Buscar

acoes-constitucionais-e-book-520

Prévia do material em texto

AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
1 
 
Tiago Torres 
 
 
 
 
 
 
Ações Constitucionais 
Teoria e Prática 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª edição 
Belo Horizonte / MG 
Editora Conhecimento 
2018 
Atualizado até a EC 97/2017 
Conforme novo CPC e súmula vinculante 56 
 
 
2 
 
Apresentação 
 
O livro, Ações Constitucionais Teoria e Prática, aborda 
os remédios constitucionais elencados pelo constituinte originá-
rio na Constituição de 1988 e colocados à disposição do operador 
do Direito. Nesse sentido foi dissertado sobre as seguintes ações 
constitucionais: o mandando de segurança, o mandado de injun-
ção, o Habeas data, a ação popular, o Habeas corpus e a ação civil 
pública. 
O presente trabalho também contemplou as ações em 
controle de constitucionalidade concentrado no Supremo Tribu-
nal Federal. As Ações Diretas de Inconstitucionalidade, a Ação 
Declaratória de Constitucionalidade e a Arguição de Descum-
primento de Preceito Fundamental foram analisadas uma a uma, 
mas não se esquecendo da jurisprudência. 
Os principais recursos e as ações autônomas de impug-
nação de competência do Supremo Tribunal Federal, e que são 
objetos constantes em concurso e exame da Ordem dos Advoga-
dos do Brasil, receberam um tratamento especial. 
O livro é fruto da nossa experiência profissional, como 
Advogado, e como professor na área de Direito Constitucional. O 
nosso objetivo é passar uma visão prática que forneça respostas 
simples às questões mais comuns ao candidato ao exame da 
OAB. A obra possui uma linguagem fácil, com uma abordagem 
direta e acessível a todos os operadores do Direito. Esperamos 
que os leitores recebam o nosso livro com carinho e que gostem 
da leitura. 
 
Belo Horizonte, fevereiro de 2018 
 
 
Tiago Torres 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
3 
 
Sumário 
Apresentação ..................................................................................... 2 
1. MANDADO DE SEGURANÇA .................................................. 9 
1.1. Conceito ...................................................................................... 9 
1.2. Natureza Jurídica ....................................................................... 9 
1.3. Direito Líquido e Certo .........................................................11 
1.4. Legitimados Ativos ...............................................................12 
1.5. Autoridade Coatora ..............................................................13 
1.6. Competência ..........................................................................14 
1.7. Participação do Ministério Público ......................................16 
1.8. Efeito no Tempo ....................................................................17 
1.9. Tempestividade .....................................................................17 
1.10. Medida Liminar.....................................................................17 
1.11. Suspensão da Segurança.......................................................18 
1.12. Dos Pedidos ...........................................................................18 
2. MANDADO DE INJUNÇÃO .....................................................19 
2.1. Conceito .................................................................................19 
2.2. Cabimento ..............................................................................19 
2.3. Não Cabimento .....................................................................20 
2.4. Natureza Jurídica ..................................................................20 
2.5. Parâmetro ...............................................................................21 
 
4 
 
2.6. Legitimidade ..........................................................................21 
2.7. Competência ..........................................................................22 
2.8. Efeitos .....................................................................................24 
2.9. Mandado de Injunção versus ADO ..........................................25 
2.10. Pedidos ...................................................................................27 
3. HABEAS DATA ...........................................................................28 
3.1. Conceito .................................................................................28 
3.2. Natureza Jurídica ..................................................................28 
3.3. Fundamento Normativo ...........................................................29 
3.4. Requisitos ...............................................................................29 
3.5. Legitimidade ..........................................................................30 
3.6. Competência ..........................................................................30 
3.7. Tempestividade .....................................................................32 
3.8. Valor da Causa e Gratuidade da Ação ................................32 
3.9. Dos Pedidos ...........................................................................32 
4. AÇÃO POPULAR ........................................................................34 
4.1. Conceito .................................................................................34 
4.2. Cabimento ..............................................................................34 
4.3. Natureza Jurídica ..................................................................34 
4.4. Requisitos ...............................................................................35 
4.5. Legitimidade Ativa e Passiva ...............................................36 
4.6. Não Possuem Legitimidade .................................................37 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
5 
 
4.7. Competência ..........................................................................37 
4.8. Tempestividade .....................................................................38 
4.9. Dos Pedidos ...........................................................................38 
4.10. Efeitos .....................................................................................40 
4.11. Considerações Gerais ............................................................40 
5. HABEAS CORPUS ................................................................42 
5.1. Conceito .................................................................................42 
5.2. Natureza Jurídica ..................................................................43 
5.3. Cabimento ..............................................................................43 
5.4. Legitimidade Ativa e Passiva ...............................................44 
5.5. Competência ..........................................................................45 
5.6. Admissibilidade ....................................................................47 
5.7. Considerações Gerais ............................................................48 
5.8. Quadro Resumo da Competência ........................................49 
6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA ..............................................................51 
6.1. Conceito .................................................................................51 
6.2. Cabimento ..............................................................................51 
6.3. Natureza Jurídica ..................................................................51 
6.4. Legitimados ...........................................................................52 
6.5. Competência ..........................................................................53 
6.6. Medida Liminar.....................................................................54 
 
6 
 
6.7. Responsabilidade Objetiva dos Réus...................................54 
6.8. Pedidos ...................................................................................55 
6.9. ACP x Ação Popular .............................................................566.10. Considerações Gerais ............................................................57 
7. DIREITO DE PETIÇÃO ...............................................................58 
7.1. Conceito .................................................................................58 
7.2. Fundamentos .........................................................................58 
7.3. Direito de Petição Coletiva ...................................................59 
7.4. Procedimento Informal .........................................................59 
7.5. Finalidade ..............................................................................59 
CONTROLE CONCENTRADO .....................................................61 
8. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ................63 
8.1. Cabimento..................................................................................63 
8.2. Legitimados ...............................................................................64 
8.3. Pertinência Temática .................................................................65 
8.4. Competência ..............................................................................66 
8.5. Objeto .........................................................................................67 
8.6. Não Constituem Objetos da ADI .............................................67 
8.7. Efeitos .........................................................................................68 
9.8. Modulação de Efeitos da Decisão ............................................69 
8.9. Medida Cautelar .......................................................................70 
8.10. Amicus Curiae ...........................................................................71 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
7 
 
8.11. Dos Pedidos .............................................................................71 
9. AÇÃO DIRETA POR OMISSÃO ................................................73 
9.1. Legitimados ...............................................................................73 
9.2. Pertinência Temática .................................................................73 
9.3. Competência ..............................................................................74 
9.4. Participação do AGU e PGR ....................................................74 
9.5. Cabimento..................................................................................74 
9.6. Intervenção de Terceiro ............................................................75 
9.7. Recursos e Ação Rescisória ......................................................75 
9.8. Efeitos .........................................................................................75 
9.9. Medida Cautelar .......................................................................76 
9.10. Dos Pedidos .............................................................................77 
9.11. Quadro Comparativo ADO e MI ...........................................77 
10. AÇÃO DECLARATÓRIA .........................................................79 
10.1. Cabimento ................................................................................80 
10.2. Legitimados .............................................................................80 
10.3. Competência ............................................................................81 
10.4. Participação do AGU e PGR...................................................81 
10.5. Medida Cautelar......................................................................81 
10.6. Efeitos .......................................................................................82 
10.7. Recursos e Ação Rescisória ....................................................82 
 
8 
 
10.8. Dos Pedidos .............................................................................82 
11. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO ..................................84 
11.1. Cabimento ................................................................................85 
11.2. Princípio da Subsidiariedade .................................................86 
11.3. Legitimados .............................................................................86 
11.4. Competência ............................................................................87 
11.5. Participação do AGU ..............................................................87 
11.6. Efeitos .......................................................................................88 
11.7. Medida Cautelar......................................................................88 
11.8. Pedidos .....................................................................................89 
12. INTERVENÇÃO FEDERAL .....................................................90 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................94 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
9 
 
1. MANDADO DE SEGURANÇA 
 
A palavra mandado origina do latim mandatum, 
de mandare, que significa ordenar. Como vocábulo jurídico signi-
fica o ato escrito, emanado de autoridade pública, judicial ou ad-
ministrativa.1 
O mandado de segurança foi introduzido no ordena-
mento jurídico constitucional em 1934. Todas as Constituições 
posteriores, à exceção da Constituição de 1937, previram a citada 
ação. O mandado de segurança coletivo, criado pela Constituição 
de 1988, é uma ação pela qual um sujeito legitimado, em nome 
próprio, defende direitos coletivos. 
O mando de segurança é objeto constante em concursos, 
assim como esteve presente na segunda fase do I, II, XV e XXIII 
exame da OAB organizado pela banca Fundação Getúlio Vargas. 
 
1.1. Conceito 
O mandado de segurança é uma ação constitucional que 
visa especificamente proteger direito líquido e certo, individual 
ou coletivo, violado ou ameaçado de violação por ato ou omissão 
de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica de direito 
privado no exercício de atribuições públicas, praticado ilegal-
mente ou com abuso de poder. 
 
