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TRABALHO LINGUÍSTICA - FONÉTICA E FONOLOGIA

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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO 
 
 
 
 
 
RENATA APARECIDA VIANA 
 
 
 
TRABALHO DE LINGUÍSTICA 
FONÉTICA E FONOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BAURU 
2015 
SUMÁRIO: 
 
1. Definição de Fonética e Fonologia .................................. 3 
2. Alfabeto Fonético Internacional ....................................... 5 
3. Fonema ........................................................................... 8 
4. Alofone: causas da alofonia ............................................ 10 
5. Neutralização .................................................................. 12 
6. Arquifonema .................................................................... 12 
7. Pares Mínimos ................................................................ 15 
8. Nasalidade: fonológica e fonética ................................... 16 
9. Vocábulo formal e vocábulo fonológico .......................... 16 
10. Traços prosódicos ou suprassegmentais .........................19 
11. Referências ..................................................................... 23 
 
 
 
 
 
 
3 
FONÉTICA E FONOLOGIA 
 
1. Definição de Fonética e Fonologia 
 
A Fonética e a Fonologia são dois níveis de análise dos sons de uma 
língua. Primeiramente, é necessário que se saiba que a transcrição fonética é 
representada entre colchetes [ ], e a fonológica entre barras oblíquas / /. Além 
disso, a unidade da fonética é o som da fala ou fone, enquanto que a da 
fonologia é o fonema. 
Segundo o Dicionário de Linguística de Dubois (1993: 282), “A 
fonética estuda os sons da língua em sua realização concreta, 
independentemente de sua função lingüística”; a fonologia, por sua vez, estuda 
os sons do ponto de vista funcional, ou seja, “sua função no sistema de 
comunicação lingüística” (Ibidem: 284). 
Vamos, então, tentar entender a distinção entre estas áreas. 
A fonética estuda os sons da fala em todas as suas minúcias. Tomemos 
como exemplo a diferença entre as pronúncias da palavra “tijolo” no Rio de 
Janeiro e no estado de Pernambuco. A primeira consoante da palavra é 
pronunciada [tš] no Rio (algo como a mistura de ‘t’ e ‘ch’, ou seja, ‘tch’). Em 
Pernambuco, a pronúncia é [t], o mesmo som da primeira consoante de ‘tapa’. 
Cabe à fonética estudar as diferenças físicas, concretas destes sons. 
Não importa se a pronúncia é diferente e a palavra é a mesma: ‘tijolo’. 
Por isso, foi dito acima que a fonética estuda os sons da fala de um 
ponto de vista concreto e independentemente da função destes sons num 
determinado idioma. 
Foi dito também que a fonologia estuda os sons do ponto de vista 
funcional. O que significaria ‘funcional’ em fonologia? É justamente a ‘função’ 
que os sons desempenham numa determinada língua. Voltemos ao exemplo 
do ‘tijolo’. A partir da constatação de que há as pronúncias [t] e [tš], cabe à 
fonologia investigar se os sons diferentes mudam a palavra (oposição) ou se 
são somente pronúncias variáveis da mesma palavra (variação). Logo, a 
fonologia trabalha basicamente com as noções de variação e oposição. 
No caso das pronúncias de ‘tijolo’ vistas acima, temos variação ou oposição? 
Ora, se as pronúncias diferentes não contrastam, não opõem palavras, temos 
variação. 
Vejamos outro exemplo. A diferença entre os sons [f] e [v]. Será que a 
troca de um por outro em português é um caso de variação ou oposição? Para 
averiguar isso, um dos métodos da fonologia é a verificação dos pares mínimos 
(par mínimo é uma técnica de contraste em ambiente idêntico; trata-se de um 
par de palavras que difere de significação quando somente um dos sons é 
alterado). Em fala-vala, fila- vila, inferno-inverno, faca-vaca etc., a diferença 
entre as pronúncias [f] e [v] é opositiva? Se sua resposta é sim, você poderá 
dizer que os estes sons funcionam como fonemas (opõem sentidos) em 
português; são os fonemas /f/ e /v/. 
Daí dizer-se que à fonologia (ou fonêmica) cabe estudar as diferenças 
fônicas funcionais, distintivas, isto é, que se vinculam a diferenças de 
significação. 
Tomemos outro exemplo. O da pronúncia da palavra ‘sopa’. O primeiro 
som geralmente é pronunciado como [s]. Mas há quem realize outra pronúncia, 
não por questões regionais, mas por problemas articulatórios, ou seja, o 
 
4 
problema popularmente conhecido como‘língua presa’. A pronúncia, neste 
caso, seria com a ponta da língua entre os dentes, o que a fonética chama de 
som interdental (inter = entre) e representa com o símbolo [θ]. A diferença entre 
os sons [s] e [θ] não é opositiva em português, por isso, diz-se também que 
não há contraste fonológico: temos simplesmente a mesma palavra com duas 
pronúncias (variação). 
Quando se diz que a fonética estuda os sons concretos e a fonologia 
não, isso diz respeito à questão da interpretação que nossa mente dá aos sons 
escutados. O falante de português escuta concretamente (foneticamente) o 
som interdental da fala de quem tem ‘língua presa’, mas o interpreta 
(fonologicamente) como se fosse [s], porque não há contraste entre [s] e [θ] em 
português, assim como interpreta [t]ijolo e [tš]ijolo como um fonema só. 
Logo, vejamos um resumo dos exemplos vistos: 
 
Exemplos de variação: 
 
Tijolo 
- Foneticamente, o primeiro som pode ser [t] ou [tš]; 
- Fonologicamente, não há oposição entre os sons, portanto só há um fonema: 
/t/. 
 
Sapo 
- Foneticamente, poderíamos ter [s] e [ ]; este último som, pronunciado por 
quem tem “língua presa”. 
- Fonologicamente, este contraste não é opositivo, é somente uma variação na 
pronúncia de um segmento da palavra; logo, temos um único o fonema /s/. 
 
Exemplo de oposição: 
 
Fila - vila 
- Foneticamente, temos [f] e [v]; 
- Fonologicamente, este contraste é funcional (opositivo); logo, temos os 
fonemas /f/ e /v/. 
 
