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Awake #04 - Just A Dream - Ashleigh Giannoccaro

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Sinopse 
 
Kian ainda está acordado e Ivy ainda está sonhando. 
 
Isso é um pesadelo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo Um 
 
Kian 
 
Sinto falta dela, tudo nela. Acima de tudo, sinto falta de vê-la 
dormir. Alguns dias eu até sinto falta daquelas horas de vigília e 
dos momentos que passamos juntos. Há uma dor onde ela 
costumava estar, essa dor ardente que me reduz a lágrimas se eu 
me permitir pensar nela. O desejo de estar cercado por pessoas é 
esmagador. Sento-me em lugares lotados, vejo o mundo do meu 
apartamento, construindo histórias para os rostos que vejo, criando 
mundos em minha imaginação. Apenas para eles partirem alguns 
minutos depois. 
Quando fecho meus olhos, eu a vejo. Toda vez ela está lá, 
dormindo em seus lençóis brancos, sua camisola de seda envolve 
seu corpo como um presente. Ainda estou pagando o aluguel do 
apartamento em frente a ela. Eu nem sei se ela ainda está lá, mas 
não pude deixar isso para lá. Eu não estive lá, não querendo sentir 
a amarga decepção de ver alguém através da lente do meu 
 
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telescópio. E se ela se foi para sempre? Não consigo imaginar 
perdê-la novamente. Não, assim ela ainda é minha, eu ainda posso 
vê-la quando fecho os olhos. 
Meu pai me mandou direto para a clínica do sono depois que 
eu ataquei Austin novamente naquela noite, e ele me colocou para 
dormir. Literalmente. Eu precisava, o meu cérebro precisava do 
resto ou acabaria morrendo, mas eu não queria. Não queria perdê-
la. 
— Kian. – diz Kade, me trazendo de volta à realidade e longe 
das multidões de pessoas andando pela cafeteria. — Você vem? – 
ele pergunta. Não tenho ideia de onde ele quer que eu vá, mas 
concordo sem pensar. Concordo, porque se eu não concordar eles 
começaram a se preocupar e pairar novamente. É mais fácil fazer 
o que querem que eu faça, como pedir desculpas a Austin, fazer 
terapia, ficar com meu pai e visitar a clínica do sono uma vez por 
mês durante uma semana. A vida é simples se eu fizer o que eles 
pedem, e quando não estão por perto, e eu estou sozinho, fecho os 
olhos para ver Ivy. — Você está ouvindo? – ele me pressiona por 
uma resposta. 
— Desculpe, eu me distraí. Onde estamos indo? 
— Você está bem? Você está distante? – ele começa a 
inquisição. — Eu disse que vamos sair de barco para um dia de 
caras. E um pouco de pesca e cerveja. 
— Sim, com certeza vou. Apenas deixe-me ver se não é uma 
semana que vou para a clínica. – eu respondo, mas internamente 
me encolho com a ideia de ficar preso no mar com eles por horas. 
 
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— Legal, será bom para todos nós. – ele quer dizer que será 
bom para eu fingir que não quero afogar Austin. — Você está 
bem? – ele me pergunta, abordando cuidadosamente o assunto 
com cautela. 
— Eu estou bem. – digo, porque é isso que devo dizer. Posso 
gritar que sinto falta dela, que gostaria de me encolher ao lado de 
seu corpo adormecido, abraçá-la e nunca acordar. Não, eu estou 
bem. — Estou com dias ruins, mas estou bem. – eu reitero, quando 
ele olha para mim com um olhar consciente. Há um momento de 
silêncio, onde ele quase acredita nas minhas mentiras. 
— Você não precisa mentir para mim, Kian. Sou seu amigo, 
você pode falar comigo. 
— Eu pago um terapeuta para isso. – sorrio de volta para ele. 
Ele levanta as mãos em sinal de rendição. — Estou apenas 
conversando. 
— O que você gostaria que eu dissesse, Kade? Que sinto falta 
dela? Eu sinto. Que luto uma batalha dentro de mim todos os dias 
para não sair e encontrá-la? Se eu começar a dizer, fica mais 
difícil ignorar a porra da agonia de não saber onde ela está. Estou 
bem. Eu continuo dizendo a mim mesmo e para todos os outros. 
— Eu só quero que você seja honesto comigo. 
— Não, você não quer. – eu respondo. — Se eu fosse honesto 
com você, você ficaria com medo e diria ao meu pai que preciso 
voltar para a clínica. Então, não minta. Você quer que eu melhore 
e isso nunca vai acontecer. 
 
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— É claro que eu adoraria que você ficasse melhor, Kian. Eu 
sei que você está doente, que essa é a sua realidade. Isso não 
significa que não pode compartilhar comigo. Eu quero te ajudar. 
— Então a traga de volta para mim. Porque essa é a única 
coisa que vai me ajudar. Ela ajudou. Ela melhorou isso por um 
tempo. 
— Você sabe que não posso fazer isso. – Isso é um empate. 
Toda vez que conversamos, chega a isso. Estou tentando tanto. 
Mas, eventualmente, eu sei que vou quebrar. 
 
 
Deixo o meu carro na mesma garagem onde costumava 
estacionar, para que ela não o visse. Guardando as minhas chaves 
e celular, meu coração dispara com a antecipação e medo. E se ela 
não estiver lá? E se ela estiver? 
Puxo a gola do casaco para proteger o pescoço do vento 
gelado e enfio as mãos nos bolsos para mantê-las aquecidas. Com 
a cabeça baixa, ando em direção ao meu apartamento. Não sei por 
que o guardei. Essa pequena parte de mim que sabia que eu 
poderia voltar simplesmente não podia deixar para lá. Abrindo a 
porta, as luzes fluorescentes zumbem acima de mim. Subo as 
escadas em vez do elevador até o lugar que me aproximou de Ivy. 
 
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Minha chave está dura na fechadura não utilizada e a porta se 
abre com dobradiças presas. Cheira a poeira e marasmo, com o ar 
espesso de abandono. Não acendo as luzes, não quero que 
ninguém saiba que estou aqui. A familiaridade do meu lugar 
especial volta e, mesmo à luz da lua, posso ir até a janela. Meu 
portal para o mundo dela. Eu quero desesperadamente olhar para 
lá, ver sua luz noturna. Mas, o medo do que eu poderia ver me faz 
parar. Meus olhos se fecham, eu fico lá com as mãos nos bolsos e 
a vejo em minha mente. Vendo seu sorriso, a suavidade de sua 
pele sob meus dedos. A maneira como seus olhos brilham quando 
ela está feliz, e o som do meu nome saindo de sua boca quando ela 
gozou para mim. Eu revivo essas memórias, de novo e de novo. 
Finalmente chegou a hora, preciso saber se minha Ivy ainda 
está lá. Abrindo os olhos, permito que eles se ajustem novamente 
à escuridão. O vazio ao meu redor é um lembrete de que, embora 
eu esteja acordado, é sempre apenas um sonho. Olho para a janela 
tranquila do outro lado da rua. A familiar luz brilhante que é seu 
cobertor de segurança me cumprimenta. Ela está lá. Minha Ivy 
ainda está lá, eu sabia que ela esperaria que eu a encontrasse 
novamente. Movendo-me para o meu telescópio, tirando a tampa 
da lente e limpando a poeira, respiro fundo antes de olhar para o 
mundo dela. 
Colocando em foco, eu posso ver seu copo na mesa de centro, 
a mancha familiar de batom na borda. Onde sua garrafa de vinho 
normalmente fica vazia está uma garrafa de água mineral e suas 
notas post-it grudadas em toda a superfície da mesa. Ivy ainda está 
lá; ela está vivendo, respirando e esperando. 
 
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Meus olhos examinam o apartamento dela, detalhando todas 
as coisas familiares. Então eu os movo, lentamente olhando para 
ver se ela já está na cama. Ela nunca fecha a porta do quarto, seu 
medo profundamente enraizado para deixar o quarto na escuridão. 
Seis meses é muito tempo, e eu me pergunto se ela tem a mesma 
aparência. Ela cortou o cabelo ou mudou de pijama? A garrafa ao 
lado da cama dela estará aberta? 
Procurando pela garrafa aberta primeiro, meu olhar vagueia, 
quando os meus olhos pegam algo desconhecido na mesa de 
cabeceira dela. Um relógio, mas não é o relógio dela. Um relógio 
de homem e sua carteira. A sensação familiar de raiva me atinge 
no intimo. Eu deveria parar, eu não deveria estar olhando. Eu não 
consigo me parar. Movendo o telescópio para que eu possa ver sua 
cama, a visão me rouba toda sanidade que eu tive. 
Ivy está dormindo, com seus longos cabelos espalhados no 
travesseiro e os lençóis puxados sobre seu corpo nu. Em volta 
dela, naquela curva perfeita entre os quadris e os seios, está o 
braço grande do homem que dorme ao lado dela.Ele repousa 
suavemente sobre sua barriga inchada. 
A bile sobe lentamente, queimando meu caminho antes de me 
sufocar enquanto eu engasgo e me levanto. Não consigo desviar o 
olhar, mas não quero ver. 
Ivy se esqueceu de mim. 
 
