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Samara Pires- MED25 Bioquímica Médica II Metabolismo de aminoácidos e de proteínas 1. Proteínas ● Macromoléculas mais abundantes e com maior diversidade de funções nos sistemas vivos; ● São polímeros de 𝛂-L-aminoácidos; ● Uma ou mais cadeias polipeptídicas; ● Função estrutural e essencial nos processos biológicos: enzimas, hormônios (insulina e glucagon por exemplo), defesa (fatores de coagulação e anticorpos), transportadores (lipoproteínas), sinalização química (receptores); ● Estrutura proteica: primária (sequência de aminoácidos, alterada somente por problemas genéticos) → secundária (𝛃-paralela ou 𝛂-hélice) → estruturas supersecundárias → terciária (proteínas globulares) → quaternária (ex.: hemoglobina); ● As proteínas são constantemente sintetizadas e degradadas (renovação constante → é o turnover proteico). A velocidade depende do tipo e da função da proteína. Ex.: as enzimas digestivas e proteínas plasmáticas têm meia-vida de horas ou de dias; - O turnover pode acontecer após a marcação da ubiquitina (pequena proteína), que se liga ao grupo carboxi e aminoterminal e lisil. Isso funciona como sinalização para a degradação proteica; - Proteínas contendo a sequência terminal prolina, glutamato, serina e treonina (PEST) indicam meia-vida curta. ● Dietas excessivamente proteicas: o excesso é convertido em glicose ou em lipídios, produzindo grande quantidade de ureia. 2. Aminoácidos ● Formados por um carbono 𝛂 ligado a um grupo carboxílico, a um grupo amino e a um grupo R específico. O grupo amino está para trás do plano do papel, para a esquerda ou para cima (dependendo de como se escreve); ● Existem 9 aminoácidos essenciais: leucina, isoleucina, valina, triptofano, treonina, metionina, fenilalanina, histidina, lisina e arginina (só é essencial durante o crescimento); Obs.: em determinadas condições, a tirosina pode se tornar essencial, pois, como é produzida a partir de fenilalanina, se houver falta desta, aquela não pode ser produzida. Samara Pires- MED25 ● Funções: estrutural, precursores de proteínas, de peptídeos, de neurotransmissores e de hormônios, além de atuarem como fonte de energia; ● Selenocisteína: não corresponde a nenhum códon do tRNA, mas, durante o seu transporte, ocorre uma modificação da serina → transformada em cisteína, a qual está ligada ao selênio. Assim, temos a formação da selenocisteína. Esse aminoácido está presente no sítio ativo da tiorredoxina-redutase e da glutationa-peroxidase e é incorporado cotraducionalmente aos peptídeos a partir de um tRNA modificado. ● Os aminoácidos e as proteínas não podem ser armazenados no organismo. O excesso da dieta é armazenado como glicose ou como ácidos graxos. No entanto, há um pool de aminoácidos livres que são distribuídos pelo corpo e utilizados quando houver necessidade. ● Os aminoácidos podem vir da dieta ou da degradação de proteínas endógenas. Quando degradados, liberam grupo amino e compostos hidrocarbonados. - Grupo amino: pode ser usado para a biossíntese de aminoácidos, de nucleotídeos e de aminas biologicamente ativas ou pode ser excretado na forma de íon amônio (pouco) ou de ureia (passa pelo fígado: ciclo da ureia); - Cadeia hidrocarbonada: entra no ciclo de Krebs na forma de 𝛂 cetoglutarato e de piruvato. ● Os aminoácidos são utilizados na síntese de proteínas e fornecem cerca de 20% da necessidade de energia diária. Para um adulto manter-se saudável, são necessários cerca de 50g de proteínas/dia. 3. Digestão de proteínas da dieta ● REGRA: as proteases intracelulares hidrolisam as ligações peptídicas internas e as endopeptidases