Aquilo que é interpretado como fonema (som opositivo) em um idioma 
pode não ser fonema em outro idioma. Por exemplo, o som interdental não 
funciona como fonema em português, mas nas primeiras aulas de inglês, na 
escola ou no cursinho, somos levados a treinar sua pronúncia em expressões 
como ‘thank you’ ou ‘I think...’, na posição do ‘th’. Logo, em inglês, se trocamos 
o som interdental [ ] pelo som [s] ou vice-versa, podemos trocar a palavra que 
estamos tentando falar. 
Isto significa que em inglês existem os sons [s] e [ ] e os fonemas /s/ e / 
/, e que se pronunciamos, por exemplo, ‘[s]in’ em vez de ‘[ ]in’, dizemos 
‘pecado’ em vez de ‘magro’. 
Também o som [tš], apesar de não ser opositivo em português, ou seja, 
de não ser um fonema em nossa língua, funciona como fonema em espanhol e 
inglês. 
Observe o contraste na pronúncia do primeiro segmento de cada 
palavra: 
 
 
5 
Espanhol: 
[t] = /t/ - tino - ‘habilidade, destreza, tino’ 
[tš] = /tš/ - chino - ‘chinês’ (idioma, ou algo/alguém original da China) 
 
Inglês 
[t] = /t/ - tin - ‘lata’ 
[tš ] = /tš/ - chin - ‘queixo’ 
 
Conclui-se, portanto, que para falarmos em fone (som da fala), não 
importa a língua em que ele é usado, mas, quando falamos em fonemas, temos 
de nos referir a uma língua determinada: o fonema ‘tal’ da língua ‘tal’. 
Relação entre som da fala (fone) e grafema (letra): 
1- O mesmo grafema (letra) pode representar diversos fones: 
A letra <c> em casa tem o som [k], em cebola tem o som [s] 
A letra <x> em auxílio tem o som [s], em fixo tem os sons [ks] e em exato tem o 
som [z] 
 
2- O mesmo fone pode ser representado por diversos grafemas (letras): 
O som [z] é representado pela letra ‘s’ em casa; pela letra ‘z’ em zebra e pela 
letra ‘x’ em exato. 
 
Como vimos, nem todo fone funciona como fonema numa determinada 
língua. Os sons [tš] e [ ] não funcionam como fonemas em português, ou seja, 
não opõem palavras; então, para a palavra “tia”, se dissermos [‘tia] ou [‘tšia], 
interpretamos as duas realizações fonéticas como pronúncias da mesma 
palavra /`tia/. 
Veja que, por acaso, a transcrição fonológica de ‘tia’ coincide com a 
grafia comum, mas nem sempre isso 
acontece. Nem todos os símbolos fonológicos coincidemcom as letras que já 
conhecemos. Por exemplo, a transcrição fonológica de ‘jujuba’ é /ñu‘ñuba/. 
 
2. O Alfabeto Fonético Internacional 
Na grafia de qualquer língua, a relação entre o som e a letra (o símbolo 
que representa convencionalmente o som) não é biunívoca, ou seja, a uma 
letra não corresponde sempre o mesmo som e um som não é representado 
sempre pela mesma letra. Por outro lado, num determinado alfabeto (como o 
latino, p.ex. que é o utilizado por muitas línguas como as românicas e as 
germânicas) a mesma letra pode corresponder a sons diferentes em diferentes 
línguas. 
Esta variação, decorrente de diversos fatores entre os quais se inclui a 
relação entre os sons no interior de uma palavra, levou à criação de alfabetos 
fonéticos que permitem descrever de forma não ambígua o contínuo sonoro e 
possibilitam, a quem não conheça determinada língua, saber como se 
pronunciam os sons de uma palavra quando transcritos foneticamente. O 
sistema de transcrição fonética mais usado é o Alfabeto Fonético 
Internacional (AFI), criado em 1888 pela Associação Internacional de 
Fonética. 
 
6 
O Alfabeto Fonético é constituído por símbolos que representam os 
sons básicos mais frequentes nas línguas do mundo (como as consoantes [p] 
ou [f], ou a vogal [a]) e por sinais diacríticos que acrescentam aos símbolos 
informação sobre aspectos complementares (como o til, [~], sobre a vogal para 
indicar a nasalidade – [õ] – ou o diacrítico ['] que, neste texto, precede a sílaba 
em que está a vogal acentuada – ['pa]). 
O conjunto de sons da norma-padrão do Português Europeu e a sua 
representação com os símbolos do AFI constituem três grupos: vogais orais e 
vogais nasais, semivogais orais e nasais (o segundo elemento de um 
ditongo) e consoantes. 
 
 Vogais Orais 
 [i] vi ['vi] 
 [e] vê ['ve] 
 [ɛ] pé ['pɛ] 
 [a] pá ['pa] 
 [ɐ] para [pɐɾɐ] 
 [ɛ] de 
 [ɔ] sol ['sɔl] 
 [o] pôr, sou ['poɾ, 'so] 
 [u] tu ['tu] 
 
 
 Vogais Nasais 
 [ĩ] sim ['sĩ] 
 [e͂] pente 
 [ɐ͂] romã, banco [ʀu'mɐ͂, 'bɐ͂ku] 
 [õ] põe, ponte 
 [ũ] atum [ɐ'tũ] 
 
 
Semivogais ou glides orais e nasais 
 [j] pai ['paj] mãe 
 [w] pau ['paw] [w̃] cão ['kɐ͂w̃] 
 
 
Consoantes 
 [p] pá ['pa] 
 [b] bem 
 [t] tu ['tu] 
 [d] dou ['do] 
 [k] cacto ['katu] 
 [g] gato ['gatu] 
 [f] fé ['fɛ] 
 
7 
 [v] vê ['ve] 
 [s] sabe, passo, caça ['sabɨ, 'pasu, 'kasɐ] 
 [z] casa, azar ['kazɐ, ɐ'zaɾ] 
 [ʃ] chave 
 [ʒ] já ['ʒa] 
 [m] mão ['mɐ͂w̃] 
 [n] não ['nɐ͂w̃] 
 [ɲ] venho ['vɐɲu] 
 [l] lá ['la] 
 [ʎ] valha ['vaʎɐ] 
 [ɾ] caro ['kaɾu] 
 [ʀ] carro ['kaʀu] 
 
 
Acrescente-se que alguns dialetos do Português Europeu têm sons que 
não fazem parte da norma-padrão mas que são aqui referidos embora não 
venham a ser descritos em particular. Assim, enquanto na norma-padrão as 
vogais nasais são [ɐ͂], [e͂], [õ], em certos dialetos do norte de Portugal 
pronunciam-se mais abertas, (por exemplo, [ã] banco ['bãku] como no francês 
blanc). Também em dialetos do norte a consoante [b] tem uma pronúncia que 
se confunde com [v] mas que se representa por [β] (por exemplo, vaca ['βakɐ]); 
[s] e [z] soam como [ʃ] embora sejam consoantes diferentes, representadas por 
[ʂ] e [ʐ] (por exemplo, sabe, passo, casa ) e [ʃ], representado 
graficamente pelo dígrafo <ch>, pronuncia-se [tʃ]͡͡͡͡͡͡͡͡͡ (por exemplo, chave ). 
Letras e sons 
Visto que letras e sons não têm uma relação biunívoca, apresentam-se 
os seguintes diagramas que partem das letras utilizadas em Português 
Europeu e mostram quais os sons que podem ser representados por elas. 
 
