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1 2 Sinopse Kian ainda está acordado e Ivy ainda está sonhando. Isso é um pesadelo? 3 4 5 Capítulo Um Kian Sinto falta dela, tudo nela. Acima de tudo, sinto falta de vê-la dormir. Alguns dias eu até sinto falta daquelas horas de vigília e dos momentos que passamos juntos. Há uma dor onde ela costumava estar, essa dor ardente que me reduz a lágrimas se eu me permitir pensar nela. O desejo de estar cercado por pessoas é esmagador. Sento-me em lugares lotados, vejo o mundo do meu apartamento, construindo histórias para os rostos que vejo, criando mundos em minha imaginação. Apenas para eles partirem alguns minutos depois. Quando fecho meus olhos, eu a vejo. Toda vez ela está lá, dormindo em seus lençóis brancos, sua camisola de seda envolve seu corpo como um presente. Ainda estou pagando o aluguel do apartamento em frente a ela. Eu nem sei se ela ainda está lá, mas não pude deixar isso para lá. Eu não estive lá, não querendo sentir a amarga decepção de ver alguém através da lente do meu 6 telescópio. E se ela se foi para sempre? Não consigo imaginar perdê-la novamente. Não, assim ela ainda é minha, eu ainda posso vê-la quando fecho os olhos. Meu pai me mandou direto para a clínica do sono depois que eu ataquei Austin novamente naquela noite, e ele me colocou para dormir. Literalmente. Eu precisava, o meu cérebro precisava do resto ou acabaria morrendo, mas eu não queria. Não queria perdê- la. — Kian. – diz Kade, me trazendo de volta à realidade e longe das multidões de pessoas andando pela cafeteria. — Você vem? – ele pergunta. Não tenho ideia de onde ele quer que eu vá, mas concordo sem pensar. Concordo, porque se eu não concordar eles começaram a se preocupar e pairar novamente. É mais fácil fazer o que querem que eu faça, como pedir desculpas a Austin, fazer terapia, ficar com meu pai e visitar a clínica do sono uma vez por mês durante uma semana. A vida é simples se eu fizer o que eles pedem, e quando não estão por perto, e eu estou sozinho, fecho os olhos para ver Ivy. — Você está ouvindo? – ele me pressiona por uma resposta. — Desculpe, eu me distraí. Onde estamos indo? — Você está bem? Você está distante? – ele começa a inquisição. — Eu disse que vamos sair de barco para um dia de caras. E um pouco de pesca e cerveja. — Sim, com certeza vou. Apenas deixe-me ver se não é uma semana que vou para a clínica. – eu respondo, mas internamente me encolho com a ideia de ficar preso no mar com eles por horas. 7 — Legal, será bom para todos nós. – ele quer dizer que será bom para eu fingir que não quero afogar Austin. — Você está bem? – ele me pergunta, abordando cuidadosamente o assunto com cautela. — Eu estou bem. – digo, porque é isso que devo dizer. Posso gritar que sinto falta dela, que gostaria de me encolher ao lado de seu corpo adormecido, abraçá-la e nunca acordar. Não, eu estou bem. — Estou com dias ruins, mas estou bem. – eu reitero, quando ele olha para mim com um olhar consciente. Há um momento de silêncio, onde ele quase acredita nas minhas mentiras. — Você não precisa mentir para mim, Kian. Sou seu amigo, você pode falar comigo. — Eu pago um terapeuta para isso. – sorrio de volta para ele. Ele levanta as mãos em sinal de rendição. — Estou apenas conversando. — O que você gostaria que eu dissesse, Kade? Que sinto falta dela? Eu sinto. Que luto uma batalha dentro de mim todos os dias para não sair e encontrá-la? Se eu começar a dizer, fica mais difícil ignorar a porra da agonia de não saber onde ela está. Estou bem. Eu continuo dizendo a mim mesmo e para todos os outros. — Eu só quero que você seja honesto comigo. — Não, você não quer. – eu respondo. — Se eu fosse honesto com você, você ficaria com medo e diria ao meu pai que preciso voltar para a clínica. Então, não minta. Você quer que eu melhore e isso nunca vai acontecer. 