clivam os peptídeos resultantes em aminoácidos. As aminopeptidases e as carboxipeptidases removem sequencialmente os aminoácidos a partir da extremidade aminoterminal e carboxiterminal, respectivamente. ● Enzimas proteolíticas ou proteases - Zimogênios: enzimas produzidas na forma inativa e ativadas no local da ação; - Inibidor proteico da tripsina protege o pâncreas; - Na boca, não ocorre digestão. ● No estômago - Ácido clorídrico: o alimento estimula a mucosa gástrica a secretar gastrina, a qual facilita a liberação de HCl e de pepsinogênio; - O HCl é um agente desnaturante de proteínas (pH 1,5); Samara Pires- MED25 Obs.: no recém-nascido, há a renina ou quimosina, a qual degrada as proteínas do leite em um pH mais elevado. - O pepsinogênio é transformado em pepsina, a qual começa a ativar outros pepsinogênios; - A pepsina é uma endopeptidase (atua no interior da molécula), pois cliva as ligações do grupo carboxila da tirosina, do triptofano e da fenilalanina; - A pepsina é a primeira a digerir proteínas. Depois, ela faz uma autocatálise. ● No intestino delgado - Peptídeos produzidos no estômago são clivados a dipeptídeos e a aminoácidos pelas proteases pancreáticas, que também são zimogênios. - Todas as enzimas pancreáticas na forma de zimogênio são ativadas pela tripsina. - Tripsina (serinoprotease): é uma endopeptidase, pois cliva o grupo carbonila da arginina ou da lisina. É ativada pela enteropeptidase (enteroquinase) ou faz autoativação. - Quimiotripsina (serinoprotease): inicialmente na forma de quimiotripsinogênio, é ativada pela tripsina. É uma endopeptidase, por isso cliva a ligação peptídica da carboxila dos aminoácidos ácidos ou hidrofóbicos - Elastase (serinoprotease): cliva a elastina e outras proteínas → quebra o grupo carboxila de aminoácidos com cadeias laterais pequenas, como alanina, glicina e serina. - Carboxipeptidases (dependem do íon zinco): inicialmente na forma de procarboxipeptidase, é ativada pela tripsina. É uma exopeptidase: remove o grupo amino do último aminoácido da cadeia. → Carboxipeptidase A: remove a carboxila terminal da arginina, lisina e histidina; → Carboxipeptidase B: remove a carboxila terminal da alanina, isoleucina, leucina e valina. - Aminopeptidase : remove o grupo amino terminal. É uma exopeptidase que não apresenta especificidade como as carboxipeptidases A e B. Obs.: a quantidade de proteínas propriamente ditas absorvidas pelo organismo é muito pouca, já os aminoácidos, dipeptídeos e tripeptídeos são os mais absorvidos. Samara Pires- MED25 Obs.2: os processos de regulação da digestão de proteínas são comuns aos dos demais nutrientes → colecistoquinina, enterogastrona, secretina e gastrina. ● Transporte e absorção dos aminoácidos - Aminoácidos: são absorvidos no lúmen intestinal por proteínas de transporte semiespecíficas dependentes de Na⁺, semelhantemente ao transporte de carboidratos; - Mecanismo de transporte: primário no caso do sódio, secundário no caso do aminoácido que acompanha o influxo de sódio. Caso haja aminoácidosno intestino e a concentração de sódio no interior da célula esteja baixa, ocorre transporte de ambos, em que o aminoácido é acoplado ao influxo de Na⁺. - Para o aminoácido sair da célula → transporte facilitado por transportadores sem necessidade de participação do sódio. Obs.: esses transportes não gastam energia. Em tecidos distintos, quando presentes, os mesmos transportadores são isoformas uns dos outros. - Antiporte de glutamato-aspartato do espaço intermembrana para a matriz mitocondrial: o glutamato entra, o aspartato sai. - Nos demais tecidos → alguns possuem transportadores facilitados e