomou emprestados R$ 60.000,00 e que, dividido por R$ 100,00, tem um lucro gerado de R$ 16.224,00 (60.000 ÷ 100 x 27,04) apenas pela alavancagem gerada pelo uso de recursos de terceiros. Em relação ao retorno sob o patrimônio líquido, temos um lucro gerado pela utilização deste tipo de recurso de R$ 82.779,00 (R$ 205.000 x 40,38%), em que se considera a taxa de rentabilidade do ativo operacional, ou seja, o valor gerado pelas operações da empresa. O somatório de ambos os valores (R$ 16.224 + R$ 82.779) representa o valor do lucro gerado pela Cia. VTEX S.A. de R$ 99.000,00. Uma pequena diferença de R$ 3,00 foi apresentada devido à margem de arredondamento. Podemos ainda inferir que o valor de R$ 16.224 representa um ganho favorável aos acionistas de 7,91% e que, somado aos 40,38% do retorno do negócio, totaliza 48,29% de rentabilidade sob o patrimônio líquido. Para o ano de 20x2 da Cia. VTEX S.A., a taxa de retorno do patrimônio líquido foi superior ao retorno do ativo operacional em 3,7%, tornando-se inferior ao ano anterior. Com base nesta fórmula, o analista pode observar qual o impacto que a estrutura de capital e os juros produzem sob o lucro e como pode ser favorável a produção do lucro, adicionalmente com as atividades operacionais. Na realidade, de forma geral, o Grau de Alavancagem Financeira é estabelecido pela divisão entre o retorno sob patrimônio líquido e o retorno sob o ativo operacional. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 114 Desta forma, a alavancagem financeira propõe o uso do recurso de terceiros com a finalidade de produzir maiores ganhos/retornos de capital de lucros (capital próprio). Para que isto ocorra, o custo da dívida sempre deve ser inferior à rentabilidade do ativo operacional (investimentos). Índice20X1 GAF RsPL RsAO = = = 48 29 40 38 , % , % 1,196 41 88 40 40 , % , % = 1,037 Índice20X2 FIGURA 41 – AVALIAÇÃO DO GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA FONTE: Adaptado de: Silva (2010, p. 151) Neste contexto, quando a GAF foi superior a 1 identifica que o retorno gerado aos sócios é superior ao retorno do negócio e, por consequência, maior que o custo da dívida gerada com capital de terceiro. Neste caso ocorre uma alavancagem favorável. Da mesma forma, quando a GAF foi inferior a 1 identifica que os sócios estão bancando as operações da empresa, pois o retorno gerado não é superior ao retorno do negócio e, por consequência, menor que o custo da dívida gerada com capital de terceiro; logo, ocorre uma alavancagem desfavorável. Quando GAF for igual a 1, temos uma situação nula e, portanto, neste caso, não há alavancagem. Caro acadêmico! Fique atento(a) quando a alavancagem for inferior a 1, pois com frequência as empresas captam recursos com taxas a custos superiores às taxas de retorno do negócio (ativo operacional) e, portanto, há uma consequente redução do retorno sob o patrimônio líquido. Agora, vamos analisar o funcionamento da alavancagem operacional! Se Identifica Denota Favorável?(Sim ou Não) GAF > 1 RsPL > RsAO RsAO > Custo da Dívida Sim GAF = 1 RsPL = RsAO RsAO = Custo da Dívida Não há alavancagem GAF < 1 RsPL < RsAO RsAO < Custo da Dívida Não TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 115 5.7 ALAVANCAGEM OPERACIONAL O lucro gerado pelas operações, denominado de lucro operacional ou margem operacional, decorre dos ganhos realizados nas atividades operacionais normais realizadas por uma empresa. De acordo com Fernandes (2012, p. 298): o fenômeno que se observa é que o lucro operacional aumenta quando se aumenta o volume de vendas ou impacto contrário em caso de redução do volume. Isso ocorre por conta da estrutura de custos e despesas fixas que não se modificam, mas que permitem uma alavancagem das operações, considerando certos níveis de produção e vendas. Podemos inferir que o conceito de alavancagem operacional está estritamente ligado aos conceitos de análise do custo, volume e lucro quanto à margem de contribuição e análise do ponto de equilíbrio. FIGURA 42 – INFORMAÇÕES DE CUSTOS PARA CÁLCULO DA ALAVANCAGEM OPERACIONAL FONTE: Os autores Volume de vendas 40.000 Preço de Venda 22 Custo e Despesa Variável 15 Custo e Despesa Fixa 100.000,00 Simulando uma oscilação no volume de vendas em 10%, tanto para aumento como para redução, a demonstração de resultado gerencial apresentaria as seguintes informações: FONTE: Os autores FIGURA 43 – SIMULAÇÃO DE RESULTADOS GERENCIAIS – OSCILAÇÃO DE VENDAS -10% Base 10% Volume de vendas 36.000 40.000 44.000 Receita 792.000 880.000 968.000 ( -) Custos e Despesas Variáveis - 540.000 - 600.000 -660.000 (=) Margem de Contribuição 252.000 280.000 308.000 ( -) Custos e Despesas Fixas - 100.000 - 100.000 - 100.000 (=) Lucro Operacional 152.000 180.000 208.000 Variação % do volume ou receita 10,00% 0% 10,00% Variação % do lucro operacional 15,56% 0% 15,56% UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 116 Observando a figura anterior, temos que um aumento de 10% no volume de vendas gerou um aumento em mesma proporção sob as receitas, os custos variáveis e a margem de contribuição, porém, os custos fixos mantêm-se estáveis; esta inércia proporciona ao lucro operacional crescer de forma superior ao aumento do volume de vendas. É justamente este efeito, gerado pela inércia dos custos e despesas fixas, que motiva a ideia de alavancagem operacional. Esta pode ser representada pela fórmula a seguir. FIGURA 44 – FÓRMULA DO GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL (GAO) FONTE: Os autores GAO Variação Variação = % no Lucro Operacional % nas Vendas O grau de alavancagem operacional, na concepção de Padoveze (2003, p. 155), “é a medida da extensão da utilização dos custos e despesas fixas dentro da empresa. É um indicador que mede o potencial da possibilidade da alavancagem operacional [...]”, portanto, é uma forma de medida dos efeitos que ocorrem nos lucros em virtude dos fatores que provocam alterações em vendas. Com base nesta fórmula, a medida de GAO do exemplo de alterações no volume de vendas em 10% (36.000 unidades e 44.000 unidades), tem-se como resultado: O grau de alavancagem operacional (GAO) de 1,56 indica que o lucro operacional crescerá 1,56 vezes mais ou menos em relação às vendas, sempre que as vendas oscilarem em 10% para cima ou para baixo. Contudo, para que o GAO proporcione este entendimento, é preciso compreender que existem limitações, como a estrutura de custos e despesas fixas que podem suportar o volume de crescimento até certo ponto, pois novos custos e despesas fixas deverão se realizar para suportar o aumento da capacidade instalada. Para demonstrar na prática como ocorre o crescimento do lucro operacional baseado no grau de alavancagem operacional, observe a simulação a seguir, em que verificamos uma alteração no volume em relação à Base (40.000 unidades) e crescimentos no volume na ordem de 20% e 30%. GAO = =15 56 10 00 , % , % 1,56 TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 117 FIGURA 45 – SIMULAÇÃO DE RESULTADO GERENCIAL BASEADO NO GAO FONTE: Os autores Para um crescimento no volume de vendas de 20%, oriundo de GAO de 1,56 (20% crescimento em vendas x 1,56), deverá gerar um lucro de 31,2%, e para um crescimento nas vendas de 30% deverá gerar um lucro de 46,7%(30% crescimento em vendas x 1,56). Segundo Padoveze (2003, p. 158), uma análise baseada no índice de GAO pode ser útil em situações em que: (i) permite comparar duas estruturas de custos, evidenciando a que tem maior GAO é mais alavancada; (ii) permite calcular imediatamente qual será a variação do lucro operacional, dada uma variação percentual esperada no volume de vendas; e (iii) permite comparar o GAO da empresa em relação à média do setor em que atua. Base 20% 30% Volume de vendas 40.000 48.000 52.000 Receita 880.000 1.056.000 1.144.000 ( -) Custos e Despesas Variáveis - 600.000 - 720.000 - 780.000 (=) Margem de Contribuição 280.000 336.000 364.000 ( -) Custos e Despesas Fixas 100.000 100.000 100.000 (=) Lucro Operacional 180.000 236.000 264.000 Crescimento 0% 31,1% 46,7% IMPORTANT E Caro acadêmico! A alavancagem operacional é um importante mecanismo indicativo do desempenho da estrutura de custos. Nesta condição é possível perceber quando uma empresa possui custo fixo muito alto, e, por isso, maiores serão os riscos operacionais que poderão influenciar a redução de vendas no futuro. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 118 Por fim, a análise do Grau de Alavancagem Operacional (GAO) permite comparar as estruturas de custos das empresas ou mesmo de setores econômicos, ou ainda, projetar o planejamento de lucros baseados em volume de vendas esperado. 5.8 ÍNDICE DE ATIVIDADE, PRAZO MÉDIO OU ROTATIVIDADE Os indicadores de atividade, rotatividade ou prazo médio são medidas utilizadas para averiguar o desempenho operacional, inter-relacionando os resultados econômicos com os saldos do balanço patrimonial da empresa, indicando prazo médio, em dias, ou quantidade de rotação em um determinado período, dos elementos que formam o capital de giro próprio das empresas, bem como possibilitar sua administração contínua. Segundo Blatt (2001, p. 88), os índices de atividade ou rotatividade “medem quão eficientemente a empresa gerencia seus ativos”. Desta forma, um indicador de atividade possibilita medir quantos dias, em média, demora-se para receber as vendas, pagar seus fornecedores, ou ainda renovar seus estoques. Este tipo de análise deve ser feito separado dos demais indicadores, bem como sempre ser analisado em conjunto. Os indicadores que podem ser calculados sob a forma de prazos médios ou rotação são denominados de: (i) Prazo Médio de Estoques – PME, (ii) Prazo Médio de Clientes – PMC e (iii) Prazo Médio de Pagamento – PMP. 5.8.1 Prazo Médio de Estoques – PME O prazo médio de estoque (PME) é o indicador que tem por finalidade evidenciar o número de dias, em média, que os materiais comprados, consumidos e transformados em produtos acabados ficam estocados antes de serem vendidos. Os níveis de estocagem mantidos na empresa têm relação direta com o volume de vendas e as políticas de estocagem. A performance deste indicador se baseia no princípio de que os estoques devem girar o mais rápido possível para minimizar os custos de estocagem. O Prazo Médio de Estoque pode ser calculado pela seguinte fórmula: PME SME CPV Saldo Custo = Médio de Estoques dos Produtos Veendidos x 360 Interpretação: Quanto menor, melhor TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 119 A interpretação de indicador evidencia que quanto menor o prazo médio de estocagem, melhor será, pois maior será a capacidade de renovar os estoques, ou seja, quanto menor o prazo, maior é o giro dos estoques. O saldo médio de estoques é obtido pelo saldo final de estoques do período anterior, ou seja, saldo início do período atual mais o saldo final do período atual dividido por 2, ou seja, média atribuída entre os saldos inicial e final de estoques. No caso da Cia. VTEX S.A., podemos observar que este indicador apresenta o seguinte desempenho: PME SME CPV = = 50,00 19 445 140 000 24 444 50 160 0 . . . , . 000 = 55,00 20x1 20x2Índice Índice O índice de prazo médio de estoques da Cia. VTEX S.A. indica que em 20x1 o PME era de 50 dias e que em 20x2 apresentou um aumento que passou para um PME de 55 dias. Quaisquer motivos, como por exemplo, alterações na política de estocagem, produtos estocados e não vendidos ou obsoletos, podem ser a causa do aumento de PME da Cia. VTEX S.A. O giro do estoque (GE) é obtido pela divisão do número de dias/ano (360) pelo prazo médio de estoques – PME, podendo ser representado da seguinte forma: GE PME = = = 360 360 50 00 360 55 00 7,20 6,55 , , 20x1 20x2Índice Índice A análise do giro dos estoques indica quantas vezes, dentro de um ciclo ou período de análise, pode-se fabricar o produto da empresa. No caso da Cia. VTEX S.A., o giro do estoque em 20x1 (7,20 vezes) foi melhor que em 20x2 (6,55), portanto, uma rotação mais lenta, cujo ciclo equivale a 55 dias. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 120 5.8.2 Prazo Médio de Clientes – PMC O Prazo Médio de Clientes – PMC é o indicador que tem por finalidade evidenciar o número de dias, em média, que o produto leva para ser vendido e os recursos efetivamente recebidos, ou seja, retornados para a empresa. O prazo médio de clientes é obtido pela seguinte fórmula: A interpretação deste índice indica que quanto menor, melhor será, pois menores serão os investimentos realizados em créditos concedidos aos clientes de vendas a prazo. Aliás, este é o ponto central que norteia o desempenho deste indicador. O volume de investimentos de clientes ou duplicatas a receber tem relação direta com o volume de vendas a prazo e com o prazo médio concedido aos clientes para recebimento. O saldo médio de clientes é obtido pelo saldo final de clientes do período anterior, ou seja, o saldo do início do período atual, mais o saldo final do período atual, dividido por 2, ou seja, média atribuída entre os saldos inicial e final de clientes. No caso da Cia. VTEX S.A., podemos observar que este indicador apresenta o seguinte desempenho: PMC SMC VL Saldo Vendas Líquidas = Médio Clientes x 360 Interrpretação: Quanto menor, melhor PMC SMC VL = = = 37,8 49 583 472 000 60 000 555 900 . . . . 38,9 20x1 20x2Índice Índice O índice de prazo médio de clientes – PMC da Cia. VTEX S.A., indica que em 20x1 o PMC era de 37,8 dias e que em 20x2 este prazo aumentou para 38,9 dias. O aumento do PMC indica que o crescimento das vendas demandou um aumento de investimentos em vendas a prazo, resultando em um aumento de investimentos em contas a receber. O giro de clientes (GC) é obtido pela divisão entre número de dias/ano (360), pelo prazo número médio de clientes – PMC, podendo ser representado da seguinte forma: TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 121 A análise de giro de clientes (GC) indica quantas vezes, dentro de um ciclo ou período de análise, a empresa consegue receber de seus clientes em relação às suas vendas a prazo. No caso da Cia. VTEX S.A., o giro de clientes em 20x1 foi de 9,52 vezes, enquanto que em 20x2 foi de 9,27 vezes; logo, o desempenho piorou, pois em 20x1 o giro era mais rápido e, portanto, exige menores recursos investidos em contas a receber. 5.8.3 Prazo Médio de Pagamento – PMP O Prazo Médio de Pagamento – PMP é o indicador que tem por finalidade evidenciar o número de dias, em média, que as compras realizadas a prazo são pagas ao fornecedor. Conforme Silva (1999, p. 336), o PMP “indica quantos dias, em média, a empresa demora em pagar seus fornecedores”. Nas palavras de Blatt (2001, p. 90), “o crédito concedido pelos fornecedores é espontâneo e, em princípio, renovável. Por não possuir encargos, quanto maior, mais favorece a estrutura da empresa”. O Prazo Médio de Pagamento pode ser obtido pela seguinte fórmula: GC PMC = = = 360 360 37 8 360 38 9 9,52 9,27 , , 20x1 20x2Índice Índice PMP SMF Compras Saldo Compras = Médio de Fornecedores do Perríodo x 360 Interpretação: Quanto maior, melhor A interpretação deste índiceindica que quanto maior, melhor será, pois mais tempo a empresa terá para pagar seu fornecedor, e desta forma contribuirá na redução da necessidade de buscar recursos mais onerosos para financiar as suas operações. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 122 O saldo médio de pagamento é obtido pelo saldo final de fornecedores do período anterior, ou seja, o saldo do início do período atual, mais o saldo final do período atual, dividido por 2, ou seja, média atribuída entre os saldos inicial e final de fornecedores. IMPORTANT E A identificação do Prazo Médio de Pagamento – PMP não é um indicador fácil de ser elaborado, visto que o montante das compras não está claramente evidenciado nas demonstrações contábeis. Partindo da fórmula básica de apuração do custo da mercadoria vendida – CMV, ou seja, o custo das vendas, é possível estabelecer o montante das compras. O CMV é estabelecido pela fórmula CMV = EI + C – EF, onde: EI = Estoque Inicial C = Compras do período e EF = Estoque Final Para saber o valor do montante das compras, precisamos rearranjar a fórmula da seguinte forma: C= CMV – EI + EF. No caso da Cia. VTEX S.A., obtemos os seguintes valores de Compras no período: Depois de apurar o montante das compras, é possível calcular o prazo médio de pagamento, conforme fórmula apresentada. No caso da Cia. VTEX S.A., temos o seguinte desempenho: Ano CMV - EI + EF = C 20x1 140.000 - 19.688 + 25.140 = 145.452 20x2 160.000 - 25.140 + 27.728 = 162.588 TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 123 O indicador de Prazo Médio de Pagamento da Cia. VTEX S.A. no ano de 20x1 indica que em média os pagamentos foram realizados a cada 48,7 dias, enquanto que em 20x2 esse prazo aumentou para 58,5 dias. Na análise de desempenho da Cia. VTEX S.A. observamos uma melhora, pois quanto maior o índice de prazo médio, maior será a capacidade de financiar as operações com capital de giro próprio. O giro de Pagamento (GP) é obtido pela divisão entre número de dias/ ano (360) e o prazo médio de pagamento – PMP, podendo ser representado da seguinte forma: A análise de giro de pagamentos (GP) indica quantas vezes, dentro de um ciclo ou período de análise, a empresa consegue pagar seus fornecedores em relação às suas compras a prazo. No caso da Cia. VTEX S.A., o giro de pagamento de fornecedores foi de 7,39 vezes em 20x1 e 6,15 vezes em 20x2. Neste caso, quanto mais lento o giro de pagamentos, melhor será, pois um aumento no PMP indica que houve um aumento da capacidade de financiamento em relação aos investimentos no giro dos negócios. PMP SMF Compras = = 48,7 19 688 145 452 26 434 162 58 . . . . 