1.2. Natureza Jurídica 
O mandado de segurança é uma ação sumária de proce-
dimento especial. A natureza jurídica é sempre de ação civil, 
ainda que vise atacar um ato ilegal ou abusivo praticado por um 
juiz criminal. As omissões das autoridades públicas também po-
dem ser atacadas. É uma ação de caráter residual ou subsidiária. 
 
1 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p.877 
 
10 
 
O MS somente poderá ser impetrado se não cabível o Habeas cor-
pus e o habeas data.2 
Atualmente o mandado de segurança está expresso no 
art. 5.º, incisos LXIX e LXX da Constituição, e regulamentado pe-
la Lei 12.016/2009. O inciso LXIX aduz que conceder-se-á man-
dado de segurança para proteger direito líquido e certo, não am-
parado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável 
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou 
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder 
Público. 
O mandado de segurança individual é aquele impetrado 
por pessoas físicas, na defesa de seus respectivos direitos indivi-
duais, isoladamente ou em litisconsórcio ativo. Já o coletivo, pre-
visto no art. 5°, LXX da Constituição, é reservado apenas aos legi-
timados restritos e visa combater os mesmos direitos do indivi-
dual. 
O mandado de segurança coletivo, regulamentado pela 
Lei 12.016/09, no art. 21, aduz que os direitos protegidos podem 
ser: coletivos, assim entendidos, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas li-
gadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica 
básica; individuais homogêneos, assim entendidos, os decorren-
tes de origem comum e da atividade ou situação específica da 
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetran-
te. 
O mandado de segurança pode ser preventivo ou re-
pressivo.No primeiro, o ato já foi praticado, mas ainda é despido 
de eficácia, ou seja, não produz efeitos e deverá obedecer três 
requisitos: realidade; objetividade (não apenas meras suposi-
ções); e atualidade (não servem ameaças peremptórias). O man-
 
2 O enunciado de súmula 101 do Supremo Tribunal Federal afirma que o Mandado de Segurança 
não substitui a ação popular. 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
11 
 
do de segurança repressivo visa combater um ato ilegal já con-
sumado e eficaz. 
 
1.3. Direito Líquido e Certo 
O mandado de segurança tem por objeto a proteção de 
direito líquido e certo. O direito líquido e certo é aquele direito 
manifesto de sua existência, delimitado em sua extensão e apto a 
ser impetrado no momento exato da sua segurança, conforme 
Hely Lopes Meireles. A expressão direito líquido e certo está 
consagrada pela Constituição, pelas leis, pela doutrina e pela ju-
risprudência nacional. Para o Supremo Tribunal Federal, o direi-
to líquido e certo é aquele provado de plano, de imediato, via 
prova documental, por isso não se admite dilação probatória.3 
A liquidez e certeza dizem respeito à matéria de fato, isto 
é, não importa a complexidade. O que interessa é que os fatos 
estejam devidamente comprovados.4 
O mandado de segurança exige a prova pré-constituída 
que configura violação, abuso de poder ou ilegalidade. Caso a 
impetração do mandamus ocorra sem a existência da prova pré-
constituída, a petição inicial será desde logo indeferida. 
O art. 5° da Lei 12.016/09 assegura que não se concederá 
mandado de segurança quando se tratar: de ato sobre o qual cai-
ba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente-
mente de caução; de decisão judicial da qual caiba recurso com 
efeito suspensivo; de decisão judicial transitada em julgado. 
A súmula 266 do STF assegura que também não é cabível 
mandado de segurança contra lei em tese. A doutrina ainda 
 
3 Enunciado de súmula 474: Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de seguran-
ça, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada constitucional 
pelo Supremo Tribunal Federal. 
4 Enunciado de súmula 625 do Supremo Tribunal Federal: controvérsia sobre matéria de direito 
não impede concessão de mandado de segurança. 
 
12 
 
acrescenta não caber a citada ação contra atos interna corporis, ou 
seja, contra atos internos da repartição que não lesem direitos. 
 
1.4. Legitimados Ativos 
Considera-se legitimado ativo no mandado de seguran-
ça qualquer pessoa que alegue ser titular de direito líquido e cer-
to.5 Estes podem ser as pessoas físicas e jurídica, nacionais ou 
estrangeiras que demonstrarem interesse próprio. 
Os entes sem personalidade jurídica própria, mas que te-
nham capacidade jurídica como o espólio, a massa falida e os 
órgãos públicos, também podem impetrar mandado de seguran-
ça na defesa de suas prerrogativas. Os agentes políticos em geral 
e o próprio Ministério Público, também são legitimados. O art. 3° 
da Lei 12.016/09 afirma que o terceiro poderá impetrar a ação a 
favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no prazo 
de 30 dias, quando notificado judicialmente. 
A Constituição, no art. 5°, LXX, bem como o art. 21 da Lei 
12.016/09, assegurou os seguintes legitimados ativos para a im-
petração do mandado de segurança coletivo: partido político 
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus 
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade 
partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou 
associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo 
menos, um ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totali-
dade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma 
dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, 
dispensada, para tanto, autorização especial dos seus associados. 
Associação e entidades de classe precisam demonstrar pertinên-
cia temática na defesa dos interesses de seus filiados. Faz-se pro-
va desta com a juntada do estatuto à petição inicial. 
 
5 DONIZETTI, Elpídio. Ações Constitucionais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. P. 25 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
13 
 
Para que o partido político possa ter legitimação para a 
propositura de mandado de segurança coletivo, basta um único 
representante em qualquer das Casas. Não é necessário demons-
trar pertinência temática porque atua no exercício de sua função 
social. 
As súmulas do STF, 629 e 630 asseguram que a impetra-
ção de mando de segurança coletivo por entidade de classe em 
favor dos associados independe da autorização destes. As enti-
dades de classe têm legitimação, mesmo que a pretensão seja vei-
culada a interesses apenas de uma parte da respectiva categoria. 
 
1.5. Autoridade Coatora 
A autoridade coatora é a pessoa que lesa o direito de ou-
trem ou que detenha o poder de comando. É quem determinou o 
omitiu a prática do ato.6 O art. 6°, § 3° diz que considera-se auto-
ridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou 
da qual emane a ordem para a sua prática. 
As autoridades públicas, de qualquer dos entes federa-
dos, bem como da Administração Direta, podem figurar no polo 
passivo do mandado de segurança, assim como a Sociedade de 
Economia Mista e Empresa Pública, por exercerem atividades 
típicas de autoridade pública. O art. 1°, § 1° da Lei 12.016/09 as-
segura que equiparam-se às autoridades, naquilo que diz respei-
to às suas atribuições, os representantes ou órgãos de partidos 
políticos, os administradores de entidades autárquicas, bem co-
mo os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais. 
Os dirigentes de instituição de ensino particular podem 
figurar no polo passivo do mandado de segurança. Isso porque 
os dirigentes lidam com a educação que é objeto que interessa 
diretamente ao poder público. 
 
 
6 DONIZETTI, Elpídio. Ações Constitucionais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. P. 31 
 
14 
 
1.6. Competência 
A competência para julgar o mandado de segurança é 
definida pela autoridade coatora. Dessa feita é irrelevante para a 
fixação da competência a matéria a ser discutida em mandado de 
segurança, uma vez que é em razão da autoridade coatora da 
qual emanou o ato dito ilegal que se determina o juízo a que de-
ve ser submetido a ação.7 
O Supremo Tribunal Federal, conforme art. 102, inciso I, 
é o órgão competente para julgar Mandado de Segurança contra 
atos do Presidente da República, das mesas da Câmara dos De-
putados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, 
do Procurador-Geral da República e do próprio STF. Também é 
competente para julgar, em Recurso Ordinário Constitucional, o 
Mandado de Segurança decidido em única instância pelo STJ, 
TST, TSE e STM, se a decisão for denegatória. 
Ao Superior Tribunal de Justiça compete, nos termos do 
art. 105, I, julgar o Mandado de Segurança contra ato de Ministro 
de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero-
náutica ou do próprio STJ. Ao Tribunal da Cidadania também 
compete julgar os mandados de segurança decididos em única 
ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais, os Tribu-
nais dos Estados, do Distrito Federal e os Tribunais de Justiça 
Militar, quando a decisão for denegatória. 
Compete aos Tribunais Regionais Federais processar e 
julgar, originariamente, os mandados de segurança contra ato do 
próprio TRF ou de juiz federal, afirma o art. 108 da Constituição. 
Aos juízes federais compete processar e julgar os mandados de 
segurança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos 
de competência dos tribunais federais. 
 