Vogais Orais 
<a> [a] (pá) [ɐ] (da) 
<e> [e] (vê) [ɛ] (pé) [ɐ] (meia) [i] (emigrar) 
 
<i> [i] (vi) [j] (pai) 
<o> [ɔ] (sol) [o] (pôr) [u] (sapo) [w] (mágoa) 
<u> [u] (tu) [w] (pau) 
 
 
Vogais Nasais 
<in, im> [ĩ] (tinta, sim) 
<en, em> [e͂] (pente, membro) [ɐ͂j] (cem) 
<an, am> [ɐ͂] (banco, ambos) 
<am> [ɐ͂w̃]) (formas verbais como amam, batam) 
<ã> [ɐ͂] (romã) 
 
8 
<on, om> [õ] (ponte, pombo) 
<õ> [õ] (põe) 
<un, um> [ũ] (unto, atum) 
 
 
Consoantes 
<p> [p] (pá) 
<b> [b] (bem) 
<t> [t] (tu) 
<d> [d] (dou) 
<f> [f] (fé) 
<v> [v] (vê) 
<s> [s] (sabe) [z] (casa) [ʃ] (lista, listas) [ʒ] (mesmo) 
<ss> [s] (passo) 
<z> [z] (fazer) [ʃ] (rapaz) 
<x> [ʃ] (xaile) [ks] (léxico) [s] (sintaxe) [z] (êxito) 
<c> 
[k] (cacto, cravo, 
cota) 
[s] (céu, cinza) 
<ch> [ʃ] (chave) 
<ç> [s] (paço) 
<qu> [k] (quer) [kw] (qual) 
<j> [ʒ] (hoje) 
<g> 
[g] (gato, golo, 
agudo) 
[ʒ] (viagem, 
fugir) 
 
<m> [m] (mão) 
<n> [n] (não) 
<nh> [ɲ] (venho) 
<r> [ɾ] (para) [ʀ] (rato) 
<rr> [ʀ] (carro) 
<l> [l] (lado) 
<lh> [ʎ] (valha) 
 
 
 
3. Fonema 
 
O fonema costuma ser definido como unidade distintiva mínima. Um 
fonema se opõe a outro quando é trocado na mesma cadeia, como em: fila – 
vila (/f/- /v/), caça – casa (/s/ - /z/), cana –cama (/n/-/m/), etc. 
Por que, além de ser unidade distintiva, é unidade mínima? Porque 
outras unidades “maiores” que o fonema podem ser distintivas também, como 
por exemplo, a sílaba, o morfema e a palavra. 
Se trocamos uma palavra na frase, construímos outra frase: ‘Eu 
encontrei o livro’ – ‘Eu encontrei o lápis’. 
 
9 
Se trocamos a sílaba de uma palavra, construímos outra palavra: em 
‘vala’ – ‘bula’, a sílaba ‘va’ foi trocada por ‘bu’. 
Se trocamos o morfema de uma palavra, trocamos seu sentido, 
construímos uma nova palavra: ‘refazer’ – ‘desfazer’: o morfema {re-} significa 
‘repetição’ e o morfema {des-} significa ‘ação contrária’. 
Logo, o fonema é unidade mínima por não ser formado por outras 
unidades menores. Uma sílaba é formada por fonemas, um morfema também; 
o fonema, por sua vez, é mínimo. 
Como vimos, a troca de um fonema também causa a troca da palavra, 
daí dizer-se que o fonema é a unidade mínima que não carrega sentido em si 
(como um morfema ou uma palavra carregam), mas que é distintiva (opõe 
sentidos). 
Para continuar o estudo de fonologia, retomaremos a análise de 
exemplos em que há variação e oposição, que foram brevemente comentados 
para fins de diferenciação entre fonética e fonologia. 
O procedimento clássico de descoberta usado na fonologia para 
determinar quais sons são variantes de um mesmo fonema (variação) e quais 
sons funcionam como fonemas distintos (oposição) é testar os pares mínimos 
(duas palavras que diferem em significação quando apenas um dos sons é 
alterado). 
Vimos que a fonética estuda os sons da fala, a realização concreta dos 
sons (fones), enquanto a fonologia se preocupa com os “sons funcionais”: 
elementos que funcionam opondo sentidos em dada língua. Portanto, podemos 
dizer que a transcrição fonológica é diferente da fonética, pois se limita aos 
sons que são opositivos num determinado idioma, ou seja, abstrai todo tipo de 
variação. 
Por exemplo, na pronúncia da palavra “tia”, podemos ter, foneticamente 
(= no que se refere às realizações possíveis nas diferentes falas), [‘tši Λ] ou 
[‘tiΛ], mas a nossa mente interpreta esta diferença (consoante africada x 
consoante oclusiva alveolar) como variações de pronúncia da mesma palavra. 
Logo, fonologicamente, temos um fonema só, /t/. Também a última vogal 
da palavra “tia” pode ser pronunciada de maneira natural, em que o maxilar 
inferior fica relaxado e a língua em posição média: [Λ]. Também podemos fazer 
uma pronúncia “forçada” (como faz a criança que aprende a ler, falando 
vagarosamente sílaba por sílaba) e dizer a última vogal, que é átona, como [a] 
(vogal baixa: o maxilar inferior e a língua abaixam). Esta diferença de pronúncia 
de vogais não implica contraste de sentido das palavras, logo, nossa mente 
percebe uma vogal só: fonologicamente, temos a vogal /a/. Você pode reparar, 
então, que a fonética é bem minuciosa na sua descrição dos sons, ela 
simboliza cada diferença, cada detalhe. Nela, existe um símbolo para cada 
pronúncia,o que não acontece na grafia comum nem na representação 
fonológica (esta última só simboliza os sons ‘funcionais’). 
Como as diferenças de pronúncia da palavra “tia” não causam oposição 
de significado, a transcrição fonológica deve ser uma só: /‘tia/. Observe: 
 
Fonética (âmbito das realizações) - Fonologia (âmbito da funcionalidade) 
[‘tši Λ] 
[‘ti Λ] /‘tia/ 
[‘tšia] 
[‘tia] 
 
10 
 
Na disposição acima, vemos que [t] e [tš] não funcionam diferenciando 
significados, mas são apenas realizações possíveis, variáveis, do fonema /t/, 
em português. Também vemos que [a] e [Λ] são realizações possíveis do 
fonema /a/, em português. 
 
