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1 Ester Ratti ATM 25 Metabolismo do Músculo MARKS CAP. 47 TIPOS DE CÉLULAS MUSCULARES: ➢ Lisa ➢ Cardíaca ➢ Esquelética ❖ As células musculares esqueléticas podem ser divididas em fibras do tipo I e do tipo II. As do tipo I são fibras de contração lenta que utilizam principalmente o metabolismo oxidativo para obter energia, enquanto as fibras do tipo II (de contração rápida) usam a glicólise como a principal rota geradora de energia. Os músculos são uma mistura dos diferentes tipos de fibras, mas, dependendo da sua função, um músculo pode ter uma preponderância de um tipo de fibra sobre outro. As fibras do tipo I são encontradas nos músculos posturais, como o psoas da musculatura das costas e o soleus da perna. A porcentagem do tipo I para o tipo II irá variar de acordo com o músculo em questão. O tríceps, que funciona de forma fásica, tem 32,6% de fibras do tipo I, enquanto o soleus, que funciona de forma tônica, tem 87,7% desse tipo de fibra. As fibras do tipo II são mais prevalentes nos músculos grandes dos membros que são responsáveis pelos movimentos repentinos e de força. Os músculos extra-oculares também teriam mais desse tipo do que do tipo I. SINAIS NEURONAIS PARA O MÚSCULO/ RESUMO DO MECANISMO BÁSICO DA CONTRAÇÃO Quando estimulada de forma apropriada, a célula nervosa libera acetilcolina nessa junção neuromuscular, que se liga aos receptores de acetilcolina na membrana muscular. Essa ligação estimula a abertura de canais de sódio do sarcolema. O influxo maciço de íons sódio resulta na geração do potencial de ação no sarcolema nas proximidades da placa motora na junção neuromuscular. O potencial de ação se espalha através da superfície da fibra muscular e, pelos túbulos transversos, atinge o retículo sarcoplasmático, onde inicia a liberação de cálcio do seu lúmen via receptor de rianodina. 2 Ester Ratti ATM 25 Os íons cálcio se ligam à troponina, provocando uma mudança conformacional nos complexos troponina-tropomiosina de tal forma que eles se afastam dos sítios de ligação de miosina na actina. Quando esses sítios de ligação ficam disponíveis, a cabeça da miosina se liga ao sítio de ligação de miosina na actina. A ligação é seguida por uma mudança conformacional na cabeça da miosina, o que encurta o sarcômero. Após o giro, o ATP se liga à cabeça da miosina, que se solta da actina e fi ca disponível para se ligar a um outro sítio de ligação de miosina na actina. Enquanto íons cálcio e ATP estiverem disponíveis, a cabeça da miosina irá repetir esse ciclo de ligação, giro e desligamento. Esse movimento requer ATPs e, quando os níveis de ATP estão baixos (como ocorre durante a isquemia), a habilidade do músculo para se relaxar ou se contrair fica comprometida. Quando os canais de liberação de cálcio se fecham, o cálcio é bombeado de volta para o retículo sarcoplasmático contra seu gradiente de concentração, usando a proteína SERCA e a contração cessa. Em todos os tipos de músculo, a contração ocorre pelo sistema de filamentos de actina/miosina deslizantes, que é regulado pelas oscilações nos níveis intracelulares de cálcio. Esse processo básico ocorre em todos os tipos de células musculares, com algumas pequenas variações (no músculo liso e cardíaco). FUNÇÕES DO ATP NA CONTRAÇÃO MUSCULAR: ➢ Sua hidrolise por uma ATPase ativa a cabeça da miosina de forma que possa se ligar à actina ➢ Sua ligação com a miosina promove o desacoplamento da actina após o movimento de força ➢ Ativa as bombas que transportam cálcio do citosol de volta ao reticulo sarcoplamático A GLICÓLISE E O METABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS NAS CÉLULAS MUSCULARES A fosfofrutoquinase-2 (PFK-2) é regulada negativamente por fosforilação no fígado (a enzima que catalisa a fosforilação é a proteína- quinase dependente de monofosfato de adenosina cíclico [AMPc]). Entretanto, no músculo esquelético, a PFK-2 não é regulada por fosforilação. Isso ocorre porque a isoenzima da PFK-2 do músculo esquelético não possui o resíduo de serina regulatório que é fosforilado no fígado. 