 
 
 
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Capítulo Dois 
 
Ivy 
 
Acordo antes de Will. Não querendo me atrasar, agora tenho o 
hábito de me levantar mais cedo. Começar o meu dia com uma 
rotina ajuda com a minha ansiedade. Meu terapeuta acha que uma 
rotina é essa cura mágica para um cérebro disperso que não 
consegue se concentrar - ainda estou cética. Pegando a garrafa de 
água vazia e nossos copos da mesa de centro, vou para a cozinha e 
ligo a máquina de café para Will. Minhas anotações são como um 
cobertor na mesa de centro. 
Adoro o meu novo emprego e, pela primeira vez, sinto como 
se estivesse no caminho certo. Minha vida está nos eixos, não 
fragmentos espalhados e manchas de sanidade. Enquanto o café 
ferve e minha torrada está na torradeira, pego todos os pedaços de 
papéis, pego minha mochila de laptop e procuro meus óculos nas 
fendas do sofá. Quando a torrada aparece, coloco tudo o que 
preciso para o meu dia na porta e tomo meu café da manhã. 
 
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O cheiro de café, pão quente e geleia flutuando pela pequena 
cozinha, e o som de Will no chuveiro me faz sorrir. As manhãs 
são a melhor parte do meu dia, e tenho um momento para me 
lembrar de todas as coisas pelas quais tenho que agradecer. Estou 
ouvindo o som sexy da música matinal do meu namorado, quando 
olho para a manhã tempestuosa de inverno. Eu ando para ficar na 
luz do sol irradiando pelas janelas, mais para aquecer minha alma 
do que meu corpo. Descansando minha caneca na minha barriga 
de quase seis meses de gravidez, dou uma olhada na rua abaixo. A 
cidade está acordando lentamente. Os carros começam a passar e 
as luzes da rua piscam quando a luz do dia entra. Um pombo 
malandro está no parapeito da janela, roubando parte do meu sol 
para aquecer suas penas. 
— Bom dia, linda. – A voz rouca chama-me da cozinha. 
— Bom dia. – digo. Quando me viro para olhá-lo, meu olho 
percebe um movimento no apartamento em frente ao meu. Meu 
pulso acelera imediatamente quando forço os olhos para ver o que 
pensei ter visto. Não há nada além de um pombo andando no 
parapeito da janela vendo seu próprio reflexo. Ele não está lá, 
digo para mim mesma em voz baixa, mas ainda assim meu corpo 
formiga com a sensação de estar sendo observada. Não sinto isso 
há tanto tempo, eu quase tinha esquecido como ele atormenta as 
cavidades mais profundas do meu estômago. Ignorando a sensação 
incômoda, eu me viro e encaro o homem na minha cozinha, com 
seu cabelo bagunçado de cachos loiros e uma camiseta branca 
envolvendo-o como um plástico filme. Will não é difícil de ver, 
ele é o oposto de Kian em todos os sentidos. Com sua pele clara, 
cabelos dourados e olhos azuis brilhantes, do jeito que ele é 
 
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infantil e divertido. Will não leva nada a sério, exceto a música 
dele, nem tenho certeza se ele está falando sério comigo. Ele está 
morando aqui há um mês e eu estou começando a ter sentimentos 
por ele, mas admiti-los o afugentaria. É difícil acreditar que um 
cara como ele estaria interessado em uma mulher grávida como 
eu. A irmã dele me disse que ele gosta de consertar as coisas, 
principalmente as pessoas, mas que eu não devo me apegar a ele 
porque, uma vez que estou consertada, ele vai embora. Duvido 
que algum dia seja tudo além de quebrada, então por enquanto sei 
que Will está comigo. 
— Você vem me ver depois do trabalho hoje à noite? – ele 
pergunta, me envolvendo em um abraço afetuoso com as suas 
covinhas fazendo os meus joelhos enfraquecerem sempre que ele 
sorri. 
— Claro que vou. Misha está indo também. – Will me beija, 
pegando minha caneca para que ele possa me abraçar um pouco 
mais. — O que você vai fazer hoje? – pergunto, roubando uma 
mordida da torrada dele. 
— Ir ao supermercado, porque não temos comida ou garrafas 
de água. – ele ri, jogando a garrafa vazia da noite passada. — E 
escrever alguma coisa. Então, esta tarde, reservei um tempo para o 
estúdio. Quer que eu leve seu almoço? – Will está sorrindo quando 
ele se vira e pisca para mim, insinuando o que está no menu do 
almoço. 
— Adoraria almoçar com você. – levanto minhas sobrancelhas 
para ele de brincadeira, antes de ver as horas. — Eu tenho que ir, 
não quero perder o meu trem. – Abraçando-o para um beijo de 
 
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verdade, um beijo mais profundo, que diz palavras que ele não 
fala. Will me dá um beijo de despedida antes de dar um tapa nas 
minhas costas enquanto passo por mim ele. — Não vá fazer as 
compras vestido como um mulherengo. – eu brinco, e ele ri. 
— Não posso deixar de ser assim. As mulheres simplesmente 
não têm chance contra minha aparência diabólica. 
— Coloque uma jaqueta. – eu brinco com ele enquanto saio 
pela porta. Sim, as manhãs são definitivamente a melhor parte do 
meu dia. 
Uso o trem para trabalhar agora, é tão conveniente e a estação 
fica a apenas uma quadra de distância. Puxando meu casaco 
apertado ao meu redor, inclino o queixo para baixo para evitar o 
vento frio e forte que sopra no meu rosto. Dou um pequeno 
passeio até a estação. Mais uma vez, sinto o arrepio do medo. Eu 
pensei em superar isso, já superei no meu passado. O bebê chuta, 
dando chutes rápidos que me pegam de surpresa. O medo desliza 
pela minha coluna como uma cobra pela dúvida. Olho por cima do 
ombro mais vezes do que posso contar e o alívio toma conta de 
mim quando entro na estação, as quatro paredes de alguma forma 
me protegem de meus próprios pensamentos. Eu acalmo o pânico 
antes que ele se torne um monstro novamente. No trem, envio um 
e-mail ao meu terapeuta e marco uma consulta, por uma 
precaução. Não quero voltar para onde estava há seis meses. A 
hora em que o trem passa rapidamente, eu entro na rotina de ouvir 
audiobooks no meu trajeto. Ninguém senta ao meu lado na 
maioria das manhãs, o trem é vazio o suficiente para que 
possamos nos espalhar e não entrar no espaço um do outro. À 
 
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noite, está cheio de corpos cansados, desperdiçando toda a boa 
energia no trabalho. O trem noturno é triste. 
Descansando as mãos na barriga, sinto meu homenzinho se 
mexer, movendo como se também estivesse tentando se sentir 
confortável com o passeio. Minha mente prega peças em mim e, 
novamente, consigo sentir os olhos em mim. Olhando ao redor da 
cabine, vejo um garotinho me observando. Seu doce sorriso e 
sardas esmagam o medo que está se formando, e eu lhe dou um 
pequeno aceno. Ele cora e se move para se esconder atrás de sua 
mãe. Você está imaginando coisas, não deixe sua mente controlar 
seus sentidos, eu me repreendo e volto a ouvir meu livro, contando 
as estações enquanto elas passam até que eu saiba que a minha é a 
próxima. 
Quando saio do trem, meu celular toca e, sem olhar, atendo. 
Ainda com meus fones de ouvido, sou recebido com a voz matinal 
de Misha do outro lado. 
— Alô, Sunshine, ainda vamos hoje à noite? Eu tenho meus 
saltos de prostituta na minha bolsa de trabalho. 
Eu dou uma risada para ela. — Sim, nos encontramos no seu 
escritório às cinco. Hoje saio cedo. – Abrindo caminho entre os 
corpos, movendo-me contra a maré, saio da estação em frente ao 
meu prédio. — Você pode trocar os saltos da prostituta no 
camarim, então. 
— Como está o seu rockeiro? Ele tem amigos gostosos? Eu 
realmente poderia fazer sexo hoje à noite. – Aí está minha amiga, 
ela não pode passar um dia sem pensar em sexo. 
 
