Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COMPARAÇÃO ENTRE AS AÇÕES DO CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. No ordenamento jurídico brasileiro há dois tipos de controle de constitucionalidade, o controle difuso, conhecido também como via de exceção e o controle concentrado, conhecido por via de ação, o qual daremos enfoque no presente trabalho. Para introduzir, o controle concentrado de constitucionalidade nasceu na Áustria, na Constituição de 1920, quando da criação da Corte Constitucional para o controle das normas, sendo a norma, finalidade e objeto da ação, a qual tem efeito “erga omnes”, ou seja, vincula-se a todos. No Brasil, a “Corte Constitucional” que exerce o controle concentrado é o Supremo Tribunal Federal (STF), em regra, como previsto na Constituição Federal de 1988, através das ações constitucionais, as quais apresentaremos mais adiante. Porém, tendo cada unidade da Federação autonomia em determinados assuntos disciplinados pela a CF/88, sendo exceção à regra e tendo previsão na Constituição Estadual de cada Estado membro da Federação, tem competência o Tribunal de Justiça para fazer o controle de constitucionalidade concentrado das normas ou atos normativos, sejam eles estaduais ou municipais, que contrariam a Constituição Estadual, assim prevê o art. 125, §2º da CF/88. Como exposto inicialmente, há quatro ações previstas para o controle de constitucionalidade concentrado brasileiro, sendo elas: Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO). A Ação Direta de Inconstitucionalidade, conhecida também como ADI genérica ou ADIN, tem seu fundamento constitucional no art. 102, inciso I, alínea “a primeira parte, da Constituição Federal, além disso, é regulamentada pela lei 9.868/99, lei esta que regulamenta também a Ação Declaratória de Constitucionalidade e a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. O objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade é a lei ou ato normativo federal ou estadual (a súmula 642 do STF disciplina que a lei distrital pode ser objeto de ADI em face da CF, desde que editada pela Câmara distrital, que tem competência estadual), como previsto no art. 102, inciso I, alínea “a”, primeira parte, da CF/88. Entende por lei, as espécies previstas no art. 59 da CF e por ato normativo, os atos primários da União ou dos Estados (MENDES;BRANCO, 2018), sendo atos editados por pessoas políticas, tendo como características a abstração, generalidade e autonomia, como por exemplo regimento interno dos Tribunais (DANTAS, 2019). Vejamos um exemplo de Ação Direta de Inconstitucionalidade, que tem por objeto a lei 933/2005 do Estado do Amapá, a qual foi julgada a inconstitucionalidade da lei por afronte a uma norma constitucional que reserva a iniciativa de lei sobre custas judiciais aos órgãos superiores do Poder Judiciário: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 933/2005, do Estado do Amapá, de origem parlamentar. Concessão de isenção de taxa judiciária para pessoas com renda de até dez salários-mínimos. 3. Após a EC 45/2004, a iniciativa de lei sobre custas judiciais foi reservada para os órgãos superiores do Poder Judiciário. Precedentes. 4. Norma que reduz substancialmente a arrecadação da taxa judiciária atenta contra a autonomia e a independência do Poder Judiciário, asseguradas pela Constituição Federal, ante sua vinculação ao custeio da função judicante. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 3629, Relator (a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-065 DIVULG 19-03-2020 PUBLIC 20-03-2020) (STF - ADI: 3629 AP - AMAPÁ 0005904-39.2005.1.00.0000, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 03/03/2020, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe- 065 20-03-2020). Cabe destacar, que as súmulas não podem ser objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade, pois não possuem o grau de normatividade qualificada, não podendo ser questionada por controle concentrado no STF (LENZA, 2017). No art. 103, primeira parte, da Constituição Federal temos os legitimados para a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade, sendo quatro pessoas: Presidente da República, Governador de Estado da Federação, Governador do Distrito Federal e Procurador- Geral da República; quatro mesas: mesa do Senado Federal, mesa da Câmara Federal, mesa de Assembleia Legislativa dos Estados e ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, e por fim, o partido político com