Buscar

primeiro reinado e período regencial (história)

Prévia do material em texto

TURMA PRODÍGIO 1PROENEM.COM.BR
HISTÓRIA II
A Revolução D. João VI, que seria forçado pelo movimento 
português a retornar à Europa em 26 de abril de 1821, manteve no 
Brasil seu filho, D. Pedro, como príncipe regente, tendo advertido-o 
a “conduzir a revolução antes que um aventureiro a fizesse”. Em 
29 de setembro de 1821, as Cortes portuguesas anunciam a 
intenção de restabelecer as relações monopolistas mercantilistas, 
interrompidas pela abertura dos portos de 1808. Em 9 de janeiro 
de 1822, D. Pedro, associado à elite brasileira coimbrã, decide não 
retornar para Portugal, em um episódio conhecido como “Dia do 
Fico”. Em 1o de agosto, diante da intransigência portuguesa, o 
príncipe regente determina que qualquer decisão vinda da Europa 
somente poderia ser acatada com a sua aprovação e declara que 
as tropas lusas no Brasil seriam tratadas como inimigas. Em 7 de 
setembro de 1822, o príncipe Regente declara, através do célebre 
Grito do Ipiranga, a independência formal do Brasil.
O cientista social Florestan Fernandes qualificou a 
Independência do Brasil como uma “revolução conservadora”, 
pois, a despeito de promover o rompimento político do Reino Unido 
americano, manteve a estrutura latifundiária agroexportadora 
e escravista. As relações de dependência para com a Inglaterra 
também seriam mantidas e, em certo sentido, até mesmo 
reforçadas, como, por exemplo, através de dívida externa que o país 
foi obrigado a contrair para ter seu novo status político reconhecido 
por Portugal, que somente o fez oficialmente em 29 de agosto de 
1825. A Inglaterra, assim como Portugal, também favorecida com 
direitos de alfândega no Brasil, reconheceu o novo país em 17 de 
agosto de 1827. 
A independência da América Portuguesa guardou ainda outras 
peculiaridades. Ao contrário do que ocorreu na América Espanhola, 
no Brasil não houve uma mobilização militar nacional que pudesse 
ser qualificada como “Guerra de Independência”. Ademais, o país 
conservou sua integridade territorial e a manutenção do sistema 
monárquico com D. Pedro I representando a continuidade da Casa 
de Bragança. Um outro aspecto, contudo, aproximou os processos 
latino-americanos: a marginalização das classes populares do 
processo político. O naturalista francês Saint-Hilaire, que se 
encontrava no país, chegou a declarar que “a massa popular a tudo 
ficou indiferente”, referindo-se a não participação das camadas 
populares no fenômeno político de 1822.
Fonte: Google Imagens
PRIMEIRO REINADO
O período que vai de 7 de setembro de 1822 a 7 de abril de 
1831 é denominado, pela historiografia, como Primeiro Reinado. O 
novo regime político brasileiro representava uma vitória das elites 
nacionais contra o caráter retrógrado da Revolução do Porto de 
1820, que tencionava retomar o Pacto Colonial mercantilista. A 
aliança entre D. Pedro I e o Partido Brasileiro, entretanto, não teria 
vida longa, já que os projetos políticos destes atores históricos 
eram bem distintos. Enquanto D. Pedro I advogava uma Monarquia 
de caráter despótico à moda da tradição lusitana, o Partido 
Brasileiro passaria a idealizar o modelo político clássico inglês, no 
qual o monarca reina, mas não governa. O poder político deveria 
ficar concentrado em um Parlamento e uma nova Constituição 
deveria definir e estabelecer as regras do jogo político em que os 
interesses da grande propriedade escravista estariam garantidos, 
como o livre-comércio e o voto censitário. 