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— Ele está bem, eu vou vê-lo no almoço. Vou perguntar se há 
músicos muito convenientes indo hoje à noite. 
— Que boa amiga, você é. – diz ela com uma risadinha. — Eu 
tenho que ir, mas te vejo mais tarde. 
— Tchau, Mish. – digo, pegando meus fones de ouvido e 
abrindo a porta de vidro do meu escritório. O calor do aquecedor 
central me envolve e posso sentir o meu corpo relaxar.Meus 
músculos relaxam quando eu pego o elevador para o quinto andar. 
O bebê também gosta do calor, já que se acalma, chutando meus 
rins um pouco menos. 
Não é o meu emprego dos sonhos, mas é um trabalho. Eu 
preciso disso, porque vou ser mãe e bebês custam dinheiro. 
— Bom dia, Ivy. – Beverley, minha chefe, me cumprimenta 
quando coloco minha cabeça em seu escritório para que ela saiba 
que cheguei. — Temos uma manhã inteira, então é um fim de 
semana prolongado para nós! – ela está tão animada quanto eu em 
tirar alguns dias de folga. Ela vai ao casamento do filho e também 
me deu o fim de semana prolongado. 
— Vocês estão prontos para o grande dia? – pergunto a ela. 
Ela é legal, provavelmente a primeira chefe genuinamente legal 
que já tive. 
— Ainda não gosto dela, mas não consigo parar isso. Então, 
estou comprometida em ir, parecendo fabulosa e drenando toda a 
bebida pela qual seu pai está pagando. 
Rindo de sua antipatia por sua nova nora, saio para colocar 
minhas coisas na minha mesa, tomar um café descafeinado e 
 
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começar o dia. Eu deveria parar com o café, eu sei, mas tive que 
parar com o vinho. Então, o bebê pode ter me dado uma coisa para 
me manter sã. 
Satisfeita, abro meus projetos para a semana, encerro todas as 
minhas vendas e envio meus relatórios para a Bev. 
— Apexsun Pharmaceuticals, bom dia. Aqui é Ivy. – eu 
atendo uma ligação piscando no telefone. — Sim, senhor. Beverly 
está hoje. Quem devo dizer que está ligando? 
Quando o ouço dizer Dr. Jonathan K. Stanton, quase deixo o 
telefone. Tentando manter a calma, digo: — Certamente, espere. –
O telefone toca quatro vezes antes de Bev atender. — É o Dr. 
Stanton, Bev. 
— Obrigada, Ivy. – Assim que a ligação é transferida, eu 
tenho que recuperar o fôlego e paro de hiperventilar antes que 
alguém me veja caindo aos pedaços. O que seu pai poderia querer 
de nós? 
Ele é médico, Ivy, minha lógica me diz. 
Kian está tentando te encontrar, minha loucura fala mais alto. 
Observo e espero a luz vermelha se apagar, sinalizando que a 
ligação terminou. Sento-me na minha mesa, enxugando as palmas 
das mãos suadas na saia, uma e outra vez, esperando Bev me 
chamar e me dizer o que é que ele queria, mas ela não chama. Eu 
me mantenho ocupada, me distraindo com minhas tarefas diárias e 
faço uma lista de projetos que precisam ser concluídos nas 
próximas semanas. 
 
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Quando Will entra no meu escritório com um jeans rasgado, 
uma camisa preta e sua jaqueta de couro, eu não poderia estar 
mais feliz em vê-lo, a distração é bem-vinda. Meus próprios 
pensamentos estavam começando a chegar a território perigoso. 
— William. – Bev cumprimenta saindo de seu escritório, 
trancando a porta. Não perco a maneira como ela olha para ele, 
despindo-o com os olhos. — Que bom ver você. – Virando-se para 
mim, ela diz: — Estou indo. Vejo você na terça-feira. 
— Tchau, Bev. – eu digo adeus enquanto ela sai do escritório, 
deixando eu e Will sozinhos. 
— Pronta para o almoço? – ele diz, sentado na minha mesa. 
— Quase, me dê dois minutos para fechar tudo e mudar os 
telefones para o serviço de atendimento. – ele brinca com o meu 
post-it enquanto espera, e a adrenalina anterior desaparece. Will 
traz uma calma ao meu mundo que não consigo explicar. Sua 
atitude despreocupada, e a maneira como ele nunca se estressa 
com nada me afetam. 
— Vamos lá. – digo, empurrando minha cadeira para trás. 
Will agarra meu braço e me puxa, girando minha cadeira entre as 
pernas dele. 
— Ou podemos pedir e profanar o seu escritório. – ele pisca. 
Com aqueles olhos azuis brilhando com desejos diabólicos. — 
Essa porta tranca? – ele pergunta. 
— Sim. – eu respondo. — Chinês ou pizza? 
Will sorri para mim, inclinando-se para frente, ele me beija, 
então paira sobre mim olhando para baixo na minha blusa. 
 
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Capítulo Três 
 
Kian 
 
Houve uma fração de segundo em que ela me viu, quando 
olhou novamente, sua expressão mudou. Percebi a maneira como 
ela se preocupava com o lábio inferior e mexia nas coisas, 
movendo-as e depois vi tudo desaparecer quando ele entrou na 
sala. Ela irradiou - do jeito que costumava comigo e o ciúme 
corrói o meu coração. Afastando-me da janela e para as sombras, a 
vejo se preparando para sair. Eu posso senti-la me esquecendo. 
Estou hipnotizado por vê-la, é como estar em casa, como se 
nunca tivesse ido embora. Exceto ele. Quando ela o beija, paro de 
olhar, saindo pela porta. Eu deveria sair, ir para casa e esquecer 
Ivy - ela me esqueceu. Eu queria poder. Em vez disso, espero nas 
sombras entre os edifícios, observando sua porta da frente, 
esperando que ela vá trabalhar. Ela está tão calma e sem pressa 
quando sai para a manhã fria, o vento soprando seus cabelos ao 
redor do rosto e o casaco apertado contra ela. 
 
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Eu senti falta dela, das pequenas coisas e das grandes coisas. 
O jeito que ela cheira e o gosto do batom na taça de vinho. Sua 
suavidade quando eu a abracei. 
Eu me pergunto o quanto bem seu novo amigo dorme? Ela 
ainda toma as pílulas à noite? 
Vinte e sete passos, conto-os, depois passo para a calçada e a 
sigo atrás de um grupo de homens de terno. Ela ainda olha em 
volta, procura a fonte de seu mal-estar. Ivy me sente, mesmo 
quando não me vê. O coração dela sabe que estou aqui. Mantendo 
meus olhos baixos e meu moletom de capuz erguido, ela não me 
vê no mar de corpos fluindo para a estação de trem. De um banco 
duro, eu a observo, ela verifica a hora e caminha um pouco antes 
de ir para a plataforma. Compro um bilhete de metrô que me 
permite viajar em qualquer trem para a próxima semana, 
procurando constantemente ver que não a perdi de vista. 
Entro no trem, em um vagão, e paro na porta que os separa o 
passeio inteiro. Observando-a, ela sorri para um garotinho, com os 
fones de ouvido, ela ouve alguma coisa. Vejo os olhos dela 
fecharem e a cabeça descansar no encosto do banco. A luz do sol 
da manhã capta os reflexos em seus cabelos, como uma auréola ao 
redor de sua cabeça. Seus dedos batem no joelho. Cada detalhe 
dela atualiza a necessidade que existe em mim desde que eu a vi 
pela primeira vez. Meu pulso acelera e os pelos do meu pescoço 
ficam arrepiados. Com a adrenalina de estar tão perto, 
alimentando o vício que eu tenho tentado tanto lutar. Essa é a 
minha Ivy, e eu vou recuperá-la. 
 
