A importância do rigor técnico em levantamentos de dados para elaboração de projetos de acústica

Prévia do material em texto

A importância do rigor técnico em levantamentos de dados para elaboração de projetos de acústica.
Larissa Nunes¹, Lucas Vicente Nunes¹, Marcela Cebalho Sales ²
1 Estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UNIC, Cuiabá-MT
2 Professora Especialista do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UNIC, Cuiabá-MT
RESUMO
	Visto que atualmente o interesse acústico em projetos vem tendo maior visibilidade dentro da arquitetura, não só pelos profissionais mas também pelos clientes que antes não tinham conhecimento deste ramo da profissão e da importância de tais cuidados, se faz necessário o entendimento dos processos a serem seguidos para se obter os resultados corretos e consequentemente atingir a eficiência e conforto acústico necessários ao projeto, de forma inteligente e econômica, sendo assim o intuito desta pesquisa é demonstrar a importância de se realizar o levantamento acústico seguindo as metodologias apresentadas na normativa técnica NBR-10151 (Acústica – Avaliação do ruído em ares habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento), comparando levantamentos realizados a partir desta NBR, em ambientes que não receberam tratamento acústico, ou que tiveram esse tratamento mal executado em consequência de levantamentos e medições deficientes. 
	Para tal foram feitos dois levantados de valores de pressão sonora em três ambientes distintos de um mesmo apartamento em um prédio residencial na cidade de Cuiabá (ambientes estes descritos com mais precisão posteriormente), os levantamentos realizados, portanto diferem entre si no que se refere ao seu rigor técnico conforme a norma base deste estudo (NBR-10151) descreve.
O resumo deve conter no máximo 200 palavras.
Palavras-chave: Acústica. Projeto Arquitetônico. Conforto acústico
1 INTRODUÇÃO 
	
	A arquitetura engloba diversas áreas do conhecimento desde a história, que leva o profissional a escolher um partido, e encontrar uma forma de pensar a arquitetura ou até mesmo ajuda a entender o porquê de cada uma das decisões projetuais a serem tomadas, dando ao projeto e ao profissional uma linguagem condizente com seu uso e usuário ou cliente, e o momento histórico, político e social vivido, passando pelo conhecimentos que envolvem conceitos químicos e físicos que influenciam na escolha dos materiais usados, na implantação da edificação ou sua relação com o entorno, tornando o projeto funcional, econômico e duradouro, chagando até a psicologia que envolve as sensações que o projeto quando executado pode causar e transmitir a cada um dos impactados por sua construção, seja usuário direto que está todos os dias dentro dos ambientes propostos pelo profissional ou até mesmo um pedestre que passa na calçada a frente da edificação e se sente protegido e atraído ou coagido e afastado pela mesma, sendo todos estes conhecimentos influentes no resultado final do principal produto do arquiteto e urbanista, o projeto. Desta forma uma das especialidades do profissional de arquitetura é o conforto acústico, tópico que apesar de antigo na profissão vem tendo maior visibilidade nos últimos tempos, não só dos profissionais da área como dos clientes.
