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Filosofia 1 - Bernouli

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Volume 01
FILOSOFIA
2 Coleção Estudo
Su
m
ár
io
 -
 F
ilo
so
fia Frente A
01 3 O pensamento filosóficoAutor: Richard Garcia Amorim
02 15 A origem da FilosofiaAutor: Richard Garcia Amorim
FRENTE
3Editora Bernoulli
MóDULOFilosoFia
O SER HUMANO – UMA 
SÍNTESE ENTRE NATUREZA E 
CULTURA 
Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer 
do mundo.
Maurice Merleau-Ponty 
O que é o homem?
Le
on
ar
do
 d
a 
V
in
ci
Homem Vitruviano
O que é o homem? Por meio dessa pergunta, começamos 
nossa investigação fi losófi ca acerca daquilo que distingue o 
homem dos outros seres da natureza. O que há de especial 
no ser humano que o faz ser capaz de buscar respostas 
sobre o mundo e sobre si mesmo? O que leva o homem 
ao questionamento sobre a origem e o funcionamento do 
universo? O que faz o homem tentar entender o que é o 
próprio homem?
Se pretendemos compreender a Filosofi a, antes de 
iniciarmos nossa investigação, precisamos compreender 
quem é aquele que a produz, ou seja, o que é o homem. 
O que o faz tão especial e diferente dos outros seres?
São muitas as defi nições sobre o homem encontradas 
tanto na Filosofi a e na Antropologia Filosófi ca quanto em 
outras áreas do conhecimento. Uma dessas defi nições é 
a de Blaise Pascal, que diz:
o homem não passa de um caniço, o mais frágil da 
natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que 
o universo inteiro se arme para esmagá-lo; um vapor, 
uma gota d’água é sufi ciente para matá-lo. Mas quando 
o universo o esmagar, o homem será ainda mais nobre 
do que aquele que o mata, porque ele sabe que morre e 
o universo não tem nenhum conhecimento da vantagem 
que leva sobre ele. Toda a nossa dignidade consiste, pois, 
no pensamento. É nele que devemos nos revelar e não 
no espaço e no tempo que não sabemos como ocupar. 
Trabalhemos para bem pensar [...]
PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução de Sérgio Millet. 
São Paulo: Abril Cultural, 1979.
Por essa definição, percebemos que, segundo 
Pascal, a característica que marca definitivamente 
o homem é sua capacidade de pensar. O raciocínio, 
o pensamento, é o que sobreleva o homem em relação 
a qualquer outro ser no universo. Mas será que o 
homem é somente pensamento? Somos somente seres 
racionais?
O pensamento filosófico 01 A
4 Coleção Estudo
O animal homem O texto anterior, que relata um fato verdadeiro ocorrido 
ainda no século passado, instiga a discussão sobre o 
que distingue verdadeiramente o homem do animal. 
No caso relatado, as meninas não passaram pelo processo 
de humanização. Dessa forma, podemos afi rmar que 
o homem não nasce humano, mas assume essa feição 
com o processo de socialização permitido somente pelo 
contato com a cultura. No caso das meninas, alguns relatos 
afi rmam que elas não apresentavam ações tipicamente 
humanas, como chorar, sorrir e falar. Quando elas foram 
trazidas para o convívio social, foi iniciado o processo de 
humanização, afastando-as do mundo animal em que 
estavam inseridas. 
Mas como essas meninas aprenderam a se comportar como 
lobos? Seria possível o contrário? Um animal, de qualquer 
espécie, colocado desde o seu nascimento para conviver 
com outros de espécie diferente poderia adquirir os hábitos e 
comportamentos daqueles com os quais ele convive? É certo 
que não. No caso das meninas-lobo, temos o exemplo cabal de 
que somente o homem possui essa capacidade de adaptação 
que supera a natureza biológica da espécie e lhe confere essa 
plasticidade de se adaptar aos mais diferentes modos de vida. 
Nesse viés, ainda podemos citar o caso do menino 
selvagem de Aveyron. Em setembro de 1799, um menino, de 
cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da fl oresta 
de Aveyron, sul da França. Ele estava sozinho, sem roupa, 
andava de quatro e não falava uma única palavra. Pelo que 
parece, foi abandonado pelos pais e cresceu sozinho na 
fl oresta. O menino, chamado a partir de então de Victor, 
foi levado para Paris, onde fi cou sob os cuidados do médico 
Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante 5 anos, o Dr. Itard 
dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler, a se comportar 
como um ser humano. Porém, não alcançou grande êxito 
em sua empresa.
Temos ainda um terceiro caso, o de Kaspar Hauser. 
Diz-se que ele surgiu em 1828, numa praça do centro de 
Nuremberg, Alemanha. O garoto tinha por volta de 16 anos 
e falava de modo pouco inteligível. Ninguém sabia de sua 
vida pregressa, mas, ao que tudo indica, parece que viveu 
sozinho dentro de um celeiro desde o seu nascimento. Teve 
pouco contato com outros seres humanos. Como nos casos 
anteriores, o menino foi acolhido e educado, aprendendo a 
ler e a escrever, o que permitiu que pudesse se comunicar, 
mesmo basicamente, com outras pessoas. Seu raciocínio, 
contudo, não foi muito adiante. Continuava a ser a mesma 
criança do dia em que fora encontrado. Não conseguia 
enxergar em perspectiva e também não aprendia conceitos 
abstratos.
Esses estranhos casos nos propõem uma questão inicial: 
Quais são as diferenças entre o homem e o animal?
as meninas-lobo
Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram 
relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas 
crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família 
de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer 
um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 
1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento 
era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos 
e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e 
os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam 
de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, 
lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. 
Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia 
acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativas e 
ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como 
lobos. Nunca choravam ou riam.
Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, 
humanizando-se lentamente. Necessitou de seis anos 
para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um 
vocabulário de apenas cinqüenta palavras. Atitudes afetivas 
foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez 
por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente 
às pessoas que cuidaram dela bem como às outras com as 
quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se 
por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um 
vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens 
simples.
LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et 
del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p. 12-14.
Estátua de Rômulo e Remo, que se encontra no 
Museu Capitolino, considerado o museu mais antigo 
do mundo.
Frente A Módulo 01
FI
LO
SO
FI
A
5Editora Bernoulli
Liberdade e determinismo
O mundo animal se caracteriza por ser um mundo 
fechado, em que os animais vivem em perfeita harmonia 
com sua natureza, uma vez que são dotados de instintos 
que determinam o comportamento de sua espécie. 
Muito se tem discutido sobre os limites da inteligência 
animal. Nesse sentido, pesquisas recentes demonstram 
que algumas espécies são capazes de elaborar raciocínios 
bastante sofi sticados, como se observa a seguir:
Os animais pensam como nós?
Será que o homem é realmente tão mais inteligente do 
que as outras espécies?
Nenhum pesquisador duvida que o pensamento abstrato 
do Homo sapiens é um feito inédito no mundo animal. Mas, 
quanto mais os cientistas sabem sobre espécies como 
chimpanzés, gorilas, orangotangos, baleias e golfi nhos, 
mais eles chegam à conclusão de que a barreira intelectual 
que separa os homens desses animais é bem menor do 
que se imaginava.
Dois estudos pioneiros, nas décadas de 1950 e 1960, 
foram fundamentais para diminuir essa distância. 
O primeiro, realizado na ilha de Koshima, no Japão, 
detectou que os macacos da região eram capazes de 
aprendernovas técnicas para se alimentar a partir da 
mudança do hábito de um dos seus pares. A pesquisa 
revelou que um jovem macaco provocara uma pequena 
revolução na ilha ao passar a lavar a batata-doce num 
pequeno braço d’água antes de comê-la, ato que passou a 
ser repetido por três quartos de todos os macacos jovens da 
ilha. A descoberta provou que o homem não era o único a 
transmitir um comportamento socialmente adquirido – não 
transmitido geneticamente nem aprendido individualmente. 
O segundo estudo foi o da inglesa Jane Goodall que, 
ao conviver com chimpanzés na Tanzânia, provou que 
esses primatas tinham uma complexa vida social, uma 
linguagem primitiva com mais de 20 sons e a capacidade 
de usar diversas ferramentas para obter alimento – algo 
considerado exclusivo da nossa espécie. Além disso, 
os pesquisadores sabem que mamíferos como baleias, 
golfi nhos e elefantes conseguem aprender e ensinar.
CAVALCANTE, Rodrigo. Superinteressante. Edição 240. 
Disponível em: <www. super.abril.com.br/mundo-animal/
animais-pensam-como-446990.shtml>. 
Acesso em: 5 dez. 2010.
Porém, mesmo que encontremos alguns exemplos de 
animais que possuem um maior grau de “inteligência” 
– um raciocínio mais desenvolvido que lhes permite algumas 
proezas, como é o caso dos chimpanzés, golfi nhos e algumas 
raças de cães – tal raciocínio não se compara ao raciocínio 
humano e sua capacidade de conhecer. 
Os animais vivem em harmonia com sua natureza. 
Isso signifi ca que eles vivem e agem de acordo com sua 
herança genética, biológica, herdada de sua espécie e que 
os faz sempre cumprir aquilo a que estão predeterminados. 
Dessa forma, os animais agem por instintos, o que torna 
possível prever seu comportamento em diferentes situações, 
pois tal comportamento será sempre direcionado àquilo 
que sua natureza determinar. Dessa forma, dizemos que 
os animais são seres determinados, uma vez que a 
programação biológica dita as regras de comportamento 
desses seres, não sendo possível que, por exemplo, um 
animal, por vontade ou por raciocínio voluntário e não por 
condicionamento, “decida” não fazer algo ou fazer diferente 
daquilo a que já está predeterminado em sua natureza. Nesse 
sentido, podemos afi rmar que os animais não são livres. 
Segundo o australiano Gordon Childe (1892-1957), 
os animais já nascem com todos os aparatos naturais 
necessários para a sua sobrevivência e, portanto, com 
a possibilidade de adaptação ao meio em que vivem. 