outros expressam transportadores ligados ao sódio. - No caso dos di e tripeptídeos → o co-transporte é com o íon hidrogênio e não com o sódio: a cada 2H⁺, 1 peptídeo. No caso das proteínas, o transporte é por endocitose. - As células do epitélio intestinal captam aminoácidos do sangue para utilizar como fonte de energia durante o jejum → transporte facilitado simples ou acoplado ao sódio. Samara Pires- MED25 ● Transportadores de aminoácidos - Transportador para aminoácidos neutros, de prolina e de hidroxiprolina, de aminoácidos ácidos e de aminoácidos básicos, como lisina, arginina, ornitina e cistina (formada por duas cisteínas); - Não são específicos de aminoácidos; - A maioria é sódio-dependente; - A deficiência dos transportadores gera acúmulo de aminoácidos no organismo. ● Absorção de aminoácidos e de peptídeos - Os peptídeos são hidrolisados nos enterócitos pelas peptidases citosólicas e são convertidos em aminoácidos, que vão para o sangue; - Os dipeptídeos com prolina e hidroxiprolina e a carnosina são encontrados na forma intacta na corrente sanguínea; - A quantidade absorvida de proteínas inteiras não é nutricionalmente significativa, mas é imunologicamente importante (doenças alérgicas). ● Músculo esquelético - No período absortivo, capta e deposita principalmente aminoácidos ramificados (isoleucina, valina e leucina); - Principal sítio de degradação desses aminoácidos; - Gera mais da metade do reservatório corporal total de aminoácidos livres. ● Cérebro - No período absortivo, capta aminoácidos aromáticos, como tirosina, triptofano, valina e fenilalanina, para a síntese de neurotransmissores (serotonina); - A valina é a principal utilizada como fonte de energia. 4. Degradação de proteínas endógenas ● Proteases: degradam as proteínas endógenas . Participam do turnover proteico. ● As proteínas extracelulares associadas à membrana e as proteínas intracelulares de vida longa são degradadas nos lisossomos por processos independentes de ATP. - As proteínas solúveis sofrem poliubiquitinação, que é a ligação de quatro ou mais moléculas de ubiquitina catalisada pela ligase. A degradação das proteínas marcadas com ubiquitina ocorre no proteossomo. - Proteases lisossomais (catepsinas): proteínas citoplasmáticas ligam-se covalentemente à ubiquitina que interage com um complexo proteico (proteassoma) e, depois, a proteína é degradada em um processo dependente do ATP; Samara Pires- MED25 - Metaloproteinases da matriz: modelam os componentes da matriz extracelular. ● Os aminoácidos liberados podem ser utilizados para a síntese de novas proteínas, para a produção de aminoácidos, de glicose e de lipídios ou podem constituir o pool de aminoácidos livres. 5. Degradação de aminoácidos ● Interconversão de aminoácidos e remoção do nitrogênio com formação de esqueletos de carbono: enzimas transaminases, glutamato desidrogenase, glutaminase, desidratases e desaminases. As duas etapas fundamentais são a transaminação e a deaminação do glutamato; ● Transaminação : ocorre no citosol por ação das aminotransferases (ex.: alanina aminotransferase, ALT, e aspartato aminotransferase, AST). Acontece a transferência de um grupo amino do aminoácido para um 𝛂-cetoácido, formando um novo glutamato (isto é, o nitrogênio dos aminoácidos é concentrado nele). A transaminação ocorre com todos os aminoácidos (exceção da lisina, da treonina, da prolina e da hidroxiprolina), então quase todos produzem glutamato, o qual é um aminoácido ácido, então sofre deaminação oxidativa. Ex.: transferência do grupo amino para o piruvato → alanina. Transferência do grupo amino para o 𝛂-cetoglutarato pela glutamato