Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Disfunção cerebral causada por uma força externa, geralmente por um golpe violento. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO • +1,7 mi de casos anuais nos EUA: Destes 15% trauma moderado e 10% traumas graves. • Quase 90% das mortes pré-hospitalares estão relacionadas ao TCE • Classificação: 75% trauma leve, 15% trauma moderado e 10% trauma grave. COMO PASSAR O CASO PRO NEUROCIRURGIÃO REVISÃO ANATÔMICA • Couro cabeludo: Área de irrigação abundante, por isso a laceração pode levar a perdas sanguíneas significativas, principalmente em transporte longo. • Crânio: Possui uma base irregular, facilitando lesões quando há movimentos de des/aceleração. o Fossa anterior: Aloja os lobos frontais. o Fossa média: Aloja os lobos temporais. o Fossa posterior: Aloja a porção inferior do tronco cerebral e o cerebelo. • Meninges: Dura-máter, aracnóide e pia-máter. Dura-máter: 2 camadas (periosteal e meníngea), mais externa, em algumas áreas divide-se em superfícies que drenagem o cérebro (seios). o Seio sagital: Drena pra os seios bilaterais transverso e sigmóide. o Artérias meníngeas: Correm entre a dura- máter e a superfície interna do crânio (espaço epidural), lesões nessa área podem romper as artérias e causar um hematoma epidural. Aracnóide: Membrana fina e transparente, não está aderida à dura-máter, existe um espaço entre elas chamado de espaço epidural, também suscep- tível à lacerações e hematoma subdural. Pia-máter: É a terceira meninge bem aderida ao cérebro, entre a aracnoide e a pia-máter circula o espaço subaracnóideo, por onde circula o LCR e as principais veias e artérias que suprem o cérebro. • Encéfalo: Cérebro, cerebelo e tronco cerebral. Os detalhes podem ser vistos em outros resumos. • Sistema ventricular: Sistema de espaços e aquedu- tos por onde o LCR circula e é produzido. • Compartimentos: A tenda do cerebelo ou tentório (porção da meninge) divide a cabeça em compartimento infratentorial e supratentorial. O mesencéfalo passa através de uma abertura no tentório chamada incisura do tentório. Em casos de hematomas ou tumores, o uncus pode herniar para a tenda do cerebelo, causando a hérnia uncal. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O REVISÃO DA FISIOLOGIA PRESSÃO INTRACRANIANA (PIC): O normal é estar entre 10 mmHg, a pressão pode reduzir a perfusão cerebral e causar ou exacerbar a isquemia. DOUTRINA DE MONRO-KELLIE: Afirm que há um equi- líbrio entre o volume do cérebro, sangue e LCR. • Estado compensado: Um desbalanço em algum desses componentes ou adição de outro faz com que o cérebro tente compensar expulsando LCR e sangue venoso do crânio. • Estado descompensado: É quando o corpo não consegue mais manter esse desbalanço e a pressão intracraniana se eleva. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES CRANIOENCEFÁLICAS CLASSIFICAÇÃO POR GRAVIDADE → USA GLASGOW! • TCE leve: GCS entre 13-15. • TCE moderado: GCS entre 9-12. • TCE grave: GCS entre 3-8. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA FRATURAS DE CRÂNIO • Fraturas de calota: Avaliados através da radiogra- fia ou TC com janela óssea, podem ser lineares ou estreladas, com ou sem afundamento, expostas ou fechadas. Não devem ser subestimadas, pois signi- fica que foi preciso muita força pra que ela ocorra e fraturas lineares em paciente consciente aumen- ta em 400 vezes a possibilidade de hematoma. • Fraturas de base de crânio: Só avaliadas com janela óssea, o paciente usualmente cursa com equimose periorbital, equimose retroauricular, fís- tula liquórica pelo nariz (rinorreia) ou pelo ouvido (otorreia) e lesão dos nervos cranianos. LESÕES INTRACRANIANAS • Lesões Cerebrais Difusas: Variam muito! o Concussões: Lesão em que há um distúrbio não focal transitório quase sempre associado a perda de consciência. o Contusões múltiplas o Lesão hipóxica/isquêmica o Lesão axonal • Lesões Cerebrais Focais: Hematomas! o Hematoma Epidural: Raros (0,5% dos TCE) se mostram na TC com uma forma bicon- vexa, mais frequentes na região temporal ou têmporo-parietal, em geral de origem arterial (meníngea média). (Figura A) o Hematoma Subdural: Mais comuns que o epidural (30%), assumem a forma do contorno cerebral ou de foice, ocorrem pela dilaceração de pequenos vasos, costuma ser muito mais grave que o hematoma epidural, devido quase sempre haver lesão parenquimatosa concomitante (Figura B). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o Contusões e Hematomas Intracerebrais: Contusões são lesões difusas por impacto violento na cabeça, presentes em 20-30% dos TCE graves (Figura C), podem evoluir e formar um hematoma intracerebral com efeito de massa (Figura D) e necessidade cirúrgica. Por isso, é necessário repetir a TC 24h após a realização da primeira. ABORDAGEM PARA CADA TIPO DE TCE ABORDAGEM DO TCE LEVE • Definição de TCE leve: Quadro de desorientação, amnésia ou perda transitória da consciência + score 13-15 na GCS. A história de perda da consci- ência pode ser nebulosa em pacientes alcoolizados mas, nunca devemos atribuir alterações do estado mental ao álcool até descartar a lesão cerebral! • Prognóstico: A maioria evolui bem, mas cerca de 3% dos pacientes apresenta piora e deterioração do estado mental progressivamente. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA • Identifique o mecanismo da lesão • Duração da amnésia antes e depois do evento traumático • Exame físico geral e neurológico: O geral deve ser feito rapidamente, para descartar causas secundá- rias e o neurológico deve buscar avaliar a consciência (GCS) e focado em quaisquer outras queixas que o paciente tiver (força, se paresia...). • Realização de TC: Segue indicações específicas, lembrar de fraturas expostas, sinais de fratura de base de crânio, vômitos e idade > 65 anos. Olhar na tabela também o risco moderado, que indica a realização da mesma forma. *Em pacientes com GCS de 13, 25% deles irão apresentar indicativos de trauma na TC e 1,3% precisará de intervenção neurocirúrgica. • Radiografia de coluna cervical • Exames laboratoriais: Nível de álcool no sangue e perfil toxicológico da urina para descartar o abuso de álcool e drogas ilícitas. ALGORITMO DA ABORDAGEM AO TCE LEVE ALTA: Se o doente estiver bem, orientado, sem critério para internação ele pode ser observado por algumas horas, reavaliado e receber alta. O paciente deve levar consigo um protocolo de instruções para caso algum sintoma e sinal de alerta apareça, para que retorne ao hospital imediatamente. Se o doente tem dificuldade para entender as instruções escritas e verbais dadas durante a ata, o médico deve reconsiderar a decisão de alta. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O MODELO DE PROTOCOLO DE INSTRUÇÕES ABORDAGEM DO TCE MODERADO • 15% dos TCEs são moderados • Quadro clínico: Confusos ou sonolento, mas ainda são capazes de obedecer ordens simples, pode estar associado a déficit neurológico focal. ALGORITMO DE TRATAMENTO DO TCE MODERADO ABORDAGEM DO TCE GRAVE • 10% das vítimas de TCE são graves • Não retarde a transferência do doente para realizar uma TC! ALGORITMO INICIAL DO TCE GRAVE AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO → ESTABILIZAÇÃO CARDIOPULMONAR + NEURO! • Via Aérea e Ventilação: Os doentes com TCE grave costumam estar rebaixados e comatosos, por isso, a intubação orotraqueal precoce + ventilação com oxigênio a 100% deve ser realizada até que sejacolhida a gasometria. Manter a pC02 deve ser mantida em cerca de 35 mm Hg, pois quadros maiores de hiperventilação podem deteriorar a função neurológica do paciente. • Circulação: Se o doente está hipotenso, precisamos reestabelecer a volemia por sangue ou soluções isotônicas conforme necessidade. A hemorragia intracerebral não causa choque hemorrágico, por isso devemos fazer volume! • Exame neurológico: Depois de estabilizado o cardiopulmonar, devemos fazer um exame neurológico rápido e direcionado que seria → GCS, reatividade pupilar e buscar por déficit neurológico focal (usar o mnemônico SAMU). o Resposta motora: Belisque o trapézio, pressione o leito ungueal ou a região supraorbitária para ver a melhor resposta! • Evitar sedativos ou relaxantes musculares: Inicialmente! A menos que a agitação o coloque em mais risco ainda. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA • Exames seriados: GCS, lateralização e resposta pupilar para detectar algum grau de deterioração. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O Perda de resposta luminosa e midríase indica herniação do lobo temporal (uncal). PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS • TC de urgência e seriada: Fazer a TC assim que estabilizar o paciente e deve ser repetida sempre que houver mudança no estado clínico do paciente e rotineiramente durante as 24h pós TC inicial. VISÃO GERAL DO TRATAMENTO DO TCE TRATAMENTO CLÍNICO DO TCE • OBJETIVO: Garantir um ambiente adequado para o tecido nervoso lesado tentar se regenerar. • Fluidos intravenosos: Manter a normovolemia! Deve-se administrar sangue ou RL ou SF, SG está contraindicado pois pode gerar hiperglicemia. Devemos também sempre avaliar o nível de sódio para prevenir ao máximo edema e hiponatremia. • Hiperventilação: Tentar manter a normocapnia (PaCo2 35 mmHg), hipocapnia causa vasoconstri- cção aumentada e consequente isquemia e a hipercapnia causa vasodilatação e aumento da PIC. • Manitol: Usado para reduzir a PIC, indicado em normovolêmicos se déficit neurológico agudo. o Dose: 20g/100mL de solução ou em caso de lesão focal, em bolus 1g/kg por 5 min. • Solução salina hipertônica: Tem a mesma utilidade do manitol, só que pode ser utilizado em pacientes hipotensos pois não induz a diurese. • Barbitúricos: Usados em refratariedade na redução da PIC, não devem ser utilizados em hipo- volêmicos ou hipotensos (ele mesmo causa hipotensão)! Ex: Amytal, butisol, gardenal. • Anticonvulsivantes: Podem ser usados nas convulsões aguda, mas não alteram a evolução da epilepsia pós traumática (ocorre em 5% dos doentes), podem também inibir a recuperação cerebral, por isso devem ser usados só quando houver grande necessidade. o Fármaco de escolha: Fenitoína ou Fosfenit. o Dose: Dose de ataque 1 g EV + manutenção com 100 mg/8h. TRATAMENTO CIRÚRGICO • Lesões no couro cabeludo: Sutura! Limpar bem e inspecionar a ferida, realizar desbridamento e pressionar diretamente a área para controle do sangramento. Consultar o ncx se fratura exposta ou afundamento do crânio. • Fraturas com afundamento de crânio: Correção neurocirúrgica se o grau de depressão for maior que a espessura da calota ou sutura se afunda- mento leve. A TC é boa para diferenciar os casos! • Lesões Intracranianas de massa: Abordagem de um neurocirurgião ou transferir o quanto antes caso não haja neurocirurgião no serviço. Em situa- ções extremas, o neurocirurgião pode instruir um cirurgião próximo a fazer o procedimento de trepa- nação, essa abordagem é a exceção das exceções! • Ferimentos penegrantes: TC para avaliar os ferimentos, se não tiver no momento, pode-se realizar radiografia para tentar ver a trajetória do V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O trauma. Nesses casos, é recomendado iniciar a ATB profilática amplo espectro e monitoração precoce da PIC se há sinais de PIC elevada ou se o exame físico é incerto. o PAF: Realizar o fechamento dos orifícios se forem pequenos. o Flechas, facas: Não retirar até que seja estabelecida a abordagem neurocirúrgica e excluída as lesões vasculares. PROGNÓSTICO: Tratamento agressivo enquanto se aguarda a consulta com o neurocirurgião. O prognóstico depende do grau da lesão e é melhor em crianças, que possuem uma melhor capacidade regenerativa em traumas graves. MORTE CEREBRAL → COMO DIAGNOSTICAR? • Escala de Coma de Glasgow = 3 • Pupilar não reativas • Reflexos de tronco cerebral ausentes: Reflexo óculo-cefálico, corneal, olhos de boneca e ausência de reflexo faríngeo. • Ausência de esforço ventilatório no teste formal de apnéia EXAMES COMPLEMENTARES QUE CONFIRMAM: • EEG: Ausência de atividade com ondas de grande amplitude. • Estudo de Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC): Com Doppler ou isótopos que mostram a ausência de FSC. • Angiografia cerebral *Algumas condições podem simular morte cerebral! Como hipotermia e coma barbitúrico, por isso, só podemos diagnosticar o doente DEPOIS da normaliza- ção de todos os parâmetros fisiológicos.
Compartilhar