88 = 58,5 20x1 20x2Índice Índice GP PMC = = = 360 360 48 7 360 58 5 7,39 6,15 , , 20x1 20x2Índice Índice 5.8.4 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro O fluxo de operação de uma empresa inicia com a compra de materiais que aguardam em estoque o momento de serem consumidos no processo produtivo e transformados em produto acabado. As etapas deste processo contínuo de fabricação são um importante mecanismo de análise de desempenho gerencial das empresas. Por meio deste processo é possível determinar se existem folgas financeiras ou se a empresa trabalha com a necessidade de captação de recursos mais onerosos, e pode ser visualizado através da fórmula: CO = PME + PMC, onde: UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 124 CO = Ciclo Operacional PME = Prazo Médio de Estoques e PMC = Prazo Médio de Clientes Conceitualmente, o ciclo operacional pode ser entendido como “o período desde a chegada da matéria-prima até o recebimento de dinheiro do cliente” (ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 1995, p. 538). Podemos, então, compreender que o ciclo operacional compreende o tempo necessário de fabricação dos produtos e o ingresso dos recursos oriundos de sua venda. Durante esse tempo de fabricação, a empresa está investindo recursos na tentativa de vendê-lo, ou seja, gerar fluxos de caixa futuro. Contudo, nem sempre, ou na maioria das vezes, a empresa consegue suportar este investimento apenas com o capital de giro próprio, necessitando recorrer a outras fontes de financiamento. Para isto, é preciso dimensionar o ciclo financeiro, em que se determina a necessidade do capital de giro complementar, necessário para financiar as operações da empresa. IMPORTANT E O conhecimento dos ciclos operacional e financeiro das empresas é de suma importância para o analista na concessão de crédito, que busca conhecer a posição do ciclo de geração de caixa. Neste contexto, a diferença entre ciclo operacional e ciclo financeiro é descrito por Assaf Neto (2000, p. 187) da seguinte forma: “Enquanto o ciclo operacional se inicia no momento da aquisição dos materiais, o ciclo de caixa (ou ciclo financeiro) compreende o período de tempo entre o momento do desembolso inicial de caixa para pagamento dos materiais e a data do recebimento de venda do produto acabado”. A fórmula para se obter o ciclo financeiro, segundo Blatt (2001, p. 92), pode ser medida de várias formas, como, por exemplo: TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 125 CF = CO – PMP CF = PMC + PME - PMP Onde: CF = ciclo financeiro CO = ciclo operacional PME = prazo médio de estoque PMC = prazo médio de clientes e PMP = prazo médio de pagamento. Vamos visualizar o ciclo operacional (CO) e o ciclo financeiro (CF) da Cia. VTEX S.A. do ano 20x1, para um melhor entendimento. FIGURA 46 – CICLO OPERACIONAL E CICLO FINANCEIRO – CIA. VTEX S.A. EM 20X1 FONTE: Os autores Podemos observar que o ciclo operacional (CO) seria de 87,8 dias, enquanto o ciclo financeiro (CF) seria de 39,1 dias (saldo positivo). Desta forma, a Cia. VTEX S.A. terá que pagar aos fornecedores de sua matéria-prima antes de receber os recursos financeiros provenientes destas vendas, portanto, justificando uma necessidade de capital de giro, a ser financiada por outras fontes de financiamento. FIGURA 47 – APURAÇÃO DO CICLO FINANCEIRO DA CIA. VTEX S.A. Equivalente ao ciclo operacional = 87,8 dias PME = 50 dias PMC = 37,8 dias PMP = 48,7 dias Ciclo Financeiro Período PME + PMC - PMP = CF 20x1 50,0 + 37,8 - 48,7 = 39,1 20x2 55,0 + 38,9 - 58,5 = 35,3 FONTE: Os autores UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 126 Comparativamente, o ciclo financeiro da Cia. VTEX S.A. em 20x2 representou 35,3 dias, logo, a necessidade de capital de giro da empresa indica que a cada ciclo de operações de 93,9 dias a empresa necessita financiar 35,3 dias com outras fontes de recursos. O giro de caixa é obtido pela divisão entre o número de dias/ano (360) pelo ciclo financeiro (CF), podendo ser representado da seguinte forma: GF CF = = = 360 360 39 1 360 35 3 9,21 10,19 , , 20x1 20x2Índice Índice Com base nas informações da Cia. VTEX S.A., podemos observar que o giro financeiro de caixa foi mais rápido em 20x2 (10,19 vezes) do que em 20x1 (9,21 vezes), indicando menor necessidade de financiar o capital de giro. Mesmo sabendo que é muito difícil de ocorrer um ciclo financeiro ideal, este seria o que apresentasse um saldo negativo, ou seja, os prazos com fornecedores seriam maiores que os prazos de estoques e recebimentos de clientes. Conforme explica Blatt (2001, p. 91), “o ideal seria que a empresa atingisse uma posição em que a soma do Prazo Médio de Renovação dos Estoques (PMRE) com o Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV) fosse igual ou inferior ao Prazo Médio de Pagamento de Compras (PMPC)”. Uma forma de medir essa proximidade pode ser representada assim: No caso da Cia. VTEX S.A., o índice apresentado em 20x1 foi de 0,55 (48,7 ÷ 87,8) e 20x2 de 0,62 (58,5 ÷ 93,90), indicando uma melhora no índice de cobertura. Desta forma, o ideal é que o indicador seja igual ou superior a 1, quando os investimentos em capital de giro serão totalmente financiados pelos fornecedores. A empresa deve buscar alternativas de melhorar o desempenho, adotando estratégiaspara aumentar a velocidade do giro dos estoques, políticas de cobrança mais agressivas para reduzir inadimplência, negociando cada vez mais o aumento nos prazos concedidos pelos fornecedores, entre outras alternativas. Desta forma, minimiza as necessidades de capital de giro com outras fontes de recursos onerosas. Relação entre o ciclo operacional e PMP = PMP PME + PMMC 1≤ TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 127 5.9 ÍNDICE-PADRÃO Como já relatamos anteriormente, a utilização do índice-padrão é de suma importância para análise das demonstrações contábeis, visto que serve de base comparativa com o desempenho de outras empresas. Além disto, é um facilitador de análise, pois podemos comparar dezenas, centenas, milhares de empresas ao mesmo tempo, com a empresa analisada. Para tal, recorre-se à estatística para construção dos padrões. Segundo explicam Padoveze e Benedicto (2010, p. 221), “a elaboração ou existência de padrões para a análise de balanço é conhecida com dados externos à empresa, por meio de cálculos estatísticos com demonstrações contábeis de empresas concorrentes ou do setor de atuação”. Desta forma, podemos inferir que o índice-padrão é uma técnica que se utiliza dos conhecimentos da estatística para construir padrões e possibilitar comparabilidade do desempenho de uma empresa analisada, com outras empresas do mesmo ramo de atividade. Neste contexto, uma empresa do ramo têxtil pode apresentar um indicador de liquidez corrente (Ativo Circulante/Passivo Circulante) de 1,10, que, ao ser comparado com o de seus concorrentes, pode ser considerado como baixo. No entanto, para uma empresa do setor de transportes coletivos pode ser um bom desempenho, visto que esta empresa não possui estoques e recebe sempre à vista. A existência de uma grande diversidade de atividades justifica a necessidade de comparar os índices de uma empresa com os índices de outras empresas de mesma atividade. A estatística proporciona várias formas de construir os padrões, entre elas, segundo Padoveze e Benedicto (2010, p. 224), pode-se citar “[...] média aritmética e a mediana, ambas para dados agrupados. Para avaliar a distância dos indicadores da empresa analisada em relação aos padrões estruturados com a mediana, têm sido utilizados quartis e decis, técnicas estatísticas de partilhamento da distribuição de frequências observadas”. Se o analista não possuir os índices-padrões para possibilitar a análise, deverá construir estes padrões. Demonstraremos aqui um exemplo de construção de índice-padrão baseado no decis, que são medidas estatísticas de natureza mediana. Para elaboração, deveremos adotar os seguintes critérios: (i) classificar empresas em grupo, separando-as por ramos de atividade; (ii) calcular os índices econômico-financeiros selecionados para análise; (iii) ordenar os índices em ordem crescente de valor; e (iv) distribuir os dados obtidos em decis. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 128 0,80 0,85 0,90 0,96 0,98 1,02 1,02 1,03 1,07 1,08 1,12 1,12 1,14 1,15 1,15 1,17 1,19 1,19 1,23 1,26 1,28 1,30 1,33 1,36 1,38 1,40 1,43 1,44 1,50 1,54 1,55 1,58 1,66 1,70 1,75 1,80 1,82 1,83 1,88 1,90 Vamos a um exemplo! Um analista deseja construir um padrão para índice de liquidez corrente das empresas do setor têxtil de sua região. Para isto, após coletar as demonstrações contábeis de 40 empresas do ramo têxtil da região, obtém o cálculo dos índices de liquidez corrente destas, conforme se demonstra na figura a seguir. TABELA 2 – RELAÇÃO DOS INDICADORES DE LIQUIDEZ CORRENTE FONTE: Os autores O próximo passo do analista é definir a mediana e posicionar os decis, para isto necessita ordenar os índices em ordem crescente, ou seja, do menor para o maior. TABELA 3 – ORDENAÇÃO DOS ÍNDICES POR ORDEM CRESCENTE FONTE: Os autores Para calcular os decis, segundo o critério de medida, deve-se encontrar o 1º decil (a primeira décima parte do conjunto de dados da amostra), que representa 10% dos elementos de um conjunto abaixo de si e 90% acima. No nosso exemplo, estamos falando de quatro elementos (40 x 10% = 4), do conjunto de 40 elementos. Deixando os quatro elementos abaixo (0,80 – 0,85 – 0,90 – 0,96), podemos concluir que o primeiro decil está entre 0,96 e 0,98, e para identificar sua posição calculamos a média aritmética entre ambos, conforme o exemplo a seguir: 1,80 1,40 0,80 1,02 1,33 1,15 1,28 1,02 0,90 1,75 1,13 1,44 1,90 1,83 1,58 0,98 1,17 1,23 1,12 1,55 1,26 1,19 1,66 1,12 1,54 1,19 1,03 1,50 0,96 0,85 1,70 1,30 1,36 1,88 1,38 1,07 1,43 1,82 1,08 1,15 TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 129 Decil Limite Inferior Limite Superior Média 1o. 0,96 0,98 0,97 2o. 1,03 1,07 1,05 3o. 1,12 1,14 1,13 4o. 1,17 1,19 1,18 5o. 1,26 1,28 1,27 6o. 1,36 1,38 1,37 7o. 1,44 1,5 1,47 80. 1,58 1,66 1,62 9o. 1,80 1,82 1,81 Para encontrar o segundo decil segue a mesma lógica, e assim por diante para os demais, conforme se demonstra na tabela a seguir. 0 96 0 98 2 0 97, , , + = TABELA 4 – VALORES DE CADA DECIL FONTE: Os autores Depois de calculados todos os decis, obtém-se o índice-padrão, indicando a faixa de comportamento do índice de liquidez corrente das 40 empresas do mesmo setor da empresa analisada, conforme apresentamos na figura a seguir. FONTE: Os autores FIGURA 48 - ESCALA DO ÍNDICE-PADRÃO ACUMULADO POR DECIL Caro acadêmico! Observe que a mediana sempre estará no quinto decil, pois representa a igualdade (50% inferior e 50% superior) dos conjuntos da amostra analisada. Agora, o analista pode comparar a empresa analisada com o índice- padrão e determinar onde esta se enquadra dentro da referência apresentada. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 130 FIGURA 49 – QUALIFICAÇÃO DOS ÍNDICES (DE ACORDO COM SUA POSIÇÃO EM CADA DECIL) FONTE: Os autores Outro ponto a ser observado, quando da qualificação do índice, refere-se à sua interpretação. Por exemplo, o indicador de liquidez corrente (ativo circulante dividido por passivo circulante) demonstra a folga ou exposição líquida financeira da empresa no curto prazo; logo, quanto MAIOR esta folga, MELHOR será o índice. Por outro lado, o indicador de participação de capital de terceiro demonstra o grau de endividamento frente ao capital próprio da empresa, logo, quanto MENOR a dependência da empresa com capital de terceiros, MELHOR será este índice. Portanto, neste caso, a ordem de qualificação deverá ser inversa, conforme visualizamos na figura anterior. Verificando o desempenho da empresa ABC, calculou-se um índice de liquidez corrente de 1,79, e comparando este índice com índice-padrão do setor, constata-se que a empresa está entre o 8º e 9º decil, atingindo um desempenho superior a 80% das empresas do ramo de atividade. Para tornar esta análise mais objetiva e dar maior visibilidade a seu posicionamento, é preciso qualificar, atribuindo valores e notas que possam avaliar o desempenho da empresa. A conceituação das classes que denominam o comportamento de um índice-padrão pode ser concebida de acordo com o entendimento do analista, porém deve ficar clara a abordagem de sua metodologia. Em nosso exemplo, utilizando-nos da metodologia de Matarazzo (2003), classificamos cada decil em Péssimo, Deficitário, Fraco, Razoável, Satisfatório, Bom e Ótimo. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 131 Outra forma de qualificar o conceito para análise, com base no índice- padrão, pode ser atribuindo notas com valor numérico para que possa ser somado e uma nota geral atribuída ao desempenho da empresa, conforme podemos visualizar na figura a seguir. FIGURA 50 – CLASSIFICAÇÃO DOS ÍNDICES (ATRIBUIÇÃO DE NOTAS COM VALOR NUMÉRICO) FONTE: Os autores Observe que na escala de índice, cuja interpretação é “quanto maior, melhor”, se poderia atribuir nota 1 para os índices próximos do primeiro decil e nota 2 para o segundo decil, e assim por diante. Para a escala de índice cuja interpretação seja “quanto menor,melhor”, o raciocínio seria o inverso, ou seja, nota 1 para o nono decil, nota 2 para o oitavo decil e assim por diante. 5.10 ATRIBUIÇÃO DE PESOS NA ESTRUTURA DE ÍNDICE- PADRÃO O que vimos até aqui foi como estabelecer um índice-padrão de um indicador resultante de um conjunto de empresas, cujo padrão de resposta encontrado permita compará-lo com o desempenho da empresa analisada. Neste contexto, cada indicador que compõe a análise apresenta seus resultados isolados. Por exemplo, enquanto o indicador de liquidez corrente foi qualificado como ótimo, o indicador de participação de capital foi qualificado como satisfatório, o índice de lucratividade foi qualificado como razoável e assim por diante. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 132 Agora, se pensarmos no conjunto dos indicadores, qual teria sido o desempenho da empresa? Para isto, volta-se para a importância que cada indicador tem no contexto da análise do ramo de atividade da empresa. Esse ponto de entendimento é crucial ao modelo de análise de comparabilidade do índice-padrão, pois pode determinar julgamentos equivocados. Relativamente, que pesos devem ser considerados em uma análise dos índices econômico-financeiros de uma empresa? Para essa resposta ainda tem-se muito a pesquisar, pois o modelo ideal ainda está para ser descoberto. Os modelos matemáticos ajudam muito a consolidar modelos de avalição da performance das empresas, como, por exemplo, os modelos de solvência desenvolvidos por Kanitz, Elizabetsky, Altmann, entre outros. Contudo, os pesos atribuídos pela experiência dos analistas de mercado também devem ser levados em consideração, pois, muitas vezes, o julgamento de valor destes respalda em opiniões mais acertadas. Na figura a seguir apresentamos um modelo de pesos atribuídos que sugere qualificar uma nota geral como avaliação da empresa baseada em alguns indicadores. FIGURA 51 – DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DA NOTA DE AVALIAÇÃO GLOBAL FONTE: Os autores Acadêmico! Perceba que os indicadores foram classificados em três grupos, sendo estrutura de capital, liquidez e rentabilidade e lucratividade. A cada índice, dentro de cada grupo, foram atribuídos pesos, como, por exemplo, no grupo de liquidez se observa os pesos para liquidez geral (0,3), liquidez corrente (0,5) e liquidez seca (0,2), cujo somatório perfaz 1,00 ou 100%, sendo o mesmo aplicado ao grupo de estrutura de capital e rentabilidade e lucratividade. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 133 Da mesma forma, foram aplicados pesos para os três grupos, sendo estrutura de capital (0,4), liquidez (0,2) e rentabilidade e lucratividade (0,4), que igualmente totaliza 1,00 ou 100%. O peso geral é resultado da multiplicação do índice, pelo grupo, como exemplo, a participação de capital de terceiros resultou um peso geral de 0,24 (0,60 x 0,40) e assim sucessivamente, cujo somatório totalizará 1,00 ou 100%. O peso geral é que deverá ser aplicado sobre a nota do índice para obter a nota ponderada (peso x nota), cujo somatório resulta na nota de avaliação geral da empresa. Vamos a um exemplo! Imagine que a empresa ABC teve qualificadas as notas em relação ao desempenho de seus índices no ano 1, ano 2 e ano 3, conforme demonstrado a seguir: CATEGORIA DE ÍNDICES ANO 1 ANO 2 ANO 3 ESTRUTURA DE CAPITAL Part. de Capital de terceiros 5 6 7 Composição do Endividamento 7 5 4 Imobilização do Pat. Líquido 3 7 8 Imobilização de Rec. Não correntes 6 7 8 LIQUIDEZ Liquidez Geral 8 9 7 Liquidez Corrente 9 7 6 Liquidez Seca 6 8 7 RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE Giro do Ativo 6 7 9 Margem Líquida 8 7 8 Rentabilidade do Ativo 8 5 7 Rentabilidade do Pat. Líquido 5 7 6 FIGURA 52 – NOTAS ATRIBUÍDAS À EMPRESA ABC FONTE: Os autores UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 134 Com base nas notas atribuídas em cada índice, calcula-se a nota de avaliação global da empresa, para aferir seu desempenho geral, conforme se demonstra na figura a seguir. FIGURA 53 – DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DA NOTA DE AVALIAÇÃO GLOBAL DA EMPRESA ABC FONTE: Os autores O resultado da avaliação geral do desempenho da empresa ABC nos anos 1, 2 e 3 indica um crescimento positivo na sua avaliação, pois no ano 1 estava qualificado como desempenho Satisfatório e nos anos 2 e 3 passou para a situação de desempenho Bom, indicando uma melhora de performance em relação ao desempenho do ramo de atividade. Também podemos acompanhar a evolução das categorias estrutura de capital, liquidez e rentabilidade e lucratividade, como se observa na figura a seguir. TÓPICO 1 | ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES 135 FIGURA 54 – NOTAS DE AVALIAÇÃO PARCIAL DA EMPRESA ABC FONTE: Os autores A ponderação das notas em cada uma das categorias (estrutura de capital, liquidez e rentabilidade e lucratividade) possibilitou indicar o comportamento destas categorias em relação ao índice-padrão das empresas do mesmo ramo de atividade da empresa analisada, que podemos visualizar de forma gráfica, na figura a seguir. FIGURA 55 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA EVOLUÇÃO DAS CATEGORIAS FONTE: Os autores Categoria Estrutura de Capital Liquidez Rentabilidade e Lucratividade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ótimo Bom Satisfatório Razoável Fraco Deficiente Péssimo x x xx x x x x x UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 136 Caro acadêmico! Podemos, aqui, observar a importância do índice-padrão como comparativo de índices de uma empresa com o desempenho de várias empresas de um mesmo ramo de atividade, cuja análise permite qualificar a sua posição em relação ao índice-padrão. 137 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos que: • Os índices ou indicadores, também denominados de quocientes, são a técnica de análise mais utilizada em análise de balanços, pois sua finalidade se baseia em suprir o analista de informações econômico-financeiras de uma empresa. • A extração de um índice de uma ou mais demonstrações contábeis se dá pela inter-relação entre os dados de valores absolutos de um numerador e um denominador que resultam no quociente ou índice. • Os indicadores básicos são classificados em indicadores de liquidez, estrutura de capital e rentabilidade/lucratividade. • Os principais indicadores de liquidez analisados são liquidez corrente, liquidez seca e liquidez geral. • Os principais indicadores da estrutura patrimonial são os indicadores de participação do capital total, composição do endividamento e imobilização do patrimônio líquido. • Os principais indicadores de rentabilidade/lucratividade são o retorno sobre o investimento, retorno sobre o patrimônio líquido, margem de lucro operacional e margem de lucro líquido. • O Grau de Alavancagem Financeira avalia o impacto causado nos lucros pela utilização de encargos financeiros, que são alavancados na utilização dos capitais de terceiros. • O grau de alavancagem operacional se dá pelo aumento do lucro operacional, quando se aumenta o volume de vendas, e o impacto contrário em caso de redução do volume, devido à estrutura de custos e despesas fixas que não se modificam, mas que permitem uma alavancagem das operações, considerando certos níveis de produção e vendas. • Os indicadores de atividade, rotatividade ou prazo médio são medidas utilizadas para averiguar o desempenho operacional, inter-relacionando os resultados econômicos com os saldos do balanço patrimonial da empresa, indicando prazo médio em dias ou quantidade de rotação em um determinado período dos elementos que formam o capital de giro próprio das empresas, bem como possibilitar sua administração contínua. 138 • Os principais indicadores de atividade são prazo médio de estoques, prazo médio de recebimento e prazo médio de pagamentos, que, combinados, formam o ciclo operacional e ciclo financeiro da empresa. • O índice-padrão é uma técnica que se utiliza dos conhecimentos da estatística para construir padrões e possibilitar comparabilidade do desempenho de uma empresa analisadacom outras empresas do mesmo ramo de atividade. A ideia central é, através de modelos estatísticos, classificar e separar em partes uma população de indicadores de um mesmo setor ou segmento, de forma a definir um padrão de desempenho setorial. 139 AUTOATIVIDADE Complete o balanço para o ano de 20x1, utilizando as informações fornecidas logo abaixo e respondendo às questões solicitadas: Dados financeiros relativos ao ano de 20x1: • O total das receitas de vendas foi de R$ 3.000.000. • A margem de lucro bruto foi de 40%. • O giro do estoque foi de 4,186. • Considerar ano com 360 dias. • O prazo de recebimento foi de 38,4 dias. • Compra do período foi de R$ 1.1920.000 • Prazo médio de pagamento foi de 90 dias. • O índice de liquidez corrente foi de 1,2983. • O giro do ativo total alcançou 1,50. Agora, responda às afirmativas a seguir: 1 O saldo de contas a receber é de: a) ( ) R$ 310.000,00 b) ( ) R$ 320.000,00 c) ( ) R$ 330.000,00 d) ( ) R$ 340.000,00 2 O saldo de estoque é de: a) ( ) R$ 400.000,00 b) ( ) R$ 420.000,00 140 c) ( ) R$ 430.000,00 d) ( ) R$ 440.000,00 3 O saldo total do passivo circulante é de: a) ( ) R$ 580.000,00 b) ( ) R$ 620.000,00 c) ( ) R$ 660.000,00 d) ( ) R$ 670.000,00 4 O saldo de fornecedores é de: a) ( ) R$ 480.000,00 b) ( ) R$ 520.000,00 c) ( ) R$ 560.000,00 d) ( ) R$ 670.000,00 5 O saldo do ativo total é de: a) ( ) R$ 1.700.000,00 b) ( ) R$ 1.800.000,00 c) ( ) R$ 2.000.000,00 d) ( ) R$ 2.100.000,00 6 O saldo total do exigível de longo prazo é de: a) ( ) R$ 740.000,00 b) ( ) R$ 760.000,00 c) ( ) R$ 780.000,00 d) ( ) R$ 800.000,00 7 A composição do endividamento (CE) é de: a) ( ) 41,8% b) ( ) 43,5% c) ( ) 44,3% d) ( ) 48,4% 8 A participação do capital de terceiro (PCT) é de: a) ( ) 158,4% b) ( ) 233,3% c) ( ) 299,8% d) ( ) 310,0% 9 A imobilização do Patrimônio Líquido é de: a) ( ) 199,2,2% b) ( ) 210,1% c) ( ) 220,2% d) ( ) 230,5% 141 10 A empresa Giro Rápido Ltda. tem um custo de mercadoria vendida num determinado período de R$ 400.000,00, um estoque inicial de R$ 300.000,00 e um estoque final de R$ 250.000,00. O saldo de fornecedores foi de R$ 200.000,00. Assinale V se a alternativa for verdadeira ou F se for falsa. a) ( ) As compras do período somam R$ 350.000,00. b) ( ) O prazo médio de pagamento é de 206 dias. c) ( ) O prazo médio de estoque é de 250 dias. d) ( ) O giro dos estoques é de 1,50 vezes. 