3 Ester Ratti ATM 25 Entretanto, a isoenzima cardíaca da PFK-2 é fosforilada e ativada por uma cascata de quinases iniciada por insulina. Isso permite ao coração ativar a glicólise e utilizar a glicose sangüínea quando os níveis de glicose estão elevados. A captação de ácidos graxos pelo músculo requer a participação de proteínas ligadoras de ácidos graxos e das enzimas usuais da oxidação dos ácidos graxos. A captação de acil-CoA pela mitocôndria é controlada pela malonil-CoA, que é produzida por uma isoenzima da acetil- CoA-carboxilase (ACC-2; a isoenzima ACC-1 é encontrada no fígado e no tecido adiposo e é usada para a biossíntese de ácidos graxos). A ACC-2 é inibida por fosforilação pela proteína- quinase AMP-ativada (AMP-PK, do inglês AMP- activated protein kinase) de tal forma que, quando os níveis energéticos estão baixos, os níveis de malonil-CoA diminuirão, permitindo a oxidação de ácidos graxos pela mitocôndria. Além disso, as células musculares também contêm a enzima malonil-CoA-descarboxilase, que é ativada por fosforilação pela AMP-PK. A malonil- CoA-descarboxilase converte malonil- CoA em acetil-CoA, aliviando, assim, a inibição da carnitina-palmitoiltransferase I (CPT-I) e estimulando a oxidação de ácidos graxos. As células musculares não sintetizam ácidos graxos; a presença de acetil- CoA-carboxilase no músculo é exclusivamente por motivos regulatórios UTILIZAÇÃO DE SUBSTRATOS ENERGÉTICOS NO MÚSCULO CARDÍACO CONDIÇÕES NORMAIS ➢ Oxidação de ácidos graxos 60 a 80% ➢ Glicólise aeróbica 20 a 40% ➢ Lactato (glicólise anaeróbica)- quantidade mínima Noventa e oito por cento do ATP cardíaco são gerados de maneira oxidativa; 2% são derivados da glicólise. O lactato utilizado pelo coração é captado por um transportador de monocarboxilatos na membrana celular que também é utilizado para o transporte de corpos cetônicos. Entretanto, os corpos cetônicos não são substratos energéticos preferenciais para o coração, pois esse prefere utilizar ácidos graxos. O lactato é gerado pelas células vermelhas do sangue e pelo músculo esquelético em funcionamento. Quando o lactato é utilizado pelo coração, é oxidado a dióxido de carbono e água, seguindo a rota de lactato a piruvato, de piruvato a acetil-CoA, oxidação de acetil-CoA no ciclo do TCA e síntese de ATP pela fosforilação oxidativa. Um destino alternativo do lactato é sua utilização nas reações do ciclo de Cori no fígado. O transporte de glicose para o interior do cardiomiócito ocorre pelos transportadores GLUT1 e GLUT4, embora cerca de 90% dos transportadores sejam GLUT4. A insulina estimula o aumento do número de transportadores GLUT4 na membrana da célula cardíaca, da mesma forma que a isquemia miocárdica. Esse aumento no número de transportadores GLUT4 induzido pela isquemia é aditivo ao efeito da insulina sobre a translocação de transportadores GLUT4 para a membrana plasmática. 