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Desidratações, Hipernatremia e Hiponatremia Referência Bibliográfica: Guyton, Fisiologia médica. Cap 25: Anormalidades clínicas da regulação do volume de líquidos: hipo e hipernatremia. No LEC: mais sódio. No LIC: mais potássio. Homeostasia: Manutenção de constância do meio. Constante equilíbrio osmótico. E balanço eletroquímico de acordo com a necessidade → Desequilíbrio. Célula em meio hipertônico: Perde água, murcha. Célula em meio hipotônico: Incha. Gradiente de Concentração →A favor do gradiente de concentração: Transporte passivo. →Contra o gradiente de concentração: Transporte ativo. Concentração de Soluto →Relacionado a osmolaridade • [Na+] e ânions no plasma = + 90% do soluto no LEC • ↑ [Na+ ] = Hipernatremia →Solução hiperosmotica • ↓ [Na+ ] = Hiponatremia →Solução hiposmótica Desequilíbrios de Na [Na+ ] HIPONATREMIA • ↓[NaCl] no LEC ou ↑ H2O (excesso) • Diarreia e vômitos • Uso excessivo de diuréticos (inibem reabsorção de Na+ ) • Doença renal • Doença de Addison HIPERNATREMIA • ↑ [NaCl] no LEC ou ↓ H2O (excesso) • Diabetes insipidus • Desidratações • ↑ aldosterona • Lesão hipotalâmica • Estado mental alterado • Crianças sem acesso à água OBS: Diabetes insipitus → Problema no ADH. →Diabetes: Fluxo de água muito intenso, por isso a pessoa faz muito xixi. →Mellitus: muito açúcar. →Insipidus: sem gosto Hiponatremia X Hipernatremia HIPONATREMIA • ↑ volume celular • Edema celular HIPERNATREMIA • ↓ volume celular • Retração celular ADH: Hormônio antidiurético →Reabsorve água Muito ADH: mais líquido extracelular Pouco ADH: menos líquido extracelular SIADH: Síndrome da secreção inapropriada de ADH. →Secreção de ADH fora da célula de origem. →Acontece com algumas células neoplásicas malignas, produzem ADH. Principalmente as do pulmão. Qual o órgão mais sensível à alterações na osmolaridade do LEC? →Sistema nervoso: encéfalo. Neurônios. Manifestações Clínicas ↓ 115 a 120 mmol/L → ↑ volume celular = edema ↑ 158 a 160 mmol/L → ↓ volume celular = mielinólise • Cefaleia • Náusea e vômitos • Letargia • Desorientação • Crise epiléptica • Coma • Dano cerebral permanente • Morte encefálica Herniação • A herniação é o deslocamento de tecido cerebral de um compartimento para outro em resposta ao aumento da pressão intracraniana → infarto, edema e herniação. • Edema generalizado, tumor, abcesso, hemorragia. Caso Clínico – Paciente Hiponatremia • Paciente do sexo feminino, 60 anos de idade, leucoderma, procurou atendimento médico em razão de quadro de pirose, náuseas e vômitos. Passado de transtorno depressivo maior, em tratamento domiciliar com risperidona e nortriptilina. Segundo familiares, a notícia da gravidez da filha foi o evento estressante que desencadeou o quadro atual. Durante a internação, os neurolépticos em uso foram suspensos. Análise laboratorial revelou distúrbio hidroeletrolítico importante: hiponatremia (sódio: 123 mEq/l; VR: 135 a 145 mEq/l) e hipopotassemia (potássio: 2,6 mEq/l; VR: 3,5 a 5,2 mEq/l). Foi iniciada reposição iônica, sendo constatada natremia de 147 mEq/l nas primeiras 48 horas após a admissão. • A paciente iniciou com adinamia e prostração. Após avaliação psiquiátrica, foram administrados clonazepam e mirtazapina, porém houve piora do quadro clínico. A paciente apresentou prostração importante, sonolência, hiporresponsividade, abertura ocular somente aos estímulos, resposta motora inespecífica (reflexo de retirada), resposta verbal incompreensível (escala de coma de Glasgow: 9), sendo transferida ao centro de terapia intensiva. Avaliação física à admissão nesta unidade evidenciou pupilas isocóricas e fotorreagentes, sem rigidez de nuca. Babinski à direita e paresia em membro superior direito. A paciente evoluiu com quadro de tetraparesia espástica e mutismo. • Exame de tomografia computadorizada de encéfalo não mostrou alterações. Diante da persistência do quadro de rebaixamento do nível de consciência, mesmo após normalizados os níveis séricos de sódio e potássio da paciente, foi feito exame de RM, que