Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cozinha Natural e Produção de Ingredientes Me. Thanise Pitelli Paroschi “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, forman- do profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” Missão NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PAROSCHI, Thanise Pitelli Cozinha Natural e Produção de Ingredientes. Thanise Pitelli Paroschi Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 138 p. “Graduação em Gastronomia - EaD”. 1. Cozina. 2. Natural. EaD. I. Título. ISBN: 978-85-459-0938-5 CDD - 22ª Ed. 641 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró- Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard, Coordenador de Contéudo Andrea Shima da Motta, Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior e José Jhonny Coelho Editoração José Jhonny Coelho, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. 3 pa la vr a do re it or Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pes- soas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: ino- vação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais ci- dadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Reitor Wilson de Matos Silva bo as -v in da s Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, reno- vável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comuni- cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conec- tividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conhecimen- to, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em infor- mações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Pró-Reitor Executivo de EAD William V. K. de Matos Silva 5 bo as -v in da s Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou pro- fissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- mação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- dagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desen- volvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de ma- neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, as- sista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação e Pós Kátia Solange Coelho C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Ap re se nt aç ão d o Li vr o Professora Mestre Thanise Pitelli Paroschi Olá, querido(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Cozinha Natural e Produção de Ingredientes do Curso de Gastronomia. Com muito prazer, sou a professora Thanise Pitelli e estudaremos sobre esta ten- dência atualdo cenário gastronômico: a cozinha natural. Para nos conhecermos melhor, gostaria de me apresentar a você e contar um pou- quinho da minha experiência profissional. Sou nutricionista, formada pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) e também tecnóloga em alimentos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ambos na cidade de Londrina/PR; fiz a espe- cialização em Nutrição e Metabolismo na Prática Clínica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mestrado em Ciência de Alimentos, pela mesma instituição. Além disso, sempre busquei participar de cursos, congressos e eventos, pois sempre auxiliaram muito na minha profissão. Desde criança, sempre fui apaixonada por alimentos, afinal, venho de uma família que possui o dom de fazer doces, e minha mãe trabalha com doces para casamentos e aniversários. Até os meus 12 anos de idade, minha mãe trabalhava em casa e eu sempre ousava ajudá-la nas horas livres; depois disso, ela montou seu próprio espaço e agora consigo ajudá-la apenas degustando (digo que sou uma pessoa de sorte por isso!). Desde quando precisei decidir a faculdade que faria, sabia que queria fazer algo em que pudesse ajudar ao próximo, pois sempre dei muita importância a trabalhos que envolvam a população carente. Então, decidi unir o que sabia fazer com o que sentia vontade no coração e resolvi fazer Nutrição para atender em consultório e trabalhar na área hospitalar, focando na oncologia. 7G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Fiz estágio no Hospital do câncer de Londrina e em mais dois hospitais da cidade e em identifiquei muito com a área, porém, enxerguei que era preciso ter experiência no funcionamento de uma cozinha, para que pudesse entender o complexo e importante funcionamento da cozinha de um hospital. Então, depois de formada, fui trabalhar em um restaurante comercial de Londrina-PR e o este me abriu as portas para trabalhar na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) do Norte do Paraná, onde trabalho até hoje, por meio de consultoria aos estabelecimentos associados, com foco no controle de qualidade no preparo de alimen- tos, na elaboração de cardápios e elaboração de documentos, como o Manual de Boas Práticas, e ministro treinamentos de boas práticas na manipulação de alimentos. Mesmo trabalhando muito, sempre continuei estudando, pois sabia que conhe- cimento sempre é necessário. Na especialização, trabalhei com pesquisas envolvendo os alimentos na prevenção de doenças e de lá, iniciei o mestrado, e durante esses dois anos, me dediquei em pesquisar ainda mais sobre a relação dos alimentos na prevenção de doenças. Hoje, também atuo como docente do curso de nutrição e de gastronomia e sou responsável pela disciplina de Gastronomia Vegetariana e Dietética e pela Gastronomia Funcional. Poder escrever este livro para você é uma honra e uma paixão! Espero que possa- mos trabalhar esse mundo maravilhoso, que necessita tanto da nossa atenção, cuidado, conhecimento e, principalmente, profissionalismo. Assim, vamos abordar todos os aspectos que envolvem esta cozinha, que hoje é vista como forma de manter e recuperar a saúde, melhor forma de nutrição, além de ser C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s a cozinha que aproveita tudo o que um alimento tem de melhor, desde seus nutrientes às suas características sensoriais. Na primeira Unidade, vamos conhecer a evolução da cozinha natural e sua aplicação. Para isso, iremos abordar quais as classificações de alimentos que existem. Na segunda Unidade, entenderemos quais são as vertentes da cozinha natural, conhecendo os tipos de dietas vegetarianas existentes e veremos, ainda, como produzir ingredientes de maneira sustentável e natural por meio da criação de hortas. E, para finalizar, vamos abordar os ingredientes naturais que existem, conhecendo um pouco mais sobre as ervas e especiarias, as frutas, hortaliças, cogumelos, algas etc., afinal, precisamos conhecer os ingredientes para que se possa criar novas opções para a alimentação, bem como para trabalhar com ingredientes de qualidade. Assim, este livro, juntamente com as outras ferramentas do curso, é um grande passo para quem quer, além de se aperfeiçoar no mundo da gastronomia, se apaixonar por essa cozinha. Convido você a aprender conosco nas próximas páginas! Bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE 1 Introdução à Cozinha Natural 15 História e Evolução da Cozinha Natural 25 Aplicação da Cozinha Natural 31 Classificação dos Alimentos UNIDADE 2 Produção de Alimentos Naturais e sua aplicação nas Dietas Vegetarianas 53 Vertentes da Cozinha Vegetariana 59 Horta de Alimentos 65 Ervas e Especiarias UNIDADE 3 Do Plantio à utilização dos Ingredientes Naturais 87 Frutas 105 Hortaliças 121 Oleaginosas, Cogumelos e Algas dica do chef habilidades Legendas de Ícones recapitulando saiba mais fatos e dados minicaso reflita Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos. Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de determinado conteúdo. . Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando principais conceitos. Saiba mais: informações adicionais ao conteúdo. mão na massa Introdução à Cozinha Natural THANISE PITELLI PAROSCHI A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • História e evolução da cozinha natural • Aplicação da cozinha natural • Classificação dos alimentos • Conhecer a história e a evolução da cozinha natural. • Entender como a cozinha natural pode ser aplicada no dia a dia. • Verificar as características da cozinha natural. • Diferenciar as classificações de alimentos existentes. Plano de Estudo Objetivos de Aprendizagem Introdução Caro(a) aluno(a), optar por uma vida saudável nunca esteve tão em alta. E não é apenas com a inclusão da atividade física na rotina ou abandonando o cigarro. Adotar uma alimentação regrada, propensa ao consumo de vegetais, também tem sido a opção de muita gente. Tudo isso ocorre, pois, cada vez mais, estamos preocupados com a nossa saúde, com o envelhecimento saudável, e as pesquisas recentes apontam o quanto uma alimentação adequada colabora para essa evolução. Isso tudo é questão de conscientização, pois antes não se tinha acesso a tanta informação, e até a década passada, poucas pessoas se importavam com o que estavam consumindo. Com essa falta de preocupação e falta de tempo, os fast foods entraram em grande expansão. Quando me refiro aos fast foods, digo tanto os estabelecimentos que servem alimentação rápida, quanto as comidas congeladas; porém, ninguém refletia muito sobre o impacto disso na saúde. Essa onda de conscientização que estamos vivendo está fazendo com que muitas pessoas busquem uma alimentação mais saudável, com ingredientes simples e naturais. Então, uma nova tendência em alimentação moderna e saudável é aquilo que, na verdade, nunca saiu de moda: a comida lá de casa (ou da mãe, da avó...), aquela que remete à infância e às coisas mais simples e deliciosas da vida. Nesta unidade, vamos trabalhar a evolução da cozinha natural que, apesar de ser uma ten- dência no cenário gastronômico atual, teve início na década de 70. Além disso, veremos como podemos aplicá-la no nosso dia a dia e os cuidados que devem ser respeitados. 