4 Ester Ratti ATM 25 A captação de ácidos graxos para o interior do músculo cardíaco é semelhante àquela de outros tipos de células musculares e requer proteínas ligadoras de ácidos graxos e carnitina-palmitoiltransferase I para a transferência para dentro da mitocôndria. A oxidação de ácidos graxos nas células musculares cardíacas é regulada pela alteração das atividades da ACC-2 e da malonil-CoA- descarboxilase. CONDIÇÕES ISQUÊMICAS Quando o fluxo de sangue para o coração é interrompido, o coração altera o metabolismo para o anaeróbico. A velocidade da glicólise aumenta, mas o acúmulo de prótons (pela formação de lactato) é prejudicial para o coração. A isquemia também aumenta os níveis de ácidos graxos livresno sangue, e, de forma surpreendente, quando o oxigênio é reintroduzido no coração, a alta velocidade de oxidação de ácidos graxos é prejudicial à recuperação das células cardíacas danificadas. A oxidação de ácidos graxos ocorre de forma tão rápida que o NADH acumula na mitocôndria, levando à redução da atividade da lançadeira de NADH, ao aumento dos níveis de NADH citoplasmático e à formação de lactato, o que gera mais prótons. Além disso, a oxidação de ácidos graxos aumenta os níveis de acetil-CoA mitocondriais, os quais inibem a piruvatodesidrogenase, levando ao acúmulo de piruvato citoplasmático e à produção de lactato. Conforme a produção de lactato aumenta, o pH intracelular do coração diminui, e é mais difícil manter os gradientes iônicos através do sarcolema. A hidrólise do ATP é necessária para reparar esses gradientes, os quais são essenciais para a função cardíaca. Entretanto, a utilização de ATP para reparar esses gradientes reduz a quantidade de ATP disponível para o coração utilizar na contração, o que, por sua vez, compromete a habilidade do coração de se recuperar do evento isquêmico. UTILIZAÇÃO DE SUBSTRATO ENERGÉTICO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO Os músculos esqueléticos utilizam muitos substratos energéticos para gerar ATP. A fonte imediata mais abundante de ATP é o fosfato de creatina. O ATP também pode ser gerado a partir dos estoques de glicogênio tanto anaeróbica (gerando lactato) quanto aerobicamente, e, nesse caso, o piruvato é convertido em acetil- CoA para a oxidação pelo ciclo do TCA. Todos os músculos esqueléticos possuem mitocôndrias e, portanto, são capazes de oxidar ácidos graxos e corpos cetônicos. Os músculos esqueléticos também são capazes de oxidar completamente os esqueletos de carbono de alanina, aspartato, glutamato, valina, leucina e isoleucina, mas não de outros aminoácidos. ATP E CREATINA-FOSFATO O ATP não é uma boa escolha de molécula para armazenar em quantidades como reserva de energia. Muitas reações são ativadas ou inibidas de forma alostérica pelos níveis de ATP, especialmente aquelas que geram energia. As células musculares resolvem esse problema armazenando ligações fosfato de alta energia na forma de fosfato de creatina. Quando há necessidade de energia, o fosfato de creatina irá doar um fosfato para o ADP para regenerar ATP para a contração muscular. A síntese de creatina começa no rim e é completada no fígado. No rim, glicina se combina com arginina para formar guanidinoacetato. O guanidinoacetato, então, 5 Ester Ratti ATM 25 vai para o fígado, onde é metilado pela S- adenosilmetionina para formar creatina A creatina formada é liberada pelo fígado e vai pela corrente sangüínea para os outros tecidos, particularmente o músculo esquelético, o coração e o cérebro, onde ela reage com o ATP para formar o composto de alta energia fosfato de creatina . Essa reação, catalisada pela creatina-fosfoquinase (CK), é reversível. Portanto, as células podem utilizar fosfato de creatina para regenerar ATP. O fosfato de creatina serve como um pequeno reservatório de fosfato de alta energia que pode prontamente regenerar ATP a partir de ADP. Como resultado, ele exerce um papel particularmente importante no músculo durante o exercício. Ele também carrega fosfato de alta energia da mitocôndria, onde o ATP é sintetizado, para os filamentos de miosina, onde o ATP é utilizado para a contração muscular. O fosfato