Suas ferramentas naturais, como asas, pelagem, garras, 
força, dentes e velocidade, além de tantas outras 
características, permitem-lhes superar os obstáculos e 
sobreviverem aos desafi os que se impõem. Dessa forma, os 
animais simplesmente se adaptam à natureza. 
Já o homem, ao contrário dos animais, não traz em sua 
constituição natural nenhuma característica física especial 
que o capacite a sobreviver aos desafi os da vida e das forças 
da natureza. Pelo contrário, se pensarmos com cuidado, 
observaremos que o homem, dos seres vivos existentes, 
é um dos mais frágeis e desprovidos de aparatos ou 
ferramentas naturais que garantam sua sobrevivência. Não 
podemos resistir ao frio, pois não temos a pelagem do urso 
para isso. Nem podemos fugir dos perigos de forma efi caz, 
pois não temos a velocidade de uma lebre para tal. 
No entanto, conseguimos superar todas as nossas 
limitações físicas pela capacidade de pensar. Assim, 
acompanhando o pensamento de Gordon Childe, podemos 
afi rmar que:
Na história evolucionária, relativamente curta, 
documentada pelos restos fósseis, o homem não 
aperfeiçoou seu equipamento hereditário através de 
modifi cações corporais perceptíveis em seu esqueleto. Não 
obstante, pôde ajustar-se a um número maior de ambientes 
do que qualquer outra criatura, multiplicar-se infi nitamente 
O pensamento filosófico
6 Coleção Estudo
mais depressa do que qualquer parente próximo entre os 
mamíferos superiores, e derrotar o urso polar, a lebre, 
o gavião, o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle 
do fogo e pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem 
pode viver, e vive e viceja, desde o Círculo Ártico até o 
Equador. Nos trens e carros que constrói, pode superar a 
mais rápida lebre ou avestruz. Nos aviões, pode subir mais 
alto que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe que 
o gavião. Com armas de fogo, pode derrubar animais que 
nem o tigre ousa atacar. Mas fogo, roupas, casas, trens, 
aviões, telescópios e revólveres não são, devemos repetir, 
parte do corpo do homem. Pode colocá-los de lado à sua 
vontade. Eles não são herdados no sentido biológico, mas 
o conhecimento necessário para sua produção e uso é 
parte do nosso legado social, resultado de uma tradição 
acumulada por muitas gerações e transmitida, não pelo 
sangue, mas através da fala e da escrita.
CHILDE, V. Gordon. A evolução cultural do homem. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966. p. 40-41. 
Dessa forma, diferentemente dos animais que agem por 
instinto, vivendo em um mundo fechado e sem liberdade, 
simplesmente se adaptando à natureza e cumprindo o que 
a sua herança biológica determina, o homem pode superar 
suas limitações. O ser humano não apenas se adapta à 
natureza, mas adapta a natureza às suas necessidades. 
Esse é o traço característico da presença do homem no 
planeta. Dos seres vivos, portanto, o homem é o único que 
produz cultura e que tem possibilidade de transmiti-la aos 
seus descendentes por meio, principalmente, da linguagem 
simbólica. 
Dessa forma, compreendemos o pensamento de 
Pascal, citado no início deste módulo, quando ele diz que 
“toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento”. 
É o pensamento que, definitivamente, nos faz seres 
especiais, pois com ele podemos encontrar respostas novas 
aos desafi os da existência que se colocam diariamente e aos 
quais precisamos responder. 
Porém, o homem também é natureza. Na verdade, o ser 
humano é uma síntese entre aspectos naturais herdados 
de sua espécie e aspectos culturais obtidos por meio de 
seu convívio social. 
A síntese humana
Como foi dito até aqui, percebemos que o homem não é 
somente natureza e nem é somente cultura. É inegável que 
nascemos com características próprias de nossa espécie, 
as quais podemos denominar instintos. Vejamos o texto de 
Freud que dirá sobre esses instintos:
Em tudo o que se segue, adoto, portanto, o ponto de vista 
de que a inclinação para a agressão constitui, no homem, 
uma disposição instintiva original e auto-subsistente, e 
retorno à minha opinião, de que ela é o maior impedimento à 
civilização. [...] Mas o natural instinto agressivo do homem, 
a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra 
cada um, se opõe a esse programa da civilização. Esse 
instinto agressivo é o derivado e o principal representante 
do instinto de morte, que descobrimos lado a lado de Eros 
e que com este divide o domínio do mundo. Agora, penso 
eu, o signifi cado da evolução da civilização não mais nos é 
obscuro. Ele deve representar a luta entre Eros e a Morte, 
entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como 
ela se elabora na espécie humana. Nessa luta consiste 
essencialmente toda a vida, e, portanto, a evolução da 
civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da 
espécie humana pela vida.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução de 
J. Octávio A. Abreu. In: Sigmund Freud. 
São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
Dessa forma, o homem é constituído de uma natureza que, 
em muitos aspectos, tende a determinar sua vida, tal como 
citado por Freud quando este fala do “instinto de morte”, que 
leva ao afastamento e à não socialização dos homens. Por 
outro lado, verifi camos que a cultura permite que o homem 
“controle” sua natureza. Por mais que os instintos atuem 
em seu interior, levando-o a agir desta ou daquela forma, 
podemos adaptar nossas ações de acordo com nossos valores 
e ideias,o que demonstra nossa humanidade. 
Ao contrário, os animais não podem controlar sua 
natureza, seus instintos, pois são determinados por eles. 
Outra característica que marca nossa diferença em 
relação aos animais é a possibilidade que o homem tem de 
projetar-se ao futuro, tomando como baliza o passado e as 
experiências do presente. Somente o homem é capaz de 
planejar e, portanto, tem ideia de fi nalidade. 
Frente A Módulo 01
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FI
A
7Editora Bernoulli
Uma aranha executa operações semelhantes às do 
tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto 
humano com a construção dos favos de suas colméias. 
Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto 
da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua 
cabeça, antes de construí-lo em cera. No fi m do processo 
de trabalho, obtém-se um resultado que já no início 
deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto 
idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da 
forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na 
matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, 
como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual 
tem de subordinar sua vontade.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 
1985, V.I. p. 149-150.
Seguindo o raciocínio de Marx, podemos perceber que 
somente o homem pode, fora da realidade concreta, pensar, 
idealizar, formular mentalmente aquilo que será, no futuro, 
concretizado. Os animais não têm essa possibilidade de 
projetarem, pois, ao agir, o animal não o faz por meio de uma 
ideia antes concebida, mas segue seu instinto cego. Faz porque 
a natureza assim determinou e nada mais. Por exemplo, 
se observarmos os ninhos dos pássaros joão-de-barro, 
constataremos que, mesmo perfeitos à fi nalidade para a qual 
foram feitos, são sempre da mesma forma, construídos do 
mesmo jeito, não podendo ser diferentes, uma vez que o 
ato de construí-los e a forma como isso será feito são coisas 
que estão inscritas na natureza do animal. 
O homem é livre
A ti, ó Adão, não te temos dado, nem um lugar determinado, 
nem um aspecto próprio, nem qualquer prerrogativa só 
tua, para que obtenhas e conserves o lugar, o aspecto e as 
prerrogativas que desejares, segundo tua vontade e teus 
motivos. A natureza limitada dos outros (seres) está contida 
dentro das leis por nós prescritas. Mas tu determinarás a 
tua sem estar constrito por nenhuma barreira, conforme teu 
arbítrio, a cujo poder eu te entreguei. Coloquei-te no meio 
do mundo para que, daí, tu percebesses tudo o que existe 
no mundo. Não te fi z celeste nem terreno, mortal nem 
imortal, para que, como livre e soberano artífi ce, tu mesmo 
te esculpisses e te plasmasses na forma que tivesses 
escolhido. Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que 
são brutas, e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te 
nas coisas superiores, que são divinas. 
[...]
Ó suprema liberalidade de Deus, ó suma e maravilhosa 
beatitude do homem! A ele foi dado possuir o que 
escolhesse; ser o que quisesse. Os animais, desde o nascer, 
já trazem em si, no ‘ventre materno’, o que irão possuir 
depois. [...] No homem, todavia, quando este estava por 
desabrochar, o Pai infundiu todo tipo de sementes, de tal 
sorte que tivesse toda e qualquer variedade de vida. As que 
cada um cultivasse, essas cresceriam e produziriam nele os 
seus frutos. [...]
MIRÀNDOLA, Pico Della. A dignidade humana. Tradução de 
Luis Feracine. São Paulo: Ed. Escala. p. 39-42.
As palavras de Pico Della Miràndola representam o que 
até aqui falamos sobre a liberdade humana: só o homem é 
verdadeiramente livre. Enquanto os animais, nas palavras 
do fi lósofo, “desde o nascer, já trazem em si, no ‘ventre 
materno’, o que irão possuir depois”. 
Aqui é necessário que nos dediquemos a compreender 
adequadamente o que é liberdade, conceito que contrasta 
com a visão de liberdade utilizada no senso comum. Uma 
pergunta nos ajuda a esclarecer essa questão: quem é 
mais livre, o pássaro que voa de um lado para o outro, sem 
nenhuma limitação ao seu livre voo, ou o homem que está, 
muitas vezes, absorvido em suas tarefas e obrigações diárias? 
À primeira vista, poderíamos pensar que o pássaro é que é livre. 
Talvez, dentro de uma concepção de liberdade voltada para a 
possibilidade de locomoção, o pássaro seria livre. Porém, dentro 
de nossa refl exão sobre natureza e cultura, podemos afi rmar 
que o pássaro não é livre, pois ele está preso, determinado 
por sua natureza. Por mais que ele possa se locomover de 
um lado a outro, ele não o faz por planejar, por querer aquilo, 
mas tão somente obedece aos seus instintos e age de forma 
mecânica. A liberdade, como nós a entendemos na Filosofi a, 
diz respeito à possibilidade de o homem se autodeterminar, 
de controlar, inclusive, seus instintos, não sendo escravo de 
sua natureza, apesar de também possuí-la, de modo que ele 
possa ser dono de si mesmo. 