 
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Espero do outro lado da rua em uma cafeteria, posso ver a 
porta que ela usou. Pacientemente olha para vê-la sair novamente. 
O calor do cappuccino que estou segurando aquece meus dedos 
frios, quando uma motocicleta estaciona em frente ao prédio de 
escritórios. O motociclista tira o capacete e vejo o impostor desta 
manhã. Ele é alto, com cabelos desarrumados e uma jaqueta de 
couro. Grandes anéis de prata nos dedos e pulseiras de couro - 
aposto que ele é um músico. Além disso, ele provavelmente é um 
desses tipos de hippies veganos. Não é um homem, ele ainda é um 
garoto. Sua boa aparência e esse sorriso encantador desaparecerão, 
ou ele ficará entediado. Ivy é demais para um garoto, ela precisa 
de um homem. Alguém que pode cuidar dela do jeito que ela 
precisa. Começo a me perguntar o que ele está fazendo com ela, 
por que um cara como ele quer uma namorada grávida - ele sabe 
que esse bebê é meu? Eu sei disso sem precisar perguntar. Eu 
sinto isso, assim como ela me sente. 
Quando ele entra no prédio, minha obsessão renasce. Sei que 
devo me levantar e sair, ir para a minha sessão de terapia, mas não 
consigo me mexer. Ela está dentro da minha cabeça novamente, e 
não posso evitar a maneira que me deixa irracional. Ivy é a única, 
e a farei me amar novamente. Eu sei que ela ainda pode me sentir, 
então não me esqueceu. Esse é o meu filho crescendo dentro dela, 
e farei qualquer coisa para manter o que é meu. 
 
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— Você vai pedir um almoço? – A garçonete amigável me 
pergunta enquanto pega minha xícara vazia. 
— Outro café, e sejaqual for o seu almoço especial. – eu 
respondo, mas não olho para ela. Não tiro os olhos dessa porta. 
— Você realmente não quer o almoço especial, senhor. Hoje 
está uma merda. – ela sussurra para mim, inclinando-se para que 
eu possa senti-la em meu espaço pessoal. — Prefiro a torta 
Guinness. É realmente boa. 
— Tudo bem, obrigado. – digo, desejando que ela se afaste. 
Minha torta está fria e o purê que veio com ela congelou 
quando o homem voltou para fora do prédio. Ele tem um sorriso 
estampado no rosto e está feliz consigo mesmo. Satisfeito e 
presunçoso, ele coloca o capacete e acelera no trânsito da tarde. 
Quinze minutos depois, Ivy sai pela porta, com as unhas pintadas 
de vermelho brilhante enquanto abotoa o casaco. 
Ela volta para a estação de trem. Jogo dinheiro suficiente na 
mesa para pagar minha conta e uma gorjeta alta antes de sair 
rapidamente. Misturando-me na lenta multidão da tarde de sexta-
feira, ziguezagueando até a estação, posso ver a parte de trás de 
sua cabeça enquanto ela caminha rapidamente. O ar frio está 
trincando esta tarde, e eu ando mais rápido para me aquecer. Ivy 
faz uma pausa momentânea. Seus passos vacilam e ela olha em 
volta. Viro minha cabeça, observando seu reflexo na janela de 
vidro do prédio ao nosso lado. Ela me sente, seu coração sabe que 
estou aqui. 
Entro no trem com ela novamente. Dessa vez, me sento em um 
assento na parte de trás do mesmo vagão, me encolhendo para 
 
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ficar fora de vista. Posso vê-la através do espaço entre os assentos. 
Ela ainda tira o meu fôlego, com a sua beleza despretensiosa. 
Mesmo quando ela está acordada, ela é como uma pintura, tão 
fascinante que você não pode desviar o olhar. Ela se mexe 
desconfortavelmente em seu assento, com o peso do nosso filho 
dificultando o contato com a multidão no início da tarde. Quando 
a vejo abraçar Misha, que esfrega a barriga e fala com ela, sei que 
preciso ir embora. Se Misha me vir, não poderei me aproximar de 
Ivy novamente. Eu preciso ir - agora. 
 
 
Quando chego em casa, perco a terapia e cerca de dez 
telefonemas do meu pai. Não consigo pensar com a névoa 
vermelha da minha raiva - ela está grávida, há outro homem em 
sua cama. 
Ele deveria ser eu! Eu deveria estar abraçando Ivy à noite, 
mantendo-a segura. Sou eu quem a ama. 
Eu não deveria ter esperado. 
Sentando-me no sofá, atendo ao diabo que não para. 
— O quê? – digo. 
— Você perdeu a terapia e dez das minhas ligações. – É meu 
pai. Nenhuma surpresa aí. 
 
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— Eu estava dormindo. – minto. 
— Não minta para mim, Kian. – ele diz com um tom sombrio. 
— Não estrague tudo agora. Nós apenas temos algumas coisas sob 
controle. 
— Sob controle? – grito. — Você sabia que Ivy está grávida? 
– eu queria que ele estivesse aqui, para eu dar um choque falso no 
rosto dele. 
— Onde você viu Ivy? – ele me pergunta, tentando demais 
manter a calma. 
— Nós nos encontramos em um trem. 
— Não comece com isso de novo Kian. 
— Isso nunca acabou! – eu grito com ele, tão bravo com o que 
perdi. — Aquele é o meu bebê, não é? 
— Eu não sei, Kian. Nunca falei com ela depois que saiu do 
jantar de caridade. Ela bloqueou as minhas ligações e se recusou a 
ver alguém ligado a você. – ele parece sincero, mas já mentiu para 
mim muitas vezes antes. — Eu não sabia. Se for seu bebê, 
descobriremos e apoiaremos em tudo o que ela precisar. 
— Ela precisa de mim. – murmuro, antes de desligar a ligação. 
Ela sempre precisou de mim. 
 
 
 
 
 
25 
Capítulo Quatro 
 
Ivy 
 
Will é incrível quando ele canta. É como se a voz dele viajasse 
através de mim, enfiando ataduras em todas as partes doloridas da 
minha alma. Nessa noite, ele cantou com o seu coração, e parecia 
que cada palavra foi escrita apenas para mim. Olho para ele 
desmaiado na minha cama, de cueca boxer, com o seu cabelo 
bagunçado caindo sobre o rosto e eu gostaria de poder adormecer 
tão profundamente. 
Insônia e gravidez não se misturam bem, e eu mataria por uma 
boa noite de sono. Isso e uma taça de vinho tinto. Preciso urinar. 
Tentei ignorar isso, esperando adormecer, mas isso não vai 
acontecer. Saindo da cama, vou até o banheiro. Estou ficando 
maior a cada dia. Até duas semanas atrás, você não podia dizer 
que eu tinha um bebê, de repente - boom! As mudanças repentinas 
e drásticas me fizeram sentir insegura sobre mim mesma. Vejo a 
protuberância, inchaços e partes macias. Mesmo que Will diga que 
 
26 
não, eu sei. Não estou confortável com meu próprio corpo e isso 
está me fazendo questionar a mim mesma - e a Will. Sinto que 
estou entrando em um espaço perigoso. Eu até senti como se 
estivesse sendo vigiada hoje, quando era apenas um garotinho no 
trem. Preciso me acalmar, deixar ir os fantasmas do meu passado e 
me concentrar em ser uma mãe sã e boa para o meu bebê. 
Bebendo uma garrafa de água gelada da geladeira, ando em 
círculos pela cozinha e sala de estar. Meu cérebro e corpo não 
estão na mesma página com o sono. O bebê está mais ativo do que 
esteve o dia todo, dando uma cambalhota dentro de mim, usando 
meu baço como um trampolim. Quando toco minha barriga, chuta 
o local em que minha mão repousa. É um joguinho que jogamos 
enquanto ando sem rumo pelo pequeno espaço. Quando paro na 
janela e olho para a rua lá embaixo adormecida, imagino quantas 
pessoas atrás das cortinas fechadas e cortinas à minha frente 
também não conseguem dormir? Há apenas uma luz acesa no 
prédio oposto ao meu, mas as persianas estão fechadas, não 
consigo ver lá dentro. Observo um carro descendo a rua muito 
rápido, o motorista movendo como uma dançarina latina, 
claramente bêbado. Rodas freando quando ele para três quartos do 
caminho através do cruzamento antes de sair novamente. Eu 
bocejo, sem me preocupar em cobrir minha boca. Deveria voltar 
para a cama, mas uma sombra atrás das cortinas chama minha 
atenção, e observo enquanto alguém se move pelo apartamento do 
outro lado da rua. Eu o vejo puxar as cortinas para olhar para fora. 
Apenas olhos, é tudo o que posso ver no escuro, mas eles se 
encontram com os meus e meu coração para. Deixo minha água 
cair no tapete e caio de costas no sofá. 
 
27 
Meus joelhos são como gelatina e minhas mãos tremem 
enquanto lágrimas quentes ardem pelo meu rosto. Quando olho 
para fora novamente, não há luz, não há ninguém lá. 
Você está cansada, Ivy, está imaginando coisas. Vá para a 
cama. 
Levando o meu corpo trêmulo pelo corredor, eu me encolho 
em Will, conseguindo conforto pela maneira como ele me segura 
perto, mesmo enquanto dorme. Fecho os olhos e tento acalmar a 
respiração. Apenas algumas horas é tudo o que preciso para 
recarregar a energia que esse bebê está sugando de mim. 
 