de creatina é um composto instável. Ele cicliza espontaneamente, formando creatinina. A creatinina não pode ser metabolizada e é excretada na urina. A quantidade de creatinina excretada por dia é constante e depende da massa muscular corporal. Portanto, ela pode ser usada como um padrão para determinar a quantidade de outros compostos excretados na urina, bem como um indicador da função excretória renal. UTILIZAÇÃO DE SUBSTRATO ENERGÉTICO NO REPOUSO Depende dos níveis séricos de glicose, aminoácidos e ácidos graxos. Se a glicose e os aminoácidos sanguíneos estão elevados, a glicose será convertida em glicogênio, e o metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada estará alto. Os ácidos graxos serão utilizados para a produção de acetil-CoA e irão satisfazer as necessidades energéticas do músculo sob essas condições. Existe um balanço entre a oxidação de glicose e a de ácidos graxos que é regulado por citrato. Quando a célula muscular tem quantidades adequadas de energia, o citrato deixa a mitocôndria e ativa a ACC-2, que produz malonil-CoA. A malonil-CoA inibe a carnitina-palmitoiltransferase I, reduzindo, assim, a oxidação de ácidos graxos pelo músculo. A malonil-CoA-descarboxilase 6 Ester Ratti ATM 25 também está inativa, pois a AMP-PK não é ativa no estado alimentado. Assim, o músculo regula a oxidação de glicose e de ácidos graxos, em parte, pelo monitoramento dos níveis de citrato citoplasmático. UTILIZAÇÃO DE SUBSTRATO ENERGÉTICO DURANTE O JEJUM Com a queda dos níveis de glicose sanguínea, os níveis de insulina diminuem. Isso reduz os níveis de transportadores GLUT4 na membrana do músculo, e a utilização de glicose pelo músculo diminui de forma significativa. Isso poupa glicose para ser utilizada pelo sistema nervoso e pelas células vermelhas do sangue. No músculo cardíaco, a PFK-2 é fosforilada e ativada pela insulina. Da mesma forma, a falta de insulina resulta em utilização reduzida de glicose por essas células. A piruvato- desidrogenase é inibida por altos níveis de acetil-CoA e NADH produzidos pela oxidação de ácidos graxos. Os ácidos graxos se tornam o substrato energético preferencial do músculo sob condições de jejum. A AMP-PK está ativa devido ao fato de os níveis de ATP estarem abaixo do normal, a ACC-2 estar inibida e a malonil-CoA-descarboxilase estar ativada, sustentando, assim, a atividade plena da CPT-I. A falta de glicose reduz a velocidade glicolítica, e a síntese de glicogênio não ocorre devido à inativação da glicogênio-sintase pela fosforilação estimulada por adrenalina. UTILIZAÇÃO DE SUBSTRATO ENERGÉTICO ADURANTE O EXERCÍCIO As rotas de oxidação de substratos energéticos devem ser rapidamente ativadas durante o exercício para responder a uma demanda muito maior de ATP. O ATP e o fosfato de creatina podem ser esgotados rapidamente se não forem continuamente regenerados. A síntese de ATP ocorre pela glicólise (aeróbica ou anaeróbica) e pela fosforilação oxidativa (que requer o suprimento constante de oxigênio). A glicólise anaeróbica é especialmente importante como fonte de ATP em três condições: ➢ Durante o período inicial do exercício, antes do aumento do fluxo sanguíneo estimulado pelo exercício e do começo da oferta de substratos e oxigênio, permitindo que o processo aeróbico ocorra. ➢ No exercício realizado por músculos contendo predominantemente fibras musculares glicolíticas de contração rápida, pois essas fibras possuem baixa capacidade oxidativa e geram a maioria do seu ATP pela glicólise ➢ Durante a atividade extenuante, quando a necessidade de ATP excede a capacidade oxidativa do tecido e a demanda aumentada de ATP é satisfeita pela glicólise anaeróbica. 