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ANDRESSA MARQUES - MEDICINA ENTREVISTA CLÍNICA PSIQUIÁTRICA →Tem como principal objetivo obter informação confiável, válida e útil, dentro das limitações de tempo e do local em que ocorre; →Cada entrevista deve ser adaptada às características do entrevistado; →É necessário motivar o paciente para o tratamento e estabelecer uma relação terapêutica sustentável; →A entrevista desenvolve‐se ao longo de diferentes etapas em que um conjunto de temas variados é abordado, envolvendo problemas mentais, pessoais, existenciais, filosóficos, de relacionamento, econômicos e sociais (trabalho, escola etc.). Durante a comunicação destes temas, uma série de atividades ou processos desenvolve‐se em paralelo, estando alguns dele sob controle consciente do entrevistador e outros funcionando de maneira automática. →Divide-se os processos da entrevista em: controle do vínculo com o paciente; realização de procedimentos específicos; aplicação de técnicas de entrevista; avaliação do estado mental; elaboração das informações obtidas de acordo com os diferentes métodos psicopatológicos. O VÍNCULO NA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA →Consiste na força de ligação entre o médico e o paciente; →Tipos básicos de vínculos: 1. VÍNCULO DE AUTENTICIDADE →Tem a função de abrir o canal de comunicação, diminuir a ansiedade e a insegurança do paciente; →Sinaliza ao paciente: “eu sou igual a você” e, geralmente, é utilizado na introdução da entrevista; 2. VÍNCULO DE EMPATIA →Tem o objetivo de facilitar e aprofundar o canal de comunicação; →Sinaliza ao paciente: “eu compreendo” – e para se conseguir isso é necessário focar em emoção e sentimentos, estabelecendo bom contato visual e linguagem corporal; →É um momento em que se faz possível obter sinais que validem o problema, pois os pacientes expressam suas emoções de forma espontânea; →Obs: em pacientes paranoicos, o vínculo de empatia pode bloquear o canal de comunicação. →É utilizado na abertura da entrevista. ANDRESSA MARQUES - MEDICINA 3. VÍNCULO DE CONHECIMENTO →Momento de consolidação do vínculo aprofundado; →Sinalizar interesse e familiaridade com os sintomas por uma perspectiva médica; →Tem também a função de validar os sintomas, focando nos fatos de forma objetiva, usando um estilo de linguagem técnica para obter uma explicação do problema; →É utilizado no corpo da entrevista; 4. VÍNCULO DE ALIANÇA TERAPÊUTICA →Tem como função sinalizar que a perspectiva do paciente acerca de seu problema é aceita, focando na visão subjetiva do paciente, avaliando sua crítica da realidade; →Utilizado mais na etapa devolutiva da entrevista. 5. VÍNCULO DE LIDERANÇA →Momento em que o médico direciona e exerce um controle sutil da entrevista a fim de obter os seus objetivos; →Sinaliza ao paciente que há interesse em sua melhora – é necessário focar nas resistências e defesas, assumir a iniciativa e ser assertivo. PROCEDIMENTOS DA ENTREVISTA CLÍNICA PSIQUIÁTRICA →Estão associados à coleta de informações e à realização do diagnóstico e de contrato de tratamento, garantindo a continuidade e a adesão do paciente a ele. ANDRESSA MARQUES - MEDICINA →Apresentar-se ao paciente, cumprimenta-lo formalmente, identificar-se e explicar o objetivo da conversa é a maneira de iniciar a entrevista; →Neste momento é importe se definir a ordem na qual as pessoas irão entrar no consultório – o ideal é o paciente entrar sozinho primeiro, de maneira que seja preservada a sua privacidade; todavia, isso pode mudar em função da idade do paciente, do estado de dependência, da incapacidade pessoal, da demanda do paciente ou de seus familiares, dentre outras questões de segurança. →A identificação e a coleta de informações básicas envolvem a identificação do profissional e a identificação do paciente: nome, sobrenome, apelido, forma de tratamento preferida. (informações básicas: sexo, cor, idade, estado civil, profissão, ocupação e moradia). →Ao final desses procedimentos, encerra-se a fase de introdução, iniciando-se a chamada fase de