Dessa forma, concluímos que o homem é um ser biológico 
e cultural, integrando em si características hereditárias, 
recebidas de sua espécie, e também características 
adquiridas pelo contato com a cultura, com a sociedade. 
O homem se constitui, ao mesmo tempo, de características 
advindas da natureza e da cultura, isto é, é uma síntese 
entre os dois polos, o que possibilita que ele transforme a 
natureza, mas também seja infl uenciado por ela, sem, no 
entanto, ser determinado. É criatura e criador do mundo 
em que vive. 
O pensamento filosófico
8 Coleção Estudo
O QUE É FILOSOFIA? 
A origem da palavra filosofia
A
u
gu
st
e 
R
od
in
O Pensador, 1881. Bronze 71,5 x 40 x 58 cm.
Comumente utilizada e pouco conhecida, a palavra Filosofia, 
ao longo de seus 2500 anos de existência, foi tomando 
significados novos. Para definirmos melhor o que realmente 
é e do que trata a Filosofia, enquanto modo e tentativa 
de conhecer, iniciamos definindo o significado da palavra.
A palavra filosofia vem do grego philosophia, que significa 
amor à sabedoria, amizade pelo saber. (Philos: amor, 
amizade; sophia: sabedoria). Filósofo, portanto, é aquele 
que ama o saber e por isso o busca constantemente. 
Mesmo não sendo um fato comprovado, acredita-se 
que o primeiro homem a utilizar a palavra filosofia foi 
Pitágoras de Samos (século V a.C.), ao se referir a si e 
àqueles que, entre a multidão que ia assistir aos jogos 
olímpicos, se dedicavam à observação de tudo e de todos, 
buscando o conhecimento sobre as pessoas, os fatos, 
enfim, sobre tudo o que faz parte da vida do homem. A 
partir desse fato, podemos compreender o dito pitagórico 
que resume o “espírito”, a “essência” da Filosofia e do 
ato de filosofar: “[...] a sabedoria pertence aos deuses, 
mas os homens podem desejá-la, tornando-se filósofos”. 
Portanto, Filosofia não é um conhecimento pronto e acabado 
transmitido por meio de lições e exposições exatas e 
matematicamente formatadas. Pelo contrário, Filosofia é 
uma atitude, um modo próprio de se posicionar frente à 
realidade, levando o homem ao questionamento constante 
dos fatos, ideias, acontecimentos, valores, enfim, tudo o 
que faz parte da vida humana. 
O que é Filosofia
Ao longo do tempo, o termo filosofia foi utilizado de modos 
e com significados distintos ao de sua origem. Buscaremos 
agora a definição do que é Filosofia tal como estudamos 
nas escolas e faculdades e a diferença desta definição em 
relação aos demais usos do termo.
Podemos apontar, pelo menos, três definições distintas 
de filosofia:
1. Modo de viver ou sabedoria de vida: entendida desta 
forma, a filosofia tem um caráter pessoal. É a maneira 
que um indivíduo particular tem de ver o mundo e 
de se portar diante das situações. Quando o sujeito 
afirma “esta é a minha filosofia de vida”, ele está 
dizendo que é desta ou daquela maneira que ele 
encara a vida e dá significado às ideias, aos fatos e 
a si próprio. 
2. Pensamento ou origem das ideias: neste caso, 
a filosofia é tida comoo simples ato de pensar. 
Ao afirmar “estou filosofando”, o sujeito na verdade 
está dizendo que está pensando sobre algo, pura 
e simplesmente. Esta concepção de filosofia, por 
vezes, principalmente para o senso comum, leva à 
banalização do termo, pois dá a impressão de que 
filosofia é um pensamento não sistemático, um 
“viajar” desconectado da realidade e do mundo. 
Seria um pensamento que “sai de nenhum lugar 
e leva a lugar nenhum”, contrariando exatamente 
a própria filosofia. 
3. Busca da verdade e fundamentação teórica sobre o 
homem e o mundo: a filosofia, vista em sua concepção 
mais correta, é um modo de pensar o mundo, buscando, 
através da análise, da crítica, do questionamento, 
da reflexão, a própria verdade sobre o homem, 
a sociedade, o pensamento, enfim, tudo o que pode ser 
pensado e que diz respeito à vida humana e à cultura. 
Nesse sentido, a filosofia sempre ocupou um lugar 
privilegiado, pois, além de constituir-se um conjunto 
Frente A Módulo 01
FI
LO
SO
FI
A
9Editora Bernoulli
de ideias e teorias elaboradas desde seu surgimento 
na Grécia, no século VI a. C., até os dias atuais, é uma 
atitude frente ao mundo, tentando compreendê-lo 
de modo racional. Tudo o que diz respeito ao homem 
e à realidade que o cerca é objeto do pensamento 
filosófico. Nesse sentido, filosofia é a busca incessante 
da verdade, do conhecimento verdadeiro que, apesar 
de muitas vezes transitório, deve ser constantemente 
buscado, levando a significações sobre a realidade, o 
homem e o mundo.
O que não é Filosofia
Outro modo de entendermos as especificidades 
do pensamento filosófico pode ser trabalhado pela 
compreensão do que não é Filosofia. 
Filosofia não é ciência. Apesar de, em seu nascimento, 
com os pré-socráticos, Filosofia e ciência não se dividirem, 
logo depois desse período, já com Sócrates, a Filosofia e as 
ciências seguiram caminhos distintos, uma vez que, se estas 
têm um objeto de estudo determinado, aquela não o tem. Isso 
significa que a Física, a Medicina, a Química, a Engenharia, 
o Direito e todas as outras ciências têm seus objetos de 
estudo determinados, como o movimento dos corpos, caso 
da Física, as leis e o seu papel social, no caso do Direito. 
A Filosofia, porém, não tem um objeto de estudo 
determinado. Dizemos que a Filosofia busca a verdade e, 
nesse sentido, permeia os modos de conhecer de todas as 
ciências, servindo como fonte questionadora e crítica de 
todas as ciências. Por tudo isso, compreendemos por que 
a Filosofia era conhecida na Antiguidade como a ciência 
das ciências. 
Filosofia não é religião, embora seja uma forma de 
questionamento sobre as explicações religiosas e suas 
origens, levando o homem a olhar criticamente para 
as diversas formas de manifestação religiosa e suas 
particularidades. Filosofia se baseia principalmente na razão, 
e a religião, por sua vez, na fé. Ambas, Filosofia e religião, 
são formas distintas e legítimas de explicação do homem 
e do mundo, porém, com bases e fundamentos diferentes. 
Filosofia não é pensar em nada, não é um pensamento 
assistemático, sem objetivos e sem critérios. Pelo contrário, 
Filosofia é um modo de pensar sistemático, com começo, meio 
e fim. Uma busca teórica de fundamentar a realidade de forma 
racional e compreensível, utilizando argumentos lógicos que 
defendam suas conclusões e que possam ser inteligíveis a todos. 
Filosofia é, na verdade, um pensamento que busca as raízes 
do processo, busca um conhecimento profundo e rejeita 
a superficialidade do conhecimento. É um pensamento 
rigoroso, uma vez que busca formular um encadeamento 
de ideias que levarão a conclusões coerentes, não aceitando 
contradições e ambiguidades. É um pensamento de 
totalidade, de conjunto, pois busca um conhecimento que 
não fragmenta o real, proporcionando uma visão total da 
realidade em suas explicações e teorias. Enfim, Filosofia não 
se confunde com nenhuma outra forma de ser e compreender 
a realidade e o homem, mas está além de todas as formas 
de conhecimento quando questiona o que é o homem e a 
própria realidade.
A atitude filosófica: questionar 
sempre e em todas as 
circunstâncias
Quando nascemos, recebemos informações de todos 
os que nos cercam. Nossa família, a escola, os meios 
de comunicação, nossos vizinhos, enfim, todos os que 
participam do crescimento e desenvolvimento da criança 
contribuem, cada um a seu modo, para a formação dos 
valores, ideias, conceitos, preconceitos e tudo o que faz 
parte de nossa formação individual, moral e social. A isso 
chamamos educação. Esse processo é normal e acontece 
com todos os indivíduos de uma sociedade, sem exceção. 
Nesse sentido é que se justifica a frase que diz sermos 
frutos do meio cultural, social e moral em que vivemos.
Porém, em um determinado momento de nossa existência, 
é necessário que todas essas ideias e valores, que até então 
foram recebidos passivamente, do exterior para o interior, 
se individualizem. O homem, já amadurecido intelectual e 
moralmente, deve encontrar um sentido próprio sobre o que 
até então ele apreendeu de forma espontânea e acrítica. 
A esse processo de crítica, de individualização, de busca 
do sentido dos valores, ideias, conceitos e preconceitos 
chamamos atitude filosófica. 
A atitude filosófica nos leva ao questionamento de 
tudo o que até então achamos natural. Aprendemos uma 
infinidade de coisas ao longo da vida e, geralmente, não as 
questionamos, pois cremos que aquilo existe ou que as coisas 
são como aprendemos. Vejamos um exemplo. Acreditamos 
que de fato a Terra gira em torno do Sol, pois dessa forma nos 
ensinaram na escola. Porém, nem sempre se acreditou nisso. 
O pensamento filosófico
10 Coleção Estudo
Por mais de 1 000 anos, os homens acreditaram que o 
Sol girava em torno da Terra, e essa crença, durante esse 
período, era tida como verdadeira. Até que um dia essa 
convicção veio abaixo, com as descobertas científi cas de 
homens como o astrônomo e sacerdote católico Nicolau 
Copérnico (1473-1543). Mas o que aconteceu para que 
deixassem de acreditar que a Terra estava no centro do 
universo? Simplesmente questionaram aquilo com que os 
homens tinham se acostumado, aquelas crenças e verdades 
tidas até então como únicas e inquestionáveis. Isso é atitude 
fi losófi ca: questionar tudo e em todas as circunstâncias, 
buscando a fundamentação teórica dos fatos, ideias e 
valores, visando, sobretudo, ao entendimento correto e ao 
conhecimento verdadeiro das coisas. 