1. GLICÓLISE ANAERÓBICA NO INÍCIO DO EXERCÍCIO Durante o repouso, a maioria do ATP é obtida do metabolismo aeróbico. Entretanto, assim que o exercício começa, a demanda de ATP aumenta. Se não fosse regenerada, a quantidade de ATP presente no músculo esquelético poderia sustentar o exercício por apenas 1,2 segundo, e a de fosfocreatina, por apenas 9 segundos. O suprimento de sangue para o músculo em exercício demora mais de 1 minuto para aumentar de forma significativa devido à vasodilatação, e, portanto, o metabolismo oxidativo da glicose e de ácidos graxos vindosdo sangue não pode aumentar 7 Ester Ratti ATM 25 rapidamente no início do exercício. Assim, nos primeiros minutos do exercício, a conversão de glicogênio em lactato fornece uma porção considerável do requerimento de ATP. 2. GLICÓLISE ANAERÓBICA NA FIBRA GLICOLÍTICA DE CONTRAÇÃO RÁPIDA TIPO IIB Em músculos com grande quantidade desse tipo de fibra, a capacidade glicolítica é alta, pois as enzimas da glicólise estão presentes em grandes quantidades. Os níveis de hexoquinase, entretanto, são baixos, e, assim, pouca glicose circulante é utilizada. Os níveis baixos de hexoquinase nas fibras glicolíticas de contração rápida previnem que o músculo drene a glicose sangüínea para satisfazer sua alta demanda por ATP, evitando, assim, a hipoglicemia. A glicose-6-fosfato, formada a partir da glicogenólise, inibe ainda mais a hexoquinase. Os tecidos contam com os estoques de substratos energéticos endógenos (glicogênio e fosfato de creatina) para gerar ATP, seguindo a rota da degradação do glicogênio a glicose-1-fosfato, a conversão da glicose-1-fosfato em glicose-6-fosfato e o metabolismo da glicose-6-fosfato a lactato. Assim, a glicólise anaeróbica é a principal fonte de ATP durante o exercício nessas fibras musculares. Na inanição prolongada, a proteólise muscular está induzida para fornecer substratos para a gliconeogênese no fígado. Entretanto, isso não altera a utilização de ácidos graxos pelo músculo para suas próprias necessidades energéticas sob essas condições. 3. GLICÓLISE ANAERÓBICA A PARTIR DE GLICOGÊNIO A glicogenólise e a glicólise durante o exercício são ativadas conjuntamente, pois tanto a PFK- 1 quanto a glicogênio-fosforilase b (a forma inibida da glicogênio-fosforilase) são alostericamente ativadas por AMP. O AMP é um ativador ideal, pois sua concentração normalmente é mantida baixa pelo equilíbrio da adenilato-quinase [2 ADP « AMP + ATP]. Assim, sempre que os níveis de ATP diminuem levemente, a concentração de AMP aumenta muitas vezes. Começando com uma molécula de glicose-6- fosfato derivada da glicogenólise, três moléculas de ATP são produzidas na glicólise anaeróbica comparadas com 32 a 34 na glicólise aeróbica. Para compensar a baixa produção de ATP da glicólise anaeróbica, as fibras glicolíticas, de contração rápida possuem um conteúdo muito maior de enzimas glicolíticas e a velocidade de utilização da glicose-6-fosfato é mais de 12 vezes mais rápida do que nas fibras de contração lenta. A fadiga muscular durante o exercício em geral resulta da diminuição do pH do tecido para cerca de 6,4. O metabolismo aeróbico, assim como o anaeróbico, diminui o pH, e tanto a diminuição do pH quanto a produção de lactato podem causar dor. A fadiga metabólica também pode ocorrer quando o glicogênio muscular for esgotado. Os estoques de glicogênio muscular são consumidos em menos de 2 minutos de exercício anaeróbico. Metabolismo do glicogênio: A degradação de glicogênio no músculo não é sensível ao glucagon (os músculos não possuem receptores de glucagon), e, assim, há mudanças muito pequenas nos estoques de glicogênio muscular durante o jejum noturno ou de longa duração se o indivíduo permanecer em repouso. A glicogênio-sintase