	Como dito anteriormente, a acústica é um tema a tempo muito conhecido na arquitetura, porém, o interesse por este assunto dentro do ramo era relevante apenas quando se falava em igreja e teatros, um dos maiores feitos da humanidade por exemplo é o Teatro de Epidauro (Fig.: 01), uma construção grega megalítica a céu aberto, que situado na encosta de um morro na cidade de Epdauro possui a acústica perfeita, sendo um teatro com capacidade de 14 mil espectadores construído no século IV a.C., um período em que não havia tecnologia alguma no tangente à amplificação de som (Fonte: CARVALHO; EDER S. História e Arquitetura. Teatro Epidauro – Grécia - 27/01/2012)
Figura 01: Fotografia aérea do Teatro de Epidauro
Fonte: Blog História e Arquitetura
	O Teatro de Epidauro possuía tamanho interesse e cuidado quanto a sua acústica, pois os gregos, povo que o construiu, entendia o teatro como um local de cura, a arte do teatro era considerada por eles como um remédio a alma. Na atualidade, porém, tal foco voltou-se também a ambientes mais comuns a vida das pessoas, como o ambiente de trabalho e as casas e apartamentos, desta forma, o mercado voltado ao tratamento e condicionamento acústico tem estado em crescimento, de forma que a exigência de profissionais especializados na área não tem sido exclusividade de projetos de grande escala. Tais tratamentos e condicionamentos são recomendados que sejam pensados no momento de elaboração do projeto e que estes sejam executados juntamente para reduzir custos e evitar transtornos, entretanto, em edificações mais antigas e até mesmo em algumas mais recentes, como o prédio a ser analisado neste artigo, tais cuidados não foram tomados na elaboração do projeto inicial, gerando reclamações por parte dos moradores e usuários do espaço referentes aos mais diversos ruídos que se tornam um incomodo a estes, seja o barulho advindo do sistema hidráulico ou hidro sanitário, a reverberação de sons indesejados ou até mesmo os ruídos das vias que circundam a edificação, problemas estes gerados devido a busca pela economia durante a execução do projeto, o que leva a utilização de materiais com baixa taxa de absorção acústica e reverberações altas como o concreto, o que exige que tal condicionamento seja feito posteriormente (o que gera custos elevados), para isso deve-se contratar um arquiteto, para que o mesmo realize a identificação dos ruídos reclamados, no que se refere ao tipo e as possíveis origens, assim como as medições de pressão sonora dos ambientes que virão a receber o tratamento acústico, nesta faze se encontra uma das falhas mais comuns do tratamento acústico, os erros de medição, o que gera gastos ainda maiores na execução. Para evitar os erros de medição e aferição de pressão sonora toda medição deve seguir a normativa técnica NBR-10151 Acústica – Avaliação do ruído em ares habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento, que disserta sobre as exigências e passos a serem seguidos para a execução correta do levantamento. Neste artigo é feito, portanto o comparativo de dois levantamentos realizados em três ambientes distintos com o objetivo de demonstrar a importância do seguimento das especificações expressas na norma citada a cima. 
2 LOCAL DE ESTUDO 
	A presente pesquisa, elaborada através da comparação de dois levantamentos de pressão sonora realizados simultaneamente em três ambientes de um mesmo apartamento, sendo estes a sala de televisão, que integrada a sala de jantar compõe grande parte da área do apartamento, a cozinha, totalmente independente do restante do apartamento e um quarto tipo suíte que é utilizado atualmente como um escritório. O apartamento (Fig.: 03) de 134 m² localizado no nono andar de um condomínio residencial situado no bairro Jardim Aclimação na cidade de Cuiabá, nos arredores do Centro Político e Administrativo do estado de Mato Grosso (Fig.: 02), teve tais ambientes escolhido para passar pelos testes por serem entendidos como os mais prejudicados acusticamente. Passando posteriormente por avaliações criteriosas inicialmente de percepção, de modo a identificar os ruídos relatados pelos usuários dos dados ambiente e encontrar sua origem para que assim pudessem ser classificados e categorizados de forma a otimizar as aferições que viriam a ser feitas no espaço.
Figura 03: Planta do apartamento
Figura 03: Planta do apartamento
	As paredes maiores da cozinha e da sala são limítrofes aos apartamentos vizinhos e a varanda fica voltada ao interior do terreno onde há uma área de preservação ambiental, como visto na figura 02, onde se situa um parque municipal, sendo assim o apartamento não sofre com os ruídos vindos da rua. Os moradores do apartamento reclamaram de ruídos vindos do lavabo no caso da sala e do banheiro no caso da suíte, quanto a cozinha, foram feitas as medições por ser o ambiente mais próximo à avenida que dá acesso ao prédio, mesmo nãohavendo reclamações por parte dos moradores.