aminotransferase → glutamato. Vale lembrar que cada aminotransferase é específica para um par de substratos e inespecífica para outro par. Obs.: mesmo que a prolina não passe pela transaminação, ela também produz glutamato. ● Deaminação oxidativa do glutamato: é a liberação do grupo amino e do 𝛂-cetoglutarato do glutamato pela catálise da glutamato desidrogenase (GDH). O primeiro pode ser utilizado na síntese de aminoácidos não essenciais e da ureia. Obs.: a glutamato desidrogenase depende de NAD⁺ ou NADP⁺ e é inibida por GTP, NADH e por ATP, sendo ativada pelo ADP. ● No fígado, a amônia liberada pelos aminoácidos é utilizada para a produção de ureia → excretada na urina. Já os 𝛂-cetoácidos são empregados na síntese de glicose, de aminoácidos, de ácidos graxos ou de corpos cetônicos. Samara Pires- MED25 ● A cadeia carbonada dos aminoácidos origina o oxaloacetato, o 𝛂-cetoglutarato, o piruvato, o fumarato, acetil-CoA, acetoacetil-CoA ou succinil-CoA. - Aminoácidos cetogênicos: produzem acetoacetil-CoA, a qual forma acetil-CoA (vai para o ciclo de Krebs ou para a produção de corpos cetônicos; a síntese de ácidos graxos ocorre só no caso de excesso de aminoácidos); - Glicogênicos : produzem piruvato ou um intermediário do ciclo de Krebs, os quais podem dar origem à glicose por meio da gliconeogênese. Obs.: a treonina e a isoleucina são glicocetogênicas, pois podem levar à produção de glicose e de acetil-CoA. Samara Pires- MED25 - O produto final da degradação da arginina, histidina, glutamato, glutamina e prolina é o 𝛂-cetoglutarato, por isso são glicogênicos; - O produto final da degradação da metionina, isoleucina, treonina, serina e valina é o succinil-CoA. Valina, isoleucina e leucina são ramificados, então produzem propionil-CoA como produto com a catálise da 𝛂-cetoácido desidrogenase, o qual é convertido em succinil-CoA. Obs.: a deficiência da 𝛂-cetoácido desidrogenase provoca a doença do xarope de bordo, na qual a urina tem um odor característico (de açúcar queimado) devido à não degradação dos aminoácidos ramificados. Os sintomas são cetoacidose fatal, sintomas neurológicos e deficiência intelectual. - Via da asparagina e do aspartato: originam oxaloacetato. - Alanina (glicocetogênica): origina piruvato e acetil-CoA. - Tirosina e fenilalanina (glicocetogênicos): originam fumarato e acetil-CoA. ● A alanina ea glutamina são os principais transportadores de nitrogênio no sangue. - A alanina é produzida principalmente no músculo a partir de glutamato ( ciclo da glicose-alanina ): degradação da glicose produz piruvato → piruvato forma alanina por transaminação (reação inversa) → alanina vai para o fígado → o esqueleto de carbono da alanina é utilizado para produzir glicose no tecido hepático, enquanto a parte nitrogenada vai para o ciclo da ureia. - A glutamina-sintetase adiciona o grupo amino ao glutamato e produz glutamina, a qual vai para a corrente sanguínea. Samara Pires- MED25 - No fígado, rim ou intestino, a glutaminase remove o nitrogênio amida, formando glutamato + amônia. Essa última participa do ciclo da ureia, já o glutamato exerce suas funções, podendo ser usado para a síntese de alanina. Obs.: no rim, ocorre liberação da amônia e formação do íon amônio, o qual forma sais com ácidos metabólicos para ser excretado. - A glutamina, como transportadora, está envolvida no principal mecanismo de remoção da amônia no cérebro. Obs.: 50% de todo o nitrogênio produzido no tecido muscular estará na forma de alanina e de glutamina. Obs.2: os mamíferos são ureotélicos, pois eliminam a amina na forma de ureia pela urina. Outra parte é excretada por meio do íon amônio (NH₄⁺), mas é uma quantidade pequena. 