é inibida durante o exercício, mas pode ser ativada no músculo em repouso pela liberação de insulina após uma refeição rica em carboidratos. Ao contrário da forma hepática da glicogênio-fosforilase, a isoenzima muscular 8 Ester Ratti ATM 25 contém um sítio alostérico para ligação de AMP. Quando o AMP se liga na glicogênio- fosforilase b muscular, a enzima é ativada mesmo que não esteja fosforilada. Então, assim que o músculo começa a trabalhar e a miosina-ATPase hidrolisa os estoques existentes de ATP a ADP, o AMP começará a se acumular (devido à reação da mioquinase), e a degradação do glicogênio será aumentada. A ativação da glicogênio-fosforilase b muscular é ainda mais aumentada pela liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático, que ocorre quando os músculos são estimulados a se contraírem. O aumento do Ca2+ sarcoplasmático também leva à ativação alostérica da glicogênio- fosforilase-quinase (pela ligação à subunidade calmodulina da enzima), que fosforila a glicogênio-fosforilase b muscular, ativando-a plenamente. Finalmente, durante o exercício intenso, a liberação de adrenalina estimula a ativação da adenilato-ciclase nas células musculares, ativando, assim, a proteína-quinase AMPc- dependente. A proteína-quinase A fosforila e ativa plenamente a glicogênio fosforilase- quinase de tal forma que pode ocorrer uma ativação persistente da glicogênio-fosforilase muscular. O sinal hormonal é mais lento do que os eventos de ativação iniciais desencadeados por AMP e cálcio 4. GLICÓLISE ANAERÓBICA DURANTE O EXERCÍCIO DE ALTA INTENSIDADE Assim que o exercício começa, a cadeia transportadora de elétrons, o ciclo do TCA e a oxidação de ácidos graxos são ativados pelo aumento de ADP e pela diminuição de ATP. A piruvato-desidrogenase permanece em seu estado não-fosforilado ativo enquanto o NADH puder ser reoxidado na cadeia transportadora de elétrons e a acetil-CoA puder entrar no ciclo do TCA. Entretanto, mesmo que o metabolismo mitocondrial esteja trabalhando em sua capacidade máxima, é necessário ATP adicional para o exercício muito vigoroso de alta intensidade. Quando isso ocorre, o ATP não é produzido de forma suficientemente rápida para satisfazer as necessidades do músculo, e o AMP começa a se acumular. O aumento dos níveis de AMP ativa a PFK-1 e a glicogenólise, fornecendo, assim, o ATP adicional a partir da glicólise anaeróbica (o piruvato adicional produzido, em vez de entrar na mitocôndria, é convertido em lactato, de modo que a glicólise possa continuar). Assim, sob essas condições, a maioria do piruvato formado pela glicólise entra no ciclo do TCA, enquanto o restante é reduzido a lactato para regenerar NAD+ para a sua utilização contínua na glicólise. 5. DESTINO DO LACTATO LIBERADO DURANTE O EXERCÍCIO Ele pode ser utilizado pelos músculos esqueléticos em repouso ou pelo coração, um músculo com uma grande quantidade de 9 Ester Ratti ATM 25 mitocôndrias e uma capacidade oxidativa muito alta. Em tais músculos, a razão NADH/NAD+ será menor do que a dos músculos esqueléticos em exercício, e a reação da lactato-desidrogenase acontecerá na direção da formação do piruvato. O piruvato gerado é, então, convertido em acetil-CoA e oxidado no ciclo do TCA, produzindo energia pela fosforilação oxidativa. O segundo destino potencial do lactato é o seu retorno ao fígado, pelo ciclo de Cori, onde será convertido em glicose. VI. EXERCÍCIOS DE LONGA DURAÇÃO DE INTENSIDADES LEVE E MODERADA A. A LIBERAÇÃO DE LACTATO DIMINUI COM A DURAÇÃO DO EXERCÍCIO Exercícios de intensidade leve a moderada podem ser realizados por períodos mais longos do que exercícios de alta intensidade. Isso porque a oxidação aeróbica de glicose e de ácidos