 
Will está fazendo café da manhã quando eu acordo. Eu posso 
ouvi-lo cantando junto com o rádio e sentir o cheiro do bacon 
fritando na panela. Meu estômago ronca e a necessidade de fazer 
xixi se torna forte demais para ser ignorada. Saio da cama e corro 
para o banheiro. Eu vejo meu reflexo no espelho e, na verdade, 
ofego com o quanto estou destruída. Fecho a porta e levo alguns 
minutos para domar meu todo-poderoso cabelo da cama, lavo meu 
rosto, escovo os dentes e tento dar um pouco de cor nas bochechas 
antes de me juntar ao cantor sem camisa na cozinha. 
— Bom dia, linda. – ele me cumprimenta com sua voz rouca 
de cantor. — Você acordou no meio da... 
 
28 
— Eu não conseguia dormir. 
— Então, você se levantou e esvaziou a máquina de lavar 
louça? – ele pergunta com uma sobrancelha levantada. Não 
esvaziei a máquina de lavar louça, não é? — Você precisa 
aprender a relaxar, Ivy. – ele me puxa para um abraço caloroso. 
— Você está queimando o bacon. – digo, com a minha mente 
girando, tentando pensar na noite passada. Olho para a sala, minha 
garrafa de água no chão me lembra do que pensei ter visto. 
Quando Will me solta, eu ando até lá para provar para mim 
mesma que estava imaginandotudo. À luz do dia, tudo parece tão 
normal, tão imperceptível. Mas, quando procuro a janela em que o 
vi olhando para mim, encontro apenas cortinas semi-fechadas e 
um pombo no parapeito da janela. Nada sinistro, nenhum monstro 
à noite - não há ninguém lá. Mesmo se houvesse provavelmente 
era um aluno solitário, como a maioria dos apartamentos nesta 
área. Pego a garrafa do tapete úmido e volto para o homem que 
está aqui, aquele na minha cozinha cuidando de mim e do meu 
bebê. Will está cheio de sonhos e vida, ele tem uma paixão 
contagiante dentro dele. Acho que foi por isso que me apaixonei 
tanto por ele, porque ele enche a parte do meu copo que estava 
vazio. 
— Você está bem? – ele pergunta, colocando um prato de café 
da manhã quente na minha frente na bancada da cozinha. 
— Você está distante um pouco. 
— Apenas pensando na gravidez. – eu respondo a ele. 
Balançando a cabeça para dispersar o nevoeiro, pego uma faca e 
um garfo. Will serve um copo gigante de suco de laranja para mim 
 
29 
e uma caneca de café para si. No caminho para se sentar ao meu 
lado, ele beija o topo da minha cabeça. 
— O que você quer fazer hoje? – ele me pergunta entre 
mordidas de ovo. 
— Acho que preciso parar de procrastinar e ir buscar algumas 
coisas para o quarto do bebê, se você quiser vir comigo? – ele 
acena com a cabeça, com a boca cheia de comida. 
— Quer ir ver um filme hoje à noite, então? 
— Você não está cantando? 
— Não, tirei uma noite de folga para poder levá-la a um 
encontro em que não sou o único entretenimento. – ele brinca, e 
isso aquece meu interior por ele ter tirado uma noite de folga por 
mim. 
— Você ainda vai me divertir mais tarde? – pergunto, olhando 
para ele. 
— Se você não tomar cuidado, vou entretê-la o dia todo e você 
nunca comprará nada da sua lista de compras. – diz ele com uma 
piscadinha atrevida. 
— Não, eu tenho que começar a fazer essa merda. A parte de 
negação desta gravidez acabou. Eu vou ser adulta e realmente 
começar a me preparar para esse bebê. 
Na terceira loja de bebês, começo a me sentir claustrofóbica. 
Há muita coisa acontecendo, muitas coisas. Não há como um 
humano minúsculo precisar de toda essa porcaria. Will é como 
uma criança, comprando de tudo, pegando as coisas sem olhar as 
 
30 
etiquetas de preços. Ele vive a vida como se fosse um mundo de 
fantasia, mas eu tenho um pé ainda firmemente enraizado na 
realidade. 
— Eu gosto deste carrinho. – digo, desesperada para sair de lá. 
Na verdade, não se preocupando com nada além de 50% de 
desconto. 
— Eu também. – Will concorda comigo. 
— Vamos comprar isso hoje, posso voltar novamente e pegar 
algumas das outras coisas da lista. 
— Ok, linda. – diz ele, envolvendo os braços em volta de 
mim. Enchendo-me de beijos suaves, eu esqueço como ele é 
irritante para fazer compras e me derreto com sua afeição. 
 
 
Will conseguiu um show fora da cidade. Eu não consegui tirar 
o tempo de folga do trabalho e, na verdade, estou cansada demais 
para ir atrás dele e da banda. Se ele quer chamar a atenção de uma 
gravadora, ele precisa fazer isso, esse é o sonho dele. Não posso 
impedi-lo de persegui-lo. Mesmo se eu tentasse, ele me deixaria e 
faria de qualquer maneira. Um tempo sozinha era bom e ruim, 
acho que precisava de um minuto para pensar sobre as coisas. Eu 
me senti caindo ultimamente. Meus pensamentos são doentios e 
irracionais, o medo está se infiltrando novamente e preciso 
 
31 
controlá-lo. Não posso olhar por cima do ombro a cada dez 
minutos, tenho um filho para pensar agora. 
— Alô. – atendo meu celular enquanto me sento no trem para 
casa à tarde, cheio de pessoas cansadas e com olhos tristes. 
Apenas como eu. 
— Ei, linda. – a voz rouca do Will de rockstar vem pelo 
celular e me faz sorrir. Sinto falta dele. — Como estão minhas 
duas pessoas favoritas? 
— Estou cansada hoje e meus pés estão doendo. Mal posso 
esperar para chegar em casa. Como é que vai aí? 
— Porra, ótimo! Foi por isso que liguei para você. – O tom 
dele muda e posso sentir más notícias antes que ele continue. — 
Fomos adicionados aos festivais de inverno, como uma mini-turnê 
como deve ser. Isso é ótimo. – Para ele, é. Para mim, este é 
provavelmente um começo de um coração partido. 
— Isso é incrível. – eu minto. — Estou tão feliz por você. – eu 
minto um pouco mais. 
— Eu queria te contar primeiro. – É claro que ele quis. Ele é 
bom demais para ser verdade. Eu tinha um homem assim antes - 
eu deveria ter aprendido. — Estamos nos preparando para o show 
de hoje à noite, mas eu ligo para você de manhã e conto tudo. 
— Ok, acabe com eles. – digo, mas não há nenhum sentimento 
na minha voz. Já estou desistindo, porque não há como competir 
com a música dele - essa cadela tem todo o apelo sexual. 
— Eu... – ele começa, depois para. — Adeus, linda. – É 
melhor que ele não diga isso. Agora não. 
 
32 
— Tchau, Will. – eu desligo antes que ele possa dizer outra 
palavra. Porra. 
Quando chego em casa, meu capacho está cheio com três 
caixas de entregas. Sei que não pedi nada, lembro-me de pedir 
tantas coisas e estou seis meses sóbria - então, definitivamente, 
não fiquei bêbada. 
Os rótulos são todos endereçados a mim, então eu arrasto as 
caixas para dentro uma de cada vez. Talvez fosse Misha, ela às 
vezes acha engraçado. Enchi um copo com leite, tentando acalmar 
o refluxo ácido que agora é a minha vida, e pego uma faca de 
cozinha para abrir as caixas. Sentada no sofá, com uma caixa 
enorme entre as pernas, eu abro a primeira. Cortando a fita 
transparente, apreensiva e animada para ver o que está na caixa. 
Provavelmente é um engano e terei que enviar tudo de volta. 
Quando tiro os sacos de bolhas que mantêm o conteúdo 
seguro, encontro os itens mais fofos para bebês. Lembro-me de 
cada um deles, porque os admirei em nosso passeio de compras, 
mas não podia pagar a maioria deles. 
Will. Ele os enviou. 
 