Uma Assembleia Nacional Constituinte foi convocada com 
o objetivo de promulgar a nova Carta brasileira. A Assembleia 
Nacional foi apelidada de “Constituinte da Mandioca”, pois havia 
uma exigência censitária em que todos os homens que fossem 
candidatos e eleitores deveriam provar a propriedade de alqueires 
de mandioca para gozarem de direitos políticos. O objetivo 
desta forma de votação censitária era evitar a participação de 
liberais radicais e membros do Partido Português, identificados 
como comerciantes reinóis que, apesar de possuírem renda, não 
necessariamente eram proprietários de terras no Brasil. Ademais, 
a votação censitária excluía também a maior parte da população. 
A Constituinte, entretanto, teve vida curta, pois os choques de 
interesses entre D. Pedro I, desejoso em concentrar poderes, e os 
deputados da bancada do Partido Brasileiro, ávidos pela Monarquia 
Parlamentar, levariam à exclusão do liberalismo no debate político. 
Um incidente entre um deputado do Partido Brasileiro e membros do 
minoritário Partido Português serviu de mote para que o Imperador 
utilizasse a tropa para dissolver a Assembleia Constituinte. 
No mesmo decreto de fechamento da Assembleia, D. Pedro 
I presidiu um Conselho de Estado para redigir o novo anteprojeto 
constitucional que atendesse a seus interesses despóticos. Em 
25 de março de 1824, na catedral do Rio de Janeiro, D. Pedro I 
jurou a Constituição brasileira que mais tempo ficaria em vigor até 
hoje: 67 anos, até ser substituída pela primeira Carta republicana. 
A existência de várias constituições durante a História do Brasil 
revela uma profunda instabilidade em nossa história política.
A Carta de 1824 consubstanciava o centralismo inerente a 
D. Pedro I, combinando elementos das constituições francesa de 
1791 e espanhola de 1812. A Constituição brasileira confirmava 
o regime monárquico, hereditário e constitucional, estabelecendo, 
ainda, a divisão dos poderes em Legislativo, Executivo, Judiciário 
e Moderador. O poder Legislativo era constituído pela Câmara 
dos Deputados e o Senado Vitalício. A escolha dos parlamentares 
obedecia a regra de voto censitário em renda, e os membros do 
Senado passavam pela escolha do Imperador. Os cidadãos eram 
divididos em “passivo”, “ativo votante” e “ativo eleitor e elegível”. O 
Executivo era constituído pelo Imperador e Ministros. O Judiciário 
era composto por magistrados indicados pelo Imperador. O quarto 
poder, denominado Moderador, era prerrogativa exclusiva do 
Imperador e servia como instrumento para intervir nos demais 
poderes. D. Pedro I ainda reservou à sua função a prerrogativa de 
indicar os comandantes militares, os membros da alta hierarquia 
católica e os presidentes de província. 
A Constituição de 1824 estabelecia também que a Igreja 
Católica mantinha a prerrogativa de ser a única religião oficial do 
Brasil, sendo o Imperador considerado perpétuo defensor da fé 
católica no país. Ele era considerado maior somente com a idade 
de 18 anos completos. No caso de menoridade, um governo 
provisório regencial deveria ser constituído até o herdeiro atingir a 
PRIMEIRO REINADO E PERÍODO REGENCIAL08
08 PRIMEIRO REINADO E PERÍODO REGENCIALHISTÓRIA II
TURMA PRODÍGIO2 PROENEM.COM.BR
idade mínima requerida. A Constituição denominava as unidades 
administrativas do país de “províncias” e não continha artigos 
definidores acerca da escravidão negra.
A Constituição de 1824 foi muito criticada, por contemporâneos 
e historiadores, por ser considerada excessivamente centralizadora. 