graxos gera mais energia por molécula de substrato energético do que o metabolismo anaeróbico e também produz ácido a uma velocidade mais lenta do que esse metabolismo. Assim, durante exercícios de intensidades leve e moderada, a liberação de lactato diminui ao mesmo tempo em que o metabolismo aeróbico de glicose e ácidos graxos se torna predominante. A. GLICOSE SANGUÍNEA COMO SUBSTRATO ENERGÉTICO O suprimento de glicose sanguínea deve ser constantemente reposto. O fígado executa essa função por processos similares àqueles usados durante o jejum. Ele produz glicose pela degradação de seus próprios estoques de glicogênio e pela gliconeogênese. A principal fonte de carbono para a gliconeogênese durante o exercício é, obviamente, o lactato produzido pelo músculo emexercício, mas aminoácidos e glicerol também são utilizados. A adrenalina liberada durante o exercício estimula a glicogenólise hepática e a gliconeogênese pelo aumento dos níveis de AMPc. Durante períodos longos de exercício, os níveis de glicose sanguínea são mantidos pelo fígado pela glicogenólise hepática e pela gliconeogênese. A quantidade de glicose que o fígado deve exportar é máxima nas mais altas cargas de trabalho, situação na qual o músculo está utilizando uma maior proporção de glicose para o metabolismo anaeróbico. Com o aumento da duração do exercício, uma proporção cada vez maior de glicose sanguínea é fornecida pela gliconeogênese. Entretanto, por até 40 minutos de exercício leve, a glicogenólise é a principal responsável pela saída de glicose do fígado. Por outro lado, de 40 a 240 minutos de exercício, a saída total de glicose do fígado diminui. Isso é causado pelo aumento da utilização de ácidos graxos, os quais estão sendo liberados a partir dos triacilgliceróis do tecido adiposo (processo estimulado pela liberação de adrenalina). A captação de glicose pelo músculo é estimulada pelo aumento dos níveis de AMP e pela ativação da proteínaquinase AMP-ativada, que estimula a translocação de transportadores GLUT4 para a membrana do músculo. As mudanças hormonais que comandam o aumento da glicogenólise e da gliconeogênese hepáticas e o tecido adiposo incluem a diminuição de insulina e o aumento de glucagon, adrenalina e noradrenalina. Os níveis plasmáticos de hormônio do crescimento, cortisol e hormônio estimulante da tireoide também aumentam e, da mesma forma, podem contribuir para a mobilização de substratos energéticos. 10 Ester Ratti ATM 25 A gliconeogênese hepática é ativada pelo aumento de suprimento de precursores (lactato, glicerol, aminoácidos e piruvato), pela indução das enzimas gliconeogenéticas por glucagon e cortisol (isso ocorre apenas no exercício prolongado) e pelo suprimento aumentado de ácidos graxos para fornecer ATP e NADH necessários para a gliconeogênese e a regulação das enzimas gliconeogenéticas. C. ÁCIDOS GRAXOS LIVRES COMO FONTE DE ATP Quanto maior a duração do exercício, maior é a dependência do músculo por ácidos graxos para a geração de ATP. O músculo esquelético em repouso utiliza ácidos graxos livres como substrato energético principal. Praticamente a qualquer momento, exceto o estado pós-prandial (imediatamente após a alimentação), os ácidos graxos livres são o substrato energético preferido pelo músculo esquelético. A utilização preferencial de ácidos graxos sobre glicose como substrato energético no músculo esquelético depende dos seguintes fatores: 1. Disponibilidade de ácidos graxos livres no sangue, que depende da sua liberação a partir dos triacilgliceróis do tecido adiposo pela lipase hormônio- sensível. Durante o exercício prolongado, a pequena diminuição de insulina e o aumento de glucagon, adrenalina e noradrenalina, cortisol e, possivelmente, hormônio do crescimento conjuntamente ativam a lipólise do tecido adiposo. 