13 C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s 15G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R História e Evolução da Cozinha Natural Querido(a) aluno(a), para iniciarmos nosso estudo, vamos com- preender a definição de cozinha natural e sua evolução ao longo do tempo? Inicialmente, em 1984, Burkhard ressaltouque o termo “co- zinha natural” se refere a uma alimentação baseada no consumo da maior quantidade de nutrientes possíveis, de forma saudável e mais natural possível, ou seja, a cozinha natural é todo tipo de alimentação que favorece positivamente a saúde humana. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Ao procurar a definição de “natural” no dicio- nário (AURÉLIO, 2010), encontramos que: “na- tural se refere a natureza; algo em que não há trabalho ou intervenção do homem, ou seja, onde se segue a ordem regular das coisas”. Em outras palavras, natural se refere àquilo que é conforme a natureza. Lógico que, ao pensar nos alimentos, difi- cilmente encontramos algo que não será neces- sário ter intervenção do homem, até mesmo os vegetais, já que necessitamos do homem para plantação, cultivo e colheita, não é? Prefere-se o uso nativo, do termo “natu- ral”, na rejeição do uso do termo “vegetariana”, 17G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R uma vez que a cozinha construída localmente é baseada na utilização de alimentos vegetais e não processados industrialmente, obedecendo um modo de vida saudável, que não necessa- riamente deve obedecer rígidos receituários ou procedimentos culinários, e sim ser uma cozinha em construção, aberta às criações e intuições baseadas na atenta, contínua e integral neces- sidade da cozinha. Dessa forma, contemplamos o sentido natural de uma forma ampla e viva. Então, a ideia principal da cozinha natural é, principalmente, utilizar os alimentos dis- tribuídos na natureza, evitando os alimentos artificiais ou industrializados. Figura 1 - Dados sobre alimentação saudável Fonte: adaptado de Food Magazine (2014, on-line)1. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s A cozinha natural teve início a partir de um movimento na década de 70 como repúdio à culinária clássica (ou culinária tradicional) e foi denominado Nouvelle Cuisine - um estilo moderno de culinária francesa, cuja principal característica é a utilização de ingredientes fres- cos, redução das porções e melhora no refino e decoração na apresentação dos pratos, ou seja, um estilo baseado na criatividade em utilizar alimentos frescos. Esse movimento teve início por volta de 1972 por meio de uma campanha publicitária dos críticos gastronômicos Henri Gault e Christian Millau, com o propósito de incentivar a apre- sentação mais simples e natural de um prato. Mediante esse movimento, o consumo em exces- so de produtos industrializados, gordura, açúcar e sódio começaram a ser contestados e iniciou-se a busca e a promoção de uma vida mais saudável. No livro intitulado Adeus aos Escargots do autor Michael Steinberger, publicado em 2010(p. 38-39), foram citados os dez manda- mentos da Nouvelle Cuisine que haviam sido abordados pelos autores da campanha publici- tária (os críticos gastronômicos Henri Gault e Christian Millau) em 1973: 1. Não cozinharás demasiado os alimentos: a cozedura a vapor permite redescobrir os sabores esquecidos e conserva as propriedades dos alimentos. 2. Utilizarás produtos frescos de qualidade: os chefes de cozinha utilizam produtos e frescos para evitar produtos desnaturados pela tecnologia. 3. Tornarás leve o teu cardápio: deve-se trabalhar com menus de forma a só figurar pratos de qualidade. 4. Não serás sistematicamente modernista: devem-se priorizar produtos regionais e sempre utilizá-los como inspiração. 5. Buscarás o que as novas tecnologias podem proporcionar: os equipamentos de cozinha estão cada vez mais modernos, como a embalagem a vácuo, a utilização de baixas temperaturas e estas podem trazer benefícios. 6. Eliminarás os molhos escuros e brancos: deve-se evitar usar apenas os molhos como base para tudo, deve-se sempre preferir usar alimentos frescos, ervas, sumo do limão, azeite e manteiga como novas possibilidades. 7. Evitarás marinada, vinha d´alhos, maturação e fermentação: a simplicidade é o melhor caminho. 19G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R 8. Não ignorarás a dietética: os modos de preparo dos alimentos e os ingredientes usados também devem favorecer a saúde, optando, por exemplo, por alimentos grelhados, assados, ao vapor ao invés da fritura por imersão. 9. Não enganarás em tua apresentação: a apresentação do prato deve favorecer o alimento, não recobrindo-o totalmente com molho, por exemplo, para disfarçar um erro. 10. Serás inventivo: criar e recriar pratos é essencial, afinal, na gastronomia, a criatividade é essencial. Após esse movimento, a cozinha natural se tornou o braço direito do movimento slow food, que começou a aderir às suas caracterís- ticas, já que melhorar a nossa alimentação e arranjar tempo para saborear os alimentos é uma forma de tornar o cotidiano mais natural e saudável. O movimento slow food aborda que a ma- neira como nos alimentamos possui profunda influência no que nos rodeia, já que não pode- mos ignorar as relações entre o prato e o planeta. Esse movimento foi fundado por Carlo Petrini em 1986 e se tornou uma associação interna- cional sem fins lucrativos em 1989. Sua filosofia é a defesa da necessidade de informação do consumidor, protegendo identi- dades culturais ligadas a tradições alimentares e gastronômicas, protegendo os produtos ali- mentares, técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição e defendendo espécies vegetais e animais, domésticas e selvagens. Assim, o alimento deve ser bom, limpo e justo, ou seja, deve ser saboroso e deve ser pro- duzido de forma a respeitar o meio ambiente, além disso, os preços devem ser justos, tanto para quem os produz, quanto para quem os consome. A cozinha natural e o movimento slow food englobam, ainda, o conceito do comfort food (ou alimento do conforto), que são os alimentos as- sociados à segurança e à lembrança da infância, ou seja, os alimentos que lembram aconchego, aquele cheiro especial que vem da cozinha e acaba ficando na memória. Esse tipo de comida, que mexe com as memórias e traz a sensação de bem-estar, está totalmente ligada à infância e está na onda contrária à do fast food, atravessando receitas superelaboradas, conduzindo à simplicidade. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s E nquanto o fast food é baseado na rapi- dez, tanto no preparo, utilizando in- gredientes pré-preparados, quanto na distribuição, servindo a comida o mais rápido possível, o slow food preza o conforto, o cuidado no preparo e utilização de ingredientes de verdade e a falta de pressa em degustar para apreciar realmente os alimentos. É lógico que nós devemos ressaltar que, muitas vezes, ao utilizar os alimentos indus- trializados, estamos facilitando o trabalho; por exemplo, muitos restaurantes utilizam misturas prontas (ditas como profissionais) que são ven- didas com o apelo de custarem menos, tanto em preço da matéria-prima quanto economia de mão de obra, tempo e até equipamentos. No nosso dia a dia, muitas vezes, também escolhemos essas opções mais práticas, tro- cando, por exemplo, sucos naturais pelos in- dustrializados, já que a questão da praticidade Na cozinha natural e no movimento slow food são considerados erros atuais comuns: frituras, carnes vermelhas gordurosas, ali- mentos industrializados, temperos artifi- ciais, realçadores de sabor e defensores químicos. Você já reparou o quanto isso está presente no nosso dia a dia? 21G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R se tornou o hábito (e muitas vezes, também, necessidade). Porém, vale ressaltar que essas trocas acabam gerando excessos de açúcar, de sódio e de gordura na nossa alimentação. O Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014), que foi elaborado pelo Ministério da Saúde em 2014, ressalta que a alimentação adequada é a prática alimentarapropriada aos aspectos biológicos e socioculturais dos indivíduos, bem como ao uso sustentável do meio ambiente. Dentre as indicações do guia, tem-se: • Faça de alimentos in natura ou mini- mamente processados a base de sua alimentação. • Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. • Limite o uso de alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantida- des, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou mi- nimamente processados. • Evite alimentos ultraprocessados. Segundo o próprio Guia alimentar para a popu- lação brasileira (BRASIL, 2014), pode-se definir alimentos in natura, minimamente processa- dos, processados e ultraprocessados da seguinte forma: • IN NATURA: obtidos diretamente de plantas ou de animais sem que tenham sofrido qualquer alteração. • MINIMAMENTE PROCESSADOS: são alimentos in natura que, antes de sua aquisição, foram submetidos a alterações mínimas. • ALIMENTOS PROCESSADOS: produ- tos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado. • ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: produtos cuja fabricação envolve diver- sas etapas, técnicas de processamento e ingredientes, muitos deles de uso exclu- sivamente industrial. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Isto é, o abacaxi fresco é considerado um alimento in natura, o abacaxi em calda é um alimento processado e o suco de abacaxi em caixinha é considerado um alimento ultraproces- sado. Assim como o trigo em grão é considerado alimento in natura (ou minimamente proces- sado), o pão caseiro é considerado processado e o pão tipo bisnaguinha, por exemplo, é um alimento ultraprocessado. Uma regra simples para diferenciar os ali- mentos processados e ultraprocessados é ler o rótulo, se a lista de apresentar mais que cinco e possuir nomes de ingredientes pouco familiares, geralmente, são alimentos ultraprocessados. INGREDIENTES: ÁGUA, ÓLEOS VEGETAIS LÍQUIDOS E INTERESTERIFICADOS, VITAMINAS (”E”, “A” e “D”), ESTABILIZANTES MONO E DIGLICERÍDEOS DE ÁCIDOS GRAXOS E ÉSTERES DE POLIGLICEROL DE ÁCIDO RICINOLÉICO, CONSERVADORES BENZOATO DE SÓDIO E SORBATO DE POTÁSSIO, ACIDULANTE ÁCIDO CÍTRICO, AROMATIZANTE (AROMA IDÊNTICO AO NATURAL DE MANTEIGA), ANTIOXIDANTES TBHQ E BHT E CORANTES URUCUM E CÚRCUMA. NÃO CONTÉM GLÚTEN. Figura 2 - Rótulo da Margarina Becel® Fonte: Você mais fitness (2016, on-line)2. Os alimentos ultraprocessados tendem a afetar negativamente a cultura, a vida social e o am- biente, favorecem o consumo excessivo de ca- lorias e sódio, favorecem doenças do coração, diabetes e câncer. Além disso, os efeitos a longo prazo e seus efeitos cumulativos nem sempre são bem conhecidos. Por isso, devemos sempre pre- ferir os alimentos do modo mais natural possível. 23G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s 25G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Aplicação da Cozinha Natural Vemos que a alimentação natural está em alta, já que cada vez mais a população está fugindo de produtos prontos e industrializados, buscando basear sua alimentação em alimentos de verdade, frescos e naturais. Segundo a pesquisa Vigitel Brasil, realizada pelo Ministério da Saúde, em 2015, constatou-se um aumento no consumo de frutas e hortaliças nos anos anteriores, sendo que 69,1% da população brasileira consome regularmente as frutas e hortaliças atualmente, porém, nem toda a população consome o suficiente para garantir as quantidades recomendadas. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s A Organização Mundial da Saúde (OMS) reco- menda a ingestão diária de, pelo menos, 400 gramas de frutas e hortaliças. Os dados obtidos na pesquisa demonstram, com precisão, a ten- dência pela busca da cozinha natural e sua relação íntima com aumento no consumo de frutas e hortaliças, já que observamos um aumento sig- nificativo do consumo dentro das recomendações (em um ano, houve um aumento de 8,8%). Dentre as observações mais importantes da cozinha natural está evitar a utilização dos produtos industrializados na nossa alimentação diária, por exemplo, quantas pessoas não subs- tituem os fundos aromáticos por um simples tablete de pó ou fundo pronto? Veja a evolução do consumo dentro da recomendação, segundo a pesquisa Vigitel Brasil, realizada pelo Ministério da Saúde: Fonte: Brasil (2017) A ideia da cozinha natural é trabalhar sempre com os alimentos frescos obtidos da natureza da melhor forma possível, de maneira a não agredir o solo. Assim, a utilização, sempre que possível, de produtos orgânicos é uma das preocupações da cozinha natural. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) define os ali- mentos orgânicos como sendo aqueles in natura ou processados, que são oriundos de um sistema orgânico de produção agropecuária. Isto é, a produção de alimentos orgânicos é baseada em técnicas que dispensam a utilização de insumos, como os pesticidas sintéticos. Assim, sempre que possível, devemos aderir à compra de produtos orgânicos ou, então, optar por fazer uma pequena horta em casa ou no res- taurante, ir à feira de produtores locais, de forma a investir em saúde e em uma cozinha mais natural. 27G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Outra característica da cozinha natural é a utilização de vegetais e carnes frescas, já que, assim, é possível manter as características sen- soriais preservadas e favorecer a elaboração de um prato. A propriedade “sensorial” pode ser definida como toda propriedade que pode ser percebi- da por nossos sítios sensoriais: paladar, visão, olfato, tato e audição. Como regra de todas as cozinhas, devemos estimular ao máximo nossos sentidos sensoriais, não é? Afinal, é isso que faz com que o alimento proporcione uma experiência indescritível ao consumidor. Na cozinha natural, o objetivo principal é estimular os sentidos sensoriais e suas características próprias (ou encontradas naturalmente) nos alimentos. Você já deve ter observado a diferença entre uma carne recém-adquirida no açougue ou aque- las que compramos em gôndolas de mercados que são vendidas embaladas e congeladas. É evidente que encontramos diferenças sensoriais entre os ingredientes congelados e os frescos, já que não terão o mesmo sabor, textura, aroma e demais características sensoriais. Isso ocorre com a maioria dos ingredientes, por isso, sempre quando possível devemos utilizar os alimentos frescos. Hoje em dia, já é possível encontrar todo tipo de verduras, legumes e frutas em qual- quer época do ano, porém, na cozinha natu- ral, também devemos levar em consideração a sazonalidade dos alimentos. A sazonalidade é relativa à periodicidade, coisas que são ca- racterísticas de determinada época ou estação do ano. Então, a sazonalidade acontece quando os alimentos são produzidos em determina- das épocas, respeitando o processo natural de produção. Assim, quando você escolhe pela compra de um produto na sua época de produção, res- peitando a sazonalidade deste, quer dizer que esse ingrediente, além de ser mais barato, possui vantagens em suas propriedades nutricionais e sensoriais. As frutas cítricas, como a laranja, podem ser encontradas em qualquer época do ano. Porém, existe um período em que ela se apresenta muito mais doce, mais alaranjada, mais rica em nu- trientes e muito mais barata (essa época fica entre os meses de março e agosto, que são os meses mais frios do ano). Quando utilizamos os ingredientes sazo- nais, podemos promover melhora na saúde naturalmente, pois os alimentos, quando res- peitamos sua época ideal,possuem mais dispo- nibilidade de nutrientes, além de serem mais saborosos, mais bonitos, o que favorece melhor apresentação do prato. Guedes e Andrade (2016) afirmam que na cozinha natural não se dispensam os caules ou folhas que, diga-se de passagem, sequer se encontram disponíveis nas prateleiras de C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s supermercados. Os autores indicam, ainda, que na cozinha natural deve-se aproveitar o alimento no máximo de seu potencial, dando significação às cascas e restos que antes serviam à lixeira. Estes podem servir para o preparo de sucos, e os talos de verduras verde-escuras para preen- cher pães e bolos feitos com as fibrosas cascas de banana ou as sementes da abóbora. É por esse motivo que a cozinha natural não deve, necessariamente, seguir receituários padrões, já que, muitas vezes, o improviso e a criatividade serão necessários para evitar o desperdício dos alimentos. O que não tem mais aproveitamento na cozinha deve receber uma correta destinação, sendo depositado no próprio jardim ou na horta com a finalidade de se recompor ao ciclo natural da terra. Você conhece a ideia do movimento “do prato ao prato”? Trata-se de um ciclo do lixo orgânico que vários restaurantes participam, ou seja, o lixo orgânico dos restaurantes é transformado em adubo, por meio da compostagem, e este é uti- lizado para enriquecer o plantio e, assim, o alimento volta ao restaurante. Veja só o quanto é importante a relação do cozinheiro com o alimento e mais do que isso, como o aproveitamento dos ali- mentos e a cozinha natural vêm sendo trabalhados pelos chefs atuais. Por exemplo, o Shopping Eldorado, em São Paulo, com a ajuda de seus funcioná- rios, desenvolveu um projeto de compos- tagem. Eles passaram a utilizar o que seria descartado da praça de alimentação para fazer adubo e criaram, na laje do prédio, uma enorme horta urbana. Fonte: adaptado de Movimento lixo zero (2017, on-line)3. 