revelou hiperintensidade de sinal em T2, comprometendo a ponte, poupando tratos corticoespinhais, e de maneira discreta os núcleos da base e porção lateral dos tálamos, com áreas de necrose nos globos pálidos, bilateralmente (Figuras 1, 2 e 3). Não houve impregnação anômala pelo meio de contraste e o radiologista concluiu que as imagens confirmaram sinais de desmielinização osmótica, necrose dos globos pálidos e sinais de redução volumétrica infra e supratentorial. • A paciente evoluiu com melhora da deglutição, tornando possível a progressão de dieta entérica para oral. Houve também melhora da espasticidade em membros, com boa resposta com a introdução de relaxante muscular. Após um mês, com melhora progressiva do quadro clínico, a paciente voltou a contatar verbalmente (sem conseguir elevar a voz, mantendo disartria). Foi repetido exame de RM, observando-se o mesmo padrão do exame prévio. A paciente apresentou recuperação dos déficits apresentados em dois meses. Caso Clínico – Paciente Hipernatremia • Caucasiano de 58 anos, masculino, com história prévia de HAS e transtorno psiquiátrico mal-definido, admitido no Hospital Universitário Professor Edgard Santos - Universidade Federal da Bahia (HUPES) em 05/02/2010, proveniente de outra unidade de saúde. Há 20 dias da admissão, foi encontrado com rebaixamento do sensório, oligúria, piúria e elevação dos níveis de uréia e creatinina (Cr:5,0mg/dL Ur:180md/dL). Por não ter apresentado melhora do quadro urinário e neurológico na outra unidade, foi transferido para hospital de maior complexidade. • Seu passado médico envolve diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e histórico psiquiátrico, mal caracterizado pela família semelhante ao transtorno bipolar desde os 14 anos de idade. Faz uso regular de Haloperidol, Clorpromazina e Fenergan prescrito por médico assistente. Familiares relataram que três dias antes de ser encontrado com rebaixamento do nível de consciência, desapareceu de casa durante crise de agitação. • À admissão, o paciente apresentava-se em precário estado geral, eupneico, boa perfusão periférica, descorado +/IV, restrito ao leito, sem sinais de trauma, com freqüência cardíaca de 96 bpm, freqüência respiratória de 24ipm e pressão arterial de 110/70 mmHg. O exame cardiovascular, respiratório e abdominal não apresentava alterações. Ao exame neurológico apresentava Glasgow 10 (4-1-5), com abertura ocular espontânea, afásico e movimentação ocular aos comandos. Tetraparético, sem sinais de hiperreflexia. Pupilas isocóricas e fotorreagentes. Demais nervos cranianos e teste de sensibilidades não foram realizados, pois o paciente apresentava alteração do nível de consciência. • Exames laboratoriais iniciais mostraram hemoglobina 9,5 g/dL, leucograma 9500/mm₃ sem desvios e plaquetas 210.000/mm₃. Creatinina de 5,1mg/dL (vn:0,5-1,3mg/dL) e uréia: 181mg/dL (vn: <40mg/dL). Ionograma revelou sódio de 196mEq/L (vn:135-145 mEq/L), potássio 3,3mEq/L (vn:3,5-5,5 mEq/L) e hemogasometria com PO2 limítrofe sem alterações metabólicas. • O paciente foi transferido para unidade de terapia intensiva (UTI) no 2º dia de hospitalização, onde foi colocado em ventilação mecânica e ampliado cobertura antimicrobiana, sendo então encaminhado para realização de tomografia computadorizada (TC) de crânio sem contraste que evidenciou hemorragia cerebelar e na cápsula externa bilateralmente (Figura 1).• O paciente evoluiu na unidade de terapia intensiva (UTI) com melhora dos níveis de uréia e creatina (Gráfico 1), além de aumento do débito urinário após hidratação parenteral com cristalóides, sem necessidade de terapia de substituição renal. Após correção da volemia foi iniciado terapia com solução hipotônica para correção da hipernatremia respeitando a correção máxima diária (Gráfico 1). Durante a correção do distúrbio hidroeletrolítico, e após suspensão da sedação, o paciente evoluiu com abertura ocular espontânea e recuperação do drive respiratório. Realizada traqueostomia em 24 de fevereiro, sendo evoluído desmame da ventilação mecânica, recebendo