8 — É claro que eu adoraria que você ficasse melhor, Kian. Eu sei que você está doente, que essa é a sua realidade. Isso não significa que não pode compartilhar comigo. Eu quero te ajudar. — Então a traga de volta para mim. Porque essa é a única coisa que vai me ajudar. Ela ajudou. Ela melhorou isso por um tempo. — Você sabe que não posso fazer isso. – Isso é um empate. Toda vez que conversamos, chega a isso. Estou tentando tanto. Mas, eventualmente, eu sei que vou quebrar. Deixo o meu carro na mesma garagem onde costumava estacionar, para que ela não o visse. Guardando as minhas chaves e celular, meu coração dispara com a antecipação e medo. E se ela não estiver lá? E se ela estiver? Puxo a gola do casaco para proteger o pescoço do vento gelado e enfio as mãos nos bolsos para mantê-las aquecidas. Com a cabeça baixa, ando em direção ao meu apartamento. Não sei por que o guardei. Essa pequena parte de mim que sabia que eu poderia voltar simplesmente não podia deixar para lá. Abrindo a porta, as luzes fluorescentes zumbem acima de mim. Subo as escadas em vez do elevador até o lugar que me aproximou de Ivy. 9 Minha chave está dura na fechadura não utilizada e a porta se abre com dobradiças presas. Cheira a poeira e marasmo, com o ar espesso de abandono. Não acendo as luzes, não quero que ninguém saiba que estou aqui. A familiaridade do meu lugar especial volta e, mesmo à luz da lua, posso ir até a janela. Meu portal para o mundo dela. Eu quero desesperadamente olhar para lá, ver sua luz noturna. Mas, o medo do que eu poderia ver me faz parar. Meus olhos se fecham, eu fico lá com as mãos nos bolsos e a vejo em minha mente. Vendo seu sorriso, a suavidade de sua pele sob meus dedos. A maneira como seus olhos brilham quando ela está feliz, e o som do meu nome saindo de sua boca quando ela gozou para mim. Eu revivo essas memórias, de novo e de novo. Finalmente chegou a hora, preciso saber se minha Ivy ainda está lá. Abrindo os olhos, permito que eles se ajustem novamente à escuridão. O vazio ao meu redor é um lembrete de que, embora eu esteja acordado, é sempre apenas um sonho. Olho para a janela tranquila do outro lado da rua. A familiar luz brilhante que é seu cobertor de segurança me cumprimenta. Ela está lá. Minha Ivy ainda está lá, eu sabia que ela esperaria que eu a encontrasse novamente. Movendo-me para o meu telescópio, tirando a tampa da lente e limpando a poeira, respiro fundo antes de olhar para o mundo dela. Colocando em foco, eu posso ver seu copo na mesa de centro, a mancha familiar de batom na borda. Onde sua garrafa de vinho normalmente fica vazia está uma garrafa de água mineral e suas notas post-it grudadas em toda a superfície da mesa. Ivy ainda está lá; ela está vivendo, respirando e esperando. 10 Meus olhos examinam o apartamento dela, detalhando todas as coisas familiares. Então eu os movo, lentamente olhando para ver se ela já está na cama. Ela nunca fecha a porta do quarto, seu medo profundamente enraizado para deixar o quarto na escuridão. Seis meses é muito tempo, e eu me pergunto se ela tem a mesma aparência. Ela cortou o cabelo ou mudou de pijama? A garrafa ao lado da cama dela estará aberta? Procurando pela garrafa aberta primeiro, meu olhar vagueia, quando os meus olhos pegam algo desconhecido na mesa de cabeceira dela. Um relógio, mas não é o relógio