142 143 TÓPICO 2 ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Além da técnica de índices ou indicadores, outras técnicas de análise muito utilizadas por sua versatilidade são a de Análise Vertical (AV) e a de Análise Horizontal (AH). O estudo aplicado para análise de cada técnica, ou mesmo em conjunto, permite avaliar fatores relevantes ocorridos que afetam a estrutura em um determinado período, ou ainda em determinada faixa de tempo. IMPORTANT E Acadêmico! Agora vamos conhecer a aplicação prática desta técnica de análise das demonstrações contábeis. 2 TÉCNICA DA ANÁLISE VERTICAL (AV) Caro acadêmico! A Análise Vertical representa uma análise voltada para a comparação entre elementos de uma mesma estrutura, em nosso caso, uma demonstração contábil que pode ser um Balanço Patrimonial ou uma DRE, por exemplo. Neste contexto, a Análise Vertical é um instrumento de análise que se utiliza da relação entre um valor base, representado pelo percentual de 100%, e os demais números dentro da estrutura, indicando o percentual de participação relativa de cada um em relação ao valor base. Segundo explicam Padoveze e Benedicto (2010, p. 195), “para o Balanço Patrimonial convencionou-se adotar como 100% o total do Ativo e do Passivo. Para a demonstração de resultados, estabeleceu-se adotar como 100% o valor do total da Receita Líquida, líquida dos impostos, denominada legalmente de Receita Operacional Líquida”. Para itens do Balanço Patrimonial, a Análise Vertical pode ser estabelecida da seguinte forma: UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 144 Para itens da Demonstração de Resultados do Exercício pode ser: Para exemplificar, vamos analisar a conta clientes da nossa empresa Cia. VTEX S.A., conforme se demonstra a seguir: Podemos observar que na Análise Vertical da Cia. VTEX S.A., a conta clientes representou em 20x1 13% do valor do Ativo Total e em 20x2 essa participação aumentou para 14%. Apresentamos a seguir um resumo do Balanço Patrimonial da Cia. VTEX S.A. com todas as variações calculadas pela Análise Vertical (AV). AVBP Conta Valor = do Balanço Patrimonial Base (Ativo ou Passiivo) x 100 AVDR Conta ceita = de Custos, Despesas ou resultados OperacRe iional Líquida 100x AV Clientes Clientes Ativo − = = Total x 100 55 000 409 140 . . 13% 14%65 000 469 929 . . = 20x1 20x2Índice Índice FIGURA 56 – ANÁLISE VERTICAL DO BALANÇO PATRIMONIAL DA CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores TÓPICO 2 | ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL 145 Na análise vertical do Balanço Patrimonial da Cia. VTEX S.A. observa- se um leve aumento de investimentos no Ativo Circulante (33% para 34%), portanto, aplicação de investimentos no curto prazo, com leve desaceleração dos investimentos de longo prazo (67% para 66%), principalmente no Ativo Imobilizado (39% para 36%). Do lado do Passivo, que representa a origem de recursos (financiamentos) que são aplicados no Ativo, indica que a Cia. VTEX S.A. captou uma quantidade menor de recursos do curto prazo referente aos financiamentos de suas operações (capital de giro), ou seja, uma redução de 34% para 28% em 20x2. Com a redução dos financiamentos de longo prazo (16% para 12%), fica evidente que a Cia. VTEX S.A. tem buscado captar recursos próprios para aplicar em ativos (50% para 60%) em 20x2. Esses aumentos e reduções da participação de ativos e passivos em 20x1 e 20x2 são dados por uma relação de valores absolutos diferentes, e por isso, somente a análise vertical não demonstra se o aumento das contas é influenciado pelo aumento da própria conta ou pela redução e/ou aumento proporcional dos ativos. Assim sendo, será necessário analisar a conta também pela técnica da Análise Horizontal (AH). 3 TÉCNICA DA ANÁLISE HORIZONTAL (AH) Na técnica de Análise Horizontal (AH) compara-se o seu comportamento evolutivo e demonstra-se as variações de aumentos ou reduções com relação a uma única conta. Em outras palavras, a Análise Horizontal permite comparar a evolução de uma conta entre determinados períodos e pode ser representada da seguinte forma: O período comparativo representa o valor do período em que se deseja analisar o aumento ou redução em relação ao período base. Este, por sinal, significa o período de referência para a análise. Por exemplo, se tomarmos 20x1 como período base, pode-se considerar na análise como período comparativo o ano de 20x0 ou ainda 20x2. AH Valor Valor = do Período Comparativo do Período Base −− 1 100 x UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 146 DICAS Observe que a definição do período base é de suma importância na definição da análise horizontal, pois a partir deste serão analisados os demais períodos. Normalmente, na análise horizontal se segue uma ordem cronológica de períodos e o período base seria o mais antigo. A fórmula da Análise Horizontal (AH) se aplica tanto para contas do Balanço Patrimonial (BP), como para as contas da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Para exemplificar, vamos analisar a conta clientes da nossa empresa Cia. VTEX S.A., conforme se demonstra a seguir: O período base, quando comparado com ele mesmo, não representa nenhuma análise, pois sua posição estática não apresenta a evolução relativa dos valores, desta forma, não se utiliza para fins de análise. Contudo, ao analisar o período base (20x1) com o período comparativo (20x2), observamos que a conta Clientes da Cia. VTEX S.A. aumentou em 18%. A análiseé simples, indica que o saldo Clientes aumentou provavelmente por conta do crescimento de vendas ou, ainda, por conta do aumento da inadimplência. Apresentamos, a seguir, um resumo do Balanço Patrimonial da Cia. VTEX S.A. com todas as variações calculadas pela Análise Horizontal (AH). AH Clientes Saldo Saldo − = Clientes - Período Comparativo Clienntes - Período Base x 100 0% 55 000 55 000 65. . = .. . 000 55 000 = 18% 20x1 20x2Índice Índice TÓPICO 2 | ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL 147 FIGURA 57 – ANÁLISE HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL DA CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores Na Análise Horizontal da Cia. VTEX S.A. podemos observar que no total do Ativo houve uma variação de 15%, indicando que os ativos cresceram em comparação ao ano base 20x1. Também se pode observar que o grupo ativo circulante teve um crescimento de 17%, motivado principalmente pelo aumento de caixa. Referente aos investimentos realizados no ativo não circulante em relação ao período base, nota-se um aumento de 14%, principalmente pelo aumento de créditos com clientes em longo prazo e aquisições de veículos no imobilizado. Do lado do Passivo, na comparação com o período base, observa-se claramente que a política da empresa foi de captar recursos próprios, pois o crescimento ou variação positiva foi de 38%, enquanto os financiamentos com capital de terceiros de curto (-6%) e longo prazo (-15%) registraram diminuições de saldos ou variação negativa. Desta forma, uma análise conjunta, utilizando tanto a Análise Horizontal como a Análise Vertical, é de suma importância para compreender os movimentos de saldos das contas das Demonstrações Contábeis. UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 148 4 ANÁLISE CONJUNTA – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL Ao analisar o crescimento ou evolução dos saldos das contas (Análise Horizontal), podemos perceber quais contas estão crescendo muito acima do padrão das demais. No entanto, mesmo assim, um alto crescimento em percentual relativo poderá indicar irrelevância se comparado com valores absolutos em relação à estrutura (Análise Horizontal). Vamos a um exemplo: ATIVO 20x1 % AVBP 20x2 %AVBP %AHBP Circulante Caixa 500 0,4 3.000 2,2% 500% Aplicações Financeiras 40.000 34% 40.900 30% 2% Clientes 55.000 46% 65.000 48% 18% Estoques 23.200 20% 25.689 19% 11% Total do Circulante 118.700 100% 134.589 100% 13% FIGURA 58 – ANÁLISE DE VARIAÇÃO CONJUNTA – AH VERSUS AV FONTE: Os autores Caro acadêmico! Se realizássemos apenas a Análise Horizontal seria impossível não notar o crescimento significativo da conta caixa de 500% em relação ao período base 20x1. Poderíamos até concluir que este aumento é significativo e necessitaria de uma análise muito criteriosa por parte do analista. Contudo, observe que a Análise Vertical indica sua representatividade em relação ao total do ativo circulante, que pode ser considerado irrelevante ou imaterial (0,4% para 20x1 e 2,5% para 20x2) se comparado com os demais ativos investidos pela empresa. Desta forma, para análise mais assertiva das demonstrações contábeis, uma avaliação conjunta da Análise Vertical e Análise Horizontal é a forma mais adequada de avaliar o comportamento econômico e financeiro das empresas no contexto desta técnica. Apresentamos, a seguir, um resumo do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) da Cia. VTEX S.A., com todas as variações calculadas pela Análise Horizontal (AH) e a Análise Vertical (AV). TÓPICO 2 | ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL 149 FIGURA 59 – ANÁLISE DE VARIAÇÃO CONJUNTA DA CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores Caro acadêmico! Como vimos neste tópico, a análise conjunta da Análise Vertical e Horizontal é de suma importância para compreensão do comportamento e significância dos valores apresentados nas demonstrações contábeis. Assim, o analista deve compreender as inter-relações entre as contas e grupos de contas das demonstrações (Balanço Patrimonial e Demonstração de Resultado do Exercício). Vamos analisar um exemplo! FIGURA 60 – INTER-RELAÇÃO ENTRE ROL E CLIENTES FONTE: Os autores UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 150 A Receita Operacional Líquida (ROL) é resultante da diminuição entre a Receita Operacional Bruta e impostos sem faturamento, devoluções e abatimentos e representa a entrada dos recursos pela venda de bens e serviços. Em grande parte das empresas as condições de comercialização estão ligadas com as vendas a credito e, portanto, têm relação direta com a conta CLIENTES, representada do lado esquerdo do balanço patrimonial no grupo dos ativos, pelos direitos de crédito a receber no futuro pela venda a prazo. Seria lógico imaginar que, pela inter-relação, um aumento de vendas de 10% representaria na mesma proporção um aumento de 10% na conta clientes, considerando que as vendas fossem todas com prazo. Porém, outros fatos podem interferir nesta relação de causa e efeito, como, por exemplo, uma mudança na política de crédito da empresa, ampliando ou reduzindo o prazo, ou mesmo restringindo o crédito, que poderia interferir nesta relação. Outro fator que poderia influenciar na relação entre as contas seria o aumento da inadimplência, pois aumentaria o saldo de Clientes. Demonstramos, na figura a seguir, outros exemplos de inter-relações entre contas das demonstrações contábeis. FIGURA 61 – INTER-RELAÇÕES ENTRE CONTAS DA DRE E DO BALANÇO PATRIMONIAL Fonte: Os autores A conta estoques (Ativo Circulante) representa os saldos de valores dos materiais (insumos de produção) adquiridos para serem transformados e comercializados. As mercadorias (insumos) são adquiridas à vista ou a prazo. Quando à vista, os recursos são originados do caixa da empresa, e quando a prazo, existe uma promessa futura de pagamento, portanto são registrados na conta de fornecedores. TÓPICO 2 | ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL 151 Os custos dos produtos vendidos representam o consumo de recursos transferidos para a demonstração de resultado, logo, são os custos relacionados com as unidades vendidas. Neste caso, a conta produtos acabados é a conta de estoque da qual é transferido o saldo proporcional por unidade para o Custo dos Produtos Vendidos (CPV). Sua inter-relação evidencia o tempo necessário para a renovação dos estoques. Despesas com pessoal representam os gastos com os colaboradores e a conta salários a pagar o saldo a pagar desta dívida. Esta inter-relação evidencia os níveis de gastos e seus prazos de pagamento. O mesmo se aplica para as despesas gerais e os saldos da conta Contas a Pagar. A depreciação representa valores com base em estimativas de desgaste de um bem, apropriados na DRE, com a finalidade de reter parte do lucro para reposição deste bem ao término de sua vida útil. A desvalorização do bem, em função de sua vida útil, é registrada do lado esquerdo do Ativo Não Circulante no grupo Imobilizado, como uma conta redutora do ativo imobilizado, evidenciando o valor do bem em função útil. As despesas financeiras (DRE) se inter-relacionam com a conta do passivo Empréstimos e Financiamentos, que indica o nível de endividamento com instituições financeiras. Os juros pagos sobre as operações são contabilizados nesta conta de despesas financeiras. As receitas financeiras (DRE) seguem o mesmo raciocínio, porém, como valores recebidos e não pagos, inter-relacionam com a conta do ativo circulante Aplicações Financeiras, logo são receitas auferidas pelas aplicações no mercado financeiro. As despesas com impostos inter-relacionam com o saldo da conta Impostos a Recolher e evidenciam os níveis de pagamento desta despesa. Acadêmico! Não esgotamos as inter-relações com as contas patrimoniais e de resultados (DRE), porém mais adiante veremos muitos indicadores que se formarão baseados nestas inter-relações, portanto, trataremos com mais ênfase nos tópicos seguintes. 152 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • Uma das técnicas mais utilizadas para análisedas demonstrações contábeis denomina-se de Análise Vertical e Análise Horizontal. • A Análise Vertical está voltada para a comparação entre elementos de uma mesma estrutura, em nosso caso, uma demonstração contábil que pode ser um Balanço Patrimonial ou uma Demonstração de Resultado do Exercício. • A Análise Vertical é instrumento de análise que se utiliza da relação entre um valor base, representado pelo percentual de 100%, e os demais números dentro da estrutura, indicando o percentual de participação relativa de cada um em relação ao valor base. • A técnica de Análise Horizontal (AH) compara o comportamento evolutivo, demonstrando as variações de aumentos ou reduções em relação a uma única conta. Em outras palavras, a Análise Horizontal permite comparar a evolução de uma conta entre determinados períodos. • Uma análise conjunta entre Vertical e Horizontal é de suma importância ao analisar o crescimento ou evolução dos saldos das contas (Análise Horizontal). Podemos perceber quais contas estão crescendo muito acima do padrão das demais, porém, mesmo assim, um alto crescimento em percentual relativo poderá indicar irrelevância se comparado com valores absolutos em relação à estrutura (Análise Horizontal). 153 AUTOATIVIDADE 1 Sobre os benefícios econômicos e financeiros futuros que um ativo pode gerar para a entidade, analise as sentenças a seguir e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas. a) ( ) A análise da estrutura vertical é o processo que objetiva a medição percentual de cada componente em relação ao todo de que faz parte. b) ( ) Análise de evolução horizontal permite a avaliação do aumento ou diminuição dos valores, através do confronto de uma série histórica de períodos. c) ( ) Análise por quociente visa estabelecer a relação entre dois valores de natureza diferentes, indicando quantas vezes um contém o outro, ou a proporção de um em relação ao outro. d) ( ) Análise por diferenças absolutas se baseia no comportamento entre saldos de início e fim do período para determinação das origens e aplicações de recursos. Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F - F - V - V. b) ( ) V - F - F - V. c) ( ) V - V - V - F. d) ( ) F - V - F - V. 2 A análise horizontal tem por finalidade determinar: a) ( ) Evolução dos elementos que constituem as demonstrações contábeis, podendo caracterizar tendências. b) ( ) Índices de liquidez, endividamento, rentabilidade/lucratividade. c) ( ) Relação de uma conta específica com o todo em que faz parte. d) ( ) Índice-padrão comparativo de crescimento das contas que envolvem as demonstrações contábeis. 3 A identificação de uma relação percentual de um elemento em relação ao seu todo é denominada como método de: a) ( ) Análise por meio de quocientes. b) ( ) Análise vertical. c) ( ) Análise horizontal. d) ( ) Índice-padrão. 4 Em relação às técnicas de análise vertical e horizontal, analise as sentenças a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. 154 a) ( ) Isoladamente, as duas técnicas induzem a erros de avaliação. b) ( ) Em conjunto, as duas técnicas permitem identificar fatos relevantes que afetaram a estrutura da demonstração contábil. c) ( ) As análises vertical e horizontal são independentes entre si e não se complementam para fins de análise. d) ( ) A análise horizontal pode ser avaliada independente, sem prejuízo para a análise no contexto da relevância de determinada conta do balanço. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F - F - V - V. b) ( ) V - F - F - V. c) ( ) V - V - F - V. d) ( ) F - F - V - F. 5 Com base nos dados do Balanço Patrimonial da empresa Boa Sorte Ltda., referente ao Passivo e Patrimônio Líquido referente aos períodos de 20x0, 20x1 e 20x2. Faça as análises vertical e horizontal. Na análise vertical considere 100% o total do Passivo + Patrimônio Líquido, e na análise horizontal o primeiro ano tem como base 100 (índice 100), e todos os demais anos são representados com relação ao índice 100. 155 156 157 TÓPICO 3 ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A análise dinâmica do capital de giro baseia-se em uma visão de análise de atividades da operação da empresa, principalmente de compras, estocagem, vendas e recebimento. O correto dimensionamento dos recursos no giro impacta diretamente na saúde do fluxo de caixa da empresa e permite avaliar o uso adequado destes recursos destinados a aplicações no capital de giro da empresa. Segundo Assaf Neto (2006, p. 211), o capital de giro representa um: [...] fundamento básico da avaliação do equilíbrio financeiro de uma empresa. Pela análise de seus elementos patrimoniais são identificados os prazos operacionais, o volume de recursos permanentes (longo prazo) que se encontra financiando o giro, e as necessidades de investimento operacional. O comportamento do capital de giro é extremamente dinâmico, exigindo modelos eficientes e rápidos de avaliação da situação financeira da empresa. Uma necessidade de investimento no giro mal dimensionada é certamente uma fonte de comprometimento da solvência da empresa, com reflexos sobre sua posição econômica de rentabilidade. Um dos modelos desenvolvidos mais conhecidos sob a análise dinâmica do capital de giro denomina-se de modelo Fleuriet, o qual veremos a seguir. 