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Seleção de aspectos da oralidade na Odisseia cantos IX a XII

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Seleção de aspectos da oralidade na Odisseia – cantos IX a XII
O presente trabalho tem como objetivo identificar e discorrer sobre aspectos verificados
no trecho dos cantos IX a XII da Odisseia, de Homero, que remetem ao caráter oral da obra. Essa
seleção dos trechos se justifica pois corresponde aos cantos escolhidos para leitura na disciplina.
Os aspectos principais são: a repetição de versos e a antecipação de acontecimentos posteriores,
acompanhados da sua definição teórica. Além disso, é discutida brevemente a maneira com que
esses aspectos podem influenciar o leitor contemporâneo.
O primeiro aspecto a ser abordado é a repetição de determinados versos em diversos
cantos, ao longo da obra. Esses versos indicam o início da sentença, mas o final dela varia de
acordo com a situação em que o herói e seus companheiros se encontram: parece ser quase um
“modelo” a ser seguido em certas situações. O seguinte trecho serve como exemplo: “Quando
surgiu a que cedo desponta, a Aurora de róseos dedos”. Ele ocorre, somente durante os cantos
contemplados nesse trabalho, 8 vezes, como no canto IX, 152, 153: "Quando surgiu a que cedo
desponta, a Aurora de róseos dedos, percorremos a ilha, maravilhando-nos com o que víamos.".
e no canto XII, 8, 9, 10: "Quando surgiu a que cedo desponta, a Aurora de róseos dedos, mandei
os companheiros ao palácio de Circe, para de lá trazerem o morto, o falecido Elpenor.".
Embora uma “repetição” de 8 vezes possa parecer, à primeira vista, pouco expressiva,
não se pode fazer tal afirmação, pois esse elemento certamente é percebido pelo leitor/ouvinte,
sem demandar que ele dedique atenção minuciosa aos detalhes da obra. Isso ocorre, pois, tal
padrão confere um ritmo singular e uma maneira de narração bastante agradável.
Além disso, outro fator que contribui para a consciência sobre esse elemento é a
recorrência em diversos outros versos, utilizadas da mesma maneira, mas intercalados uns entre
os outros. Uma das repetições mais frequentes é “Assim falei”, (há possibilidade de o verbo estar
flexionado – falou/falaram/falando, etc.), que ocorre 71 vezes nos cantos aqui abordados, após as
falas dos personagens, ou “Assim dizendo” e suas variantes, que ocorre 6 vezes.
Também é importante observar que, por vezes, algumas dessas “repetições” são mais
utilizadas em determinados cantos do que em outros, como ocorre com o primeiro exemplo
citado: no canto XI, onde Ulisses se encontra no Hades, não há utilização desse verso sobre o
nascer do sol. Isso ocorre, possivelmente, pois esse elemento não está presente no ambiente da
obra nesse canto em específico.
Ademais, alguns elementos, possuem certas caracterizações frequentes durante a obra.
Pode-se tomar como exemplo a “Aurora”, pois ela é denominada “Aurora de belas tranças”
(canto IX, 9/canto X, 144) e “Aurora de trono dourado” (canto XII, 12) algumas vezes no
decorrer dos cantos. Assim, esse outro tipo de menção ao elemento/personagem, também é
relevante, pois retoma suas qualidades e, dessa maneira, contribui para sua caracterização, bem
como para a lembrança de tal caracterização por parte do leitor.
Já o segundo aspecto trata da antecipação de acontecimentos posteriores, que se dá em
trechos maiores e semelhantes, e não em alguns versos idênticos como na repetição. Pode-se
citar o exemplo que ocorre ao final do canto X, quando Circe aconselha Ulisses sobre como
chegar à morada de Hades e o como proceder quando estiver lá para cumprir seus objetivos. No
início do canto seguinte, a narrativa retoma alguns detalhes que já haviam sido adiantados por
Circe, de maneira bastante similar.
Convém agora, entender como esses dois aspectos são entendidos no meio acadêmico.