 
 
 
 
33 
Capitulo Cinco 
 
Kian 
 
Eliminar a competição, esse foi o primeiro passo no meu 
plano. O próximo está me envolver com Misha, porque eu sei que 
não vou passar por ela. Se eu tiver uma chance disso funcionar, 
preciso que Ivy fique sozinha. Eu a vejo abrir os presentes que 
enviei para ela, as coisas que ela escolheu na loja, mas não 
comprou. A última caixa é toda de roupa. Ela segura cada pequeno 
item e olha para eles. Posso ver as lágrimas rolando como rios 
pelas bochechas dela. Lambo meus lábios imaginando a salinidade 
na minha língua. Quero segurá-la em meus braços e tirar essa dor 
profunda dela. A necessidade de colocar minhas mãos em sua 
barriga inchada cresce violentamente dentro de mim a cada dia. 
Quero sentir o meu filho se movendo dentro dela, conhecer o 
batimento cardíaco como eu conheço o dela. Ela enxuga as 
bochechas e pega o celular, minha mão paira sobre o meu, 
esperando uma mensagem de agradecimento. A mensagem não 
chega até mim. Ivy não sabe que eu posso vê-la, ela não sabe que 
 
34 
eu estou aqui cuidando dela. Vou garantir que ela esteja bem, que 
nada aconteça com ela. Agora que o Sr. Rock'n Roll Will está fora 
da cidade por alguns meses, ela precisará de alguém. Você vai 
precisar de mim, Ivy. 
— Kian, abra essa porra de porta ou eu vou arrombar! – Kade, 
ele sabe. Eu sabia que ele descobriria. Ele é o único que sabia 
sobre esse lugar. Eu tenho evitado suas chamadas e mensagens de 
textos. — Kian. Não me faça fazer isso, cara. Deixe-me entrar, só 
quero falar com você. 
— Vá embora, Kade. 
— Kian, eu não vou embora. Vou começar a gritar, que os 
seus vizinhos vão ligar para a polícia. Deixe-me entrar. – eu sei o 
quão teimoso ele pode ser, ele não vai desistir disso. Não tem 
como ele sair dessa porta. Dou mais um olhar para Ivy, com seu 
sorriso amplo e suas bochechas molhadas de lágrimas felizes. Eu 
abro a porta que meu amigo está batendo. 
— O que é isso, cara? – ele diz assim que passa pelo batenteda porta do meu espaço. Sua raiva é tangível pela maneira como 
ele se mantém e no tom áspero de sua voz. — Você não pode 
fazer isso, Kian. 
— Você sabia? – pergunto a ele, porque meu humor ainda está 
para ser determinado por enquanto. 
— Sabia o que? Que você a estava observando de novo? Que 
você está perdendo a cabeça? 
 
35 
— Sabia. Você. Sabia? – eu digo as palavras, enfatizando-as 
para que ele possa entender que não estou em um lugar para ser 
pressionado hoje à noite. 
— Eu sabia o que, Kian? – ele diz, inclinando os ombros, 
balançando a cabeça, entrando mais na sala. 
— Que ela está carregando meu filho? Você sabia que Ivy está 
grávida? – Seus olhos se arregalam e sua mandíbula se abre 
levemente. 
— Não, ela nunca falou com nenhum de nós. Nem mesmo 
quando a procuramos. Ela cortou você da vida dela e tudo sobre 
você, Kian. 
— No entanto, ela ficou exatamente onde sabia que eu poderia 
encontrá-la. Ela nem mudou as fechaduras das portas. – eu 
racionalizo as minhas ações com as dela. 
— Kian, eu não sabia. – ele levanta as mãos como se eu 
estivesse apontando uma arma para ele. — Você tem certeza? Faz 
muito tempo, cara. 
— Tenho certeza. Seu ginecologista tem uma péssima 
segurança. Foi fácil descobrir, as datas não mentem. 
Ele balança a cabeça e abaixa as mãos. — Eu realmente não 
sabia. – eu não sei mais em quem confiar, mas sinto que não posso 
confiar nele. — O que vai fazer? – ele pergunta cautelosamente. 
— Eu não sei. Não sei o que fazer. – É a verdade que não sei o 
que fazer, quero estar perto dela, mas não posso estar lá para 
sempre e isso não é justo. — Como eu faço isso? Vou morrer, 
mais cedo ou mais tarde. Eu quero ir lá e abraçá-la e amá-la. Mas 
 
36 
sei que devo ficar aqui e deixá-la, apenas observar à distância. 
Não consigo tirá-la da cabeça, quero tanto estar com ela que é 
tudo que consigo pensar. Mesmo quando durmo, sonho com ela. 
— Kian, pense antes de fazer qualquer coisa. 
— Quando estávamos juntos, quando ela estava acordada, foi 
mágico. Foda-se, eu sei que ela me amava. – eu suspiro, sentando 
no sofá. — Eu não imaginava ter sentimentos por ela, Kade. Foi 
real para nós dois. 
— Você chegou até ela? 
— Não, pensei que seria melhor apenas desaparecer da vida 
dela, mas agora acho que cometi um grande erro. 
— Você deve encontrá-la. – diz ele. — Isso, de se esconder, 
observando-a, está errado, Kian. Você deveria vê-la cara a cara. 
— E se ela não falar comigo? 
— Você não saberá se não tentar, Kian. Isso não é saudável. 
Você sabe que uma vez que você entrar neste carrossel, não pode 
descer novamente. – É tarde demais, eu já estou lá e ele está 
girando fora de controle ao meu redor. 
— Não sei o que fazer, mas estando aqui, sinto-me perto dela. 
E talvez isso seja o mais perto que eu mereço. – ela está feliz, e eu 
já estou interferindo nisso. Eu deveria ficar longe. 
— Bata na porta da frente e pergunte se você pode conversar. 
– diz ele, como se fosse assim tão fácil. — É tão fácil. Na pior das 
hipóteses, ela bate a porta na sua cara e você bate novamente. 
 
 
37 
 
A visita de Kade foi seguida por um milhão de chamadas 
perdidas de meu pai. Eu nem me importo em ouvir as mensagens 
de voz dele. Eu já sei o que elas dirão e o nível da sua voz. Hoje 
perdi minha consulta na clínica do sono, eu estava fazendo 
compras. Eu tinha coisas melhores para fazer do que dormir hoje, 
eu precisava fazer Ivy sorrir. Volto a observá-la, talvez deva falar 
com ela - ela bateria a porta na minha cara? Eu imagino estar tão 
perto dela novamente, tão perto que posso ver as manchas em seus 
olhos. Estou andando de um lado para o outro, mordendo minha 
unha, dividido entre observá-la daqui ou ir vê-la. 
São três da manhã e não posso mais negar a força que ela tem 
sobre mim. Pego o chaveiro no qual me apeguei todo esse tempo. 
Eu visto um casaco preto antes de sair, caminhando pela rua, 
tentando não ser vista. Minhas mãos tremem e minhas respirações 
são curtas e rápidas quando entro pela porta da frente do prédio 
dela, assim como já fiz tantas vezes antes. A emoção de entrar sem 
ser detectado, o pensamento dela dormindo enquanto a observo, é 
um ponto alto que perdi. Meu corpo inteiro zumbe com o desejo 
de ficar em cima de sua cama, vê-la dessa maneira novamente. Foi 
aí que me apaixonei por Ivy. 
A chave gira na fechadura - você não a mudou. Você sabia 
que eu voltaria para você, você estava esperando por mim, não é? 
Sinto seu cheiro assim que passo pela porta, sua doçura me 
 
38 
preenchendo. Atraído por você como uma mariposa pela chama 
mortal, não posso ficar longe. 
Meus passos caem silenciosamente no chão enquanto me 
movo em direção ao quarto dela. Da porta, eu posso vê-la deitada 
de costas para mim, com as ondas de cabelo selvagem caindo 
sobre os ombros. Paro, espero, verifico se ela está dormindo 
profundamente antes de dar outro passo em sua direção. De pé na 
beira da cama, fico maravilhado quando ela embala meu filho no 
ventre, com as mãos pequenas espalhadas sobre a barriga, os olhos 
fechados e a respiração lenta e superficial. 
Minha doce Ivy dorme tão profundamente. Apenas estar perto 
dela acalma um pouco do barulho maníaco dentro da minha 
cabeça. 
— Kian. – Sua voz me arrasta dos meus sonhos acordados. 
Quando olho para ela, ela ainda está dormindo, ela pode me sentir. 
Ela sabe que estou aqui. Inclinando-me para onde sua cabeça 
repousa sobre o travesseiro, sussurro baixinho para ela: — Shhh, é 
apenas um sonho. – antes de sair, trancando a porta da frente 
silenciosamente atrás de mim. 
 