2 MODELO FLEURIET – RECLASSIFICAÇÃO DAS CONTAS DO ATIVO E PASSIVO CIRCULANTE O capital de giro (CDG) é representado pela diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante, também é denominado de Capital Circulante Líquido (CCL) e pode ser visualizado da seguinte forma: 158 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS CCL ou CDG = AC - PC A conta estoque inclui os gastos com a compra, a estocagem de materiais, o seu consumo nas diversas etapas do processo produtivo, até sua conclusão, em que fica estocado em produtos acabados. Este processo do início ao fim tem um tempo de produção que varia conforme a complexidade do produto e o tipo de gestão financeira e operacional adotado pelas empresas. Normalmente, os custos deste processo são pagos a prazo, financiados em parte ou no todo pelos fornecedores de matéria-prima, pelos salários a pagar dos empregados, pelos impostos a recolher, entre outros. O ideal seria que uma empresa utilizasse os recursos do próprio giro (fornecedores, por exemplo) para financiar os investimentos do capital de giro, pois são menos onerosos que os capitais de terceiros (financiamentos bancários). Para que possamos identificar se a empresa está utilizando recursos do próprio giro nas suas operações, precisamos reclassificar as contas do ativo e passivo circulante. Na década de 1970 o Prof. Michel Fleuriet coordenou um estudo no Brasil que propunha uma análise gerencial financeira mais dinâmica que os modelos contábeis da época, este modelo levou seu nome. O modelo Fleuriet parte do princípio de que uma análise mais dinâmica das relações financeiras das contas do balanço patrimonial deve reclassificar e separar as contas relacionadas com a operação das contas financeiras. Desta forma, Padoveze e Benedicto (2010, p. 261) explicam que: Para desenvolver seu modelo, Fleuriet separa os elementos do giro, classificando-os em dois tipos, em relação ao seu comportamento com o ciclo operacional: a) Contas cíclicas, ou seja, aquelas de natureza operacional. b) Contas erráticas, ou seja, as demais contas do circulante. São exemplos de contas operacionais (cíclicas) que podemos citar: (i) duplicatas a receber, (ii) estoques, (iii) adiantamentos de toda natureza, (iv) despesas pagas antecipadas, do lado do ativo circulante e (v) fornecedores, (vi) impostos a recolher e (vii) salários a pagar, do lado do passivo circulante. Exemplos de contas financeiras (erráticas) que podemos citar: (i) caixa, (ii) bancos, (iii) aplicações financeiras do lado do ativo circulante e (iv) empréstimos e financiamentos, (v) títulosdescontados, entre outros, do lado do passivo circulante. TÓPICO 3 | ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO 159 A reclassificação das contas do ativo circulante e passivo circulante tem por finalidade demonstrar a situação financeira da empresa sob uma ótica menos estática. ATENCAO Caro acadêmico! Para compreendermos o conceito, vamos demonstrar o balanço da Cia. VTEX S.A., reclassificado segundo o modelo Fleuriet. FIGURA 62 – RECLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL – CIA. VTEX S.A. BALANÇOS PATRIMONIAIS CONSOLIDADOS EM 31/12/20X1 E 31/12/20X2 (em milhares de reais) ATIVO 20x1 20x2 PASSIVO 20x1 20x2 Circulante Circulante Contas Erráticas 55.940 66.900 Contas Erráticas 60.000 46.000 Caixa 15.940 26.000 Empréstimos 60.000 46.000 Aplicações Financeiras 40.000 40.900 Contas Cíclicas 78.200 90.689 Contas Cíclicas 79.140 85.029 Clientes 55.000 65.000 Fornecedores 25.140 27.728 Estoques 23.200 25.689 Salário a Pagar 39.000 41.301 Impostos a Recolher 15.000 16.000 Total do Circulante 134.140 157.589 Total do Circulante 139,140 131.029 Não Circulante Não Circulante Realizável de Longo Prazo 65.000 85.000 Realizável de Longo Prazo 65.000 55.000 Clientes 65.000 85.000 Titulos a Pagar 25.000 20.000 Empréstimos 40.000 35.000 Imbolizado 161.000 170.000 Total do Não Circulante 65.000 55.000 Veículos 70.000 90.000 Máquinas e Equipamentos 121.000 120.000 Patrimônio Líquido (-) Depreciação Acumulada - 30.000 - 40.000 Capital Social 100.000 110.000 Reserva de Lucros 45.000 84.450 Intagível 49.000 57.340 Reservas de Capital 60.000 89.450 Total do Não Circulante 275.000 312.340 Total do Patrimônio Líquido 205.000 283.900 Total do Ativo 409.140 469.929 Total do Passivo + Patrimônio Líquido 409.140 469.929 FONTE: Os autores 160 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS Analisando o Balanço Patrimonial da Cia. VTEX S.A., referente ao ativo e passivo circulante no ano de 20x1 e 20x2 e reclassificado em passivo errático e cíclico, observa-se que não é possível estabelecer uma análise criteriosa apenas com esta disposição das informações. Os conceitos de administração do capital de giro pressupõem que as contas cíclicas são imprescindíveis para a manutenção do giro da empresa e, portanto, não devem ser consideradas como fator de liquidação de dívidas financeiras (passivo errático ou financeiro), pois podem comprometer a liquidez da empresa. Para que possamos compreender melhor isto, vamos mergulhar em outro conceito da análise dinâmica de capital de giro, denominado de Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCD), que pode ser obtida pela seguinte fórmula: FIGURA 63 – FÓRMULA NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO FONTE: Os autores A Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG) corresponde ao montante de recursos investidos no giro das operações (estoques e clientes) e que, deduzidos os financiamentos destas operações do próprio giro (fornecedores), obtém-se a dimensão ou volume dos recursos necessários para a manutenção das operações da empresa. Portanto, é certo que quanto maiores os níveis de vendas, maiores serão os investimentos no ativo circulante cíclico e maior será a necessidade líquida do capital de giro. FIGURA 64 – NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO (NLCDG) – CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores 20x1 20x2 Ativo Circulante Cíclico - ACC 78.2000 90.689 (-) Passivo Circulante Cíclico - PCC 79.140 85.029 = Necessidade Líquida Capital de Giro - NLCDG - 940 5.660 Ativo Circulante Cíclico - ACC (-) Passivo Circulante Cíclico - PCC = Necessidade Líquida Capital de Giro - NLCDG TÓPICO 3 | ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO 161 Na análise da Cia. VTEX S.A. em relação ao dimensionamento do capital de giro, temos que em 20x1 a empresa detinha uma NLCDG negativa, ou seja, seus recursos do Ativo Circulante Cíclico (ACC) eram totalmente financiados pelo Passivo Circulante Cíclico (PCC), o que é bom, pois todas as operações estavam suportadas por financiamentos menos onerosos. Já em 20x2, a Cia. VTEX S.A. apresentou uma NLCDG de R$ 5.660,00, motivada pelo aumento dos níveis de investimentos em ACC de 16,0% (78.200 / 90.689), enquanto que a estratégia de financiamentos com os fornecedores, para suportar os investimentos, teve um crescimento na proporção de apenas 7,4% (79.140 / 85.029). Sabemos que a empresa em 20x2 necessitava de capital de giro, mas a pergunta que devemos fazer é: se a empresa tem saldo em tesouraria para suportar o investimento dimensionado? Acadêmico! Para responder a esta questão precisamos analisar outro conceito da dinâmica de capital de giro, o saldo em TESOURARIA. O saldo em tesouraria representa a diferença entre as demais contas do ativo e passivo circulante que formam o Ativo Circulante e Passivo Circulante Errático, como podemos observar na fórmula a seguir: FIGURA 65 – SALDO DE TESOURARIA (TES) – CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores Ativo Circulante Errático - ACE (-) Passivo Circulante Errático - PCe = Tesouraria O saldo de tesouraria indica os valores que não estão relacionados com a atividade operacional e representam a liquidez da empresa, pois quando ACE > PCE, indica saldo positivo de tesouraria e que recursos próprios estão sendo aplicados na atividade operacional. No entanto, quando ACE < PCE, indica saldo negativo de tesouraria e a empresa utiliza recursos de terceiros aplicados na atividade operacional da empresa, portanto, mais onerosos. 20x1 20x2 Ativo Circulante Errático - ACE 55.940 66.900 (-) Passivo Circulante Errático - PCE 60.000 46.000 = Tesouraria - 4.060 20.900 FIGURA 66 – SALDO DE TESOURARIA (TES) – CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores 162 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS A Cia. VTEX S.A. demonstra em 20x1 um saldo de tesouraria negativa de R$ 4.060,00, portanto, possui um excesso de captação de recursos de terceiros que estão sendo utilizados no longo prazo, visto que o giro está totalmente coberto com financiamento dos fornecedores. Quando recursos de curto prazo são aplicados em investimentos de longo prazo não é uma boa estratégia para uma empresa, e no caso da Cia. VTEX S.A. vai onerar significativamente o seu caixa com despesas de juros no curto prazo em investimentos que impactam em retorno de longo prazo. No ano de 20x2, a Cia VTEX S.A. já apresentava um saldo de tesouraria positivo de R$ 20.900,00, desta forma consideramos suficiente para suportar a NLCDG dimensionada para o mesmo período, e ainda existe uma sobra que poderá ser aplicada no mercado financeiro. A busca por liquidez menos estática, conforme proporcionada pelos indicadores de liquidez, tornou o modelo Fleuriet uma ferramenta importante de análise de uma dinâmica de capital de giro, separando as contas das operações de empresa (contas a receber, estoques, fornecedores, entre outras) das contas que de fato comprometem a liquidez da empresa (caixa e bancos, empréstimos bancários, entre outros). Podemos observar que o desdobramento do capital de giro (CDG) em Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG) e o saldo de tesouraria (TES) proporciona uma análise mais precisa sobre a liquidez da empresa e como os recursos investidos na atividade operacional estão sendo dimensionados. Há de se observar que o crescimento econômico e expansão são inerentes ao processo de gestão de qualquer empresa, portanto, há necessidade de capital de giro adicional para suportar o crescimento das operações, porém em níveis adequados. Além disso, uma redução do ciclo operacional e ciclo de caixa é fundamental. O crescimento constante em longo prazo de capital de giro (CDG), com o aumento constante da necessidade líquida de capital de giro (NLCDG), provoca o fenômeno denominado de efeito tesoura, representando risco em termos de liquidez da empresa ao longo do tempo. Neste contexto, o analista deve ter mais atenção com relação a outros aspectos que podem interferir na necessidade de capital de giro, como: as políticas de crédito, de compras e de estocagem. TÓPICO 3 | ANÁLISEDA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO 163 3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO NA GESTÃO EMPRESARIAL Caro acadêmico! Até aqui percebemos que a administração do capital de giro é fundamental para uma adequada gestão financeira da empresa. Também observamos que os recursos necessários para financiar as operações da empresa podem advir do próprio capital de giro da empresa ou buscar créditos de financiamento com custo de curto e longo prazo junto a credores. Estes recursos, em certos níveis, podem ser muito saudáveis para o crescimento e expansão dos negócios. A necessidade de capital de giro (NLCDG), quando observada em relação à dinâmica dos níveis de investimentos em capital de giro, volta-se para uma análise mais detalhada do ciclo operacional e financeiro da empresa. No tópico 1 tratamos sobre os índices de atividade ou prazos médios que indicam, em dias aproximados, investimentos realizados em contas a receber, estoques e pagamentos em relação ao prazo médio de pagamento, conforme caso da Cia. VTEX S.A. FIGURA 67 – CICLO FINANCEIRO EM DIAS FONTE: Os autores Período PME + PMC - PMP = CF 20x1 50,0 + 37,82 - 53,50 = 34,32 20x2 55,0 + 38,86 - 58,57 = 35,29 O ciclo financeiro representa a parcela de investimentos do capital de giro não financiada pelos fornecedores, ou seja, indica a necessidade líquida de capital de giro para financiar as operações, que, no nosso exemplo, seriam 34,32 dias em 20x1 e 35,29 dias em 20x2, portanto, pode-se inferir que NLCDG = PME + PMC – PMP. Conforme Fernandes relata (2012, p. 235): Ao contrário do que se costuma imaginar, o capital próprio não tem custo aparente, mas o acionista ao investir espera um retorno e, portanto há um custo oculto que não está presente nos métodos contábeis tradicionais. Aliás, isto é o que diferencia lucro contábil e lucro econômico, visto que o último considera o custo de capital. Neste contexto, Fernandes (2012, p. 236-237) explica que: [...] há de se compreender que o lucro operacional ajustado após os impostos se refere ao lucro operacional, sem considerar as despesas financeiras e destas aplicar a dedução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sob o Lucro Líquido (CSLL). Na realidade, os impostos são recalculados, reajustando o lucro devido 164 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS ao valor das despesas financeiras que não compõem as operações da empresa, mas sim o seu financiamento, e por este motivo estão inclusas no custo de capital. Conforme afirma Padoveze (2003, p. 68), “o lucro é a melhor medida de eficácia dos resultados empresariais, pois sua aferição é feita por meio da mensuração econômica, com apuração periódica do valor da empresa, caracterizando o foco da controladoria”. Kanitz (1978, p. 2) se propõe a questionar sobre a forma como são analisadas as demonstrações contábeis, indagando “de que vale uma análise profunda do balanço, se não for capaz de revelar os sintomas de uma insolvência iminente? Ou, quem sabe, a culpa não é dos analistas, que não sabem localizar nos demonstrativos os sinais da insolvência?” Vamos a um exemplo de como o ciclo financeiro implica no crescimento das receitas. FIGURA 68 – DINÂMICA DA NLCDG CIA. VTEX S.A. FONTE: Os autores 20x2 A B VALORES EM REAIS VENDAS 555.900,00 722.670,00 722.670,00 CPV 160.000,00 208.000,00 208.000,00 COMPRAS 162.489,00 211.235,70 211.235,70 PRAZO MÉDIO EM DIAS PME 55,0 55,0 65,0 PMC 38,9 38,9 38,9 PMP 58,6 58,6 58,6 CF 35,3 35,3 45,3 NLCDG EM REAIS (+) ESTOQUES 24.444,50 31.777,85 37.555,63 (+) CLIENTES 60.000,00 78.000,00 78.000,00 (-) FORNECEDORES 26.434,00 34.364,20 34.364,20 (=) NLCDG 58.010,50 75.413,65 81.191,43 Observe que a figura apresenta os dados de 20x2 da Cia. VTEX S.A. e duas projeções, considerando (A) um aumento de 30% na receita ou (B) um aumento de 30% da receita, porém com aumento no ciclo financeiro em 10 dias. Em ambos os casos, partimos do pressuposto de que um aumento das receitas levará consequentemente ao aumento dos custos variáveis e ao consumo de materiais. TÓPICO 3 | ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO 165 Na simulação A, um aumento de 30% na receita, com aumento na mesma proporção nos custos variáveis e mantendo-se estável o ciclo financeiro em 335,3 dias, indica um aumento da NLCDG de R$ 17.403,15 (R$ 58.010,50 – R$ 75.413,65). Contudo, na simulação B, quando alteramos o prazo médio de clientes, aumentando este prazo de recebimentos, mesmo mantendo o mesmo nível de venda e custos variáveis, o ciclo financeiro se altera, exigindo uma NLCDG maior de R$ 23.180,93 (R$ 58.010,50 – R$ 81.191,43). IMPORTANT E O crescimento da receita implica diretamente no aumento dos gastos com investimentos no giro dos negócios e sempre existirá uma Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG), maior ou menor, em função da administração das políticas de administração de capital de giro. Na administração do ciclo operacional e financeiro, estudamos que o Prazo Médio de Pagamento representa o financiamento do giro, porém deve-se imaginar que existem outras fontes que financiam o capital de giro, como, por exemplo, os impostos, os salários dos funcionários, entre outras fontes circulantes operacionais, e ainda outros investimentos no giro, como, por exemplo, adiantamento de salários, adiantamento de fornecedores, entre outros. Segundo explica Matarazzo (2003, p. 342), “existe relação direta entre o ciclo de caixa e o financiamento do investimento em giro”. Neste caso, ciclo de caixa equivale à nomenclatura ciclo financeiro. Como a NLCDG tem relação direta com as vendas, tem-se que a necessidade de capital de giro em função das vendas diárias pode ser definida da seguinte forma: NLCDG = CF x Vd, onde CF igual a ciclo financeiro e Vd igual a vendas diárias. No caso da Cia. VTEX S.A., considerando seu ciclo financeiro em 20x1 e 20x2, temos como necessidade de capital de giro em 20x1, para um ciclo financeiro de 34,32 dias e vendas diárias de R$ 1.311,11, uma NLCDG de R$ 44.997,33, enquanto que em 20x2 temos como necessidade de capital de giro, considerando um ciclo financeiro de 35,29 dias e vendas diárias de R$ 1.544,17, uma NLCDG de R$ 54.493,64. 166 Neste tópico vimos que: • A análise do capital de giro detalha o comportamento da necessidade de capital de giro referente a compras, estocagem, vendas e recebimentos. • Um dos modelos mais conhecidos para análise do capital de giro denomina- se modelo Fleuriet, reclassificando e separando as contas do ativo circulante em contas cíclicas (contas relacionadas com a operação da empresa) e contas erráticas (demais contas do ativo circulante). • As contas do ativo circulante cíclico (ACC), menos as contas do passivo circulante cíclico (PCC), indicam a necessidade líquida de capital de giro (NLCDG), que representa o volume de recursos necessários para manutenção das operações da empresa. • As contas do ativo circulante errático (ACE), menos as contas do passivo circulante errático (PCE), indicam o saldo em tesouraria, que quando positivo (ACE>PCE) indica que recursos próprios estão sendo aplicados na atividade operacional, e quando negativo (ACE<PCE) indica a utilização de recursos de terceiros na atividade operacional. • A NLCDG tem relação direta com os níveis de vendas: quanto maior o volume de vendas, maior será a necessidade de capital de giro a ser aplicado na atividade operacional. RESUMO DO TÓPICO 3 167 AUTOATIVIDADE 1 Reclassifique o ativo e o passivo circulantes da Cia. XIS Ltda., a seguir, e calcule as Necessidades Líquidas de Capital de Giro (NLCDG) e a Tesouraria. 2 O saldo de tesouraria indica de que forma os valores são aplicados no giro. Com base nesse princípio, analise as sentenças a seguir e classifique com V as verdadeiras e com F as falsas. a) ( ) Quando o saldo da tesouraria for positivo (ACE>PCE) indica que estão sendo utilizados recursos de terceiros na atividade operacional. b) ( ) Quando o saldo de tesouraria fornegativo (ACE>PCE) indica que estão sendo utilizados recursos próprios na atividade operacional. c) ( ) Quando o saldo da tesouraria for positivo (ACE>PCE) indica que estão sendo utilizados recursos próprios na atividade operacional. d) ( ) Quando o saldo de tesouraria for negativo (ACE>PCE) indica que estão sendo utilizados recursos de terceiros na atividade operacional. 3 Sobre o modelo de Fleuriet para análise dinâmica do capital de giro, assinale a alternativa CORRETA. 168 a) ( ) NLCDG = ACE – PCE b) ( ) NLCDG + TES = AC – PC c) ( ) NLCDG = ACC + PCC d) ( ) TES + PCC – ACC = NLCDG 4 A empresa Calcula Bem Ltda. reclassificou suas contas do ativo e passivo circulantes, para fins de análise da dinâmica de capital de giro, e obteve os seguintes valores: Ativo Circulante Cíclico 150.000,00 Ativo Circulante Errático 35.000,00 Passivo Circulante Cíclico 95.000,00 Passivo Circulante Errático 55.000,00 Com base nesses dados, analise as sentenças a seguir e classifique V para as verdadeiras e F para as falsas. a) ( ) A Tesouraria é negativa em R$ 20.000,00 b) ( ) A Tesouraria é positiva em R$ 20.000,00 c) ( ) A NLCDG é de R$ 55.000,00 d) ( ) O Capital Circulante Líquido (CCL) é de R$ 35.000,00 5 Relacione as colunas de acordo com a reclassificação das contas para fins de análise dinâmica do capital de giro. a) Ativo Circulante Cíclico ( ) Duplicatas a receber b) Passivo Circulante Cíclico ( ) Empréstimos e Financiamentos c) Ativo Circulante Errático ( ) Fornecedores d) Passivo Circulante Errático ( ) Adiantamento de salário ( ) Impostos a recolher ( ) Banco conta movimento ( ) Aplicações Financeiras ( ) Duplicatas Descontadas 169 TÓPICO 4 ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais os gestores nas empresas têm se valido de informações que conduzam a empresa não apenas ao lucro nas atividades operacionais, mas num processo de orientação voltado para a criação de valor para o acionista. Uma análise financeira mais detalhada pode ser um importante instrumento de avaliação para identificar fatores que normalmente os indicadores clássicos não evidenciariam. Neste contexto, apresentamos, neste Caderno de Estudos, conceitos mais atualizados de análise de balanço voltados para análise da geração de lucro e criação de valor das empresas, como o EBITDA e EVA. Em qualquer empresa, seja qual for seu tamanho ou a atividade que execute, haverá uma necessidade de capital de giro para financiar as operações, ou seja, o lucro gerado pelas operações da empresa precisa ser maior que o custo financeiro das suas dívidas. Este excedente representa a criação de valor da empresa para remunerar os acionistas. Desta forma, o valor agregado máximo que pode ser obtido pela gestão operacional de seus investimentos é a diferença entre o valor de venda dos produtos e serviços a preços de mercado, menos o valor das compras dos insumos a preço de mercado (PADOVEZE, 2003). 2 VALOR ECONÔMICO ADICIONADO NAS EMPRESAS Conforme explica Fernandes (2012, p. 235), o “Valor Econômico Adicionado (VEA) ou Economic Value Added (EVA) é um instrumento utilizado com a finalidade de aferir os ganhos marginais dos acionistas, ou seja, busca evidenciar a maximização do valor da empresa para os detentores do capital”. Segundo Padoveze (2003, p. 441), “recomenda-se a aplicação do conceito do EVA tanto para a rentabilidade do acionista como para a rentabilidade do ativo total”. O custo de capital muitas vezes é comparado ao custo de financiamento representado pelos encargos ou juros incidentes sobre as operações de empréstimos captados no mercado financeiro, denominado de capital de terceiros. 