3 MATERIAIS E MÉTODOS 
	A pesquisa foi realizada inicialmente através de visita “in loco” e entrevista com os usuários dos ambientes, processo este que ajudou a entender os problemas que geraram as reclamações. Posteriormente foram realizados estudos das peças gráficas (plantas) do apartamento, afim de entender a relação dos ambientes reclamados, entre si e com o entorno. Foram efetuadas também medições de pressão sonora, utilizando um decibelímetro digital, MSL- 1354 da MIMIPA Sound Level Meter, devidamente calibrado conforme a NBR-10151 solicita, sendo este o equipamento indicado pela norma, e com o intuito comparativo utilizou-se também aplicativos de smartphones, que apesar de não serem recomendados para tal, são frequentemente usados em levantamentos do tipo, principalmente por pessoas leigas e ou mal instruídas no assunto, por serem de mais fácil acesso e uso. As medições feitas através do aparelho smartphone utilizou um aplicativo destinado a medições não profissionais de níveis de pressão sonora, chamado Decibel X (o aplicativo pode ser encontrado em lojas de App’s, tanto Play Store quanto App Store).
	Da unidade habitacional em questão, apenas alguns ambientes serão estudados, sendo estes os que receberam maiores queixas referentes ao conforto acústico, são estes a sala de estar e jantar que estando integradas compõem parte maioritária da área do apartamento, o escritório que sofre principalmente com os ruídos do sistema hidro sanitário da suíte ao lado, assim como a cozinha, terceiro ambiente analisado que fica próxima a segunda suíte e a lavanderia sendo também o cômodo do apartamento mais próximo à avenida que passa em frente ao prédio.
	
VISITA IN LOCO E MEDIÇÃO SONORA:
	
	O primeiro momento da visita exploratória se deu através de um questionário realizado aos morados do apartamento, no qual se registrou algumas queixas associadas à acústica, sendo o principal deles: Isolamento de impacto deficiente, o que gerava no dia-a-dia do apartamento incômodos e poluição sonora advindos principalmente do pavimento superior – sendo relatada pela moradora que é possível ouvir os passos e o som das unhas do cachorro dos moradores do apartamento a cima e do sistema hidro sanitário o qual apresenta ruídos tanto advindos do apartamento superior quanto das áreas molhadas do próprio apartamento como no caso da suíte, atualmente utilizada como um escritório, que sofre com o barulho gerado pela descarga do banheiro da suíte ao lado.
	Entrevista aos moradores;
1. 
Vale salientar que ambas as medições foram realizadas no mesmo horário e dia, 26 de outubro de 2018, no período da manhã, de maneira que apenas as diferenças resultantes do rigor normativo fossem registradas. O levantamento não foi efetuado nos horários de pico de transito pois não houveram reclamações referentes a ruídos veiculares, devido isto principalmente ao fato de o apartamento não se situar na fachada voltada a avenida. 
A primeira aferição a ser abordada é a realizada com o aparelho celular, que não atendeu as especificações exigidas na NBR-10151, inicialmente por não ser o aparelho correto a se utilizar em tais levantamentos, pois não apresenta a precisão necessária para tal, desta forma o aparelho foi disposto em posições ao longo dos ambientes como intuitivamente faria um leigo, próximo a paredes, portas e janela, e apoiados sobre os móveis, contrariando regras básicas estabelecidas pela normativa base deste estudo (NBR-10151), desta forma os resultados obtidos foram os seguintes;
Tabela 01: Medições realizadas com o celular;
	Aparelho celular (Aplicativo Decibel X)
	Ambiente
	Valor de pressão sonora (dB)
	Suíte
	56,2
	Sala (TV/Jantar)
	51,4
	Cozinha
	59,1