7 PAULO, Vicente. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 7ª Ed.SP: 
Método, 2011. P. 222AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
15 
 
O enunciado de súmula 216 do antigo Tribunal Federal 
de Recursos (TFR) assegura que o mandado de segurança previ-
denciário tem que ser julgado pela justiça federal, ainda que loca-
lizada em comarca do interior. 
A Constituição Federal também estabelece que compete à 
Justiça do Trabalho processar e julgar os mandados de segurança 
quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdi-
ção. 
A Constituição do Estado de Minas Gerais estabelece, no 
art. 106, I, alínea “c”, que compete ao Tribunal de Justiça, origi-
nariamente, julgar Mandado de Segurança contra ato do Gover-
nador do Estado, da Mesa e da Presidência da Assembleia Legis-
lativa, do próprio Tribunal ou de seus órgãos diretivos e colegia-
dos, de Juiz de Direito, nas causas de sua competência recursal, 
de Secretário de Estado, do Presidente do Tribunal de Contas, do 
Procurador-Geral de Justiça, do Advogado-Geral do Estado e 
contra ato da Presidência de Câmara Municipal ou de suas co-
missões, quando se tratar de processo de perda de mandato de 
Prefeito. 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento 
do RE 576.847BA, Rel. Min. Eros Grau, concluiu pelo não cabi-
mento de mandado de segurança contra decisões interlocutórias 
proferidas no âmbito dos Juizados Especiais. 
O quadro abaixo organiza a competência para julgamen-
to do mandado de segurança de acordo com a autoridade coato-
ra. 
 
COMPETÊNCIA AUTORIDADE COATORA 
STF Presidente da República, mesas da Câmara dos Deputa-
dos e do Senado Federal, TCU, PGR e STF. 
Em ROC, o MS decidido em única instância pelo STJ, 
TST, TSE e STM, se a decisão for denegatória. 
STJ Ministro de Estado, Comandantes M, E, A ou do pró-
prio STJ. 
 
16 
 
MS decididos em única ou última instância pelos Tribu-
nais Regionais Federais, os Tribunais dos Estados, do 
Distrito Federal e os Tribunais de Justiça Militar, quan-
do a decisão for denegatória. 
TRF MS contra ato do TRF ou de juiz federal. 
Juiz Federal Ato de autoridade federal 
Justiça Trabalho O ato questionado envolver matéria sujeita à sua juris-
dição. 
TJ Governador, Mesa e Presidência da Assembleia Legisla-
tiva, Tribunal de Justiça, Juiz de Direito, nas causas de 
sua competência recursal, de Secretário de Estado, do 
Presidente do TC, PGJ, AGE e contra ato da Presidência 
de Câmara Municipal ou de suas comissões, quando se 
tratar de processo de perda de mandado de Prefeito. 
Fonte: ANDRADE, Geraldo e TORRES, Tiago. Ações Constitucionais - Teoria e Prá-
tica.BH: Conhecimento, 2018 
 
1.7. Participação do Ministério Público 
É obrigatório a participação do Ministério Público no 
Mandado de Segurança? Sim, a sua intervenção é obrigatória, 
conforme art. 12 da Lei 12.016/09. O Ministério Público atua co-
mo fiscal da ordem jurídica8 e, de acordo com o novo Código de 
Processo Civil, atuará sempre que exista interesse público, con-
forme art. 178. 
Mas essa atuação do Ministério Público é obrigatória em 
todas as ações? A doutrina é vacilante. Uma primeira posição, 
formada por representantes da própria instituição, afirma que 
não é obrigatória, salvo se tratar de uma das situações elencadas 
no art. 178 do novo Código de Processo Civil. A segunda posi-
ção, majoritária, e adotada pelo Superior Tribunal de Justiça 
afirma que o Ministério Público deve atuar obrigatoriamente em 
todos os mandados de segurança. Portanto, a resposta que preva-
lece atualmente é sim, pois o Ministério Público fica obrigado a 
participar em todas as ações em mandado de segurança. 
 
8 Arts 82, §1°; 178; 179; 752, § 1°; 967, parágrafo único; e 996 da Lei 13.105/15. 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
17 
 
Cabe desistência do Mandado de Segurança? Sim, desde 
que não tenha ocorrido o julgamento do mérito. 
 
1.8. Efeito no Tempo 
O efeito no mandado de segurança individual é ex tunc, 
retroativo, uma vez que o ato é ilegal, abusivo. Somente as partes 
são atingidas pela decisão. No coletivo o efeito é ex tunc e geral, 
contra todos, pois atinge todos os associados e filiados. 
 
1.9. Tempestividade 
O direito de requerer mandado de segurança repressivo 
extingue se decorridos 120 dias9 contados da ciência, pelo inte-
ressado, do ato impugnado, conforme art. 23 da citada lei. A con-
tagem do prazo não se sujeita à suspensão ou à interrupção. As-
sim, conclui-se que trata de prazo decadencial, ou seja, o trans-
curso do prazo não extingue o direito material que poderá ser 
defendido por ação ordinária. 
 
1.10. Medida Liminar 
A medida liminar é regulamentada no art. 7°, §§ 1°/4° da 
Lei 12.016/09. O fumus boni iuris, juntamente com o periculum in 
mora, são requisitos indispensáveis para a concessão de medidas 
com caráter de urgência. 
O fumus boni iuris significa a fumaça do bom direito. É 
um sinal ou indício de que o direito pleiteado de fato existe. Não 
há, portanto, a necessidade de provar a existência do direito, bas-
tando a mera indicação de verossimilhança. 
O periculum in mora que traduz-se, literalmente, como 
perigo na demora. É o receio que a demora da decisão judicial 
cause um dano grave ou de difícil reparação ao bem tutelado. A 
 
9 A sumula 632 do STF afirma: é constitucional lei que fixa prazo decadência para impetração do 
mando de segurança. 
 
18 
 
demora frustraria por completo a apreciação ou execução da ação 
principal. A configuração do periculum in mora exige a demons-
tração de existência ou da possibilidade de ocorrer um dano jurí-
dico ao direito da parte de obter uma tutela jurisdicional eficaz 
na ação principal. 
 
1.11. Suspensão da Segurança 
O art. 15 da Lei 12.016/09 afirma caber a suspensão da 
segurança contra decisão de juiz monocrático a pedido de pessoa 
jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público. 
O objetivo da suspensão é evitar grave lesão à ordem, à saúde, à 
segurança e à economia públicas. 
 
1.12. Dos Pedidos 
Os pedidos estão previstos na Lei 12.016/09, sendo os 
mais importantes: a concessão da medida liminar para suspender 
os efeitos do ato ilegal, no art. 7°, III. O deferimento definitivo da 
referida ação; a notificação da autoridade coatora, para que pres-
te informações no prazo de 10 dias, art. 7°, I; que se dê ciência ao 
órgão responsável para que querendo, ingresse no feito, art. 7, II; 
intimação do membro do Ministério Público para apresentar ale-
gações no prazo de 10 dias, art. 12; pede-se a juntada das provas 
pré-constituídas e em se tratando de mandado de segurança cole-
tivo pede-se a juntada do ato constitutivo, no caso da associação, 
para comprovar o requisito da pertinência temática. 
Conforme art. 291 do Código de Processo Civil, a toda 
causa será atribuída um valor certo, ainda que não tenha um con-
teúdo aferível. 
Atente-se para o fato de que o mandado de segurança é 
uma ação gratuita não caberá pedido para pagamento de hono-
rários de sucumbência. 
 
 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
19 
 
2. MANDADO DE INJUNÇÃO 
 
O mandado de injunção é uma ação relativamente nova. 
Surgiu com a Constituição de 1988 e visa conceder efetividade ao 
exercício de um direito pela ausência de norma regulamentado-
ra. 
A palavra injunção significa imposição. Quais são os di-
reitos e liberdade constitucionais que podem ser objeto de man-
dado de injunção? Segundo Manuel Gonçalves Ferreira Filho, 
apenas as normas de natureza política. JJ Gomes Canotilho 
afirma que não apenas os direitos políticos, mas todos os direitos 
fundamentais. Uma terceira interpretação, sustentada por Luís 
Roberto Barroso e Flávia Piovesan, assegura que são todos os 
direitos expressos na Constituição, sejam eles direitos individu-
ais, coletivos, políticos, difusos, sociais. Essa última interpretação 
é a que prevalece atualmente no nosso ordenamento jurídico. 
O mandado de injunção foi objeto de questionamento na 
peça prática da segunda fase do XXIIexame da OAB organizado 
pela banca Fundação Getúlio Vargas. 
 
2.1. Conceito 
O mandado de injunção é um instrumento utilizado para 
assegurar o exercício de um direito em caso de falta de norma 
regulamentadora, que deveria ser elaborada pelos poderes Legis-
lativo ou Executivo, que torne impossível a execução do direito 
garantido pela Constituição. 
 
2.2. Cabimento 
A falta de norma regulamentadora para o exercício das 
liberdades fundamentais, relacionado à nacionalidade, à sobera-
nia ou a cidadania podem dar ensejo ao cabimento do mandado 
de injunção. 
 
20 
 
O mandado de injunção também é cabível para a prote-
ção dos direitos e liberdades constitucionais. 
A Lei 13.300/16, no art. 10, trouxe uma inovação – que é 
a possibilidade de revisão em mandado de injunção quando 
houver relevante modificação das circunstâncias. 
 
2.3. Não Cabimento 
Não é cabível o mandado de injunção para reclamar a 
inexistência de efetividade de uma norma constitucional já existe; 
ou para a alteração de lei ou ato normativo já existente; ou para 
exigir interpretação para aplicação da norma infraconstitucional; 
ou contra norma constitucional auto aplicável. Note-se que são 
pelo menos quatro hipóteses de não cabimento do mandado de 
injunção, podendo existir outras. 
 