170 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS Contudo, o conceito de custo de capital é mais amplo, contemplando, além destes, os recursos originados dos investidores ou acionistas, denominados de capital próprio, que somados por ponderação matemática, atribui-se o nome de Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ou Weighted Average Cost of Capital (WACC). Segundo Fernandes (2013, p. 235), Ao contrário do que se costuma imaginar, o capital próprio não tem custo aparente, mas o acionista, ao investir, espera um retorno e, portanto, há um custo oculto que não está presente nos métodos contábeis tradicionais. Aliás, isto é o que diferencia lucro contábil e lucro econômico, visto que o último considera o custo de capital. Para tornar mais claro este conceito, podemos visualizar o conceito de Valor Econômico Adicionado da seguinte forma: Valor Econômico Adicionado = Lucro Operacional Líquido após os Impostos (-) Taxa do Custo de Capital x Nível de Investimento A partir da fórmula apresentada surge o conceito de EVA, que podemos observar como a diferença entre o lucro contábil, ou seja, o lucro operacional ajustado depois da exclusão dos impostos deduzidos do valor do custo de capital resultante do investimento, multiplicado pela taxa de custos de capital. Imagine que uma determinada empresa tenha atingido um lucro operacional líquido, após os impostos, de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e os investimentos da empresa tenham totalizado R$ 200.000,00 (cem mil reais), com um custo de capital de 4%, teríamos o seguinte resultado: FIGURA 69 – CÁLCULO DO EVA – VALOR ADICIONADO FONTE: Os autores Lucro Operacional Líquido após os Impostos (NOPAT) 10.000 (-) Custo de capital (100.000 x 11%) - 8.000 (=) EVA 2.000 Observe que o Lucro operacional líquido antes dos impostos também é conhecido como NOPAT, e que depois de descontado o valor do custo de capital (pode ser considerado custo de oportunidade), obtém-se um lucro residual excedente, ou seja, a rentabilidade real sobre o investimento. Acadêmico! Perceba que no exemplo apresentado, o custo de financiamento da empresa, ou seja, o custo médio ponderado de capital (capital de terceiros mais capital próprio) foi inferior ao lucro operacional líquido antes dos impostos, ou seja, o lucro gerado acima do custo do seu financiamento é o indicador de que as decisões da empresa de investimentos e de financiamentos adicionaram valor para seus acionistas. TÓPICO 4 | ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA 171 Porém, o inverso também pode ocorrer! Imagine agora que o custo de capital seja 5,5%, mantendo o mesmo lucro e investimentos, teríamos o seguinte resultado: FIGURA 70 – CÁLCULO DO EVA – DESTRUIÇÃO DE VALOR FONTE: Os autores Lucro Operacional Líquido após os Impostos (NOPAT) 10.000 (-) Custo de capital (100.000 x 11%) - 11.000 (=) EVA - 1.000 Como o custo médio ponderado de capital da empresa (Capital de terceiros + capital próprio) foi superior ao lucro operacional líquido antes dos impostos (NOPAT), houve um indicador de que as decisões de investimentos e financiamento destruíram valor para o acionista, ou seja, o lucro gerado não foi suficiente para remunerar o custo do seu financiamento. Em resumo, a conclusão para adicionar ou destruir valor pode ser visualizada da seguinte forma: FIGURA 71 – INDICADOR DE ADIÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE VALOR FONTE: Os autores EVA < Custo de Capital = Valor adicionado EVA < Custo de Capital = Valor destruído De acordo com Fernandes (2012, p. 236-237): Contudo, há de se compreender que o lucro operacional ajustado após os impostos se refere ao lucro operacional, sem considerar as despesas financeiras e destas aplicar a dedução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sob o Lucro Líquido (CSLL). Na realidade, os impostos são recalculados, reajustando o lucro devido ao valor das despesas financeiras que não compõem as operações da empresa, mas sim o seu financiamento, e por este motivo estão inclusas no custo de capital. Entendidos os conceitos que envolvem o Valor Econômico Adicionado relacionados à criação e destruição de valor, podemos analisar o caso da Cia. VTEX S.A. 172 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS TABELA 5 – DRE AJUSTADA PARA CÁLCULO EVA FONTE: Osautores 20x1 20x2 DRE Em Mil (R$) Em Mil (R$) Receita Líquida 472.000 555.900 (-) Custos -140.000 -160.000 (=) Resultado Operacional Bruto 332.000 395.900 Despesas Comerciais -70.000 -80.000 Despesas Administrativas -75.000 -95.000 (=) Lucro operacional Líquido antes dos Impostos 187.000 220.900 (-) IRPJ e CSLL -77.455 -88.846 (=) Lucro operacional Líquido depois dos Impostos (NOPAT) 109.545 132.054 (-) Custo de Capital ==> 13,01% em 20x1 e 17,95% em 20x2 53.229 84.352 (=) EVA (Lucro Econõmico) 56.315 47.702 Observe que ao ajustar o lucro, retirando o custo das despesas financeiras e a depreciação, temos que o lucro operacional líquido antes dos impostos passou de R$ 169.000 para R$ 187.000 em 20x1 e de R$ 198.900 para 220.900 em 20x2. Este ajuste gerou um aumento no recálculo dos impostos de IRPJ e CSLL e refletiu em um NOPAT de R$ 109.545 em 20x1 e R$ 132.054 em 20x2. Deste novo lucro (NOPAT) pode ser deduzido o custo de capital, indicando que o lucro econômico gerado pelo EVA foi de R$ 56.315 em 20x1 e R$ 47.702 em 20x2, mostrando que, além de adicionar valor para o acionista, vem gerando mais aumento de valor de um ano para o outro. Outra forma de avaliar o desempenho pelo EVA seria comparar o retorno dos investimentos em relação ao custo do financiamento. Para avaliar o retorno do investimento se utiliza o ROI (return on investiment), indicador já estudado e que evidencia o retorno econômico em relação aos investimentos (Ativo), ou seja, resultante da divisão entre o lucro operacional líquido antes dos impostos e o investimento (R$ 109.545 / R$ 409.140) = 0,27 x 100 = 26,77% em 20x1 e em 20x2 (R$ 132.054 / 469.929) = 0,28 x 100 = 28,10%, logo se presume que o EVA da Cia. VTEX S.A. pode ser demonstrado da seguinte forma: EVA 20x1 = %ROI - %TCC 26,7744% - 13,01% = 13,7644% EVA 20x2 = %ROI - %TCC 28,1008% - 17,95% = 10,1508% Como podemos observar, o retorno do investimento (% ROI) da Cia. VTEX S.A. se apresentou maior do que a taxa de custo médio ponderado de TÓPICO 4 | ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA 173 capital (%CMPC), gerando um valor econômico adicionado de 13,7644% em 20x1 e de 10,1508% em 20x2. O resultado do EVA da Cia. VTEX S.A. ainda pode ser apurado de outra forma, como demonstramos a seguir: EVA = NOPAT (-) [Investimentos do Ativo x % CMPC] EVA em 20x1 = R$ 109.545 (-) [R$ 409.140 x 13,01%) R$ 56.315 EVA em 20x2 = R$ 132.054 (-) [R$ 469.929 x 17,95%) R$ 47.702 O mais importante para compreender o conceito de valor econômico agregado é buscar avaliar o retorno do capital investido em ativos da empresa, baseando-se em um indicador econômico, que, deduzidos os efeitos do custo do capital, deve remunerar adequadamente seus acionistas. Contudo, a base de investimentos que deve ser usada para medir esta performance é sempre muito discutida. Para fins de apuração do EVA, Padoveze (2003, p. 441) esclarece que “pode-se simplesmente tomar como referência o valor contábil do ativo; pode-se tomar como referência o Ativo Operacional Líquido, [...]. Pode-se tomar como referência o valor econômico da empresa obtido por fluxos futuros de caixa descontados no início do período, etc.”. Desta forma, o lucro é a melhor medida de eficácia dos resultados empresariais, pois sua aferição é feita por meio da mensuração econômica, com apuração periódica do valor da empresa, caracterizando o foco da controladoria (PADOVEZE, 2003). 3 EBITDA – EARNING BEFORE INTEREST, TAXES, DEPRECIATION AND AMORTIZATION OU LAJIDA – LUCRO ANTES DE JUROS, IMPOSTOS, DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO Conhecido no Brasil em sua forma simplificada como LAJIDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), é sempre um indicador muito utilizado, principalmente por analistas do mercado financeiro que buscam comparar o desempenho operacional de geração de caixa das empresas, sem levar em consideração efeitos de dívidas ou atividades não relacionadas com a operação da empresa. O EBITDA é um indicador da capacidade operacional de geração de caixa, relacionado com o princípio contábil da competência, é métrica de valor econômico, não representando, desta forma, efetivas entradas e saídas de caixa. Neste sentido, denota-se a possibilidade de as receitas não se efetivarem e despesas não serem desembolsadas no período em que o valor do EBITDA foi apurado (FERNANDES, 2008). 174 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS A análise deste indicador evidenciará informações sobre o desempenho da empresa isenta dos efeitos tributários e de políticas contábeis referentes às depreciações, e quanto maior este valor, melhor será o desempenho de uma provável geração de caixa. Conforme explica Fernandes (2012, p. 245), a origem deste indicador ocorreu: Sob a ótica das instituições credoras que emprestam os recursos que financiam os investimentos, tendem a utilizar-se do EBITDA para avaliar a capacidade operacional das empresas para gerar caixa capaz de suportar certo nível de endividamento, considerando ainda o risco do recebimento dos juros e amortização total do capital emprestado. O indicador EBITDA tem como objetivo evidenciar a potencial capacidade de geração de caixa de uma empresa, cuja base é a Demonstração de Resultado de Exercício ajustada aos efeitos de depreciação e amortização. De acordo com Assaf Neto (2000, p. 207): O EBITDA equivale ao conceito restrito de fluxo de caixa operacional da empresa, apurado antes do cálculo do Imposto de Renda. Parte das receitas consideradas no EBITDA pode não ser recebida, assim como parte das despesas incorridas pode ainda estar pendente de pagamento. Logo, essa medida financeira não representa o volume monetário efetivo de caixa, sendo interpretada de forma melhor como um indicador potencial de geração de caixa proveniente de ativos operacionais. Desta forma, podemos visualizar a fórmula do EBITDA da seguinte forma: EBITDA = LUCRO ANTES DAS DESPESAS FINANCEIRAS + DEPRECIAÇÃO Neste conceito, então, se utiliza o lucro, excluídas as despesas financeiras, que se refere ao reflexo das atividades de financiamentos, mas não relacionadas com a atividade operacional da empresa, e a depreciação/amortização são gastos que ocorrem na contabilidade, como uma espécie de reserva técnica para reinvestimentos, porém não geram desembolso de caixa. Para melhor compreensão, vamos analisar o caso da Cia. VTEX S.A. quanto à geração de EBITDA. TÓPICO 4 | ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA 175 FIGURA 72 – APURAÇÃO DO EBITDA DA CIA. VTEX S.A. DEMONSTRAÇÃO RESULTADO DO EXERCÍCIO 20x1 20x2 Receitas Operacionais 510.000 600.000 (-) Impostos s/ venda -38.000 -44.100 (=) Receita Operacional Líquida 472.000 555.900 (-) Custos dos Produtos Vendidos -140.000 -160.000 (=) Lucro Operacional Bruto 332.000 395.900 (-) Despesas Operacionais -155.000 -185.000 Despesas Comerciais -70.000 -80.000 Despesas Administrativas -75.000 -95.000 Despesas com Depreciação -10.000 -10.000 (=) Lucro Antes Despesas Financeiras 177.000 210.900 (+) Despesas com Depreciação 10.000 10.000 (=) EBITDA ou LAJIDA 187.000 220.900 (-) Despesas Financeiras -8.000 -12.000 (-) Despesas com Depreciação -10.000 198.900 (=) Lucros Antes dos Tributos 169.000 198.900 (-) Impostos s/ Lucro -70.000 -80.000 (=) Lucro Líquido 99.000 118.900 FONTE: Os autores Com o objetivo de mensurar a capacidade operacional de gerar lucro e, consequentemente, caixa, tem-se na análise da CIA. VTEX S.A., que apresentou um EBITDA em 20x1 de R$ 187.000 e em 20x2 de R$ 220.900, ou seja, um crescimento de 18,13%, porém este crescimento acompanhou o crescimento da Receita Operacional Líquida (ROL) que apresentou uma margem de EBITDA em relação ao ROL de 39,6% em 20x1 e 39,7% em 20x2. IMPORTANT E Lembre-se de que o EBITDA é obtido pelo resultado do lucro genuinamente das operações, ou seja, depois de ajustadas a depreciação e amortização, bem como despesas e receitas com juros, que, como redutores da geração de lucro, representam itens que afetam o fluxo de caixa operacional.176 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS O conceito de capacidade de geração de caixa torna-se interessante avaliar, segundo Fernandes (2012, p. 248), quando em “[...] situações em que a despesa financeira pode ser superior à receita financeira, e depois de descontados os impostos, pode resultar prejuízo contábil, mesmo que apresente um EBITDA com saldo positivo”. Neste contexto, mesmo em situações como esta, que apresente um resultado financeiro negativo (Despesas Financeiras maiores que Receitas Financeiras) e que venha a consumir o lucro líquido, porém consiga produzir lucro nas suas operações, o analista pode concluir que o EBITDA da empresa produzirá uma capacidade de geração de caixa suficiente para a cobertura dos juros e consequente devolução do principal. Acadêmico! Neste tópico analisamos alguns indicadores importantes que identificam o desempenho organizacional e decisões que aumentam o valor econômico das empresas que não são identificados pelos indicadores clássicos. 177 Neste tópico vimos que: • Independente do tamanho ou atividade que execute uma determinada empresa, esta necessita de capital de giro para financiar suas operações. • O valor econômico agregado tem como finalidade aferir e maximizar os ganhos marginais dos acionistas. • O conceito de custo de capital considera, além do custo com capitais de terceiros, também os custos com detentores do capital próprio, cuja ponderação matemática denomina-se de Custo Médio Ponderado do Capital (CMPC) ou Weighted Average Cost of Capital (WACC). • Quando o CMPC for maior que o lucro operacional ajustado após os impostos (NOPAT), indica que as decisões de investimentos e financiamentos destruíram valor. Da mesma forma, quando o CMPC for menor que o lucro operacional ajustado após os impostos (NOPAT), indica que as decisões de investimentos e financiamentos criaram valor para a empresa. • O indicador EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) ou LAJIDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), como é conhecido no Brasil, é muito utilizado pelos analistas financeiros, pois avalia o desempenho operacional da empresa, independente de sua atividade econômica e desconsiderando os efeitos das dívidas. Este indicador é obtido pelo lucro antes das despesas financeiras, mais depreciação e amortização. RESUMO DO TÓPICO 4 178 1 A empresa Teoria na Prática S.A. tem uma estrutura de capital formada com 40% de capital de terceiros de longo prazo, a um custo efetivo igual a 20% a.a. Sobre os 60% restantes dos financiamentos, os seus acionistas esperam um retorno mínimo de 23% a.a., o que resultou em um Custo Médio Ponderado do Capital de 21,80%. Os ativos da empresa totalizam R$ 200 milhões. Considerando que a empresa apresentou um lucro operacional depois dos impostos igual a R$ 60 milhões, o EVA da empresa será de: a) ( ) R$ 16,4 milhões. b) ( ) R$ 13,8 milhões. c) ( ) R$ 12,0 milhões. d) ( ) R$ 11,2 milhões. 2 Os administradores da Conexão Rápida S.A., empresa provedora de serviços de internet, apresentaram os resultados financeiros do exercício 20x0: Vendas líquidas: R$ 7.500.000; Lucro Operacional Após os Impostos (NOPAT): R$ 1.200.000; Ativo Total: R$ 5.000.000; Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC): 20%. Para o ano de 20x1, a empresa planeja algumas ações, como: aumentar o ativo em 20%, aumentar as vendas em R$ 750.000 e aumentar a margem de lucro para 10%. O custo de capital (CMPC) é o mesmo para 20x1. A partir dessas informações, pede-se: a) Na situação original, qual o percentual retorno sobre o investimento? b) A empresa adicionou valor econômico agregado (EVA)? c) Após as ações propostas, qual o novo valor projetado para o retorno sobre o investimento? d) As decisões tomadas deverão aumentar ou destruir o valor econômico da empresa? 3 Complete as lacunas a seguir: A empresa Tremetudo Ltda. possui um custo de capital (CMPC) de 25% e seus acionistas esperam uma remuneração superior ao seu custo de capital. Os investimentos em ativos da empresa totalizam R$ 300 milhões. A empresa apresentou ainda um lucro operacional após os impostos igual a 20% da receita e o giro do ativo é de 1,5 vezes. Desta forma, a empresa apresentou um valor de vendas de R$ ____________, conforme seu giro de ativo que culminou em uma rentabilidade do ativo de __________. O lucro operacional após os impostos da empresa foi de R$ ____________ que deduzido custo de capital de R$ ____________ e gerou um EVA no valor de R$ ______________ para a empresa. AUTOATIVIDADE 179 Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) R$ 450 milhões – 35% - R$ 80 milhões – R$ 75 milhões – R$ 15 milhões. b) ( ) R$ 450 milhões – 35% - R$ 80 milhões – R$ 85 milhões – R$ 10 milhões. c) ( ) R$ 450 milhões – 30% - R$ 90 milhões – R$ 75 milhões – R$ 15 milhões. d) ( ) R$ 400 milhões – 30% - R$ 85 milhões – R$ 75 milhões – R$ 15 milhões. 4 Uma empresa agrega valor em suas decisões operacionais quando gera saídas maiores que suas entradas, portanto, informações relevantes sobre as etapas dos processos são essenciais para os gestores na geração de lucro. Sobre o processo de criação de valor, analise as seguintes sentenças: I- Quando o retorno do investimento é menor que seu custo de financiamento, indica que houve criação de valor. II- Quando o valor da margem de lucro operacional é superior ao valor do custo de capital, o lucro residual indica que houve criação de valor. III- Quanto maior a taxa do custo de capital, indica que as decisões de financiamento estão destruindo valor para a empresa. IV- Quanto maior o retorno do investimento, indica que as decisões de investimentos estão gerando criação de valor. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas. b) ( ) Somente a afirmativa IV está correta. c) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas. 5 Uma empresa vai investir R$ 100.000,00 em um negócio que renderá fluxos de caixa nos próximos cinco anos de R$ 30.000,00. O Economic Value Added (EVA) identifica a criação de valor no desempenho operacional. Assim, é CORRETO afirmar que: a) ( ) Quanto maior o percentual de EVA, há indicação de destruição de valor nas decisões de financiamento e investimentos. b) ( ) O aumento do custo de capital proporciona um aumento do EVA. c) ( ) EVA é o resultado da diferença entre o lucro operacional e o investimento multiplicado pela taxa de custo de capital. d) ( ) Reduções na taxa de retorno sobre investimentos aumentam o EVA. 180 181 TÓPICO 5 MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Normalmente, a análise de balanço de uma empresa ocorre no momento da avaliação do crédito para a empresa, cuja base são as demonstrações contábeis e demais informações relevantes, como o parecer de auditoria e relatório da administração. Há de se observar que mesmo o analista de crédito mais experiente pode se surpreender com o iminente pedido de falência logo após a liberação de recursos. Neste contexto, de que vale uma análise profunda do balanço, se não for capaz de revelar os sintomas de uma insolvência iminente? Ou, quem sabe, a culpa não é dos analistas, que não sabem localizar nos demonstrativos os sinais da insolvência? (KANITZ, 1978). Os sinais relatados por Kanitz (1978) de fato existem, pois a capacidade de liquidar seus compromissos ocorre muito antes da iminente falência e os balanços fornecem informações valiosas que indicam, com certa margem de segurança, a probabilidade de que uma empresa se torne insolvente em determinado período. Podemos, então, inferir que um fator de insolvência se baseia em modelos estatísticos classificados e separados em faixas que indicam o grau de risco, em determinado período, de que ocorra a probabilidade de insolvência ou incapacidade financeira total que resulte na descontinuidade das suas operações. Logicamente quebaixa liquidez e rentabilidade concomitante com alto endividamento não implicam que a empresa está descontinuada, indicam apenas um grau de risco, pois mesmo em situação difícil, e aparentemente irreversível, muitas vezes consegue adotar políticas eficientes de recuperação financeira. Caro acadêmico! Vamos agora conhecer alguns modelos de fator de insolvência conhecidos no Brasil. 