6. Metabolismo da amônia ● Após o metabolismo de aminoácidos → liberação de nitrogênio e de uma cadeia hidrocarbonada. ● No período pós-prandial: depois da digestão dos aminoácidos → vão para o intestino e para o fígado por meio da veia porta → aminoácidos participam da síntese proteica, mas o excesso é convertido em glicose ou em triacilgliceróis. Samara Pires- MED25 Obs.: os aminoácidos ramificados, como a valina, são importantes como fonte de energia para o encéfalo ● No jejum : proteínas musculares começam a ser degradadas, então os aminoácidos são oxidados para produzir energia ou são sintetizados a alanina e a glutamina, as quais são transportadoras do grupo amino no sangue. - Glutamina → produz alanina; - A alanina e outros aminoácidos vão para o fígado para serem convertidos em glicose, em corpos cetônicos e em nitrogênio; ● Destino do nitrogênio: maior parte é convertida em ureia pelo ciclo da ureia a partir de NH₄⁺, de bicarbonato e do nitrogênio do aspartato. A ureia quase que totalmente é excretada pela urina, mas também pode ser pela bile. Parte do nitrogênio pode ser usada na síntese de aspartato; Obs.: a regulação desse ciclo é feita por feed-forward → enquanto a degradação de aminoácidos está ocorrendo, a velocidade de produção de ureia aumenta. ● A amônia (NH₃) praticamente não é encontrada no organismo, porque, como é uma base muito forte, pode gerar alcalose (aumento de pH). Por isso, geralmente é detectada na forma protonada (íon amônio → NH₄⁺); ● A amônia é tóxica para o Sistema Nervoso Central, pois provoca a depleção das reservas de 𝛂-cetoglutarato, afetando o ciclo de Krebs; ● A amônia deve ter rápida remoção pelo fígado e pelos tecidos, como o músculo, o que é feito na forma da produção da ureia. 7. Ciclo da ureia ● Ureia → forma de excreção do grupo amino dos aminoácidos, pois as bases nitrogenadas, por exemplo, são metabolizadas e o resultado é a produção de urato, não de ureia; ● A ureia basicamente é sintetizada no fígado, mas também pode ser no intestino (em proporção muito menor); Samara Pires- MED25 ● Depois de sintetizada, a ureia vai para os rins e excretada com a água da urina; ● O íon amônio (NH₄⁺), juntamente com o CO₂, pode ser obtido por meio da ureia, uma vez que, após a ação da urease bacteriana, esses produtos metabólicos são reabsorvidos e o amônio pode ser empregado para a produção de glutamina, a qual vai para o fígado a fim de produzir novamente a ureia; ● Exemplificação do ciclo da ureia a partir da glutamina - Envolve algumas etapas principais: (1) transaminação, (2) desaminação oxidativa do glutamato, (3) transporte de amônia e (4) reações do ciclo da ureia. - A formação de amônia a partir do grupo amino ocorre principalmente pelo nitrogênio amino do glutamato. - Fase mitocontrial (controladora do processo) - A glutamina é formada a partir de glutamato pela glutamina-sintase mitocondrial, por isso essa enzima é fundamental na desintoxicação da amônia e na homeostase ácidobásica. Sua deficiência em recém-nascidos resulta em lesão cerebral, falência múltipla e morte. - Glutamina é transportada para o interior da mitocôndria → passa pela deaminação da glutaminase e produz glutamato e íon amônio. - O glutamato é utilizado para a síntese de aspartato, o qual é transportado para fora da mitocôndria (entra glutamato, sai aspartato). - O NH₄⁺ da glutamina produz o carbamoil fosfato com uso de bicarbonato e com gasto de 2 ATP pela catálise da carbamoil-fosfato-sintetase-I (mitocondrial), a qual é a reguladora do processo. Quando mais íon amônio tiver, maior será a atividade dessa enzima. Obs.: a carbamoil-fosfato-sintetase-II é citosólica. - Carbamoil-fosfato + ornitina → citrulina. - Fase citosólica - Transporte de citrulina para fora da mitocôndria: uma citrulina sai, uma ornitina entra. - Citrulina + aspartato (com gasto de ATP) → argininossuccinato; - Argininosuccinato → fumarato e arginina (catálise da argininosuccinato-liase). Veja que o fumarato é também um intermediário do ciclo de Krebs, por isso há uma ligação entre esse ciclo e a via de degradação dos aminoácidos. Obs.: a arginina é um aminoácido essencial somente no período de crescimento, porque nessa fase a produção de proteínas é muito maior que a degradação, por isso quase nenhuma arginina é formada por essa via descrita. Samara Pires- MED25 Obs.2: outra relação do ciclo de Krebs é que o 𝛂-cetoglutarato pode ser utilizado para a formação de aspartato, o qual participa do ciclo da ureia. - Arginina → ureia + ornitina (catálise da arginase hepática). A ornitina, por sua vez, entra na mitocôndria para retornar o ciclo (lembre-se: para cada ornitina que sai do citosol, uma citrulina entra). A ornitina e a lisina são inibidores da arginase. ● A ornitina é um aminoácido não codificado, isto é, não é incorporada à síntese proteica. - Regenerada pelo ciclo da ureia; - Sintetizada de novo no intestino pela ornitina-aminotransferase, a qual também produz glutamato nessa via. ● Regulação do ciclo da ureia - A velocidade depende da quantidade de substrato que provém da dieta (glutamato e arginina) → estimulam a síntesede N-acetil glutamato, que ativa a carbamoil-fosfato sintetase I (encontrada nas mitocôndrias do fígado e do intestino). Samara Pires- MED25 - No jejum, o fígado mantém os níveis de glicose do sangue por meio da gliconeogênese, a qual é feita a partir da alanina. - No jejum prolongado, o cérebro utiliza corpos cetônicos, poupando a glicose do sangue, o que diminui a degradação da proteína muscular e a produção de ureia. ● Disfunções no ciclo da ureia - Provoca hiperamonemia: tremores, fala arrastada e visão borrada devido à alcalose → aumento do pH sanguíneo. - Provoca encefalopatia e alcalose respiratória. - Sinais clínicos: vômitos, aversão a alimentos ricos em proteínas, ataxia intermitente, irritabilidade e deficiência intelectual grave. Tratamento: dieta hipoproteica para evitar aumentos súbitos nos níveis de amônia. - Alteração no equilíbrio da reação da glutamato desidrogenase (quase não ocorre) → esgota 𝛂-cetoglutarato e NADH → diminui a concentração de ATP, porque o ciclo de Krebs não ocorre como deveria. Isso acontece, porque quase que todo o glutamato está sendo convertido em glutamina para retirar a amônia do organismo. O problema é que esse processo é dependente de ATP e, além dele, há a reação de transaminação, a qual é responsável pela produção de glutamato a partir de 𝛂-cetoglutarato e prejudica ainda mais o ciclo de Krebs devido ao consumo desse último intermediário. - O cérebro é o mais vulnerável à depleção de glutamato, já que esse aminoácido é também o precursor de um neurotransmissor importante: o 𝛄-aminobutirato (GABA). - Ornitina permease : hiperornitinemia, hiperamoniemia e homocitrulinúria (síndrome HHH) → mutação no gene que codifica a ornitina-permease, a qual importa a ornitina citosólica para a matriz mitocondrial. - Encefalopatia hepática: incapacidade do fígado de eliminar as substâncias tóxicas presentes na corrente sanguínea, levando à deterioração da função cerebral. Nesse caso, a amônia atravessa a barreira hematoencefálica, Samara Pires- MED25 aumentando a síntese de glutamato e de glutamina, esgotando o suprimento de 𝛂-cetoglutarato e afetando o ciclo de Krebs. 