Pereira traz a definição de Parry sobre que entendemos anteriormente como a repetição de
versos: trata-se da fórmula. Milman Parry (1928, p.19, apud Pereira, 1984) a define como "uma
expressão regularmente empregada, nas mesmas condições métricas, para exprimir uma certa
ideia essencial”.
Quanto ao segundo aspecto, Xanthakos (2010) sintetiza a discussão sobre ele: é
frequentemente chamado de cena-típica ou tema, considerando que ainda não há um consenso
sobre a nomenclatura mais adequada. Esse autor expõe as ideias Lord (1991), que entende que o
tema, na literatura oral, tem o seu conteúdo declarado quase nas mesmas palavras em todos os
momentos que o cantor o aborda.
Partindo da definição teórica adequada, é possível pensar sobre os efeitos que esses dois
elementos da poesia homérica têm sobre seus ouvintes/leitores. Primeiramente, é válido atentar
para o leitor contemporâneo da obra e os possíveis impasses que podem ser encontrados por ele
durante a leitura. É necessário considerar que o verso normalmente não é tão comum para esse
leitor, visto que, atualmente, a maior parte das produções faz uso da prosa. Além de lidar com tal
possível estranhamento inicial com a forma, também pode ser que o leitor careça de propriedade
sobre os personagens ou acontecimentos referenciados. Assim, um conhecimento prévio sobre
aspectos da Antiguidade Grega pode ser importante nesse sentido, para ser aprofundado a partir
do contato com a obra.
Quando superados esses empecilhos, o leitor é capaz de desfrutar da maestria com que a
história é contada e entrar em contato com os aspectos da cultura oral referenciados
anteriormente. Pode ser que eles não sejam totalmente compreendidos em um primeiro
momento, mas, certamente, serão notados pelo leitor e é muito provável que, além de chamar sua
atenção, eles facilitem a assimilação dos fatos contados. À primeira vista, pode parecer que tal
“repetição” seria incomodativa para o leitor contemporâneo, entretanto, é muito provável que a
maneira com que ela é feita, tentando conferir certo ritmo ao texto, a torne atrativa. São,
definitivamente, aspectos capazes de cativar o leitor contemporâneo, mesmo que talvez ele não
tenha plena consciência da origem oral e do propósito dessas construções.
Aqui, é possível traçar um paralelo sobre a capacidade de cativar o leitor e a concepção
de Platão quanto a poesia: ele entende que ela, dotada de tais elementos orais, teria a capacidade
de encantar o leitor, mas repreende essa característica e defende que tal abordagem deve ser
renunciada. A crítica se pauta principalmente no caráter educativo das poesias orais, que serviam
como meio para que que os conhecimentos fossem transmitidos entre as gerações, a partir do seu
ritmo e de seus padrões, capazes de conservar tais informações sem grandes mudanças.
(HAVELOCK, 1996).
Diante do exposto, foi possível identificar dois aspectos advindos da oralidade contidos
nos cantos IX a XII da Odisseia: a fórmula, utilizada a nível de versos e a cena típica (ou tema)
que se constitui em trechos maiores. Além disso, é possível especular sobre a influência desses
aspectos quando encontrados pelo leitor contemporâneo, de maneira a concluir que eles têm
potencial para influenciar positivamente na leitura e compreensão da obra.
Referências Bibliográficas
HAVELOCK, E. Prefácio a Platão. Campinas, SP: Papirus, 1996.
HOMERO. Odisseia. Tradução de Frederico Lourenço. São Paulo: Penguin Classics Companhia
das Letras, 2011.
LORD, A. B. Epic Singers and Oral tradition. Cornell University Press, 1991.
PARRY, M. L'Epithète tratlitiotielle dans Homère, Paris, 1928, p. 16.
PEREIRA, M. H. da R. — Fórmulas e epítetos na linguagem homérica. Alfa, São Paulo, 28:1-9,
1984.
XANTHAKOS, V. Cena-típica e tema em Homero: recepção do hóspede no Canto XIV da
Odisseia. CODEX -- Revista de Estudos Clássicos, [s. l.], v. 2, n. 1, p. 162–171, 2010. Disponível
em: https://doi.org/10.25187/codex.v2i1.2829
https://doi.org/10.25187/codex.v2i1.2829

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