No entanto, seria exagerado taxá-la de “absolutista”, visto que, 
mesmo concedendo poderes ampliados ao Imperador por meio 
do poder Moderador, ela garantia uma série de direitos individuais 
importantes, como o sigilo de correspondência, liberdade de opinião 
e propriedade privada. Além disso, a Constituição ainda dava 
margem de ação ao Legislativo, o que ficou evidente na atuação 
do mesmo durante o Primeiro Reinado, extremamente crítica. O 
período do Primeiro Reinado seria estigmatizado pelo signo da 
instabilidade econômica e política que provocaria a abdicação em 
7 de abril de 1831. O rompimento do Imperador com a aristocracia 
rural por conta do fechamento da “Constituinte da Mandioca” foi 
o primeiro sintoma de uma grave crise política que se avolumaria 
com o passar dos anos.
A crise econômica do Primeiro Reinado tem sua origem no 
próprio processo de Independência do Brasil, quando o novo 
governo assumiu o pesado ônus de assumir dívidas externas 
como forma de obter seu reconhecimentointernacional. Durante 
o Primeiro Reinado, o Imperador ainda contou com a má sorte de 
enfrentar uma crise internacional no preço dos produtos agrícolas, 
base da economia nacional. A liquidação do Banco do Brasil em 
23 de setembro de 1829 e os gastos da Corte para sustentar 
campanhas militares no Nordeste e Sul também serviram como 
um catalisador para a crise. Além da oposição da aristocracia 
rural e da crise econômica, D. Pedro I enfrentou dois movimentos 
militares que ameaçaram a própria integridade territorial do 
Império. Em 25 de dezembro de 1823, circularam, em Pernambuco, 
os primeiros pasquins sediciosos do carmelita Joaquim do Amor 
Divino, mais conhecido como frei Caneca, criticando o fechamento 
da Assembleia Nacional e advertindo para o perigo de um regime 
absolutista que pudesse cercear as liberdades provinciais. Houve a 
nomeação, pelo Imperador, de Francisco Paes Barreto, em janeiro 
do ano seguinte, para o cargo de presidente de província em 
Pernambuco. A revolta chegou ao seu auge em 2 de julho de 1824, 
quando foi proclamada a Confederação do Equador, contando com 
a adesão das províncias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. 
O desejo federalista e republicano do movimento, entretanto, foi 
rechaçado pela repressão do governo imperial, que organizou 
expedições militares comandadas por Francisco de Lima e Silva, 
contra Pernambuco. Em novembro de 1824, o movimento havia 
sido debelado e os principais artífices executados, incluindo frei 
Caneca, que foi fuzilado. 
Em 1825, uma rebelião no sul do Brasil proclamou a separação 
da província Cisplatina, que seria incorporada ao conjunto das 
Províncias Unidas do Reino da Prata, atual Argentina. A guerra da 
Cisplatina colocou em jogo o prestígio do Imperador e o debate 
regional entre os sistemas monárquico brasileiro e republicano 
argentino, como a melhor forma de governo. As escaramuças 
militares não conseguiram decidir o conflito e o governo da 
Inglaterra acabaria envolvido como árbitro para tentar acabar com 
a guerra. Em 27 de agosto de 1828, na Convenção de Paz do Rio 
de Janeiro, reconheceu-se o direito de a Cisplatina se tornar um 
Estado independente, que assumiria o nome de República Oriental 
do Uruguai. O novo país assumiria a função de ser “um algodão 
entre dois cristais”, isto é, um Estado-tampão que promovesse um 
equilíbrio de poderes entre Argentina e Brasil na estratégica região 
da bacia do Prata. 
A imprensa brasileira também contribuiu para o desgaste 
do governo de D. Pedro I. Os ataques diários eram direcionados 
contra o caráter absolutista do regime, ocorrendo, inclusive, 
menções sobre o movimento liberal francês de 1830. Os jornais 
Aurora Fluminense e Observador Constitucional, por exemplo, 
direcionaram suas críticas contra D. Pedro I, não poupando nem 
mesmo o caráter privado da vida do Imperador. Além disso, a morte 
de D. João VI, em 1826, inquietou o Partido Brasileiro, temeroso de 
que D. Pedro I tivesse a intenção de assumir a Coroa portuguesa e 
promover um retorno ao status quo anterior a 1822. 