182 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 2 MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA Os modelos de previsão de insolvência idealizados a partir da publicação de Eduards Altman, em 1968, marcaram profundas mudanças e despertaram os estudos estatísticos baseados na análise discriminante, que significa nada mais que separar ou classificar em grupos, neste caso, em solventes e insolventes. Os principais modelos desenvolvidos no Brasil relacionados com a previsão de insolvência, segundo Matarazzo (2003), são: 2.1 MODELO ALTMANN Z1 = - 1,44 + 4,03 X 2 + 2,25 X 3 + 0,14 X 4 + 0,42 X 5 Z2 = - 1,84 - 0,51 X 1 + 6,32 X 3 + 0,71 X 4 + 0,53 X 5 Z1 ou Z2 = Total de Pontos Obtidos X1 = Ativo Circulante - Passivo Circulante / Ativo Total X2 = Reserva e Lucros Suspensos / Ativos Total X3 = Lucro Líquido + Despesas Financeiras + IRPJ / Ativo Total X4 = Patrimônio Líquido / Exigível Total X5 = Vendas / Ativo Total FIGURA 73 – PONTO DE CORTE NO MODELO ALTMANN FONTE: Os autores Altmann apresentou dois modelos cujo ponto crítico é zero, ou seja, quando calculados os índices de x1 a x5, conforme função discriminante de Z1 ou Z2, e estes forem superiores a zero, a empresa está solvente, e quando forem inferiores a zero a empresa está em estado de insolvência. Z = 1,93 - 0,2 X 33 + 1,02 X 35 + 1,33 X 36 - 1,12 X 37 2.2 MODELO ELIZABETSKY Z = Total dos Pontos Obtidos X32 = Lucro Líquido / Vendas TÓPICO 5 | MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA 183 FIGURA 74 – PONTO DE CORTE NO MODELO ELIZABETSKY FONTE: Os autores No modelo de Elizabetsky, o ponto de corte é 0,5 da função discriminante Z para os índices de X32 a x37, ou seja, quando acima de 0,5 tem-se que a empresa é solvente, e abaixo, insolvente. 2.3 MODELO MATIAS Z = 23,792 x 1 - 8,26 x 2 - 9,868 x 3 - 0,764 x 4 + 9,912 x 6 Z = Total de Pontos Obtidos X1 = Patrimônio Líquido / Ativo Total X2 = Financ. e Emprest. Bancário / Ativo Circulante X3 = Fornecedores / Ativo Total X4 = Ativo Circulante / Passivo Circulante X5 = Lucro Operacional / Lucro Bruto X6 = Disponível / Ativo Total X33 = Disponível / Ativo Permanente X35 = Contas a Receber / Ativo Total X36 = Estoques / Ativo Total X37 = Passivo Circulante / Ativo Total FIGURA 75 – PONTO DE CORTE NO MODELO MATIAS FONTE: Os autores 184 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS Neste modelo o ponto de corte é zero na função discriminante Z, para os indicadores de X1 a X6, sendo que acima de zero apresenta um estado de solvência e abaixo de zero, insolvência. 2.4 MODELO PEREIRA Z = 0,722 - 5,124 E23 + 11,016 L19 - 0,342 L21 - 0,048 L26 + 8,605 R13 - 0,004 R29 Z = Total de Pontos obtidos E23 = Duplicatas Descontadas / Duplicatas a Receber L29 = Estoques (final) / Custo das / Mercadorias Vendidas L21 = Fornecedores / Vendas L26 = Estoques Médio / Custo das Mercadorias Vendidas R13 = (Lucro Operacional + Desp. Financeira) / (Ativo Total - Investimento Médio) R29 = Exigível Total / (Lucro Líquido + 0,1 Imobilizado Médio + Saldo Dev. da Correção Monetária) FIGURA 76 – PONTO DE CORTE NO MODELO PEREIRA FONTE: Os autores No modelo Pereira o ponto de corte da função discriminante também é zero, ou seja, acima de zero a empresa é considerada solvente, e abaixo, insolvente. 3 MODELO DE KANITZ Um dos primeiros modelos de insolvência elaborados no Brasil, por volta da década de 1970, tornou-se também um dos mais utilizados, e ficou conhecido como modelo de Kanitz. Kanitz desenvolveu o modelo preditivo de falências baseado nos índices extraídos das demonstrações contábeis, utilizando métodos estatísticos através da análise discriminante e análise de regressão. O modelo de Kanitz foi elaborado com base em cinco variáveis, sendo: (i) Retorno sem Patrimônio Líquido (RPL), (ii) Liquidez Geral (LG), (iii) Liquidez Seca (LS), (iv) Liquidez Corrente e Participação do Capital de Terceiros (PCT). TÓPICO 5 | MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA 185 Além dos indicadores, Kanitz utilizou a análise de regressão para determinar sua fórmula que, aplicada sobre as demonstrações contábeis de uma empresa isolada, resulta num índice que demonstra no curto prazo, com certa margem de segurança, uma provável situação de liquidez (solvência). A seguir, demonstra-se esta fórmula: MODELO DE KANITZ Fi = 0,05 x 1 + 1,65 x 2 + 3,55 x 3 - 1,06 x 4 - 0,33 x 5 Fi = Fator de insolvência = total de pontos obtidos X1 = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido X2 = Ativo Circulante + Realizável de longo Prazo / Exigível Total X3 = Ativo Circulante - Estoques / Passivo Circulante X4 = Ativo Circulante / Passivo Circulante X5 = Exigível Total - Patrimônio Líquido Diferente dos demais modelos, no modelo de Kanitz não há propriamente um ponto de corte, mas uma zona ou área crítica. Conforme explica Matarazzo (2003, p. 240), “a empresa estará insolvente se Fi for inferior a -3; a sua situação estará indefinida entre -3 e 0 e acima de 0 estará na faixa de solvência”, conforme podemos visualizar na figura a seguir. FIGURA 77 – ZONAS CRÍTICAS NO MODELO DE KANITZ FONTE: Os autores Penumbra SolvênciaInsolvência Neste contexto, segundo o modelo, as empresas situadas na zona abaixo de -3 (três) são consideradas como insolventes, quando situadas na zona entre -3 (três) e 0 (zero) são consideradas como empresa com situação indefinida, portanto, estão em uma zona de penumbra. Contudo, quando situadas na zona acima de 0 (zero) são consideradas como empresas solventes. 186 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS Depois de calculada a fórmula do modelo de Kanitz, o somatório dos pontos apresentou um fator de insolvência (Fi) de 4,26, cujo enquadramento coloca a Cia. VTEX S.A. na zona de solvência, logo temos uma previsibilidade saudável em termos de liquidez. Fi = 0,05 x X1 + 1,65 x X2 + 3,55 x X3 - 1,06 x X4 - 0,33 x X5 Fi = 0,05 x 0,419 + 1,65 x 1,304 + 3,55 x 1,007 - 1,06 x 1,203 - 0,33 x 0,655 Fi = 0,020940472 + 2,151663719 + 3,573598211 - 1,274865411 - 0,216236597 Fi = 4,255100393 IMPORTANT E Lembre-se! Os fatores de insolvência são modelos preditivos que garantem, com certa margem de segurança, a situação da empresa em termos de possibilidade de falência. Contudo, não há 100% de assertividade, logo, o analista deve levar em consideração outros fatores que julgue relevantes para complementar sua análise. A questão abordada pelo UNI é de suma importância, visto que vários autores já testaram os diversos modelos. Na tabela a seguir veremos os estudos de José Pereira da Silva, que Matarazzo (2003, p. 242) descreve da seguinte forma: TABELA 6 – COMPARATIVO DE DIVERSOS MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA COM BASE NA ANÁLISE DISCRIMINANTE FONTE: Matarazzo (2003, p. 242) Modelo % Empresas Solventes Classificadas corretamente pelo modelo % Empresas insolventes Classificadas corretamente pelo modelo KANITZ 80% 68% ALTMANN 83% 77% ELIZABETSKY 74% 63% MATIAS 70% 77% PEREIRA 90% 86% Para exemplificar este caso, vamos avaliar a empresa Cia. VTEX S.A. neste modelo e identificar em que zona se encontra. TÓPICO 5 | MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA 187 Com o estudo resumido apresentado nesta tabela, pode-se observar que nenhum modelo atinge 100% de assertividade, pois, em verdade, nenhuma empresa toma decisões lineares, ou seja, cada empresa tem fatos únicos, e estes não se comportam sempre da mesma forma. Daí vem a necessidade da sensibilidade do analista em perceber comportamentos dos índices das demonstrações contábeis que indiquem dificuldades financeiras.188 Neste tópico vimos que: • A partir do uso de modelos estatísticos, na década de 1960, surgiram modelos de insolvência baseados em empresas descontinuadas. • O fator de insolvência se baseia em modelos estatísticos classificados e separados em faixas que indicam o grau de risco em determinado período em que ocorra a probabilidade de insolvência ou incapacidade financeira total que resulte na descontinuidade das suas operações. • Baixa liquidez e rentabilidade, concomitante com alto endividamento, não implicam que a empresa está descontinuada, indicam apenas um grau de risco, pois a recuperação financeira ainda é possível. • Os modelos de insolvência mais conhecidos são os modelos: Altmann, Matias, Pereira, Kanitz. • Os modelos de insolvência são modelos preditivos que garantem, com certa margem de segurança, a possibilidade de descontinuidade, mas não garantem 100% de certeza, portanto o analista deve levar em conta outros fatores que julgue relevantes. RESUMO DO TÓPICO 5 189 AUTOATIVIDADE 1 Com base nas demonstrações contábeis abaixo, faça a análise do fator de insolvência, considerando o modelo de Kanitz para o ano de 20x7. 190 2 Sobre os modelos, assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) O modelo de insolvência de Kanitz se baseia no modelo não probabilístico. b) ( ) A previsibilidade dos modelos de insolvência é de 100% de assertividade. c) ( ) No modelo de Elizabetsky o ponto de corte é 0. d) ( ) No modelo de Kanitz o ponto de corte foi denominado de área de insolvência, área de penumbra e área de solvência. 3 O modelo de Kanitz é um dos mais conhecidos no Brasil e foi desenvolvido na década de 1970 pelo autor cujo nome foi dado ao modelo. Em relação ao modelo de Kanitz, analise as sentenças a seguir e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas. a) ( ) O modelo se baseia em cinco variáveis: retorno sem patrimônio líquido, liquidez geral, liquidez seca, liquidez corrente e participação de capital de terceiros. b) ( ) Na escala de previsão de insolvência, a área de penumbra está localizada entre 2 e -3. c) ( ) Uma empresa é considerada solvente, segundo o modelo, quando atinge um total de pontos superior a zero. d) ( ) Não há ponto de corte, mas uma área ou zona crítica. 4 Com base nas demonstrações contábeis abaixo, faça análise do fator de insolvência, considerando o modelo de Kanitz para o ano de 20x0. 191 192 193 TÓPICO 6 RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Inicialmente, será importante compreender qual o objetivo do relatório de análise das demonstrações contábeis, pois as informações devem conter especificidades para o fim a que se destinam. Ao discorrer em seu relatório, o analista deve contemplar todas as observações que julgou importantes, para que desta forma a informação seja levada ao usuário que a desconhece, ou mesmo não possui, tecnicamente, condições de detalhar o estado patrimonial de uma empresa. Na unidade anterior vimos que existem diversos interessados nas informações das demonstrações contábeis, como: fornecedores, concorrentes, investidores, governo e agentes do mercado financeiro. Cada um destes pode requerer informações específicas acerca da empresa analisada, o que torna difícil apresentar um modelo de relatório de análise das demonstrações contábeis. Apresentaremos uma estrutura básica, espinha dorsal do relatório, mas cabe ao analista, com base em sua criatividade, desenvolver um modelo adequado que atenda às expectativas de seus usuários. 2 PASSOS PARA ELABORAR UM RELATÓRIO DE ANÁLISE Para que um relatório de análise seja elaborado com qualidade, sua informação gerada deve ser fidedigna, precisa, e que os fatos sejam coerentes com as conclusões e decisões elencadas. Também é muito importante, num relatório de análise, demonstrar a situação atual e, com base nos históricos, ressaltar as tendências deste panorama observado. Exemplo: o indicador de liquidez da empresa ABC mostra situação favorável em 20x2 e, comparativamente com os anos 20x0 e 20x1, percebe-se a melhora gradativa da liquidez da empresa. 194 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS Outro ponto forte de uma análise é apontar as fraquezas identificadas no desempenho da empresa, bem como os pontos fortes também merecem destaque. Exemplo: Na análise da rentabilidade se observa que o retorno do ativo (ROI) apresentou crescimento inferior ao seu custo de capital, indicando ineficiências nas decisões financeiras de investimento e financiamento da empresa em termos de criação de valor. Os textos da análise devem ser elaborados com clareza e objetividade, textos enxutos, mas que indiquem precisamente o que se quer transmitir. Para facilitar o entendimento do usuário interessado na informação, a visualização gráfica é uma boa técnica para dar ênfase a determinada informação relevante. É importante comentar que a profundidade de uma análise está contemplada nos objetivos propostos, pois um relatório pode se embasar apenas em indicadores básicos (liquidez, estrutura de capital e rentabilidade/ lucratividade) ou buscar informações mais complexas, como análise de fluxo de caixa, indicadores de criação de valor, necessidade de capital de giro, ciclo operacional e financeiro, entre outros. De forma resumida, podemos então concluir que um bom relatório de análise deverá ter: a) Clareza e objetividade, estas são fundamentais na elaboração de um relatório de análise; desta forma, o analista deve ressaltar as informações relevantes que julgar necessárias para tomada de decisão de seu usuário interessado no relatório. b) A visualização gráfica, pois figuras e tabelas facilitam o entendimento do usuário interessado na informação, são sempre muito bem aceitas nos relatórios, porém deve-se observar a qualidade da estrutura e clareza desta forma de comunicação. c) A explicação do contexto de uma análise, o qual deve ser o mais claro e objetivo possível; logo, palavras desnecessárias devem ser evitadas, pois apenas poluem os relatórios. d) Palavras breves e de fácil compreensão, pois o uso de palavras do dicionário sem uso recorrente deve ser evitado, prefira palavras que tenham o mesmo significado. e) Uma apresentação e uma estrutura lógica e bem detalhada que levem o leitor à compreensão do relatório como um todo; portanto, iniciar com breve sumário pode torná-lo mais agradável ao usuário interessado, permitindo que se dirija mais facilmente à parte do relatório que mais lhe convém. TÓPICO 6 | RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 195 Desta forma, um relatório bem elaborado e com qualidade possibilitará ao usuário interessado na informação compreender de forma simples, para tomada de decisão, todas as informações que tecnicamente não conseguiria elaborar. 3 ESTRUTURA DE UM RELATÓRIO DE ANÁLISE Na composição de um relatório de análise das demonstrações contábeis, além das observações relatadas no item anterior, a padronização das informações também é interessante de ser observada. Contudo, lembramos que o relatório deve atender à especificidade do usuário interessado na informação e, portanto, adaptações podem ser feitas. Para compor esta estrutura, o relatório pode ser dividido em: (i) introdução, (ii) sumário, (iii) conclusão e recomendações, (iv) corpo e (v) anexos. 3.1 INTRODUÇÃO A introdução tem por finalidade expor ao leitor qual o objetivo da análise, contextualizar a empresa analisada, bem como suas demonstrações contábeis, portanto poderá ser composta da seguinte forma: a) Quanto ao objetivo da análise: atender ao nível de complexidade das informações do relatório. b) Informações da empresa: relatar, por exemplo, a composição da diretoria executiva, informações relevantes sobre o estatuto social e suas alterações, a composição do capital social, bem como a evolução, participações em outras empresas, entre outras. c) Informações contábeis: apresentar as demonstrações contábeis, preferencialmentedos três últimos exercícios sociais. 3.2 SUMÁRIO O sumário tem por finalidade expor, de forma resumida, os pontos relevantes identificados nas análises em relação às seguintes descrições: a) Análise Horizontal e Vertical. b) Análise dos índices calculados no relatório. 196 UNIDADE 2 | ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS 3.4 CORPO Nesta parte do relatório a finalidade é descrever de forma detalhada o que foi resumido no sumário. O sumário tem como objetivo chamar a atenção do leitor para os principais fatos observados. Ao se interessar, o leitor poderá obter os detalhes no corpo do relatório, que poderá ser composto da seguinte forma: a) Análise Conjunta Vertical e Horizontal: através da comparação das contas do ativo, passivo e de resultado entre os períodos observados, analisar conjuntamente a evolução e participação (relevância no contexto analisado) que contribuíram para o desempenho da empresa analisada. b) Análise Financeira: analisar de forma detalhada sobre a liquidez da empresa e seu desempenho, favorável ou não, em relação aos níveis de endividamento, bem como sua forma em curto ou longo prazo, se a empresa financia suas operações com perfil de capital próprio ou de terceiros e se os investimentos realizados em imobilizados são com recursos próprios ou de terceiros. c) Análise Econômica: analisar a lucratividade da empresa, em termos de desempenho operacional e desempenho líquido, taxa de retorno do investimento em ativos (TRI) e retorno aos acionistas, quanto à taxa de retorno do patrimônio líquido (TRPL). d) Rotatividade do giro: analisar a capacidade operacional da empresa com base nos prazos médios de estocagem, recebimentos e pagamentos, destacando a evidência em seu ciclo pela capacidade de financiamento ou não de suas operações com seu próprio ciclo de operações. e) Alavancagem financeira e operacional: analisar os reflexos da utilização dos recursos próprios ou de terceiros para a alavancagem nos lucros da empresa. f) Análise Complementar: analisar mais aprofundadamente, visando mensurar a necessidade de capital de giro, bem como sua exposição ou folga financeira existente, avaliação do comportamento das ações da empresa e evidenciação da situação de solvabilidade da empresa, com os fatores de insolvência como o modelo de Kanitz, entre outros indicadores de desempenho de contexto geral ou específico, como criação de valor econômico agregado ou EBITDA. 3.3 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES Na conclusão e recomendações, a finalidade é emitir a opinião conclusiva do analista e sugerir recomendações para corrigir distorções, baseadas nos pontos mais importantes observados sobre a situação econômica, financeira e patrimonial da empresa analisada. TÓPICO 6 | RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 197 3.5 ANEXOS Esta parte do relatório de análise das demonstrações contábeis se destina a anexar todos os documentos que deram suporte à análise, mas que num contexto geral são apenas complementares, como: relatório técnico volumoso, planilhas e quadros auxiliares de cálculos de indicadores que serviram de base. 198 Neste tópico vimos que: • A elaboração de um relatório de análise das demonstrações contábeis, elaborado com qualidade, deve apresentar fatos coerentes com suas conclusões e recomendações. • Deve apresentar a situação atual com base nos dados históricos, diagnosticando as tendências com base nas observações. • Deve apontar as fraquezas e destacar os pontos fortes. • Também deve ser apresentado sob forma gráfica, para facilitar o entendimento do usuário das informações mais relevantes. • Alguns aspectos importantes na elaboração de um relatório de análise devem ser considerados, como: clareza e objetividade, visualização gráfica, uso de palavras do dicionário sem uso recorrente deve ser evitado e o relatório deve ser apresentado em uma estrutura lógica e bem detalhado. • A estrutura de um relatório de análise pode ser composta de: introdução, sumário, conclusões e recomendações, descrição do corpo e anexos. RESUMO DO TÓPICO 6 199 1 Sobre o relatório de análise das demonstrações contábeis, assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) O relatório de análise deve ser preparado para a finalidade a que se destina. b) ( ) As conclusões e recomendações não apresentam coerência com os fatos. c) ( ) Deve-se apontar as fraquezas no relatório, os pontos fortes são optativos. d) ( ) Informação gráfica não é relevante em termos de apresentação de relatório. 2 O relatório de análise das demonstrações contábeis possui uma estrutura e determinadas características. Sobre sua estrutura e características, analise as sentenças a seguir e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas. a) ( ) São partes que compõem a estrutura de um relatório de análise: introdução, sumário, conclusão e recomendação, corpo e anexos. b) ( ) Clareza e objetividade são fundamentais para a elaboração de um relatório de análise. c) ( ) O sumário não compõe a estrutura de um relatório de análise. d) ( ) O anexo se destina a discorrer sobre as conclusões e recomendações do relatório. AUTOATIVIDADE 200 201 UNIDADE 3 PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer os critérios importantes na análise de crédito; • identificar os riscos envoltos nos pagamentos futuros de um crédito; • conhecer os limites de crédito em função da capacidade de pagamento de um devedor; • comparar as diversas garantias possíveis que possam encaixar nas opera- ções de crédito; • saber os critérios necessários para desenvolver a elaboração de pareceres; • compreender como ajudam as ferramentas estatísticas; • discernir entre as diferentes classificações de ratings de crédito. Esta unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos estudados. TÓPICO 1 – ANÁLISE DE CRÉDITO TÓPICO 2 – RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO TÓPICO 3 – GARANTIAS NAS OPERAÇÕES TÓPICO 4 – ELABORAÇÃO DE PARECERES 202 203 TÓPICO 1 ANÁLISE DE CRÉDITO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Depois de ter estudado análise de balanços patrimoniais, índices financeiros, giro de capital, entre outros dados importantes para analisar a capacidade de pagamento de um negócio, você deve estar se perguntando quais poderiam ser alguns pontos importantes que devem ser considerados na análise de crédito, certo? No primeiro tópico desta última unidade vamos estudar especificamente a análise de crédito, que vem a ser quesito fundamental na gestão e na eficácia da concessão do crédito em si. Essa análise foca: • Nos objetivos e conceito. • Nos fundamentos da análise de crédito. • No peso do bom senso. • No processo de decisão na concessão de crédito. • No impacto dos 4 “C” no momento da análise. • Nas documentações, dados cadastrais e seguranças necessárias, a fim de manter uma boa gestão durante o período de tempo do crédito. 