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Estágio de GO - Obstetrícia HEMORRAGIAS DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO ✓ Hemorragias são apresentações de diversas hemorragias ● Importante causa de mortalidade materna no Brasil e também em países desenvolvidos ● O dx preciso e o manejo melhoram o prognóstico ✓ Hemorragias da 2ª metade: ● Descolamento prematuro de placenta ● Placenta prévia ● Rotura uterina ● Ruptura de vasa prévia ● Ruptura de seio marginal ✓ Descolamento prematuro de placenta (DPP) ● Separação da placenta normalmente inserida no corpo ou fundo do útero, antes da expulsão fetal > 20 semanas completas. o Se for antes de 20 semanas, se enquadra como abortamento. ● Rotura de vasos maternos na decídua basal, chegando à zona de clivagem decíduo-placentária e iniciando a separação, havendo invasão do espaço retroplacentário, e onde há coleção sanguínea ocorre um aumento na tensão (hipertonia) que leva ao descolamento de áreas próximas. Parte do sangue forma o hematoma retroplacentário e outra parte deste sangue descola as membranas, provocando uma hemorragia externa ou menos comumente, fica retido em uma hemorragia oculta. ● O que pode causar no feto: hipoperfusão → sofrimento fetal agudo, prematuridade, óbito fetal (dependendo da extensão desse descolamento). ● Complicações na gestante (mãe): todas decorrente de hemorragia → choque hipovolêmico, CIVD. ● Fatores de risco o Idade > ou = 35 anos e < 20 anos o Trauma o Tabagismo e uso de drogas (principalmente cocaína) o Gestações múltiplas o DMG (pode cursar com sobredistensão uterina) o Placenta prévia o Síndromes hipertensivas o Pré-eclâmpsia em gestação anterior ▪ Pico hipertensivo faz DPP! o DPP prévio ▪ Fator de risco mais importante! ▪ Eleva o risco em 10x na gestação atual se a paciente teve DPP na gestação prévia. o Cesárea e abortamento anteriores o Trombofilia o Rotura prematura de membranas ● Quadro clínico o Dor abdominal súbita e intensa ▪ Pode ser caracterizada também como uma dor lombar o Associada a contrações uterinas muito fortes ▪ Inclusive cursando com taquissistolia e hipertonia uterina o Hipertonia o Bolsa das águas bem intensa (por conta da contratilidade excessiva) o Sangramento vaginal leve a moderado ▪ Escurecido ▪ Mas que nem sempre reflete a gravidade do descolamento → porque pode ficar como um hematoma no espaço retroplacentário. o CIVD o Presença de anormalidade fetal ● Ao exame físico: o Hipertonia e/ou hiper-reatividade uterina o Sangramento genital visível externamente o Ausculta fetal difícil ou ausente ▪ Pode ter bradicardia fetal (sinalizando sofrimento fetal agudo) o Pode haver alteração da vitalidade fetal na cardiotocografia e no perfil biofísico fetal ▪ CTG: bradicardia ou taquicardia fetal persistente, padrão sinusoidal ou desacelerações tardias (DIP II). o Bolsa das águas tensa ao toque o Aumento progressivo da altura uterina (nos casos de sangramento oculto) ● Sinais de gravidade: hipotensão, estado pré-choque ou choque hipovolêmico, sinais indiretos de CIVD (petéquias, equimoses e hematomas). ● USG: exame mais demorado, mas pode ser útil porque consegue ver algumas alterações: o Visualização do coágulo retroplacentário o Descolamento periférico da placenta o Aumento da espessura placentária em 5-6 cm, associado com alterações da ecogenicidade o Elevações da placa coriônica o Imagens compatíveis com coágulos no estômago fetal. ● Classificação de Sher o Classifica em 3 graus: ▪ Grau I: paciente assintomática ou com sangramento discreto, e bebê tem vitalidade preservada. Dx