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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA Murilo Gaspar Mendes possui Graduação em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc, 2007) e Mestrado em Música pela mesma instituição (2012). Atualmente, é professor de Artes da Prefeitura de Jundiaí (SP), exercendo docência musical em sala de aula na faixa etária de 5 a 12 anos. É tutor presencial do polo de Rio Claro desde 2014. Tem experiências profissionais envolvendo prática musical em diversos conjuntos de música popular; pesquisa etnomusicológica sobre as flautas pífano do sertão do Cariri (CE); palestras e oficinas de capacitação de professores, entre outras atividades. E-mail: murilo2107@gmail.com Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Murilo Gaspar Mendes Batatais Claretiano 2016 HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 780.9 M492h Mendes, Murilo Gaspar História e crítica musical : música brasileira / Murilo Gaspar Mendes – Batatais, SP : Claretiano, 2016. 128 p. ISBN: 978-85-8377-509-6 1. Música popular brasileira. 2. Música brasileira. 3. História da música. 4. História do choro. 5. Estudos de música popular. I. História e crítica musical : música brasileira. CDD 780.9 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: História e Crítica Musical: Música Brasileira Versão: ago./2016 Formato: 15x21 cm Páginas: 128 páginas SUMÁRIO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 14 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE ............................................................... 19 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 20 5. E-REFERÊNCIA .................................................................................................. 21 UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 25 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 27 2.1. A “MÚSICA URBANA” NO BRASIL IMPÉRIO/REPÚBLICA ATÉ O FINAL DO SÉCULO 19 .................................................................... 27 2.2. A CONSOLIDAÇÃO DO CHORO COMO MANIFESTAÇÃO DA MÚSICA POPULAR.............................................................................. 32 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 44 3.1. A MÚSICA POPULAR NO BRASIL IMPÉRIO/REPÚBLICA ATÉ O FIM DO SÉCULO 19 ................................................................................................ 44 3.2. A CONSOLIDAÇÃO DO CHORO COMO GÊNERO MUSICAL ................... 46 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 48 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 50 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 51 UNIDADE 2 – ÉPOCA DE OURO, DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA E BOSSA NOVA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 55 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 55 2.1. PELO TELEFONE: O PRIMEIRO SAMBA GRAVADO ................................ 56 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 76 3.1. DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA ...................................................... 77 3.2. BOSSA NOVA ............................................................................................ 78 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 81 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 83 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 84 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 85 UNIDADE 3 – A ERA DO FESTIVAIS E A TROPICÁLIA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 89 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 90 2.1. A ERA DOS FESTIVAIS .............................................................................. 90 2.2. TROPICÁLIA.............................................................................................. 101 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 104 3.1. ERA DOS FESTIVAIS ................................................................................. 105 3.2. TROPICÁLIA.............................................................................................. 106 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 107 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................ 108 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 108 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS........................................................................ 109 UNIDADE 4 – DO CLUBE DA ESQUINA AO MANGUE BEAT 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................113 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 113 2.1. CLUBE DA ESQUINA ................................................................................ 113 2.2. MANGUE BEAT......................................................................................... 116 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 123 3.1. MOVIMENTO MANGUE BEAT ................................................................. 123 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 124 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 125 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 127 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS........................................................................ 127 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo Música Popular Brasileira: da chegada de D. João VI, em 1808, até os dias atuais. Principais movimentos, características, artistas e transformações que abarcam o conceito de música popular ao longo de sua História. Elo entre a História da Música Popular e a História Social, Política, Econômica e Ideológica do Brasil. Brasil Imperial/República: história do choro; surgimento do fono- grama; Época de Ouro; difusão da música nordestina; Bossa Nova, Era dos Festivais, Tropicalismo, Clube da Esquina, movimento Mangue Beat. Bibliografia Básica SEVERIANO, J.; MELLO, Z. H. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 1: 1901-1957. ______. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 2: 1958-1985. TINHORÃO, J. R. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. Bibliografia Complementar CAZES, H. L. Choro: do quintal ao municipal. 4. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. BORGES, M. Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996. CAMPOS, A. Balanço da Bossa e outras bossas. São Paulo: Perspectiva, 1974. DUARTE, P. S.; NAVES, S. C. (Orgs.). Do samba-canção à Tropicália. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/Faperj, 2003. VARGAS, H. Hibridismos musicais de Chico Science & Nação Zumbi. Cotia: Ateliê Editorial, 2007. 8 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO É importante saber Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente se- lecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. É chamado "Conteúdo Digital Integrador" porque é imprescindível para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitu- ra de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigató- rios, para efeito de avaliação. 9© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno, seja bem-vindo! Neste material, serão tratados assuntos referentes à Histó- ria da Música Popular Brasileira. Aqui discutiremos não apenas a sequência de fatos, personagens e movimentos que compõem alguns momentos da História da Música Popular em nosso país, mas também como esse desenvolvimento se deu de acordo com os mesmos momentos históricos. Devemos, portanto, discutir, antes de tudo, o conceito de música popular e compreender, como acadêmicos e praticantes, de que forma o conceito de música popular é visto, interpreta- do e trabalhado como fonte de conhecimento e estudo. Se, por um lado, a música, em seu cânone erudito (Bach, Mozart, Bee- thoven), é estudada desde os primeiros passos da pesquisa em música no Brasil, por outro, os estudos de música popular de- moraram muito mais para ser reconhecidos no ambiente musi- cológico como tema plausível, sério e digno de aprofundamento científico. Segundo Ikeda (2001), de 80 livros publicados entre 1980 e 2000, apenas três – ou seja, menos de 4% das publicações – fo- ram direcionados ao fenômeno musical. Por consequência, vere- mos que a obra História e Crítica Musical: Música Brasileira, no que diz respeito ao material sonoro em si, apresenta aprofunda- mentos e demonstrações na medida do possível. Desde 2001, a música popular vem ganhando espaço ex- ponencial no âmbito acadêmico. Veremos, em nosso material, alguns exemplos de estudos recentes que têm dado novos ru- mos ao conhecimento científico da música popular. Vemos que os estudos sobre a música popular ainda têm muito a se desen- 10 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO volver nesse sentido; isso quer dizer que estamos caminhando no sentido de análises