O segundo levantamento, feito com o decibelimetro, já especificado anteriormente, seguiu a normativa e buscou atender a todos os rigores técnicos exigidos a tal aferição, atentando-se em cada um dos ambientes a critérios necessários a um resultado mais próximo possível da realidade como o distanciando do aparelho de superfícies sejam elas quais forem, sendo no mínimo 1 m distancia de paredes e móveis, 1,2 m de altura entre o piso e o aparelho e 1,5 m de distância de janelas e portas, afim de evitar a captação de ondas que interferem no resultado final do levantamento, assim como a realização de três medições distintas, distanciadas a no mínimo 0,50 m uma das outras, para que o resultados obtidos formem uma média aritmética, sendo este o numero a ser utilizado como resultado final do levantamento de pressão sonora de um ambiente. Estas são medidas básicas a serem tomadas pelo profissional para a elaboração do levantamento e aferição dos níveis de pressão sonora, para garantir ao projeto de tratamento e condicionamento acústico precisão que permita que sejam gastos tempo de dinheiro unicamente na resolução de problemas existentes. Segundo as indicações da NBR-10151 chegou-se aos seguintes números;
Tabela 02: Medições realizadas com o decibelimetro;
	Decibelimetro modelo X
	Ambiente
	Aferição 1
	Aferição 2
	Aferição 3
	Média final
	Suíte
	41,2
	60,0
	40,0
	47,1
	Sala (TV/Jantar)
	44,0
	41,2
	35,3
	40,1
	Cozinha
	50,5
	57,0
	51,6
	53,0
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
	Analisando os dados apresentados a cima fica claro a ineficiência e imprecisão das medições feitas através do aparelho celular, visto que este aparelho não passa por testes referentes a este uso, sendo assim o mesmo não é calibrado para tal atividade e tamanha imprecisão sofre variação ainda maior dependendo do software que está sendo utilizado, de forma que os dados não condizem de forma alguma com a realidade do ambiente podendo muitas vezes levar o cliente a investir em uma intervenção que não venha a resolver seu problema, tal imprecisão pode ser comprovada se comparando os dados obtidos pelos dois aparelhos. 
Tabela 03: Comparativo de dados
	Ambientes
	Valores obtidos (d.B)
	
	Aparelho celular
	Decibelimetro
	Diferença
	Suíte
	56,2
	47,1
	9,1
	Sala (TV/Jantar)
	51,4
	40,1
	11,3
	Cozinha
	59,1
	53,0
	6,1
 	Quando comparados aos números obtidos pelo decibelimetro (Tabela 03) os dados apresentados pelo aparelho celular se mostram ainda mais imprecisos, apresentando uma diferença de 6,1 decibéis no caso de menor diferença, o da cozinha, com variações ainda maiores quando se analisa a sala de TV e jantar, onde a diferença entre os dados obtidos chega a 11,3 decibéis, valor este que poderia levar o profissional a propor o revestimento da parede com material isolante como chapas de compensado de madeira (6 mm) ou chapas de fibra de vidro (12 mm), isolamento este que tecnicamente não seria necessário visto que a NBR-10152 considera como valores aceitáveis de pressão sonora em salas de estar (salas de TV) valores entre 40 e 50 decibéis. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	Fica clara então necessidade de se seguir as indicações da NBR-10151 a fim de se realizar o levantamento dos valores de pressão sonora de forma correta, sem a interferência de ondas e distorções que não deviam estar sendo captadas e consideradas, as normas técnicas servem como um roteiro, um “check list” que confere maior segurança ao serviço elaborado pelo profissional, e assim como ao longo do processo arquitetônico normas como a NRB-9050 (Acessibilidade a edificações, mobiliário e equipamentos urbanos) e NBR-9077 (Saídas de emergência em edifícios), são seguidas à risca a fim de garantir conforto e segurança aos usuários dos espaços projetados a normativa NBR-10151, base deste estudo deve também ser utilizada por profissionais do ramo a fim de assegurar ao seus clientes as soluções arquitetônicas que melhor se adequam a sua realidade, assim como as NBR-12179 (Tratamento acústico em recintos fechados) e NBR-10152 (Níveis de ruído para conforto acustico).
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
	RHEINGANTZ.; AZEVEDO, G.et AL (2009). Observando a qualidade do lugar; procedimentos para a avaliação pós-ocupação.
	Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – Norma NBR 10.151 – Avaliações do ruído em áreashabitadas visando o conforto da comunidade – 2000. 4p.
	Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – Norma NBR 10.152 – Níveis de ruído para conforto acústico – 2000. 4p.
	Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – Norma NBR 12.179 – Tratamento acústico em recintos fechados – 2000. 4p.
	CARVALHO; EDER S. História e Arquitetura. Teatro Epidauro – Grécia (27/01/2012) < http://historiaearquitetura.blogspot.com/2012/01/teatro-de-epidauro-grecia.html> Acessado em: 01/11/2018.