realizado normalmente só no pós-parto, por visualização de coágulo retroplacentário. ▪ Grau II: sangramento genital moderado, hipertonia uterina, aumento da FC e hipotensão materna, queda nos níveis de fibrinogênio. Feto vivo, porém com vitalidade prejudicada. ▪ Grau III: quando há óbito fetal; hipotensão arterial materna e hipertonia uterina. ◊ IIIA: se NÃO há coagulopatia instalada. ◊ IIIB: se há coagulopatia instalada. ● Conduta o 1ª coisa = estabilização da gestante ▪ Hemorragia vultuosa pode cursar com instabilidade hemodinâmica. o Amniotomia ▪ Importante porque vai diminuir o sangramento, reduzir a tensão do miométrio, reduzir a compressão dos coágulos, evitar a entrada de tromboplastina na circulação materna. ▪ Descompressão do hematoma retroplacentário ◊ Medida preconizada mesmo em casos que evoluirão com parto cesárea. o Gestante instável por conta de hemorragia: ▪ Monitorização de níveis pressóricos e débito urinário! ▪ 2 acessos venosos calibrosos, infusão de 1000mL de solução cristaloide, com velocidade de infusão de 500mL nos primeiros 10 minutos, e manutenção de 250 mL/h. ▪ Exames laboratoriais: hemograma, coagulograma, função renal, gasometria arterial, tipagem sanguínea. ▪ Fazer reserva de sangue, oferta de hemocomponentes (ex. PFC, CP e crioprecipitado) nos casos de CIVD. ▪ Solicitar leito de UTI se necessário. ● Conduta em relação ao parto o Se o feto estiver vivo e a gestante estável, o parto deve acontecer pela via mais rápida! ▪ Se for mais rápido levá-la para o CC, dar anestesia e tirar o bebê → via de escolha é a cesárea. ▪ Se feto vivo e gestante com instabilidade materna, ou se SFA, ou se trabalho de parto lento → parto cesárea. o Se o feto estiver morto e a gestante está estável, pode ser também um parto por via vaginal. ▪ Se a gestante não está estável → parto cesárea (objetivo de salvar a vida da mãe). ● Sinais de gravidade o Contagem de plaquetas < 100.000/mm³ → alterado o Dosagem de fibrinogênio (VN 300 a 600 mg/dL) < 100 mg/dL → coagulopatia o Produto degradação fibrinogênio-fibrina > 100 mcg/mL → alterado o D-dímero < 100ng/dL → tem correlação com a gravidade da hemorragia, presença de CIVD e necessidade de transfusão de hemoderivados. ● Teste de Weiner (teste do coágulo) o Coletar 10 mL de sangue da gestante → tubo de ensaio seco, em temperatura ambiente → após 7-10 minutos observa-se formação de coágulo rígido; caso contrário tem coagulopatia instalada. ● Complicações: o Choque hipovolêmico o CIVD o Útero de Couvelaire ▪ Há uma hemorragia intensa que infiltra o miométrio e dá um aspecto arroxeado e amolecido ao útero. o Atonia uterina o Injúria renal aguda o Síndrome de Sheehan o Óbito materno o Óbito fetal o Prematuridade ● OBS.: DPP provoca uma coagulopatia de consumo: o A formação do hematoma ativa a cascata de coagulação devido à liberação de tromboplastina. o O consumo de fatores de coagulação pelo hematoma desencadeia uma coagulopatia de consumo, a CIVD. o Uma vez que esses coágulos esgotem os meios de coagulação normal pelo sangue, ocorre um aumento do processo hemorrágico. ✓ Placenta Prévia (PP) ● Decídua basal pouco vascularizada no fundo uterino ● Trofoblasto evita a região pouco vascularizada direciona-se ao colo do útero. ● Geralmente é por cicatriz uterina prévia (principal fator de risco). o Se tem uma cicatriz prévia de fundo uterino → o trofoblasto não se insere nesse local porque evita regiões pouco vascularizadas → placenta migra para o colo do útero. ● 2 classificações: o Placenta prévia: recobre total ou parcialmente o orifício interno do útero. o