representação no Congresso Nacional, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), confederação sindical ou entidade de classe no âmbito nacional. Os legitimados são divididos em dois grupos, o primeiro é os legitimados universais e o outro são os legitimados que precisam de uma pertinência temática para postular a ADI, são eles: o Governador de Estado ou Distrito Federal, a mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara do Distrito Federal, a confederação sindical ou a entendida de classe no âmbito nacional. Importante pontuar, que essa pertinência temática é a demonstração de que o tema deduzido na ação faz relação direta com a finalidade institucional de tais legitimados (DANTAS, 2019). Como mencionado anteriormente, Ação Direta de Inconstitucionalidade tem sua regulamentação na lei 9.868/66, que dispõe de todo procedimento da ADI, como por exemplo, a existência da possibilidade da concessão de medida cautelar, salvo nas hipóteses elencadas no art. 10 da lei 9.868/99, a proibição de desistência da ação após a propositura, conforme o art. 5º da mencionada lei. Ainda, temos a competência do julgamento da ação, que é do Pleno do Supremo Tribunal Federal, sendo a maioria absoluta, exceto em época de recesso Florence. Cabe destacar, que no art. 7º da lei 9.868/99 há uma proibição quanto a intervenção de terceiros na ADI, uma vez que a natureza da ação não é subjetiva, ou seja, não é julgado as particularidades. Porém o paragrafo segundo permite a figura do “amicus curiae”, sendo o terceiro de interesse geral. Além disso, cabe salientar a natureza da ADI é dúplice, pois uma vez declarada a improcedência da ação, a consequência é a Constitucionalidade da lei ou ato normativo, seja estadual ou federal. Ainda, as decisões da ADI produzirão efeitos vinculantes ao Poder Judiciário e a Administração Pública Direta e Indireta, desvinculando o Poder Legislativo, ou seja, não há impedimento para que o legislativo propõe um novo projeto de lei de determinado assunto que foi declarado inconstitucional. No mesmo artigo constitucional que fundamenta a ADI, temos na segunda parte do art. 102, inciso I, alínea “a” da CF, a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC OU ADECON), que foi instruída no texto Constitucional pela a emenda n. 3/93 (DANTAS, 2019), regulamentada também pela lei 9.868/99, como já mencionado. A Ação Declaratória de Constitucionalidade, segue quase todos os parâmetros da Ação Direta de Inconstitucionalidade. Sua finalidade é trazer maior segurança jurídica, além disso tem por objetivo transformar uma presunção relativa de constitucionalidade em absoluta, vinculando os órgãos inferiores do Poder Judiciário a não declarar tal lei ou ato normativo inconstitucional. Diferente da Ação Direta de Inconstitucionalidade, a Ação Declaratória de Constitucionalidade tem como objeto somente lei ou ato normativo federal, como previsto no art. 102, inciso I, alínea “a”, da CF/88, excluindo a lei ou ato normativo estadual. Em relação a competência e aos legitimados para a propositura da ação, a ADC segue os mesmos parâmetros que a ADI, tendo a competência originária do Supremo Tribunal Federal (STF) e os legitimados do art. 103 da CF/88. Importante destacar, que a emenda n. 45/2004, revogou o §4º doart. 103, que elencava os legitimados para a propositura da ADC. Como anteriormente exposto, a Ação Declaratória de Constitucionalidade também se regulamenta pela Lei 9.868/99, além do procedimento fixado pelo STF antes da referida lei, disciplinando assim, o processamento da determinada ação, além de outras disposições como veremos. Assim como na ADI, a Ação Declaratória de Constitucionalidade tem previsão da concessão da medida cautelar, antes do julgamento, previsto no art. 21 da lei 9.868/99, sendo uma decisão por maioria absoluta do STF, além de ter prazo de 180 dias para o julgamento definitivo, como previsto no parágrafo único do referido dispositivo. A figura do “amicus curea” não é previsto na Ação Declaratória de Constitucionalidade, tendo o dispositivo vetado. Porém, por analogia ao art. 7º, §2º, da lei 9.868/99, que disciplina a figura do “amicus curea” na ADI, é possível a utilização do “amicus curea” na ADC. Segundo disposto no art. 14 da Lei 9.868/99, a petição inicial da Ação Declaratória de Constitucionalidade indicará a lei ou ato normativo federal questionado, os fundamentos, os pedidos específicos, a existência de controvérsia relevante, a procuração judicial quando subscrita por