dela. Um relógio de homem e sua carteira. A sensação familiar de raiva me atinge no intimo. Eu deveria parar, eu não deveria estar olhando. Eu não consigo me parar. Movendo o telescópio para que eu possa ver sua cama, a visão me rouba toda sanidade que eu tive. Ivy está dormindo, com seus longos cabelos espalhados no travesseiro e os lençóis puxados sobre seu corpo nu. Em volta dela, naquela curva perfeita entre os quadris e os seios, está o braço grande do homem que dorme ao lado dela.Ele repousa suavemente sobre sua barriga inchada. A bile sobe lentamente, queimando meu caminho antes de me sufocar enquanto eu engasgo e me levanto. Não consigo desviar o olhar, mas não quero ver. Ivy se esqueceu de mim. 11 Capítulo Dois Ivy Acordo antes de Will. Não querendo me atrasar, agora tenho o hábito de me levantar mais cedo. Começar o meu dia com uma rotina ajuda com a minha ansiedade. Meu terapeuta acha que uma rotina é essa cura mágica para um cérebro disperso que não consegue se concentrar - ainda estou cética. Pegando a garrafa de água vazia e nossos copos da mesa de centro, vou para a cozinha e ligo a máquina de café para Will. Minhas anotações são como um cobertor na mesa de centro. Adoro o meu novo emprego e, pela primeira vez, sinto como se estivesse no caminho certo. Minha vida está nos eixos, não fragmentos espalhados e manchas de sanidade. Enquanto o café ferve e minha torrada está na torradeira, pego todos os pedaços de papéis, pego minha mochila de laptop e procuro meus óculos nas fendas do sofá. Quando a torrada aparece, coloco tudo o que preciso para o meu dia na porta e tomo meu café da manhã. 12 O cheiro de café, pão quente e geleia flutuando pela pequena cozinha, e o som de Will no chuveiro me faz sorrir. As manhãs são a melhor parte do meu dia, e tenho um momento para me lembrar de todas as coisas pelas quais tenho que agradecer. Estou ouvindo o som sexy da música matinal do meu namorado, quando olho para a manhã tempestuosa de inverno. Eu ando para ficar na luz do sol irradiando pelas janelas, mais para aquecer minha alma do que meu corpo. Descansando minha caneca na minha barriga de quase seis meses de gravidez, dou uma olhada na rua abaixo. A cidade está acordando lentamente. Os carros começam a passar e as luzes da rua piscam quando a luz do dia entra. Um pombo malandro está no parapeito da janela, roubando parte do meu sol para aquecer suas penas. — Bom dia, linda. – A voz rouca chama-me da cozinha. — Bom dia. – digo. Quando me viro para olhá-lo, meu olho percebe um movimento no apartamento em frente ao meu. Meu pulso acelera imediatamente quando forço os olhos para ver o que pensei ter visto. Não há nada além de um pombo andando no parapeito da janela vendo seu próprio reflexo. Ele não está lá, digo para mim mesma em voz baixa, mas ainda assim meu corpo formiga com a sensação de estar sendo observada. Não sinto isso há tanto tempo, eu quase tinha esquecido como ele atormenta as cavidades mais profundas do meu estômago. Ignorando a sensação incômoda, eu me viro e encaro o homem na minha cozinha, com seu cabelo bagunçado de cachos loiros e uma camiseta branca envolvendo-o como um plástico filme. Will não é difícil de ver, ele é o oposto de Kian em todos os sentidos. Com sua pele clara, cabelos dourados e olhos azuis brilhantes, do jeito que ele é 13 infantil e divertido. Will não leva nada a sério, exceto a música dele, nem tenho certeza se ele está falando sério comigo. Ele está morando aqui há um mês e eu estou começando a ter sentimentos por ele, mas admiti-los o afugentaria. É difícil acreditar que um cara