4. Alofone: Causas da alofonia 
 
Um fonema pode ter diferentes realizações, diferentes fones, de acordo 
com: 
 O contexto fonônico; 
 Os hábitos articulatórios dos falantes; 
 A intencionalidade emotiva do falante. 
 
A contiguidade do fonema com outros fonemas presentes no mesmo 
contexto pode afetar a realização oral do primeiro, ocasionando variantes 
posicionais, combinatórias ou contextuais. 
É o caso, do /d/ em português (e também do /t/), quando seguido de /i/ 
ou “e reduzido”; ora, tanto /i/ quanto o e chamado reduzido (pronunciado como 
“i”, em late, por exemplo, [‘lati]), são fonemas palatais e por isso palatizam as 
consoantes /d/ e /t/, emprestando-lhes uma articulação africada e não oclusiva, 
sendo esta última o modo normal de articulação desses fonemas em nossa 
língua. 
Algo parecido acontece com as oclusivas /p/, /t/, /k/ do inglês, que em 
certas posições, realizam-se com fones ligeiramente aspirados, “top”[thͻp], etc. 
no entanto, /p/, /t/, /k/ não são aspirados em outras posições: após /s/, por 
exemplo (cf. “stop” /stͻp/, “spot” /spͻt /). 
Tanto no caso do /d/ + /i/, /t/ + /i/, em português, realizados como [ ǰi ] e 
[či ] do inglês, acima mencionado, estamos diante de diferentes realizações 
fonéticas devidas ao contexto, sem que a essa diferença no PE venha 
corresponder qualquer diferença no PC dos mesmos morfemas. Fala-se em tal 
caso, de mudança fonética, para distinguir da mudança fonológica, fenômeno 
este que pode ser concebido como uma mudança fonética que afeta o plano do 
conteúdo do morfema, transformando-o em outro morfema. Como nos 
exemplos que vimos, tanto em português quanto em inglês, temos diferenças 
fonéticas mas não diferenças fonológicas. Podemos afirmar que [ ǰ ] e [ č ], em 
nossa língua, assim como [ ph ], [ th ], [ hk ], em inglês, constituem alofones 
contextuais. 
Um outro tipo de alofones pode aparecer em decorrência dos hábitos 
articulatórios dos falantes de uma mesma língua. Há brasileiros que realizam o 
/t/, digamos, com uma articulação linguodental, enquanto outros o realizam 
com uma articulação linguoalveolar; a vibrante /r/, é realizada, às vezes, em 
final de palavra, de muitos modos: 
 fazendo vibrar o ápice da língua contra os alvéolos; 
 fazendo colidir o dorso da língua contra o véu palatino; 
 abaixando-se a epiglote ao mesmo tempo em que se faz o ar 
atritar contra a glote (isto é, como fonema aspirado surdo); 
 com vibração da úvula (na pronunciação carioca); 
 como retroflexa (na chamada pronunciação caipira). 
 
 
11 
Em todas essas ocorrências, estamos não obstante a sua diferença 
(fonética, apenas), diante do mesmo fonema /r/, reconhecível por guardar 
idênticos pontos no padrão fonológico da língua. Os fones diferentes que 
realizam esse /r/ são, pois, classificáveis como alofones ou variantes livres, 
quando dependam dos hábitos articulatórios dos falantes e não possam ser 
imputadas à norma dos grupos sociais. 
A variedade de ocorrência de alofones surge quando se imprime na 
enunciação do fonema, uma intencionalidade de valor estilístico. Através de 
diferentes modulações um falante pode exprimir, com o mesmo fonema, uma 
informação adicional sobre o seu sentimento, as suas emoções. Pronuncia-se, 
por exemplo: 
“tia!” [ ti:ja] 
com o /i/ enfaticamente prolongado , transformando-o num fonema de dupla 
duração (indicada com o sinal :), para indicar surpresa, alegria, etc.; e, de modo 
parecido, destacam-se as sílabas de uma palavra, dobrando-se a duração dos 
fonemas ao mesmo tempo em que se passa à pronunciação tensa, para 
chamar alguém à ordem: 
“me-ni-no!” [me‘:ni:no] 
Esta última modalidade de variante, a estilística, é produzida através de supra-
segmentos e surge quando se usa a linguagem em função emotiva. Por essa 
razão, ela não cabe na análise fonológica que se dedica ao estudo do plano de 
expressão da linguagem em função referencial. 
Todos os casos de alofonia se referem a unidades do plano de 
expressão situadas exatamente no mesmo contexto fônico, possuidoras da 
mesma distribuição. 
Com relação aos fones diferentes que não se encontram jamais no 
mesmo contexto fônico – e portanto não podem distinguir signos ou monemas- 
dizemos que eles estão em distribuição complementar. No português do Brasil 
é bastante nítida a diferença entre a lateral linguoalveolar /l/, de “lama”, “mala”, 
etc. , e a lateral vocalizada em ditongo [. w] (mais no Rio Grande do Sul; a 
lateral velarizada [ ł ]) – com estas duas últimas presentes em “sal”, “sol”, “mel”, 
por exemplo- : 
“lama” - /lama/ (em todo o Brasil); 
“sal” – sał (no Rio Grande do Sul); 
 [saw] (no restante do Brasil). 
 
Essas três realizações do fonema /l/ são diferentes foneticamente, mas 
não fonologicamente (são alofones de /l/). No entanto, as duas últimas 
realizações da lateral (como velarizada e como vocalizada) aparecem apenas 
em dois contextos: 
 Depois de vogal, fechando sílaba interna, quando a sílaba 
seguinte começa por consoante: 
“alma” [‘awma] “calda” [‘kawda] 
 [‘ałma] [kałda] 
 
 Depois de vogal, em sílaba final, na última posição: 
“girassol” [‘žira‘sͻw] “Portugal” [purtu‘gaw] 
 
12 
 [žira‘sͻł] [purtu‘gał] 
 
Por sua vez, a lateral linguovelar /l/ só aparece nos seguintes contextos, 
em português: 
 Abrindo sílaba inicial, seguida de vogal: 
lama [lãma] 
 
 Em sílaba interna, na posição intervocálica: 
ensolarada [ẽysola’rada] 
solar [ so‘lar] 
 
Como aparecem em contextos diferentes, não aparecendo jamais na mesma 
vizinhança fônica imediata , os fones [ l ] e [w] estão em distribuição 
complementar. 
 