Em Minas Gerais, após o assassinato do jornalista 
oposicionista Líbero Badaró, D. Pedro I foi informado pelo chefe da 
guarda que não haveria como garantir sua integridade física em 
um clima de tamanha hostilidade. Ao retornar precipitadamente 
ao Rio de Janeiro, D. Pedro I foi recebido com entusiasmo pelos 
seus partidários portugueses. Em 11 de março de 1831, contudo, 
tiveram início os conflitos de rua entre brasileiros e portugueses, 
que ficariam conhecidos como a Noite das Garrafadas. Em 5 de 
abril, D. Pedro I substituiu o marquês de Barbacena, próximo 
aos brasileiros, da chefia do ministério, por um novo Ministério 
de tendência portuguesa. Os rumores de um golpe de Estado 
começaram a circular e uma multidão apoiada por elementos da 
tropa concentrou-se no Campo de Santana para protestar contra 
o Imperador. Em 7 de abril de 1831, com a situação insustentável, 
D. Pedro I renunciou em favor de seu filho Pedro de Alcântara, de 
apenas 5 anos.
PERÍODO REGENCIAL
O artigo 122 da Constituição de 25 de março de 1824 estabelecia 
que “durante a sua menoridade, o Império será governado por uma 
Regência”, a qual, segundo o artigo seguinte, seria formada por três 
membros da Assembleia Geral, que equivalia ao Poder Legislativo 
na época. O período regencial, que durou de 7 de abril de 1831 a 
23 de julho de 1840, representava uma vitória dos partidários 
de um modelo de regime político mais liberal que apoiaram o 
príncipe regente no momento em que o Brasil sofria a ameaça de 
recolonização por parte da Revolução do Porto, mas que, em um 
segundo momento, romperam com D. Pedro I por conta da outorga 
da Magna Carta. A preservação da Monarquia revelava ainda a 
preocupação dos membros da aristocracia rural em “manter a 
política nos gabinetes”, para utilizar uma expressão de época, ou 
seja, evitar uma radicalização do processo político que pudesse 
redundar em um Estado republicano abolicionista. 
O período que compreende os anos de 1831 a 1837 
corresponde ao avanço dos liberais moderados, no qual as 
principais medidas estariam associadas com uma preocupação 
em conceder às províncias uma maior autonomia administrativa e 
legislativa. Os liberais exaltados estavam entre os mais destacados 
membros da oposição da época, reunindo tendências variadas que 
exigiam desde uma Monarquia ainda mais descentralizada que a 
dos moderados, o fim do caráter vitalício do Senado e a extinção 
do Conselho de Estado, até aqueles indivíduos que advogavam 
abertamente o ideal republicano federalista e abolicionista. 
Os caramurus, ou restauradores, representavam outra linha 
oposicionista, propondo o retorno de D. Pedro I e do regime 
centralizador derrubado. Os restauradores, entretanto, tiveram 
suas ambições frustradas quando, em 1834, D. Pedro I faleceu 
na Europa. Por fim, os conservadores, que ascenderiam ao poder 
em 1837 com um discurso centralizador, revogariam parte das 
conquistas descentralizadoras dos liberais moderados, até serem 
alijados do poder pelo golpe de 1840. 
Cumprindo a norma constitucional, a Assembleia elegeu 
uma Regência Trina Provisória que governaria o país por dois 
meses até ser designada uma Regência Trina Permanente. Os 
três primeiros regentes foram o marquês de Caravelas, o senador 
Nicolau de Campos Vergueiro e Francisco de Lima e Silva. Em 
17 de junho de 1831, os nomes da Regência Trina Permanente 
foram escolhidos, contando com os deputados José da Costa 
Carvalho, João Bráulio Muniz e Francisco de Lima e Silva. Um 
decreto de 14 de junho de 1831 limitava os regentes a exercer 
certas atribuições consideradas restritivas ao Poder Moderador, 
como conceder títulos nobiliárquicos, negociar tratados com 
HISTÓRIA II08 PRIMEIRO REINADO E PERÍODO REGENCIAL
TURMA PRODÍGIO 3PROENEM.COM.BR
governos estrangeiros, suspender direitos previstos na Magna 
Carta e dissolver o Legislativo. As primeiras medidas de caráter de 
descentralização, entretanto, não tardariam a vir. 