2.4. Natureza Jurídica 
A Constituição Federal, no art. 5º, LXXI preceitua que 
conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liber-
dades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionali-
dade, à soberania e à cidadania. 
A Constituição dispôs em muitos artigos sobre o direito, 
mas assegurou que caberia a lei específica regulamentar o seu 
exercício. Por razões diversas, nem sempre o legislador logrou 
legislar sobre esses direitos. 
A Lei 13.300/16 que regulamenta o mandado de injunção 
reafirma, reforça o dispositivo constitucional que incumbe a esse 
instrumento a tarefa de assegurar o exercício de um direito ca-
rente de regulamentação. 
A nova lei trouxe a possibilidade de revisão em manda-
do de injunção. Trata-se da possibilidade de pleitear a revisão de 
uma decisão proferida quando houver modificação nas circuns-
tâncias de fato e de direito. Nesse caso é cabível medida liminar, 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
21 
 
nos termos do art. 14 da Lei 13.300/16. Em regra não há conces-
são de medida liminar em mandado de injunção. A competência 
para o julgamento dessa ação específica de revisão será do mes-
mo juízo que proferiu a decisão, conforme art. 59, do Código de 
Processo Civil. 
 
2.5. Parâmetro 
José Afonso da Silva classifica as normas como sendo de 
eficácia plena, contida e limitada. Todas possuem aplicabilidade 
imediata. As primeiras, são aquelas que produzem a plenitude 
de seus efeitos, independentemente de regulamentação, pois 
possuem executoriedade capaz de tornar a aplicação da norma 
direta, imediata e integral. As normas de eficácia contida, apesar 
de possuírem eficácia plena, a própria norma poderá limitar, re-
duzir a eficácia de seu alcance. E, por último, a norma a norma 
de eficácia limitada é carecedora de regulamentação. O mandado 
de injunção refere-se exatamente a essas normas. O parâmetro no 
mandado de injunção é a norma de eficácia limitada que não foi 
regulamentada. A finalidade deste instrumento de injunção é 
tornar efetiva as normas constitucionais de eficácia limitada. 
 
2.6. Legitimidade 
Ao dissertar sobre a legitimidade ativa para a impetra-
ção da citada ação, deve se atentar se trata de mandado de injun-
ção individual ou coletivo. 
Se individual, conforme art. 3° da Lei 13.300/16, poderá 
ser impetrado por pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam 
titulares dos direitos. 
 A lei 13.300/15, no art. 12, traz rol de legitimados para a 
impetração do mandado de injunção coletivo: o Ministério Pú-
blico, quando a tutela requerida for especialmente relevante para 
a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos inte-
resses sociais ou individuais indisponíveis; o partido político 
 
22 
 
com representação no Congresso Nacional, para assegurar o 
exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integran-
tes ou relacionados com a finalidade partidária; a organização 
sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituí-
da e em funcionamento há pelo menos 1 ano, em favor da totali-
dade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de 
seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispen-
sada, para tanto, autorização especial; e a Defensoria Pública, 
quando a tutela requerida for especialmente relevante para a 
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individu-
ais e coletivos dos necessitados. 
A legitimidade passiva é do órgão ou entidade pública 
encarregada da produção normativa ou mesmo a pessoa respon-
sável por provocar a Casa legislativa com a apresentação do pro-
jeto de lei de iniciativa exclusiva ou concorrente. O Presidente da 
República10 bem como o Procurador-Geral da República,11 pos-
suem legitimidade concorrente para apresentação de projetos de 
lei que estabelecerão a organização, as atribuições e o estado de 
cada Ministério Público. O Governador poderá figurar no polo 
passivo desde que o mandado de injunção refira-se a matéria de 
competência dos Estados e tenha previsão na Constituição do 
respectivo Estado. 
 
2.7. Competência 
A competência para julgar o Mandado de Injunção é de-
finida na Constituição podendo ser do Supremo Tribunal Fede-
ral, conforme art. 102, I, q, quando a omissão na elaboração da 
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da Repúbli-
ca, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Sena-
do Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tri-
 
10 Art. 61, § 1°, incisos I e II da Constituição. 
11 Art. 128, § 5° da Constituição. 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
23 
 
bunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou 
do próprio Supremo Tribunal Federal.12 
A competência será do Superior Tribunal de Justiça, nos 
termos do art. 105, I, h, quando a elaboração da norma regula-
mentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade fede-
ral, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de 
competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justi-
ça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça 
Federal.13 
A competência do Tribunal Superior Eleitoral (art. 121, § 
4º, V), em sede de recurso e do próprio Tribunal Regional Eleito-
ral. 
A Justiça Estadual também pode ser competente? Sim, 
desde que previsto nas Constituições dos Estados. A Constitui-
ção do Estado de Minas Gerais, por exemplo, prevê no art. 106, I, 
“f”, que compete ao Tribunal de Justiça processar e julgar origi-
nalmente Mandado de Injunção, quando a elaboração da norma 
regulamentadora for atribuição de órgão, de entidade ou de au-
toridade estadual da administração direta ou indireta. A mesma 
Constituição mineira, no art. 113, parágrafo único, assegura que 
compete ao Juiz de Direito julgar Mandado de Injunção quando 
a norma regulamentadora for atribuição do Prefeito, da Câmara 
Municipal ou de sua Mesa Diretora, ou de autarquia ou fundação 
pública municipal. 
Veja abaixo um quadro resumo com a competência para 
julgar a omissão. 
 
COMPETÊNCIA ÓRGÃO OMISSO 
Supremo Tribunal Federal PR, CN, CD, SF, mesas de uma dessas 
Casas Legislativas, TCU, STF e Tribu-
 
12 Artigo 102, I, q, da CR/88 
13 Artigo 105, I, h, da CR/88 
 
 
24 
 
nais Superiores 
Superior Tribunal de Justiça 
 
Órgão, entidade ou autoridade federal, 
da administração direta ou indireta, 
excetuados os casos de competência do 
STF e dos órgãos da Justiça Militar, da 
Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho 
e da Justiça Federal 
 
Tribunal de Justiça 
 
 
Órgão, entidade ou autoridade estadual 
da administraçãodireta ou indireta. 
Juiz de Direito Prefeito, Câmara Municipal ou de sua 
Mesa Diretora, ou de Autarquia ou 
Fundação Pública Municipais 
Fonte: ANDRADE, Geraldo e TORRES, Tiago. Ações Constitucionais - Teoria e Prá-
tica.BH: Conhecimento, 2018 
 
2.8. Efeitos 
A doutrina e a jurisprudência são fartas ao elaborar teo-
rias para dar efeitos ao mandado de injunção. Podemos afirmar 
que são pelo menos duas teses que explicam os efeitos. Essas te-
ses visam assegurar a efetividade do mandado de injunção. 
A primeira corrente defende a tese não concretista que 
apenas reconhece a inércia do Poder Legislativo. O Judiciário 
admite a omissão, notifica o órgão responsável pelo feito, mas 
não tem o poder de obriga-lo a atuar. Essa tese, segundo Barbosa 
Moreira, é um sino sem badalo, pois apenas reconhece a inércia e 
não pode fazer nada, o que a torna inócua. Até 2007 essa tese foi 
adotada pelo Supremo Tribunal Federal. 
A segunda corrente apoia a tese concretista. Por essa tese 
o Judiciário reconhece a omissão do órgão legislador e concede 
seus efeitos. Essa tese pode ser dividida em 3 espécies: concretis-
ta geral, concretista individual e concretista intermediária. 
A primeira espécie é a tese concretista geral que concede 
o efeito erga omnes a todas as decisões. A decisão judicial vai 
produzir efeito para todos. Entre os mandados de injunção con-
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
25 
 
cedidos pelo Supremo Tribunal Federal podemos citar os man-
dados de injunção de número 670, 708 e 712. 
A segunda espécie é a tese concretista individual, ado-
tada pelo STF, assegurando que cabe ao Poder Judiciário suprir a 
omissão apenas no caso concreto, ou seja, apenas em relação aos 
impetrantes. A decisão judicial irá produzir efeitos somente para 
as partes envolvidas (exs.: MI 721, MI 758, MI 795). 
A terceira espécie é a tese concretista intermediária, de-
fendida pelo ex ministro Nery da Silveira, sustenta que o Poder 
Judiciário deve, primeiro, dar ciência ao poder competente de 
sua omissão e fixar um prazo para supri-la. Se o prazo sugerido 
for descumprido o direito poderá ser exercido nos termos fixados 
pela decisão.14 
A Lei 13.300/16 apontou as duas teorias no art. 8°. Note-se 
o que diz o inciso I do citado artigo: reconhecido o estado de mo-
ra legislativa, será deferida a injunção para determinar prazo ra-
zoável para que o impetrado promova a edição da norma regu-
lamentadora. Neste caso a sentença será apenas declaratória, não 
assegurando o exercício do direito, conforme a tese não concretis-
ta. O inciso II do mesmo artigo assegura que reconhecido o esta-
do de mora legislativa, deverá ser estabelecida as condições em 
que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prer-
rogativas reclamadas ou, se for o caso, as condições em que po-
derá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, 
caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. O 
direito poderá ser concedido de forma direta com efeito ultra par-
tes, erga omnes ou inter partes. A sentença estabelece um prazo e 
após o término deste será concedido o direito de forma geral ou 
individual. 
 