como ele estaria interessado em uma mulher grávida como eu. A irmã dele me disse que ele gosta de consertar as coisas, principalmente as pessoas, mas que eu não devo me apegar a ele porque, uma vez que estou consertada, ele vai embora. Duvido que algum dia seja tudo além de quebrada, então por enquanto sei que Will está comigo. — Você vem me ver depois do trabalho hoje à noite? – ele pergunta, me envolvendo em um abraço afetuoso com as suas covinhas fazendo os meus joelhos enfraquecerem sempre que ele sorri. — Claro que vou. Misha está indo também. – Will me beija, pegando minha caneca para que ele possa me abraçar um pouco mais. — O que você vai fazer hoje? – pergunto, roubando uma mordida da torrada dele. — Ir ao supermercado, porque não temos comida ou garrafas de água. – ele ri, jogando a garrafa vazia da noite passada. — E escrever alguma coisa. Então, esta tarde, reservei um tempo para o estúdio. Quer que eu leve seu almoço? – Will está sorrindo quando ele se vira e pisca para mim, insinuando o que está no menu do almoço. — Adoraria almoçar com você. – levanto minhas sobrancelhas para ele de brincadeira, antes de ver as horas. — Eu tenho que ir, não quero perder o meu trem. – Abraçando-o para um beijo de 14 verdade, um beijo mais profundo, que diz palavras que ele não fala. Will me dá um beijo de despedida antes de dar um tapa nas minhas costas enquanto passo por mim ele. — Não vá fazer as compras vestido como um mulherengo. – eu brinco, e ele ri. — Não posso deixar de ser assim. As mulheres simplesmente não têm chance contra minha aparência diabólica. — Coloque uma jaqueta. – eu brinco com ele enquanto saio pela porta. Sim, as manhãs são definitivamente a melhor parte do meu dia. Uso o trem para trabalhar agora, é tão conveniente e a estação fica a apenas uma quadra de distância. Puxando meu casaco apertado ao meu redor, inclino o queixo para baixo para evitar o vento frio e forte que sopra no meu rosto. Dou um pequeno passeio até a estação. Mais uma vez, sinto o arrepio do medo. Eu pensei em superar isso, já superei no meu passado. O bebê chuta, dando chutes rápidos que me pegam de surpresa. O medo desliza pela minha coluna como uma cobra pela dúvida. Olho por cima do ombro mais vezes do que posso contar e o alívio toma conta de mim quando entro na estação, as quatro paredes de alguma forma me protegem de meus próprios pensamentos. Eu acalmo o pânico antes que ele se torne um monstro novamente. No trem, envio um e-mail ao meu terapeuta e marco uma consulta, por uma precaução. Não quero voltar para onde estava há seis meses. A hora em que o trem passa rapidamente, eu entro na rotina de ouvir audiobooks no meu trajeto. Ninguém senta ao meu lado na maioria das manhãs, o trem é vazio o suficiente para que possamos nos espalhar e não entrar no espaço um do outro. À 15 noite, está cheio de corpos cansados, desperdiçando toda a boa energia no trabalho. O trem noturno é triste. Descansando as mãos na barriga, sinto meu homenzinho se mexer, movendo como se também estivesse tentando se sentir confortável com o passeio. Minha mente prega peças em mim e, novamente, consigo sentir os olhos em mim. Olhando ao redor da cabine, vejo um garotinho me observando. Seu doce sorriso e sardas esmagam o medo que está se formando, e eu lhe dou um pequeno aceno. Ele cora e se move para se esconder atrás de sua mãe. Você está imaginando coisas, não deixe sua mente controlar seus sentidos, eu me repreendo e volto a ouvir meu livro, contando as estações enquanto elas passam até que eu saiba que a minha é a próxima. Quando saio do trem, meu celular