rítmicas, harmônicas, melódicas, relações letra-música etc. cada vez mais ricas e precisas. Há materiais sonoros bem valiosos na música popular e aqueles não tão ricos em recursos musicais, mas que, de uma forma ou de outra, merecem uma análise mais profunda para uma reflexão sobre seu contexto, processos composicionais, re- cursos e significados sonoros etc. Segundo Béhague (2006, p. 70), A Etnomusicologia tem insistido, já de longa data, na tal da perspectiva “êmica” nos estudos das chamadas músicas tradi- cionais, mas, de modo geral, os estudos de música popular não apresentam em medida significativa essa preocupação, talvez por serem sem dúvida multi e inter-disciplinares. De fato, as músicas populares têm sido estudadas por musicólogos, et- nomusicólogos, historiadores, sociólogos, antropólogos, pes- quisadores em comunicação, em estudos da performance, em estudos e práticas culturais, em ciência política, em literatura e até em linguística, semiótica, economia e finanças. E muitas vezes com vistas ao modernismo, pós-modernismo, pós-colo- nialismo, globalização, hibridez, autenticidade, sem esquecer hegemonia, cooptação e resistência. Em vista de tantas vertentes, a crítica do autor citado recai sobre a pouca importância dada à música em seu fenômeno so- noro. Este trabalho não tem a pretensão de contemplar maiores aprofundamentos em um ou outro momento histórico ou aspec- to social no qual está envolvido, mas elencar alguns momentos históricos em que a música esteve envolvida de forma mais evi- dente, para que cada estudante possa escolher e buscar novos caminhos, ao fim do curso, naquilo que lhe é de maior interesse. Nesse contexto, convidamos você a adentrar a história da música popular, ou música urbana brasileira em seus gêneros e 11© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO estilos. Mas o que define um gênero? O que define “estilo musi- cal”? Seria a música popular aquela das mídias? O que faz com que uma música seja popular, folclórica ou erudita? Desejamos que essas provocações permeiem suas reflexões quanto ao con- teúdo do curso. Na Unidade 1, teremos o desenvolvimento da música en- tre as camadas subalternas de um princípio de sociedade. Após a chegada da Corte portuguesa em 1808, músicas como o lundu, de matriz africana, misturaram-se à polca europeia, formando o maxixe, que consolidou o choro. Além disso, veremos como o investimento daCorte na busca por músicos de boa qualidade para animá-la influenciou a música urbana daquele momento. Na Unidade 2, estudaremos o início das gravações. O pri- meiro choro e o primeiro samba gravados começam a transfor- mar a música urbana. Teríamos aí os primeiros indícios do que chamaríamos música popular? O fato é que a maneira de encarar a música e a maneira de encarar o sucesso por meio da música se transformaram à medida que a indústria fonográfica começou a se desenvolver no Brasil. A Época de Ouro foi um período em que o samba e o cho- ro estiveram definitivamente distintos um do outro, e a canção é predominante no período em que ficou conhecido também como Era do Rádio. O rádio, surgido em 1922, foi mais um passo para a difusão da música e das primeiras seleções das preferên- cias e escolhas musicais. A difusão da música nordestina tem como cerne o nome de Luiz Gonzaga, primeiro nordestino a ganhar espaço no rádio do Rio de Janeiro com a própria música nordestina. 12 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Luiz Gonzaga é, até hoje, referência primordial quando se pensa no assunto. O cantor, sanfoneiro e compositor, abriu por- tas direta e indiretamente para uma série de artistas, como Fag- ner, Elba Ramalho e Dominguinhos. Já no final dos anos 1950, a Bossa Nova apresenta o pri- meiro rompimento imediato com a estética de até então, ino- vando na maneira de cantar, harmonizar e arranjar as músicas. O cool jazz chega ao Brasil e ganha nova roupagem por meio da sonoridade de Dick Farney e Johnny Alf, este último considerado por Tom Jobim – principal articulador do movimento – como o “pai da Bossa Nova”. Em 1959, a canção “Chega de Saudade” apresentou em si toda a estética do movimento e se tornou o principal ponto da implementação da Bossa Nova. A Bossa Nova inova, principal- mente, no ritmo e na batida diferente do samba que João Gil- berto trouxe. Na Unidade 3, temos o adensamento de manifestações em um curto período de tempo. A partir do golpe militar de 1964, o Brasil passa por transformações, entre elas, a própria música popular. Dessa efervescência vemos surgir a Era dos Festivais e o conceito de MPB. Veremos de que forma os festivais da canção serviram como ponto de encontro entre artistas e novas formações mu- sicais, dando início a uma nova revolução na música popular chamada Tropicália. A Tropicália, ou Tropicalismo, foi um movi- mento que visava agregar tudo que havia em música brasileira, retratando o Brasil em sua sociedade, paisagem, história artística etc. 13© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO A Tropicália também foi influenciada por elementos da vanguarda, da moda, da Pop Art, do rock mundial, da psicodelia britânica e experimentações da música erudita, com os arranjos de Rogério Duprat, ex-aluno do alemão Karlheinz Stockhausen. Com isso, o conceito de MPB se transformou, abarcando muitas tendências musicais. A Unidade 4 trata do Clube da Esquina, o qual apresenta novidades e influências na música popular brasileira. O movi- mento não apenas influencia a música brasileira, mas, também, a música internacional. Inovações de ritmo, harmonia, timbre, arranjos e densidade aparecem na combinação entre letristas, intérpretes e arranjadores de inegável competência. Dentro de uma “entressafra” musical, já nos anos 1980, as gravadoras investiram no que se chamou Rock Nacional, Pop Rock Nacional ou BRock. Grupos como Blitz, Titãs, RPM e Legião Urbana surgem em três eixos: Rio de Janeiro, São Paulo e Brasí- lia. O Rock Nacional pôs definitivamente em xeque a função que a indústria fonográfica exerce sobre a cultura musical brasileira. Na Recife dos anos 1990, o movimento Mangue Beat agre- ga novamente a Antropofagia do Modernismo e do Tropicalismo, protestando contra as condições sociais que o crescimento da cidade, entre outros aspectos, provoca na piora da qualidade de vida local. Tendo como símbolo uma antena parabólica enfiada na lama, os hibridismos ocorrem entre o folclore pernambucano (tanto o maracatu quanto o coco) e a música global, com influên- cias do rock, punk e hip-hop. Alguns artistas não serão vistos neste estudo devido à grande diversidade de artistas brasileiros de expressão. Não seria possível um aprofundamento sobre todos em apenas um semestre. Contudo, não ser abordado nesta obra não significa 14 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO que o artista tenha menos valor do que aqueles aqui citados. Por isso, é importante que você pesquise sobre os demais para aprofundar seus conhecimentos. Convidamos você a ler, refletir e contribuir com seus cole- gas de turma sobre os temas estudados e seus aprofundamentos. Bons estudos! 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí- nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci- mento dos temas tratados. 1) AI-5 (Ato Institucional nº 5): decreto emitido pelo re- gime militar que suspendeu direitos constitucionais e deu ao presidente poderes extraordinários. O AI-5 de- clarava o que se chamou “linha dura” da ditadura. A partir de 1968, com sua implementação, muitos artis- tas, escritores e jornalistas tiveram de deixar o país ou foram perseguidos, presos e torturados. 2) Baião: ritmo nordestino que representou a música do Nordeste brasileiro durante a difusão de sua música nos anos 1940 e 1950. 3) Bebop ou Modern Jazz: estilo de jazz surgido nos Esta- dos Unidos nos anos 1940, o bebop tinha como carac- terística o ritmo frenético, a improvisação e o virtuosis- mo. Os nomes que figuram na difusão e consolidação do bebop são o de Charlie Parker e Dizzy Gillespie. 4) Bossa Nova: gênero musical consolidado a partir de 1959 por meio da interpretação, por João Gilberto, 15© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO da canção “Chega de Saudade”, de autoria de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes. A Bossa Nova se vale da estética do cool jazz. Esse gênero influenciou movimentos, estilos e gêneros subsequentes e conti- nua influenciando artistas até os tempos atuais. Entre os principais nomes, temos Tom Jobim, Johnny Alf, Car- los Lira, Nara Leão, Roberto Menescal, entre outros. 5) Choro: gênero musical formado no final do século 19 no Rio de Janeiro a partir da convivência entre a músi- ca de precedência europeia (polca) e africana (lundu). O choro é considerado como o primeiro ritmo de mú- sica urbana instrumental brasileira. 