abertura – momento de investigar os problemas do paciente e se realizar a anamnese psiquiátrica. →A anamnese inicia-se com a investigação inicial: motivo da consulta, motivo do encaminhamento, queixa principal. Em seguida, vem a investigação principal: história do problema principal e varredura dos problemas secundários. →Depois de aprofundar-se no principal problema (ou principais), segue investigando sobre história de problemas passados, história de uso de drogas, história médica e exames subsidiários, história do desenvolvimento, história social, personalidade e comportamento e história médica familiar. →OBS: anotações durante a entrevista devem ser parcimoniosas e convém pedir a licença ao paciente para fazê-las. →Quanto à necessidade de se realizar exame físico geral e especializado e exame neurológico, isso deve ser definido pelo problema e contexto apresentado, a depender do caso, é possível postergar para a segunda consulta. →Depois de toda essa investigação, inicia-se a fase de devolutiva da entrevista, com a comunicação de diagnósticos e prognósticos. É quando se fala sobre a presença ou ausência de transtornos, doenças, problemas e seus prognósticos. →E a transmissão dessas informações deve ser feita de forma muito cautelosa e com uma linguagem acessível, afim de não romper com o vínculo construído até este momento. →A devolutiva é o momento de falar sobre a doença, explicar claramente o problema, transmitir conhecimento e credibilidade ao paciente acerca do assunto e também é o momento em que se realiza a proposta de tratamento e essa deve ser negociada a fim de se chegar a uma situação de decisão compartilhada, para que o paciente se sinta responsável e comprometido com seu tratamento. →A devolutiva termina com as orientações e prescrições, tanto faladas, quanto escritas e também com a marcação de uma nova consulta. ANDRESSA MARQUES - MEDICINA TÉCNICAS DA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA →As técnicas de informação têm como objetivo a coleta de dados de forma válida e confiável. →Dentre as técnicas estão as de abertura, de esclarecimento e de direcionamento. →Para obter informações sobre os sintomas são utilizadas as TÉCNICAS DE ABERTURA, que podem ser questões abertas, focadas ou fechadas. →QUESTÕES ABERTAS – foco temático aberto e permitem respostas mais espontâneas, úteis para obter a queixa principal, porém tem o risco de se obter falas mais longas e imprecisas; →QUESTÕES FOCADAS – foco temático fechado, mas, ainda permitem resposta aberta e espontânea; úteis para cobrir amplamente diferentes tópicos; →QUESTÕES FECHADAS – foco fechado e propiciam respostas rápidas, fechadas e precisas; acabam inibindo a expressão emocional. →Para traduzir as queixas são utilizadas as TÉCNICAS DE ESCLARECIMENTO, sendo as principais: →Geralmente, o paciente traz sua visão dos problemas de forma vaga a imprecisa, mas é preciso transcrevê-la para o vocabulário psicopatológico. →As TÉCNICAS DE REDIRECIONAMENTO têm o objetivo de controlar o andamento da entrevista – são mais úteis para os pacientes que divagam muito e são prolixos. ANDRESSA MARQUES - MEDICINA →Apesar de muito úteis, essas técnicas ainda são insuficientes em caso de pacientes que possuem algum motivo consciente (vergonha, culpa, medo de ser rejeitado, desejo de ser aceito) pra não revelar seu problema. Quando se percebe isso, é possível ainda lançar mão das TÉCNICAS DE RESISTÊNCIA →Além dessas, há também as TÉCNICAS DE DEFESA, que ajudam o paciente a revelar algum problema que foge da sua própria consciência. São baseadas nos mecanismos dedefesa. EXAME DO ESTADO MENTAL →Existem três perspectivas fundamentais que direcionam o exame do estado mental do paciente durante a entrevista: 1. Ordenação segundo o canal ou processo de coleta de informações: →Organiza o exame do estado mental de acordo com a forma pela qual são acessados os fatos psicopatológicos, ou seja, observando o paciente, conversando com ele de maneira casual e sobre os seus problemas e realizando testes. 