toca e, sem olhar, atendo. Ainda com meus fones de ouvido, sou recebido com a voz matinal de Misha do outro lado. — Alô, Sunshine, ainda vamos hoje à noite? Eu tenho meus saltos de prostituta na minha bolsa de trabalho. Eu dou uma risada para ela. — Sim, nos encontramos no seu escritório às cinco. Hoje saio cedo. – Abrindo caminho entre os corpos, movendo-me contra a maré, saio da estação em frente ao meu prédio. — Você pode trocar os saltos da prostituta no camarim, então. — Como está o seu rockeiro? Ele tem amigos gostosos? Eu realmente poderia fazer sexo hoje à noite. – Aí está minha amiga, ela não pode passar um dia sem pensar em sexo. 16 — Ele está bem, eu vou vê-lo no almoço. Vou perguntar se há músicos muito convenientes indo hoje à noite. — Que boa amiga, você é. – diz ela com uma risadinha. — Eu tenho que ir, mas te vejo mais tarde. — Tchau, Mish. – digo, pegando meus fones de ouvido e abrindo a porta de vidro do meu escritório. O calor do aquecedor central me envolve e posso sentir o meu corpo relaxar.Meus músculos relaxam quando eu pego o elevador para o quinto andar. O bebê também gosta do calor, já que se acalma, chutando meus rins um pouco menos. Não é o meu emprego dos sonhos, mas é um trabalho. Eu preciso disso, porque vou ser mãe e bebês custam dinheiro. — Bom dia, Ivy. – Beverley, minha chefe, me cumprimenta quando coloco minha cabeça em seu escritório para que ela saiba que cheguei. — Temos uma manhã inteira, então é um fim de semana prolongado para nós! – ela está tão animada quanto eu em tirar alguns dias de folga. Ela vai ao casamento do filho e também me deu o fim de semana prolongado. — Vocês estão prontos para o grande dia? – pergunto a ela. Ela é legal, provavelmente a primeira chefe genuinamente legal que já tive. — Ainda não gosto dela, mas não consigo parar isso. Então, estou comprometida em ir, parecendo fabulosa e drenando toda a bebida pela qual seu pai está pagando. Rindo de sua antipatia por sua nova nora, saio para colocar minhas coisas na minha mesa, tomar um café descafeinado e 17 começar o dia. Eu deveria parar com o café, eu sei, mas tive que parar com o vinho. Então, o bebê pode ter me dado uma coisa para me manter sã. Satisfeita, abro meus projetos para a semana, encerro todas as minhas vendas e envio meus relatórios para a Bev. — Apexsun Pharmaceuticals, bom dia. Aqui é Ivy. – eu atendo uma ligação piscando no telefone. — Sim, senhor. Beverly está hoje. Quem devo dizer que está ligando? Quando o ouço dizer Dr. Jonathan K. Stanton, quase deixo o telefone. Tentando manter a calma, digo: — Certamente, espere. – O telefone toca quatro vezes antes de Bev atender. — É o Dr. Stanton, Bev. — Obrigada, Ivy. – Assim que a ligação é transferida, eu tenho que recuperar o fôlego e paro de hiperventilar antes que alguém me veja caindo aos pedaços. O que seu pai poderia querer de nós? Ele é médico, Ivy, minha lógica me diz. Kian está tentando te encontrar, minha loucura fala mais alto. Observo e espero a luz vermelha se apagar, sinalizando que a ligação terminou. Sento-me na minha mesa, enxugando as palmas das mãos suadas na saia, uma e outra vez, esperando Bev me chamar e me dizer o que é que ele queria, mas ela não chama. Eu me mantenho ocupada, me distraindo com minhas tarefas diárias e faço uma lista de projetos que precisam ser concluídos nas próximas semanas. 