Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Considerações Iniciais: SÚMULA 147 STJ - COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES PRATICADOS CONTRA FUNCIONARIO PUBLICO FEDERAL, QUANDO RELACIONADOS COM O EXERCICIO DA FUNÇÃO. SÚMULA 18 STF - Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor público. (hipóteses em que os fundamentos da decisão absolutória na instância criminal não obstam a responsabilidade disciplinar na esfera administrativa, porquanto os resíduos podem veicular transgressões disciplinares de natureza grave, que ensejam o afastamento do servidor da função pública.) Bem Jurídico: interesse da normalidade funcional, probidade, prestígio, incolumidade e decoro da administração pública. (por isso dificuldade de se admitir insignificância STJ). Até porque são crimes de estragos consideráveis à sociedade, pois não permite que o Estado cumpra suas funções sociais. Súmula 599 do STJ - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. (A sexta turma do STJ aplicou, desconsiderando explicitamente a própria súmula. Ex. Gravataí – RS. Cone de blitz da PM) Princípio da Insignificância: Funciona como causa de excludente de tipicidade aceita pelo STF desde que presentes os requisitos ou 4 vetores a) objetivos: mínima ofensividade da conduta; nenhuma periculosidade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica. b) subjetivos: necessidade de conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em conta a sua condição econômica, valor sentimental do bem, como também circunstâncias e o resultado do crime para determinar subjetivamente se houve lesão. Exemplos do STF: furto de um cartucho de tinta de impressora (27,50) dentro da https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27599%27).sub. https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27599%27).sub. https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27599%27).sub. penitenciária (reprovabilidade do comportamento); falsidade de bilhete de ônibus por militar da reserva (conferido somente ao militar da ativa) – condições pessoais do agente. Crimes contra a administração pública X atentados contra a segurança interna do Estado (Lei de Segurança Nacional), este último denominado crime de lesa-majestade (afeta a ordem político-social interna). Contidos no título XI do CP, “crimes contra a administração em geral”; são os seus capítulos: (1) No capítulo I, crimes praticados por funcionários públicos (CP: 312-327). São denominados de crimes funcionais, delitos de ofício ou crimes de função * (2) No capítulo II, crimes praticados por particulares contra a administração em geral; CP: 328 a 337-A. (3) No capítulo II-A, crimes praticados contra a administração estrangeira; CP: 337-B a 337-D. A denominação do capítulo não reflete o bem jurídico visado; na verdade, protege a regularidade da transação comercial internacional, já que não cabe ao Estado brasileiro tutelar outros Estados. (4) No capítulo III, crimes contra a administração da justiça. CP: 338-359. (5) No capítulo IV, crimes contra as finanças públicas. CP: 359-A a 359-H, trazidos por LC 101, LRF. Não cai em concurso, repete improbidade. * ESTRUTURA DOS CRIMES FUNCIONAIS: (1) SUJEITO ATIVO: funcionários públicos (agentes do poder público) intranei. (particulares são denominados de extranei). Plural: intraneus / extraneus (2) SUJEITO PASSIVO: Administração em geral (sujeito passivo constante). TRATAMENTO ESPECIAL. Em duas oportunidades, legislador deu especial tratamento à Administração: (1) EXTRATERRITORIALIDADE, CP: 7º, I, “c”, “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço*”. (* crimes funcionais) (2) PROGRESSÃO CONDICIONADA, CP: 33, par. 4º, “O condenado por crime contra a administração pública* terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais”. * qq crime contra a Adm. Pública. ESPÉCIES DE CRIMES FUNCIONAIS: (1) PRÓPRIOS ou PROPRIAMENTE DITOS: caso a elementar* “agente servidor – funcionário público” não estiver presente, o fato passa a ser um INDIFERENTE penal, i.e. dá-se atipicidade penal absoluta. Exemplos: CP: 317 (corrupção passiva), 319 (prevaricação). * NH chama de “elementar relevante” porque inexistindo torna-se um indiferente penal. (2) IMPRÓPRIOS, MISTOS ou IMPROPRIAMENTO DITOS. Ausente a qualidade de servidor do agente, o fato deixa de configurar crime funcional, gerando crime comum, i.e. atipicidade relativa. Exemplos: concussão (316), peculato (313) etc. Vão respectivamente para extorsão (158) e furto (155) ou apropriação indébita (168). CRIME FUNCIONAL ATOS DE IMPROBIDADE (CP, arts. 312 a 326) (Lei 8429/92) Art. 9º - Enriquecimento ilícito Art. 10 – Dano ao erário Art. 11 – Violação dos P. Adm Pública. Conclusão: Todo crime funcional corresponde a um ato de improbidade, o contrário não necessariamente. Ex. Atos ímprobos culposos (salvo peculato). TOPOGRAFIA DOS CRIMES FUNCIONAIS: ainda que não classificados no título XI, são considerados crimes funcionais quando cometidos por funcionário público ou qualificados pela circunstância de ser tal o agente (procedendo com abuso do cargo), isto é, a qualidade de funcionário público intervém tanto como condicionante da pena quanto como majorante. Exs. Art.s 150§2º; 151§3º; 154; 268 p. único; 289 §3º; 290 p. único; 295; 296§ 2º; 297§1º, 300 e 301. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO. O próprio direito administrativo não oferece certeza quanto ao conceito de funcionário público; direito penal não pode, assim, depender dessa insegurança, que representa desrespeito ao princípio da taxatividade. FUNCIONÁRIO PÚBLICO TÍPICO (PROPRIAMENTE DITO): CP: 327, caput, “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública*”. Assim, quem exerça cargo público (estatutário), emprego (celetista) ou função pública (dever com Administração; exemplos: mesário, jurado). * dever público Na esfera penal, vale lembrar que a condição penal de funcionário público se estende a quem exerce função pública, mas NÃO quem exercer o múnus público, não se aplicando, portanto, o art. 327, caput, do Código Penal (Neste sentido, STF, RHC 8.856/RS). MÚNUS PÚBLICO: são os encargos públicos atribuídos por lei a uma pessoa. ENCARGO PÚBLICO*. Os casos abaixo são de *favor público; pessoas com múnus público para prestar um favor: (1) Administrador judicial. (antigo síndico da falência) (2) Inventariante dativo. (3) Curador dativo. (4) Tutor dativo. (5) Advogado dativo. Exemplo: advogado dativo apropria-se de recurso do assistido. Rogério, com doutrina majoritária, entende que se trate de encargo público. STJ (RESP 902037/SP), no entanto, tem EQUIPARADO advogado dativo a funcionário público. Casos especiais: http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10597902/artigo-327-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 (1) ESTAGIÁRIO: não cumpre encargo público, mas é funcionário público para fins penais. (2) CONSELHEIRO TUTELAR. ECA: 135, “O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo”. Diretor de organizaçãosocial STF. 1ª Turma. HC 138484/ DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915). Administrador de Loteria STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018. Advogados dativos STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). Médico de hospital particular credenciado/conveniado ao SUS (após a Lei 9.983/2000) STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012. Estagiário de órgão ou entidade públicos STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012. FUNCIONÁRIO PÚBLICO ATÍPICO ou EQUIPARADO. CP: 327, par. 1º, (AQUI SOMENTE QUANDO FOR SUJEITO ATIVO) “Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”. Extensão a contratadas e conveniadas* foi trazido por lei em 2000 (data denota desestatização). Note-se que devem executar atividade TÍPICA. Exemplo: Bolsonaro contrata bufê e empregado subtrai estátua do palácio – furto ou peculato-furto? Bufê não é atividade típica, furto. * ex. médico que atende pelo SUS; convênio entre Prefeitura e Santa Casa MAJORANTE. CP: 327, par. 2º, “A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público”. Esmiuçando, quando o agente: (1) Ocupar cargo em comissão; (2) Função de direção; (3) Assessoramento. ONDE? (1) Órgão da Administração direta. (2) SEM. (3) EP. (4) Fundação instituída pelo Poder Público. Note-se que legislador ESQUECEU-SE de AUTARQUIA; não se pode incluí-la (analogia in malam partem). CHEFES DO EXECUTIVO sempre estarão circunscritos à majorante, por decisão do STF*, maioria de um voto. Marco Aurélio, vencido: prefeito presenta Administração; “órgão” impediria essa interpretação. * para o STF eles exercem função de direção (exemplo do governador do Pará (Jader Barbalho) no caso BANPARÁ. Tese defendida para não considerar a prescrição e receber a denúncia porque já havia se passado 12 anos. PECULATO Histórico: o crime tem a sua nítida gênese histórica no direito romano. A subtração de coisas pertencentes