Uma lei de 18 de agosto de 1831 criava a Guarda Nacional, 
inspirada nos mesmos moldes da similar francesa. O conceito 
de “cidadão armado” era importado para o Brasil e atendia a um 
objetivo importante para os regentes: desmobilizar e enfraquecer 
o Exército, considerado indisciplinado à época e fonte de possíveis 
movimentos que poderiam abalar a própria Monarquia. A existência 
de critérios censitários durante o período monárquico, entretanto, 
restringia o preenchimento das patentes de oficiais aos cidadãos 
ativos, isto é, aqueles que possuíam renda entre 100 mil e 800 mil-
réis anuais. A Guarda Nacional, que chegou a atuar como elemento 
pacificador contra rebeliões provinciais e na Guerra do Paraguai, 
tornou-se instrumento dos grandes produtores rurais a tal ponto 
que os latifundiários passariam a ser tratados simplesmente como 
coronéis. 
Ainda no ano de 1831, uma importante reforma legal instituiu 
o Código de Processo Criminal, o qual estabeleceu o direito de 
habeas corpus ea regulamentação das Juntas de Paz, nas quais 
os juízes de paz podiam julgar recursos de sentenças provinciais. 
O cargo era preenchido através dos mecanismos censitários e 
tinha caráter provisório, sendo, portanto, mais um instrumento de 
poder das elites provinciais. Em julho de 1832, uma tentativa de 
golpe de Estado liberal foi frustrada, quando os liberais moderados, 
liderados pelo ministro da Justiça padre Diogo Feijó, pretendiam 
conceder à Câmara Legislativa poderes de Assembleia Nacional 
Constituinte. De qualquer modo, dois anos depois os liberais 
moderados conseguiriam aprovar uma Reforma Constitucional.
O maior símbolo do avanço liberal foi o Ato Adicional de 
12 de agosto de 1834, o qual, a despeito de concessões feitas 
aos conservadores, como a manutenção da vitaliciedade do 
Senado e do Poder Moderador, representou uma vitória daqueles 
parlamentares liberais moderados que advogavam uma maior 
concessão de de autonomia para as províncias. Os Conselhos 
Gerais das províncias, órgãos de caráter consultivo, passariam 
a funcionar como Assembleias Legislativas Provinciais. Apesar 
disso, a presidência da província continuava sendo prerrogativa do 
Rio de Janeiro, o qual foi transformado em município neutro. O Ato 
Adicional ainda alterou a composição da Regência, que passaria 
a ser Una, além de extinguir o Conselho de Estado. O documento 
foi alcunhado pelo deputado conservador Bernardo Pereira de 
Vasconcelos, fundador do imperial colégio Pedro II, como o 
“Código da Anarquia”, pois, segundo o deputado, o excessivo 
caráter descentralizador da emenda poderia estimular movimentos 
sediciosos que questionassem o poder central. Ele seria ainda um 
divisor de águas na designação dos grupos políticos, pois os liberais 
passariam a ser identificados como “progressistas”, enquanto os 
conservadores seriam denominados de “regressistas”. Em outubro 
de 1835, o padre Diogo Feijó se tornou o primeiro regente uno do 
Brasil, recebendo 2.826 votos, 575 a mais que Holanda Cavalcanti. 
O período Feijó, entretanto, seria marcado por um intempestivo 
momento de revoltas provinciais, muitas das quais seriam 
atribuídas aos supostos excessos de autonomia concedidos pelo 
Ato Adicional, o que recordaria a tenebrosa previsão de Bernardo 
Pereira de Vasconcelos acerca do risco de fragmentação territorial 
do Império. 