Essa atitude fi losófi ca deve assumir um papel fundamental 
na vida dos indivíduos, porém não é essa a realidade. Nem 
todos têm disposição para questionar, criticar, buscar a 
verdade, pois essa tarefa é difícil, inquietante e desafi a o 
que é “normal”. Assim, por essa difi culdade, a maioria dos 
indivíduos se acomoda com o “normal”, o corriqueiro, o que 
todos pensam e fazem. A isso chamamos senso comum, 
que se caracteriza por ser um conhecimento superfi cial, 
acrítico, passivo, baseado em superstições e crenças, sem 
se preocupar com a verdade das coisas.
O desafi o da Filosofi a é desenvolver essa atitude fi losófi ca. 
O questionamento do porquê das coisas, ideias, fatos e 
valores serem como são; o que são essas coisas, ideias, 
fatos e valores; como são e quais as consequências disso 
em nossa vida. 
Embora difícil, essa atitude fi losófi ca pode ser tomada 
por todos. De uma forma didática, podemos dividi-la 
em dois passos distintos, que levam a uma conclusão 
filosófica. O primeiro passo é a negação. Neste, 
o sujeito nega a ideia, o valor, o preconceito, afastando-se 
dele e dizendo “essa ideia, valor, preconceito não é meu 
pois não fui eu quem o pensou. Simplesmente o recebi e 
aceitei de forma passiva a acrítica”; o segundo passo é 
o questionar, perguntar, inquirir, criticar o que, como e por 
que essa ideia, valor, preconceito é, como é, buscando seu 
signifi cado,sua razão, sua fundamentação teórica e lógica. 
Como consequência desses dois passos, a negação e o 
questionamento, alcançamos então a conclusão, que seria 
o resultado do processo fi losófi co. Essa pode confi rmar 
ou negar a ideia, o valor, o conceito original, porém deverá 
proporcionar um sentido pessoal, individual e lógico para 
aquela ideia, valor, conceito ou preconceito.
O mais importante: sábio x filósofo
[...] a Filosofi a não é a revelação feita ao ignorante por 
quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem 
cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não 
à razão da força.
SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Tradução de 
Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 2.
Dos deuses nenhum fi losofa, nem deseja tornar-se sábio, 
pois o é; nem se algum outro é sábio, não fi losofa. Nem, 
por sua vez, os ignorantes fi losofam ou desejam tornar-se 
sábios. Pois é isto mesmo que é difícil com relação à 
ignorância: aquele que não é nem belo nem bom nem 
sábio considera sê-lo o sufi ciente. Aquele que não se 
considera ser desprovido de algo não deseja aquilo de que 
não acredita precisar.
PLATÃO. Banquete, 204A1-7. 
Sócrates, fi lósofo grego do séc. V a.C., reconhecido por 
alguns como um dos mais importantes pensadores da 
história, fazia uma afi rmação que resume o verdadeiro 
espírito do fi lósofo: “só sei que nada sei”. Por mais 
desconcertante que pareça tal afi rmação, essa é exatamente 
a postura do fi lósofo frente à realidade.
Já dissemos que a Filosofi a é, acima de tudo, uma busca 
permanente pelo saber, pelo conhecimento do mundo e de 
si mesmo, atendendo à aspiração mais profunda do homem, 
que o diferencia essencialmente dos outros animais, que 
é a necessidade de conhecer. Conhecer o quê? Tudo. 
A sua própria essência, o mundo, a sociedade, a origem 
do universo, os sentimentos, o bem e o mal, se há vida 
após a morte, se Deus existe, etc. A Filosofi a nos leva, 
através da atitude fi losófi ca, a querer conhecer. Porém, esse 
conhecimento não é propriedade de uma pessoa ou dos 
mais inteligentes e cultos. A grande beleza da Filosofi a é 
que, através dela, compreendemos que o conhecimento não 
pertence a um homem ou a um grupo de bem-aventurados. 
Mesmo os grandes filósofos da história, como Platão, 
Aristóteles, Descartes, Pascal, Kant, Sartre, Wittgenstein, 
não encontraram respostas defi nitivas para todos os seus 
questionamentos. Aliás, o próprio conceito de verdade sofreu 
mudanças ao longo do tempo e é uma questão fi losófi ca. 
Assim, entendemos exatamente a diferença entre 
aquele que se diz sábio e o fi lósofo. O sábio acredita 
que a verdade é sua propriedade. Acredita que sabe 
tudo e, portanto, se fecha ao novo, ao questionamento, 
à crítica, pois crê que está certo em tudo o que diz. 
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Ao contrário, o filósofo acredita que não sabe nada, isto é, 
reconhece que tudo o que sabe pode ser transitório; que as 
verdades alcançadas não são últimas e que seu conhecimento 
é ínfimo diante de tudo o que há para conhecer. Por isso, 
sua postura é de abertura, de investigação, de busca 
constante da verdade, mesmo que não a encontre nunca. 
Isto é ser filósofo: reconhecer sua própria limitação, sua 
ignorância frente a tudo o que há para ser conhecido e buscar 
incessantemente o conhecimento da verdade. 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01. Redija um texto justificando a seguinte afirmação:
“Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer 
do mundo.”
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 
São Paulo: Martins Fontes. 1999. p. 608.
02. A partir de seus conhecimentos, explique a seguinte 
afirmação: o homem é o único ser que vive em um mundo 
aberto. 
03. “[...] a filosofia não é a revelação feita ao ignorante por 
quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem 
cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e 
não à razão da força.”
SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Tradução de Mônica 
Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 2.
A partir desse trecho, justifique por que a Filosofia 
se baseia na “força da razão e não na razão da força”. 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. o homem não passa de um caniço, o mais frágil da 
natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que 
o universo inteiro se arme para esmagá-lo; um vapor, 
uma gota d’água é suficiente para matá-lo. Mas quando 
o universo o esmagar, o homem será ainda mais nobre 
do que aquele que o mata, porque ele sabe que morre e 
o universo não tem nenhum conhecimento da vantagem 
que leva sobre ele. Toda a nossa dignidade consiste, pois, 
no pensamento. É nele que devemos nos revelar e não 
no espaço e no tempo que não sabemos como ocupar. 
Trabalhemos para bem pensar [...]
PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução de Sérgio Millet. 
São Paulo: Abril Cultural, 1979.
A partir do trecho, Redija um texto respondendo à 
seguinte pergunta: o que é o homem? 
02. explique por que, no caso das meninas-lobo, elas, 
mesmo que de forma parcial, foram capazes de se adaptar 
ao mundo humano. Algum outro animal teria a mesma 
capacidade? justifique sua resposta. 
03. [...] o homem não aperfeiçoou seu equipamento 
hereditário através de modificações corporais perceptíveis 
em seu esqueleto. Não obstante, pôde ajustar-se a um 
número maior de ambientes do que qualquer outra 
criatura [...] 
Nos trens e carros que constrói, pode superar a mais 
rápida lebre ou avestruz. Nos aviões, pode subir mais alto 
que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe que o 
gavião. Com armas de fogo, pode derrubar animais que 
nem o tigre ousa atacar.
CHILDE, V. Gordon. A evolução cultural do homem. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966. p. 40-41.
De acordo com o fragmento do texto, explique as 
diferenças fundamentais entre os homens e os animais 
e como os homens podem superar suas determinações 
físicas naturais.
04. explique a seguinte citação de Freud: “[...] Mas o 
natural instinto agressivo do homem, a hostilidade de 
cada um contra todos e a de todos contra cada um, se 
opõe a esse programa da civilização.”
05. Uma aranha executa operações semelhantes às do 
tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto 
humano com a construção dos favos de suas colméias. 
Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto 
da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua 
cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo 
de trabalho, obtém-se um resultado que já no início 
deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto 
idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da 
forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na 
matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, 
como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual 
tem de subordinar sua vontade.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 
1985, V. I, p. 149-150.
De acordo com o texto de Marx, explique por que 
somente o homem pode trabalhar. 
06. explique, com suas palavras, os vários significados 
da palavra filosofia e justifique por que somente um 
deles se enquadra no conceito de filosofia tal como a 
estudamos. 
O pensamento filosófico
12 Coleção Estudo
07. (UFMG / Adaptado)
Leia o texto. 
Dos deuses nenhum filosofa, nem deseja tornar-se sábio, 
pois o é; nem se algum outro é sábio, não filosofa. Nem, 
por sua vez, os ignorantes filosofam ou desejam tornar-se 
sábios. Pois é isto mesmo que é difícil com relação à 
ignorância: aquele que não é nem belo nem bom nem 
sábio considera sê-lo o suficiente. Aquele que não se 
considera ser desprovido de algo não deseja aquilo de 
que não acredita precisar.
PLATÃO. Banquete, 204A1-7. 
identifique e explique as duas atitudes em relação 
à sabedoria descritas nesse texto. 
08. A citação socrática “Só sei que nada sei” representa a 
verdadeira atitude filosófica. explique, de acordo com 
o estudado, por que o princípio da verdadeira filosofia é 
o reconhecimentoda própria ignorância. 
SEÇÃO ENEM
01. Leia o texto a seguir: 
Em seu pequeno e brilhante livro Introdução à Filosofia, 
Jaspers insiste na idéia de que a essência da filosofia é 
a procura do saber e não a sua posse. Todavia, ela ‘se 
trai a si mesma quando degenera em dogmatismo, isto 
é, num saber posto em fórmula, definitivo, completo. 
Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em 
filosofia são mais essenciais que as respostas, e cada 
resposta transforma-se numa nova pergunta’. Há, 
então, na pesquisa filosófica uma humildade autêntica 
que se opõe ao orgulhoso dogmatismo do fanático: o 
fanático está certo de possuir a verdade. Assim sendo, 
ele não tem mais necessidade de pesquisar e sucumbe 
à tentação de impor sua verdade a outrem. Acreditando 
estar com a verdade, ele não tem mais o cuidado 
de se tornar verdadeiro; a verdade é seu bem, sua 
propriedade, enquanto para o filósofo é uma exigência. 