alta da UTI em 09 de Março e alta hospitalar alerta sem déficits neurológicos em 14 de Abril. Anormalidades Clínicas da Regulação do Volume de Líquidos: Hipo e Hipernatremia Uma medida disponível ao médico para avaliação do status dos líquidos do paciente é a concentração de sódio no plasma. A osmolaridade do plasma não é medida rotineiramente, mas, em razão do sódio e de seus ânions associados (principalmente o cloreto) contabilizarem mais de 90% do soluto do líquido extracelular, a concentração de sódio no plasma é indicador razoável da osmolaridade do plasma sob várias condições. Quando a concentração de sódio no plasma é reduzida por mais do que alguns miliequivalentes abaixo do normal (cerca de 142 mEq/L), o indivíduo tem hiponatremia. Quando a concentração de sódio no plasma está alta, acima do normal, o indivíduo tem hipernatremia. Causas de Hiponatremia: Excesso de Água ou Perda de Sódio A redução da concentração plasmática de sódio pode resultar da perda de cloreto de sódio do líquido extracelular ou de adição excessiva de água ao líquido extracelular (Tabela 25-4). A perda primária de cloreto de sódio geralmente resulta em hiponatremia – desidratação e é associada à redução do volume do líquido extracelular. As condições que podem causar hiponatremia, pela perda do cloreto de sódio, incluem a diarreia e o vômito. O uso excessivo de diuréticos que inibem a reabsorção de sódio nos túbulos renais e certos tipos de doenças renais, em que ocorre excreção excessiva de sódio, pode causar graus moderados de hiponatremia. Por fim, a doença de Addison, que causa a diminuição da secreção de aldosterona e, assim, diminui a reabsorção tubular renal de sódio, pode ocasionar grau moderado de hiponatremia. A hiponatremia também pode ser associada à retenção excessiva de água, que dilui o sódio do líquido extracelular, condição referida como hiponatremia – hiperidratação. Por exemplo, a secreção excessiva de hormônio antidiurético, que faz com que os túbulos renais reabsorvam mais água, pode levar a hiponatremia e hiperidratação. Consequências da Hiponatremia: Inchaço Celular Variações rápidas no volume celular, como resultado de hiponatremia, podem apresentar efeitos intensos nos tecidos e na função dos órgãos, especialmente no cérebro. A redução rápida no sódio plasmático, por exemplo, pode causar edema das células cerebrais e sintomas neurológicos que incluem dor de cabeça, náusea, letargia e desorientação. Se a concentração plasmática de sódio cair rapidamente para abaixo de 115 a 120 mmol/L, o inchaço celular pode acarretar convulsões, coma, dano cerebral permanente e morte. Devido à rigidez do crânio, o cérebro não pode aumentar seu volume por mais de 10% sem que seja forçado o pescoço (herniação), que pode levar a lesão cerebral permanente e morte. Quando a hiponatremia se desenvolve lentamente por diversos dias, o cérebro e outros tecidos respondem transportando sódio, cloreto, potássio e solutos orgânicos, tais como glutamato, das células para o compartimento extracelular. Essa resposta atenua o fluxo osmótico de água para a célula e o inchaço dos tecidos (Fig. 25-7). O transporte de solutos pelas células, durante o desenvolvimento lento de hiponatremia, no entanto, pode fazer com que o cérebro fique mais vulnerável se a hiponatremia for corrigida muito rapidamente. Quando soluções hipertônicas são adicionadas muito rapidamente para corrigir a hiponatremia, essa intervenção pode ultrapassar a capacidade do cérebro de recuperar a perda de solutos das células e pode provocar lesão osmótica dos neurônios, associada à dismienilização, perda da bainha de mielina dos nervos. Essa dismienilização dos neurônios, mediada por osmose, pode ser evitada pela limitação da correção da hiponatremia crônica, para menos de 10 a 12 mmol/L em 24 horas e para menos de 18 mmol/L em 48 horas. Essa lenta correção permite ao cérebro a recuperação dos osmoles perdidos, que ocorreu como resultado da adaptação à hiponatremia crônica. Hiponatremia é a causa mais comum de distúrbios eletrolíticos encontrados