5/ 6. Neutralização e Arquifonema 
 
Vamos apresentar o fenômeno da neutralização partindo de exemplos 
para chegar aos conceitos. Observe os pares de palavras e suas transcrições 
fonéticas e fonológicas: 
 
(ele) checa (v. ‘checar’) = [‘šɛkʌ] = / ‘šɛka/ 
(ele) seca (v. ‘secar’) = [‘sɛkʌ] = /‘sɛka/ 
(ele) acha (v. achar) = [‘ašʌ] = /aša/ 
(ele) assa (v. assar) = [‘asʌ] = /asa/ 
 
Os pares mostram que /s/ e /š/ são fonemas em português, pois funcionam 
opondo significados. No entanto, há situações em que os sons [s] e [š] não 
funcionam como os fonemas /s/ e /š/, isto é, nãoopõem significados, por 
exemplo: 
“casca” [‘kaskʌ] = pronúncia de ES e MG. 
[‘kaškʌ] = pronúncia carioca 
 
Como explicar que dois sons em algumas ocasiões sejam fonemas e em 
outras ocasiões não sejam, em se tratando da mesma língua? Uma pista é 
observar o ambiente fonético onde ocorre a variação e perceber se é o mesmo 
ambiente onde ocorre a oposição. A variação ocorre em palavras como: posto, 
pasta, pista, lista, aspas, raspa, pesca, asco, etc. Em “aspas” a variação ocorre 
nas duas sílabas. O que todas estas palavras têm em comum? Se você 
analisou bem, chegou à seguinte observação: a pronúncia variável de [s] ou [š] 
ocorre sempre em final de sílaba (margem decrescente da sílaba): 
 
“pista” = [‘pištʌ] ou [‘pistʌ] “raspa” = [‘xašpʌ] ou [‘xaspʌ] 
 
Em início de sílaba a variação não acontece: ‘cheque – seque’, ‘acha – 
assa’, ‘chapa – sapa’, etc. O que háaqui é oposição. 
 
13 
Chegamos a uma parte da solução do problema que havíamos 
encontrado. Podemos dizer que /s/ e /š/ são realmente fonemas em português, 
como mostram os exemplos de oposição aqui apresentados, mas temos que 
dizer que a sua capacidade de opor significados entre palavras se neutraliza 
num ambiente fonético específico. O ambiente de neutralização de /s/ e /š/ é 
final de sílaba. 
Neutralização é, pois, o processo pelo qual a oposição entre dois 
fonemas é anulada em determinado ambiente fonético. Ainda estamos diante 
de um problema: a transcrição fonológica não leva em conta a variação, mas 
só os sons funcionais. Como transcrever fonologicamente palavras como 
‘casca’ e ‘pista’? Devemos usar /s/ ou /š/? 
Se usarmos um ou outro, vamos pressupor que existe oposição, o que 
não é verdade. Neste momento, entra em jogo o conceito de arquifonema. Já 
que os dois fonemas foram “eliminados” através da neutralização (perderam a 
capacidade de opor significados em certo ambiente), nenhum dos dois vai 
aparecer na transcrição fonológica, mas um novo fonema que represente os 
dois ao mesmo tempo: um arquifonema. 
Arquifonema é definido, então, como um fonema resultante da 
neutralização; ele representa os fonemas neutralizados e é simbolizado através 
de uma letra maiúscula. 
Voltemos ao exemplo de “casca”: 
 
“casca” [‘kaskʌ] /‘kaSka/ - Arquifonema /S/ [‘kaškʌ] 
 
O arquifonema /S/ deve ser registrado na transcrição fonológica somente 
no contexto onde a neutralização se aplica, por isso, os pares mínimos (‘acha – 
assa’, por exemplo) continuam com a mesma representação fonológica. 
Agora vamos estudar o fonema /R/. 
Sabemos que existe em português oposição fonológica entre [x] e [ř] em 
pares como ‘carro – caro’ e ‘carreta – careta’. Mas este contraste se dá em 
posição intervocálica (entre vogais), em final de sílaba não há contraste; aliás, 
em final de sílaba, além de ser possível encontrarmos as pronúncias[x] e [ř], há 
muitas outras: 
 
‘carta’-[‘kaxtʌ] = fricativa velar (o ar arrasta no véu palatino) 
[‘kařtʌ] = vibrante simples (falade São Paulo capital) 
[‘kahtʌ] = fricativa glotal (fala carioca) 
 
Ainda podemos ter: a pronúncia do ‘erre caipira’, isto é, o ‘erre 
retroflexo’, e a vibrante múltipla, típica de alguns falares do Rio Grande do Sul. 
Mais uma vez, estamos diante da pergunta: como pode o mesmo som, neste 
caso o [ř], ora funcionar como fonema (contrastando palavras) e ora não 
funcionar? Como representar fonologicamente ‘carta’, se pode possuir várias 
pronúncias no Brasil? 
Pelo menos a pronúncia intervocálica para palavras como ‘caro’ e 
‘careta’ sabemos que só pode ser uma: a vibrante simples [ř], logo, o fonema 
terá o mesmo símbolo /ř/. Fonologicamente, temos /‘kařo/ e /ka‘řeta/. Falta 
pensarmos em como representar fonologicamente os sons possíveis para 
aquilo que grafamos como‘r’ de final de sílaba e como ‘rr’ (‘carro e carreta’), 
mas antes vamos a outras reflexões. 
 
14 
O que faremos com as pronúncias variáveis de ‘porco’, ‘mar’, ‘carta’ ([x], 
[h], [ř], etc.)? Como em final de sílaba, há neutralização do contraste entre a 
vibrante simples [ř] e os demais sons, podemos usar o /R/. 
Fonologicamente, então, temos: 
 
/‘poRko/, /maR/ e /‘kaRta/. 
 
Em início de sílaba e entre vogais, como ‘rato’ e ‘carro’, também vamos 
usar o fonema /R/: /‘Rato/ e /‘kaRo/. Desse modo, o contraste fonológico que 
acontece em posição intervocálica (‘careta’ e ‘carreta’) fica com sua 
representação garantida; o contraste é simbolizado pela oposição entre os 
fonemas /ř/ e /R/: 
 
/ka‘řeta/ - /ka‘Reta/ /‘kařo/ - /‘kaRo/ 
 
Resumindo, as representações fonológicas de /R/ e /ř/ ficam assim: 
 
- Início de sílaba: /R/ 
“rato” = /‘Rato/ 
“risco” = /‘RiSko/ 
 
- Encontro consonantal: /ř/ 
“prata” = /‘přata/ 
“livro” = / ‘livřo/ 
 
- Posição intervocálica: contraste fonológico: 
“caro” e “carro” = /‘kařo/ - /‘kaRo/ 
 
Ainda sobre neutralização, o leitor poderia pensar que o único ambiente 
fonético em que é possível ocorrer este fenômeno é o de margem decrescente 
de sílaba, como os exemplos até agora vistos. Porém, as professoras Callou e 
Leite (1993, p. 42) citam o exemplo da neutralização do contraste entre /e/ e /ɛ/ 
e entre /o/ e /ɔ/, cujo contexto fonético é o de sílabas pretônicas (sílabas 
anterioresà sílaba tônica de uma palavra). 
 