2. Detecção de sinais de transtornos mentais 3. Detecção de situações de emergência →O exame do estado mental é sempre direcionado para a detecção dos problemas apresentados pelo paciente e sempre são rastreados sinais da sua existência. Esses sinais são divididos em soft signs e hard signs. →Soft signs são aqueles que vetam uma suspeita, sugerindo transtornos, por exemplos, mas não específicos ANDRESSA MARQUES - MEDICINA →Já os hard signs dão a “certeza do problema”, são indicativos de transtornos, com alguma especificidade. Geralmente fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais ou de personalidade. →Além de estar apto a detectar os problemas mentais, é necessário ter atenção quanto aos sinais de perigo – sinais de alerta, que muitas vezes são inespecíficos e difíceis de serem identificados, os quais podem possuir várias causas. #ideação de suicídio SEMPRE deve ser questionada e o questionamento deve ser de forma natural, sem espantos e sem frases de negação no meio da pergunta. MÉTODOS PSICOPATOLÓGICOS →Psicopatologia – ciência que estuda sistematicamente as alterações patológicas da vida mental. ENTREVISTA FENOMENOLÓGICA →Método descritivo que acessa as vivências subjetivas do paciente. O entrevistador estimula o paciente a detalhar seus problemas subjetivos, com uso de perguntas que favorecem a descrição formal (como, de que maneira). →É necessário colocar-se no lugar do paciente, ter empatia, não julgar e evitar perguntar indutoras. ENTREVISTA EXPLICATIVA →Procura causas extrapsicológicas, impessoais e grupais para os fenômenos psíquicos. Por exemplo, associar a transformação de personalidade após um traumatismo cranioencefálico. ENTREVISTA COMPREENSIVA →Procura causas psicológicas, pessoais, interiores e individuais. Exige empatia. Por exemplo, compreender situações de luto após grandes perdas. ENTREVISTA NOSOLÓGICA →Procura classificar sintomas, sinais, síndromes, transtornos e doenças. Por exemplo, quando o psiquiatra realiza e exclui hipóteses diagnósticas, por meio da exploração dos sintomas na anamnese. ANDRESSA MARQUES - MEDICINA CASO CLÍNICO Homem de 21 anos, solteiro, sem filhos, natural de Santos/SP, procedente de São Paulo/SP, estudante de economia, faz estágio no mercado financeiro, mora com dois colegas em uma casa perto de sua faculdade, sem religião. A namorada do paciente acha que ele apresenta quadro depressivo, por isso indicou o profissional. 1. Como você iniciaria a sua entrevista? 2. Como você faria o vínculo de autenticidade (levando em conta apenas os dados apresentados)? 3. Que tipos de soft signs você encontraria nas duas primeiras etapas da entrevista, se o paciente estiver deprimido? 4. Se o paciente estiver divagando excessivamente, quais técnicas de informação você utilizaria? QUESTÕES 1. Qual das seguintes alternativas exemplifica um dos principais paradoxos aparentes da entrevista clínica psiquiátrica? a. É uma técnica desenvolvida para pacientes adultos jovens, sendo que a adaptação para pacientes idosos apresenta consideráveis limitações. b. Deve ser realizada após o exame físico geral e neurológico, o que, muitas vezes, acarreta a não aplicação de sua forma completa, pelas limitações de tempo da consulta médica. c. Os problemas mentais, muitas vezes, implicam prejuízo da comunicação clara e eficiente, dificultando a entrevista, mas, ao mesmo tempo, trazem informações importantes sobre a psicopatologia. d. O exame psíquico é realizado usualmente após a entrevista clínica psiquiátrica, logo, pacientes pouco colaborativos podem encerrar a consulta antes que essa etapa seja concluída. Nesses casos, convém realizar o exame psíquico antes da entrevista clínica psiquiátrica. 2. Assinale a alternativa incorreta em relação ao processo de vínculo na entrevista clínica psiquiátrica: a. Falar de si mesmo, utilizar humor e achar um elo comum com o paciente são maneiras de se abrir o canal de comunicação com o paciente. b. Uma característica importante da aliança terapêutica é focar na visão subjetiva do paciente, avaliando sua crítica. c. O vínculo de empatia, além de ser importante para aprofundamento do canal de comunicação com o paciente, é útil para validar alguns sintomas dos pacientes. d. O vínculo de liderança deve ser evitado na maior parte dos pacientes, já que, na entrevista clínica psiquiátrica, o paciente deve ser estimulado a falar, sem interrupções ou controle do entrevistador. 