na prática clínica e pode acontecer acima de 15% a 25% dos pacientes hospitalizados. Figura: Regulação do volume da célula cerebral durante hiponatremia. Durante hiponatremia, causada pela perda de Na+ ou excesso de H2O, ocorre difusão de H2O para as células (1) e inchaço do tecido cerebral (indicado pelas linhas tracejadas). Esse processo estimula o transporte de Na+, K + e solutos orgânicos para fora da célula (2), que, então, ocasiona difusão de água para fora das células (3). Com hiponatremia crônica, o inchaço cerebral é atenuado pelo transporte de solutos das células. Causas de Hipernatremia: Perda de Água ou Excesso de Sódio O aumento da concentração de sódio no plasma, que causa também elevação da osmolaridade, pode ser devido tanto à perda de água do líquido extracelular, concentrando íons sódio, ou a excesso de sódio no líquido extracelular. A perda primária de água do líquido extracelular resulta em hipernatremia e desidratação. Essa condição pode decorrer de deficiência da secreção do hormônio antidiurético que é necessário para que os rins conservem a água no corpo. Como resultado dos baixos níveis de hormônio antidiurético, os rins excretam grandes quantidades de urina diluída (distúrbio conhecido como diabetes insípido “central”), ocasionando desidratação e aumento da concentração do cloreto de sódio no líquido extracelular. Em certos tipos de doenças renais, os rins não respondem ao hormônio antidiurético, acarretando também o tipo de diabetes insípido nefrogênico. A causa mais comum da hipernatremia, associada à redução do volume do líquido extracelular, é a simples desidratação gerada pelo menor ganho que a perda de água pelo corpo, o que pode ocorrer com o suor durante exercícios pesados e prolongados. A hipernatremia pode também ocorrer como resultado da adição excessiva de cloreto de sódio ao líquido extracelular. Isso geralmente resulta em hipernatremia-hiperidratação, porque o excesso de cloreto de sódio extracelular costuma estar associado a, no mínimo, algum grau de retenção de água pelos rins. Por exemplo, a secreção excessiva de aldosterona, que retém sódio, pode causar discreto grau de hipernatremia e hiperidratação. A razão, pela qual a hipernatremia não é tão grave, é que a retenção de sódio causada pelo aumento da secreção de aldosterona estimula também a secreção de hormônio antidiurético e faz com que os rins reabsorvam grandes quantidades de água. Portanto, depois de observadas as anormalidades da concentração de sódio plasmática e, antes de se instituir terapia adequada, devemos considerar a causa do distúrbio na concentração plasmática de sódio: se perda ou ganho primário de sódio, ou perda ou ganho primário de água. Consequências da Hipernatremia: Murchamento Celular Hipernatremia é muito menos comum do que a hiponatremia, e sintomas graves geralmente ocorrem apenas com o aumento rápido e muito alto da concentração plasmática de sódiopara valores acima de 158 a 160 mmol/L. A razão para esse fenômeno é que a hipernatremia promove sede intensa e estimula a secreção de hormônio antidiurético, que protege contra grande aumento de sódio no plasma e no líquido extracelular, como discutido no Capítulo 29. Porém, a hipernatremia grave pode se dar em pacientes com lesões hipotalâmicas que comprometem seu sentido de sede, em crianças que podem não ter acesso imediato a água, ou pacientes idosos com estado mental alterado, ou em pessoas com diabetes insípido. Correção da hipernatremia pode ser alcançada pela administração de cloreto de sódio hipo-osmótico ou soluções de dextrose. No entanto, é prudente corrigir a hipernatremia lentamente em pacientes que já tiveram aumentos crônicos da concentração plasmática de sódio. O motivo para isso é que a hipernatremia também ativa mecanismos de defesa que protegem a célula de alterações do volume. Esses mecanismos de defesa são opostos aos que ocorrem na hiponatremia e consistem em mecanismos que aumentem a concentração intracelular de sódio e de outros solutos.
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