8. Biossíntese de aminoácidos (11 não-essenciais) ● Glutamato: aminoácido de papel central envolvido na síntese e na degradação de outros; ● Todos os aminoácidos precisam de transaminação para serem produzidos (exceção da lisina e da treonina); ● Glutamato → glutamina (reação de amidação)- catálise da glutamina-sintase; ● Aspartato → asparagina (reação de amidação)- catálise pela asparagina-sintase; ● Glutamato → prolina; ● Fenilalanina → tirosina (catálise da fenilalanina-hidroxilase). Quando a dieta contém quantidades adequadas da fenilalanina (aminoácido essencial), a tirosina é nutricionalmente não essencial. Como a reação é irreversível, a tirosina não pode originar fenilalanina. Obs.: a síntese de aminoácidos depende da necessidade do organismo. Se o aminoácido for necessário, a enzima-chave é ativada pelos seus efetores e ele é produzido para atingir a demanda proteica. Então, a regulação é por inibição gênica. ● Glicose-6-fosfato → ribose-5-fosfato → histidina; ● 3-fosfoglicerato → serina → glicina e cisteína (essa última reação dependente de tetra-hidrofolato); Obs.: veja que, pela reação acima, a serina é convertida em glicina para ser catabolizada. ● Cisteína → o enxofre da cisteína provém da metionina e o esqueleto de carbono, da serina; ● Eritrose-4-fosfato (via das pentoses) + fosfoenolpiruvato (via glicolítica) → triptofano, fenilalanina (esses dois são essenciais para os seres humanos, por isso são produzidos nas plantas) e tirosina; ● Piruvato → alanina, valina, leucina e isoleucina (transaminação); ● Oxaloacetato → aspartato (transaminação) → asparagina, metionina, treonina e lisina (transaminação); ● 𝛂 cetoglutarato → glutamato → glutamina, prolina e arginina. ● Hidroxiprolina e hidroxilisina → são produzidas a partir da hidroxilação de prolina e de lisina pela catálise da prolil-hidroxilase e da lisil-hidroxilase da pele, do músculo esquelético e das feridas em processo de granulação. A deficiência de vitamina C, cuja presença é necessária para a atividade de Samara Pires- MED25 ambas as hidroxilases, resulta em escorbuto → sangramento das gengivas, edema das articulações e cicatrização deficiente das feridas. Obs.: A hidroxiprolina e a hidroxilisina provenientes da dieta não são incorporadas em proteínas, visto que não há nenhum códon ou tRNA para determinar a sua inserção em peptídeos. Obs.: o glutamato dá origem todos os aminoácidos que sofrem transaminação. ● Coenzimas importantes para a síntese de aminoácidos - Piridoxal-fosfato (vitamina B6): essencial para a degradação e para a produção de aminoácidos. Auxilia a remoção de grupos pelas amino-transaminases e a doação de grupos de amino, pois atua como carreador desses grupos. - Tetrahidrofolato (FH4): importante na transferência de grupamentos de um carbono (metil) para a degradação de serina e de histidina e para a síntese de glicina. - Tetrahidrobiopterina (BH4): reações de hidroxilação de anel aromático → fenilalanina para tirosina. 9. Biossíntese dos aminoácidos (9 essenciais) ● Não podem ser produzidos pelos animais, por isso dependem da ingestão pela dieta; ● Vale lembrar que um aminoácido pode ser essencial para um animal e não essencial para outro. Samara Pires- MED25 10. Conversão de aminoácidos em produtos especializados ● Creatina → fosfocreatina → ATP: reserva pequena, mas rapidamente mobilizada de fosfato de alta energia; fornece energia para o início da atividade física e é originada da metionina, glicina e arginina; ● Melanina (derivada da tirosina): pigmento marrom/negro que escurece cabelo, pele e olhos e que está presente nos melanócitos. A tirosina também é precursora