2. Inibição da glicólise por produtos da oxidação de ácidos graxos. A atividade da piruvato-desidrogenase é inibida por acetil-CoA, NADH e ATP, os quais estão elevados quando ocorre oxidação de ácidos graxos. Com a queda dos níveis de AMP e a elevação dos níveis de ATP, a atividade da PFK-1 fica diminuída 3. O transporte de glicose pode ser reduzido durante o exercício de longa duração. O transporte de glicose para os músculos esqueléticos via transportadores GLUT4 é muito ativado tanto por insulina quanto por exercício. Durante o exercício de longa duração, o efeito da queda dos níveis de insulina ou do aumento dos níveis de ácidos graxos pode contrabalançar a estimulação do transporte de glicose pelo próprio exercício. 4. A oxidação de corpos cetônicos aumenta durante o exercício. A sua utilização como substrato energético é dependente da sua velocidade de produção pelo fígado. Entretanto, os corpos cetônicos nunca são o principal substrato energético para o músculo esquelético (os músculos preferem ácidos graxos livres). 5. A acetil-CoA-carboxilase (isoenzima ACC-2) deve ser inativada para o músculo utilizar ácidos graxos. Isso ocorre quando a AMP-PK é ativada e fosforila a ACC-2, tornando-a inativa. D. AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA Foi estimado que a oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada fornece no máximo 20% do suprimento de ATP do músculo em repouso. A oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada no músculo serve a duas funções. ➢ A geração de ATP ➢ É a síntese de glutamina, que eflui do músculo. As mais altas taxas de oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada ocorrem sob condições de acidose, nas quais há uma maior demanda por glutamina para transferir amônia para o rim e para tamponar a urina como íon amônio durante a excreção de prótons. Deve- 11 Ester Ratti ATM 25 se lembrar que a síntese de glutamina ocorre a partir do esqueleto de carbono da oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada (valina e isoleucina) após os cinco primeiros passos iniciais da rota oxidativa. E. O CICLO DE NUCLEOTÍDEOS DA PURINA O exercício aumenta a atividade do ciclo dos nucleotídeos da purina, que converte aspartato em fumarato e amônia. A amônia é usada para tamponar a produção de prótons e de lactato pela glicólise, e o fumarato é reciclado, podendo formar glutamina. F. ACETATO O acetato é um excelente substrato energético para o músculo esquelético. Ele é tratado pelo músculo como um ácido graxo de cadeia muito curta. Ele é ativado a acetil-CoA no citosol e, então, transferido para a mitocôndria pela acetil-carnitina-transferase, uma isoenzima da carnitina-palmitoiltransferase. As fontes de acetato incluem a dieta (o vinagre é ácido acético) e o acetato produzido pelo fígado a partir do metabolismo do etanol. VII. EFEITOS METABÓLICOS DO TREINAMENTO SOBRE O METABOLISMO MUSCULAR O efeito depende, em certo grau, do tipo de treinamento. Em geral, o treinamento aumenta os estoques de glicogênio muscular, aumentando também o número e o tamanho das mitocôndrias. Assim, as fibras aumentam sua capacidade de gerar ATP pelo metabolismo oxidativo e sua habilidade de utilizar ácidos graxos como substrato energético. O treinamento para melhorar a força, o poder e a resistência do desempenho muscular é chamado de treinamento de resistência. Seu objetivo é aumentar o tamanho das fibras musculares (hipertrofia muscular). A hipertrofia ocorre por aumento da síntese protéica no músculo e por redução do turnover das proteínas existentes.
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