ao Estado chamava-se peculatus ou depeculatus, nome oriundo do tempo anterior à introdução da moeda, quando boi e carneiros (pecus), destinados aos sacrifícios constituíam a riqueza pública por excelência. Por essa razão com o peculato era identificado o sacrilégio. A noção do crime abrangia não só o furto em sentido próprio, como a apropriação indébita, notadamente no caso de quem, tendo recebido dinheiro do erário público para certo fim, não restituísse ao cabo de um ano após a tomada de contas, o que tivesse sobrado. Conceito: na sua figura central, não é mais que a apropriação indébita (embora com certa diferença de disciplina) praticada por funcionário público em razão do ofício, procedendo com abuso do cargo ou infidelidade a este. Observações: a) Na Itália, coisa pertencente ao Estado (peculato); coisa sob a guarda do Estado e confiada ao funcionário ex ofício (malversação). No Brasil as duas hipóteses são equiparadas a peculato (fidelidade ao direito romano). b) Peculato próprio é aquele cujo bem é apropriado ou desviado (caput) e impróprio é aquele que o código assimila o fato do funcionário público que, embora não tendo a posse da coisa, a subtrai, ou concorre para sua subtração em proveio próprio ou alheio (§1º) c) CONCURSO. Admite concurso de pessoas, inclusive particulares. Exemplo: funcionário se apropriou de objeto (peculato apropriação); não funcionário que o tenha induzido configura CP: 312 se souber da qualidade de funcionário do induzido; caso não, CP: 168, apropriação indébita. (art. 30 do CP) d) DIRETOR DE SINDICATO, CLT: 552, “Os atos que importem malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades sindicais ficam equiparados ao crime de peculato julgado e punido na conformidade da legislação penal”. Equiparação OBJETIVA, porque não equiparou a funcionário, mas apenas seus atos. Mas CF88 garante sindicatos contra intervenções estatais (empregado público, por exemplo): há doutrina (Sérgio Pinto Martins) e jurisprudência (TRF4) entendendo que CLT: 552 não foi recepcionado, respondendo diretores por apropriação indébita. STJ entende que CLT: 552 é válido (CC 31354/SP). e) PREFEITO. Deve-se verificar se há tipo específico no DL201/67. f) VÍTIMA DO PECULATO: Administração (imediato). Particular pode ser vítima? Mediata. PECULATO-APROPRIAÇÃO: (próprio) CP, artigo 312 caput – primeira parte (1) “Funcionário público”. (2) “Apropriar-se”: inverter a posse, agindo como se dono fosse. (3) “De dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel”: bem móvel é todo aquele que pode ser transportado de um local a outro, não necessariamente coincidente com direito civil. (4) “Público ou particular”: particular como vítima mediata. (5) “De que tem a posse”: posse abrange detenção? Duas correntes: (i) “Posse” é utilizada em sentido amplo, abrangendo detenção. Rogério Greco (ii) “Posse” não se confunde com a detenção. Havendo mera detenção, o crime é de peculato-furto. É a posição do STJ. Rogério concorda, porque em apropriação indébita (CP: 168) legislador cuidou de ambos expressamente. (6) “Em razão do cargo”: não se confunde com “por ocasião do cargo”. Exemplo. A entrega a B, seu amigo vizinho, que por acaso é caixa da CEF, um dinheiro para que ele o fizesse o favor de pagar um tributo. B se apodera do dinheiro e não faz o combinado. B responde por apropriação indébita (CP, artigo 168). Portanto a entrega ao funcionário, para se caracterizar peculato, tem que resultar de mandamento legal, ou seja, o agente tem a liberdade desvigiada. TIPO SUBJETIVO: peculato-apropriação punível a título de dolo. PECULATO DE USO: existe o crime? Se a intenção do agente é usar a coisa momentaneamente e, depois, restituí-la, há crime se o objeto material for CONSUMÍVEL; caso inconsumível, fato atípico. Usar mão de obra configura peculato de uso? NÃO, porque serviço, não sendo esse o objeto material do tipo. No caso de PREFEITO, no entanto, o objeto material pode ser de qualquer natureza, até mesmo inconsumível, de acordo com o DL 201/67, art. 1º, II. Mas não fere isonomia? É uma discriminação, originada sob a ditadura, período em que os prefeitos eram nomeados por governadores. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO. Consuma-se no momento em que o funcionário se apropria do objeto de que tem a posse em razão do cargo, agindo como se dono fosse (vendendo, retendo, destruindo etc.). Admite-se tentativa (plurissubsistente). PECULATO-DESVIO: (próprio) segue a análise do peculato-apropriação, com exceção do segundo elemento, sendo substituído “apropriar-se” por DESVIAR. - CP, artigo 312 caput – segunda parte DESVIAR – destinação diversa que o agente dá à coisa em proveito próprio ou alheio. Exemplo: funcionário empresta dinheiro que tem sob sua guarda a título de juros. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO. Consuma-se no momento em que o funcionário altera o destino normal da coisa. Admite-se tentativa (plurissubsistente). Possível aplicar princípio da insignificância para excluir a tipicidade? (1) STF: sendo princípio geral de direito, aplica-se também aos crimes funcionais. (2) STJ: o princípio da insignificância é incompatível com o bem jurídico tutelado, qual seja a moralidade administrativa. DIFERENÇA entre peculato desvio (CP: 312, “”) e emprego irregular de verbas (CP: 315, “Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa”).PECULATO DESVIO (CP: 312) EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS (CP: 315) Desvio de verbas No interesse de particular (agente/3º) No interesse público (note-se CP: 24; emprego irregular em SC, pós catástrofe, não será antijurídico) PECULATO-FURTO (ou IMPRÓPRIO). - CP, artigo 312§1º (1) BEM JURÍDICO: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: a. Ativo: funcionário público, em sentido amplo conforme CP: 327 (lembrar que prefeito tem DL 201/67). b. Passivo: imediato (Administração em geral) e mediato (particular). (3) Tipo objetivo: subtrair ou concorrer para que seja subtraído. Diferentemente do peculato apropriação, não havia posse, que é alcançada ilicitamente (daí peculato “impróprio”, NH fala em qualificado furto próprio.). A configuração de furto ou peculato furto depende de o funcionário valer-se de facilidade por ser funcionário público. Exemplos: a) funcionário público, durante a noite, arromba a porta da repartição pública para subtrair um notebook da administração pública – crime de furto b) funcionário público, mostra o seu crachá ao vigia e, durante à noite, entra na repartição pública e subtrai o notebook da administração pública – crime de peculato- furto. (4) Tipo subjetivo: dolo. (5) Momento de consumação: mesma discussão quanto ao furto (ablatio, ilatio etc.); prevalece amotio ou aprehensio, i.e. ocorre independentemente da posse mansa e pacífica. (6) Tentativa: admite-se. PECULATO CULPOSO (CP: 312, par. 2º, “Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”). (1) BEM JURÍDICO: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: (i) Ativo: funcionário público, em sentido amplo conforme CP: 327 (lembrar que prefeito tem DL 201/67). (ii) Passivo: imediato (Administração em geral) e mediato (particular). (3) Tipo objetivo: concorrer culposamente para o crime de outrem, ou seja, a negligência do funcionário facilita o crime de outrem – qualquer crime ou peculato doloso? Prevalece o entendimento de que o peculato culposo depende de peculato doloso, apoiando-se na posição topográfica (peculato culposo qualifica caput e par. 1º). Rogério Greco discorda, exemplificando que pratica peculato culposo o funcionário que esquece a máquina fotográfica do seu colega perito, sobre o balcão, ocasião em que um particular se aproveita e subtrai. Ou seja, pode concorrer com qualquer crime, não necessariamente peculato. Em que pese esse último entendimento (Rui Stocco e Rogério Greco), segundo o qual a lei não restringe, não cabendo ao intérprete fazê-lo. Por que funcionário negligente não responde como partícipe ou co-autor com o furto por outrem? Porque há heterogeneidade quanto ao aspecto subjetivo. (4) Tipo subjetivo: culpa. (5) Momento de consumação: aperfeiçoando-se o crime de outrem, o peculato culposo também se consuma. (6) Tentativa: impossível, porque crime culposo não admite tentativa. (7) BENEFÍCIO LEGAL CABÍVEL AO PECULATO CULPOSO, exclusivamente. CP: 312, par. 3º, “No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta”. Assim, reparação do dano até trânsito em julgado leva à extinção da punibilidade; após, o juiz da execução pode diminuir a pena. Lembre-se que a reparação do dano em peculato doloso pode (1) STJ: se oferecido até o recebimento da inicial, aplica-se o CP: 16. PECULATO ESTELIONATO CP: 313, “Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. (1) Bem jurídico: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: (i) Ativo: funcionário público, no exercício do cargo. (ii) Passivo: imediato (Administração em geral) e mediato (particular). (3) Tipo objetivo: apropriar-se, agindo como se dono fosse. O erro do ofendido deve ser espontâneo, pois, se provocado pelo funcionário, poderá configurar estelionato. (4) Tipo subjetivo: dolo. (5) Momento de consumação: NÃO se consuma com o recebimento da coisa, mas com a omissão do funcionário público quando da percepção do engano, deixando de desfazê-lo. Tentativa: admite-se tentativa. Peculato-apropriação Peculato furto Peculato estelionato Apropriar-se, posse, legítima Subtrair; não há posse Apropriar-se, posse, ilegítima (recebida por erro de outrem) PECULATO ELETRÔNICO CP: 313-A, “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”. Exemplo: pedir para funcionário retirar pontos de carteira. (1) Bem jurídico: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: (i) Ativo: funcionário público autorizado, não é qualquer funcionário. (ii) Passivo: imediato (Administração em geral) e mediato (particular [pontos transferidos para carteira de terceiro]). (3) Tipo objetivo: inserir, facilitar inserção, alterar ou excluir dados. Note-se que os DADOS (elementos de informação) do programa sofrem ação, não o PROGRAMA. (4) Tipo subjetivo: dolo + finalidade especial (“vantagem indevida/ causar dano”). (5) Momento de consumação: crime formal, independe de dano ou obtenção de vantagem. O dano e prejuízo apenas alteram pena. Admite tentativa. CP: 313-B, “Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”. (1) Bem jurídico: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: (i) Ativo: funcionário público. Perceba-se que aqui o funcionário pode ser qualquer um, é o funcionário público em sentido amplo do CP: 327, não fala “autorizado” como no CP: 313-B. (ii) Passivo: imediato (Administração em geral) e mediato (particular). (3) Tipo objetivo: modificar ou alterar sistema ou programa. Objeto material distinto do CP: 313-B. (4) Tipo subjetivo: dolo sem finalidade especial. (5) Momento de consumação: crime formal; ocorrendo dano, aplica-se a majorante do par. único. Tentativa: admite-se tentativa. (6) Especialidade: artigo 72 da Lei 9504/97. Diferenças entre CP: 313-A e CP: 313-B. CP: 313-A CP: 313-B Funcionário AUTORIZADO Funcionário QUALQUER Objeto material: DADOS Objeto material: PROGRAMA ou SISTEMA Tipo subjetivo: dolo + FINALIDADE ESPECIAL Tipo subjetivo: dolo APENAS PENA. Em regra, o CP: 313-B é mais grave, mas o CP: 313-A pode ser mais grave. No entanto, há clara desproporção entre as penas dos dois tipos: CP: 313-A sancionado com 2 a 12 anos; CP: 313-B, punido com 3 meses a dois anos. Essa diferença não se justifica. “PECULATO ELETRÔNICO” POR OUTROS AGENTES. Se o agente for funcionário não autorizado, qual o crime? Equipara-se a particular; os dados constituem documento público, configurando sua alteração FALSIDADE IDEOLÓGICA. CONCUSSÃO: do latim CONCUTERE: verbo empregado quando se queria significar o ato de sacudir uma árvore para fazer cair os frutos CP: 316, “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa”. Pena alterada pelo pacote anticrime (2-12 anos) (1) Bem jurídico: moralidade administrativa. (2) Sujeito: (i) Ativo: é uma das exceções ao capítulo, porque o sujeito ativo não é somente o funcionário público em exercício da função, mas também o funcionário público fora da função ou ainda o particular antes de assumir. Exemplos: carteirada com diário oficial ou licenciado. Casos particulares: (a)Caso o sujeito ativo seja MILITAR, aplica-se o CPM: 305. (b) Fiscal de rendas: aplica-se o art. 3º, II, da lei 8.137/90. Note-se que o crime, neste caso, é contra a ordem tributária, não contra a Administração. (ii) Passivo: imediato (administração) e mediato (proteção do patrimônio particular constrangido) (3) Tipo objetivo: (i) Exigir (impor como obrigação, intimidação, coerção, distinto de mero pedido). Para si (vantagem pessoal) ou para outrem (vantagem para terceiro) (ii) Direta (pessoal) ou indireta (por intermédio de terceiro) (iii) Explícita ou implícita. Este item é acrescido pela doutrina (iv) Vantagem indevida. Natureza dessa vantagem – precisa ser patrimonial? A maioria da doutrina entende que pode ser QUALQUER vantagem. Se a vantagem for DEVIDA, excesso de exação (CP: 316, par. 1º) ou abuso de autoridade. Nelson Hungria: tem que ser vantagem econômica. Note-se que a vítima não precisa sentir-se intimidada, basta a potencialidade de intimidação. O agente precisa ter poder para realizar a ameaça, sob pena de descaracterizar concussão para extorsão. Médico do SUS condiciona o atendimento ao pagamento de quantia – que crime configura? Se o médico EXIGIU, configura CP: 316 (concussão); se SOLICITOU, CP: 317 (corrupção passiva); se simulou ser devida a quantia, CP: 318 (fraude na obtenção de indevida vantagem, estelionato). (4) Tipo subjetivo: dolo + finalidade especial (obter indevida vantagem, para si ou para outrem). (5) Consumação: crime formal, consumindo-se com a simples exigência; recebimento é mero exaurimento. Cabe tentativa? SIM, no caso de concussão por escrito, por carta concussionária interceptada. Nelson Hungria (minoria) entende que se trata de ato preparatório. Ou é feita a exigência, ou deixa de ser feita (para Nelson Hungria não cabe tentativa). EXCESSO DE EXAÇÃO (exigir, juridicamente exigir tributos) CP, artigo 316§1º Parágrafo primeiro – forma simples (encaminhamento aos cofres públicos). É a exigência de imposto que sabe indevido ou cobrá-lo por meio vexatório (excesso no modo de exação). N.H. – conceito na sua essência. Parágrafo segundo – forma qualificada (um complemento do parágrafo primeiro). Tributos ou emolumentos devem ser indevidos (não determinados em lei, quantia excedente ou vítima já havia pagado). Consuma-se o crime com a simples exigência (formal). A exigência já é o crime consumado, portanto não cabe tentativa (N.H.). Rogério Sanches: cabe por escrito. “custas e emolumentos” – retirado pela lei 8137/90, STF/STJ – concernente a serviços notariais têm natureza de tributo. Informativo 461 do STF. CORRUPÇÃO PASSIVA (venalidade (condição de ser vendido) em torno da função pública) CP: 317, “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”. – Intervenção interamericana contra corrupção de Caracas (2002). Alterou a pena para 2-12, mas não alterou a pena de concussão. O pacote anticrime consertou essa desproporcionalidade. (1) Bem jurídico: moralidade administrativa. (2) Sujeitos: (i) Ativo: (a) Funcionário público no exercício da função; (b) Funcionário público fora da função (férias); (c) Particular na iminência de assumir. (ii) Passivo: imediato (Administração) e mediato (particular constrangido pelo agente). (3) Tipo: (i) Objetivo: note-se que corrupção passiva não equivale sempre a corrupção ativa: aos núcleos (i) solicitar, (ii) receber ou (iii) aceitar promessa de vantagem temos os correspondentes (i) dar, (ii) oferecer e (iii) prometer. Só que DAR não configura corrupção ativa, CP: 333. Ocorre que há três outros tipos de corrupção ativa: CP: 337-B, CP: 342, par. 1º, corrupção ativa do código eleitoral, casos em que DAR, além de oferecer e prometer CONFIGURAM corrupção ativa. Em face dessa lacuna, há projeto de lei acrescentando dar como núcleo do CP: 333 (corrupção ativa). Note-se que todos os núcleos focam a mercancia da função pública, a comercialização de um ato de ofício, sendo imprescindível, portanto, que esse ato esteja entre as atribuições do agente. “Vantagem”: pode ser em favor próprio ou alheio, inclusive familiares. Pode ser de qualquer natureza, desde que indevida. CLASSIFICAÇÃO: (a) Corrupção passiva PRÓPRIA: o ato de ofício comercializado é ILEGÍTIMO. Exemplos: solicitar vantagem para liberar objeto apreendido; solicitar vantagem para facilitar fuga de preso. (b) Corrupção passiva IMPRÓPRIA: o ato de ofício comercializado é legítimo. Exemplo: solicitar vantagem para permitir entrega de alimentos para preso. (c) Corrupção passiva ANTECEDENTE: o agente solicita/ recebe/ aceita promessa para depois realizar ato de ofício. É a CORRUPÇÃO ATIVA (CP: 333). (d) Corrupção passiva SUBSEQÜENTE: o agente primeiro realiza o ato de ofício e depois solicita/ recebe/ aceita promessa. Esta conduta é ATÍPICA. (e) Corrupção passiva MILITAR: CPM: 308. Inclui “receber” e “aceitar”. Militar não solicita apenas o funcionário público comum. CP: 317 CPM: 308 Solicitar, receber, aceitar promessa Receber e aceitar promessa. “Aceitar” vai para a Justiça comum (4) CONSUMAÇÃO: em regra, o crime é formal. “Solicitar”: crime formal; “receber”: crime material (só se consuma com vantagem indevida); “aceitar promessa”: formal. (5) TENTATIVA: perfeitamente possível a tentativa. Exemplo: a carta que solicita vantagem interceptada. MAJORANTE: CP: 317, par. 1º, apesar de a doutrina chamar de “corrupção passiva qualificada”, consiste em majorante. A corrupção passiva privilegiada é crime material. Sujeito que pagar propina exigida por policial não comete o crime de corrupção passiva FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO (CP, art. 318) Considerações iniciais: 1) Entendeu o legislador que a facilitação de contrabando ou descaminho quando praticada por funcionário público, com infração de especial dever funcional, não devia ser disciplinada no art. 29, mas como infração autônoma. Exceção pluralista à teoria monista. 