No caso do fanático, a busca da verdade degradou-se 
na ilusão da posse de uma certeza. Ele se acredita 
o proprietário da certeza, ao passo que o filósofo 
esforça-se por ser peregrino da verdade. A humildade 
filosófica consiste em dizer que a verdade não pertence 
mais a mim que a ti, mas que ela está diante de nós. 
Assim, a consciência filosófica não é uma consciência 
GAbARITO
Fixação
01. O homem é resultado de uma junção de 
características herdadas biologicamente de sua 
espécie e de características adquiridas através 
da cultura. Dessa forma, ao contrário dos 
animais que nascem somente no mundo, e por 
isso são determinados por sua herança biológica 
inalterável, o homem, ao nascer do mundo, não 
é mais determinado exclusivamente pelos limites 
biológicos. Assim, o homem se autoconstrói, uma 
vez que será fruto daquilo que aprender de sua 
cultura de forma passiva e também ativa. Por 
isso, os homens seguem padrões morais distintos 
e são tão diferentes entre si no modo de falar, 
agir, sentir, etc. 
feliz, satisfeita com a posse de um saber absoluto, 
nem uma consciência infeliz, presa das torturas de um 
ceticismo irremediável. Ela é uma consciência inquieta, 
insatisfeita com o que possui, mas à procura de uma 
verdade para a qual se sente talhada.
HUISMAN, Denis; VERGEZ, A. Ação. 2. ed. São Paulo: Freitas 
Bastos, 1966, v. 1, p. 24.
A palavra filosofia é resultado da composição, em grego, 
de duas outras: philo e sophia. A partir do sentido dessa 
composição e das características históricas que tornaram 
seu uso possível, tal palavra indica
A) que o homem não possui um saber, mas o deseja, 
procurando a verdade por meio da observação das 
coisas, da natureza e do homem. 
B) que qualquer homem pode ser incluído na lista 
dos filósofos, pois todos são dotados de um saber 
prático, o que lhe concede sabedoria para agir de 
forma correta.
C) a posse de um saber divino e pleno, tornando os 
homens portadores de um conhecimento quase divino.
D) que Filosofia é um saber técnico, possibilitando, 
pela posse ou não de uma habilidade, tornar alguns 
homens melhores do que outros.
E) que a Filosofia, em sua essência, significa a atitude 
daquele que tem consciência de que sabe pouco e 
acredita que suas investigações o levarão à verdade 
completa sobre as causas e origem de todas as coisas. 
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02. Viver em um mundo aberto, segundo o estudo 
sobre antropologia filosófica, significa dizer que 
o homem é o único “ser de possibilidades” e 
que é indeterminado. Os animais irracionais são 
seres que vivem em um mundo fechado, pois 
não têm outras possibilidades na medida em 
que são resultado única e exclusivamente das 
determinações da natureza. Não podem alterar 
um modo de viver nem tão pouco mudar os 
instintos e comportamentos de sua espécie. Por 
isso, vivem em um mundo fechado. O homem, 
ao contrário, pode superar suas determinações 
naturais utilizando sua inteligência, construindo 
para si aquilo que lhe falta naturalmente. Assim, 
viver em um mundo aberto significa viver de 
forma a poder se autodeterminar, o que em 
Filosofia representa a verdadeira liberdade. 
O homem adapta a natureza a si enquanto os 
animais irracionais simplesmente se adaptam à 
natureza.
03. O discurso filosófico se caracteriza 
fundamentalmente pela argumentação lógica e 
coerente. O que se pretende na discussão filosófica 
é que o argumento, a racionalidade, supere a 
força física ou da autoridade. Dessa forma, se 
em outras dimensões da vida humana o poder, 
a hierarquia, o autoritarismo e a força de quem 
manda ou exerce poder superam o pensamento, a 
razoabilidade, na Filosofia o que vale, o que vence 
é o poder, a força, a autoridade do argumento 
bem elaborado e inteligivelmente possível e 
entendido por todos. A razão é que exerce seu 
poder, fazendo dos homens iguais enquanto seres 
inteligentes e dispostos a discutirem para que 
a própria razão opere e estabeleça a verdade. 
A razão da força, enquanto representante da 
lógica da autoridade e do mando, não serve 
absolutamente nada à Filosofia. 
Propostos
01. Segundo Pascal, o homem pode ser compreendido 
em duas perspectivas: se por um lado é um dos 
mais frágeis seres da natureza, uma vez que uma 
simples gota-d’água é suficiente para matá-lo, ou 
seja, diante dos fenômenos naturais ele pouco 
ou nada pode fazer, por outro lado é um ser 
pensante, o que lhe dá toda dignidade e o eleva 
ao patamar de um ser superior. O pensamento, 
a razão é a característica humana mais elevada, 
que torna possível superar toda sua limitação e 
ter consciência do que faz, de planejar o futuro a 
partir do que foi vivido no passado. Então, apesar 
de ser um caniço, o homem é um caniço pensante. 
E por mais que tenha limitações e fragilidades que 
o fazem pequeno diante das forças da natureza, ele 
sabe que é fraco, o que torna possível, inclusive, 
pensar e criar alternativas e instrumentos que 
possam torná-lo maior e mais forte do que 
praticamente todos os outros seres da natureza.
02. O caso das meninas-lobo é curioso e emblemático, 
demonstrando com clareza as características 
que fazem dos seres humanos seres únicos e 
excepcionais. Qualquer outro animal, se levado 
ainda nos primeiros dias de vida para junto de 
outros animais que não sejam de sua espécie, 
não se adaptariam ao seu modo de viver. Se um 
cachorro crescesse junto a gatos, não significa, 
absolutamente, que ele adotaria os hábitos e 
instintos próprios dos gatos. No caso do ser 
humano é diferente. As meninas, criadas no meio 
de lobos, tomaram para si os hábitos e maneiras 
próprias desses seres. Uivavam, comiam carne 
crua, andavam sobre pés e mãos. Somente o 
homem, por sua capacidade de se adaptar advinda 
de seu pensamento, enfim, por ser também 
fruto da cultura, pode adquirir tais hábitos. 
As meninas somente se tornaram semelhantes 
aos lobos e depois puderam passar por um 
processo de humanização graças à capacidade 
única do ser humano de pensar e adquirir novos 
hábitos. Isso significa, claramente, que nós não 
somos determinados por nossa natureza, apesar 
de a termos como os outros animais. 
03. O texto de Gordon Childe trata, especificamente, 
da diferença fundamental entre homens e animais: 
a capacidade elaborada de pensamento, exclusiva 
dos homens. Se os animais, condicionados por 
seus instintos já nascem prontos para a vida na 
natureza, possuindo garras, penas, pelo, força, 
etc., o homem, apesar de não possuir nenhuma 
dessas características naturais, pode superar suas 
limitações criando, pela adaptação da natureza às 
suas necessidades, objetos e instrumentos que 
atendam às suas demandas. Se não temos pelos 
suficientes que nos protejam do frio, podemos 
criar roupas que nos aquecem ainda mais que os 
pelos dos animais. Se o homem não tem a força do 
touro para realizar seus trabalhos, pode construir 
máquinas e outras ferramentas que substituama 
força bruta do animal. Dessa forma, ao adaptar a 
natureza às suas necessidades, o homem torna-se 
criador e criatura, superando suas limitações e 
transformando o mundo natural segundo suas 
necessidades. 
O pensamento filosófico
14 Coleção Estudo
04. O que Freud constata é que o homem é 
formado por características naturais e culturais 
que interagem entre si, e muitas vezes essas 
características naturais não são facilmente 
controláveis. Segundo Freud, o id representa as 
forças primitivas e mais íntimas do homem em 
busca do prazer e da satisfação dos instintos 
e deveria ser adequadamente administrado 
pelo ego, representante do eu, da consciência 
psíquica. Porém, o id não se apresenta como 
algo facilmente controlado. Pelo contrário, esses 
instintos, parte integrante da natureza humana, 
protestam contra o “programa de civilização”. 
Assim, a tentativa de controle, por meio da 
razão, da natureza humana e de adequação 
desta àquilo que se pretende correto e justo é 
tarefa demasiado difícil e em alguns casos mesmo 
impossível. 
05. Os animais, por mais que realizem tarefas, 
algumas consideradas obras incríveis, devido 
a sua beleza e minúcia, não trabalham. Isso 
porque, por mais perfeito que seja um ninho de 
pássaro ou uma colmeia de abelhas, tais objetos 
não são pensados antes de serem executados, 
ou seja, os animais os constroem seguindo 
seus instintos e sem nenhuma consciência de 
finalidade. Eles não trabalham, mas somente 
realizam tarefas de antemão determinadas pela 
sua natureza. O homem trabalha, considerando 
que possui a capacidade de planejar o que 
será realizado e por ter consciência do porquê 
está fazendo determinada atividade, de qual a 
finalidade do feito. O trabalho é caracterizado, 
dessa forma, pela interferência do homem na 
natureza com o objetivo de construir alguma 
coisa que o auxiliará no desafio da própria 
existência. Assim, compreendemos a afirmação 
feita por Max de que o pior arquiteto é ainda 
superior à melhor abelha, pois esta não sabe 
por que faz, simplesmente obedece cegamente 
a seus instintos, aquele, por pior que faça, 
constrói o que de antemão já existia em sua 
mente. 
06. A filosofia pode ser entendida como modo de 
viver ou sabedoria de vida, assumindo um caráter 
pessoal. É a maneira que um indivíduo particular 
tem de ver o mundo e de se portar diante das 
situações. 
 Também se pode compreendê-la como pensamento 
ou origem das ideias, o que significa que a filosofia 
é vista como o simples ato de pensar, o que se 
percebe quando alguém afirma “estar filosofando”.