das catecolaminas: dopamina, norepinefrina e epinefrina, as quais dependem de piridoxal fosfato para sua produção. - Dopamina e norepinefrina: neurotransmissores no cérebro e no sistema nervoso autônomo. Fora do sistema nervoso central, eles são reguladores do metabolismo. - Norepinefrina e epinefrina: sintetizadas na adrenal a partir de tirosina e liberadas em resposta ao medo, exercício, frio e hipoglicemia. Aumentam a lipólise e a glicogenólise, o débito cardíaco e a pressão arterial. ● Histamina: mensageiro químico responsável pelas respostas celulares aos processos alérgicos e inflamatórios, secreção de ácido gástrico e de neurotransmissor no cérebro. A histamina é derivada da descarboxilação da histidina. ● Serotonina ou 5-hidroxitriptamina : sintetizadaa partir da descarboxilação do triptofano e é armazenada na mucosa intestinal, nas plaquetas e no SNC. Está envolvida na percepção da dor, em distúrbios afetivos, na regulação do sono, na temperatura e na pressão arterial. Para a produção desse neurotransmissor, é necessário ter piridoxal fosfato e tetrahidrobiopterina. ● Ácido 𝛄-aminobutírico (GABA): é obtido a partir da descarboxilação do glutamato. Utilizado no tratamento da hipertensão e da epilepsia; é um neurotransmissor inibitório. Samara Pires- MED25 ● Glutationa (GSH) ou 𝛄-glutamilcisteinilglicina : mantém o grupo SH das proteínas reduzido e o íon ferro do grupo heme no estado ferroso. Constitui um agente redutor para a glutationa tiorredoxina e é utilizada na remoção dos peróxidos tóxicos. Formada a partir de glutamato, cisteína e glicina e gasta ATP para a síntese. Obs.: perceba que, para os processos que possuem descarboxilação, é necessário ter piridoxal fosfato. ● Carnitina : produzida a partir da lisina → transportadora de acil-CoA. ● Carnosina e anserina : produzidas a partir de histidina → são dipeptídeos encontrados no músculo (função desconhecida). ● Neuropeptídeos : encefalinas, endorfinas e substância P → induzem respostas sensoriais e emocionais. ● Espermina e espermidina : produzidas a partir de metionina e de ornitina → atuam no empacotamento do DNA. ● Bases nitrogenadas: púricas (A e G) e pirimídicas (C, U e T). As púricas são formadas a partir do aspartato, glicina, do ácido fórmico e a amida provém da glutamina. Já as bases pirimídicas vêm do aspartato, da glutamina e do CO₂. ● A serina atua na biossíntese de fosfolipídios e de esfingosina, além de fornecer os carbonos 2 e 8 das purinas e o grupo metil da timina. 11. Correlações clínicas ● Albinismo: deficiência da enzima que produz melanina a partir da tirosina (tirosinase); ● Fenilcetonúria (PKU): deficiência da fenilalanina hidroxilase (degrada a fenilalanina em tirosina), gerando retardo mental, manchas na pele e vômito neonatal devido ao acúmulo de fenilalanina, o que provoca o acúmulo de fenilpiruvato, fenilacetato e fenilacetilglutamina (cetoácidos derivados). Tratamento: dieta → redução da síntese de fenilalanina e ingestão de tirosina, já que o seu precursor está em falta. Diagnóstico → teste do pezinho. ● Tirosinemia II : deficiência da enzima tirosina aminotransferase, a qual converte a tirosina em um intermediário do homogentisato. ● Tirosinemia III: deficiência da enzima p-hidroxifenilpiruvato-dioxigenase, a qual converte o intermediário em homogentisato. ● Alcaptonúria : deficiência na enzima que converte o ácido gentísico em ácido maleilacetoacético (homogentisato-oxidase), o que provoca urina escura devido à oxidação do homogentisato em contato com o ar. Essa doença decorre de problemas no catabolismo da tirosina.
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