18 Quando Will entra no meu escritório com um jeans rasgado, uma camisa preta e sua jaqueta de couro, eu não poderia estar mais feliz em vê-lo, a distração é bem-vinda. Meus próprios pensamentos estavam começando a chegar a território perigoso. — William. – Bev cumprimenta saindo de seu escritório, trancando a porta. Não perco a maneira como ela olha para ele, despindo-o com os olhos. — Que bom ver você. – Virando-se para mim, ela diz: — Estou indo. Vejo você na terça-feira. — Tchau, Bev. – eu digo adeus enquanto ela sai do escritório, deixando eu e Will sozinhos. — Pronta para o almoço? – ele diz, sentado na minha mesa. — Quase, me dê dois minutos para fechar tudo e mudar os telefones para o serviço de atendimento. – ele brinca com o meu post-it enquanto espera, e a adrenalina anterior desaparece. Will traz uma calma ao meu mundo que não consigo explicar. Sua atitude despreocupada, e a maneira como ele nunca se estressa com nada me afetam. — Vamos lá. – digo, empurrando minha cadeira para trás. Will agarra meu braço e me puxa, girando minha cadeira entre as pernas dele. — Ou podemos pedir e profanar o seu escritório. – ele pisca. Com aqueles olhos azuis brilhando com desejos diabólicos. — Essa porta tranca? – ele pergunta. — Sim. – eu respondo. — Chinês ou pizza? Will sorri para mim, inclinando-se para frente, ele me beija, então paira sobre mim olhando para baixo na minha blusa. 19 Capítulo Três Kian Houve uma fração de segundo em que ela me viu, quando olhou novamente, sua expressão mudou. Percebi a maneira como ela se preocupava com o lábio inferior e mexia nas coisas, movendo-as e depois vi tudo desaparecer quando ele entrou na sala. Ela irradiou - do jeito que costumava comigo e o ciúme corrói o meu coração. Afastando-me da janela e para as sombras, a vejo se preparando para sair. Eu posso senti-la me esquecendo. Estou hipnotizado por vê-la, é como estar em casa, como se nunca tivesse ido embora. Exceto ele. Quando ela o beija, paro de olhar, saindo pela porta. Eu deveria sair, ir para casa e esquecer Ivy - ela me esqueceu. Eu queria poder. Em vez disso, espero nas sombras entre os edifícios, observando sua porta da frente, esperando que ela vá trabalhar. Ela está tão calma e sem pressa quando sai para a manhã fria, o vento soprando seus cabelos ao redor do rosto e o casaco apertado contra ela. 20 Eu senti falta dela, das pequenas coisas e das grandes coisas. O jeito que ela cheira e o gosto do batom na taça de vinho. Sua suavidade quando eu a abracei. Eu me pergunto o quanto bem seu novo amigo dorme? Ela ainda toma as pílulas à noite? Vinte e sete passos, conto-os, depois passo para a calçada e a sigo atrás de um grupo de homens de terno. Ela ainda olha em volta, procura a fonte de seu mal-estar. Ivy me sente, mesmo quando não me vê. O coração dela sabe que estou aqui. Mantendo meus olhos baixos e meu moletom de capuz erguido, ela não me vê no mar de corpos fluindo para a estação de trem. De um banco duro, eu a observo, ela verifica a hora e caminha um pouco antes de ir para a plataforma. Compro um bilhete de metrô que me permite viajar em qualquer trem para a próxima semana, procurando constantemente ver que não a perdi de vista. Entro no trem, em um vagão, e paro na porta que os separa o passeio inteiro. Observando-a, ela sorri para um garotinho, com os fones de ouvido, ela ouve alguma coisa. Vejo os olhos dela fecharem e a cabeça descansar no encosto do banco. A luz do sol da manhã capta os reflexos em seus cabelos, como uma auréola ao redor de sua cabeça. Seus dedos batem no joelho. Cada detalhe dela atualiza a necessidade que existe em mim desde que eu a vi pela primeira vez. Meu pulso acelera e os pelos do meu pescoço ficam arrepiados. Com a adrenalina de estar tão perto, alimentando o vício que eu tenho tentado tanto lutar. Essa é a minha Ivy, e eu