advogado, sendo acompanhada de duas vias, se for o caso. Ainda, cabe destacar que somente as petições propostas por partidos políticos e por confederações sindicais ou entidades de classe no âmbito nacional é que precisam de patrocínio do advogado (DANTAS, 2019). Como na Ação Direita de Inconstitucionalidade, na Ação Declaratória de Constitucionalidade não é permitida a desistência na ação, conforme se extrai do art. 16 da lei 9.868/99. Ainda, não há prazo para a sua propositura e conforme o art. 26 da mencionada lei, a decisão é irrecorrível, podendo apenas opor embargos de declaratórios. Vejamos uma ementa de uma decisão referente as Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43 e 44: Ementa: “medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade. Art. 283 do código de processo penal. Execução da pena privativa de liberdade após o esgotamento do pronunciamento judicial em segundo grau. Compatibilidade com o princípio constitucional da presunção de inocência. Alteração de entendimento do supremo tribunal federal no julgamento do hc 126.292. Efeito meramente devolutivo dos recursos extraordinários e especial. Regra especial associada à disposição geral do art. 283 do CPP que condiciona a eficácia dos provimentos jurisdicionais condenatórios ao trânsito em julgado. Irretroatividade da lei penal mais gravosa. Inaplicabilidade aos precedentes judiciais. Constitucionalidade do art. 283 do código de processo penal. Medida cautelar indeferida...” A presente ementa, refere ao julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43 e 44, na qual o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu pela Constitucionalidade da prisão após o trânsito em julgado, como previsto na Constituição Federal de 1988 e no Código de Processo Penal, decisão esta que gerou muita discussão em todos os âmbitos da sociedade. Além da Ação Direta de Inconstitucionalidade e da Ação Declaratória de Constitucionalidade, temos a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), tendo seu fundamento constitucional no art. 102, §1º da Constituição Federal de 1988, de acordo com a EC n. 3/93 e regulamentada pela lei 9.882/99. O art. 1º da lei 9.882/99 dispõe sobre a competência para a propositura e o objeto da ação, sendo do Supremo Tribunal Federal competente para processar e julgar a demanda e tendo como objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental. Em relação ao objeto, a Arguição se diferencia das outras duas ações já comentadas (ADI e ADC), pois aqui o objeto da demanda é um ato do poder público municipal, estadual ou federal, ainda que anteriores a Constituição Federal de 1988, conforme prevê o artigo supra mencionado. Ainda, o objetivo da ADPF é para evitar lesão a preceito fundamental por ato do Poder Público, reparar lesão a preceito fundamental resultado de ato do Poder Público, e quando houver relevante controvérsia constitucional sobre a lei ou ato normativo. (DANTAS, 2019) Os legitimados para a propositura da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental são os mesmos da Ação Direita de Inconstitucionalidade e Ação Declaratória de Constitucionalidade, tendo o rol previsto no art. 103 da Constituição Federal. Importante destacar, que a ADPF é uma ação subsidiária, ou seja, não havendo outra forma de questionar determinado preceito fundamental, deve esta ação constitucional ser o meio de impugnação, conforme determina o art. 4º, §1º da lei 9.882/99. Seguindo a comparação dos procedimentos das ações constitucionais aqui discutidas, como já mencionado, a ADPF é regulamenta por uma lei diversa da ADI e da ADC, por tanto, tem um procedimento próprio. Em relação a petição inicial, a previsão está no art. 3º da lei 9.882/99, que dispõe da necessidade de indicação do preceito fundamental supostamente violado, a indicação do ato questionado, a prova da violação, o pedido, a controvérsia judicial, caso for relevante, o acompanhamento de instrumento de mandato, se for necessário e outros documentos. Assim, como nas ações constitucionais ADI e ADC, seguindo os parâmetros, na ADPF é previsto o pedido de medida liminar no art. 5º da Lei n. 9.882/99, na qual a decisão precisa da maioria dos votos absolutos dos ministros do STF, desde que esteja 2/3 dos ministros presentes, sendo que, em caso de urgência ou recesso, poderá a liminar ser concedida pelo relator, ouvindo o Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da República. Além disso, a decisão do pedido da Ação