6) Clube da Esquina: movimento musical integrado por Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Márcio Borges, Túlio Mourão, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso, entre outros – em sua maioria, músicos mineiros –, que se tornou conhecido a partir do lançamento, em 1972, do LP Clube da Es- quina, liderado por Milton Nascimento e Lô Borges. O disco projetou a carreira individual de muitos dos mú- sicos participantes, como Toninho Horta, Wagner Tiso e Beto Guedes, entre outros (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2016). 7) Cool jazz: de andamento mais moderado, o cool jazz é mais uma vertente do jazz norte-americano. Opõe-se ao bebop, não apenas pelo andamento, como também pela homogeneidade da instrumentação, ou seja, não dá ênfase a improviso, virtuosismo e destaque dema- siado em um único instrumento. 8) Época de Ouro: um conceito que abarca o apogeu do rádio no Brasil, nos anos 1930 e 1940, até seu declínio, 16 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO diante do advento da televisão, nos anos 1950. O pe- ríodo foi marcado também pelo bom número de com- positores e cantores competentes. A expressão “Época de Ouro”foi cunhada por jornalistas da Revista de Mú- sica Popular em sua primeira edição, de 1954. 9) Era dos Festivais: com seu apogeu entre 1965 e 1968, os “Festivais da Canção”, “Festivais da MPB” ou a “Era dos Festivais” foram responsáveis por determinar uma estética que contribuía para o uso mais intenso da si- gla MPB. O formato de composição que agradava ao público foi, aos poucos, ganhando forma, sendo a MPB então reservada àquele estilo musical. Os festivais fo- ram responsáveis, durante seu período áureo, pelo ressurgimento, revitalização, mudança do estilo ou pelo reacender de muitos compositores e intérpretes competentes (que já não faziam mais tanto sucesso). 10) Fonograma: nome técnico dado ao resultado final do processo de gravação. Arquivo de gravação. 11) Forró: manifestação cultural ou evento no qual a músi- ca é protagonista com diversos ritmos nordestinos, in- clusive o baião e o próprio ritmo denominado também como “forró”. 12) Harmonia: “conjunto de sons dispostos em ordem si- multânea (concepção vertical da música)” (MED, 1996, p. 11). 13) Jazz: gênero musical de origem essencialmente negra. Tem seu início em Nova Orleans (no Sul dos Estados Unidos), no final do século 19. Suas características in- cluem notas “swingadas”, blue notes, improvisação, virtuosismo. Sua origem instrumental é semelhante à 17© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO das bandas marciais, porém atualmente abarca, prati- camente, todo tipo de instrumentação ocidental. Suas variações de estilos e desdobramento do gênero são bem amplos. O jazz fusion, o bebop e o cool jazz são alguns exemplos. 14) Jazz-band: formação instrumental do início do século 20 que tinha como principal foco o de jazz. 15) Lundu: ritmo sincopado proveniente das comunidades negras do século 17, com registros do século 18, que, amalgamado às tendências europeias, deu vida a gê- neros como o choro, o maxixe e o samba. 16) Mangue Beat: movimento artístico dos anos 1990, surgido na cidade de Recife (PE). O movimento tem como base a diversidade e o hibridismo entre a música global e local, ou seja, ritmos folclóricos regionais mes- clados ao rock internacional. Além disso, o punk e rock entram em cena como protestos contra a desigualda- de em Recife. 17) Marchinha: mais do que apenas um ritmo específico, um estilo musical direcionado a animar os carnavais (com seu apogeu dos anos 1930 aos 1950), que envol- ve uma linguagem específica em suas letras. 18) Maxixe: estilo musical originário da fusão entre polca e lundu, de ritmo tido como despudorado e sensuali- zado em demasia. 19) Modinha: quase uma ária operística, com inclinações para o lírico e o melancólico. A modinha surge em fins do século 18, derivada da moda portuguesa, e influen- cia as canções urbanas do Rio de Janeiro no final do século 19. 18 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 20) MPB: sigla que varia de acordo com cada período. Atualmente, MPB é usada para definir um apanhado de gêneros musicais, porém de forma volátil e fugidia. A MPB representou, nos anos 1960 (ver o conceito Era dos Festivais), um molde específico para festivais. Posteriormente, o Tropicalismo incorporou, por meio dos mesmos artistas que contribuíram com a primeira construção do conceito, desde a música brega até os arranjos vanguardistas com a utilização de quartetos de cordas e influências dos Beatles. 21) Polca: gênero musical de origem europeia, ritmo biná- rio e andamento allegretto. 22) Rock Nacional: termo usado nos anos 1980 para desig- nar as tendências midiáticas da música brasileira, haja vista o rock, que ganhou características próprias e uma identidade nacional, na medida em que se diferencia- va das tendências internacionais do punk e do heavy metal. 23) Tango: de origem mexicana e cubana, chegou ao Brasil também em meados do século 19. Contudo, o nome vigorou no Brasil ao mascarar ritmos discriminados, como o maxixe. Difere-se do tango que conhecemos atualmente (inclusive, este que estudamos no choro passou a se chamar “tango brasileiro” após a difusão do “tango argentino”). 24) Tropicália: movimento artístico musical ocorrido no ano de 1969. O disco Tropicália, com os artistas Cae- tano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Nara Leão, Torquato Neto, Capinam, Gal Costa e o maestro Rogério Duprat foi concebido com a função antropofágica (retoman- do Oswald Andrade), colocando, “na mesma panela”, 19© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO a vanguarda musical do rock inglês e americano, as raízes folclóricas brasileiras, o brega e “cafona”, a poe- sia concreta, a nova instrumentação elétrica, vanguar- das da música erudita e o que se entendia até então como MPB. O movimento tinha, em sua cena musical, as artes visuais e cênicas trazidas ao palco por meio de novo figurino, maquiagem e atitudes por vezes re- beldes, por vezes exóticas. Apesar do movimento em si ter-se acabado pouco tempo após surgir, com a pri- são de Gilberto Gil e Caetano Veloso, sua influência se frutificou em muitos outros artistas e discos dos anos 1970. 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos concei- tos mais importantes deste estudo. 20 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de História e Crítica Musical: Música Brasileira. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÉHAGUE, G. Música “erudita’’, “folclórica” e “popular” do Brasil: interações e inferências para a musicologia e etnomusicologia modernas. Latin American Music 21© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Review/Revista de Música Latinoamericana, Austin: University of Texas Press Stable, v. 27, n. 1, p. 69-78, spring/summer, 2006. IKEDA, A. T. Pesquisa em música popular urbana no Brasil: entre o intrínseco e o extrínseco. In: CONGRESO LATINOAMERICANO IASPM – INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF POPULAR MUSIC, 3., 2001. Actas... Bogotá: IASPM/ASAB – Academia Superior de Artes de Bogotá/Ministerio de Cultura de Colombia, 2001. MED, B. Teoria da Música. 4. ed. Brasília: Musimed, 1996. 5. E-REFERÊNCIA INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN. Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira. Disponível em: <www.dicionariompb.com.br/clube-da-esquina/dados-artisticos>. Acesso em: 1 jul. 2016. © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA 23 UNIDADE 1 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Objetivos • Compreender o princípio da organização social/musical a partir do Brasil Imperial. • Conhecer alguns nomes que fizeram a História da Música Popular no Bra- sil Imperial. • Conhecer o que é tido como principal profissional e a função social da Música Popular antes da chegada da Corte portuguesa (1808). • Entender por que tomamos a chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, como marco determinante do princípio da formação da Música Popular no Brasil. • Conhecer ritmos e gêneros das primeiras formações urbanas no Rio de Janeiro. • Conhecer os nomes mais influentes na formação da Música Popular no período imperial e na República. • Estudar quem e qual a função social daquele que construía a Música Po- pular durante o mesmo período. Conteúdos • Música de barbeiros. • Lundu, modinha e polca. • Joaquim Callado, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga. 24 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteú- do Digital Integrador. 2) Procure apreendere compreender os conceitos que definem gêneros mu- sicais e estilos ligados ao contexto histórico estudado. 3) Procure ouvir com atenção os exemplos de áudio postados no corpo do texto. 25© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL 1. INTRODUÇÃO Vamos iniciar nossa Unidade 1 de estudo: você está preparado? Nesta unidade, visitaremos o Brasil Imperial e a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808. Veremos por que toma- mos esse marco como ponto de partida nos estudos de Música Popular e como esse fato determinou alguns aspectos da cultura brasileira e, consequentemente, sua música. Tomando como ponto de partida a Música Popular brasilei- ra, com seus primeiros registros datando a partir da presença da Corte portuguesa no Brasil, em 1808, devo frisar que não se tem registro de uma História da Música Popular “brasileira” nesse pe- ríodo, mas, sim, fragmentos de uma História da Música Popular da cidade do Rio de Janeiro. Contudo, é válido o nosso esforço para uma melhor com- preensão dos fatos e da história de que se tem algum conheci- mento, pois, dessa forma, poderemos alcançar o fio condutor que liga o passado ao presente, com o objetivo de compreender a Música que estudamos, vivenciamos, compomos etc. Muitas vezes, a história desse período – principalmente levando-se em conta as relações de poder explícitas entre histo- riadores e os interesses das camadas abastadas – pode ser vaga e tendenciosa. Assim, as pesquisas acadêmicas relativamente recentes, ao passo que buscam desmitificar e olhar esse período de forma mais imparcial, apontam suas dificuldades em descrever fatos históricos precisos sobre alguns aspectos da Música Popular dos 26 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL séculos 18 e 19. O Brasil foi colônia de Portugal até 1822, sem permissão de ter imprensa livre, o que também dificulta regis- tros escritos. Como exemplo dessas dificuldades, podemos citar o lun- du. Apesar de ser palavra indispensável a quem deseja estudar a História da Música Popular desse período e até mesmo a conso- lidação de gêneros subsequentes, não há gravações, partituras ou até mesmo descrições consistentes, em nível acadêmico, das propriedades estruturais e sonoras desse gênero musical, pro- veniente das comunidades negras do século 17, como temos de determinados gêneros bem mais antigos. A maioria da população brasileira era analfabeta, portanto, grande parte da história foi transmitida em tradição oral, e algu- mas por meio de cantos, passada por gerações. No segundo tópico desta unidade, veremos como o choro se consolidou como gênero musical. Passaremos por alguns dos principais nomes da história do gênero, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Pixinguinha. É im- portante saber que os “chorões” não se esgotam nesses nomes, sendo inúmeros aqueles que contribuíram e ainda contribuem com o choro no Brasil. Certamente o assunto não se esgota nessa pequena amostra que visa instigar o leitor à pesquisa. Com as leituras propostas no Tópico 3. 1, você poderá aprender mais sobre o processo histórico dos estudos em Mú- sica Popular no Brasil e se aprofundar, também, no conceito de Música Popular, além de ouvir, na íntegra, algumas gravações de um artista que estudaremos a seguir. Descubra de quem estamos falando! 27© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar. • Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Vi- deoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos. • Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e sele- cione: História e Crítica Musical: Música Brasileira – Vídeos Comple- mentares – Complementar 1. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su- cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú- do Digital Integrador. 2.1. A “MÚSICA URBANA” NO BRASIL IMPÉRIO/REPÚBLICA ATÉ O FINAL DO SÉCULO 19 Nesta unidade, passaremos por alguns momentos histó- ricos, por meio dos quais poderemos contextualizar a música popular, urbana ou das camadas populares em seu viés social, conscientes de que suas propriedades sonoras não são precisas, ou até talvez não tenham existido, considerando a pouca impor- tância dada ao assunto e a falta de recursos tecnológicos na épo- ca em que os processos referidos se passaram. 28 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Os primeiros passos na formação da música urbana no Brasil Neste subtópico, apontaremos os indícios que o pesquisa- dor e jornalista José Ramos Tinhorão nos fornece sobre a for- mação das primeiras manifestações de Música Popular no Brasil, algo que ocorre concomitantemente às primeiras formações ur- banas no nosso país. Segundo Tinhorão (1998), foi em meados do século 18 que ocorreram os primeiros passos do que o autor entende ser “mú- sica popular”. Com os primeiros adensamentos populacionais no Rio de Janeiro (cerca de quarenta e três mil pessoas no ano de 1763) e em Salvador (pouco mais de trinta e sete mil e qui- nhentas pessoas em 1755), houve necessidade de uma música própria para festejos. Assim, surge uma espécie de profissional indicado para tal finalidade: o barbeiro. O barbeiro, pela brevidade mesma do serviço (fazer barba ou aparar cabelos era questão de minutos), sempre acumulara outras atividades compatíveis com sua necessária habilidade manual, e que era representada pela função de arrancar dentes e aplicar bichas (sanguessugas). Essas especialidades, sempre praticadas em público, situavam os barbeiros numa posição toda especial em relação às profissões mecânicas ou demais atividades de caráter puramente artesanal. E como seus ser- viços em tal atividade liberal lhe permitiam tempo vago entre um freguês e outro, os barbeiros puderam aproveitar esse lazer para o acrescentamento de outra arte não-mecânica ao quadro de suas habilidades: a atividade musical (TINHORÃO, 1998, p. 157-8). Podemos compreender, por meio das palavras de Tinhorão (1998), que os barbeiros utilizavam seu tempo hábil para apren- der instrumentos musicais. Não precisando exercer o duro traba- lho em lavouras ou outros serviços de maior desgaste físico, suas mãos eram capazes de manusear instrumentos tecnologicamen- 29© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL te mais aprimorados, como trombetas e rabecas. Além disso, ao reunirem-se em conjunto, poderiam tocar pelo simples prazer, sem compromisso com cerimoniais ou qualquer exigência exter- na, ou seja, em função de sua própria criatividade e deleite esté- tico (TINHORÃO, 1998). A influência da chegada da Corte real portuguesa em 1808 Neste momento, teremos como foco as transformações ocorridas no Rio de Janeiro a partir da chegada da Corte por- tuguesa, em 1808 – por exemplo, os costumes, objetos, vesti- mentas, alimentação e outros aspectos da cultura local, pois, naturalmente, a família real não abriria mão das “benesses que desfrutava na Europa” (DINIZ, 2008, p. 42). Com isso, os serviços prestados à Coroa tiveram também de ser reformulados. Nos 13 anos que seguiram, o Rio de Janeirose transformou não apenas na capital do Brasil, mas também era a capital de todo o Império Português, com o aparato de Estado que veio transferido de Lisboa: poderes, justiça, biblioteca etc. É exatamente neste aspecto que a música popular local sofre suas principais transformações: Com a chegada da Família Real portuguesa, em 1808, a vida musical da corte (e da colônia como um todo) se diversifica, com a entrada da música clássica germânica (sobretudo a partir da obra de Haydn) e da ópera napolitana. Na verdade, Haydn já era conhecido no Brasil antes da chegada do seu principal discípulo, o maestro Sigismund Neukomm, sendo uma das prin- cipais influências do padre e compositor carioca José Maurício Nunes Garcia (NAPOLITANO, 2002, p. 42). Dessa forma, a música popular na Colônia real no Rio de Janeiro foi se transformando à medida que a Corte bancava mú- sicos europeus ou mesmo escolas que capacitassem negros ou 30 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL mestiços a atender, musicalmente, o gosto e o apreço pela, até então, música erudita que estava em voga na Europa. Com isso, trabalhadores subalternos tinham nova referência musical, com músicos e repertório diversificado, ocasionando os primeiros hí- bridos entre a influência africana e europeia no Brasil. De acordo com Napolitano (2002), a Real Fazenda Santa Cruz é tida como verdadeiro conservatório musical para negros cujo objetivo era divertir a Corte. Com isso, podemos observar a forte influência da Corte portuguesa na música popular. Se os negros divertiam a corte com a música erudita euro- peia, seriam esses mesmo músicos os responsáveis por animar festas, folguedos, rodas e o que fosse das tradições populares da época. Negros divertiam-se, agora incorporando a linguagem musical exigida pela Corte em sua musicalidade: Criou-se, entre negros e mestiços da corte e das principais vilas e cidades, escravos e libertos, uma tradição musical complexa plural, que trazia elementos diversos enraizados do século XVII e início do XIX (música sacra, danças profanas, modinhas e lun- dus), reminiscências de danças e cantos dramáticos (jongo, por exemplo), estilos e modas musicais européias “sérias” (neste campo, o barroco foi dominante) e ligeiras, como a polca e a valsa (NAPOLITANO, 2002, p. 30). Lundus, modinhas e polcas Neste subtópico, veremos algumas considerações e descri- ções sobre três gêneros que influenciaram a Música Popular no Brasil Colonial. Evidentemente, temos outros gêneros, como o maxixe, chulas, cocos, caxambus e tiranas, mas, nesta Unidade 1, iremos nos ater a esses três gêneros pela sua forte presença naquele momento histórico e sua importância na formação de gêneros subsequentes. 31© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Lundu Apesar de não termos disponíveis fontes que apontem para características estruturais do lundu – forma, padrões rítmi- cos, melodias etc. –, é unânime a visão de que é um ritmo muito importante como manifestação popular e presente na identida- de popular, principalmente negra: Sobre o lundu, os autores, de uma forma unânime, precisam a origem negro/africana e o posterior abrasileiramento, ainda no período colonial. Mário de Andrade, no final dos anos 20, che- gou a considerá-lo como “canto e dança populares” no Brasil durante o século XVIII. Teria sido marcado pela síncopa e umbi- gadas, observando-se uma certa influência espanhola (ABREU, 2001, n. p.). Além disso, o lundu ainda formou o maxixe, que se cha- mou de “tango brasileiro” (para esquivar-se da discriminação), música de características que, mais tarde, se incorporariam ao complexo de ritmos do choro: O lundu, por exemplo, teria sido a reunião dos cantos e sam- bas das toadas e dos batuques africanos. Da mistura com o indígena, o lundu teria propiciado o surgimento de um novo sentimento musical e, ao propagar-se entre os mestiços, “iden- tificou-se com o sentimento pátrio”, produzindo a “nossa chula e o nosso tango ou o nosso lundu propriamente dito” (MELLO, 1908 apud ABREU, 2001, n. p.). Modinha A modinha, diferentemente do lundu, possui sua essência europeia voltada ao lirismo e o amor devotado a “musas quase sempre intangíveis” (SILVA JR., 2005): A modinha trazia a marca da melancolia e uma certa pretensão erudita na interpretação e nas letras, sobretudo na sua forma clássica, adquirida ao longo do II Império. Quase uma ária ope- 32 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL rística, com inclinações para o lírico e o melancólico. A modinha surge em fins do século XVIII, derivada da moda portuguesa (NAPOLITANO, 2002, p. 40). Na modinha, encontramos o nome de Domingos Caldas Barbosa dedicado ao gênero. Foi um tipo de canção desenvolvida na Corte portuguesa, com letras que expressavam ternura e se- dução sofisticada, com tendências ao canto lírico e melancólico. Domingos Caldas Barbosa trocou o piano-forte pela viola de arame, fazendo muito sucesso em Portugal a partir de 1775 na Corte de D. Maria I. A modinha se enraizou no Brasil por meio da obra do Padre José Maurício e Cândido Ignácio da Silva (NA- POLITANO, 2002). Polca Em meados do século 19, a polca se tornou uma febre nos salões (NAPOLITANO, 2002). Enquanto a modinha tinha caracte- rísticas líricas e melancólicas, a polca era a oportunidade que se tinha de dançar de rosto colado, paquerar etc. Em ritmo binário e andamento allegretto, a polca embalou os salões europeus e depois os brasileiros. No Brasil, a polca foi-se misturando a outros gêneros e à musicalidade afro-brasileira para formar características próprias em seu desenvolvimento, como veremos no tópico a seguir. 2.2. A CONSOLIDAÇÃO DO CHORO COMO MANIFESTAÇÃO DA MÚSICA POPULAR Neste tópico, buscaremos compreender como o choro se consolidou como gênero e identidade musical brasileira. Passa- 33© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL remos por alguns dos principais nomes da história do gênero, que certamente não se esgotam nesta pequena amostra, que visa instigar o leitor à pesquisa. Além disso, podemos investigar qual é a influência do gênero nos dias atuais. Os primeiros “chorões” Entende-se como “chorão” todo aquele praticante do gê- nero choro. Já a palavra “choro” traz a primeira discussão dentro do gênero. Qual seria a origem ou o que determinaria que o gê- nero seria chamado “choro”? Da maneira como sintetiza Diniz (2008), o maestro Baptista Siqueira parte do princípio de que teria vindo da “‘colisão cultu- ral’ entre ‘choro’ (de chorar) e chorus (em latim, ‘coro’, pequeno grupo)” (DINIZ, 2008, p. 29). Já o folclorista Luís da Câmara Cascudo acredita que seria proveniente da palavra “xolo” – festa realizada por negros nas fazendas do período colonial – e que teria chegado aos centros urbanos como “choro”. O pesquisador Ary Vasconcelos atribui a origem do termo aos “charameleiros” – grupo musical com instrumentistas de so- pro (que tocavam, inclusive, a “charamela”), que passou poste- riormente a ser chamado “chorameleiros”, dando assim nome popular a qualquer grupo que tenha instrumento de sopro. Na visão de José Ramos Tinhorão, a nomenclatura teria surgido das “baixarias”, ou seja, linhas de baixo executadas no violão tidas como praticamente um choro (DINIZ, 2008). Na segunda metade do século 19, na cidade do Rio de Ja- neiro, o telégrafo, as primeiras tentativas de industrialização, as melhorias na capital do Império advindas das riquezas proporcio- 34 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DAMÚSICA URBANA NO BRASIL nadas pelo café, estradas de ferro, gasômetro (para iluminação a gás), obras de canalização de esgoto e a primeira experiência com a luz elétrica proporcionaram transformações na conjuntura urbana do Rio de Janeiro, dentre as quais está o desaparecimen- to dos conjuntos de barbeiros: [...] essa multiplicação de obras e negócios (...), ao implicar na divisão de trabalho, iria alterar a simplicidade do quadro social herdado da colônia e do primeiro reinado, e isso se traduziria no aparecimento, ao lado da figura do moderno operário indus- trial (as velhas fábricas de chapéus e calçados vinham somar-se a outras, como a primeira fábrica de chocolate em 1864 e a de fumo e cigarros em 1874), das camadas algo difusas dos peque- nos funcionários de serviços públicos – repartições civis e mili- tares, Correios e Telégrafos, Alfândega, Casa da Moeda, Arsenal da Marinha, Estrada de Ferro Central do Brasil, e de pequenas empresas particulares (inglesas, belgas e norte-americanas) da área dos transportes urbanos, da produção de gás e da ilumina- ção pública (TINHORÃO, 1998, p. 194). Ou seja, com o rearranjo do sistema de serviços e empre- gos, são os funcionários públicos e de alguns setores de empre- sas particulares aqueles com o privilégio de gozar da convivência por meio da Música. Logo, há também uma reformulação de ca- madas sociais, deixando-se para trás a antiga divisão entre se- nhores e escravos. Assim, enquanto os melhores situados na distribuição dos em- pregos procuravam equiparar-se à burguesia europeia (...), a ca- mada mais ampla dos pequenos burocratas passava a cultivar a diversão familiar das reuniões e bailes nas salas de visita, ao som da música agora mais comodamente posta ao seu alcan- ce: a dos tocadores de valsas, polcas, schottisches e mazurcas à base de flauta, violão e cavaquinho (TINHORÃO, 1998, p. 195). Note-se que Tinhorão expõe, ao mesmo tempo, duas ver- tentes da formação do choro: ritmos/estilos/gêneros e a instru- 35© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL mentação. Teremos como base, nesse momento da História, a formação de flauta, cavaquinho e violão. Contudo, com o decor- rer do tempo, iremos nos deparar com outros instrumentos que compõem a roda de choro: bandolim, clarinete, escaleta, acor- deom, trombone etc. Antes de explicar as estruturas rítmicas dos gêneros que compõem o choro, falaremos sobre os primeiros nomes que marcaram a História do gênero. Joaquim Antônio da Silva Callado, nascido em 11 de julho de 1848, foi o primeiro grande nome de expressão dentro daqui- lo que passou a se chamar “choro”. Aclamado por sua destreza na flauta e belas composições, Joaquim Callado foi registrado por um chorão que escreveu um dos principais documentos da História do choro. Antônio Gonçalves Pinto, conhecido como “Animal”, regis- trou, em seu livro Reminiscências de um Chorão Antigo (1936), al- guns acontecimentos da vida de Callado que o deixaram famoso. Entre eles, destacamos o duelo que travou com um mú- sico – um tanto trapaceiro – que, sem que Callado percebesse, desatarraxou algumas chaves de sua flauta. Mas o “infeliz” não contava que seria “derrubado” por Callado que, mesmo sem po- der fazer algumas notas, se sobressaiu a seu oponente (PINTO, 1936). Neste livro de memória musical - O choro: reminiscências dos chorões antigos - destaca-se o papel de Joaquim Callado nos bailes e salienta-se que “Callado foi um flautista de