2) A lei 13008/14 alterou a sistemática dos crimes de contrabando e descaminho, devendo ter alterado também a pena do facilitador, respeitando assim a proporcionalidade e razoabilidade. Sujeitos do crime S.A. – funcionário público incumbido de impedir a prática do contrabando ou descaminho (DEVER FUNCIONAL), caso não ostente essa atribuição funcional responderá por descaminho (334) ou contrabando (334-A). Podendo haver participação de estranhos nos termos do art. 30 do CP S.P. – Estado. CONTRABANDO – consiste, restritamente, na importação ou exportação de mercadorias cuja entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. DESCAMINHO - toda fraude empregada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de importação, exportação ou consumo (cobrável, este, na própria aduana antes do desembaraço das mercadorias importadas) CONDUTA: Facilitar que é o ato de coadjuvar, seja por ação (maquiando obstáculos), seja por omissão (deixando de criar obstáculos). CONSUMAÇÃO / TENTATIVA: Com o proporcionar-se facilidade à prática do contrabando ou descaminho, independentemente do êxito. Cabe tentativa com a facilitação ativa. DESCAMINHO (334) 13008/14 alterou o 334, agora é 334 e 334A. a maior diferença ficou com a pena do contrabando. SUJEITOS DO CRIME S.A. – qualquer pessoa (crime comum), funcionário colaborando (318). S.P. – Estado. CONDUTA: Descaminho: é a fraude tendente a frustrar, total ou parcialmente, o pagamento de direitos de importação ou exportação ou do imposto de consumo (a ser cobrado na própria aduana) sobre mercadorias. No descaminho o agente busca iludir, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, o pagamento de direito ou imposto devido em face de entrada ou saída de mercadoria não proibida.Ex. emprega no produto rótulos ou letreiros falsos não correspondentes à quantidade ou qualidade real da mercadoria. Mera omissão na declaração do fisco na quantidade de mercadorias sem emprego de fraude ou malícia não caracteriza crime (Sanches e capez). Caracteriza crime (STF). Necessidade de esgotamento na via administrativa: constituição definitiva do crédito tributário nos crimes materiais contra ordem tributária é condição para tipicidade (súmula vinculante 24). Descaminho é crime formal (STF, STJ E NH), portanto não se exige o efetivo prejuízo ao erário para consumação (esgotamento da via administrativa dispensável). CONSUMAÇÃO / TENTATIVA: admite-se a tentativa. Consuma-se com a liberação da alfândega, sem o pagamento dos impostos inerentes. Competência (súmula 151 STJ). INSIGNIFICÂNCIA: a dúvida é entre 10.000 (Lei. 10522/07) ou 20.000 (portaria 75/12 do Min. Da Fazenda). DESCAMINHO POR ASSIMILAÇÃO (334§1) I – navegação de cabotagem: finalidade da comunicação é o comércio direto entre os portos do país, dentro das águas / rios que correm em seu território. II – ex. art. 39 288/67 – zona franca de Manaus. III – 1ª parte (Sanches) – progressão criminosa, influencia na pena. IV - 2ª parte – modalidade especial de receptação (comerciante). Ocultação: crime permanente Clausula de equiparação (334§2º) Equiparação às atividades comerciais (fundo de quintal) EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (súmula 560 – STF – extinta). Cabe para crimes de ordem tributária, logo cabe para descaminho e contrabando. STJ (5ª e 6ª Ts) e STF: a apuração administrativa é desnecessária para a consumação do crime de descaminho, que é formal, não podendo ser comparado aos crimes materiais de ordem tributária, logo o pagamento não extingue a punibilidade. CONTRABANDO (334-A) “contrabande” é a clandestina importação ou exportação de mercadorias cuja entrada no país, ou saída dele é absoluta ou relativamente proibida. Tutela-se também o bem estar econômico da Administração Pública, além disso, (Mirabete), saúde, higiene, moral, ordem pública, quando se tratar de importação. SUJEITOS: S.A. Qualquer pessoa (crime comum) S.P.: Estado. CONDUTA: clandestina importação ou exportação de mercadoria relativa ou absolutamente proibidas (norma penal em branco); importação temporariamente suspensa não está abrangida Entrada ou saída de mercadorias clandestinas (contrabando impróprio). O agente faz com que a mercadoria entre ou sai sem passar pela alfândega Se valendo da alfândega (mercadorias fraudulentas) – contrabando próprio ESPECIALIDADE: Drogas (11.343/06), art. 40, Armas (10826/2003), art. 18, motivo político LSN (7170/83) INSIGNIFICÂNCIA: tribunais superiores não têm admitido. DOLO: vontade de praticar qualquer das ações (cabe erro de tipo). TENTATIVA: admissível CONSUMAÇÃO: contrabando próprio: importação ou exportação de mercadoria proibida com a passagem pelos órgãos alfandegários (transposta a barreira fiscal), mesmo que a mercadoria não tenha chegado ao destino. Contrabando impróprio: transposição de fronteira do país. Se for por navio: necessário atracação, se for por avião: exige-se o pouso. COMPETÊNCIA: SÚMULA 151 do STJ. Federal, lugar da apreensão. CONTRABANDO POR ASSIMILAÇÃO (334-A § 1º) I – pode ser invocado o mesmo exemplo do descaminho, ex. Zona Franca, mercadorias sem autorização legal II – ex. fertilizantes que necessitam do registro dos ministérios da agricultura, pecuária, abastecimento etc. III - ex. produto brasileiro destinado exclusivamente à exportação IV - semelhança com 334§1º, III a diferença é de que a mercadoria em vez de ter procedência clandestina ou fraudulenta, é proibida. V - - semelhança com 334§1º, IV aqui se trata de mercadoria proibida. CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO: parágrafo segundo. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA CP: 339, “Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa”. CONCEITO: provocar a instauração (provocar de qualquer forma: por escrito, por palavras, gestos) de*: (1) Investigação policial. É a mesma coisa que inquérito? Prevalece que investigação policial NÃO se confunde com inquérito; mesmo que não haja inquérito, havendo investigação, há denunciação caluniosa. (2) Ação penal. Para tanto, basta haver o recebimento da inicial. (3) Investigação administrativa. A investigação administrativa deve investigar ilícito administrativo que seja ilícito penal. (4) Inquérito civil. O ilícito civil deve corresponder a uma infração penal. Exemplos: dano ambiental é ilícito civil e penal; peculato de uso (por administrador) é ilícito civil, mas não penal, a menos que se trate de prefeito. (5) Ação de improbidade. O ato ímprobo tem que corresponder a uma infração penal. Caso não seja infração penal, constitui delito especial (lei 8.429/92, art. 19, “Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente. Pena: detenção de seis a dez meses e multa”). Imputando a alguém crime** de que o sabe inocente. *PROVOCAR INSTAURAÇÃO DE CPI – CR Bittencourt entende que configura no máximo calúnia, porque não há previsão legal específica. **IMPUTAR CONTRAVENÇÃO – constitui denunciação caluniosa? SIM, por força do CP: 339, par. 2º, “A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção”. Assim, denunciar caluniosamente por contravenção constitui forma privilegiada, por causa de diminuição de pena. IMPUTAR ATO CRIMINOSO “EXCULPADO” constitui denunciação caluniosa? Basta a potencialidade de instauração de um dos cinco procedimentos; assim, se provocar investigação policial, indicando desde o começo que ato foi praticado por legítima defesa, há denunciação caluniosa. CRIME COMPLEXO OU PROGRESSIVO? Complexo em sentido estrito (crime complexo = crime + crime), NÃO, porque “imputação de crime” é crime, mas “dar causa à instauração de investigação policial” não. Trata-se de crime progressivo, porque sua realização implica prática de outro. AÇÃO COMUM. Antigamente, entendia-se que, somente vítima ou representante tinham legitimidade para promover ação por denunciação caluniosa de crime de ação privada. Ocorre que, com Lei 10.028/00, denunciação pode levar não só a investigação policial e ação penal, mas também ação de improbidade, sindicância e inquérito civil – daí não se poder dizer que seja de ação privada. Exemplo: ainda que não se instaure inquérito nem se promova ação penal, a denunciação caluniosa de estupro por funcionário público levará a sindicância. MENOR VÍTIMA. Aqui há mesma divergência relativa à calúnia: se menor puder ser caluniado (como entende STJ), poderá também ser vítima de denunciação caluniosa. FIXAÇÃO DA PENA: juiz levará em conta o tipo de crime imputado. Denunciação caluniosa de estupro é mais grave do que DC de furto, e esse particular deve ser considerado pelo juiz. CALÚNIA ≠ DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA: finalidades distintas: na calúnia, objetivo é alcançar a honra da vítima; na denunciação caluniosa, visa-se a instauração de procedimento. DOLO EVENTUAL – possível? Maior parte da doutrina entende que NÃO, com base em “imputando-lhe crime de que o sabe inocente”; se sabe, não há aceitação de risco. CR Bittencourt e Rogério entendem que SIM, porque quem é ciente da inocência pode assumir o risco. DOLO SUPERVENIENTE – possível? NÃO, dolo deve ser concomitante à prática do núcleo do tipo. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO: início do procedimento (ação penal, inquérito civil...) ou investigação policial. TENTATIVA – possível? SIM – calúnia admite tentativa, desde que seja por carta interceptada; da mesma forma, denunciação caluniosa admite tentativa. NECESSIDADE DE ENCERRAMENTO DE PROCEDIMENTO. MP deveaguardar término do procedimento para denunciar por denunciação caluniosa? Duas correntes: (1) SIM – enquanto não encerrar o procedimento, não pode denunciar, por risco de conflito de decisões. Nesse sentido, N. Hungria; corrente majoritária. (2) NÃO – ação penal é pública incondicionada, exigindo apenas prova da materialidade e indício da autoria. Nesse sentido, Mirabete. MAJORANTE – par. 1º, “A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto”. COMUNICAÇÃO FALSA CP: 340, “Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa”. DIFERENÇA DE DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. Apesar de semelhança com denunciação caluniosa (provocar ação de autoridade e comunicar crime/contravenção), aqui NÃO se imputa a ação a ninguém. BJ: administração da justiça, vez que crime não atinge honra de ninguém. SUJEITO ATIVO: comum. LEGITIMIDADE: se crime for de APP condicionada ou privada, apenas vítima ou representante podem dar queixa. CONTRAVENÇÃO: não enseja diminuição de pena. “AÇÃO DE AUTORIDADE”: dispensa formalização da investigação em inquérito policial. “AUTORIDADE”: abrangida PM? Mirabete entende que NÃO, porque autoridade deve ter poder de deflagrar investigação ou ação penal. Note-se que, se crime for MILITAR, então PM teria poder investigatório. DOLO – comunicação falsa é punível a título de dolo simplesmente ou necessária finalidade especial? Duas correntes: (1) Necessária finalidade especial de provocar inutilmente ação de autoridade (Mirabete). (2) Prescindível finalidade especial (Damásio). COMUNICAÇÃO FALSA PARA FRAUDAR SEGURO. Estelionato (CP: 171, par. 2º, V, “vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias”) absorve ou coexiste? (1) Nelson Hungria: estelionato absorve, crime fim abrange crime meio. Mas BJ aqui é DIFERENTE: como estelionato protege administração da justiça? (2) Magalhães Noronha: coexistem, por protegerem bens jurídicos distintos; agente responde pelos dois, em concurso material. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO: início da diligência, dispensando inquérito policial. TENTATIVA: possível, se comunicação por escrito interceptada. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA (AUTOCALÚNIA) CP: 341, “Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem1: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa”. “PERANTE AUTORIDADE”: não significa presença frente a frente; basta dirigir-se a autoridade, ainda que por escrito. SUJEITO ATIVO: comum, desde que não seja autor/partícipe (confissão). DOLO. Doutrina entende que mera dúvida afasta configuração. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO: necessária atuação da autoridade? NÃO, basta que autoridade tome conhecimento. TENTATIVA – possível, se por carta. (Hungria não admite.) ALTRUÍSMO (pai assume crime de filho) – afasta crime? NÃO, crime persiste; pode influenciar na fixação da pena. 339 340 341 Provocar ação de autoridade Acusar-se perante autoridade Comunicação de crime/contravenção NÃO ocorrido Crime inexistente/praticado por outrem Imputado a alguém Não se imputa a ninguém Próprio “denunciante” assume autoria do crime FALSO TESTEMUNHO, FALSA PERÍCIA 1 O STF inadmitiu recurso ordinário de HC 82.365 por o processo por auto-acusação ter sido suspenso pelo MP. No caso, a recorrente pedia a descaracterização vez que seu filho havia cometido ato infracional, não crime. CP: 342, “Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa”. O Estado tem monopólio da administração de justiça e vale-se de instrumento próprio, i.e. processo, composto de várias etapas, dentre as quais a instrução. Os meios de prova inscrevem-se nessa fase e sua proteção decorre do prestígio da administração da justiça. CONDUTA: (1) Fazer afirmação falsa: agente distorce a verdade. (2) Negar a verdade: agente nega a verdade real dos fatos, de que tem conhecimento. (3) Calar a verdade: agente, sabendo a verdade, simplesmente não se pronuncia a respeito; reticência. (i) SILÊNCIO – sujeito não pode silenciar, a menos que haja risco de auto- incriminação, por corolário ao direito de não auto-incriminação. Daí salvo-conduto permitir que testemunha permaneça em silêncio em CPI etc. “VERDADE”: perfeita correspondência entre realidade e sua expressão. A não correspondência pode ser um erro (defeito na percepção) ou uma mentira (intenção de enganar), perfazendo crime somente a última hipótese. Se testemunha descreve fato como percebido, não incorre em crime, ainda que descrição difira da realidade. Caso a testemunha descreva fato diferentemente do percebido, ainda que coincida com a realidade, estará mentindo, incorrendo em crime. Assim, o critério é a coincidência entre percepção e testemunho, não o descompasso com a realidade. A falsidade, portanto, não se extrai da comparação do depoimento da testemunha e a realidade dos fatos (teoria objetiva), mas sim do contraste entre o depoimento e a ciência da testemunha (teoria subjetiva); assim, mostra-se possível o falso testemunho por fato verdadeiro; exemplo: agente que detalha minuciosamente episódios verdadeiros que jamais presenciou. SUJEITO ATIVO: (4) Testemunha – qualquer testemunha ou somente a compromissada? Duas posições: (i) Noronha entende que qualquer testemunha, mesmo descompromissada, porque (a) pode influenciar convencimento do juízo tanto quanto compromissada, por decorrência do livre convencimento do juízo, e (b) lei não fez distinção. Há julgados do STF nesse sentido. (ii) Mirabete: somente testemunha compromissada, porque, de outra forma, não haveria razão para o compromisso. Essa segunda corrente prevalece. (5) Perito. (6) Contador. (7) Tradutor. (8) Intérprete. CONTEXTO: (1) Processo judicial, penal ou cível, de jurisdição contenciosa ou voluntária. (2) Processo administrativo, abrangidos: (i) Sindicância, para maior parte da doutrina. (ii) Inquérito civil. (3) Inquérito policial, ainda que circunstanciado. (4) Juízo arbitral. CPI? NÃO, apesar de haver tipo especial (art. 4º, II, da lei 1.579/52), com pena do CP: 342. VÍTIMA COMO SUJEITO ATIVO – possível? NÃO; pode ser denunciação caluniosa. CRIME DE MÃO PRÓPRIA ou conduta infungível. MOMENTO DE CONSUMAÇÃO: não esta relacionado ao convencimento do juízo. (1) Em regra, o crime se consuma com a assinatura do depoimento. (2) Caso o testemunho seja por escrito (presidente pode ser ouvido por escrito), consuma-se com recebimento do documento em cartório. CONCURSO DE AGENTES: (1) FALSO TESTEMUNHO: sendo crime de mão própria, só admite participação. Exemplo: advogado que instrui testemunha (note-se que STF já decidiu que, nesse caso, advogado é co-autor, adotando teoria do domínio do fato). É uma falsidade positiva. (i) Ocultar profissão, idade etc. (qualificação, não fato) responde por falso testemunho? Noronha: SIM, porque influencia confiabilidade da testemunha; Damásio, Mirabete: NÃO, somente quando ocultamento recai sobre fatos. (ii) Episódio irrelevante, periférico, NÃO enseja falso testemunho. (2) FALSA PERÍCIA: apesar de crime de mão própria, excepcionalmente ADMITE co- autoria, quando o laudo deve ser subscrito por mais de um perito. Lembre-se que processo penal exige apenas um perito SE OFICIAL; se perito não oficial, exigem- se dois. VÍTIMA: Estado, podendo eventualmente ser particular afetado pelo falso. TENTATIVA possível – pode ser praticado por escrito. MENTIRA EM MAIS DE UM PROCESSO: pode ser crime ÚNICO, se for caso de processos cível e penal de mesmo fato. LUGAR DO CRIME. CPP: 70,competência do local da consumação. Se falso testemunho ocorre perante juízo deprecado para colher testemunho, então cabe processamento pelo juízo deprecado, mesmo que juízo deprecante seja prejudicado. FALSO TESTEMUNHO JUSTIÇA TRABALHISTA: competência da Justiça Federal. CAUSAS DE AUMENTO, par. 1º, “As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta”. Hipóteses: (1) Finalidade: suborno. Aqui, três sub-hipóteses: (i) Falso testemunho – CP: 342, par. 1º. (ii) Falsa perícia por perito oficial – CP: 342, caput + (iii) Falsa perícia por perito não oficial - (2) Finalidade: obtenção de prova destinada a produzir prova em processo penal. Abrange falso inquérito policial. (3) Finalidade: atingir Administração (direta ou indireta) em processo civil ou penal. RETRATAÇÃO EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE, par. 2º, “O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”. Observações: (1) Difere de confissão, porque retratar é simplesmente desdizer, retirar o que se disse. (2) MOMENTO: deve ocorrer até a sentença que encerra o processo onde aconteceu a mentira. (3) Retratação do CP: 342, par. 2º é objetiva comunicável aos demais concorrentes, diferente da retratação do crime contra a honra. (4) JÚRI: retratação deve ser anterior à sentença de mérito, ainda que posterior ao oferecimento de denúncia. MP pode denunciar por falso testemunho, mesmo que processo em que ocorreu a mentira ainda não concluído? Duas posições: (1) NÃO, pois a sentença do processo em que ocorreu a mentira é condição para oferecimento de denúncia. Crítica: falso testemunho é APPI, bastando prova da materialidade e indício de autoria. (2) SIM, porque a retratação não é causa suspensiva, mas resolutiva. CRIMES HEDIONDOS 1. DEFINIÇÃO DE CRIME HEDIONDO Nós temos três sistemas rotulando o que é crime hediondo: 1.1. Sistema LEGAL – “Pelo sistema legal, compete ao legislador enumerar no rol taxativo, quais os crimes hediondos.” 