2.9. Mandado de Injunção versus ADO 
 
14 Mandado de injunção 732. 
 
26 
 
O paralelismo existente entre o mandado de injunção e a 
ação direta por omissão acaba sendo muito explorado em provas 
de concursos ou mesmo do exame da ordem. Então o que essas 
ações têm em comum? Ambas visam combater a inércia do Poder 
Legislativo. 
O que as duas ações possuem de diferente? O mandado 
de injunção está expresso no art. 5°, inciso LXXI, enquanto a 
ADO está no art. 103, § 2º da Constituição. Os legitimados do 
mandado de injunção são todos os cidadãos que se mostrem in-
teressados e impossibilitados de exercer determinado direito 
constitucional, mas são impedidos pela ausência de norma. Por 
outro lado, os legitimados na ADO são os mesmos da ADI pre-
vistos no art. 103 da Constituição, que possui o rol taxativo. 
O objeto do mandado de injunção é a solução de um ca-
so concreto, individualmente considerado. Já na ADO o controle 
é realizado, em abstrato, sem a necessidade de estar configurada 
a violação do direito individual. 
Os efeitos no mandado de injunção individual são ape-
nas para as partes. A doutrina chama de inter partes, ou seja, não 
produz consequências a terceiros. Por outro lado, a ADO possui 
efeitos erga omnes. 
O julgamento do mandado de injunção é de competência 
originária do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, a), do Supe-
rior Tribunal de Justiça (art. 105, I, h) do Tribunal Superior Elei-
toral (art. 121, §4º, V), do Tribunal de Justiça e do Juiz de Direito. 
Já a competência para julgar a ADO é sempre do Supremo Tri-
bunal Federal. 
Veja abaixo um quadro comparativo entre o mandado de 
injunção e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão. 
 
Mandado de Injunção 
Aplica-se a Lei 13.300/16 
ADO 
Lei 12.063/09 
Art. 5º, LXXI, CF/88. Art. 103, § 2º, CF/88 e Arts. 12-A e 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
27 
 
seguintes da Lei 9868/99 
Todo e qualquer cidadão desde 
que demonstre interesse na regu-
lamentação 
Legitimados do art. 103, CF/88 
Controle concreto Controle abstrato 
Efeitos inter partes Efeitos erga omnes 
É garantia do cidadão É ação de garantia da Constituição 
Procedimento do MS no que for 
cabível 
Procedimento da ADI no que for cabí-
vel 
Competência depende da pessoa Competência do Supremo Tribunal 
Federal para julgar 
Não é cabível liminar É cabível liminar 
Fonte: ANDRADE, Geraldo e TORRES, Tiago. Ações Constitucionais - Teoria e Prá-
tica.BH: Conhecimento, 2018 
 
2.10. Pedidos 
Antes mesmo de adentrar nos pedidos é importante re-
gistrar que a decisão em mandado de injunção é transitória, tem-
porária e não faz coisa julgada material. Também não é cabível 
medida liminar, salvo em ação revisional. 
 Os pedidos mais relevantes do mandado de injunção 
são: a notificação dos impetrados, nos termos do art. 5°, I; a ciên-
cia ao órgão de representação, art. 5°, II; a oitiva do Ministério 
Público, art. 7°; o reconhecimento da mora legislativa, art. 8°, I; a 
procedência do pedido para que possa viabilizar, assegurar ou 
proteger o direito, em tese, nos termos do art. 8°, II. 
Conforme a art. 291, do Código de Processo Civil, a toda 
causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha um 
conteúdo econômico aferível. 
 
 
 
28 
 
3. HABEAS DATA 
 
O habeas data é uma ação que surgiu por influência das 
constituições de países como Portugal e Espanha, que passaram 
por regime autoritários. 
No Brasil a ação nasceu com o constituinte de 1988 após 
o período militar autoritário que reprimiu as individualidades e 
atentou contra os direitos individuais fundamentais da socieda-
de. 
O significado da expressão habeas data é: tome os seus 
dados. O termo é muito apropriado em razão do momento histó-
rico do surgimento da ação que teve proteção constitucional. 
O habeas data foi objeto de questionamento na peça práti-
co-profissional do III exame da OAB organizado pela Fundação 
Getúlio Vargas. 
 
3.1. Conceito 
O Habeas data é uma ação constitucional para viabilizar o 
acesso, a retificação ou anotação de informação da pessoa do 
impetrante constante em bancos de dados públicos ou privados 
de caráter público. 
 
3.2. Natureza Jurídica 
O habeas data tem natureza cível, é personalíssima e gra-
tuita, que visa a defesa de direitos fundamentais para o acesso, 
retificação ou anotação de informações. 
O habeas data pode ser preventivo ou repressivo. Se pre-
ventivo, é utilizado para evitar o uso abusivo das informações. 
Se repressivo, visa conhecer, retificar ou anotar uma informação 
pessoal. 
Hely Lopes Meirelles sustentava que numa mesma ação 
o autor poderia pedir o acesso aos dados e, se fosse o caso, de-
pois realizar a retificação ou anotação. Mas esse não é o entendi-
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
29mento prevalente. Entende-se que o impetrante deverá manejar 
ações distintas. Primeiramente uma ação para tomar conheci-
mento dos dados. Depois, se for o caso, outra ação para retificar 
ou anotar as informações. 
 
3.3. Fundamento Normativo 
O art. 5º, inciso LXXII da Constituição, regulado pela Lei 
9.507/97, do Habeas Data, assim dispõe: conceder-se-á Habeas data 
para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa 
do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de 
entidades governamentais ou de caráter público, para a retifica-
ção de dados quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, 
judicial ou administrativo. 
O citado dispositivo constitucional não assegurou a ano-
tação de dados de natureza pessoal. A Lei 9.507/97 assegurou, 
no art. 7°, III, o direito para anotações ou explicações sobre dados 
verdadeiros, mas justificáveis. 
O art. 5°, XXXIII, da Constituição assegura que todos têm 
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interes-
se particular. 
A petição inicial de habeas data deverá preencher os re-
quisitos dos arts. 319, 320 e 321 do novo Código de Processo Ci-
vil, com a apresentação em duas vias, nos processos não eletrôni-
cos, e os documentos que instruírem. 
 
3.4. Requisitos 
O procedimento do Habeas data é dividido em duas fases: 
administrativa e judicial. Na primeira, que não precisa de advo-
gado, o impetrante deve solicitar ao órgão informações sobre a 
sua pessoa e, não tendo o pleito atendido no prazo de 48 horas, 
ou negado o pedido, passa-se para a fase judicial. Nesta, exige-se 
o, necessariamente, o esgotamento da fase administrativa e a 
existência de bancos de dados formais. O enunciado de súmula 
 
30 
 
de número 2 do Superior Tribunal de Justiça assegura que não 
cabe Habeas data se não houver recusa de informações por parte 
da autoridade administrativa. 
O habeas data exige-se necessariamente que a informação 
personalíssima tenha sido negada. Para a impetração do habeas 
data deve-se observar a existência de direito líquido e certo, ou 
seja, prova pré-constituída, que independe de dilação probatória. 
Os dados devem ser de caráter pessoal, entretanto com-
porta exceção no direito sucessório. 
A Constituição, no art. 133, assegura que o advogado é 
essencial para garantia da justiça. Portanto, a presença do advo-
gado, na fase judicial, é indispensável. 
 
3.5. Legitimidade 
Os legitimados dividem-se em ativos e passivos. Os legi-
timados ativos podem ser quaisquer pessoas físicas, as pessoas 
jurídicas, os órgão públicos despersonalizados como a Mesa da 
Câmara, do Senado, desde que titulares. 
Os legitimados passivos podem ser pessoas jurídicas de 
direito público ou de direito privado com caráter público, bem 
como órgão público despersonalizado. 
 
3.6. Competência 
A competência para julgar o Habeas data está disposta na 
Constituição e no art. 20 da Lei 9.507/97. O constituinte originá-
rio estabeleceu que poderão julgar o habeas data: o Supremo Tri-
bunal Federal (art. 102, I, d), o Superior Tribunal de Justiça (105, 
I, b), o Tribunal Regional Federal (108, I, c), a Justiça Federal (109, 
VIII), a Justiça do Trabalho (114, IV), o Tribunal Superior Eleito-
ral (121, § 4º, V) e o Tribunal de Justiça Estadual, conforme art. 
106, I, alínea “e” da Constituição do Estado de Minas Gerais. 
Ao STF, conforme a Constituição e art. 20, I, “a” da Lei 
9.507/97, compete julgar o Habeas Datas contra atos do Presidente 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
31 
 
da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado 
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral 
da República e do próprio Supremo. Também é competência do 
STF julgar, em Recurso Ordinário Constitucional, o habeas data 
decidido em única instância pelo STJ, TST, TSE e STM, se dene-
gatória a decisão. 
Compete ao STJ julgar habeas data contra ato de Ministro 
de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero-
náutica ou ato dos próprios Ministros do STJ. 
A competência dos Tribunais Regionais Federais em pro-
cessar e julgar, originariamente, os habeas datas contra ato do 
próprio Tribunal ou de juiz federal. Compete à justiça federal 
julgar os habeas datas contra ato de autoridade federal, excetuados 
os casos de competência dos tribunais federais, conforme art. 20, 
I, “d” da citada lei. 
A Justiça do Trabalho julga os habeas datas quando o ato 
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. A súmula 
368 do STJ aduz que compete à justiça comum estadual processar 
e julgar os pedidos de retificação de dados cadastrais da Justiça 
Eleitoral. 
A Constituição do Estado de Minas Gerais estabelece que 
compete ao Tribunal de Justiça julgar habeas data contra ato de 
autoridade diretamente sujeita à sua jurisdição. Entre essas auto-
ridades podemos citar os atos do Governador de Estado, do Pro-
curador-Geral de Justiça e os Secretários Estaduais. 
Os juízes estaduais julgam os habeas data contra ato dos 
Prefeitos Municipais, os Secretários Municipais e demais autori-
dades. 
Os recursos cabíveis em habeas data são: apelação, recurso 
ordinário no Supremo Tribunal Federal, recurso extraordinário e 
o recurso especial. O Ministério Público possui legitimidade re-
cursal, conforme o enunciado de súmula 99 do Superior Tribunal 
de Justiça. Mais uma vez cabe ressaltar que não cabe recurso or-
 
32 
 
dinário constitucional para o Superior Tribunal de Justiça em 
Habeas data. 
 