 
 
 
 
 
 
39 
Capítulo Seis 
 
Ivy 
 
Will culpou Misha pelas coisas do bebê, mas ela diz que não 
foi ela - era uma deles, então agradeci aos dois. Mal posso esperar 
que Will chegue em casa, mesmo sabendo que só vai demorar 
alguns dias. Sinto falta dele. Continuo sonhando com Kian, e isso 
não acontece quando Will está aqui me abraçando, ele impede que 
meus pedaços se desmoronem. Enxugando uma lágrima perdida, 
pinto outro pequeno quadrado na parede do quarto de hóspedes, 
tentando escolher uma cor para o quarto do bebê. Nada está me 
inspirando ou fazendo isso parecer real. Pensei que, quando 
chegasse ao ponto de pintar o quarto e construir móveis, seria real 
para mim, mas tudo ainda parece muito distante. Meu terapeuta 
acha que eu preciso informar a Kian, que é um direito seu saber 
que ele será pai e que deve ajudar essa criança, pelo menos 
financeiramente. 
 
40 
Tenho medo do que sentiria se vir o Kian - que não teria medo 
dele. Que eu esqueceria o que ele é - um monstro. Se eu olhar nos 
olhos dele, posso ver o homem que amo, e não o bastardo que me 
enganou. É melhor se eu fizer isso sozinha. Não sou forte o 
suficiente para me proteger de Kian, o que deixaria o meu filho 
vulnerável. 
Meu celular toca da cozinha onde o deixei carregando. Largo 
o pincel na pressa para chegar a ele, caso seja Will. Deixo cair 
respingos e entro nela, deixando um rastro de pegadas cinza pelo 
corredor. 
— Alô. – digo sem fôlego quando chego lá. 
— O que você está fazendo? – É Misha, não Will. 
— Pintando. Bem, na verdade não estou pintando. Eu estou 
tentando escolher uma cor. 
— Você sabe que seria muito mais fácil se fosse como uma 
pessoa normal e descobrisse o sexo do bebê, certo? 
— Foda-se, eu não quero saber. 
— Não xingue, seu bebê pode ouvi-la. – ela brinca. 
— Eu realmente não dou a mínima. – digo. — O que foi? – eu 
olho para o relógio na parede. — É tarde para uma ligação Misha, 
por que você não está na cama com um homem ou está dormindo 
profundamente? 
— Minha mãe caiu. Ela quebrou o quadril e, dentre sete os 
irmãos, tive sorte, então vou pegar um trem hoje à noite para 
 
41 
ajudá-la. Volto em algumas semanas. Eu só queria que você 
soubesse. 
— Sete irmãos e eles escolheram você? O que a sua mãe fez 
na vida passada para merecer isso? – Misha ri de mim.Ela não é 
exatamente do tipo carinhosa. — Tenho certeza de que vou 
sobreviver sem você... no entanto, você pode não sobreviver. – 
Nós duas rimos um pouco. 
— Não zombe de mim. Isso é pior do que a detenção no 
ensino médio. Na verdade, prefiro ir para a escola militar. – ela 
suspira. — Mas eu vou sentir sua falta. Podemos nos ver no 
FaceTime ou o Skype quando tiver tempo. Quem vai construir 
toda essa merda que você comprou? 
— Eu não comprei! Eu continuo lhe dizendo isso. Deve ter 
sido Will. Por falar nisso... quando seu rockstar mulherengo estará 
em casa? 
— Quinta-feira, mas apenas por duas noites. Eles receberam 
uma vaga no circuito do festival e eu disse para ele ir. 
— Você o quê? – ela parece chocada. 
— Eu disse para ele fazer isso, Misha. É o sonho dele. Não 
posso tirar isso dele, não é justo. 
— Disse para você que rapazes com guitarras quebram mais 
corações do que cordas. – ela repete a frase que usou para mim 
quando o convidei para morar comigo. 
— Eu meio que sabia que não seria uma coisa eterna. – eu não 
consigo esconder a decepção na minha voz. 
 
42 
— Mas isso não impediu que você esperasse. Sinto muito, Ivy, 
mas você e o bebê terão a tia Misha para amar os dois. 
— Ahhh, obrigada. 
— Amo vocês. Vejo você depois de cumprir minha sentença 
obrigatória de "olhar a mãe". 
— Divirta-se, mas não estrague todos os homens da cidade. 
Sua mãe tem uma boa reputação a defender. – ela ri histericamente 
de mim antes de desligar com um breve “tchau”. 
Acho que vou ter que limpar meu desastre de tinta antes de 
tentar dormir um pouco. Meus pés grudam no chão, pegajosos 
com tinta ainda molhada enquanto trilho mais uma bagunça de 
volta para o quarto. Quando olho ao redor do quarto cheio de 
coisas de bebê e manchas estranhas de tinta incompatível, fico 
impressionada com uma tristeza pesada. Eu posso sentir a solidão 
em meus ossos enquanto sento no chão e luto contra as lágrimas. 
Falando comigo mesma, culpo os hormônios e o bebê - mas sei a 
verdade. Estou quebrando e desta vez não tenho ideia de como 
juntar as peças. 
Eu limpo minha bagunça e coloco alguns dos itens menores no 
armário. Quando olho para o relógio, é depois da uma da manhã. 
Will não ligou, ele está obviamente ocupado com os caras. Tomo 
um banho quente e curto, visto uma de suas camisetas, que agora 
se encaixa confortavelmente na minha barriga, com um short de 
pijama. Isso me faz sentir como se ele estivesse aqui, me 
abraçando enquanto me encolho no travesseiro e no seu corpo e 
fechava os olhos. Meus sonhos se transformam em pesadelos, 
depois em Kian. Meu sono é inquieto e quebrado, assim como 
 
43 
meu coração. Verifico meu celular algumas vezes para ver se há 
uma mensagem de texto ou chamada de Will, mas não há nada. Eu 
tento me enganar para adormecer, mas isso simplesmente não vem 
a mim. Em pouco tempo, os dois alarmes que programei a cada 
noite tocam e é hora de me arrastar para o trabalho. No caminho 
para a estação, paro na Starbucks e peço chá, preciso de algo 
quente e reconfortante no meu corpo agora. Estou no limite, e 
nada vai resolver essa tensão. Na verdade, estou ansiosa pela 
distração do trabalho, pelo menos minha mente estará ocupada. 
 
 
O cheiro de tinta paira no ar quando abro a porta. Fiquei até 
tarde no trabalho e tive que pegar um trem atrasado. Quando olho 
ao redor da sala, a princípio meu coração para, mas depois ouço. 
A voz grave de Will cantando do banheiro e, quando eu vou 
encontrá-lo, paro na porta do quarto do bebê. Está pintado na cor 
cinza com a qual eu estava pintando ontem à noite. Parece 
impressionante, e estou tão agradecida por ele ter feito isso por 
mim. Olhando em volta, vejo que o berço foi montado, seus 
sapatos estão no chão com as instruções e uma chave de fenda. O 
suave zumbido de sua voz me atrai para ele, e quando chego ao 
nosso quarto, ele está ali de cueca, cantando para si mesmo 
enquanto seca o cabelo. Andando atrás dele, sorrio e envolvo 
meus braços em volta de sua cintura. 
 
44 
— Você está em casa. – ele se vira, me dando um beijo e me 
puxando para perto dele. Ele cheira a sabonete e loção pós-barba. 
Sua mandíbula normalmente áspera está lisa quando eu seguro seu 
rosto no meu, para que eu possa beijá-lo um pouco mais. 
— Senti sua falta. – eu sussurro contra seus lábios, passando 
minhas mãos por seu peito nu. 
— Eu também senti sua falta, linda. – diz ele, com suas mãos 
passando sobre a minha barriga. — Vocês dois. 
— Me desculpe por me atrasar, se soubesse que você estava 
voltando para casa hoje, teria tentado estar aqui mais cedo. 
— Queria surpreendê-la e ajudar com as coisas do bebê. Então 
isso funcionou perfeitamente. Vamos pedir comida chinesa e ter 
amassos no sofá. – ele diz, me soltando. Eu amo o som desse 
plano. — Porque eu tenho que ir de novo amanhã. – E assim o 
meu coração se parti. Eu sabia que isso poderia acontecer. Sabia 
que ele perseguiria esse sonho e ficaria com a sequência de 
destruição e dor no coração. Eu preciso apenas isolar meu maldito 
coração, deixar que isso seja o que é - uma fase passageira em 
nossas vidas. Uma transição. 
 