1.2. Sistema JUDICIAL – “Pelo sistema judicial é o juiz quem, na apreciação do caso concreto, analisando a gravidade do delito, decide se a infração é ou não hedionda.” 1.3. Sistema MISTO – Cuidado com esse sistema! “Pelo sistema misto, o legislador apresenta rol exemplificativo de crimes hediondos, permitindo ao juiz encontrar outros casos.” 1.4. Sistema MAIS JUSTO: O sistema está decidindo o seguinte: o legislador dá um rol taxativo de crime hediondo, mas o juiz deve confirmar a hediondez no caso concreto. Qual o Brasil adotou? O Brasil adotou o Sistema LEGAL! Art. 5º, XLIII, da CF/88: (MANDADO CONSTITUCIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO ou PENALIZAÇÃO) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Quais crimes são equiparados a hediondos? Tortura, Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e Terrorismo. Esses são os crimes equiparados a hediondos. Equiparados nas conseqüências, mas NÃO SAO hediondos. PERGUNTA: O juiz pode tirar algum crime do rol dos crimes de hediondos por achar que no caso concreto não há necessidade de se dar esse tratamento diferenciado? (CLÁUSULA SALVATÓRIA) R: No RJ não se reconhece esse tratamento, muito embora o STF já o adotou quanto à liberdade provisória. (no sistema mais justo a diferença é que o juiz avalia o tipo penal, valendo para todos, aqui na cláusula salvatória, o juiz avalia a conduta, valendo para o caso concreto que está sendo analisado). 2. O ELENCO DOS CRIMES HEDIONDOS A Lei 8.072/90, no seu art. 1º. O art. 1º traz os crimes considerados como hediondos no rol taxativo. Existe algum crime hediondo que não está no Código Penal? O candidato responde logo: Tráfico! Não! Tráfico não é hediondo. Tortura! Não! Tortura não é hediondo. Então, terrorismo? Não! Terrorismo não é hediondo. Os três T’s não são hediondos. Eu quero saber um crime hediondo que não está no Código Penal. Há cinco (Lei 13964/2019) e estão no parágrafo único do artigo 1º. I - O GENOCÍCIO previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956; II - A posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, art. 16 da Lei no 10.826/2003. III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; V - o crime de organização criminosa (Lei 12850/2013), quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado 3. DOS CRIMES HEDIONDOS EM ESPÉCIE E EQUIPARADOS: I - HOMICÍDIO – Art. 1º, I, da Lei dos Crimes Hediondos Art. 1º - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (Art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V,VI, VII e VIII); Dois são os homicídios etiquetados como hediondos. O homicídio será hediondo quando: a) “Praticado em atividade típica de grupo de extermínio (chacina)” Esse dispositivo é extremamente criticado. Primeiro porque, o que significa atividade de extermínio? Reparem que é um conceito extremamente poroso. Atividade de extermínio, a doutrina acaba dizendo: É a famosa chacina. Outra crítica: quantas pessoas devem integrar este grupo? Atividade típica de grupo de extermínio. Reparem que o legislador fala em 'grupo ainda que praticado por um só agente'. PODE EXISTIR ESSE HOMICÍDIO COM APENAS UMA PESSOA? O Brasil tem grupo de uma pessoa só? Não. Na verdade, ele está querendo dizer, 'ainda que o crime seja cometido por uma só pessoa daquele grupo'. Então, tem que haver um grupo. Quantas pessoas formam um grupo? Duas formam um grupo ou formam um par? 1ª Corrente: Grupo não se confunde com par. Par precisa de duas. Grupo também não se confunde com bando. Bando precisa de quatro. Grupo precisa de três. Essa é a primeira corrente. 2ª Corrente: Diz que concorda que grupo não sem confunde com par, mas essa expressão grupo precisa de um tipo penal próximo e o tipo penal mais próximo e o tipo penal mais próximo de grupo é o bando. Se bando agora precisa de três, também o grupo precisa de três. Ainda que por causa de uma pessoa só, mas vejam que uma pessoa só pode diferenciar o crime de hediondo para não hediondo. Prevalece a segunda corrente! Agora mais do que nunca Uma coisa é certa: Este homicídio é hediondo, mesmo que simples. Ele não precisa ser qualificado. Vejam que o homicídio simples pode ser hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Se te perguntarem: o homicídio simples pode ser hediondo? Pode ser, desde que praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Como chama esse homicídio simples que depende desta condição (ser praticado por grupo de extermínio) para ser hediondo? Homicídio condicionado. Falar que esse homicídio, praticado em atividade típica de grupo de extermínio, pode ser simples é ridículo. Você consegue imaginar uma chacina como simples homicídio? Toda chacina está envolvida com motivos torpes ou fúteis, com meios cruéis, recursos que dificultam a defesa do ofendido. Então, Paulo Rangel (RJ), Guilherme de Souza Nucci (SP) falam: isso é ridículo imaginar que um homicídio condicionado é simples. Homicídio em atividade de extermínio sempre será qualificado. O jurado deve ser quesitado sobre esta condicionante? O jurado deveser quesitado se o crime foi praticado em atividade típica de grupo de extermínio? Agora sim porque é uma circunstância de aumento de pena (CP, art. 121§ 6º) b) “Homicídio qualificado” E o homicídio qualificado, é hediondo sempre? SEMPRE! O homicídio qualificado é hediondo sempre, não importa a qualificadora. Art. 121§2º, VII – HOMICÍDIO FUNCIONAL. “consangüíneo” Pode qualificar o filho “adotivo”. Duas correntes. Analogia in Malan parte ou interpretação extensiva? Homicídio qualificado privilegiado é hediondo? Eu falei pra vocês que o homicídio qualificado é hediondo sempre. E quando qualificado privilegiado, é hediondo? 1ª Corrente: Diz: o homicídio qualificado é hediondo sempre, mesmo que privilegiado também. Para essa primeira corrente, basta ser qualificado para ser hediondo, mesmo que seja também privilegiado. 2ª Corrente: É a que prevalece. Diz: o homicídio qualificado quando privilegiado deixa de ser hediondo. Qual é a razão para isso? Qual o fundamento jurídico para deixar de ser hediondo? Ele continua qualificado. Essa segunda corrente faz uma analogia ao art. 67, do CP, que diz o seguinte: VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. VETADO. Razões: a qualificadora sem qualquer ressalva viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal e a pena cominada, além de gerar insegurança jurídica para os agentes de segurança pública, uma vez que esse tipo de arma é a essência no uso desses servidores. II - ROUBO: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I – Durante o assalto - Quando eu digo que só há latrocínio na violência empregada durante o assalto, eu exijo o fator tempo. II – Em razão do assalto - Quando eu digo que só há latrocínio na violência empregada em razão do assalto, eu exijo o fator nexo. Faltando um dos dois fatores, não há latrocínio. Por exemplo, durante o assalto eu matei um desafeto que apareceu no local do crime. Eu matei durante o assalto, mas não tem nada a ver com assalto. Isso não é latrocínio. Isso é homicídio. Durante o assalto eu encontro um desafeto e mato o desafeto. Isso não tem nada a ver com latrocínio, apesar de a morte ter ocorrido durante o assalto. Ou então: duas semanas após o assalto (não mais durante o assalto), eu matei o gerente do banco que me reconheceu. III – EXTORSÃO qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º) PRIVAÇÃO DE LIBERDADE. CP: 157, par. 2º, V e art. 158, § 3º Há dois tipos de restrição à liberdade: (a) PRIVAÇÃO NECESSÁRIA E BREVE. O agente, para consumar o crime ou garantir sua impunidade priva a vítima da sua liberdade de locomoção por tempo absolutamente necessário. (b) PRIVAÇÃO DESNECESSÁRIA E LONGA. Se a privação da liberdade for desnecessária para a consumação ou garantia da impunidade, perdurando além tempo incomum. Aqui, configura roubo cumulado com seqüestro (CP: 148). SEQÜESTRO RELÂMPAGO. Normalmente, julgados como CP: 157, par. 2º, V. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO – Art. 1º, IV, da Lei dos Crimes Hediondos Art. 1º - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados Código Penal, consumados ou tentados: IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (Art. 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º) Extorsão mediante seqüestro é sempre crime hediondo, não importa se simples ou qualificado. ESTUPRO e ESTUPRO DE VULNERÁVEL: – Art. 1º, V e VI, da Lei dos Crimes Hediondos Todos hediondo com particular atenção à súmula do STJ 593. EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE – Art. 1º, VII, da Lei dos Crimes Hediondos Art. 1º - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados Código Penal, consumados ou tentados: VII - epidemia com resultado morte (Art. 267, § 1º). Quando cai esse crime é apenas para saber se ele é ou não hediondo. Não será qualquer epidemia. É epidemia com resultado morte. Quando cai em concurso é só para saber se é ou não é hediondo. CORRUPÇÃO DE MEDICAMENTO – Art. 1º, VII-B, da Lei dos Crimes Hediondos Art. 1º - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados Código Penal, consumados ou tentados: VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. O crime é: Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Alterado pela L- 009.677-1998) Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. Pena boa, justa para um crime grave como este! Você corrompeu um medicamento! Parágrafo primeiro: § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. Merece: 10 a 15 anos e hediondo. Por quê? Porque se o caput pune quem falsificou, o § 1º está punindo aquele que potencialmente distribui esse produto no mercado. Merece a mesma pena. Se um cria, o outro permite a potencialização da conduta. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. O caput não falou em produtos com fins terapêuticos e medicinais? O § 1º-A está dizendo: Incluam mais esses. Saneante é Bom-Ar. Cosmético. Na mesma pena! De 10 a 15 anos quem corrompe um cosmético! Um batom. Imagina! Você passa na farmácia, feliz compra um batom que dura 24 horas, passa o batom e vai pra guerra. Chega na boate, a mulher percebe que está sem o batom. E aí? Ela se sente o quê? Nua! Imagine você, que compra um batom pra durar 24 horas e ele dura uma hora. Aquele que fabricou o batom que tinha que durar 24 horas e durou 1 hora merece 10 a 15 anos? Nós já vamos comentar, mas a interpretação que se faz é que os cosméticos e os saneantes só se incluem no artigo se eles tiverem finalidade terapêuticas ou medicinais. Por exemplo, aquela manteiga de cacau. Alguém adultera, corrompe aquilo e em contato com os lábios pode desencadear uma lesão gravíssima na sua incolumidade, integridade física. Não será qualquer cosmético, não será qualquer saneante. Isso caiu na Magistratura Federal da 3ª Região. O examinador perguntou se abrangia talco para chulé. E, por incrível que pareça você tinha que discutir se o chulé era doença e se o talco tem finalidade terapêutica ou medicinal. § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º (vende, expõe à venda, etc.) em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: (Acrescentado pela L- 009.677-1998) I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. Cuidado! Nesse § 1º-B o produto, não necessariamente está corrompido. Você pode apenas e tão-somente estar vendendo produto que você não adquiriu da vigilância sanitária e só ela pode autorizar alguém a vender esse produto. Vamos resumir isso daí: O art. 273, caput, pune o falsificador com pena de 10 a 15 anos e hediondo. O § 1º, porsua vez, não pune o falsificador. Pune quem vende, expõe à venda, etc. Não necessariamente comerciante! E a pena para ele também é de 10 a 15 anos. E hediondo. Merece? Merece! Ele potencializa a conduta, sem dúvida merece. O § 1º-A equiparada produtos àqueles do caput. Lembrem-se de que esses produtos têm que ter finalidade terapêutica ou medicinal. 10 a 15 anos e hediondo. No § 1º-B o medicamento não está, necessariamente, corrompido. E vejam, a sua pena é de 10 a 15 anos e etiquetado como hediondo. Uma pessoa vende um remédio sem autorização da vigilância sanitária. O remédio está bom. Ele só não tinha autorização. Esse parágrafo é desproporcional! Ele está punindo com a mesma pena quem falsifica o remédio e quem vende o remédio bom, mas sem autorização da vigilância sanitária. Ele tratou como crime e mais, como crime hediondo, mera infração administrativa. Não só é desproporcional, como fere o princípio da intervenção mínima. Esse crime, vender remédio sem autorização, ou seja, medicamento que não está necessariamente corrompido, 10 a 15 anos, hediondo, tem a pena bem maior do que quadrilha ou bando. A pena é maior do que tráfico de drogas. A tua pena mínima é maior do que a pena mínima do homicídio. A pena é maior do que sequestro-relâmpago! Vejam só a desproporcionalidade! Só porque você vendeu sem autorização da vigilância sanitária competente. Então, a maioria está criticando isso. Dizendo que é um absurdo. VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º) IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ARTIGO 1º PARÁGRAFO ÚNICO: GENOCÍDIO: Lei 2889/56: são hediondos os artigos primeiro (genocídio propriamente dito), segundo (associação para prática de genocídio) e o terceiro (incitação à prática do genocídio). POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO: (art. 16 da Lei. 10826/2003). O parágrafo único do artigo 16 traz o que se denomina na doutrina de FIGURAS EQUIPARADAS. Trata não somente de arma de fogo de uso restrito. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm A lei trouxe o artigo 16 e não 16 §§2º. O que é hediondo? Só o caput ou os parágrafos também? Ex.: Portar arma de fogo de uso permitido com numeração raspada. Duas correntes: 1) só o caput (o legislador não trouxe o parágrafo único) 2) os dois porque o legislador não se reportou expressamente ao caput III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) EQUIPARADOS: 1) TORTURA: a tortura por omissão (imprópria) não é considerada crime hediondo. 2) TRÁFICO DE DROGAS: associação para o tráfico não é considerada tráfico, portanto não é considerada crime hediondo. Tráfico privilegiado (33§4º) STF e STJ não tem natureza hedionda. 3) TERRORISMO: nada a acrescentar. CONSEQUÊNCIAS DOS CRIMES HEDIONDOS Art. 2º - Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. (Alterado pela L-011.464-2007) 3.1. VEDAÇÃO DE GRAÇA, ANISTIA E INDULTO (art. 2º, I) http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm O inciso I fala que são insuscetíveis de anistia, graça e indulto. São formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir. São causas de extinção de punibilidade. Vamos analisar uma questão importante que o Supremo decidiu. O art. 5º, XLIII, diz: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia (...); Reparem que a CF não veda o indulto. A Constituição Federal de 1988 veda graça e anistia. A Lei 8.072/90 veda graça, anistia e indulto. O que se discute é se a lei ordinária, lembrando da pirâmide de Kelsen, que é subordinada à constituição poderia ter acrescentado a vedação do indulto. Será que a vedação do indulto, acrescentada pela Lei 8.082, não prevista na Constituição é constitucional? Há duas correntes: 1ª Corrente: A vedação do indulto pela Lei dos Crimes Hediondos é inconstitucional. E qual é o argumento dessa primeira corrente para dizer que o acréscimo do indulto é inconstitucional? Ela diz que o rol de vedações da Constituição Federal é máximo, não podendo o legislador ordinário suplantá-lo. O rol de vedações é máximo, não é mínimo. O legislador tem que obedecê-lo. Não pode suplantá-lo. Não é a que prevalece! Prevalece a segunda corrente. 2ª Corrente: A vedação do indulto pela Lei dos Crimes Hediondos é constitucional. E como ela defende a constitucionalidade da vedação do indulto? Ela diz: o rol de vedações da CF é mínimo. Tanto é mínimo, que ela diz “a lei definirá”. Não bastasse esse argumento, outro argumento para defender a constitucionalidade do acréscimo da vedação do indulto é lembrar que a graça está sendo utilizada no sentido amplo, abrangendo o indulto. Quando o constituinte veda a graça, ele veda a graça em sentido amplo, abrangendo o indulto! Graça em sentido amplo (clemência estatal), que pode ser individual (graça em sentido estrito) e coletiva (indulto). O indulto pode ser total ou parcial (comutação de penas). Não cabe nenhum dos dois. Essa segunda corrente, não só é a majoritária, como é a posição do STF (RHC 84572/RJ – Marco Aurélio). 