29G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R O que é a cozinha natural? É uma cozinha baseada na utilização de ingredientes in natura, frescos e preparados com o mínimo de processamento possível. Qual a sua importância para a saúde? Ao evitar o consumo de alimentos processa- dos, pode-se evitar a ingestão excessiva de sal, açúcar e gordura, além de ingerir maio- res quantidades de vitaminas e minerais, colaborando diretamente para a saúde. E qual a importância dela para a gastro- nomia? O consumo de alimentos naturais e in natura favorecem as características sensoriais e a apresentação dos pratos, por manter o sabor, cor e odor real dos alimentos. Quais são as tendências? A população busca, cada vez mais, a sustentabilidade e a saudabilidade. Por esse motivo, a cozinha natural é, cada vez mais, uma tendência no cenário gastronômico atual. Não podemos esquecer que para promover a prin- cipal característica da cozinha natural, devemos explorar a criatividade, relacionar a nutrição e a gastronomia como vertentes para uma alimenta- ção saudável, desenvolver pratos balanceados que estimulem nossos sentidos sensoriais e associar o alimento ao prazer de se alimentar. Savioli e Caleffi (2013) afirmam que a co- zinha deve ser encarada como um grande labo- ratório, onde novas experiências serão grandes desafios. Não se deve ter medo! Na cozinha na- tural, é necessário que a criação de novas emo- ções sensoriais tome conta de toda a cozinha, isto é, de tudo aquilo que envolve os sentidos humano, como: 1. Paladar: sabores que resgatem a memó- ria afetiva, como aquele temperinho que só a avó sabe fazer. 2. Olfato: aquele cheiro gostoso que invade toda a casa, como o da poncã sendo descascada. 3. Visão: o desafio de fazer de cada prepa- ração uma harmonia de cores e formas. 4. Audição: o som das folhas frescas da salada sendo rasgadas pelas suas mãos. 5. Tato: o toque aveludado de algumas frutas, como o pêssego, que nos faz in- conscientemente levá-lo até o rosto para acariciar nossa pele. Quem não se lembra de já ter passado por isso em algum dos sentidos? Lembre-se, aluno(a), que na cozinha natural devemos promover a absorção máxima dos nutrientes e estimular o consumo por meio de pratos bem-apresentados. Outra caracte- rística muito importante na cozinha natural deve estar relacionada às trocas inteligentes, substituindo alimentos que conhecidamente fazem mal à saúde por alimentos que promo- vam a saúde. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s 31G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Classificação dos Alimentos Nossa saúde é dependente de nossa alimentação, por isso, conhe- cer a origem dos alimentos é imprescindível para conhecer sua qualidade biológica, que é dependente de como esses alimentos são produzidos. Por isso, é extremamente importante conhecer as diferentes classificações dos alimentos. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Alimento convencional É o alimento que foi produzido com o uso de solo, adubos químicos altamente solúveis e com o uso de agrotóxicos, utilizando-se substâncias permitidas, em concentrações permitidas. Alimento orgânico No Brasil, a Instrução Normativa nº 7, de 17 de maio de 1999, do Ministério da Agricultura, dispõe detalhadamente sobre as normas de pro- dução, processamento, embalagem, distribui- ção, identificação e certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origem vegetal e animal. Assim, alimento orgânico é o alimento que, a princípio, acaba sendo conhecido unicamente como um produto isento de fertilizantes quími- cos e agrotóxicos. Porém, além disso, é aquele que é produzi- do com o uso do solo equilibrado, no sentido químico, físico e biológico, ou seja, um solo vivo, com boas condições para que a planta se desenvolva bem e produza alimentos sadios e sem resíduos tóxicos. Para a produção de um alimento orgâni- co, não se permite a utilização de agrotóxicos e adubos químicos de alta solubilidade, bem como nenhum outro produto que deixe resíduos no solo, na água, nos animais e nos alimentos. Para a nutrição e o tratamento fitossanitário das plantas, são utilizados apenas produtos naturais que podem ser manufaturados pelo próprio produtor. Além de tudo, o alimento orgânico traz alguns outros pontos, como a exclusão do emprego de organismos geneticamente modi- ficados, ou seja, não utiliza-se alimentos trans- gênicos, apenas mudas e sementes originais e nativas. O alimento orgânico traz, na embalagem, o selo verde como uma garantia de sua qualidade. Para que o produtor possa conseguir o selo, este passa por um processo de certificação, no qual o sistema de produção é monitorado por um fiscal conceituado que exige análises laborato- riais periódicas do solo, da água utilizada para 33G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R irrigação e lavagem dos produtos, bem como dos próprios alimentos produzidos. Essas análises comprovam ausência de resíduos tóxicos como garantia da qualidade biológica e a segurança do consumidor. Existe a exigência de que a certificação seja feita por entidades nacionais e sem fins lucrati- vos, assim, o selo de certificação para alimentos orgânicos é uma garantia de que o sistema de produção está sendo acompanhado, em visitas rotineiras, por técnicos especializados na área. Além dos alimentos in natura, também existe o mercado de produtos orgânicos pro- cessados, que tem apresentado um grande crescimento nos últimos anos. Já se encontra itens como: sucos, geleias, doces, pães, biscoitos, molhos, cervejas, cachaça, mel, pratos congela- dos, açúcar, café, hortaliças processadas, cama- rão, ovos, frangos e carnes orgânicas. Porém, o grande impasse ainda está no alto preço desses alimentos, que são, em média,40% mais elevados do que os produtos convencio- nais, chegando a custar cerca de 200% a mais em determinados produtos e regiões. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Alimentos transgênicos O código genético compõe os genes presentes nas células e contém todas as informações ne- cessárias para a vida. A engenharia genética permite transferir um gene de um organismo para o outro, podendo ser da mesma espécie ou não. Os alimentos transgênicos são aqueles que tiveram introduzidos, dentre os seus genes, um novo gene ou fragmento de DNA. O Decreto número 3.871, de 18 de julho de 2001, criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, disciplina a rotulagem de alimentos embalados que contenham ou sejam produzidos com organismos geneticamente modificados, e dá outras providências. 35G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R O decreto estabelece que deverão ser rotulados alimentos embalados, destinados ao consumo humano, que contenham ou sejam produzidos com organismos geneticamente modificados, cuja presença seja de até 4% do produto. O rótulo deverá apresentar a expressão “[tipo do produto] geneticamente modificado” ou “contém [tipo do produto] geneticamente modificado”. Essa alteração no DNA envolve efeitos intencionais, relacionados a características do gene introduzido. Porém, também promove efei- tos não intencionais, decorrentes dessa inserção da manipulação genética conduzida. Ainda não existem muitas pesquisas na nutrição experimental com os alimentos transgênicos a fim de averiguar ou descar- tar os prováveis riscos do seu consumo e utilização para a saúde dos consumidores. Nós somos a geração que vem consumindo esses produtos em maiores quantidades diariamente, e só daqui a alguns anos é que saberemos quais foram os efeitos cau- sados na nossa saúde. Pense bem antes de consumi-los e se atente aos rótulos dos alimentos. Fonte: a autora Os riscos potenciais estão, portanto, asso- ciados ao novo DNA introduzido, já que as novas proteínas formadas nos alimentos transgênicos podem ser tóxicas, ter ação antinutricional ou causar algumas mudanças no valor nutricional do alimento. No Brasil, vem-se testando, há muitos anos, a utilização dos transgênicos para o melhoria do milho e da soja, principalmente para combater os insetos. O objetivo é reduzir as contamina- ções por pragas e fungos. Alimento hidropônico É um alimento produzido em ambiente prote- gido, ou seja, sem a utilização do solo e com o uso de adubos químicos de fácil solubilidade em água. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s As plantas são cultivadas dentro de tubos plásticos perfurados ou em recipientes com substrato; entre elas, percorre-se uma solução de água e adubos químicos. Assim, as raízes absorvem nutrientes diretamente dessa solução que circula dentro dos tubos ou no meio de cultivo dos recipientes utilizados. Como o cultivo fica longe do solo, as plan- tas acabam sendo menos contaminadas com bactérias, fungos, lesmas, insetos ou vermes. E, por serem criadas em um ambiente con- trolado, crescem mais saudáveis. Assim, o risco de contaminação fica mais restrito ao momento do manuseio. Porém, quando há a necessidade de utilizar agrotóxicos, estes podem ser utilizados. No Brasil, o maior cultivo na agricultura atualmente é o de alface que, junto com o agrião e a hortelã, são responsáveis por 80% da pro- dução de hidropônicos brasileira. Alimento diet Os alimentos diet são regulamentados pela Portaria SCS/MS nº 29, de 13 de janeiro de 1998, que aprova o regulamento técnico para a fixação de identidade e qualidade de alimentos para fins especiais. Os alimentos diet são aqueles especialmen- te formulados ou padronizados de forma que a sua composição química atenda às necessidades nutricionais e dietoterápicas de pessoas com necessidades físicas, metabólicas e, às vezes, fisiológicas e/ou patológicas particulares. 37G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Os alimentos diet são, geralmente, utili- zados em dietas com restrição de nutrientes, possuindo total ausência de um determinado ingrediente, como, por exemplo, o açúcar, a gor- dura ou o sódio. Dentre os termos que substituem “diet”, estão: “livre”, “isento de”, “não contém”, “zero”. Entre os principais exemplos de alimentos die- téticos, tem-se os doces, que não possuem sa- carose, ou seja, açúcar, sendo adoçados com edulcorantes. Como outros exemplos, tem-se o pão isento de glúten, o leite sem lactose etc. Vale ressaltar que nem todos os produ- tos nomeados como “diet” apresentam diminuição significativa da quantidade de calorias e, portanto, devem ser evitados pelas pessoas que desejam emagrecer. Um exemplo clássico é o chocolate diet, que apresenta teor calórico próximo do chocolate normal, é um alimento indicado para pessoas diabéticas por ser isento de açúcar, mas não é indicado para pessoas que desejam reduzir o peso, já que nele há um acréscimo de gordura (para substituir o açúcar), o que faz com que seu valor caló- rico se aproxime ao do chocolate normal. Fonte: Ornelas (2006) Alimento light Regulamentado pela portaria SVS/MS nº 29, de 13 de janeiro de 1998, representa os alimentos com redução mínima de 25% de qualquer um de seus atributos, como calorias, açúcar, sal, gordura, carboidratos, colesterol, entre outros. Os produtos possuem, então, menores va- lores energéticos ou alguns de seus nutrientes ou ingredientes reduzidos quando comparados aos alimentos similares do mesmo fabricante, ou, então, de similares conhecidos no mercado. Alguns produtos bastante conhecidos nessa categoria são: maionese light, sal light, entre outros. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s para o consumo sem supervisão médica, con- forme a Resolução nº 18, de 30 de abril de 1999 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vale ressaltar que as alegações de proprie- dades funcionais devem ser comprovadas por meio de pesquisas científicas e, para registro no Ministério da Saúde, deve haver demonstração de eficácia e segurança do produto. Além disso, as alegações fazem referência à manutenção geral da saúde, papel fisiológico e a redução do risco de doenças, não sendo permitidas alega- ções de saúde que façam referência à cura de doenças. Alimento funcional Este é o mais novo grupo de alimentos que tem sido alvo de diversas pesquisas e é considera- do capaz de propiciar efeitos benéficos à saúde quando consumido com frequência. Esses ali- mentos que, ao mesmo tempo, nutrem e previ- nem doenças, conforme suas propriedades, são chamados alimentos funcionais. Isto é, o alimento funcional pode ser defi- nido como todo aquele alimento ou ingrediente que, além de suas funções nutritivas básicas, quando consumido como parte de uma dieta usual, possui efeitos metabólicos e/ou fisiológi- cos e/ou benéficos à saúde, devendo ser seguro 39G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R D essa forma, os alimentos funcionais não são destinados a tratar ou curar doenças, mas sim a melhorar a qua- lidade de vida de quem os consome. Dentre alguns exemplos de alimentos fun- cionais tem-se o tomate, que é rico em licopeno, um pigmento de coloração vermelha que atua na prevenção e na redução do risco de câncer, prin- cipalmente o câncer de próstata. Além deste, na cenoura encontramos o beta-caroteno, um agente oxidante que combate radicais livres e é o pigmento responsável pela coloração alaranjada de diversos alimentos. A soja também é um alimento funcional, já que possui as isoflavonas, fito-hormônios que possuem a capacidade de reduzir os sintomas da menopausa, além de proteger contra doenças cardíacas e alguns tipos de câncer. Alimentos enriquecidos Os alimentos enriquecidossão regulamentados pela Portaria SVS/MS nº 31, de 13 de janeiro de 1998, que aprova o regulamento técnico para fixação da identidade e qualidade de alimentos adicionados de nutrientes essenciais. Enriquecer ou fortificar o alimento é adicionar um ou mais nutrientes essenciais contidos na- turalmente, ou não, no alimento, com objetivo de reforçar o seu valor nutritivo ou prevenir e corrigir deficiências demonstradas em um ou mais nutrientes da alimentação da população ou em grupos específicos. O enriquecimento-se aplica, em geral, a um alimento que contém, ou não, vitaminas e minerais antes do beneficiamento, e esses nu- trientes são suplementados, a fim de suprir uma fração das necessidades diárias, que depende da legislação vigente no país. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Hoje em dia, muitos estabelecimen- tos se auto intitulam SAUDÁVEIS, FIT e FUNCIONAIS. Vamos entender como di- ferenciar essas nomenclaturas? • Restaurante saudável: são considerados saudáveis, aqueles restaurantes que va- lorizam a diversidade de ingredientes, evitando industrializados e usam, em geral, alimentos de origem regional, além de priorizar métodos de preparo que reduzem o teor de gordura dos ali- mentos (assados, cozidos e grelhados). • Restaurante fit (ou fitness): são aqueles que fornecem alimentação específica para o objetivo individual de acordo com a estratégia traçada pelo nutricionista. Geralmente com foco mais estético, na culinária fit priorizam-se o balanço entre a porção de carboidrato e prote- ína a serem ingeridas, além de agregar nutrientes, como vitaminas e minerais. • Restaurante funcional: visa agregar os alimentos com propriedades que tragam benefícios além do valor nutritivo, que é inerente à sua composição química, deixando as refeições mais nutritivas. Fonte: a autora Alimentos integrais Os alimentos integrais podem ser industriali- zados, porém, são chamados de integrais, pois mantiveram todas as suas características e a totalidade dos seus nutrientes, ou seja, o modo como foram colhidos na natureza. Isso significa que, apesar de industrializados, a industrializa- ção não foi capaz de retirar partes significativas. Um exemplo é o que ocorre nos grãos e cereais (como arroz, trigo, aveia e centeio), que não pas- saram pelo processo de refinação e conservaram seus componentes originais, incluindo cascas e películas protetoras. Agora que sabemos as definições corretas dos termos atualmente muito usados, vale ressaltar que esse nicho de mercado é antenado com relação à ali- mentação natural e orgânica, tem grande poder de decisão e conhece bem os produtos e tem conhecimento das diretrizes para uma alimentação saudável. Porém, acima de tudo, esse público busca novidades no setor. Então, aluno(a), use seus conhecimentos e criatividade e faça a diferença nesse mercado promissor. 41G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R co ns id er aç õe s fi na is É fato que um crescente número de pessoas vem se preocupando com a saúde, abrindo espaço para o promissor mercado de alimen- tação natural, afinal, a população já sabe que para viver melhor, é necessário alimentar-se bem; a conscientização de que a qualidade de vida depende da alimentação já aconteceu. O aumento da obesidade, do estilo de vida estressante e sedentário dos moradores das grandes cidades e, até mesmo, a preocupação em seguir um padrão de beleza são fatores que motivaram essa tendência. Caro(a) aluno(a), conhecendo a classificação dos alimentos, é possível definir os diferentes grupos alimentares adequadamente, usando sempre termos adequados, afinal, muitos termos hoje são banalizados. Por exemplo, não basta apenas não usar agrotóxicos para dizer que um ali- mento é orgânico, é necessário muito mais do que isso, inclusive, deve-se conhecer o histórico da terra, pois não se deve ter resíduos de agrotóxicos, que podem ficar no solo por vários anos, ou seja, não é porque os folhosos são plantados no fundo do restaurante e sem agrotóxicos que serão, obrigatoriamente, orgânicos. Assim como não é apenas adicionando uma parte de farinha integral em um pão que podemos chamá-lo de funcional, não é? Hoje, só por adicionar qualquer ingrediente natural, como linhaça e aveia, muitas pessoas já deno- minam o produto como “funcional” ou “detox”. Vale lembrar, que o termo “detox” ainda não foi regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e que para ser “detox”, vários estudos são necessários para comprovação. Portanto, temos que ter cuidado com o que prometemos e dizemos aos nossos clientes. Enquanto profissionais da gastronomia, atentem-se ao modismo, propagandas enganosas e banalização das definições e não façam marketing e propaganda enganosos ao cliente. Então, aluno(a), finalizo essa unidade lembrando que opções saudáveis devem ser inseridas no cardápio de todos os estabelecimentos, independen- temente da classe social que abrangem, idade do público-alvo, localização ou tipo de refeição. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s le it ur a co m pl em en ta r Leia esta matéria publicada na revista digital Food Magazine, em outubro de 2015, que demonstra o início desse novo cenário gastronômico: a busca pela cozinha natural, com ingredientes de verdade! EVOLUÇÃO DAS PADARIAS Para atender ao aumento da demanda e a alta expectativa dos clientes, as padarias tiveram que se reinventar O setor de panificação e confeitaria é um dos mais promissores da alimentação fora do lar, apesar de estar registrando desaceleração desde 2010. O índice de crescimento em 2014 foi de 8,02%, segundo ano consecutivo que o setor apresenta uma elevação inferior a 10%, a menor taxa dos últimos oito anos. Os dados fazem parte do levantamento do Instituto Tecnológico de Panificação e Confeitaria em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria, através de pesquisa em mais de 1200 empresas de todo o País, abrangendo representantes do setor de todos os portes. Apesar do crescimento não ter sido tão vigoroso, o faturamento das empresas de Panificação e Confeitaria cresceu, entre 2010 e 2014, 46,5%. Somente em 2014, as cerca de 63 mil padarias presentes em todo território brasileiro receberam cerca de 41,5 milhões de clientes diários e faturaram R$ 82,5 bilhões. Por outro lado, os gastos também subiram, em média, 11,5%. Os preços dos produtos adquiridos pelas empresas de panificação no atacado tiveram um reajuste médio de 8,71%, a alta do salário médio do setor foi de 18,2%, o custo com embalagens aumentou em 13,3% e a energia elétrica 14,8%. O gasto com pessoal também subiu, de 2010 a 2014, 50,2%. Segundo pesquisa realizada pelo Dataconsumer, 52% dos clientes que frequentam padarias têm um grau de exigência muito elevado sobre os produtos panificados. Isso torna a operação das empresas um desafio maior. Para atender a alta expectativa de seus frequentadores, elas tiveram que se reinventar. A diversificação foi a alternativa encontrada por padarias, que hoje ofertam uma variedade de produtos e serviços que vão da conveniência a refeições, uma tendência em todo país para preencher a ausência de demanda no horário de almoço. “Percebemos que muitas padarias têm se reestrutu- rado fisicamente para chamar a atenção dos consumidores, tornando-se cada vez mais aconchegantes na procura por serviços rápidos e de extrema qualidade”, afirma Luciano Braile, diretor da Nilpan. 43G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R le it ur a co m pl em en ta r Estratégias para a diversificação A diversidade de oferta de produtos nas padarias tem gerado uma necessidade de arti- fícios para facilitar o dia a dia, como a terceirização e a utilização de produtos prontos ou semi-prontos. Esta é uma realidade diante de profissionais especializados, alémdos elevados encargos de um funcionário. “Os custos operacionais nas empresas tem subido muito acima da velocidade das vendas. Sendo assim a necessidade do aumento da produ- tividade é cada vez mais evidente. Vale ressaltar que o cliente está cada vez mais exigente e demandando maior variedade e frescor. Para atendê-lo, estas soluções são de grande valia, pois conseguem agilidade e produção a qualquer hora do dia, oferecendo assim alimentos frescos”, sublinha Emerson Amaral, diretor técnico do Instituto Tecnológico de Panificação e Confeitaria. Outro ponto é a necessidade de significativos investimentos em equipamentos de acordo com as normas vigentes, principalmente a NR12. Neste caso, a terceirização isenta deste volume de investimento inicial. Por isso, muitas empresas do setor funcionam como “ponto quente”, padarias que não manipulam nem produzem nada, apenas comer- cializam. “É mais fácil montar a área de vendas, pois na produção tem toda vistoria da Anvisa. Terceirizar é não ter gasto com mão de obra, equipamentos, água, luz e espaço”, ressalta Samara Trevisan Coelho (2002), professora do curso de extensão universitária Mestre Padeiro Internacional, do Centro Universitário Senac - Santo Amaro. Assim como algumas padarias trabalham apenas como ponto de comercialização, outras resolveram baixar as portas e somente fabricarem para abastecer estabelecimentos. Além dos produtos frescos, elas também ofertam, assim como as grandes indústrias, pães congelados, que têm se apresentado hoje como uma tendência forte e crescente. O mercado aprimorou as técnicas de congelamento e hoje oferece toda a variedade de opções, o que há algum tempo não era possível. “Há uma linha de congelados com alta qualidade. Hoje existe tecnologia para trabalhar com alta produção e ter uma vitrine sempre fresca. Temos todos os produtos da linha de padaria prontos congelados, per- mitido pelo avanço da tecnologia e conhecimento técnico”, diz Samara. As misturas pré-prontas, apesar de ainda utilizar mão de obra e espaço, agilizam os processos, não exigem tanto conhecimento técnico e reduzem o número de funcionários. Existem tanto pré-misturas mais acessíveis como de alta qualidade. É possível atingir o objetivo de ter uma vitrine com variedade e qualidade através das misturas. Entretanto, C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s le it ur a co m pl em en ta r o consultor Fabiano Xavier, proprietário da FX Consultoria, alerta: “Acredito que haverá crise nos ‘segmentos’ de panificação. Aqueles empresários que apostarem em diversidade maquiada, ou seja, modelos diferentes de pães feitos com a mesma massa, poderão ter queda nas vendas”. Tendências Na contramão do desenvolvimento das padarias multifacetárias, vem ocorrendo o aumento das padarias boutique que produzem pães artesanais, especialmente em São Paulo, pois, como destaca Fabiano Xavier, as padarias modernas estão perdendo sua identidade e personalidade. “Vemos muita pasteurização, mas pouca segmentação. Acredito que haverá um mercado muito grande para a segmentação. Pães com fermento natural, farinhas hipoalergênicas, já são realidade há décadas na Europa e Estados Unidos. Lojas de cupcakes, de pão de queijo, de brigadeiros, confeitarias voltadas somente para diet e light, padarias totalmente integrais”. Para Samara Trevisan, a oferta de produtos específicos, especialmente com apelo mais saudável, como massas sem glúten e lactose, é uma tendência [...]. Fonte: Food Magazine (2015, on-line)4. 45G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R at iv id ad es d e es tu do1. Na gastronomia, vários movimentos são criados de forma a promover maior apreciação da comida, do produtor e da produção. Dentre os movimentos gas- tronômicos, descreva: o que é slow food? E comfort food? 2. Assim como a moda, a música, o cinema e a gastronomia, todas as artes mudam e evoluem constantemente. Sobre isso, responda: por que a cozinha natural é uma tendência no cenário gastronômico atual? 3. Relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda de acordo com as opções correspondentes quanto aos tipos de alimentos. 1. Alimento enriquecido ( ) Objetivo de prevenir ou corrigir deficiências de um ou mais nutrientes da alimentação. 2. Alimento funcional ( ) Além das funções nutricionais básicas, produz efeitos benéficos à saúde. 3. Alimento hidropônico ( ) Foi introduzido entre seus genes um novo gene ou DNA. 4. Alimento transgênico ( ) Produzido com o uso do solo, adubos químicos e agrotóxicos permitidos. 5. Alimento convencional ( ) Pode estar apoiado em substrato inerte. Assinale a alternativa correta: a. 2, 1, 5, 3, 4. b. 1, 2, 4, 5, 3. c. 1, 2, 5, 3, 4. d. 2, 1, 4, 5, 3. e. 1, 2, 3, 5, 4. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s m at er ia l c om pl em en ta r Chef’s Table Criador: David Gelb Disponível no Netflix Sinopse: essa série documental indicada ao Emmy mostra o que acontece nas cozinhas e nas mentes dos chefs que estão redefinindo o conceito de alta gastronomia. Comentário: assistir a essa série irá, sem dúvida alguma, comple- mentar de forma detalhada as informações da unidade, principalmente no conhecimento da relação do chef de cozinha com os alimentos que cozinha, já que muitos deles têm sua própria horta e eles mesmos cozinham os alimentos que utilizam. 