 Porém, o modo que corresponde ao conceito de 
filosofia tal como estamos estudando se refere 
à busca da verdade e fundamentação teórica 
sobre o homem e o mundo. O que significa que 
a filosofia busca através da análise, da crítica, do 
questionamento, da reflexão, a própria verdade 
sobre o homem, sobre a sociedade, sobre o 
pensamento, enfim, sobre tudo o que pode ser 
pensado e que diz respeito à vida humana. 
07. atitude 1: A atitude dos deuses que não filosofam, 
pois já são sábios e por isso não necessitam 
buscar o conhecimento. Se entendemos a filosofia 
como caminho para o conhecimento, aqueles que 
já o possuem não necessitam da filosofia, uma 
vez que não têm o que buscar.
 atitude 2: A atitude dos ignorantes que não 
filosofam, pois acreditam já possuir o conhecimento 
sem o tê-lo de fato. Tal como os deuses, os 
ignorantes não buscam o conhecimento. Porém, 
diferente dos deuses, os ignorantes acreditam ter 
o conhecimento, mas não o possuem. Segundo 
Platão, esse é o pior estado em que o homem 
pode se encontrar: acreditar ser sábio, sendo tão 
somente um ignorante, e por isso não se dedicar 
à Filosofia por achar que não lhe falta nada. 
08. A Filosofia é antes de mais nada uma atitude. 
Atitude daquele que reconhece que não sabe e 
por isso se põe a investigar, criticar, questionar 
todas as coisas em busca de respostas que se 
apresentem ao homem coerentes e inteligíveis. 
Entendida dessa maneira, a Filosofia exige 
do filósofo a atitude de abertura, de busca, 
de reconhecimento de que o conhecimento é 
inesgotável e por mais que se tenha algum saber, 
esse saber é pouco em relação a tudo o que há 
para se conhecer. Podemos dizer que a afirmação 
“só sei que nada sei” de Sócrates é a encarnação 
da própria Filosofia: ao reconhecer que não 
sabe nada, o filósofo se dedica ao exercício do 
saber, busca conhecer. Se ao contrário, o sujeito 
acredita saber tudo, ele se fecha à possibilidade 
do conhecimento e não pode conhecer mais nada. 
Seção Enem
01. A
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15Editora Bernoulli
MóDULOFilosoFia
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A origem existencial da Filosofia
A origem da Filosofia data dos séculos VII e VI a.C. Foi na 
Grécia, na região da Jônia, na cidade de Mileto, que esse 
modo de conhecimento ganhou forma e se estabeleceu 
como maneira de compreender o mundo. Portanto, 
pode-se afirmar que a Filosofia é fruto do gênio helênico, 
ou seja, é fruto da genialidade dos gregos. É por causa do 
nascimento da Filosofia na Grécia que costumeiramente se 
diz que a “Grécia é o berço da civilização ocidental”. De fato, 
a Filosofia apresenta-se como a “rainha das ciências”. Tal 
característica se deve exatamente ao fato de a Filosofia ter 
sido o primeiro modo de conhecer o mundo e os homens de 
forma estritamente racional. 
As influências dos povos orientais
O início da civilização grega, que foi a primeira a se 
desenvolver na Europa, se dá por volta do século XX a. C., 
com a junção ou encontro das culturas minoica e micênica. 
Tal civilização habitou a Península Balcânica, a mais oriental 
do sul da Europa, rodeada de inúmeras ilhas. Graças ao 
seu relevo montanhoso, inúmeras comunidades isoladas 
e autônomas se desenvolveram, formando, a partir do 
século VIII a.C., as pólis gregas ou cidades-estado. Isso 
significa que, antes dos gregos, vários outros povos já 
contavam com uma história de vários séculos. Mas por 
que a Filosofia nasceu com os gregos, mesmo sendo estes 
antecedidos por civilizações bastante desenvolvidas, como 
a dos egípcios, dos babilônios, dos caldeus, dos chineses e 
dos persas, por exemplo? 
Há de se considerar, para compreendermos a genialidade 
dos gregos na origem da Filosofia, o caráter não puramente 
quantitativo, mas qualitativo de suas pesquisas, o que 
representa uma absoluta e extraordinária novidade. 
Somente através dessa constatação é possível compreender 
por que a civilização ocidental, sob influência dos gregos, 
portanto, da Filosofia, tomou uma direção completamente 
diferente da civilização oriental. 
Assim, podemos compreender como, por exemplo, 
os gregos tomaram dos egípcios alguns conhecimentos 
matemático-geométricos sobre a natureza. Tais 
conhecimentos possuem para os egípcios um caráter 
claramente prático, como a utilização de cálculos para 
medir a quantidade de gêneros alimentícios, para medir 
a área dos campos após as inundações do Rio Nilo, 
para se realizar medidas e projeções na construção 
das pirâmides. Tais usos são claramente racionais. Mas 
vejamos a matemática sob a ótica da Filosofia, quando 
foi apropriada pelos gregos. Reelaborados pelos gregos, 
os conhecimentos matemáticos adquirem um caráter 
qualitativo. Com o trabalho desenvolvido pelos pitagóricos, 
os gregos transformaram o uso da matemática com fins 
práticos em uma teoria geral e sistemática dos números e 
das figuras geométricas. De modo mais simples: enquanto 
o conhecimento matemático dos egípcios usava o cálculo 
com fins práticos, Pitágoras (o primeiro a utilizar a palavra 
filosofia) buscou alcançar a realidade matemática que existia 
por detrás daquilo que é perceptível aos sentidos humanos. 
Se o mundo, aparentemente, é aquilo que está posto às 
experiências humanas, a filosofia pitagórica (e boa parte 
da Filosofia, pelos menos até Descartes,no século XVII) vai 
buscar aquilo que está para além da aparência, procurando 
compreender ou apreender a causa primeira, a essência 
última das coisas. Perceba que o pensamento pitagórico 
busca compreender a natureza numa generalidade muito 
mais ampla do que daquilo que se apresenta aos nossos 
sentidos. Pitágoras investiga a estrutura invisível da natureza 
que, para ele, é de tipo matemático e alcançada apenas pela 
atividade puramente racional. 
Enfim, a Filosofia é um modo de pensar a realidade, um 
modo de compreensão do mundo, que surge com os gregos 
dos séculos VII e VI a.C. e que, devido a razões históricas 
e políticas, posteriormente se tornou o modo de pensar 
o mundo de toda a cultura europeia ocidental, da qual, 
como povo colonizado, nós participamos. 
A origem da Filosofia 02 A
16 Coleção Estudo
A origem histórica da Filosofia
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Nápoles
Magna Grécia
Taranto
Siracusa
Mapa da Grécia: a civilização grega desenvolve-se no 
Mediterrâneo Oriental 
Dissemos que a Filosofia tem data e local de nascimento: 
Grécia, fins do século VII e início do VI a.C., na região da 
Jônia (nas colônias da Ásia Menor), na cidade de Mileto. 
Uma das grandes questões em relação ao nascimento 
da Filosofia é saber o porquê de seu nascimento e 
por que ela nasceu especificamente com os gregos. 
Duas foram as teses levantadas: a do “milagre grego” e 
a do orientalismo. 
A tese do “milagre grego” defenderá que a Filosofia surgiu 
na Grécia como um verdadeiro milagre, ou seja, que não 
houve qualquer precedente para o seu surgimento. Foi um 
acontecimento espontâneo e não há um contexto original que 
justifique sua origem. Considera-se, assim, que esse modo 
de pensar e conceber o mundo e o homem simplesmente 
apareceu, e uma das razões para seu aparecimento é a 
genialidade dos gregos. 
Outra explicação, a do orientalismo, dirá que a Filosofia 
nasceu com as transformações realizadas pelos gregos 
sobre conhecimentos advindos dos povos orientais, como 
a agrimensura dos egípcios, a astrologia dos babilônios e 
outros. 
Hoje, ambas as teorias, “milagre grego” e orientalismo, foram 
superadas. Acredita-se atualmente que a Filosofia foi fruto 
das condições históricas da Grécia dos séculos VII e VI a.C., 
que proporcionaram condições favoráveis ao surgimento 
desse novo modo de pensar. Por isso, alguns estudiosos 
da Filosofia, se referindo ao nascimento dessa forma de 
pensamento, dirão que ela é “filha da pólis”. Porém, que 
condições são essas? Podemos destacar os seguintes fatores:
1. Viagens marítimas: a pouca fertilidade do solo 
acidentado, característica marcante do território no 
qual viviam as comunidades gregas, foi compensada 
pela presença de excelentes portos naturais, 
o que permitiu o grande desenvolvimento das 
viagens marítimas. Tais viagens ajudaram no 
desencantamento do universo, na desmistificação 
da natureza, quando os homens, viajando em 
alto-mar, percebem a inexistência daquilo que os 
mitos narravam como monstros marinhos, abismos 
e terras dos deuses, os quais faziam parte do 
imaginário do povo daquela época. Dessa forma, as 
viagens marítimas são como o estopim que detona 
um gradativo descrédito das explicações mágico-
imaginárias da natureza. 
É interessante notarmos a estreita ligação que unia os 
gregos ao mar e a importância deste para o progresso 
daquela civilização. Diante do aumento expressivo da 
população nas principais cidades-estado, como Atenas, 
os gregos se viram obrigados a fundar muitas colônias 
na região do Mediterrâneo em busca de terras férteis 
para a agricultura e o sustento da população. 
2. Invenção do calendário: a invenção do calendário 
concede aos gregos o “domínio” do tempo. Se no 
contexto dos mitos eram os deuses que determinavam 
o tempo e eventos da natureza, como as estações 
do ano, agora, com a divisão do tempo e o modo 
de calculá-lo, os homens tornam-se capazes de 
identificar a sua regularidade, não necessitando da 
interferência e vontade dos deuses. 
3. Surgimento da vida urbana: com o crescimento do 
comércio, impulsionado pelas trocas comerciais, 
possíveis graças às viagens marítimas, algumas 
cidades se despontam como centros comerciais. 