Placenta de inserção baixa: não atinge o orifício interno do colo uterino e está situada a pelo menos 2cm de distância dele. ● Definição: presença de tecido placentário que se estende até o orifício interno do colo do útero, após a 28ª semana de gestação. o A migração placentária só se completa após 28 semanas de gestação. ● Fatores de risco: o Número anterior de cesáreas o Gestação múltipla ▪ Porque a área placentária é grande, e pode ir mais para baixo. o Tabagismo o Idade materna avançada o Cicatrizes uterinas prévias o Número de curetagensuterinas o Antecedente de placenta prévia o Multiparidade o Endometrite ● Diagnóstico o Clínico ▪ Quadro de sangramento vaginal indolor, de coloração vermelho vivo, de forma insidiosa, geralmente sem sofrimento fetal associado. ◊ Tônus uterino normal (descarta DPP). ▪ 90% das pacientes têm sangramento ▪ USG ◊ Placenta cobrindo totalmente ou parcialmente o orifício interno do útero. o ATENÇÃO! → ACRETISMO ▪ Se a PP não tem sangramento, ou se a paciente com PP tem cesárea anterior → suspeitar de acretismo e buscar! ◊ USG com Doppler ◊ RNM: se casos de placenta posterior ou casos que restarem dúvida. ▪ Tipos de acretismo placentário: ◊ Placenta acreta: aderência da placenta ao miométrio. ◊ Placenta increta: placenta invade o miométrio. ◊ Placenta precreta: placenta invade órgãos adjacentes (ex. bexiga; ou intestino, se placenta posterior). o Assintomáticas: ▪ Apenas 10%. o Sintomáticas: ▪ Sangramento PREVIA: ◊ Progressivo ◊ Repetido ◊ Espontâneo ◊ Vermelho vivo ◊ Indolor ◊ Ausência de hipertonia e sofrimento fetal agudo. o Achados ultrassonográficos preditivos de sangramento: ▪ Borda da placenta > 1cm ▪ Espaço livre de eco entre a borda da placenta e o orifício interno do colo uterino ▪ Comprimento cervical < ou = 3 cm ▪ Diminuição do comprimento cervical no 3º trimestre. ● OBS.: toque vaginal é proscrito em suspeita de PP! o Porque pode descolar a placenta, e por risco de ocasionar hemorragia. o Se feito, apresenta um sinal clássico de sensação de massa esponjosa no segmento inferior. o A regra é: exame especular! ▪ Sempre em casos de sangramento. ● Conduta o No feto: pode causar hipoperfusão → sofrimento fetal agudo, prematuridade, óbito fetal. o No feto pré-termo, a conduta é: internação da gestante, corticoterapia, estabilização materna. Placenta prévia (centro total) Feto vivo ou morto, a via de parto é sempre cesariana Placenta de inserção baixa (borda placentária até 2 cm do orifício interno do colo) Parto vaginal permitido se: - Sangramento vaginal controlado; - Estabilidade materna; - Descartado sofrimento fetal agudo. ● Indicações de parto cesárea: o Placenta prévia o Sangramento incontrolável o Vitalidade fetal alterada o Maturidade fetal comprovada o IG > 37 semanas ● OBS.: na PP, nunca induzir o parto! ● Cuidado! o Hemorragia pós-parto! ▪ Pode ter sangramento pós-dequitação porque tem uma deficiência de miotamponamento no segmento inferior do útero. ▪ Tem que fazer todas as condutas para profilaxia de hemorragia pós-parto! ✓ Rotura uterina ● Rompimento do útero durante a gravidez ou o trabalho de parto comunicando a cavidade uterina à cavidade abdominal. ● Pode haver uma rotura parcial ou incompleta: serosa uterina está preservada. o Quase sempre está associada à deiscência de cicatriz uterina. o Durante o trabalho de parto, a rotura pode tornar- se total ou completa. ● Rotura total ou completa: serosa uterina também se abre. ● Fatores de risco o Cicatriz uterina prévio ou uso de uterotônicos (principal!) ▪ Ex. cesáreas, miomectomias o Trauma abdominal