Observe: 
- Em sílabas tônicas há contraste entre /o/ e /ɔ/: 
/‘soko/ - substantivo, (o) ‘soco’ 
/‘sɔko/ - verbo ‘socar’ – (eu) ‘soco’ 
 
- Em sílabas pretônicas a oposição é neutralizada: 
[bo‘ladʌ] = pronúncia do Sudeste 
 [bɔ‘ladʌ] = pronúncia do Nordeste 
 
A diferença entre os fonemas /o/ e /ɔ/ fica neutralizada no ambiente 
fonético de sílaba pretônica; logo, a transcrição fonológica deve ser: 
 
/bO‘lada/ - aqui, o arquifonema /O/ representa as duas pronúncias possíveis. 
 
 
 
15 
 7. Pares mínimos 
 
Pares mínimos são duas palavras (ou morfemas) que têm um ambiente 
comum (ou seja, um conjunto de sons iguais) e uma diferença, representada 
pela troca de um único som (ou propriedade fonética) por outro, em um mesmo 
lugar de cadeia-da-fala. Esses sons (ou propriedades) que se revezam são 
dois fonemas, porque são as marcas que distinguem uma palavra de outra, 
atribuindo, a cada uma, um significado próprio. Vejamos os seguintes 
exemplos: 
 
Pares mínimos: vela bata porta curta 
 velha pata porte custa 
Ambiente comum: ve__a __ata port__ curt__ 
Sons diferentes: l b a ɾ 
 ʎ p ı s 
 
Nota-se que [l] e [ʎ], [p] e [b] são sons foneticamente semelhantes 
(SFS), mas [a] e [ı] e [ɾ] e [s] são sons foneticamente não tão semelhantes. O 
que importa sempre é o valor distintivo ou não que os sons têm. 
Quando a diferença entre uma palavra e outra apresenta mais de um 
som (ou inclui outras diferenças fonéticas particulares), o par de palavras não 
pode ser considerado um par mínimo, como no caso dos exemplos abaixo (Ø 
representa um “zero” ou não presença de segmento): 
 
dado porta hoje ave 
tato porto foge avô 
d – d ͻ - a Ø – o acento – ı 
t – t o – Ʊ f - ͻ o – acento 
 
Quando duas ocorrências lexicais se distinguem por apenas um som e a 
troca de um pelo outro não representa uma mudança de significado, temos um 
caso de variação e o par de palavras não é considerado um par mínimo: ocorre 
apenas uma forma morfológica variante. Veja, por exemplo, [kamada] e 
[kãmada], duas pronúncias diferentes da palavra camada. Porém, em [kata] 
cata e [kãta] canta, ocorre um par mínimo. (Convém notar que a palavra 
camada é derivada de cama, além disto, notar a distribuição diferente do 
acento nos exemplos dados.) 
Achar pares mínimos é uma técnica fonológica para a detecção de 
fonemas ou para a constatação de variantes. Mas, nem sempre podemos 
contar somente com pares mínimos. Na maioria das vezes, é preciso fazer um 
raciocínio fonológico de outro modo, recorrendo aos pares análogos. 
 
 
 
16 
8. Nasalidade: fonológica e fonética 
 
Há em português uma nasalidade meramente fonética: é a que se 
observa em palavras como cama, cena, unha, etc, em que a nasalidade das 
vogais a, e, u decorre de uma assimilação regressiva, produzida pela 
consoante nasal inicial da sílaba seguinte. O rebaixamento do véu palatino, 
necessário à produção da consoante nasal, é antecipado na sílaba precedente, 
cuja vogal assim se nasaliza: [Kè-me]. Se pronunciarmos a palavra cama com 
a desnasalado, não obtemos outra palavra de significação diferente, isto é, nãocriamos uma oposição fonológica. É o que acontece com todas as palavras 
desse tipo. Não é, evidentemente, esse tipo de vogal, cuja nasalidade se detém 
no plano fonético, que suscita o problema de interpretação. 
A nasalidade fonológica, a que demanda interpretação, é outra. É a que 
se observa em palavras como bomba: suprimida a nasalidade da vogal de tais 
palavras, obtém-se outra, de significação diversa, boba, que forma um par 
opositivo com a primeira. É considerável, em português, o número de pares 
opositivos desse tipo: minto ~ mito, campo - capo, sinto - cito, mundo - mudo, 
etc. 
 Resumindo, a nasalidade fonética é quando não há diferença de 
significado na mudança de pronuncia de vogais, como a que acontece em 
palavras como “camelo”, “banana”, que podem ser realizadas tanto como 
[kãmelU] e [kamelU], [bãnãna] e [banãna]. 
A nasalidade fonológica, por sua vez, apresenta alteração de significado 
quando a vogal é nasalizada, a exemplo de [kãtU] canto e [katU]cato, onde a 
não nasalização da vogal [a] gerou um outro léxico com significado diferente. 
9. Vocábulo formal (mórfico) e vocábulo fonológico 
9.1 – Vocábulo formal 
O vocábulo formal ou mórfico é a unidade onde não é possível nova 
divisão em duas ou mais formas livres. A unidade a que se chega, quando não 
é possível a divisão em duas ou mais formas livres ou dependentes (CAMARA 
JR., 1968). E podemos descrever esse vocábulo formal unitário como 
constituído por: 
 
• Uma forma livre mínima – flor, pé, feliz. 
 
• Uma forma livre mínima e forma (s) presa (s) – florista, pezinho, felizes. 
 
• Somente formas presas – i-leg-í-vel. 
 
 
17 
• Forma dependente – de, por... 
 
• Forma dependente e forma (s) presa (s) – uma, umas... 
Se o vocábulo formal não for unitário, temos: 
 
• Duas formas livres mínimas ou não – flor-de-lis, couve-flor... 
A descrição acima mostra que o vocábulo formal pode ser indivisível (mar) ou 
divisível (mares). O vocábulo formal é uma estrutura mórfica ou morfológica, ou 
seja, o objeto da morfologia. 
• Lexia – Unidade de comportamento 
 
Ex.: Médicos bons; Cuidados médicos. 
Assim, na escrita, se entende por vocábulo o conjunto de letras que fica 
entre dois espaços em branco. Essa praxe não funciona em se tratando de 
língua oral. A língua escrita não tem em vista o vocábulo fonológico e sim o 
vocábulo mórfico ou formal. Na língua oral temos duas entidades: o vocábulo 
fonológico e o vocábulo formal ou mórfico.E o que é um vocábulo fonológico? 
É o que corresponde a uma divisão espontânea na cadeia da emissão 
vocal.E o vocábulo mórfico ou formal?É quando um segmento fônico se 
individualiza em função de um significado específico que lhe é atribuído na 
língua. Há certa correspondência entre as duas entidades, mas elas não 
coincidem sempre e rigorosamente. 
 