 
 
 
 
 
 
45 
Capítulo Sete 
 
Kian 
 
Misha vai sair da cidade para cuidar de sua mãe, que sofreu 
um pequeno acidente. Will partirá amanhã em um voo matutino. 
Enquanto Ivy estiver no trabalho, eu irei e terminarei o quarto do 
bebê. Ela não deveria estar fazendo tudo sozinha, ela precisa de 
mim para ajudá-la. 
Observo enquanto eles se movem do quarto de volta para a 
sala de estar. A maneira como ele a toca me machuca. Eu não 
deveria ver isso - minha raiva lentamente se enfurece. Eu não 
posso ver isso. Ela é minha Ivy - não dele. 
Ele vai embora amanhã, digo para mim mesmo. Deixe-o ter 
sua última noite. Afasto-me do meu telescópio e deito no sofá. A 
tortura de saber que ela encontrou conforto sem mim dói. Meu 
celular toca da cozinha onde eu o deixei para ignorá-lo, eu estava 
vendo o Will. Levanto com um gemido e o encontro, há uma 
mensagem de Kade. 
 
46 
 
Durma Kian. Tome seus remédios ou vá à clínica. Você 
precisa dormir. 
 
Esta noite. Ele tem razão. Eu preciso dormir, e amanhã eles 
vão embora e Ivy será minha Ivy novamente. Ninguém será capaz 
de nos separar então. Pego minha carteira, celular e chaves da 
bancada, visto um casaco com capuz e dou uma caminhada lenta 
até o meu carro. O ar fresco da noite me enche de energia e 
rejuvenesce a minha alma. A névoa gruda no interior dos meus 
pulmões, densa e gelada. É mais uma noite fria, então eu posso 
sentir a sua calidez novamente. Dirigindo devagar, minha alma 
ainda está presa à dela, querendo voltar, parar o que está 
acontecendo entre ela e Will. A força dela está me puxando, me 
arrastando, não me permitindo me afastar - mesmo que saiba que 
preciso. Minha casa está escura e não me preocupo em acender as 
luzes. Caminho e abro o frasco de remédios ao lado da minha 
cama desarrumada. Pegando três pílulas na mão, abro uma garrafa 
velha de água para engoli-las. Eu tiro minhas roupas enquanto as 
drogas me deixam lentamente lento, meus membros ficam mais 
pesados quando eu me deito. Meu corpo caiu com a gravidade 
pelo colchão, com um peso de chumbo. Incapaz de lutar contra 
isso, eu sucumbo ao sono que preciso desesperadamente para 
permanecer vivo. Sem sonhos, nada além do consolo escuro que 
as drogas proporcionam. A vida deixa meu corpo e minha mente 
tem o resto que precisa para curar e para sobreviver. 
 
47 
— Você sabe o que tirou a vida de sua mãe? – A voz de meu 
pai é rouca e suas mãos tremem, mesmo que ele tente estabilizá-
las. 
— A maldição, ela me disse isso. – digo, lembrando como ela 
nunca dormia, do jeito que ela rapidamente perdeu a cabeça e 
depois o corpo. 
— Insônia familiar fatal. – ele diz palavras que me parecem 
estranhas. O pai dela morreu da mesma coisa e o pai dele também. 
Eles chamaram de maldiçãoda família. Eu o ouço, mas não estou 
ouvindo. Minha mente parece que está fraturada, e que nada pode 
curar a fenda que se formou nos oito dias que eu esperava ser 
salvo, mas desejava morrer. Nós realmente nunca conversamos 
sobre minha mãe e sua morte, meu pai simplesmente continuou 
com a vida. — Kian, você está mostrando todos os sintomas. Seu 
estresse pós-traumático está piorando. Eu não quero te perder, 
filho. Você precisa de ajuda. 
— Eu não tenho um pai amaldiçoado. – digo a ele, querendo 
rir da ideia de uma maldição vinda de meu pai, o médico - o 
homem da ciência e da pesquisa. 
— Não é uma maldição, Kian. É uma doença e não há cura 
para ela. A maioria das pessoas morre em muito pouco tempo. 
— Graças a Deus, porque estou acabando com a vida de 
qualquer maneira. – eu resmungo, girando na cadeira do escritório. 
— Kian, você não quis dizer isso. Um dia vai se apaixonar de 
novo e gostará de ter mais tempo. 
 
48 
— O que? Como você fez? – eu odeio que ele tão facilmente 
substituiu minha mãe. 
— Sim, como eu fiz. – ele olha para mim com olhos cansados, 
é como se olhar no espelho. — Vou ajudá-lo, nós cuidaremos 
disso. Darei a você todo o tempo que o remédio puder comprar. 
Mas Kian, você precisa obter ajuda com sua saúde mental, filho. 
— Não quero sua ajuda, pai. 
 
 
Passo por Will na porta da frente, ele está carregando suas 
malas e há um carro cheio de caras estacionados em frente ao 
prédio buzinando para ele. Faço uma pausa e o vejo sair, 
esperando que meus planos cuidadosamente elaborados sejam 
suficientes para mantê-lo afastado para sempre. Não há muito que 
você não possa fazer por um "amigo" com conexões familiares 
poderosas como a nossa. Ajudou o fato de sua música não ser 
terrível, era mais fácil convencê-los de que ele tem potencial para 
ser uma estrela. 
Quando o carro dele se afasta, eu viro e pressiono o botão do 
elevador para subir. É hoje. Estou pronto para terminar de 
trabalhar no quarto do meu bebê. Eu quero que seja perfeito, assim 
como ela será. Ivy não sabe que é uma garota, eu li o arquivo da 
ginecologista e dizia em grandes letras que ela não queria saber. 
Eu, no entanto, precisava saber. 
 
49 
As paredes suaves de cinza combinam com os móveis brancos 
e os suaves tons de verde que ela escolheu ao fazer compras. Eu 
me assegurei de conseguir tudo o que ela queria, eles merecem. Eu 
deveria ter tempo suficiente para terminar tudo antes que ela 
chegue em casa do trabalho hoje. O caro Will me ajudou com 
umas coisas ontem à noite. Embora eu não tenha certeza se confio 
nas habilidades dele, ainda checarei cada parafuso e porca do 
berço. Estou perdido nas tarefas em questão, não olho o relógio o 
suficiente. 
Quando faço uma pausa, já é fim de tarde, faço um sanduíche 
e encho um copo com água gelada. Sentar em seu balcão comendo 
me lembra de sentar aqui com ela, observando-a sorrir e ouvindo 
sua risada. Eu sinto tanto a falta dela que dói. Há uma dor física, 
que penetra em mim, só de pensar nela a acalma. Como 
rapidamente, e volto a dar os retoques finais no quarto do bebê, ela 
estará em casa em breve. Isso precisa ser feito antes que ela 
chegue aqui, eu quero que seja uma surpresa. 
 
 
Admirando meu trabalho da porta, olho ao redor do belo 
quarto e me pergunto se Ivy vai adorar. Está ficando tarde e 
preciso que o resto da minha surpresa seja igualmente perfeito. 
Tomo um banho e visto as roupas que trouxe comigo antes de ir 
para a cozinha e começar a preparar o jantar. 
 
50 
Enquanto a comida está sendo preparada, ponho dois lugares 
na bancada e acendo uma vela. Ligando o rádio, vinculo-o ao meu 
celular para poder reproduzir minha playlist Ivy cuidadosamente 
selecionada. 
É assim que eu quero que toda noite pareça, ela voltando para 
casa para mim. É assim que deveria ter sido o tempo todo. Meu 
corpo move com a música enquanto arrumo a louça e fico de olho 
na carne assada no forno. 
Quando eu sei que não vai queimar, vou para o quarto e o 
banheiro, e limpo qualquer sinal de Will, guardando os seus 
pertences para que eu possa jogá-los na rampa de lixo no final do 
corredor. Ele não voltará para eles, aquele garoto tinha ambição 
nos olhos. Não há chance de ele não perseguir essa oportunidade, 
estou apostando nela. 
De volta para dentro, apago as luzes e sirvo uma taça de seu 
vinho favorito. O vermelho inebriante tem gosto de seus beijos 
quando eu o tomo da cadeira de frente para a porta. 
Eu espero minha Ivy voltar para casa. 
A chave gira na fechadura. Estou tão cansado. 
A maçaneta gira. Eu preciso dormir. 
A porta se abre. Ela vai me ajudar a dormir. 
Ivy entra. 
— Pensei que você estava indo embora. – diz ela, sem me ver. 
Ela acha que Will faria tudo isso por ela. Eu estou machucado. 
— Olá, Ivy. – eu a cumprimento das sombras. 
 
51 
— Kian. – ela sussurra. 
Descansarei, finalmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Continua...

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