o Perfuração uterina após curetagem uterina ou acidentes com arma branca ou de fogo o Manobra de Kristeller o Sobredistensão uterina ▪ Desproporção cefalopélvica, gemelaridade. o Parto obstruído ▪ Principalmente em países em que não se sabe conduzir esse tipo de parto o Apresentações fetais anômalas / Manobra de versão externa da apresentação. ▪ Nos casos em que está com apresentação pélvica e tenta-se fazer a versão. o Multiparidade o Doença trofoblástica gestacional o Uso de misoprostol para a indução do trabalho de parto normal. ● Quadro clínico o Bradicardia fetal → óbito é comum ▪ Quando o feto cai na cavidade abdominal, não se acha mais BCF. o Dor intensa seguida de alívio e interrupção das contrações ▪ Dor incompatível com a evolução do trabalho de parto. o Sinais de iminência de rotura: ▪ Síndrome de Bandl Frommel ◊ Sinal de Bandl: Depressão em faixa abaixo da cicatriz umbilical. ◊ Sinal de Frommel: Ligamentos redondos desviados para a face ventral do útero. ▪ Reasens (patognomônico) ◊ Dificuldade de palpação da posição e da apresentação fetal (ascensão da apresentação fetal). ◊ Apresentação sobe. ▪ Clark ◊ Palpação de crepitação no abdome materno. ◊ Rotura → entra ar na vagina → ar no SC (enfisema subcutâneo). o Conduta: ▪ Cesárea de emergência. ◊ Bebê na cavidade morre em minutos sem oxigenação. ▪ Incisão mediana pode oferecer benefícios na avaliação da cavidade abdominal e extração fetal, em comparação à Pfannestiel. ✓ Rotura de Vasa prévia ● Vasa prévia o Presença de vasos fetais atravessando o orifício interno (à frente da apresentação) o Sem aposição de tecido placentário (sem proteção da placenta) o Posição frente à apresentação fetal o Se romper → hemorragia fetal! (porque são vasos de origem fetal). ● Mortalidade fetal alta → vasos fetais rompidos. o 2 artérias e 1 veia. ▪ Prognóstico é pior se tem rompimento da veia, por ser única. o Não é sangramento materno, é sangramento de origem fetal. ● Fatores de risco: o Inserção velamentosa de cordão umbilical ▪ Vasos totalmente expostos, sem placenta protegendo-os. o Inserção do cordão umbilical na parte inferior do útero em USG de 1º trimestre. o Placenta prévia ou placenta baixa o Lóbulo de placenta excêntrica ou bilobada o Fertilização in vitro o Gestação múltipla ● Diagnóstico o USG, RNM (em caso de dúvida). ● Conduta na vasa prévia (sem rotura ainda) o Controle USG após 32 semanas o Corticoterapia entre 28 e 32 semanas de gestação o Internação hospitalar entre 30 e 34 semanas. ● Conduta na rotura de vasa prévia o SEMPRE é o parto (mas não necessariamente PC) o Indicações de cesárea de emergência: ▪ Trabalho de parto ▪ Rotura prematura das membranas ovulares ▪ Desacelerações variáveis repetidas refratárias à tocólise ▪ Sangramento vaginal acompanhado de taquicardia fetal ou padrão sinusoidal (característico de hemorragia fetal). o American College of OBGYN: parto planejado entre 34 e 37 semanas. ✓ Rotura de seio marginal ● Sangrmento de origem maternal ● Bom prognóstico materno e fetal ● Diagnóstico: histopatológico de placenta o Sempre um dx pós-parto! ● Quadro clínico: o Sangramento vaginal indolor, de pequena monta, vermelho-vivo, sem alterações do tônus uterino ▪ Sem hipertonia, descarta DPP. o USG: placenta de inserção normal ▪ Descarta PP. ● Conduta: o Monitorização, acessos venosos e expansão volêmica. ▪ Se instabilidade hemodinâmica. o Repouso → estabilidade ▪ Repouso geralmente é suficiente para gerar estabilidade materna, não havendo necessidade de intervenção de emergência.
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