de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é irrecorrível e não pode ser objeto de ação rescisória, como previsto no art. 12 da lei 9.882/99. E assim, como na ADI e a ADC que tem previsão na lei que as regulamenta (lei 9.868/99), entende-se que por analogia, cabe os embargos declaratórios na ADPF. Por fim, os efeitos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental seguem também os parâmetros da Ação Direta de Inconstitucionalidade e da Ação Declaratória de Constitucionalidade, tendo sua eficácia “erga omnes” e seu efeito vinculante, sendo a decisão imediatamente autoaplicável. Vejamos a ementa de uma decisão de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental que foi julgada improcedente, que tinha como objeto atos que instituíram a reserva legal de cotas para o ingresso na instituição pública de ensino superior: Ementa: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ATOS QUE INSTITUÍRAM SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-RACIAL (COTAS) NO PROCESSO DE SELEÇÃO PARA INGRESSO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 1º, III, 3º, IV, 4º, VIII, 5º, I, II XXXIII, XLI, LIV, 37, 205, 206, I, 207, 208, V, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. I Não contraria - ao contrário, prestigia o princípio da igualdade material, previsto no caput do art. 5º da Carta da Republica, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho universalista, que abrangem um número indeterminados de indivíduos, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir- lhes a superação de desigualdades decorrentes de situações históricas particulares. II O modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanismos institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação puramente formal do princípio da igualdade. III – Esta Corte, em diversos precedentes, assentou a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa. IV Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro históricode desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não podem ser examinadas apenas sob a ótica de sua compatibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro. V - Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um dos fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição. VI - Justiça social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir riquezas criadas pelo esforço coletivo, significa distinguir, reconhecer e incorporar à sociedade mais ampla valores culturais diversificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles reputados dominantes. VII No entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação – é escusado dizer – incompatível com o espírito de qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim, respeitar a proporcionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos. VIII Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente. (STF - ADPF: 186 DF, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 26/04/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-205 DIVULG 17-10-2014 PUBLIC 20-10-2014). A última ação constitucional que vamos discutir, é a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, que tem seu fundamento constitucional no art. 103, §2º da Constituição Federal de 1988, que disciplina: “Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias”, e sua regulamentação nas leis n. 12.063/2009 e n. 9.868/99. O objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão é conceder plena eficácia às normas constitucionais que dependam de complementação legislativa ou de atuação do Poder Público (DANTAS, 2019). Ou seja, o objeto da ADO, são as normas constitucionais de eficácia limitada, que depende de uma norma regulamentadora, seja ela uma lei ou regulamentos, para sua aplicabilidade. Importante destacar, que segundo Dantas (2019), a simples existência de projeto de lei para uma possível regulamentação da norma constitucional não é suficiente para afastar a inconstitucionalidade por omissão, pois é um projeto que vai seguir o seu trâmite e pode ou não ser aprovado. Assim como na Ação Direta de Inconstitucionalidade, na Ação Declaratória de Constitucionalidade e na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão os legitimados são os mesmos previstos no art. 103, “caput”, da CF/88, sendo na ADO disciplinado pelo art. 12-A da lei n. 12.063/2009. O “amicus curiae” na Ação Direita de Inconstitucionalidade por omissão tem previsão legal através da interpretação do art. 12-E, §1º da lei n. 9868/99, que foi incluído pela lei n. 12.063/2009, estabelecendo as manifestações por escritos pelos interessados. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, diferente das outras, o art. 12-F da lei n. 9.686/99 estabelece que será concedida medida liminar em caso de excepcional urgência e relevância matéria, por decisão da maioria absoluta dos ministros do Supremo Tribunal Federal, respeitando o quórum de 2/3 dos ministros presentes, após audiência com os órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional, estes que terão prazo de cinco dias para se manifestarem. Em comparação aos procedimentos das ações constitucionais, a ADO segue quase todos os parâmetros de procedimentos da Ação Direta de Inconstitucionalidade, acrescidas das regras do art. 12-E da lei 9.858/99 (artigo acrescentado pela lei 12.063/2009), que estabelece a manifestação por escrito dos titulares, a manifestação do Advogado-Geral da União que poderá ser solicitada pelo relator, a vista do processo pelo Procurador-Geral da República na ações em que não for autor. Como na Ação Direta de Inconstitucionalidade, na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão após sua propositura não é permitido a desistência da ação, conforme o art. 12-D da lei 9.868/99 e não há prazo para sua propositura, conforme dispositivo da mesma lei. Outra comparação importante, é que assim como nas outras ações, decisão que declara a existência de omissão inconstitucional, é irrecorrível, sendo passível apenas de embargos de declaração, não podendo ser objeto de ação rescisória. Os efeitos da decisão da ADO, estão previstos no art. 103, §2º da CF/88 e se diferencia das outras ações constitucionais. Sendo que para o poder competente, será dado ciência da decisão, enquanto para o órgão administrativo o prazo para que determinada omissão seja cumprida no prazo de 30 dias, sob pena de responsabilidade. Vejamos a ementa da decisão da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n. 26: E M E N T A: ação direta de inconstitucionalidade por omissão – exposição e sujeição dos homossexuais, transgêneros e demais integrantes da comunidade LGBTI+ a graves ofensas aos seus direitos fundamentais em decorrência de superação irrazoável do lapso temporal necessário à implementação dos mandamentos constitucionais de criminalização instituídos pelo texto constitucional (CF, ART. 5º, INCISOS XLI E XLII) – a ação direta de inconstitucionalidade por omissão como instrumento de concretização das cláusulas constitucionais frustradas, em sua eficácia, por injustificável inércia do poder público – a situação de inércia do estado em relação à edição de diplomas legislativos necessários à punição dos atos de discriminação praticados em razão da orientação sexual ou da identidade de gênero da vítima.. Neste caso, o Supremo Tribunal Federal julgou a omissão do Poder Legislativo em criminalizar a pratica de homofobia, configurando sua tipificação na lei de Racismo, até que se cria uma lei especifica para tal tema, uma vez que a atribuição de legislar, em regra, é do Legislativo e não do Poder Judiciário. Em síntese, após a abordagem das quatro ações constitucionais, verifica-se uma proximidade nos procedimentos e alguns parâmetros entre a Ação Direta de Inconstitucionalidade e a Ação Declaratória de Constitucionalidade, uma vez que ambas têm caráter dúplice, forma de propositura idêntica, proibição de desistência e outros. E apesar do objeto de ambas ser diferente, já que na ADI falamos em lei ou ato normativo estadual e federal e na ADC lei ou ato normativo federal, apenas, é de suma importância as duas ações no ordenamento jurídico. Em relação a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, além de seguir alguns parâmetros da ADI e ADC, tem suas particularidades, já que é uma ação subsidiária, devendo ser usado em último caso, como exposto. Mas, também de suma importância dentro do Estado Democrático de Direito. E por fim, a Ação Direita de Inconstitucionalidade por Omissão, que também segue os parâmetros da ADI e ADC, e tem como objetivo chamar a atenção do legislativo ou do órgão administrativo para determinadas demandas, os quais são omissos. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988. Brasília,Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 maio 2020. LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2017 MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional / Alexandre de Moraes. - 34. ed. - São Paulo: Atlas, 2018.
Compartilhar