As revoltas do período regencial apresentaram características 
próprias, contudo, de um modo geral, podemos afirmar que 
evidenciavam uma crise política nacional que colocaria em xeque a 
própria existência da integridade do Brasil. Em novembro de 1834, 
na província do Grão-Pará, tropas do governo executaram Manuel 
Vinagre e prenderam outras lideranças populares que se opunham 
ao poder centralizado no Rio de Janeiro e utilizaram um discurso 
liberal radical. No dia 6 de janeiro de 1835, iniciou-se o movimento 
que ficaria conhecido pela historiografia como Cabanagem ou 
revolta dos Cabanos, referência às modestas habitações que a 
população da região Norte utilizava nas beiras dos igarapés e 
rios. Um grupo armado composto por índios, mestiços e negros 
conquistou a cidade de Belém, matando o presidente da província, 
Lobo de Souza, e o comandante militar Silva Santiago. Estes cargos 
foram ocupados, respectivamente, por Félix Malcher e Francisco 
Pedro Vinagre. As diferenças entre os líderes da revolta, entretanto, 
acabariam enfraquecendo o movimento. A defesa da moderação 
e do diálogo com o governo regencial começou a surgir como um 
estandarte por parte de membros do regime provisório, enquanto 
os mais exaltados defendiam a secessão. Em 14 de maio de 
1836, graças à ação militar do brigadeiro Soares de Andrea, as 
forças imperiais re¬cuperaram definitivamente Belém, depois 
de vários avanços e recuos. O movimento seria desarticulado 
totalmente em 1840, quando uma anistia geral seria promulgada. A 
revolta suscitou grande repressão por parte do governo regencial, 
atribuindo-se o saldo de cerca de 30 mil mortos nos anos de luta. 
Entre 1835 e 1845, nas províncias do Rio Grande e Santa 
Catarina, o governo regencial enfrentou um movimento separatista 
que o próprio regente Feijó chegou a considerar como caso perdido. 
De fato, somente com o advento do II Reinado, as negociações entre 
os representantes do governo imperial e os sulistas acabariam com 
a revolta. O movimento, denominado de Farrapo, devido ao hábito 
sulista de trajar roupas que se contrapunham à moda europeia, foi 
liderado pela elite produtora de charque do Sul, queixosa de que 
o governo regencial não atendia aos seus interesses relativos à 
concorrência argentina e uruguaia. Ademais, assim como nas 
outras províncias, permanecia a tradição política da imposição 
do governo central do Rio de Janeiro do presidente de província, 
representado por Antônio Rodrigues Fernandes Braga. Em 20 de 
setembro de 1835, um grupo militar farrapo liderado por Bento 
Gonçalves tomou o controle da cidade de Porto Alegre, detonando 
o movimento. Em 10 de setembro de 1836, foi proclamada a 
República Rio-grandense. Em 1838, o movimento avançou, 
sendo proclamada a República de Piratini. Novos líderes militares 
de destaque surgiram ao longo da guerra, como o aventureiro 
italiano Giuseppe Garibaldi. Em 1839, os farrapos atravessaram 
a divisa Santa Catarina e David Canabarro proclamou a República 
Catarinense ou Juliana. 
No início dos anos de 1840, com a ascensão do segundo 
Reinado, as negociações no sentido de atender aos interesses 
dos farrapos e acabar com o movimento avançaram, por exemplo, 
sobre a tributação dos similares platinos. Em 1845, em um acordo 
negociado entre Caxias e Canabarro, os revoltosos depuseram 
as armas em troca da anistia e da incorporação dos farrapos ao 
exército imperial. 