3.7. Tempestividade 
A lei do habeas data, ao contrário da lei da ação popular e 
do mandado de segurança, não trouxe nenhum prazo para a im-
petração da citada ação. Enquanto o prazo para impetração da 
ação popular prescreve em 5 anos, conforme art. 21 da Lei 
4.717/65, e o prazo para o mandado de segurança repressivo 
prescreve em 120 dias, nos termos do art. 23 da Lei 12.016/09, o 
habeas data é imprescritível. 
 
3.8. Valor da Causa e Gratuidade da Ação 
O Código de Processo Civil, no art. 291, assegura que a 
toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conte-
údo econômico imediatamente aferível. Portanto, apesar da gra-
tuidade da ação de habeas data, assim como no habeas corpus e na 
ação popular, para as bancas examinadoras, deve-se aferir o va-
lor da causa. 
 
3.9. Dos Pedidos 
O advogado deve basear seus pedidos no novo Código 
de Processo Civil, com algumas adaptações, trazidas pela Lei 
9.507/97. Entre esses pedidos estão: a notificação do coator para 
prestar informações no prazo de 10 dias, nos termos do art. 9° da 
lei; a ciência do órgão de representação para, querendo, ingressar 
no feito; a procedência do pedido, marcando data e horário para 
que o coator viabilize o acesso ou a anotação ou retificação dos 
dados, conforme art. 13; a juntada de documentos, em especial a 
prova pré-constituída, que há negativa do órgão administrativo 
ou do protocolo do pedido; a intimação do Ministério Público, 
nos termos do art. 12; e a prioridade sobre todos os atos proces-
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
33 
 
suais, salvo em relação ao habeas corpus e ao mandado de segu-
rança, conforme art. 19. 
Como a prova é pré-constituída, então não é cabível a 
produção de todos os meios de prova. Por outro lado, como a 
ação é gratuita, portanto, o pedido de condenação do réu em cus-
tas judiciais torna-se improcedente. Deve-se observar que não é 
cabível o pedido de medida cautelar em habeas data. 
A seguir será apresentado um quadro sobre a competên-
cia de cada órgão para julgar o habeas data. 
 
COMPETÊNCIA ATO DE AUTORIDADE 
STF PR, Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado 
Federal, TCU, PGR, STF. 
Em ROC o HD decidido em única instância pelo 
STJ, TST, TSE e STM, se denegatória a decisão. 
STJ Ministro de Estado, Comandantes da Marinha, do 
Exército e da Aeronáutica ou do próprio STJ. 
TRF Tribunal Regional Federal ou Juiz Federal 
Juiz Federal Autoridade federal 
Juiz do Trabalho Matéria sujeita à sua jurisdição 
Tribunal de JustiçaGovernador, Deputado Estadual, AGE, Secretário 
Estadual, Juiz de Direito, Auditor Militar, MPE, 
Chefe da PC, Comandante-Geral PM, Comandante-
Geral CB. 
Fonte: ANDRADE, Geraldo e TORRES, Tiago. Ações Constitucionais - Teoria e Prá-
tica.BH: Conhecimento, 2018 
 
 
 
 
 
34 
 
4. AÇÃO POPULAR 
 
A ação popular é uma ação de defesa dos direitos da co-
letividade, dos interesses transindividuais, tendo como beneficiá-
rio o povo, a sociedade. Ela é um instrumento posto à disposição 
do cidadão, desde a Constituição imperial de 1824. 
A ação popular foi objeto de questionamento na segunda 
fase do VI e XVIII exames da OAB, elaborados pela banca Fun-
dação Getúlio Vargas. 
 
4.1. Conceito 
A ação popular é o meio constitucional posto à disposi-
ção de qualquer cidadão para obter a anulação de atos ou contratos 
administrativos ou a estes equiparados - ilegais e lesivos do pa-
trimônio federal, estadual e municipal, ou de suas autarquias, 
entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com 
dinheiros públicos.15 
 
4.2. Cabimento 
O cidadão utiliza a ação popular com o objetivo de com-
bater os atos lesivos ao patrimônio da administração, ao meio 
ambiente e à moralidade administrativa, invalidar atos ou con-
tratos administrativos e proteger interesses coletivos. O prejuízo 
não precisa ser necessariamente econômico, mas moral, turístico, 
histórico, cultural. Como exemplo a contratação fraudulenta de 
serviços pela Administração Pública por preços mais elevados 
que o do mercado, o que caracteriza evidente afronta à legalida-
de e provoca grande lesividade ao patrimônio público. 
 
4.3. Natureza Jurídica 
 
15 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 148/149 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
35 
 
A ação popular tem natureza cível. É gratuita para o au-
tor, salvo em caso de má-fé, conforme previsão no art. 5°, inciso 
LXXIII da Constituição Federal. Essa possui uma lei específica, 
4.717/65, que regula o citado dispositivo constitucional e visa 
combater a lesão ao patrimônio público. A lei, no art. 1°, § 1°, es-
pecifica que o patrimônio é bem de valor econômico, artístico, 
histórico ou turístico. A doutrina e jurisprudência ampliaram 
esse conceito no sentido de abarcar os bens materiais e imateriais, 
de lesão ao erário. 
A ação popular pode ser preventiva ou repressiva. “Co-
mo meio preventivo de lesão ao patrimônio público, a ação po-
pular poderá ser ajuizada antes da consumação dos efeitos lesi-
vos do ato; como meio repressivo, poderá ser proposta depois da 
lesão, para reparação do dano. Esse entendimento deflui do pró-
prio texto constitucional, que a toma cabível contra atos lesivos 
do patrimônio público, em indicar o momento de sua propositu-
ra.”16 
 
4.4. Requisitos 
Os requisitos para a impetração da ação popular estão 
previstos na Lei 4.717/65. “O primeiro requisito para o ajuiza-
mento dessa ação é o de que o autor seja cidadão brasileiro, isto 
é, pessoa humana no gozo de seus direitos cívicos e políticos, 
requisito esse que se traduz na sua qualidade de eleitor.” 17 
A comprovação da cidadania dá-se através do título elei-
toral, conforme art. 1°, § 3° da lei já citada. É uma das poucas 
possibilidades que o cidadão terá a obrigatoriedade de utilização 
desse documento, pois até mesmo para votar o título eleitoral é 
 
16 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 156 
17 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 150 
 
36 
 
dispensável. Essa ação pode ser proposta pelo brasileiro nato e 
naturalizado. 
O Poder Judiciário não aprecia por meio de ação popular 
a análise de conveniência, oportunidade e discricionariedade do 
ato. 
A ação popular, nas percepção de Hely Lopes Meirelles, 
vem sendo desvirtuada e utilizada como meio de oposição políti-
ca de uma Administração a outra, o que exige do Judiciário re-
dobrada prudência na sua análise.18 
 
4.5. Legitimidade Ativa e Passiva 
O legitimado ativo da ação popular será sempre o cida-
dão, portanto, aquele que é dotado de Direitos Políticos. 
A legitimidade independe de circunscrição eleitoral, as-
sim o eleitor de Belo Horizonte poderá propor uma ação popular 
em Contagem. O menor entre 16 e 18 anos, desde que tenha títu-
lo eleitoral, pode ajuizar ação popular. 
O militar, desde que não conscrito, deve ter título eleito-
ral e, consequentemente, poderá impetrar a ação popular. O pre-
so cautelar também mantém os seus direitos políticos vigentes e 
pode exercer a cidadania visando anular ou declarar a nulidade 
de um ato ilegal. 
A legitimidade passiva fica por conta das pessoas jurídi-
cas de direito público, as autoridades administrativas e os benefi-
ciários diretos. Já os indiretos (de boa-fé) não podem estar no 
polo passivo. 
A ação popular terá sempre uma pluralidade de réus e 
nunca será contra apenas uma autoridade, pessoa física. Pois de-
verá figurar no polo passivo a entidade, na qual a pessoa física 
está lotada, além de todos os envolvidos no ato. 
 