A primeira dessas cidades é Mileto, que não por acaso 
é a cidade natal da Filosofia. Tal crescimento faz 
surgir uma nova classe constituída de comerciantes 
e artesãos, que representam um outro polo de poder, 
opondo-se à aristocracia de sangue e proprietários 
de terra que, até então, representavam e detinham 
o poder na cidade. Essa nova classe, como uma 
espécie de mecenas da Antiguidade, investiu e 
estimulou as artes, o desenvolvimento das técnicas 
e o conhecimento, o que proporcionou um ambiente 
propício ao surgimento da Filosofia. 
4. Escrita alfabética: se até então a tradição mítica se 
sustentava sob uma tradição exclusivamente oral, 
transmitida de geração para geração pela fala, fato 
que justifica o aparecimento de várias versões para 
o mesmo mito, com a invenção da escrita alfabética, 
o mito é colocado no papel, é escrito, o que contribuiu 
decisivamente para que se pudesse identificar seus 
pormenores e suas contradições internas. 
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17Editora Bernoulli
5. Política: sem dúvida, a política foi um dos aspectos 
mais importantes para o nascimento da Filosofia, 
que tem como uma de suas características mais 
importantes a presença do discurso racional, o logos 
como sustentação, por meio de princípios lógicos, de 
suas verdades e argumentos. A política traz consigo 
dois aspectos importantíssimos: 
A – Com a formação da pólis, agora governada 
democraticamente pelos cidadãos, surge 
o espaço para as discussões políticas, que são 
o modo de organização e administração da 
cidade. A Ágora, ou praça pública, é o coração 
da cidade, lugar onde são feitas discussões 
e deliberações sobre as leis e outros assuntos 
importantes para o bem da cidade. Há de se 
destacar que, com a contribuição e a consolidação 
da cidade-estado, da pólis, o grego descobriu-se 
como verdadeiro cidadão (pertencente à pólis). 
Tal posição não é mera contingência, mas faz 
parte e constitui a própria essência do homem 
grego que se vê somente como pertencente 
a um todo coletivo. Dessa forma, o estado 
tornou-se o horizonte ético do homem grego 
e assim permaneceu até a era helenística. 
Os cidadãos sentiram os fins do estado como 
seus próprios fins, o bem do estado como 
seu próprio bem, a grandeza do estado como 
sua própria grandeza e a liberdade do estado 
como sua própria liberdade (REALE, Giovanni. 
História da Filosofia: Filosofia pagã antiga. São 
Paulo: Paulus, 2003. V. I. p. 10).
B – Ao conceberem por conta própria e segundo 
seus próprios critérios as leis da cidade, tais 
leis passam a coincidir com a vontade dos 
homens e não mais são impostas pela tradição 
e autoridade religiosas. A lei torna-se, então, 
expressão da coletividade humana que, pela 
racionalidade, tenta reproduzir na legislação da 
cidade a própria ordem do cosmos. 
Desse modo, a política, com a discussão das leis 
e a tomada de deliberações importantes à vida da 
pólis, estimula e exige um pensamento, um discurso 
racional, uma discussão política que necessariamente 
precisa de alto grau de inteligibilidade, coerência, 
permitindo a comunicação clara entre os cidadãos 
e seus pares. Tal necessidade faz surgir a semente 
do pensamento filosófico que, obedecendo a regras 
e princípios lógicos, não admite uma explicação que 
não se fundamente na razão livre ou que tenha como 
base as explicações misteriosas e incompreensíveis 
do mito. Aqui se encontra a justificativa para a 
afirmação de que a Filosofia é “filha da pólis”.
MITOLOGIA 
O mito: uma forma especial de 
explicar o universo e o homem
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PrometheusComo foi dito, a civilização grega não nasceu junto à 
Filosofia nos séculos VII e VI a.C. Esse povo tem suas 
origens no século XX a.C. Também dissemos que o homem 
não se contenta em não saber as coisas, ou seja, faz parte 
da natureza humana buscar o conhecimento. Nas palavras 
de Aristóteles, “por natureza, todos os homens aspiram 
pelo saber”.
Se a Filosofia nasce treze séculos depois do surgimento da 
civilização grega, como os homens respondiam à pergunta 
“de onde veio o mundo” durante esse período? 
As duas “ferramentas” básicas que o homem tem para 
explicar o universo são a razão e a imaginação. Logo, 
podemos dizer que, antes de utilizar a razão, manifestada 
no conhecimento filosófico, os gregos procuraram, como 
todos os povos do mundo, explicar a origem do universo 
e para tal utilizaram da imaginação a fim de compreender 
o funcionamento da natureza, da sociedade e o próprio 
homem. Enfim, como forma de compreender o cosmos, 
foi elaborada uma cosmogonia (tentativa de explicar o 
nascimento, a origem do universo ou do cosmos por meio 
de narrativas imaginárias que remetem à fantasia, às formas 
religiosas e míticas de expressão). 
A origem da Filosofia
18 Coleção Estudo
O que é o mito
A palavra “mito” vem do grego mythos, que significa um 
modo particular de discurso que é fictício, proveniente da 
imaginação, sendo que de certo modo é identificado como 
uma “mentira”. 
O mito é uma forma particular de ver e tentar compreender 
o mundo baseada na imaginação. Voltado mais para os afetos 
e sentimentos humanos do que ao rigor lógico-científico, 
ele não se preocupa com a coerência de seus discursos 
e argumentos, tampouco com as provas que poderiam 
torná-lo verdadeiro. 
O mito é uma forma de o ser humano se situar no mundo. 
Nas sociedades tribais, o mito apresenta-se como um modo 
fantasioso, acrítico e ingênuo de explicação utilizado como 
maneira de estabelecer algumas verdades que explicariam 
tanto os fenômenos naturais quanto a própria vida, os 
hábitos, os sentimentos e a moral dos homens dentro de 
uma sociedade cultural. 
Diferentemente da Filosofia, que se pauta em um raciocínio 
elaborado e empiricamente comprovado na realidade, 
o mito nasce como uma forma de expressão que se constrói 
no imaginário de determinada comunidade, quando esta 
se vê diante da ferocidade e dos mistérios da natureza, 
dos fenômenos naturais, como o dia e a noite, o trovão, 
o terremoto, o nascimento e a morte de homens e outros 
seres. Dessa forma, o mito exerce o papel de “porto seguro”, 
ele dá segurança e protege os homens contra aquilo que é 
incontrolável e desconhecido. Assim, há uma qualificação 
da natureza e de seus fenômenos que se apresentam 
então como bons ou maus, amigos ou inimigos, aliados ou 
contrários aos homens e às sociedades. 
Se a natureza ganha vida própria com os mitos, 
é necessário que, por meio dos ritos, as forças e vontades 
da natureza sejam aplacadas ou cultuadas. Dessa forma, os 
ritos, que são tão somente manifestações de mito realizadas 
em práticas cerimoniais, têm como finalidade interferir 
na “vontade” da natureza, que agiria sempre de forma 
intencional, a favor ou contra os homens. 
Dessa forma, o mito está intimamente ligado à magia, 
aos sentimentos, bons ou maus, à fantasia e às forças 
sobrenaturais que interferem, inexplicavelmente, na vida dos 
homens e da sociedade e nas manifestações da natureza. 
A função do mito
Pelo que foi dito, o mito tem, dentro das sociedades 
primitivas e tribais, a função de acomodar e tranquilizar o 
ser humano diante de um mundo misterioso e assustador. 
Encarnado nos ritos, o mito é para os homens uma forma 
de apaziguamento das forças sobrenaturais e serve como 
baliza que garanta um comportamento linear e moral, 
possibilitando a ordem social. 
Dessa forma, o mito é a forma primeira de explicar o 
mundo, a natureza e o próprio homem, tanto em sua 
dimensão interna quanto em sua dimensão externa. Nesse 
modo de conhecer, a imaginação exerce papel predominante 
como forma de levar o homem a uma harmonia com o mundo 
que o cerca e de dar sentido à vida, à própria existência 
humana e também encontrar um sentido no mundo. 
A mitologia grega
Hércules e Atena
A religiosidade grega, como na maior parte dos povos 
da Antiguidade, era politeísta. Os deuses gregos eram 
antropomórficos (antropo: homem; morphos: forma). 
Dessa forma, tais divindades possuíam características 
tipicamente humanas: sentiam prazer, iravam-se, maquinavam 
para se vingarem dos deuses ou dos homens, se apaixonavam, 
traíam, sentiam ciúmes. Enfim, os deuses possuíam todas as 
características e sentimentos que identificamos como humanos, 
quer sejam bons ou maus, qualidades e defeitos. Porém, por 
serem deuses, tinham poderes sobrenaturais, além de serem 
imortais, motivo por que permaneciam eternamente jovens. 
Tais deuses habitavam o Monte Olimpo, a montanha mais 
alta da Grécia. No alto da montanha, eles se reuniam para 
se divertir, dançar, comer, cantar, etc. 
Cada um dos deuses tinha uma condição ou atributo 
especial, sendo responsável por determinado fenômeno 
natural ou por algo concernente à vida dos homens em 
aspectos econômicos, políticos, sociais ou culturais. Entre os 
mais importantes, citamos: Zeus, o chefe dos deuses e o 
mais poderoso entre eles, que possuía o poder do raio com o 
qual castigava todos os que por ventura o desafiassem ou se 
opusessem às suas determinações; Afrodite, a deusa do amor; 
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Apolo, deus da música e da poesia; Ares, deus da guerra; 
Ártemis, deusa das montanhas, bosques e caça; Atena, 
deusa da sabedoria e da estratégia militar; Caos, deus do 
indefi nido, da desordem, daquilo que havia antes do cosmos; 
Cárites, deusas da beleza; Eros, deus do amor; Hades, deus 
do mundo dos mortos; Gaia, deusa da Terra. 