primei- ra grandeza, e ainda hoje é lembrado e chorado pelos músicos desta época (...). Festa sem ele era uma tristeza, pois tinha se 36 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL tornado um Deus para todos que tinham a felicidade de ouvi-lo”. (PINTO, 1936, p. 11 apud DINIZ, 2008, p. 26). De acordo com Diniz (2008), a polca foi a grande novida- de no ano de 1845. Com ela, os moços e moças podiam dançar juntinhos, ao contrário das danças anteriores, como minuetos e quadrilhas. A polca chegou para transformar as festas da socie- dade, com melodias saltitantes e compassos binários, sendo um ritmo que não apenas empolgou e transformou, mas se tornou estrutura básica para consagrar nomes como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. De maneira geral, em uma adaptação à música popular ca- rioca, o ritmo da polca é tido, em seu acompanhamento, pelo ostinato – como podemos notar na peça de Ernesto Na- zareth intitulada “nenê”. Figura 1 Trecho da peça nenê de Ernesto Nazareth. Compassos 2 a 5. Assim, a peça composta em 1895 é um exemplo da inser- ção da polca na consolidação do choro como gênero e identida- de musical nos últimos anos do século 19. Contudo, uma leitura 37© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL mais atenta da Figura 1 fará com que notemos a palavra “tango” no lugar no qual se descreve o ritmo da música. O tango, de origem mexicana e cubana, chegou ao Brasil também em meados do século 19. Porém, difere do tango que conhecemos atualmente (inclusive este que estudamos no choro passou a se chamar “tango brasileiro” após a difusão do tango argentino). A incorporação da nomenclatura do tango no final do século 19 será explicada a seguir. Se havia, no choro, a fusão entre polca e lundu, denomi- nada maxixe, ele mesmo era severamente criticado e banido da alta sociedade, sendo a palavra “maxixe” tida até como palavra de baixo calão e inaceitável pela sociedade mais elitista. Contu- do, dessa mesma sociedade partiam aqueles que compravam e consumiam partituras das composições dos chorões. Logo, a polca-lundu (ou maxixe) perdeu força nos títulos (apenas nos títulos) das partituras. Era possível até intitular obras como polcas, mas o nome do tango estava mais em voga e con- tribuía com as vendagens. A citação a seguir demonstra como o maxixe se inseriu como uma espécie de disfarce no repertório popular carioca – uma vez considerada a “indecência” da dança: Em 1883, porém, o ator Francisco Correia Vasques mencionou e fez executar em público a dança proibida, assim na peça cô- mica de sua autoria encenada no teatro Santana e intitulada Aí, caradura, o maxixe foi dançado para o público de classe média que comparecera ao teatro para este fim. Mas a partitura do re- ferido maxixe indicava polca-tango, o que provava que o maxixe já era divulgado através do título tango, o que era bem aceito, executado e com penetração nos salões da elite (TINHORÃO, 1986, p. 69). Nota-se que o tango brasileiro funcionava, portanto, como nomenclatura que se afinava com as elites, ao passo que facilita- 38 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL va a circulação e o comércio de partituras dos compositores. Na composição “Só no Choro”, de Chiquinha Gonzaga, podemos ob- servar, na parte A, a presença da célula rítmica básica do lundu e, na parte C, a rítmica da polca, o que demonstra já em Chiquinha Gonzaga a hibridez dos gêneros populares da segunda metade do século 19, compondo um único gênero chamado “choro”. Figura 2 Parte A da peça “Só no Choro” de Chiquinha Gonzaga. Figura 3 Parte C da peça “Só no Choro” de Chiquinha Gonzaga. Note que a célula do ritmo melódico do lundu aparece com frequência na forma característica . Ain- da assim, o lundu, em sua base rítmica, se apresentava também pelo ostinato . Já em Chiquinha Gonzaga, a peça intitulada “Atraente” (por atrair a atenção de muitos nas salas de choro) tem a polca como 39© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL estrutura básica para sua composição. Noteque o acompanha- mento do piano em compasso binário apresenta um ostinato de colcheia – pausa de semicolcheia – e semicolcheia (no final do primeiro tempo), seguido de duas colcheias no segundo tempo: Figura 4 Trecho da polca “Atraente” de Chiquinha Gonzaga. Duas interpretações –––––––––––––––––––––––––––––––– Grupo Chiquinha Gonzaga interpreta “Atraente”, de Chiquinha de Gonzaga (1887). Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=G9D-Gvq5rbs>. Acesso em: 22 jun. 2016. Grupo Choronas faz interpretação contemporânea no Sesc Consolação (2011) do “Atraente/Corta Jaca”, ambas também de Chiquinha Gonzaga: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FrzLSM92YyM>. Acesso em: 22 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Apesar de não termos datas mais precisas, os registros históricos apontam para um início do choro no Rio de Janeiro na segunda metade do século 19. Veremos mais à frente alguns documentos que marcaram os primeiros passos do choro, como a primeira partitura de que se tem conhecimento e a primeira gravação. 40 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Anacleto de Medeiros e a primeira gravação de um choro A primeira gravação de um choro de que se tem conheci- mento foi realizada em 1902. “Brejeiro”, composta por Ernesto Nazareth, foi arranjada para banda marcial pelo maestro Anacle- to de Medeiros, que regia a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Essa gravação de 1902 foi realizada pelo técnico de áudio Frederico Figner, que era húngaro e vivia no Rio de Janeiro. Primeiro choro gravado ––––––––––––––––––––––––––––– Ouça a gravação da composição “Brejeiro”: disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=xMZjZ6fZZbA>. Acesso em: 22 jun. 2016. Observe que é difícil compreender as palavras do anúncio da música, e a gra- vação não é tão nítida devido à tecnologia da época. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A tecnologia da época permitia apenas sonoridades maio- res, como as de uma banda marcial. É importante notarmos que o recurso da gravação determinou, desde então, algumas con- dições da música popular. Veremos, em outro tópico, que, nos anos 1940, moldou-se um padrão de cantores que possuíam considerável potência vocal. Esse fato se dá devido à compatibi- lidade daquele tipo de voz com a tecnologia de gravação. Pixinguinha Nascido em 23 de abril de 1897, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, é sem dúvida um dos maiores nomes do choro. Quando gravou sua primeira música em 1915, o tango “Dominante”, Pixinguinha já figurava entre os músicos de desta- que por sua destreza e domínio da flauta. 41© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Em 1917, ele grava duas de suas composições que marca- ram a história do choro: “Rosa” e “Sofres porque Queres”. Nos exemplos de áudio a seguir, podemos conferir a transformação do gênero em duas gravações cronologicamente distantes, mos- trando como Pixinguinha ainda perdura não apenas no choro, mas na concepção atual de música popular. Duas interpretações –––––––––––––––––––––––––––––––– Primeira gravação de “Rosa” (1917), de Pixinguinha. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=13G-ClOhLPI>. Acesso em: 24 jun. 2016. Marisa Monte interpreta “Rosa” no álbum Barulhinho Bom (1996), de Pixingui- nha. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JZ7CjvayFss>. Aces- so em: 24 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A composição “Rosa” – conhecida também pelo título “Evocação” – receberia letra posteriormente de Otávio de Souza. Primeira versão gravada ––––––––––––––––––––––––––––– Primeira gravação da versão cantada foi de Orlando Silva (1937), como segue na gravação a seguir: Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=W9Ezhz9OUZ4>. Acesso em: 24 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Na verdade, outro choro que se transformou em canção, e que perdura na música popular além do âmbito das rodas de choro, é a composição “Carinhoso”, que foi letrada por João de Barro. Pelo caráter inovador, a composição de 1929 recebeu du- ras críticas de Cruz Cordeiro, crítico da revista Phonoarte: Parece que nosso compositor anda muito influenciado pelos rit- mos e melodias da música de jazz. É o que temos notado desde algum tempo e, mais uma vez, neste seu Choro cuja introdução é um verdadeiro foxtrote, que, neste seu decorrer apresenta 42 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL combinações de pura música popular ianque. Não nos agradou. (CORDEIRO, 1929 apud CAZES, 1998, p. 70). As críticas se referem ao movimento harmônico cromático que altera o quinto grau do acorde para quinta aumentada e, posteriormente, sexta do mesmo acorde de tônica da compo- sição, retornando da sexta, cromaticamente, de volta à quinta justa do acorde. Coberto pelo conservadorismo nacionalista, Cruz Cordeiro mal sabia que ficaria famoso por seu equívoco devido às tantas citações que sua crítica ganharia em livros e/ou estudos que tratam dessa composição. Mal sabia também que a fusão entre o jazz e o choro ocorreria em diversos capítulos e tempos de nossa História, destacando compositores e intérpretes como K-Ximbinho, Radamés Gnattali e Paulo Moura. “Carinhoso”, portanto, é um marco na História do choro, sendo rememorado nos anos 1980 (após ter novamente ganha- do força nos anos 1970) e ganhando dimensões ainda maiores quando foi usado por propagandas de TV. Confira, a seguir, o re- gistro das propagandas, cabendo ao leitor a pesquisa e escolha da favorita entre as inúmeras gravações que a música possui. Duas publicidades –––––––––––––––––––––––––––––––––– Publicidade do Chambinho utilizando “Carinhoso” (1984). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z5yiIo41e_k>. Acesso em: 24 jun. 2016. Publicidade do Chambinho utilizando “Carinhoso” (1995). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uEwZarUWeSw>. Acesso em: 24 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 43© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Além da infinidade de composições e interpretações dos tantos chorões no decorrer da História, é importante frisar que, em 1917, já se tem uma forma musical consolidada no universo do choro. Vida e obra de Pixinguinha ––––––––––––––––––––––––––– Para obter mais sobre a trajetória e cronologia das composições de Pixinguinha, acesse o site disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br/pixinguinha/ dados-artisticos>. Acesso em: 24 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– São herdadas da música europeia diversas harmonias e frases melódicas dos períodos barroco, clássico e romântico europeu, como também a forma musical. Assim, a composição “Sofres Porque Queres”, composta em 1917, apresenta uma for- ma musical A-B-A-C-A, muito recorrente nos chorões. Essa forma é modulante. Percebemos, nessa composição, a parte A em Dó Maior, a parte B em Sol Maior e a parte C em Fá Maior. Ou seja, modulações para tons vizinhos, alterando-se apenas uma ou ou- tra nota na armadura de clave. Já em “Naquele Tempo”, composta em 1934, temos a parte A em Ré menor, a parte B em Fá Maior, e a parte C em Ré Maior. Essas duas formas de modular (uma para tom maior e outra para menor, respectivamente) irão aparecer com mais frequência nas principais obras de Pixinguinha. Nascido negro num país racista, ele não tinha preconceito em utilizar e transformar para o choro os elementos da música europeia, sejam harmonias e formas encontradas em J. S. Bach ou mesmo do jazz norte-americano que tinha escutado em Paris. 44© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL As leituras indicadas no Tópico 3. 2 aprofundarão seus conhecimentos sobre a consolidação do choro como gênero musical e também mostrarão um pouco dos desdobramentos desse gênero nos séculos 20 e 21. Confira! Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar. • Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Vi- deoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos. • Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e sele- cione: História e Crítica Musical: Música Brasileira – Vídeos Comple- mentares – Complementar 2. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição necessária e indispensável para você compreender integralmen- te os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. A MÚSICA POPULAR NO BRASIL IMPÉRIO/REPÚBLICA ATÉ O FIM DO SÉCULO 19 Neste primeiro contato com os estudos em Música Popu- lar, é importante que vocês, estudantes, compreendam como a História está sendo construída, ou seja, qual o histórico, os in- teresses e a situação atual da Música Popular nos dias de hoje. 45© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Quem estudou, por que se estudou e o que se estudou em Músi- ca Popular para escolhermos o que temos em mão para um real estudo sobre Música Popular? Para isso, leia o texto indicado a seguir: • IKEDA, A. T. Pesquisa em música popular urbana no Brasil: entre o intrínseco e o extrínseco. In: CONGRESO LATINOAMERICANO IASPM – INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF POPULAR MUSIC, 3., 2001. Actas... Bogotá: IASPM/ ASAB – Academia Superior de Artes de Bogotá/Ministerio de Cultura de Colombia, 2001. Disponível em: <http://hugoribeiro. com.br/biblioteca-digital/Ikeda-pesquisa_mpb_ urbana-intrinseco_extrinseco.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016. O próximo texto indicado trata dos gêneros musicais sur- gidos no fim do século 19 e da participação do piano nessa formação. • AUGUSTO, P. R. P. O surgimento de gêneros musicais populares na Belle Époque carioca. European Review of Artistic Studies, v. 4, p. 1-18, 2013. Disponível em: <http://www.eras.utad.pt/docs/MUSICA%20DEZ%20 2013.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016. O link indicado a seguir contém uma matéria sobre a grava- ção encontrada de Chiquinha Gonzaga. Confira: • ARAGÃO, H. Disco restaurado traz registro inédito da voz de Chiquinha Gonzaga e de seu solo ao piano. O Globo, Rio de Janeiro, 26 jul. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/disco-restaurado- traz-registro-inedito-da-voz-de-chiquinha-gonzaga-de- seu-solo-ao-piano-16966156>. Acesso em: 24 jun. 2016. 46 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Ouça na íntegra as gravações originais encontradas: • IMS – INSTITUTO MOREIRA SALLES. A voz e o piano de Chiquinha Gonzaga, São Paulo, 21 jul. 2015. Disponível em: <http://ims.com.br/ims/explore/acervo/noticias/ a-voz-e-o-piano-de-chiquinha>. Acesso em: 24 jun. 2016. Por fim, indicamos também algumas músicas transcritas: • ACERVO DIGITAL CHIQUINHA GONZAGA. Acervo. Disponível em: <http://www.chiquinhagonzaga.com/ acervo/>. Acesso em: 24 jun. 2016. 3.2. A CONSOLIDAÇÃO DO CHORO COMO GÊNERO MUSICAL O texto indicado a seguir traça uma análise musical e his- tórica do que passou a ser denominado como gênero musical no fim do século 19, adentrando o século 20. • AUGUSTO, P. R. P. Os tangos urbanos no Rio de Janei- ro: 1870-1920 – Uma análise histórica e musical. Músi- ca, São Paulo, v. 8, n. 1/2, p. 105-128, maio/nov. 1997. Disponível em: <http://www.usp.br/poseca/index.php/ musica/article/viewFile/157/137>. Acesso em: 24 jun. 2016. O próximo artigo indicado reforça aspectos fundamentais para a construção da formação do choro como gênero no Brasil. • PETERS, A. P. Do choro aos meios eletrônicos e uma visão interartes – Algumas reflexões para uma história social do choro. FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA EM ARTE, 4., Escola de Música e Belas Artes do Paraná, 2006, Curitiba. Anais... Curitiba, 2006, p. 141-151. 47© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL Disponível em: <http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/ File/anais4/ana_paula_peters.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016. O próximo texto indicado aborda um outro momento da história do choro não abordado no nosso texto. É interessante ressaltar que o choro percorreu paralelamente toda a história da música popular até os dias de hoje. • VALENTE, P. V. A semente da transformação: O renascimento do choro da década de 70. In: ENCONTRO REGIONAL NORTE (I)/NORDESTE (III) DA ABET – Associação Brasileira de Etnomusicologia, 2012. Anais... 2012. Disponível em: <http://www3.eca.usp.br/sites/ default/files/form/ata/pos/ppgmus/paula_veneziano_ valente-mus_etno_0.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016. • VALENTE, P. V. A improvisação no choro – História e reflexão. Revista DAPesquisa, Santa Catarina: Udesc, n. 7, p. 272-283, ago. 2009/jul. 2010. Disponível em: <http://www.ceart.udesc.br/dapesquisa/edicoes_ anteriores/7/files/2010/MUSICA-02Paula.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2016. A seguir, indicamos ricos documentários que abordam o choro em diversas regiões do Brasil, retratando sua importân- cia como manifestação cultural e influência na música brasileira como um todo. • AMARO, F. Doc Brasil – Chorões (Parte 1). TV Cultura, 2007. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=DMsGmYMQPxM>. Acesso em: 24 jun. 2016. • AMARO, F. Doc Brasil – Chorões (Parte 2). TV Cultura, 2007. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=3_1Wf6aM-ZI>. Acesso em: 24 jun. 2016. 48 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL • AMARO, F. Doc Brasil – Chorões (Parte 3). TV Cultura, 2007. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=_TIP1AHPy_Q>. Acesso em: 24 jun. 2016. • CAMPOS, L.; CHIARETTI, M. Na levada do Choro – Um almanaque musical, 2008. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=X4Sgf6GCJQE>. Acesso em: 24 jun. 2016. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú- dos estudados para sanar as suas dúvidas. 1) De acordo com Tinhorão (1998), os barbeiros tiveram importante papel na música popular do século 18, por: a) trabalharem num ponto de encontro no qual músicos iam se barbear, tocar instrumentos enquanto esperavam, formando importante mo- mento de troca cultural e formação de novos gêneros. b) terem tempo hábil entre um cliente e outro para se dedicar a um ins- trumento musical. c) terem suas mãos preservadas, enquanto outras profissões tinham suas mãos desgastadas pelo trabalho pesado. d) terem contato com a nobreza e levar à música popular tendências eru- ditas por prestarem serviços à corte. e) Nenhuma das alternativas. 2) A importância da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro para a música popular se deve: a) à abertura do conservatório naquela cidade, onde eram ministradas aulas de choro para negros da comunidade. b) à presença de músicos de boas habilidades trazidos da Europa para animar a Corte, o que acabou por transformar hábitos e influenciar músicos populares. 49© HISTÓRIA ECRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL c) à presença de músicos eruditos e populares, que fizeram com que as missas religiosas se transformassem em verdadeiros encontros musi- cais e trocas de experiências. d) às exibições dos músicos da Corte em praça pública, que fizeram com que mais trabalhadores se interessassem pela prática musical. 3) São informações verdadeiras: I - O lundu, bem como o maxixe, foi reprimido e desvalorizado pela clas- se dominante no período Imperial. II - A polca consiste em música sincopada de andamento lento. III - As modinhas foram chamadas assim por ditarem, a partir de suas le- tras, as vestimentas e formas de agir. IV - O choro dá seus primeiros passos a partir do hibridismo entre o lundu e a polca, passando pelo maxixe. V - O tango brasileiro se consolidou no Brasil por influência direta da obra de Astor Piazzolla. a) I, II, III e IV. b) I, II e IV. c) I, II, IV e V. d) I e IV. e) Apenas I. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au- toavaliativas propostas: 1) b. 2) b. 3) d. 50 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL 5. CONSIDERAÇÕES Consideremos que esta foi apenas uma brevíssima intro- dução do que pode ser o choro. Como será recorrente, mostra- remos apenas o surgimento do gênero e os principais mentores que o originaram e contribuíram com sua consolidação. Com certeza, a história do choro e as questões filosóficas, antropológicas, políticas e históricas que a permeiam podem ser de grande interesse aos que valorizam a música popular e seu processo histórico. Nomes como K-Ximbinho, Jacó do Bandolim, Joel Nasci- mento, Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Hamilton de Holanda, entre outros, ficam a cargo das pesquisas do leitor em busca dos fios da meada da história do gênero. 6. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 Trecho da peça nenê de Ernesto Nazareth. Compassos 2 a 5. Disponível em: <http://www.ernestonazareth150anos.com.br/files/uploads/work_elements/ work_128/nene_piano.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016. Figura 2 Parte A da peça “Só no Choro” de Chiquinha Gonzaga. Disponível em: <http:// www.chiquinhagonzaga.com/acervo/>. Acesso em: 24 jun. 2016. Figura 3 Parte C da peça “Só no Choro” de Chiquinha Gonzaga. Disponível em: <http:// www.chiquinhagonzaga.com/acervo/>. Acesso em: 24 jun. 2016. Figura 4 Trecho da polca “Atraente” de Chiquinha Gonzaga. Disponível em: <http:// www.chiquinhagonzaga.com/acervo/>. Acesso em: 24 jun. 2016. 51© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 1 – PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA MÚSICA URBANA NO BRASIL 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, M. Histórias da “Música Popular Brasileira”, uma análise da produção sobre o período colonial. In: JANCSÓ, I.; KANTOR; I. (Orgs.). Festa: cultura e sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo: Edusp/Fapesp/Imprensa Oficial/Hucitec, 2001. v. 2, p. 683-705. CAZES, H. Choro: do quintal ao municipal. São Paulo: Editora 34, 1998. DINIZ, A. Joaquim Callado: o pai do choro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. MELLO, G. T. P. A Música no Brasil desde os tempos coloniais até o primeiro decênio da República. Salvador: Tipografia São Joaquim, 1908. NAPOLITANO, M. História & Música: História cultural da Música Popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. PINTO, A. G. O choro. Reminiscências de chorões antigos. Rio de Janeiro: MEC/Funarte, 1978. Fac-símile da primeira edição, de 1936. SILVA JR., J. A. Doces modinhas pra Iaiá, buliçosos lundus pra Ioiô: poesia romântica e música popular no Brasil do século XIX. 2005. 258 f. Dissertação (Mestrado em Letras) –USP, São Paulo, 2005. TINHORÃO, J. R. Pequena História da Música Popular: da modinha ao Tropicalismo. 5. ed. São Paulo: Art Editora, 1986. TINHORÃO, J. R. História social da Música Popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. VALENTE, P. V. O renascimento do choro da década de 70. In: ENCONTRO REGIONAL NORTE (I)/NORDESTE (III) DA ABET – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ETNOMUSICOLOGIA, 2012. Anais... 2012, p. 213-18. © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA 53 ÉPOCA DE OURO, DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA E BOSSA NOVA Objetivos • Conhecer o primeiro samba gravado no Rio de Janeiro. • Conhecer alguns dos ritmos e gêneros do período entre o início do século 20 e o início da década de 1960. • Estudar o papel da difusão radiofônica, seu apogeu e declínio. • Conhecer alguns dos nomes da música popular no mesmo período. • Estudar quem construía a música popular durante o esse período e qual a função social desse artista. Conteúdos • Samba, choro, Bossa Nova, baião, música nordestina. • Época de Ouro. • Influência do jazz no Brasil. • Obras de Luiz Gonzaga, Noel Rosa, João de Barro, Lamartine Babo. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Procure compreender as características que definem a época de ouro, a Bossa Nova e a música nordestina, bem como alguns estilos ligados ao contexto histórico estudado. 2) Ouça com atenção os exemplos de áudio postados no corpo do texto. UNIDADE 2 54 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 2 – ÉPOCA DE OURO, DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA E BOSSA NOVA 3) Atente-se aos links sugeridos no Conteúdo Digital Integrador, pois são de grande importância para o aprofundamento deste estudo. 55© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 2 – ÉPOCA DE OURO, DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA E BOSSA NOVA 1. INTRODUÇÃO Vamos iniciar os estudos da Unidade 2 do nosso material. Você está preparado? Então, vamos em frente! Nesta unidade, veremos como o desenvolvimento dos gê- neros populares, o samba e o choro, está envolvido nas políticas de progresso, culminando no que chamamos de Época de Ouro. Veremos, também, como se deu a primeira gravação do gênero samba, bem diferente do ritmo de samba que há no ima- ginário popular atual. A difusão da música nordestina pelo Brasil se deu graças à utilização do rádio, que transformou o pensamento sobre a mú- sica e as fronteiras de seu alcance. No final dos anos 1950, estudaremos a transformação de conceitos e paradigma na qual vemos, de uma nova maneira, a utilização das concepções estilísticas e conceituais do jazz: a Bos- sa Nova. É fundamental frisar que todas as questões abordadas não se esgotam neste texto. Pelo contrário, ele é apenas uma intro- dução. Devemos, sim, nos apoiar nas leituras complementares, bem como pesquisas individuais para nos aprofundar no assunto. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su- cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú- do Digital Integrador. 56 © HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE 2 – ÉPOCA DE OURO, DIFUSÃO DA MÚSICA NORDESTINA E BOSSA NOVA 2.1. PELO TELEFONE: O PRIMEIRO SAMBA GRAVADO Como vimos anteriormente, temos, em 1902, a primeira gravação de “Brejeiro”, com a banda do corpo de bombeiros, sob a batuta de Anacleto de Medeiros. Outro considerável fato en- volvendo a tecnologia do fonograma para a música popular foi a gravação da música “Pelo Telefone”, com a polêmica autoria de Donga, em 1916. O foco neste momento, porém, é o registro fonográfico da música das camadas populares, como podemos conferir no link a seguir: “Pelo Telefone” –––––––––––––––––––––––––––––––––––– Bahiano & Côro interpretam “Pelo Telefone” (1916). Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=woLpDB4jjDU>. Acesso em: 27 jun. 2016. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 57© HISTÓRIA E CRÍTICA MUSICAL: MÚSICA BRASILEIRA UNIDADE
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