3.2. VEDA FIANÇA, não veda mais a liberdade provisória (art. 2º, II) Perde sentido a Súmula 697, do STF. STF Súmula nº 697 - DJ de 13/10/2003 - A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo. 3.3. REGIME INICIAL FECHADO, admitindo PROGRESSÃO (§§ 1º e 2º, do art. 2º da Lei 11.474/07) Antes, originalmente era integralmente fechado, proibindo a progressão de regime. Em 2006 o STF considerou inconstitucional o regime integralmente fechado, passando a não ter mais regras sobre o regime de pena na Lei de crimes hediondos, passando, então a aplicar a regra geral que é o artigo 112 da LEP (1/6 da pena). Súmula vinculante 26 (a lei 11474/07 foi mais severa, porque previu 2/5 ou 3/5). Hoje ela fala em regime inicial fechado e se fala em regime inicial fechado, é porque hoje permite progressão. E permite progressão com quanto? Olha o que diz o § 2º: § 2º - A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (Alterado pela L-011.464-2007) – PARÁGRAFO REVOGADO PELO PACOTE ANTICRIME http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm Reparem que aqui ninguém está falando em reincidência específica. Reincidente, 3/5, não reincidente 2/5. Pronto! O entendimento do STF (HC 111840), os crimes hediondos e equiparados não podem ter um regime inicial obrigatório porque isso viola o princípio constitucional da individualização da pena. Quem individualiza a pena é o juiz, ele não pode ficar subordinado à lei para fixar um regime inicial de pena. O parágrafo primeiro foi considerado inconstitucional. 3.4. PRISÃO PREVENTIVA (§3 do art. 2º, da Lei 11.474/07) Essa questão do § 3º caiu: Delegado de Polícia/MG, TJ/MG e Delegado de Polícia/PR § 3º - Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. (Alterado pela L-011.464-2007) Quem lê isso, pensa: “Já entendi.Você foi condenado a um crime hediondo ou equiparado, em princípio você recorre preso. Se o juiz quiser que você recorra solto, ele vai ter que muito bem fundamentar a decisão.” No silêncio, você recorre preso. Não é isso que parece? Esse tipo de dispositivo, não tem só na lei de crimes hediondos. Ele tem na lei de drogas, etc. O Supremo já falou que a interpretação que tem que ser dada é a seguinte: Processado preso – Recorre preso, salvo se ausentes os fundamentos da preventiva. Processado solto – Recorre solto, salvo se presentes os fundamentos da preventiva. Essa é a interpretação constitucional que se deve dar a qualquer dispositivo como esse. Olha que interessante: http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm Art. 312 - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. 3.5. PRISÃO TEMPORÁRIA (§4º, do art. 2º, da Lei 11.474/07) O parágrafo 4º está tratando da prisão temporária e diz o seguinte § 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. (Acrescentado pela L-011.464-2007) A lei de prisão temporária tem um prazo de custódia de cinco dias prorrogável por mais cinco dias. A lei de crimes hediondos diz: Calma! Se for um crime previsto nesta lei (hediondos), a prisão temporária será de 30 mais 30. Caiu isso para Delegado em MG, prova de segunda fase. Uma das questões mais interessantes sobre prisão temporária. Vamos tentar explicar isso com mais calma. Preste atenção. A Lei 7960/89 prevê prisão temporária de 5 dias, prorrogáveis por mais cinco, desde que comprovada extrema necessidade. Na lei dos crimes hediondos, a prisão temporária é de 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias. E cabe prisão temporária em qualquer crime? Não. O art. 1º, III, da prisão temporária traz os crimes que admitem essa espécie de custódia. Art. 1º Caberá prisão temporária: III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (Art. 121, caput, e seu § 2º); http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011464/2007-011464.htm b) seqüestro ou cárcere privado (Art. 148, caput, e seus §§ 1º e 2º); c) roubo (Art. 157, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); d) extorsão (Art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º); e) extorsão mediante seqüestro (Art. 159, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); f) estupro (Art. 213, caput, e sua combinação com o Art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor (Art. 214, caput, e sua combinação com o Art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (Art. 219, e sua combinação com o Art. 223, caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (Art. 267, § 1º); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (Art. 270, caput, combinado com Art. 285); l) quadrilha ou bando (Art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas o) crimes contra o sistema financeiro p) crimes previstos na Lei de Terrorismo Esses delitos admitem prisão temporária. Esse rol é taxativo ou exemplificativo. Qual é o raciocínio? O rol é taxativo. O prazo de prisão temporária é de 5 + 5. Cuidado ! Se o crime é hediondo, 30 + 30. Pergunto: Todas as letras correspondem a crime hediondo? Não. Olha a pergunta que eu vou fazer agora: todos os crimes hediondos estão aqui? São duas perguntas: o rol é taxativo? Sim! Se o crime só está na Lei 7.960 são 5 + 5 dias o prazo de prisão temporária. Se o crime da prisão temporária está na lei dos crimes hediondos é 30 + 30. Todas as letras correspondem a crime hediondo? Não. E todos os crimes hediondos estão abrangidos pelo inciso III da lei de prisão temporária? Não. E agora? LEI 7960/89 LEI 8072/90 http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/1956-002889-genocidio/2889-56.html http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/1956-002889-genocidio/2889-56.html http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/1956-002889-genocidio/2889-56.html Prisão temporária: 5 dias + 5 dias Prisão temporária? 30 dias + 30 dias Art. 1º, III: a) Homicídio – 121, CP O homicídio, se cometido por grupo de extermínio ou qualificado, o prazo passa a ser de 30 + 30 *b) Sequestro e cárcere privado – 148, CP c) Roubo – 157, CP O roubo, se qualificado pela morte, 30 + 30 d) Extorsão – 158, CP A extorsão, se qualificada pela morte, 30 + 30 e) Extorsão mediante sequestro – 159, CP O sequestro, simples ou qualificado, 30 + 30. f) Estupro – 213, CP O estupro, simples ou qualificado, 30 + 30. g) Atentado violento ao pudor – 214, CP O atentado violento ao pudor, simples ou qualificado, 30 + 30. h) Rapto i) Epidemia com resultado morte – 267, § 1º, CP É hediondo – É igualzinho à lei dos crimes hediondos *j) Envenenamento de água potável – 270, CP *l) Quadrilha ou bando – 288, CP m) Genocídio Hediondo, logo, 30 + 30 n) Tráfico Equiparado a Hediondo, logo, 30 + 30 *o) Crime contra o Sistema Financeiro * p) Terrorismo Esses crimes admitem prisão temporária com qual prazo? 5 + 5, salvo, se também estiverem na lei de crimes hediondos. Fazendo a Aqui, é possível prisão temporária 30 + 30 comparação, os únicos que obedecem ao prazo de 5 + 5 são os marcados com asterisco, ou seja, dos 14, só 5. Então, já deu para concluir o quê? Que o prazo de 5 dias será necessariamente para: Sequestro e cárcere privado – 148, CP j) Envenenamento de água potável – 270, CP l) Quadrilha ou bando – 288, CP o) Crime contra o Sistema Financeiro p) Terrorismo No mais, é possível prisão temporária 30 + 30. Reparem que há crimes hediondos ou equiparados a hediondos que não estão no quadro. Foram esquecidos pela prisão temporária, mas estão previstos na lei dos crimes hediondos. Quais são? Por exemplo, a tortura. Qual é o prazo de prisão temporária da tortura? Qual é o prazo da prisão temporária na corrupção de medicamentos? Primeira coisa: Admite prisão temporária? Prestem atenção: 1ª Corrente: Se a tortura e a corrupção de medicamentos não estão no inciso III, do art. 1º, da lei da prisão temporária, não comportam essa espécie de prisão. Só cabe prisão temporária nos crimes do inciso III, do art. 1º dessa lei especial. Fora deste rol, não cabe prisão temporária. Logo, se a tortura e a corrupção de medicamentos não estão neste rol taxativo, não admitem prisão temporária. Não é a corrente correta. 2ª Corrente: Para essa corrente (que é a correta), a tortura e a corrupção de medicamentos admitem prisão temporária. Por quê? Porque o § 4º, do art. 2º, da lei de crimes hediondos, diz: “os crimes previstos nesta lei (e os dois estão previstos nesta lei – lei de crimes hediondos - admitem prisão temporária). Tem previsão legal! Então, esses crimes admitem prisão temporária e se admitem prisão temporária, o prazo vai ser de 30 mais 30 dias. Em resumo: Tem previsão legal e o prazo é de 30 + 30. Então, dá para perceber o seguinte: A lei de crimes hediondos não ampliou somente o prazo de prisão temporária. Ela ampliou o rol dos crimes que admitem essa espécie de prisão. 3.7. LIVRAMENTO CONDICIONAL (art. 5º, da Lei 11.474/07) O art. 5º acrescentou ao art. 83, do Código Penal o inciso V, permitindo o livramento condicional para crime hediondo. Porém, com condições objetivas mais rigorosas. Vamos analisar o art. 83, do Código Penal, com esse
Compartilhar