vou recuperá-la. 21 Espero do outro lado da rua em uma cafeteria, posso ver a porta que ela usou. Pacientemente olha para vê-la sair novamente. O calor do cappuccino que estou segurando aquece meus dedos frios, quando uma motocicleta estaciona em frente ao prédio de escritórios. O motociclista tira o capacete e vejo o impostor desta manhã. Ele é alto, com cabelos desarrumados e uma jaqueta de couro. Grandes anéis de prata nos dedos e pulseiras de couro - aposto que ele é um músico. Além disso, ele provavelmente é um desses tipos de hippies veganos. Não é um homem, ele ainda é um garoto. Sua boa aparência e esse sorriso encantador desaparecerão, ou ele ficará entediado. Ivy é demais para um garoto, ela precisa de um homem. Alguém que pode cuidar dela do jeito que ela precisa. Começo a me perguntar o que ele está fazendo com ela, por que um cara como ele quer uma namorada grávida - ele sabe que esse bebê é meu? Eu sei disso sem precisar perguntar. Eu sinto isso, assim como ela me sente. Quando ele entra no prédio, minha obsessão renasce. Sei que devo me levantar e sair, ir para a minha sessão de terapia, mas não consigo me mexer. Ela está dentro da minha cabeça novamente, e não posso evitar a maneira que me deixa irracional. Ivy é a única, e a farei me amar novamente. Eu sei que ela ainda pode me sentir, então não me esqueceu. Esse é o meu filho crescendo dentro dela, e farei qualquer coisa para manter o que é meu. 22 — Você vai pedir um almoço? – A garçonete amigável me pergunta enquanto pega minha xícara vazia. — Outro café, e sejaqual for o seu almoço especial. – eu respondo, mas não olho para ela. Não tiro os olhos dessa porta. — Você realmente não quer o almoço especial, senhor. Hoje está uma merda. – ela sussurra para mim, inclinando-se para que eu possa senti-la em meu espaço pessoal. — Prefiro a torta Guinness. É realmente boa. — Tudo bem, obrigado. – digo, desejando que ela se afaste. Minha torta está fria e o purê que veio com ela congelou quando o homem voltou para fora do prédio. Ele tem um sorriso estampado no rosto e está feliz consigo mesmo. Satisfeito e presunçoso, ele coloca o capacete e acelera no trânsito da tarde. Quinze minutos depois, Ivy sai pela porta, com as unhas pintadas de vermelho brilhante enquanto abotoa o casaco. Ela volta para a estação de trem. Jogo dinheiro suficiente na mesa para pagar minha conta e uma gorjeta alta antes de sair rapidamente. Misturando-me na lenta multidão da tarde de sexta- feira, ziguezagueando até a estação, posso ver a parte de trás de sua cabeça enquanto ela caminha rapidamente. O ar frio está trincando esta tarde, e eu ando mais rápido para me aquecer. Ivy faz uma pausa momentânea. Seus passos vacilam e ela olha em volta. Viro minha cabeça, observando seu reflexo na janela de vidro do prédio ao nosso lado. Ela me sente, seu coração sabe que estou aqui. Entro no trem com ela novamente. Dessa vez, me sento em um assento na parte de trás do mesmo vagão, me encolhendo para 23 ficar fora de vista. Posso vê-la através do espaço entre os assentos. Ela ainda tira o meu fôlego, com a sua beleza despretensiosa. Mesmo quando ela está acordada, ela é como uma pintura, tão fascinante que você não pode desviar o olhar. Ela se mexe desconfortavelmente em seu assento, com o peso do nosso filho dificultando o contato com a multidão no início da tarde. Quando a vejo abraçar Misha, que esfrega a barriga e fala com ela, sei que preciso ir embora. Se Misha me vir, não poderei me aproximar de Ivy novamente. Eu preciso ir - agora. Quando chego em casa, perco a terapia e cerca de dez telefonemas