 Na língua oral as pausas marcam uma divisão acima dos vocábulos, que 
é a dos GRUPOS DE FORÇA. A verdadeira marca de delimitação vocabular é 
a pausa prosódica. 
 
Veja alguns exemplos das descrições acima: 
FALASSE = 1 vocábulo fonológico e 1 vocábulo formal. 
FALA-SE = 1 vocábulo fonológico e 2 vocábulos formais. 
GUARDA-CHUVA = 2 unidades fonológicas MAS único vocábulo formal. 
MÉDICI (presidente) = 1 vocábulo formal e 1 vocábulo fonológico. 
MEDE-SE = é o mesmo vocábulo fonológico acima, mas são 2 vocábulos 
formais. 
 
9.2 – Vocábulo fonológico 
 
18 
Entidade fonológica prosódica, cacacterizada por um acento e dois 
graus de atonicidade possíveis, antes e depois do acento. Pode-se identificar 
um vocábulo fonológico quando se verifica um fenômeno de ligação entre dois 
vocábulos, sem o que se denomina Juntura (Fronteira entre dois segmentos 
linguísticos; separação, demarcação; é um elemento Supra-Segmental). 
Na língua portuguesa, tem-se a dissolução da Juntura com: 
-1ª palavra terminada com consoante e 2ª iniciada com vogal - falar 
indiano /falarindiano/. 
- 1ª palavra terminada com vogal átona e 2ª iniciada também com vogal 
átona, mas diferente da primeira - época inicial / epoquinicial /. Dá-se aqui uma 
ditongação crescente, se a vogal final for /i/ ou /u/, ou decrescente, se a vogal 
final for /a/: 
- Mundo antigo - / mundantigo /; 
- Minha intimidade - / mintimidade /. 
As partículas átonas se juntam ao acento mais próximo. 
Forma livre - forma linguística indivisível, ou só divisível em formas 
presas que pode constituir comunicação isolada ( Bloomfield ) Nem sempre as 
unidades fonológicas e morfológicas coincidem. Os vocábulos mórficos sem 
acento são os clíticos, geralmente monossílabos. Exceções: veio para aqui 
(praqui ) ouve-se-lhe a voz. Têm posição variável: o menino se feriu; o menino 
feriu-se. Permite a intercalação: o livro de Marli; o livro de uma aluna chamada 
Marli. 
Outra falta de coincidência é a justaposição que faz um vocábulo 
formal com dois vocábulos fonológicos. Isso não acontece na derivação onde 
há um vocábulo fonológico, criando-se, às vezes traços distintivos: ex-posição/ 
exposição. 
 
 
 
19 
10. Traços prosódicos ou suprassegmentais 
De origem grega, o termo prosódia (προσ-ωδία) foi utilizado pela 
primeira vez na República de Platão, (na expressão phthongous te kai 
prosōdias, 399a) opondo o conteúdo segmental a variações melódicas (Liddel, 
Scott e Jones, 1996) presentes em formas de narrar por imitação. Essas 
variações melódicas são comparadas a narrações imitativas semelhantes ao 
canto ou em “sintonia com o canto” (προσ = “em direção a, junto com”, ωδία = 
“canto’). Sócrates condena essas narrativas pela possibilidade de corromperem 
a imagem que os jovens tinham de personagens célebres, como heróis de 
guerra. Mais tarde identificada na poesia às características quantitativas e 
melódicas da versificação, acaba recebendo um caráter normativo associado a 
ou incluso em regras da boa pronúncia ou ortoépia. Na Lingüística moderna, 
prosódia recebe um sentido especializado (Ducrot e Todorov, 1972, p. 228). 
Num primeiro momento definida pelos estruturalistas e funcionalistas de 
forma negativa, como “todos os fatos de fala que não entram no quadro 
fonemático, isto é, aqueles que não concernem, de uma forma ou outra, a 
segunda articulação” (Martinet, 1991, p. 83), a prosódia está, no cenário de 
pesquisa atual, associada a fatores lingüísticos como acentuação, entoação, 
ênfase e ritmo, bem como a fatores para- e extra-lingüísticos tais como 
marcadores discursivos (“né”, “entendo”, “an-han”), atitudes, emoções, 
imbricados a fatores sociais ou biológicos como gênero, faixa etária, classe 
social, entre outros. Dependendo da matéria a analisar identificam-se a 
prosódia da fala (speech prosody), a musical (musical prosody) e a poética 
(poetic prosody em concorrência com poetic rhythm). 
Aos estudos de prosódia cabe a análise de unidades fônicas e de suas 
relações desde a sílaba até o texto oral, cuja extensão máxima é cada vez 
mais longa. A análise prosódica se dá nos eixos linguísticos tradicionais, o eixo 
sintagmático e o eixo paradigmático, tanto do ponto de vista fonológico quanto 
fonético. A análise prosódica se torna relevante para o avanço do 
conhecimento da comunicação humana quando as funções da prosódia são 
avaliadas e inseridas no cerne do trabalho científico. 
 
Das funções 
É possível identificar funções prosódicas tanto no plano linguístico 
quanto expressivo. No plano linguístico e para-linguístico distinguem-se as 
funções discursiva (marcadores de turno num diálogo, modalidade da frase, 
entre outros), demarcativa (indicadores de constituintes prosódicos, como 
sílabas, palavras fonológicas, grupos acentuais, entre outros) e de 
proeminência (saliência de um constituinte prosódico em relação a outro). 
Como exemplo de função discursiva tem-se a oposição entre o enunciado 
assertivo “Pedro fez bem seu trabalho.” e o enunciado interrogativo “Pedro fez 
bem seu trabalho?” Linearmente, a distinção entreas formas de organização 
prosódica realiza sozinha o contraste entre os dois enunciados. No contraste 
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/2/21/PedroAssertiva.wav
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/1/13/PedroInterrogativa.wav
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/1/13/PedroInterrogativa.wav
 