3. Qual é a mensagem transmitida ao paciente com o vínculo de autenticidade? a. “Eu o compreendo”. b. “Pode contar comigo”. c. “Eu sou como você”. d. “Estou ao seu lado”. 4. Assinale a alternativa errada em relação aos procedimentos da entrevista clínica psiquiátrica. a. São componentes da apresentação a definição da ordem na qual paciente e acompanhantes entram na sala e do nível de formalidade inicial a ser empregado durante a entrevista. b. Durante a identificação, são coletados dados como nome, sobrenome, forma de tratamento preferida, ocupação, escolaridade e local de moradia. c. Na primeira consulta psiquiátrica, realiza-se exame físico e neurológico em todos os pacientes. d. Na devolutiva da entrevista, faz-se a comunicação diagnóstica e prognóstica, adequando esta à crítica do paciente e ao momento vivido, usando, muitas vezes, a aliança terapêutica como técnica. 5. Por meio da entrevista clínica psiquiátrica, o psiquiatra procura obter informações válidas e confiáveis, que serão importantes para realizar hipóteses diagnósticas e, por conseguinte, o plano de tratamento. Qual das alternativas a seguir ANDRESSA MARQUES - MEDICINA deve ser evitada, pelo risco de obter dados inválidos? a. “Como está o seu sono?” b. “Quanto durou essa insônia? Uma noite? Dez anos?” c. “Como está a sua energia, apetite e sono?” d. “Como esse seu problema de sono se relaciona ao seu vizinho?” 6. Paciente de 23 anos foi encaminhado para avalição por quadro de preocupações ex-cessivas, irritabilidade e insônia inicial. Em um momento da entrevista, o psiquiatra pergunta sobre sua vida sexual. O paciente desenvolve rubor facial, sudorese, desvia o olhar e desconversa, dizendo que este é um assunto meio ridículo, sem importância. O que seria útil fazer nesse momento? a. Perguntas fechadas sobre o assunto. b. Permanecer em silêncio, esperando. c. Aplicar uma técnica de resistência, como a aceitação. d. Aplicar uma técnica de redirecionamento (transição acentuada para outro assunto me-nos sensível). 7. Qual alternativa contém os três principais canais de coleta de informações durante o exame do estado mental? a. Inspeção, testes e avaliação de personalidade. b. Exame físico, exame neurológico e anamnese. c. Comunicação verbal, comunicação não verbal, clarificação. d. Observação, conversação casual e conver-sação exploratória. 8. Qual alternativa contém soft signs de psicose? a. Comportamento alucinatório, delírios. b. Neologismo, sinais catatônicos. c. Agitação, comportamento desconfiado. d. Perda de associações, comportamento desorganizado. 9. Qual alternativa apresenta dois sinais de alertadurante a entrevista clínica psiquiátrica? a. Ansiedade, sintomas depressivos. b. Tremor, afasia. c. Ideação de suicídio, agitação psicomotora. d. Embotamento afetivo, fuga de ideias. 10. Você está acompanhando uma consulta com uma residente de psiquiatria. Ela pergunta ao paciente quais são seus principais sintomas e como eles evoluíram ao longo do tempo. Ela descobre que o paciente apresenta humor depressivo, insônia terminal, diminuição do apetite, pensamentos de culpa e baixa autoestima há 6 meses, com prejuízo no trabalho e na vida social. Não apresenta outros sintomas. Nega episódios de mania ou hipomania. A residente pediu alguns exames como hemograma e TSH. Indique qual método psicopatológico foi utilizado de forma predominante na descrição acima. a. Método fenomenológico. b. Método compreensivo. c. Método explicativo. d. Método nosológico. GABARITO 1-c; 2-d; 3-c; 4-c; 5-c; 6-c; 7-d; 8-c; 9-c; 10-d . Referência Bibliográfica Clínica psiquiátrica: consulta rápida / Eduardo de Castro Humes ... [et al.]. ‐ 1. ed. ‐ Barueri [SP]: Manole, USP, 2019.
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