47G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R re fe rê nc ia s AURÉLIO, H. B. Míni Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 8. ed. São Paulo: Positivo Editora, 2010. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 18, de 30 de abril de 1999. Estabelecer as Diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 1999. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia alimentar para a população bra- sileira: promovendo a alimentação saudável. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>. Acesso em: 06 out. 2017. ______. Ministério da Saúde. Vigitel Saúde Suplementar: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Agência Nacional de Saúde Suplementar; Ministério da Saúde, 2017. ______. Ministro de Estado da Agricultura e do Abastecimento. Instrução Normativa nº 7, de 17 de maio de 1999. Dispõe sobre Normas disciplinadoras para a produção, tipificação, processamen- to, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade de produtos orgânicos, sejam de origem animal ou vegetal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 1999. ______. Presidência da República. Decreto nº 3.871, de 18 de julho de 2001. Disciplina a rotula- gem de alimentos embalados que contenham ou sejam produzidos com organismos geneticamente modificados. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2001. ______. SVS/MS. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 31, de 13 de janeiro de 1998. Aprova o Regulamento Técnico referente a Alimentos Adicionados de Nutrientes Essenciais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 1998. ______. SVS/MS. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 29, de 13 de janeiro de 1998. Aprova o Regulamento Técnico referente a Alimentos para Fins Especiais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 1998. BURKHARD, G. K. Novos caminhos da alimentação: conceitos básicos para uma alimentação sadia. São Paulo: CLR Baliero, 1984. COELHO, T. Alimentos: Propriedades Físico-Químicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2002. GUEDES, F. L. A.; ANDRADE, M. O. A cozinha natural como lugar de reencantamento do corpo feminino. Demetra, v. 11, n. 4, p. 897-916, 2016.C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s re fe rê nc ia s ORNELAS, L. H. Técnica Dietética: seleção e preparo de alimentos. 8. ed. São Paulo: Atheneu, 2006. SAVIOLI, G.; CALEFFI, R. Escolhas e impactos: gastronomia funcional. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013. Referências On-line 1 Em: <http://foodmagazine.com.br/noticia-food-service/alimentacao-saudavel>. Acesso em: 6 ago. 2017. 2 Em: <http://vocemaisfitness.com/2016/03/16/industrializados-do-bem/>. Acesso em: 6 ago. 2017. 3 Em: <http://lixozero.org/v2/compostagem-o-ciclo-do-prato-ao-prato/>. Acesso em: 6 ago. 2017. 4 Em: <https://www.foodmagazine.com.br/noticia-food-service/a-evolucao-das-padarias>. Acesso em: 6 ago. 2017. 1. • Slow food é um movimento que tem como objetivo promover uma maior apreciação dos alimentos, melhorando a qualidade das preparações e um sistema produtivo que valorize o alimento, o produtor e o meio ambiente. É uma contraposição ao fast food; • Já comfort food, ou comida afetiva, á uma tendência em alimentação saudável e natural que traz aconchego e valoriza as receitas familiares e tradicionais, ou seja, que lembra a infância e o costume. 2. Cada vez mais a população está se preocupando com o envelhecimento saudá- vel, então, além de adotar novos hábitos de vida, como a prática de atividades físicas, a alimentação também vem sendo cuidada. Dentre as preocupações com a alimentação, tem-se a de evitar alimentos industrializados e valorizar alimentos naturais, que concentram sabor e maior quantidade de nutrientes. 3. B. ga ba ri to Produção de Alimentos Naturais e sua aplicação nas Dietas Vegetarianas THANISE PITELLI PAROSCHI A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Vertentes da cozinha vegetariana • Horta de alimentos • Ervas e especiarias • Diferenciar os tipos de vegetarianos. • Identificar as vertentes da cozinha vegetariana. • Introduzir sobre a produção de ingredientes naturais. • Abordar as ervas e especiarias como forma de diversificar as pre- parações elaboradas. Plano de Estudo Objetivos de Aprendizagem IntroduçãoIntrodução Olá aluno(a), nesta unidade, vamos conhecer um pouco sobre os tipos de dietas vegetarianas que existem. Vale ressaltar que a cozinha natural não é, obrigatoriamente, uma cozinha vegetariana, porém, é uma cozinha onde o consumo de ingredientes naturais é prioridade. Além disso, também vamos abordar a produção de ingredientes, afinal, é essencial que um estudante de gastronomia e um cozinheiro entenda de onde vêm os ingredientes, não é? Quando vamos fazer uma receita, nos dirigimos até um mercado e os ingredientes que pre- cisamos estão lá, postos na gôndola. Porém, quanto tempo demorou para esse ingrediente ser cultivado? Qual o caminho que ele percorreu? Porém, a diferença entre os diferentes alimentos? Essas perguntas, muitas vezes, não somos capazes de responder. Por isso, vamos falar sobre a horta de alimentos, promovendo uma discussão sobre a relação do homem com os alimentos por meio da forma de cultivo, determinando importantes elementos de qualidade e variedade destes. Falando em variedade, não faz muito tempo que os temperos mais comuns eram apenas o sal, a pimenta e, talvez, o colorau, não é? As ervas frescas ficavam restritas a um pé de hortelã ou salsa no fundo do quintal. Porém, graças ao grande movimento étnico e à movimentação de pessoas pelo mundo, hoje existe uma abundância de ervas, temperos e sementes associadas às mais diversas cozinhas. E é impossível comparar o sabor e o frescor que é gerado pelas ervas frescas. Por isso, vamos abordar as diferentes ervas e especiarias existentes, de modo a ampliar o conhecimento e a criatividade na elaboração de receitas na cozinha natural. 51 C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s 53G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Vertentes da Cozinha Vegetariana Vamos iniciar essa unidade ressaltando que a cozinha natural não é, obrigatoriamente, uma cozinha vegetariana. O vegetarianismo não é um movimento recente, muito pelo contrário, surgiu há cerca de cinco milhões de anos atrás e já Pitágoras e Platão defendiam a não crueldade com os animais. Esse movimento foi ganhando força ao longo da história, e antes de 1847 já se dizia que os indivíduos que não ingeriam carnes haviam aderido a um sistema de dieta vegetal, também chamada dieta pitagórica (do sábio grego Pitágoras), que, hoje em dia, tem um considerável impacto na sociedade. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s O vegetarianismo é um estilo de vida que deve ser considerado pelos gastrólogos, já que é cada vez maior o número de pessoas que aderem a esse tipo de dieta e, como profissionais da área, devemos sempre nos atentar às necessidades dos nossos clientes. Relatar quais são os tipos de vegetarianos existentes é uma tarefa extremamente difícil, pois é uma mistura de cultura, filosofia de vida e terminologias que são pouco explicadas e diferenciadas. Segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio (2010), a palavra “vegetariano” significa: relativo à alimentação exclusivamente vege- tal. Assim, a partir dessa definição, podemos entender que vegetarianos se alimentam ex- clusivamente dos vegetais e, por isso, os que consomem laticínios, ovos e mel não podem ser considerados vegetarianos, não é? Já que leite e ovos não dão em árvores e não são extraídos do solo. Porém, existem aqueles que incluem tais componentes. Assim, Vannucchi (1990) apre- senta os seguintes subtipos de vegetarianismo: • Vegetarianos: não consomem produtos de origem animal, excluem a carne de animais e também seus produtos, como ovos e laticínios, ou seja, o vegetariano não se alimenta de nada que envolva sofrimento animal. • Vegetarianos semiestritos: adotam uma dieta que exclui quase todos os alimentos de origem animal, abrangendo apenas o mel. • Ovo-lacto-vegetarianos: alimentam-se de laticínios e ovos, além de produtos de origem vegetal. • Ovo-vegetarianos: incluem, na sua ali- mentação, os ovos, mas excluem o leite e todos os demais derivados. • Lacto-vegetarianos: alimentam-se de laticínios, além de produtos de origem vegetal. É a dieta tradicional da popula- ção indiana. • Pesco-vegetarianos: dieta que não exclui o consumo de pescados. • Crudívoro: é um estilo de dieta no qual seus seguidores consomem apenas ali- mentos crus (ou que não passam de tem- peraturas superiores a 40ºC). • Frugívoro: também conhecido como frutívoro ou frutariano, são os que se alimentam exclusivamente de frutos, como tomate, banana, maçã etc. Vegano Segundo a Sociedade Vegan Britânica, pode-se definir veganismo como uma forma de vida que exclui todas as formas de exploração e cruelda- de contra o reino animal. Inclui o respeito por todas as formas de vida. Isto se aplica no uso da prática de viver somente de produtos derivados do mundo vegetal. 