20 
entre essas modalidades destaca-se a forte subida da frequência de vibração 
das pregas vocais, sobretudo na última sílaba tônica (aqui, em “-ba-”) no 
enunciado interrogativo, em relação a uma subida lenta no enunciado 
assertivo. 
Como exemplo de função demarcativa ou de segmentação (phrasing) 
pode-se apontar o papel da pausa (silenciosa ou preenchida) para assinalar 
uma fronteira prosódica: compare os enunciados “Maria | dança bem. ||” e 
“Maria dança | divinamente bem. ||”, em que o número de barras verticais 
assinala pausas de maior duração. A razão da diferença na extensão dos 
constituintes e do deslocamento da fronteira após “Maria” no primeiro 
enunciado para a fronteira após “dança” no segundo é a necessidade de dividir 
o enunciado em unidades de tamanho semelhante em número de sílabas. Por 
conta disso, a produção da prosódia é autônoma em relação à sintaxe, pois é 
regida por outros princípios. 
Como exemplo de função de proeminência (prominence), observe o 
adjetivo “verde” no enunciado “Não, eu vi uma moto VERDE.”, pressupondo um 
contexto em que algo sobre uma moto de outra cor foi comentado. Nesse caso, 
há uma relação sintagmática no enunciado (os elementos em contraste estão 
presentes na linha do tempo), pois o trecho “VERDE” tem mais energia, 
maiores valores de frequência de vibração das pregas vocais e maior duração 
do que os elementos da vizinhança, bem como uma oposição paradigmática 
(para qual uma unidade está presente e a outra ausente quando se enuncia a 
primeira), em que o foco de contraste no adjetivo chama a atenção para a cor 
verde da moto em substituição a outra cor evocada anteriormente. 
No plano expressivo, distinguem-se as funções atitudinais (atitude, 
postura, estilo), afetivas (emoção como tristeza, alegria e humores) e 
identificadoras (marcas de gênero e sexo, origem social e dialetal, entre 
outras). Exemplos dessas funções são encontrados em todo enunciado, tendo 
em vista que atitude, emoção, postura e marcas identificadoras são traços 
dificilmente disfarçáveis na enunciação. Para uma introdução aos aspectos 
expressivos da prosódia ver os trabalhos de Fónagy (1986), Bolinger (1986) e 
Scherer (1984). A chamada Fonoestilística estuda as funções prosódicas 
atitudinais e a variabilidade prosódica intra- e inter-sujeito ligada a escolhas 
voluntárias ou não (cf Leon, 1971). 
 
Demarcação da prosódia em relação ao ritmo e à entoação 
Há uma ambiguidade entre os termos prosódia e aqueles de ritmo e 
entoação, sobretudo entre o primeiro e o último. Autores como Hirst e Di Cristo 
(1998, pp. 1-44) tomam a prosódia como o termo mais geral, compreendendo 
tanto o domínio propriamente lexical (tom, acento lexical, intensidade) como o 
não-lexical ou pós-lexical (variação no enunciado da frequência fundamental, 
da duração, marcação de fronteiras prosódicas). A entoação é para esses 
autores o estudo desse domínio não-lexical, independentemente do correlato 
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/4/4e/Dan%C3%A7abem.wav
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/c/c8/Dan%C3%A7adivinamentebem.wav
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/images/b/bf/Motoverde.wav
 
21 
físico ou perceptivo. Por conta dessa demarcação, o ritmo estaria subordinado 
à entoação. 
Outro recorte possível é pela via dos efeitos perceptivos ao longo do 
enunciado das sensações de duração, altura e volume. Nesse recorte, prosódia 
também é o termo mais geral, compreendendo ainda o domínio lexical e o pós-
lexical, e entoação restringe-se à análise, ao longo do enunciado, das 
variações no eixo grave/agudo. O eixo das oposições entre grave e agudo 
denomina-se altura ou pitch, termo usado na literatura em português para evitar 
a ambiguidade da palavra “altura”. Como o parâmetro fonético-acústico que 
controla diretamente a sensação de pitch é a frequência fundamental (o 
correlato acústico da frequência de vibração das pregas vocais), os estudos 
fonéticos da entoação privilegiam a análise da curva de frequência fundamental 
ao longo dos enunciados. Nesse segundo recorte o ritmo faz parte da prosódia, 
mas é independente da entoação, uma vez que compreende as variações da 
duração percebida de unidades do tamanho da sílaba ao longo do enunciado. 
Como a duração objetiva (medida em milissegundos) de unidades do 
tamanho da sílaba é o parâmetro de controle por excelência da duração 
percebida, a análise do ritmo normalmente privilegia o estudo da primeira. 
 
Exemplificando: 
Diferentemente dos meios fonológicos, os meios prosódicos não podem 
ser analisados no interior da dupla articulação. Eles não se constituem de 
cadeias de significantes, não possuem “forma”. Os meios prosódicos não são, 
por isso, fonemas, mas simples realizações distintiva deles. 
A entonação, bem como os tons, possuem valor discreto. A entonação é 
um meio importante para diferenciar sentidos a partir da variabilidade da altura 
da voz durante as emissões sonoras e a partir das variações musicais que se 
apreendem de modo relativo – umas em relação às outras - . 
Além disso, a entonação desempenha o papel de informante, em função 
metalinguística, da modalidade de sentido dos enunciados. Em francês, inglês, 
espanhol, português, distinguem-se, pela entonação, as diferentes 
modalidades da frase declarativa ou afirmativa, da frase interrogativa, 
exclamativa, dubitativa, etc. A frase afirmativa possui, nessas línguas, um tom 
final descendente, ao passo que a frase interrogativa possui um tom final 
ascendente: 
Ele virá. Frase afirmativa 
Ele virá? Frase interrogativa 
 
22 
A entonação distingue, pois, frases diferentes quanto ao sentido. Quanto 
ao sentido. Quando essa mesma distinção opera sobre morfemas e não sobre 
frases, fala-se com mais propriedade, em tons. Um tom só existe por oposição 
a outro tom (ou outros tons). 
Por acento entende-se o realce de uma sílaba dentro de uma palavra, 
tomada essa palavra como unidade acentual. Ao contrário dos tons, que 
apresentam um valor paradigmático opositivo, pois distinguem morfemas e 
lexias, o acento realiza-se apenas sintagmaticamente e seu valor é contrastivo. 
Por si só o acento é incapaz de distinguir entre palavras de sentido 
diferente. Ele individualiza apenas sílabas, operando sempre numa sequência 
mínima de duas, das quais uma é tônica ou acentuada, e a outra é átona ou 
não acentuada. Fala-se, por isso, em acento culminativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
Referências: 
 
BARBOSA, Plínio. Prosódica. Disponível em: 
<http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/Pros%C3%B3dia>. Acesso 
em: 02 junho 2015. 
 
BISOL, L. (org.) Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 
Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 1996. 
CAGLIARI, L. C. Análise fonológica. SP, UNICAMP: Mercado de Letras, 2002. 
Convenções e transcrição fonética. Disponível em: <http://cvc.instituto-
camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html>. Acesso em 08 junho 2015. 
 
LOPES, E. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 
1995. 
 
 
 
 
http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/Pros%C3%B3dia
http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html
http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html

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