2 OBJETIVOS E CONCEITO Além dos serviços de crédito do mercado financeiro, as empresas industriais e comerciais também oferecem crédito para seus clientes, com o intuito de aumentar o volume de suas vendas. Assim, muitas delas têm que desenvolver objetivos, estratégias e opções de crédito aos clientes. Vendas a prazo, que é refletido nas contas a receber. Entre os principais objetivos da análise de crédito para uma empresa comercial e/ou instituição financeira está a identificação dos seguintes pontos: • Os riscos a serem tomados no momento da concessão de crédito. • Histórico creditício e de pagamentos do devedor, para analisar o comprometimento deste. • A capacidade de pagamento, ou seja, a capacidade de gerar caixa do devedor. UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 204 • A melhor estrutura, períodos e tipos de pagamento em vistas de: suprir as necessidades financeiras do devedor, minimizar o risco e maximizaros lucros da gestão de crédito. Levando isso em consideração, pode-se identificar o crédito como a vontade de ceder e dispor recursos financeiros, ou bens, a fim de satisfazer as necessidades diversas de recursos de um terceiro. Isso, tendo a expectativa de que esses recursos voltem com acréscimo de juros à sua posse num tempo já determinado no momento de conceder o crédito. Segundo Schrickel (2000, p. 21 ): [...] crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém em destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte à sua posse integralmente, após decorrido o tempo estipulado. Esta parte do patrimônio pode estar materializada por dinheiro (empréstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento parcelado, ou a prazo). Agora que você estudou sobre o conceito de crédito, vamos continuar a leitura aprendendo sobre os Fundamentos da Análise. 3 FUNDAMENTOS DA ANÁLISE Na estrutura creditícia é necessário o desenvolvimento de critérios a serem estabelecidos, a fim de fazer uma boa gestão do processo de crédito. Esses critérios consideram os seguintes diagnósticos: • Análise Retrospectiva Abordando a avaliação histórica do potencial devedor, aqui vai se identificar: • Capacidade histórica de pagamento ou de gerar caixa. • Riscos próprios de sua atividade econômica, e como o devedor atenuou-os no passado. • Possíveis dificuldades ou questionamentos acontecidos no passado que possam influenciar na concessão de crédito. • Análise de Tendências Abordando projeção das condições financeiras futuras do devedor, em função de dar conta do peso de endividamento a ser considerado na análise de crédito. TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 205 • Capacidade Creditícia Ponderando as duas análises acima expostas, ou seja, é uma análise de retrospectiva e de tendências, em função: • Do grau de risco do devedor e dos riscos externos. • Da capacidade de fluxo de caixa do devedor, ou seja, de gerar dinheiro no futuro. Isso com o intuito de levantar uma proposta de crédito que supra as necessidades do devedor, minimize os riscos e maximize também o potencial de lucro da operação. Observe-se que além dessa análise, é preciso ponderar que há a necessidade de se ter uma política de cobrança bem estruturada, pois a gestão de crédito e cobrança é muito importante para o sucesso da operação creditícia. Assim, nessa política de cobrança deve-se considerar: Índices de inadimplência, feedback das condições financeiras do devedor, prazos de cobrança etc. Todos esses quesitos da política de cobrança serão abordados mais adiante nesta unidade. 4 O BOM SENSO E O PROCESSO DE DECISÃO Na maioria das situações não é só questão de ter todas as informações do sujeito de crédito para se ter uma perspectiva certa do sucesso da operação de crédito. Existe também a necessidade de analisar as diversas situações com sentido lógico e ter uma ponderação geral dos riscos e potencialidades do negócio creditício. A análise de crédito envolve a habilidade de fazer uma decisão e crédito, dentro de um cenário de incertezas e constantes mutações e informações incompletas. Esta habilidade depende da capacidade de analisar logicamente situações, não raro complexas, e chegar a uma conclusão clara, prática e factível de ser implementada. (SCHRICKEL, 2000, p. 27) Do expressado acima, fica claro que o objetivo é procurar uma ótima decisão, e não só efetuar um mero relatório com todas as informações possíveis do sujeito de crédito. Ótima decisão que deve ter o “bom senso”, em que o relatório deve considerar o contexto como um todo, ponderando o potencial lucro da operação versus as incertezas internas e externas do potencial devedor. Para se atingir isso, há uma prática padrão nas operações de crédito para se ter uma decisão ótima no momento de aceitar ou rejeitar uma concessão de crédito. Essa prática padrão no negócio de crédito é a análise dos 4 “C” de Crédito. UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 206 4.1 OS 4 “C” DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO Partindo da base de que para se ter uma decisão ótima deve-se desenvolver confiança com o sujeito de crédito, é necessário levar em consideração: • A vontade real do credor de liquidar os créditos dentro dos prazos negociados. • As competências, habilidades e recursos do credor para honrar o potencial crédito. Esses dois pontos são a base para começar uma análise séria do processo de concessão de crédito; assim, o analista de crédito deverá se perguntar mais uma vez: • Será que existe a vontade de pagar? • Será que existem recursos e fluxo de caixa suficiente para cumprir o pagamento? A vontade real de pagar pode ser analisada desde a perspectiva do caráter do credor. Se o sujeito de crédito tem caráter, e por algum motivo apronta problemas no futuro, é muito provável que ele cumpra com a dívida e os prazos estabelecidos. A habilidade de pagamento pode ser analisada desde a perspectiva da capacidade de gerar caixa e os recursos necessários. Se o sujeito de crédito tem essas habilidades é provável que ele cumpra, sem maiores problemas, com a dívida e os prazos estabelecidos. Falamos que é “provável” nas duas situações expostas acima, porque, para que seja “muito provável” o pagamento do crédito, devem existir essas duas condições juntas. Se só houver uma das duas, logo, o crédito pode ter mais chances de não ser pago ou ter sérios problemas de atrasos nos prazos estabelecidos. Essas duas situações podem ser analisadas com profundidade, observando os já conhecidos 4 “C” de Crédito, ou seja: Caráter, Capacidade, Capital, Condições. 4.1.1 C.1 Caráter Dos 4 “C” é considerado o mais importante, pois com um caráter firme, o credor terá determinação de pagar e cumprir os prazos estabelecidos. Mas como pode ser determinado o caráter de um potencial devedor? • O emprestador deverá fazer uma investigação de todos os antecedentes através da ficha cadastral. A ficha cadastral permite angariar informações sobre a identificação e qualificação do indivíduo (nome, endereço, registros, profissão etc.) e sobre as experiências de outros credores em suas relações comerciais com o mesmo (pontualidade nos pagamentos, apontamentos e protestos etc.) (SCHRICKEL, 2000, p. 49). TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 207 Embora esse registro seja muito importante, é necessário sempre ir além dessas informações. O emprestador tem que se focar num conjunto de dados adicionais de cunho mais subjetivo, tais como: segmento social do devedor, cultura e hábitos, suas relações e ambições profissionais, posturas e éticas familiares, entre outros. Essa análise do caráter pode determinar, em caso de existir situações complicadas no futuro, se o devedor terá a capacidade e pragmatismo de contornar as dificuldades em vistas de cumprir a dívida. Pode-se dizer que é nessas situações que o caráter das pessoas é testado, ou seja, determina a capacidade de encarar situações adversas e até muito complexas no futuro. 4.1.2 C.2 Capacidade Em termos de comportamento do devedor em função da sua competência de cumprir a dívida, o caráter determina a vontade de pagar, mas a capacidade determina a habilidade de pagar. Um devedor pode ter toda a vontade e caráter para encarar o pagamento, mas será que ele tem realmente as capacidades, ou meios, de fazer frente aos pagamentos da dívida? Neste quesito, Schrickel (2000, p. 50) expõe uma série de perguntas a serem feitas ao potencial devedor: • Qual sua idade? • Qual é seu grau de educação? • Qual é sua formação (acadêmica, se for o caso)? • Qual é sua experiência profissional? • Como foi construída sua carreira profissional? • Ele é um indivíduo de sucesso? • Membros de sua família sempre atuaram (ou já atuaram) no setor a que está se dedicando no momento? • Ele é mais ou menos capaz comparativamente a outros indivíduos de seu setor de atividade? Ele exerce algum tipo de liderança em seu setorde atuação? • Ele tem algum passatempo ou hobby que, além de custoso, é perigoso? [...] Todas essas e mais outras perguntas, dependendo do caso, vão determinar a capacidade, e os meios, para cumprir a dívida. Em situações em que o crédito seja para uma empresa, claro, o foco das capacidades muda de perspectiva, e terão que ser colocadas na análise perguntas mais específicas para essa empresa. Entretanto, nesses casos o caráter e a capacidade do representante da empresa podem ser muito importantes também. Hoje em dia é muito importante ponderar a capacidade, pois as relações econômicas são bem complexas e dinâmicas, mudando continuamente; a competição e as pressões de consumo são muito fortes, exigindo desses potenciais devedores competência e poder de adaptação. Nesse contexto, pesam bastante a educação, o treinamento e a experiência prática das pessoas. Assim, é interessante observar: estabilidade de empregos, cargos e responsabilidades, nível de educação UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 208 e cursos de capacitação na área de atuação desse indivíduo em específico, sujeito de crédito. Antigamente a capacidade estava mais ligada ao histórico familiar e às relações sociais do devedor. Grande parcela das decisões dos emprestadores repousava na reputação familiar do tomador potencial. A tradição das gerações passadas é que dava suporte, e mesmo “bancava” as decisões de emprestar. Porém, esse cenário mudou significativamente a partir do processo de aceleração da industrialização do país. (SCHRICKEL, 2000, p. 51) 4.1.3 C.3 Capital O patrimônio do sujeito de crédito é um grande referente como respaldo às operações de crédito dos devedores. Se o sujeito de crédito não possui patrimônio ou capital, como poderá honrar os compromissos? Será que o capital ou renda do devedor podem ser um bom referente para o cumprimento da potencial dívida? Sim, mas sempre dependerá da situação. • Além da capacidade de gerar caixa, ou liquidez, no caso de empréstimos para o setor comercial ou produtivo, o capital da empresa é um referente muito importante. • No caso de empréstimo para pessoas físicas, a capacidade de gerar renda é um quesito fundamental. No referente aos empréstimos para pessoas físicas, a maioria dos solicitantes de crédito pessoal retém pouco capital. Patrimônio que é representado por meio de bens móveis ou imóveis. Portanto, nesse contexto de falta de capital próprio, em muitas das situações a decisão do crédito baseia-se na renda, e como respaldo à operação de crédito o mesmo bem a ser comprado. Já no caso dos empréstimos focados ao setor produtivo e comercial, o foco é no Balanço Patrimonial como referente, portanto, é quesito básico fazer uma análise de: Balanço e resultados, patrimônio, capacidade de gerar lucro, nível de alavancagem financeira (percentagem de dívida do negócio) e fluxo de caixa. Além disso, é necessário analisar dentro da estrutura financeira do negócio quanto dos recursos próprios está investido em ativos fixos. Desse modo, ter a capacidade de ponderar a capacidade instalada, qualidade dessas instalações, bens assegurados, capacidade de ampliação, se necessário, etc. TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 209 Todo esse contexto geral da análise do negócio é um referente da qualidade do capital da empresa, portanto, um referente para o pagamento da potencial dívida a ser contratada. É fundamental fazer esse estudo da empresa e pesquisar, se for necessário, pois nem todas as empresas são de grande tamanho e têm todas as informações disponíveis. Assim, cabe ao emprestador ter as competências necessárias para analisar objetivamente a qualidade do capital. 4.1.4 C.4 Condições O último dos quatro “C” aborda o tema das condições dos fatores externos, adversos e sistemáticos, que podem impactar nas atividades do devedor, portanto, na sua capacidade de pagamento. Fatores externos que abrangem: • Situações macroeconômicas: inflação, taxa de câmbio, crises internacionais, índices de desemprego geral, crescimento econômico do país e da região, taxas de juros, entre outros. • Situações microeconômicas: competitividade da indústria em que o devedor está inserido, incentivos específicos para esse setor produtivo, perspectivas do mercado, ameaças da concorrência etc. Tanto os fatores externos adversos e sistemáticos podem desencadear uma situação de risco muito forte na capacidade de pagamento do devedor. Ou seja, esses fatores podem agravar a sensibilidade da capacidade de pagamento em função da dívida a ser contratada. Desse modo: A atenção nessa informação é de extrema importância para a determinação do risco total de crédito, uma vez que, dependendo da importância do fator sistemático – exemplo típico de situação recessiva com aumento da taxa de desemprego e redução do nível de atividade econômica -, o credor poderá enfrentar sérias dificuldades para receber o crédito (SANTOS, 2010, p. 33). UNI Você sabe qual a diferença entre situações econômicas adversas e sistêmicas? UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 210 • Uma situação econômica adversa pode ser o mal estado geral das estradas no Brasil, que diminui a competitividade industrial e das exportações brasileiras, tais como de soja ou de milho. Situação muito adversa, se comparar com as boas estradas dos exportadores de soja e milho dos Estados Unidos. • Uma situação econômica sistêmica pode ser a permanente pressão da inflação na economia brasileira, decorrente do alto gasto público, pouca produtividade da mão de obra, entre outros fatores. 4.1.5 Colateral Embora não seja considerada parte dos 4 “C” fundamentais das operações de crédito, pode ser uma peça muito importante para garantir ainda mais a recuperação do capital emprestado, ou seja, um “pronto-socorro”. Mas qual será o significado de colateral creditício? Significa ter uma garantia tangível, tais como garantia pessoal, bens imóveis ou bens mobiliários. Mas lembre-se, o colateral não deve ser considerado como fonte principal de pagamento da dívida, mas sim como uma garantia de repago em situações muito adversas ao devedor. Deste modo: O Colateral, numa decisão de crédito, serve para contrabalançar e atenuar (apenas atenuar, enfatize-se) eventuais impactos negativos decorrentes do enfraquecimento de um dos três elementos: Capacidade, Capital e Condições. Este enfraquecimento implica maior risco e o Colateral presta-se a compensar esta elevação das incertezas futuras quanto ao repagamento do crédito. (SCHRICKEL, 2000, p. 55, grifos do original) 5 DECISÕES ANALISANDO OS 4 “C” NAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO Entre os 4 “C’” estudados, os dois primeiros são fundamentais, Caráter e Capacidade, para se ter uma visão geral da competência do devedor em cumprir com o contrato de crédito. Se um deles estiver com problemas, cabe ao credor negar o crédito, ou exigir maior peso nos outros 4 “C” a serem analisados. Os outros dois “C”, Capital e Condições, servem para complementar os dois primeiros, Caráter e Capacidade. Em termos de análise, deve-se focar a decisão de concessão do crédito numa ponderação desses 4 “C”; uma decisão fundamentada em apenas um dos 4 “C” provavelmente poderá gerar dificuldades no pagamento da dívida. TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 211 6 SEGURANÇA NA DOCUMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES Além de fazer uma análise da concessão de crédito, deve-se também conferir que toda a documentação esteja alinhada com as condições estabelecidas. “Toda situação de empréstimo implica, inicialmente, a total compreensão quanto à finalidade do crédito em si e sua adequada e oportuna fonte de repagamento” (SCHRICKEL, 2000, p. 86). Apesar de que as garantias não possam substituir a capacidade das fontes de repagamento, elas servem para atenuar as incertezas de acontecimentos imponderáveis e não controláveis, tanto para um devedor pessoal como para uma empresa. Nesse sentido, o nível de garantias e a qualidadedestas são fundamentais para manter um portfólio de crédito com riscos minimizados. Para créditos sem colateral, o nível de garantia está baseado 100% na documentação do devedor e, se houver, do aval pessoal. Nesses casos a pressão formal e legal da cobrança tem que ser fundamentada na documentação e no contrato de dívida assinado pelas partes. Desse modo, tanto para os créditos com e sem colateral é fundamental que os documentos estejam em ordem, tais como: • dados cadastrais certos; • dados conferidos e atualizados; • colaterais reais com comprovação de existência, • seguros em ordem. Pois, se houver dificuldades nos pagamentos futuros, são precisamente esses documentos que vão servir de base para qualquer ação e pressão formal e legal. Durante o tempo (ou vida) do crédito é fundamental a correta gestão da custódia desses documentos, contrato de empréstimo e garantias. Assim, é quesito fundamental manter atualizada essa documentação. Exemplo disso é o seguro de uma garantia real, que deve ser renovado a cada ano. Toda essa documentação deve ser mantida num local apropriado e bem seguro. Temos que levar em consideração que é precisamente essa documentação que poderá servir para botar pressão formal e legal ao devedor quando este se Finalmente, o Colateral visa principalmente fortalecer ainda mais a análise dos 4 “C”, se no caso for necessário. E dependendo do tipo de crédito, é requisito da concessão em si, tal como um crédito para a compra de um carro ou de uma casa. Mas lembre-se: nunca se deve tomar uma decisão de crédito fundamentada no colateral. UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 212 encontrar com seus pagamentos em atraso. Finalmente, em casos do não pagamento total e definitivo da dívida, esses documentos poderão servir para qualquer ação legal em vistas de recuperar pelo menos o capital emprestado. Assim, em poucas palavras, é fundamental sua correta gestão durante a vida do crédito. 6.1 INFORMAÇÕES E DADOS CADASTRAIS As informações e dados dos devedores são bem pessoais e devem ser mantidos com acesso restrito, assim sua confidencialidade deve estar sob o estrito controle, fazendo gestão de níveis de acesso. Portanto, a circulação destes dentro da instituição financeira deve ser feita só pelo pessoal estritamente autorizado. É tão importante a correta custódia do sigilo dos devedores que existem leis específicas para garanti-la. Situação explícita na Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964, nos artigos 38 e 39, como exposto a seguir. Art. 38. As informações financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados. § 1° As informações e esclarecimentos ordenados pelo Poder Judiciário, prestados pelo Banco Central do Brasil ou pelas instituições financeiras, e a exibição de livros e documentos em Juízo, se revestirão sempre do mesmo caráter sigiloso, só podendo a eles ter acesso as partes legítimas da causa, que deles não poderão servir-se para fins estranhos à mesma. [...] § 7° A quebra do sigilo de que trata este artigo constitui-se em crime e sujeita os responsáveis à pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, aplicando-se, no que couber, o Código Penal e o Código de Processo Penal, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.