Durante algumas horas de 25 de janeiro de 1835, a alta 
sociedade de Salvador sofreria a tensão de viver um movimento 
de caráter haitianista. Os escravos malês, designação para 
negros islamizados, articularam uma rebelião que fracassou 
devido à delação dos libertos Domingos, Guilhermina e Sabina 
às autoridades policiais de Salvador, que tiveram tempo para 
preparar a repressão ao movimento. Cerca de 500 pessoas foram 
consideradas envolvidas direta ou indiretamente no levante, sendo 
punidas das mais diversas formas, desde a pena capital, aplicada 
através de fuzilamento a 16 escravos africanos, até açoites e 
deportações. Entre fins de 1837 e o início de 1838, na mesma 
cidade de Salvador, ocorreu uma revolta das classes médias 
urbanas denominada de Sabinada, por conta da liderança de 
Francisco Sabino. Os liberais exaltados defendiam abertamente a 
criação de um governo provisório independente do poder regencial 
que, porém, manter-se-ia fiel ao Império, aguardando apenas a 
maioridade de Pedro de Alcântara. Os revoltosos, que chegaram a 
constituir um regime temporário, contudo, foram reprimidos com 
extrema violência, provocando a morte de cerca de 1.200 rebeldes, 
além de terem sido efetuadas quase 3 mil prisões. 
Entre 1838 e 1841, no Maranhão e no Piauí, ocorreu a Balaiada, 
movimento que envolveu diversos atores sociais, tais como 
os fazendeiros liberais, denominados bem-te-vis, e as classes 
populares do Maranhão. A revolta entre as classes abastadas opôs 
08 PRIMEIRO REINADO E PERÍODO REGENCIALHISTÓRIA II
TURMA PRODÍGIO4 PROENEM.COM.BR
liberais e conservadores, enquanto em 13 de dezembro de 
1838, o vaqueiro Raimundo Gomes iniciou um movimento contra 
o poder público conservador, representado pelo prefeito José Egito. 
A mobilização popular teve origem nas restrições que os mestiços 
sofriam durante o período monárquico, além do recrutamento 
compulsório pela força policial. Em fins de 1839, cerca de 3 mil 
negros estavam mobilizados nas revoltas contra o poder instituído. 
Em 1840, porém, o futuro Duque de Caxias iniciou a repressão aos 
movimentos populares da região, até dizimá-los com o apoio da 
elite local. 
As revoltas provinciais contribuíram imensamente para a 
desestabilização da regênciaFeijó e sua queda em 1837, quando 
ocorreria o regresso conservador com Araújo Lima. As autonomias 
provinciais foram revogadas com a Lei Interpretativa do Ato 
Adicional. A antecipação da maioridade de Pedro de Alcântara, 
entretanto, era tida como a única solução que poderia garantir 
a manutenção da integridade territorial do Império. Os liberais, 
desejosos de retornar ao poder, arquitetaram, então, o chamado 
Golpe da Maioridade, descrito com maestria por Otávio Tarquínio 
de Souza em seu clássico sobre o período regencial. Pedro de 
Alcântara, seduzido pela proposta liberal de assumir o trono antes 
de completar a maioridade prevista na lei, teria dito que desejava 
a Coroa e a “queria já”. Em 23 de julho de 1840, D. Pedro II era 
coroado no Senado Federal, no atual prédio da Faculdade Nacional 
de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, derrubando 
o governo do marquês de Olinda e colocando fim ao conturbado 
período das regências.
O conturbado período das regências foi sepultado por um 
golpe de Estado, no qual a Constituição outorgada de 1824 foi 
violentada em favor de um discurso aparentemente centralizador, 
que advogava a necessidade da antecipação da maioridade 
como forma de garantir a integridade territorial do Império. 
Os anteprojetos de Emenda Constitucional de Antecipação da 
Maioridade de 1835, 1837 e 1839 foram derrubados no plenário 
e o movimento de 1840, feito ao arrepio da Lei, foi festejado nos 
seguintes versos: “Queremos D. Pedro II / Embora não tenha idade 
/ A nação dispensa a lei / Viva a Maioridade!” 
Fonte: Google Imagens 
ANOTAÇÕES

Continue navegando