18 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 150 
 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
37 
 
A Lei 4.717/65 assegura no art. 6°, § 5° que é facultado a 
qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do 
autor da ação popular. O artigo fala apenas em autor, mas Hely 
Lopes Meirelles afirma que a assistência e o litisconsórcio ativos 
não exclui os intervenientes passivos que tenham legítimo inte-
resse na defesa da causa, tais como os funcionários não citados 
para integrar a lide.19 
 
4.6. Não Possuem Legitimidade 
Os legitimados ativos estão limitados à pessoa física. As 
pessoas jurídicas não podem figurar no polo ativo da ação, nos 
termos da súmula 365 do STF.20 
Mesmo as pessoas físicas, algumas delas não podem im-
petrar a ação. Então estão impedidos de figurar no polo ativo: os 
menores de 16 anos, por não possuírem capacidade eleitoral; os 
jovens maiores de 16 anos e menores de 18 anos, desde que não 
tenha título eleitoral; os estrangeiros, exceto o português, se 
equiparado; os maiores de 70 anos, se não exercerem o direito ao 
voto; os conscritos; as pessoas com direitos políticos suspensos 
ou perdidos, nos termos do art. 15 da Constituição. 
 
4.7. Competência 
A Constituição não dispôs sobre a competência para jul-
gar as ações populares. Se a Constituição foi omissa isso significa 
que a competência é da primeira instância. A propositura da ação 
tornará o juiz prevento para todas as demais ações, conforme o 
art. 59 do Código de Processo Civil. 
O art. 5° da Lei 4.717/65 assegura que é competente para 
conhecer da ação, processá-la e julgá-la, o juiz que, de acordo 
 
19 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 163 
20 O enunciado de súmula 365 do Supremo Tribunal Federal afirma que as pessoas jurídicas não 
tem legitimidade para propor ação popular. 
 
38 
 
com a organização judiciária de cada Estado o for para as causas 
que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao 
Município. 
Se a União ou mesmo as Autarquias Federais, Empresas 
Públicas Federais ou Associação Pública Federal, forem partes a 
competência será da justiça federal de primeira instância, nos 
termos do art. 109, I, da Constituição, exceto em caso de falência, 
de acidente de trabalho, da justiça eleitoral e da justiça do traba-
lho. As demais ações populares são de competência da vara esta-
dual, preceitua o art. 125, § 1°. 
A doutrina é farta em esclarecer a competência do juiz de 
primeira instância para julgar a citada ação. “Esclareça-se que a 
ação popular, ainda que ajuizadacontra o Presidente da Repúbli-
ca, o Presidente do Senado, o Presidente da Câmara dos Deputa-
dos, o Governador ou o Prefeito, será processada e julgada pe-
rante a Justiça de primeiro grau.”21 
A jurisprudência do STF é firme no sentido de considerar 
que o rol do arts. 102 e 105 da Constituição é taxativo e não 
exemplificativo, portanto, como tais dispositivos não preveem o 
julgamento da ação popular, o processo e julgamento ficam a 
cargo do juiz de primeira estância, mesmo em se tratando de au-
toridades como o Presidente da República, Ministros de Estado. 
 
Consultar : Ag Reg. Pet. 2018 e AO QO 859 
 
4.8. Tempestividade 
A ação popular, assim como a maioria das ações, têm um 
prazo prescricional estabelecido no art. 21 da Lei 4.717/65, que 
diz prescrever em cinco anos. 
 
4.9. Dos Pedidos 
 
21 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p. 166 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
39 
 
Os pedidos devem obedecer aos dispositivos do novo 
Código de Processo Civil e a Lei 4.717/65. A ação popular admi-
te liminar para suspensão do ato lesivo nos termos do art. 5°, § 4° 
desta e o art. 300 daquele, demonstrando o fumus boni iuris e o 
periculum in mora. Se houver os pressupostos para a liminar, de-
verá ser pedida sua concessão para suspender o ato lesivo até 
que se julgue o mérito da ação principal. 
Pede-se a citação dos réus, na pessoa de seus procurado-
res, para que elabore a sua defesa no prazo legal, bem como a 
intimação do Ministério Público, conforme o art. 7°, I, “a” da Lei 
4.717/65. Observe que a citação será dos réus, partindo-se do 
pressuposto a existência de litisconsórcio passivo necessário. 
O pedido principal é para anular ou declarar a nulidade 
de do ato ou dos atos lesivos ao patrimônio da entidade em ques-
tão. Esse pedido principal pode ser, por exemplo, uma lesão ao 
patrimônio público ocasionado pelo leilão de um bem desafeta-
do, ou a compra de um produto, mesmo com licitação, mas su-
perfaturado. Pode ser um empreendimento que possa causar da-
nos ao meio ambiente, como uma licença duvidosa, a ofensa à 
moralidade administrativa como a nomeação de um parente, 
sem concurso público, para a ocupação de um cargo, incorrendo 
em nepotismo. Pode ser também a lesão ao patrimônio histórico 
ou cultural de um município como a extinção ou proibição de 
uma festa tradicional. 
Serão pedidos a juntada dos documentos, em especial o 
título eleitoral do autor, conforme manda o art. 1°, § 3°. A produ-
ção dos meios de provas específicos ou genéricos; a condenação 
dos réus em custas judiciais e honorários de sucumbência, con-
forme art. 12 da Lei 4.717/65. 
Também poderão ser pedidos a condenação dos réus em 
perdas e danos, conforme art. 11, e a requisição dos documentos 
necessários ao esclarecimento dos fatos, nos termos do art. 7°, I, 
alínea “b” da Lei 4.717/65. 
 
40 
 
 
4.10. Efeitos 
Os efeitos mais conhecidos da decisão da ação popular 
são: 
 Invalidar o ato lesivo ao patrimônio público; 
 Condenação das autoridades administrativas, funcionários ou 
beneficiários diretos (mitigação do princípio da congruência 
ou da adstrição do juiz ao pedido); 
 Condenação das autoridades administrativas, funcionários ou 
beneficiários à custa e honorários; 
 Efeito erga omnes (se a ação popular for improcedente por in-
suficiência de prova, o pedido pode ser renovado. Coisa jul-
gada secundum eventum probatione ou eventum litis); 
 
4.11. Considerações Gerais 
O cidadão não terá o ônus de arcar com os honorários de 
sucumbências, uma vez que é uma ação gratuita para o autor, 
desde que não exista má-fé. Mas os réus poderão ser condenados 
a pagar os honorários do advogado contratado pelo autor. A 
condenação pode ser diferenciada para cada litisconsorte. 
 A ação popular não visa proteger direitos individuais, 
mas sim a defesa dos direitos pertencentes à coletividade. “O 
beneficiário direto e imediato desta ação não é o autor; é o povo, 
titular do direito subjetivo ao governo honesto. Neste caso, o ci-
dadão a promove em nome da coletividade, no uso de uma prer-
rogativa cívica que a Constituição da República lhe outorga.”22 
O Supremo Tribunal Federal, no ARE 824.781, reafirmou 
jurisprudência no sentido de que não é necessária a comprovação 
de prejuízo material aos cofres públicos como condição para a 
 
22 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. p.149 
 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
41 
 
propositura de ação popular. Somente será devido o pagamento 
de custas se houver comprovada má-fé do autor da ação. 
O Ministério Público não ajuíza ação popular, apenas 
acompanha. Nunca será parte, somente impulsionador, conforme 
art. 6°, § 4° da Lei 4.717/65 que determina que caberá a este ape-
nas apressar a produção de provas e promover a responsabilida-
de civil ou criminal, sendo vedado, assumir a defesa do ato im-
pugnado. 
A jurisprudência é consolidada em inadmitir a ação po-
pular contra a lei e contra a lei em tese. A lei é uma regra obriga-
tória, geral, abstrata, elaborada pelo Legislativo, e que inova o 
ordenamento jurídico. Por sua vez, a lei em tese é elaborada pelo 
Executivo, tem força normativa, sendo um ato administrativo 
dotado de generalidade que atinge a todos os indivíduos. O de-
creto do chefe do Executivo é um bom exemplo. Se esse decreto 
lesar o patrimônio público, a moralidade administrativa, o meio 
ambiente e o patrimônio histórico e cultural, aí sim, caberia a 
ação popular. 
Os recursos cabíveis são apelação contra a sentença ou 
agravo de instrumento contra a negativa de liminar. 
 
 
 
42 
 
5. HABEAS CORPUS 
 
O Habeas corpus surgiu na Inglaterra, durante a Idade 
Média, mais precisamente na Magna Charta Libertatis de 1.215. 
Séculos depois, reapareceu em outros documentos como o Bill of 
Rigths (1628) e o Habeas Corpus Act de 1679. 
No Brasil surgiu com a Constituição de 1891, mas já esta-
va previsto no Código de Processo Criminal de 1832, sendo con-
templado em todas as constituições subsequentes e suspenso du-
rante a vigência do AI-5 (1968/1978), para os crimes políticos e os 
crimes contra a segurança nacional. 
 