55G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Isto é, estes são os verdadeiros vegetaria- nos, pois excluem da sua dieta todos os produtos de origem animal, seja carne, ovos, laticínios, mel ou gelatina. Porém, o veganismo vai além de uma simples questão de dieta, é também um estilo de vida, pois adota a proteção aos animais em todas as suas vertentes, isso inclui o material utilizado para suas roupas (não usam lã, couro, seda etc.), produtos de higiene pessoal, cosmé- ticos ou qualquer produto que envolva teste ou exploração animal. Além disso, o vegano não pesca, não caça e não aprova a utilização de animais nos circos ou zoológicos, rodeios ou touradas. Em 2012, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE realizou uma pesquisa que demonstrou que 15,2 mi- lhões de brasileiros se declaram vegetaria- nos, incluindo todas as suas vertentes. Em termos de porcentagem,isso corresponde a 8% da população brasileira. Segundo a pesquisa, São Paulo é a cidade com maior número de vegetarianos, são 792 mil pessoas, enquanto em Fortaleza tem-se o maior percentual em relação ao número de habitantes, sendo 14% da população. Fonte: IBOPE (2012)1. C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Existem diversos motivos para que se adote uma dieta vegetariana, já que aderir a esse estilo ou essa filosofia de vida engloba motivos que in- cluem fatores racionais e emocionais. Couceiro, Slywitch e Lenz (2008) descreveram os princi- pais, que serão citados a seguir: 1º MOTIVO Respeito pelos direitos dos animais Esta é uma das questões mais pertinentes para que uma pessoa decida se tornar vegetariano: querer proteger os animais. Muitos afirmam que não somos superiores a nenhum outro ser vivo, por isso, deveríamos respeitar a vida do próximo. O respeito pelo direito dos animais também inclui questões éticas e pacifismo; já que o homem não é superior aos animais, ambos devem coexis- tir. Além disso, por respeito aos animais, deverí- amos ser contra o confinamento, a utilização de rações artificiais, utilização de medicamentos e hormônios, bem como os maus-tratos. Muitos vegetarianos questionam: por que você protege tanto seu animal de estima- ção se é capaz de matar um boi para se alimentar? Você já pensou nisso? 2º MOTIVO Questões religiosas Muitas religiões indicam a adoção de uma dieta vegetariana. Não é questão de pecado, mas sim de não violência ou de opção mais saudável. Por exemplo: Adventistas do sétimo dia, Budistas, entre outras. 3º MOTIVO Economia Ao adotar a alimentação vegetariana, tem-se uma base alimentar mais barata, principalmente pela facilidade de plantar vegetais na horta de casa. Além disso, os alimentos processados de origem vegetal normalmente são feitos dentro de casa, como o tofu. 4º MOTIVO Questões ecológicas A agricultura animal consome recursos naturais de forma ineficiente, contribui para o desmata- mento e produz grande quantidade de dejetos que podem contaminar a água e o ar. Assim, ao adotar uma alimentação à base de vegetais, pode- -se racionalizar a utilização de recursos naturais, tornando o elo da cadeia alimentar menor. 5º MOTIVO Saúde Os benefícios da dieta vegetariana podem ocorrer em função da redução do consumo de alimentos de origem animal e, também, 57G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R em função do aumento da quantidade e da variedade de alimentos de origem vegetal, que contêm nutrientes, como vitaminas e mine- rais, mais ativos. Assim, pode ser caracteri- zada pela baixa ingestão de gordura saturada e colesterol, fornecendo diversos benefícios nutricionais. Por outro lado, pode causar efeitos negati- vos sobre o organismo por falta de alguns nu- trientes quando a alimentação não é controlada. Assim, alguns vegetarianos necessitam da suple- mentação de nutrientes, por isso é importante realizar exames de sangue periodicamente. Além da questão dos nutrientes ingeridos, muitas pessoas adotam uma alimentação ve- getariana devido à qualidade dos produtos que vão ao mercado. Alguns fatores que influenciam no produto final são: água dos rios, hormônios, gripe aviária e, até mesmo, o que vimos na ope- ração carne fraca (que aconteceu em 2017). C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s 59G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Horta de Alimentos Caro(a) aluno(a), vamos abordar, neste tópico, sobre a horta de alimentos, mas antes de iniciarmos, gostaria de levá-lo(a) a uma reflexão. Qual é a sua relação com o alimento? Você conhece o ciclo produtivo de um alimento? Sabe quanto tempo demora do plantio até a colheita de uma cebola, por exemplo? Gostaria de propor que você tente cultivar algum alimento no quintal de casa, em um canteiro no estabelecimento que trabalham ou, até mesmo, uma pequena muda em um vaso em casa. Quando cultivamos nosso alimento, passamos a conhecer e a respeitar nosso ingrediente, valorizando suas partes e evitando o desperdício (já pensou na sensação de descartar metade do hortifrúti que ficou meses cultivando?). C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Após refletir sobre isso, vamos conhecer um pouco sobre a evolução e o surgimento das hortas? O comportamento nômade praticado, ini- cialmente, pelo homem era um modo de vida bastante precário, afinal, era caracterizado pelo deslocamento atrás da caça, e o caçador pre- cisava de quilômetros para encontrar apenas estritamente o que era necessário para sua alimentação. A relação entre o homem e a natureza sofreu profunda modificação quando este percebeu a pos- sibilidade da semente se multiplicar e dar origem à planta, já que cultivar a terra e tirar dela os alimen- tos foi uma das descobertas mais importantes do homem pré-histórico. Por meio da plantação, ele descobriu uma nova forma de sobrevivência. Desde então, as sementes são portadoras da vida, são esperança e prosperidade, são o alimento e entendimento ao mesmo tempo. Como vimos em todo o livro, a utilização de produtos frescos, orgânicos e de origem conheci- da é capaz de promover a saúde e fornecer uma cozinha mais natural, já que as frutas, hortaliças, ervas e especiarias são fonte de fitonutrientes e possuem propriedades poderosas (BAYLEY, 2013). Assim, a instalação e a manutenção de hortas domésticas e nos estabelecimentos podem fazer com que tais objetivos sejam atendidos. A palavra horta deriva do latim “hortus”, que significa uma propriedade cercada de muros, horto, jardim. Somado a isso, a definição de horta determina que este é um local onde são cultivadas variedades de hortaliças e outras plantas, como, por exemplo, as ervas condi- mentares e aromáticas. Segundo Ferguson (2006), em geral, as hortas são feitas nos quintais e terrenos pró- ximos de casas e cidades, porém existem ainda aquelas que podem ser instaladas em terrenos maiores ou em vasos e caixotes. Existem vários tipos de hortas, dependendo do tamanho, do número de hortaliças cultivadas e também do seu objetivo, que varia da explora- ção comercial ao consumo doméstico. Para que seja possível plantar uma horta, a primeira regra é escolher um local adequado, sendo ideal um local que receba luz do sol por, no mínimo, cinco horas diárias, e os canteiros devem ser feitos na direção norte-sul ou, então, voltados para o norte, visando o melhor aproveitamento do solo. O ideal, ainda, é dar preferência a um local que tenha fonte de água potável próxima. As dimensões do canteiro podem variar, sendo que a largura deve possibilitar o trabalho no canteiro de um lado só (por isso, o interes- sante é verificar sempre o alcance do braço) e o comprimento deve se adaptar à área disponível. Quanto à construção, podem ser cercadas por tijolo, tábuas ou construídas em alvenaria, o que facilita sua organização. Deve-se lembrar sempre de assegurar a drenagem natural da água, deixando passagem para o escoamento do excesso de água. 61G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R C o z i n h a N a t u r a l e P r o d u ç ã o d e I n g r e d i e n t e s Para definir o que plantar, deve-se esco- lher sementes de boa qualidade, que estejam disponíveis no mercado e, ao comprá-las, é im- portante verificar os dados de validade, pureza e percentual de germinação. Ao avaliar correta- mente essas informações, pode-se determinar o sucesso da horta. Afinal, cada hortaliça possui suas caracte- rísticas específicas em relação ao seu ciclo de vida, plantio, necessidade de água diária e, até mesmo, de nutrientes do solo. Portanto, é im- portante organizar esse ciclo de acordo com o que você pretende plantar, assim, cada semente deve ser analisada de acordo com as suas carac-
Compartilhar