[...] Art. 39. Aplicam-se às instituições financeiras estrangeiras, em funcionamento ou que venham a se instalar no país, as disposições da presente lei, sem prejuízo das que contêm na legislação vigente (BRASIL, 1964). . TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 213 LEITURA COMPLEMENTAR O consumo consciente do dinheiro e do crédito Hélio Mattar (Diretor-presidente do Instituto Akatu) Nossa geração é a primeira na história da humanidade que corre o risco de deixar como herança uma situação social e ambiental pior do que aquela que recebeu. Os índios bolivianos costumam dizer que tomamos a terra emprestada aos nossos filhos e precisamos devolvê-la a eles melhor do que quando a recebemos. No nosso caso, estamos correndo o risco, nós todos, de deixar uma situação social e ambiental pior. De uma forma alarmante, desde 1960, a humanidade saiu de uma situação em que se consumia metade dos recursos que a Terra consegue renovar, para um consumo atual que é 20% maior do que a Terra é capaz de suprir de uma forma sustentável. Se todos os habitantes do planeta consumissem como os dos países ricos, seriam necessários quatro planetas para suprir toda essa demanda. O consumo e o dinheiro passaram a ser o centro da vida das pessoas em geral, subordinando a vida ao trabalho e não o inverso. Com isso, ficaram limitados os tempos da amizade e da afetividade. Vivemos no que se poderia chamar de “neurose do excesso”, na qual, concomitantemente, não há limites para faltas. A necessidade de consumo alimenta nas pessoas uma percepção muito limitada em relação ao mundo sobre o qual estão sendo construídas essas bases do futuro. Um mundo em que o consumo e a insatisfação estão de mãos dadas em uma espiral sem fim. Para que o fim não seja uma crise de proporções inimagináveis – basta ver a questão do aquecimento da Terra, que afeta a todos – será necessária uma mudança de comportamento que redefina a vida de todos e modifique, substancialmente, as relações sociais. Espero que estejamos com esse caminho da mudança de comportamento. Este projeto está voltado para esse propósito. Vivemos um momento que podemos caracterizar como o de dinheiro e consumo como um fim em si mesmos e não como meios para o bem-estar de todos. Vivemos um paradigma de acumulação de bens e de dinheiro em um processo em que alguns ganham muito e outros não têm o que perder. Um processo que mexe com os temores, as incertezas e as carências de todos indistintamente, tanto os que têm mais, como os que têm menos. Há um aprofundamento contínuo do impulso de acumulação, em vez de um impulso de solidariedade. A própria identidade das pessoas define-se pelo dinheiro e pelo consumo, criando uma verdadeira obsessão, na qual o dinheiro e o consumo são buscados cada vez menos pelas necessidades objetivas e cada vez mais pelas necessidades do imaginário, pelo menos na população que tem melhor poder aquisitivo. UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 214 Um programa de televisão do início da década de 1990, que depois foi transformado no livro Affluenza, de John de Graaf, mostra dados impressionantes sobre o que é chamado de “epidemia do superconsumo” nos Estados Unidos, um mal que assola a maioria dos norte-americanos, provocando um ciclo perverso de consumo, endividamento e estresse. Alguns dados realmente impressionantes mostram o seguinte: os norte-americanos carregam uma dívida de um trilhão de dólares em débitos pessoais, aproximadamente US$ 4 mil para cada homem, mulher e criança, sem contar as prestações com imóveis e hipotecas. Eles gastam, em média, durante a sua vida, um ano assistindo a comerciais de TV, enquanto dedicam, em média, apenas 40 minutos por semana para brincar com os filhos. É também emblemático que, em média, os casais conversem 12 minutos por dia. Por outro lado, entre aqueles que cortaram seus níveis de gastos e adotaram uma vida mais simples e frugal, 86% se dizem mais felizes. É óbvio que esse dado nos traz otimismo quanto ao processo de mudança de comportamento em direção a um consumo mais sustentável. A questão é como fazer essa passagem para que o consumo passe a ser apenas um meio para o bem-estar, e a busca da felicidade passe a ser a finalidade do ato de viver. Para mudar essa realidade, de um círculo perverso de consumo, endividamento, trabalho em excesso e estresse, é preciso criar uma consciência de protagonismo no consumidor como construtor de um mundo melhor. É preciso mostrar o verdadeiro poder transformador do ato de consumo. Nesse sentido, eu acredito, e o Akatu também, que há uma grande oportunidade. As pessoas se sentem perplexas, pois não conseguem ter um controle sobre as suas própriasvidas. O próprio uso indiscriminado do dinheiro e do crédito, que leva à inadimplência e ao estresse, decorre do fato de as pessoas não sentirem que podem controlar seus gastos de dinheiro e sua tomada de crédito. As pessoas preocupam-se continuamente com dinheiro, não se dando conta de que, por exemplo, se economizarem R$ 2,00 por dia, durante 50 anos, colocando esse recurso na poupança, a 0,5% ao mês, ao final desse período terão R$ 228 mil. Uma verdadeira fortuna para o padrão da quase totalidade das pessoas, economizando apenas R$ 2,00 por dia. Certamente, muitos de vocês devem estar se perguntando por que não começaram antes. Este é um exemplo da pedagogia do cotidiano, conceituada pelo Akatu, aplicada ao dinheiro. Tudo aquilo que fazemos todos os dias, a cada dia de nossa vida, terá um peso extraordinário, ao longo do tempo, seja na sustentabilidade ambiental do planeta, seja nas questões sociais, seja em nossas próprias vidas. Por outro lado, é preciso que, além do consumo consciente do dinheiro e do crédito, as pessoas, ao menos parcialmente, redefinam as suas vidas, valorizando outros aspectos, como as alegrias, as emoções, os sentimentos, a arte, os amigos e os amores, e complementem o consumo de bens materiais com o consumo de bens intangíveis, que são os verdadeiros bens que nos trazem felicidade e nos dão sentido à vida. TÓPICO 1 | ANÁLISE DE CRÉDITO 215 O sociólogo Domenico de Masi nos lembra que nas sociedades ricas, em especial na Europa, o conceito de “luxo” , por exemplo, começa a mudar. Para muitos indivíduos desses países, os fatores de diferenciação já não são os tradicionais ícones de status e de riqueza, como automóveis, mansões e objetos de grife. Para os que conseguiram superar essa obsessão, o luxo passou a ser tudo o que é raro e que não depende, essencialmente, das condições materiais. Luxo é tempo, silêncio, segurança, autonomia, liberdade e beleza. De certa forma, podemos dizer que foi para isso que a humanidade fez as revoluções tecnológicas e para isso deveria servir o desenvolvimento científico, para que o homem pudesse usufruir tudo o que traz felicidade e dá sentido à vida. Sempre me impressiono com o caso de uma tribo indígena, no norte de Goiás, em que a falta de comida leva todos a emagrecerem juntos. Pensando sobre o fenômeno, Aron Belinky, que é coordenador do projeto de consumo consciente do dinheiro e crédito do Akatu, disse que isso ia contra o instinto de sobrevivência individual, que é um instinto natural. Eu argumentei que talvez seja o inverso, dado que, para os índios, a sobrevivência individual só é considerada um valor se fizer parte da sobrevivência coletiva. Só há sentido em sobreviver se todos sobreviverem. E, portanto, se sobreviverem aqueles que fazem parte integral do sentido da vida de cada um. É claro que estamos longe desse cenário, mas sabemos que precisamos caminhar em uma direção de maior solidariedade se quisermos que a humanidade sobreviva. O consumo consciente do dinheiro e do crédito é um caminho importante a ser trilhado, na medida em que o dinheiro “atravessa”, por assim dizer, todo o consumo. Se consumido com consciência, levará o consumidor a pensar em sua real necessidade de bens e serviços. Da mesma forma, na tomada de crédito, se tomado com consciência, pode ser um aliado do seu bem-estar, antecipando o consumo do que realmente precisa, a um custo e prazo que realmente o consumidor possa cumprir confortavelmente. Um consumo, portanto, que permita realizar o slogan do Akatu, criado pela agência Leo Burnett: “Consuma sem consumir o mundo em que você vive”. Além disso, poderemos realizar a palavra “Akatu” em cada um de nós. Akatu significa semente boa e, ao mesmo tempo, mundo melhor. Ou seja, tornaremos o ato de consumo a semente do mundo melhor em que vamos viver. FONTE: AKATU (2006, p. 20) Disponível em: <www.akatu.org.br/Content/Akatu/Arquivos/file/ OConsumoConscienteDinheiroeCredito(1).pdf>. Acesso em: 2 dez. 2013. 216 Neste tópico você viu que: • O significado de crédito pode ser interpretado como a vontade de ceder e dispor recursos financeiros com o propósito de satisfazer as diversas necessidades de recursos de um terceiro. • Os fundamentos de análise servem para estabelecer critérios de dados retrospectivos, estabelecer tendências e reconhecer capacidade de pagamento dos devedores. • O bom senso faz parte fundamental da análise de crédito, estudando os famosos 4 ”C” das operações de crédito. • O Caráter é o primeiro dos 4 ”C”, pois com um caráter firme o devedor terá determinação para cumprir com os prazos estabelecidos no contrato de crédito. • A Capacidade é o segundo dos 4 ”C”, pois a capacidade determina a habilidade real de pagar, ou seja, retém os meios para cumprir com os prazos estabelecidos. • O Capital é o terceiro dos 4 ”C”, pois o patrimônio do devedor é um grande referente como respaldo às operações de crédito. • As condições são o quarto dos 4 ”C”, pois abordam fatores externos que poderiam impactar na capacidade de pagamento do devedor. • Os 4 ”C” são peças fundamentais para a análise de crédito e devem ser ponderados junto ao Colateral em uma operação de crédito. • A segurança na documentação das operações é quesito fundamental para estabelecer uma boa gestão durante os pagamentos de uma operação de crédito. • Os dados cadastrais devem se manter com acesso restrito, pois são informações pessoais. Ou seja, deve-se manter o sigilo através de uma correta custódia. RESUMO DO TÓPICO 1 217 AUTOATIVIDADE 1 Detalhe e explique quais os critérios para fazer uma análise bem fundamentada. 2 Quais são os 4 ”C” de crédito e explique por que são importantes para a análise de crédito. 3 Dentro dos 4 ”C”, o que determina: a) O caráter: b) A capacidade: c) O capital: d) As condições: 4 Entre os 4 ”C”, quais são fundamentais e quais servem para complementar, ou apoiar, a análise de crédito? 5 Por que a segurança na documentação das operações é importante para uma boa gestão durante a vida do crédito? 6 Como deve ser a custódia das informações e dados cadastrais? 218 219 TÓPICO 2 RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Depois de ter uma ideia mais clara de quais são as bases da análise de crédito, agora vamos estudar o risco e os limites de crédito a serem efetivados aos clientes, em função dos objetivos dessa análise. A gestão do risco é fundamental para manter um portfólio de empréstimos sob controle e com baixo índice de inadimplência. Todo empréstimo tem risco, pois mexe com valores a serem pagos no futuro, que pode apresentar incertezas. Por isso é necessário ter noções de probabilidades de acontecimentos no futuro, aos quais os devedores estarão expostos em função do capital a ser emprestado. Mas qual o significado da palavra risco? Significam incerteza acontecimentos imprevisíveis no futuro que de certa maneira poderiam impactar na vida de uma pessoa ou empresa. Inclusive, há acontecimentos imprevisíveis e incertezas que podem se tornar favoráveis, dependendo muitas vezes das fortalezas e capacidades do devedor. De acordo com Schrickel (200, p. 27), “[...] embora a análise de crédito deva lidar com eventos passados do tomador de empréstimos (a análise histórica), as decisões de crédito devem considerar primordialmente o futuro desse mesmo tomador”. Portanto, podemos concluir que o risco está lá na frente, no futuro. No passado encontramos só as bases históricas do tomador de crédito, ou seja, o seu perfil. Mas os pagamentos dos quais depende a instituição financeira estão aonde? No futuro, portanto uma boa gestão de risco é fundamental. Grande parte da gestão de risco depende de: • dados objetivos e quantificáveis; • ponderações objetivas, tais como: conhecimentos e capacidades, bases culturais e costumes, formação sociocultural, perfil profissional etc. Dessas informações, a decisão de crédito torna-se uma análise de ponderação dos fatos do devedor. Cada situaçãode empréstimo é única e tem sua própria estrutura de dados e fatos, inclusive é única também nos casos em que um devedor faz vários créditos com diferentes objetivos. 220 UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES 2 ANÁLISE DO RISCO NA OPERAÇÃO Quando uma pessoa, ou empresa, faz um crédito, está procurando levantar liquidez para satisfazer diversas necessidades e objetivos, tais como: necessidade de caixa (liquidez), compra de ativos para uso pessoal, ou para fins produtivos, obrigações pendentes de diversa natureza, entre outras. De fato, ninguém procura crédito para levantar liquidez e botar esse dinheiro de alto custo sob o colchão. Se procura crédito é porque está precisando de recursos financeiros. Portanto, cada uma dessas necessidades merece um tratamento e um tipo de crédito específico, necessidades que levam a ponderar o nível de risco da operação. Nesse contexto, devemos nos perguntar: • Para que essa pessoa ou empresa está precisando levantar recursos monetários? • Qual será o prazo de pagamento para essa necessidade de crédito? Ou seja: • Quanto tempo precisará o devedor para pagar o total do capital? • Quais serão os períodos de pagamentos até o final do empréstimo que melhor podem se encaixar no seu fluxo de caixa? • Quais serão as fontes de pagamento e quais serão os riscos internos e externos para essa fonte de pagamento? UNI Você sabe qual a diferença entre risco externo e interno? • Risco Interno envolve a eficiência organizacional e produtiva de uma empresa ou pessoa. Ou seja, envolve a questão de dar conta das dificuldades internas para encarar nossas atividades. Estamos sendo produtivos ou temos muitos erros e desperdícios durante o processo produtivo? • Risco Externo envolve todas as ameaças externas de nossas atividades, tais como a inflação, dificuldades econômicas que aumentam o atraso das contas a receber, uma moeda nacional muito valorizada que torna os produtos importados mais baratos e dificulta a competitividade da indústria nacional etc. Ou seja, envolve todas as ameaças externas que o negócio ou pessoa não tem capacidade de influenciar. TÓPICO 2 | RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO 221 Dessas três questões (Para que os recursos? Quais os prazos? E quais as fontes?), a mais importante são as fontes de pagamento do capital emprestado. Fontes de recursos que são peça-chave para o repagamento do capital emprestado. Se houver qualquer alteração na estrutura dessas fontes, o risco de inadimplência aumenta automaticamente e, aliás, consideravelmente. Exemplos: • Se a pessoa depende de um salário, será que esse vai mantê-lo no tempo? Será que os empregos na área ou indústria onde trabalha a pessoa são estáveis? Logo, é importante fazer investigações sobre essa fonte de recursos. • Se o devedor é uma microempresa, será que as fontes de recursos do negócio são estáveis? Será que os riscos externos, inflação, mercado e concorrência não vão impactar negativamente nas vendas? Logo, além de investigar as fontes em si do negócio, é importante conferir se o microempresário tem outras fontes de recursos além do pequeno negócio. • Se o devedor é uma empresa estabelecida com um histórico de alguns anos no mercado: • Será que suas fontes de recursos vão se manter no tempo? • Quais são os riscos do mercado onde atua a empresa e qual a estrutura de dívida e patrimônio desta? Logo, aprofundar nesses quesitos e observar se a empresa tem estratégias para dar conta dessas possíveis ameaças é questão-chave no processo de análise. No referente aos empréstimos para pessoa física, cabe perguntar: • Quanto tempo já trabalha com seu atual empregador, e por quanto tempo trabalhou nas outras empresas? • Qual é o cargo e seu salário? • Se tiver, quais são as outras fontes de renda e quais são as frequências destas? • Qual o comprometimento de seu salário, ou renda, com gastos fixos e correntes, tais como aluguel, matrículas de colégios, gastos correntes de mercado etc.? • Qual o comprometimento do seu salário com dívidas? • Quais são os tipos de seguros que tem? 222 UNIDADE 3 | PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES • O potencial devedor possui seguro de saúde que possa cobrir gastos inesperados? • Quais são os bens pessoais? • Qual a sua situação civil, está casado(a), qual o regime de casamento, e se tiver cônjuge, qual a renda dele(a)? • Quantos filhos tem ou quantos dependentes tem? Todas essas perguntas e mais outras mais específicas, dependendo o caso, deverão ser levantadas segundo a necessidade, pois visam confirmar que as fontes de pagamento sejam seguras e, portanto, reduzir ao máximo possível o risco de inadimplência. O maior risco para o emprestador ao conceder crédito a indivíduos concentra-se no eventual colapso de suas finanças pessoais, seja porque perdeu o emprego, ou devido a um processo de separação litigiosa, um acidente ou doença grave em família, ou porque simplesmente extrapolou o limite da prudência na satisfação de suas necessidades infinitas de bens e serviços [...] (SCHRICKEL, 2000, 163). Portanto, logo depois de determinar quais são as fontes, o seguinte passo a ser dado mais uma vez é se perguntar: Para que essa pessoa ou empresa está precisando levantar recursos monetários? Neste quesito, o emprestador deve analisar e ponderar bem os argumentos das necessidades de recursos apresentados pelo devedor, pois além de conferir o porquê da necessidade, a análise de crédito também poderia lhe ajudar a atingir as melhores alternativas possíveis para suprir a finalidade do crédito, alternativas tais como: montante, prazo, períodos e formas de pagamento. Assim, o emprestador poderá servir como consultor, incrementando o nível de relacionamento e o valor agregado dos serviços prestados como emprestador. 3 LINHAS E LIMITES DE CRÉDITO No tópico acima foi visto que o tipo de crédito tem que estar alinhado com as necessidades do cliente e suas fontes de repago. Levando isso em consideração, existem diversas opções de crédito, até existem os créditos agrupados em função de um montante máximo a ser utilizado em diversas necessidades de recursos que as pessoas e empresas possam precisar. Esse agrupamento é conhecido como linhas de crédito. Mas o que significa isso? TÓPICO 2 | RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO 223 As linhas de crédito são limites de crédito preestabelecidos, concedidos às pessoas físicas ou jurídicas, sendo oferecidas pelas instituições financeiras ou empresas que vendem a prazo. Esses limites são estipulados através de análise de renda de uma pessoa ou receitas de uma empresa. Exemplo de limite de crédito pode ser o limite de crédito que tem uma pessoa no seu cartão de crédito. Portanto, as linhas de crédito estarão disponíveis em função das necessidades do devedor. A seguir, vamos analisar os referentes gerais para estabelecer parâmetros de crédito: a) Pessoas Físicas • Créditos emergenciais: oferecidos para suprir necessidades imediatas ou para cobrir desequilíbrios de liquidez. Esse tipo de crédito são operações de prazos inferiores de um mês, tal como o cheque especial. • Financiamento de compras: focados para adquirir produtos de consumo semiduráveis, tais como eletrodomésticos, celulares, vestuário etc. Esse tipo de crédito são operações, de curto prazo, geralmente de até 12 meses e com parcelas iguais. • Financiamento de bens duráveis: focados para adquirir bens de maior valor e durabilidade que vão se integrar ao patrimônio do devedor, tais como: imóveis, veículos, entre outros. Esse tipo de crédito são operações de longo prazo, começando com prazos maiores de 12 meses até 180 meses (compra de uma casa), exigem uma entrada e o saldo é parcelado. b) Empresas • Créditos emergenciais (Hot money): focados para cobrir necessidades de caixa (liquidez), pelo geral, desequilíbrios entre prazos de recebimento e contas a pagar. Esse tipo de crédito são operações inferiores a um mês, tal como o cheque