Além dos deuses, na mitologia grega também há a 
presença de semideuses, heróis responsáveis por feitos 
extraordinários, nascidos da relação amorosa entre deuses 
e humanos. Entre os mais importantes, citamos: Teseu, que 
derrotou o minotauro. Hércules, que teve de cumprir doze 
tarefas dadas a ele pelo oráculo de Delfos; Perseu, famoso 
por ter decapitado a medusa. 
É importante ressaltar que os deuses e os mitos diziam 
respeito tanto à ordem do universo e da natureza quanto aos 
aspectos da vida do homem, da condição humana, como os 
sentimentos, as habilidades, por exemplo, do artesanato, da 
construção, da fala e argumentação, da sedução, e também 
a vida em sociedade, etc. 
As histórias míticas na Grécia Antiga não são fruto da 
capacidade imaginativa de um só autor ou autores, mas 
são produtos de uma tradição cultural de um povo, a qual 
tem seu início impossível de ser determinado. Os principais 
poetas, considerados os grandes responsáveis pela maior 
parte do conhecimento sobre a mitologia grega que temos 
em nossos dias – Homero, que escreveu Ilíada e Odisséia 
(século IX a.C.) e Hesíodo, que produziu a Teogonia 
(século VIII a.C.) –, na verdade não são os autores desses 
mitos, mas o que fi zeram foi registrar os relatos orais da 
tradição dos muitos povos que habitaram a Grécia desde o 
século XV a.C. 
A trajetória do mito ao logos
É comum encontrarmos autores que dizem que na 
passagem da consciência mítica à consciência fi losófi ca, 
ou seja, na passagem de uma visão imaginária para uma 
visão racional da realidade, houve uma ruptura radical 
com a tradição e cultura gregas marcadas, antes, pelas 
explicações religiosas, e agora pela Filosofi a. Tal posição 
deve ser considerada em duas perspectivas: a da forma e 
a do conteúdo. 
Se analisarmos a forma de explicação própria da 
mitologia em contraposição à da Filosofi a, perceberemos 
que há sim uma ruptura dos primeiros fi lósofos com essa 
forma imaginária de conhecimento, baseada na fantasia, 
no sobrenatural, no mistério, no sagrado e na magia. 
A Filosofi a buscarásuas explicações com fundamentos na 
razão, na observação da natureza, da phisys, justamente 
como fi zeram os primeiros fi lósofos, os pré-socráticos, que 
estudaremos em seguida. 
Por outro lado, analisando o conteúdo, veremos que 
a Filosofi a não rompe defi nitivamente com o mito, uma 
vez que, em grande parte, os problemas tratados pela 
Filosofi a são os mesmos que os mitos buscavam responder. 
Por exemplo, a questão da origem do universo e de seu 
funcionamento, antes explicada pela mitologia sempre por 
meio de alusões ao campo divino, a Filosofi a tentará explicar 
com base na busca pré-socrática pelo princípio primeiro e 
unifi cador da natureza, denominado por eles de Arché. 
Dessa forma, é incorreto afi rmar que a Filosofi a rompeu 
radicalmente com os mitos. De alguma maneira, o que se 
observa, principalmente no início do pensamento fi losófi co, no 
período pré-socrático ou cosmológico e também no período 
antropológico ou socrático, é uma complementaridade de mito 
e Filosofi a na tentativa de conhecer e explicar a realidade. 
Não há de se pensar em mito como uma mentira e Filosofi a 
como uma verdade.
[...] mito e logos são as duas metades da linguagem, duas 
funções igualmente fundamentais da vida do espírito. 
O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. 
O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à 
“lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta 
(sofi sma). Mas o mito tem por fi nalidade apenas a si 
mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria 
vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou 
verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. 
O mito, assim, atrai em torno de si toda parcela do irracional 
existente no pensamento humano; por sua própria 
natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações.
GRIMAL, Pierre. A mitologia grega. 3ª ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1982. p. 8-9.
Como dito, por se tratar de formas de conhecimento 
distintos, mito e Filosofi a não podem ser colocados como 
opostos ou pensados sob uma lógica de verdadeiro ou 
falso, certo ou errado. Trata-se de modos de conhecer 
diferentes e particulares. A aceitação do mito se fundamenta 
na autoridade de quem diz, pois pressupõe uma adesão 
daqueles que o recebem. Já a aceitação da Filosofi a se 
concentra naquilo que se diz, pois admite, ao contrário do 
mito, uma atitude crítica e investigativa. O mito é dado 
aos homens pela revelação ou visão dos videntes (poetas 
rapsodos que tinham o dom da vidência e transmitiam aos 
homens as mensagens dadas pelos deuses). Ele se baseia 
na fé / confi ança daqueles que o recebem como verdade e 
não necessita de justifi cativa nem de provas para ser aceito 
e seguido. A Filosofi a, ao contrário, deve ser justifi cada 
racionalmente, pois, se assim não for, o argumento torna-se 
inválido e não será aceito. O mito aceita contradições internas 
em seu discurso, já a Filosofi a não aceita contradições, uma 
vez que deve ser inteligível e coerente com os princípios 
básicos do pensamento lógico. 
A origem da Filosofia
20 Coleção Estudo
A FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA 
OU NATURALISTA
Os filósofos pré-socráticos ou 
filósofos da natureza
Recebem o nome de pré-socráticos os pensadores 
fundadores da Filosofia, que, cronologicamente, são 
anteriores a Sócrates, sendo que alguns chegaram a ser seus 
contemporâneos. A marca principal do pensamento desses 
primeiros fi lósofos é sua preocupação com a natureza e sua 
origem. Veremos adiante a importância de Sócrates para 
a Filosofi a, que representa uma reviravolta devido à sua 
preocupação com o ético-político, ou seja, o seu foco será 
o homem e a sociedade, ao contrário dos pré-socráticos, 
que se preocupavam com a origem do cosmos ou da physis. 
Diante das inúmeras transformações históricas, políticas 
e sociais ocorridas na Grécia dos séculos VII e VI a.C., 
como já tratamos anteriormente, as explicações míticas 
foram se tornando cada vez mais insufi cientes como forma 
de compreensão do mundo, do homem e da natureza. 
As explicações míticas que se fundamentam na autoridade 
do poeta ou vidente que as contava, com a perda gradativa 
do poder por parte deste, também vão perdendo sua força 
e, consequentemente, vão se tornando distantes das 
aspirações dos gregos ao conhecimento. 
De fato, desse ponto de vista, o pensamento mítico tem 
uma característica até certo ponto paradoxal. Se, por 
uma lado, pretende fornecer uma explicação da realidade, 
por outro lado, recorre nesta explicação ao mistério e ao 
sobrenatural, ou seja, exatamente àquilo que não se pode 
explicar, que não se pode compreender por estar fora do 
plano da compreensão humana. A explicação dada pelo 
pensamento mítico esbarra assim no inexplicável, na 
impossibilidade do conhecimento.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos 
pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 
Editora, 1997. p. 21.
Uma interessante e importantíssima transformação 
ocorrida na Grécia dos séculos VII e VI a.C. nos ajuda a 
compreender como pouco a pouco o mito vai perdendo 
sua força explicativa da realidade. Essa transformação se 
deu com a interação ocorrida nas colônias gregas da Jônia, 
principalmente Mileto (onde nasce a Filosofi a), de várias 
culturas diferentes. Por se tratar de cidades que tinham 
importantes portos e entrepostos comerciais, para lá se 
dirigiam inúmeras caravanas provenientes de vários locais, 
principalmente do Oriente, que traziam a essas cidades 
suas mercadorias para depois serem levadas a outros 
locais e regiões do Mediterrâneo. Consequentemente, 
movidos por interesses comerciais, várias culturas que aí 
se encontravam trocavam as mais variadas informações, 
inclusive sobre as tradições culturais míticas próprias de 
cada um desses povos, o que fez com que eles percebessem 
as inúmeras formas e histórias diferentes com um só 
objetivo, o de explicar a realidade. Qual história estaria 
correta? Qual seria a verdadeira? As inúmeras variações 
míticas levaram os gregos a perceber que poderia haver 
uma relativização dos mitos, e, consequentemente, que 
nenhum deles poderia ser absolutamente verdadeiro. 
Dessa maneira, a Filosofi a ou, nesse primeiro período, as 
explicações fi losófi co-científi cas vão se despontando com a 
tentativa dos gregos de explicarem o universo, a natureza 
e o próprio homem de forma diferente. Agora, o universo 
passa a ser visto não como algo secreto e misterioso, 
passível de ser decifrado somente por poucos escolhidos. Ao 
contrário, todas as coisas são encaradas como possíveis de 
serem conhecidas pelo homem que, apoiado em sua própria 
capacidade racional e em sua curiosidade observadora, 
se põe em busca da explicação do mundo pela própria 
observação das coisas, não se encontrando mais em uma 
realidade sobrenatural e inacessível. O cosmos se abre à 
possibilidade do conhecimento. Os mistérios são descartados 
e o homem põe-se a pensar. Enfi m, nasce a Filosofi a. 
O mito ainda sobrevive
É comum, quando falamos em sala de aula sobre o 
nascimento da Filosofi a, algum aluno fazer a seguinte 
pergunta: mas e os mitos, eles foram descartados? 
Ou, quando estamos lendo algum trecho da obra de Platão 
em que Sócrates se refere aos deuses, o aluno perguntar: 
mas os mitos não foram superados? Por que Platão, sendo 
um fi lósofo, continua a se referir aos deuses? 
Aqui, faz-se necessária uma observação sobre o processo 
de modificação da função social do mito a partir do 
nascimento da Filosofi a.
Com o aparecimento das explicações fi losófi co-científi cas, 
os mitos vão gradativamente perdendo sua força enquanto 
única e inquestionável forma de explicação da realidade. 
A ruptura com a forma do mito não se dá de maneira brusca 
e radical. Observe que o mito ainda ocupa um lugar de 
destaque nas sociedades atuais como forma de manifestação 
da fé de determinadas pessoas ou como maneira de 
explicar aquilo que até

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