5.1. Conceito 
O citado remédio judicial visa evitar ou fazer cessar a vi-
olência ou a coação à liberdade de locomoção em decorrência de 
ilegalidade ou abuso de poder. O art. 5.º inciso LXVIII, assim 
aduz: conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se 
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade 
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 
O Código de Processo Penal nos art. 647 a 667 regula-
menta o citado instituto. 
O art. 648 do Código de Processo Penal assegura as hipó-
teses de ilegalidade que ensejam a ordem: quando inexistir justa 
causa para a prisão, ou seja, quando não estiverem presentes as 
provas da existência do crime e os indícios suficientes de autoria; 
quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a 
lei; quando quem ordenar a coação não tiver competência para 
fazê-lo; quando não for alguém admitido a prestar fiança, nas 
hipóteses que a lei autoriza; quando o processo for manifesta-
mente nulo; e quando já extinta a punibilidade. 
A Constituição foi repetitiva ao dizer que cabe Habeas 
Corpus quando houver ilegalidade ou abuso de poder. Ora, toda 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
43 
 
ilegalidade constitui uma forma de abuso de poder. Então basta-
va o constituinte ter dito: em caso de ilegalidade. 
 
5.2. Natureza Jurídica 
A natureza jurídica desse remédio é de ação autônoma 
de impugnação que assegura ao indivíduo o direito de não sofrer 
constrição ilegal ou abusiva em seu direito de ir, vir e permane-
cer. 
O Habeas corpus pode ser preventivo e repressivo. O pre-
ventivo tem o objetivo de impedir a perpetração da violência ou 
coação ilegal. É utilizadocontra a ilegalidade ou abuso de poder 
no tocante ao direito de locomoção.23 O Habeas Corpus preventivo 
também pode ser chamado de profilático que visa o trancamento 
da ação penal. 
Essa ação tornou-se um remédio mais cobiçado com os 
depoimentos dos investigados na Ação Penal 470, conhecida co-
mo mensalão.24 
O habeas corpus repressivo é utilizado para combater a 
coação ilegal já consumada. 
 
5.3. Cabimento 
O Habeas corpus tem como objetivo proteger a liberdade 
ou qualquer cerceamento ilegal. A ilegalidade seria uma afronta 
direta à lei. 
 
23 “É cabível habeas corpus para apreciar toda e qualquer medida que possa, em tese, acarretar 
constrangimento à liberdade de locomoção ou, ainda, agravar as restrições a esse direito. Esse o 
entendimento da Segunda Turma ao deferir habeas corpus para assegurar a detento em estabe-
lecimento prisional o direito de receber visitas de seus filhos e enteados. (...) De início, rememo-
rou-se que a jurisprudência hodierna da Corte estabelece sérias ressalvas ao cabimento do writ, 
no sentido de que supõe violação, de forma mais direta, ao menos em exame superficial, à liber-
dade de ir e vir dos cidadãos.” (HC 107.701, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13-9-2011, 
Segunda Turma, Informativo 640.) 
24 O Presidente do Banco Central Francisco Lopes foi depor na CPI e alegou o direito Constituci-
onal ao silêncio uma vez que ele também era investigado, mas recebeu voz de prisão. Se até o 
Presidente do Banco Central não teve os seus direitos constitucionais resguardados, imagine o 
mero cidadão mortal. 
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4049092
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo640.htm
 
44 
 
O Supremo Tribunal Federal tem entendido que não cabe 
habeas corpus quando não houver ofensa direta à liberdade de 
locomoção do paciente, conforme decido no HC 84.816. 
O Supremo Tribunal Federal também tem admitido o 
remédio para trancar ação penal quando houver ausência de jus-
ta causa. No entanto, essa medida é considerada como de caráter 
excepcional, não se aplicando quando houver indícios de autoria 
e materialidade do fato criminoso. 
A jurisprudência também admite o habeas corpus para 
trancar ação penal, como a quebra de sigilo bancário que, se fosse 
determinada, poderia representar a ofensa indireta ao direito de 
locomoção.25 
O STF, no habeas corpus 89.179, de relatoria do Ministro 
Carlos Britto, assegurou o cabimento em favor de beneficiado 
pela suspensão condicional do processo, visando-se ao tranca-
mento da ação penal. 
 
5.4. Legitimidade Ativa e Passiva 
O legitimado ativo do habeas corpus é qualquer pessoa fí-
sica, nacional ou estrangeira, que postule em juízo, em seu favor 
ou de outrem. Qualquer pessoa pode impetrar habeas corpus, com 
ou sem advogado, em benefício de alguém que teve a sua liber-
dade restrita em função de ilegalidade ou abuso de poder.26 O 
Ministério Público também possui legitimidade para impetrar a 
ação, assim como o incapaz que poderá fazê-lo em seu nome ou 
em benefício de outrem. A pessoa jurídica também pode atuar no 
polo ativo, mas em benefício de pessoa física. 
Portanto, observa-se que a capacidade postulatória é ex-
tensível a todas as pessoas e não exige maiores formalidades. A 
 
25 PAULO, Vicente. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 7ª Ed.SP: 
Método, 2011. P. 212. 
26 O art. 654 do CPP assegura que o habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, 
em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público. 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
45 
 
liberdade de locomoção é um bem tão precioso que não pode ser 
cerceado por mero procedimento formal. Por outro lado, não se 
admite o writ apócrifo. O impetrante deve sempre identificar-se. 
A legitimidade passiva pode ser uma autoridade pública 
ou mesmo um particular, desde que o constrangimento seja de-
corrente da função por ele exercida. Um exemplo disso seria o 
diretor de um hospital particular que impede a alta do paciente 
por falta de pagamento. Nesse caso o diretor age com abuso de 
poder, restringindo a liberdade de ir e vir do paciente. 
 
O legitimado ativo nem sempre será a pessoa que sofre a 
violação. Tem se como paciente desta ação a vítima que é atingi-
da pelo abuso do poder ou ilegalidade. Já o legitimado passivo 
será sempre a autoridade coatora que é aquela responsável pelo 
abuso de poder. 
 
5.5. Competência 
A competência para julgamento do habeas corpus depende 
da autoridade coatora ou do paciente. 
O STF é competente para julgar o habeas corpus, conforme 
art. 102, I, d, sendo paciente o Presidente27 e o Vice-Presidente da 
República, os Deputados, os Senadores da República, os próprios 
Ministros do STF, os Ministros do STJ, do TST, do TSE, do STM, 
o PGR, o AGU, os Ministros de Estado, os Comandantes da Ma-
rinha, Exército e Aeronáutica, os Ministros do Tribunal de Con-
tas da União e os chefes de missão diplomática. 
O julgamento do habeas corpus, conforme art. 102, I, i, 
também compete ao STF, quando o coator for Ministro do STJ, do 
TST, TSE e do STM ou quando o coator ou o paciente for autori-
dade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à 
 
27 O art. 86, § 4° da Constituição afirma que o Presidente da República, na vigência de seu man-
dato, não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. 
 
46 
 
jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição 
em uma única instância. 
Em Recurso Ordinário Constitucional, o STF julga os Ha-
beas Corpus decididos em única instância pelo STJ, TST, TSE e 
STM, se denegatória a decisão. 
O STJ, conforme art. 105, I, c, é competente para julgar os 
Habeas Corpus quando o coator ou paciente for Governador de 
Estado ou Distrito Federal, Desembargador de Tribunal de Justi-
ça, do TRF, TRT e do TRE, membros dos Tribunais de Contas dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, do Ministério Pú-
blico da União que oficiem perante Tribunal. Julga os Habeas Cor-
pus quando o coator for tribunal sujeito a sua jurisdição, se o coa-
tor for Ministro de Estado, Comandante da Marinha, do Exército 
e da Aeronáutica, ressalvada a competência da justiça eleitoral. 
Também julga em Recurso Ordinário os habeas corpus decididos 
em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais 
ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, 
quando a decisão for denegatória. 
Os Tribunais Regionais Federais, conforme o art. 108, I, 
d, julgam os habeas corpus quando a autoridade coatora for juiz 
federal, bem como o recurso contra decisão em habeas corpus jul-
gado por juiz federal. O TRF também julga habeas corpus contra 
ato de procuradores do MPF que atuam perante a primeira ins-
tância. 
A Justiça do Trabalho, segundo artigo 114, IV da Consti-
tuição, julga os Habeas Corpus quando o ato questionado envolver 
matéria sujeita à sua jurisdição. Os Tribunais de Justiça dos Esta-
dos julgam os habeas corpus quando a autoridade coatora ou paci-
ente for juiz de primeiro grau. Quando o ato ilegal for de Promo-
tor de Justiça e quando o habeas corpus for contra ato de juiz de 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
Teoria e Prática 
47 
 
turma recursal de juizado especial,28 conforme HC 86.834/SP, a 
competência também será do Tribunal de Justiça. E o juiz crimi-
nal de primeiro grau julga habeas corpus contra ato de autoridade 
policial sem prerrogativa de função e todos os particulares em 
igual situação. 
 
5.6. Admissibilidade 
Cabe habeas corpus contra liminar que nega pedido em 
habeas corpus? Como regra a resposta é não, exceto se a ilegalida-
de for flagrante. O STF sumulou esse entendimento no enuncia-
do 691. Mas sempre cabe habeas corpus contra quem negou habeas 
corpus. 
É possível o efeito extensivo

Continue navegando