do meu pai. Não consigo pensar com a névoa vermelha da minha raiva - ela está grávida, há outro homem em sua cama. Ele deveria ser eu! Eu deveria estar abraçando Ivy à noite, mantendo-a segura. Sou eu quem a ama. Eu não deveria ter esperado. Sentando-me no sofá, atendo ao diabo que não para. — O quê? – digo. — Você perdeu a terapia e dez das minhas ligações. – É meu pai. Nenhuma surpresa aí. 24 — Eu estava dormindo. – minto. — Não minta para mim, Kian. – ele diz com um tom sombrio. — Não estrague tudo agora. Nós apenas temos algumas coisas sob controle. — Sob controle? – grito. — Você sabia que Ivy está grávida? – eu queria que ele estivesse aqui, para eu dar um choque falso no rosto dele. — Onde você viu Ivy? – ele me pergunta, tentando demais manter a calma. — Nós nos encontramos em um trem. — Não comece com isso de novo Kian. — Isso nunca acabou! – eu grito com ele, tão bravo com o que perdi. — Aquele é o meu bebê, não é? — Eu não sei, Kian. Nunca falei com ela depois que saiu do jantar de caridade. Ela bloqueou as minhas ligações e se recusou a ver alguém ligado a você. – ele parece sincero, mas já mentiu para mim muitas vezes antes. — Eu não sabia. Se for seu bebê, descobriremos e apoiaremos em tudo o que ela precisar. — Ela precisa de mim. – murmuro, antes de desligar a ligação. Ela sempre precisou de mim. 25 Capítulo Quatro Ivy Will é incrível quando ele canta. É como se a voz dele viajasse através de mim, enfiando ataduras em todas as partes doloridas da minha alma. Nessa noite, ele cantou com o seu coração, e parecia que cada palavra foi escrita apenas para mim. Olho para ele desmaiado na minha cama, de cueca boxer, com o seu cabelo bagunçado caindo sobre o rosto e eu gostaria de poder adormecer tão profundamente. Insônia e gravidez não se misturam bem, e eu mataria por uma boa noite de sono. Isso e uma taça de vinho tinto. Preciso urinar. Tentei ignorar isso, esperando adormecer, mas isso não vai acontecer. Saindo da cama, vou até o banheiro. Estou ficando maior a cada dia. Até duas semanas atrás, você não podia dizer que eu tinha um bebê, de repente - boom! As mudanças repentinas e drásticas me fizeram sentir insegura sobre mim mesma. Vejo a protuberância, inchaços e partes macias. Mesmo que Will diga que 26 não, eu sei. Não estou confortável com meu próprio corpo e isso está me fazendo questionar a mim mesma - e a Will. Sinto que estou entrando em um espaço perigoso. Eu até senti como se estivesse sendo vigiada hoje, quando era apenas um garotinho no trem. Preciso me acalmar, deixar ir os fantasmas do meu passado e me concentrar em ser uma mãe sã e boa para o meu bebê. Bebendo uma garrafa de água gelada da geladeira, ando em círculos pela cozinha e sala de estar. Meu cérebro e corpo não estão na mesma página com o sono. O bebê está mais ativo do que esteve o dia todo, dando uma cambalhota dentro de mim, usando meu baço como um trampolim. Quando toco minha barriga, chuta o local em que minha mão repousa. É um joguinho que jogamos enquanto ando sem rumo pelo pequeno espaço. Quando paro na janela e olho para a rua lá embaixo adormecida, imagino quantas pessoas atrás das cortinas fechadas e cortinas à minha frente também não conseguem dormir? Há apenas uma luz acesa no prédio oposto ao meu, mas as persianas estão fechadas, não consigo ver lá dentro. Observo um carro descendo a rua muito rápido, o motorista movendo como uma dançarina latina, claramente bêbado. Rodas freando quando ele para três quartos do caminho através do cruzamento antes de sair novamente. Eu bocejo, sem me preocupar em cobrir minha boca. Deveria voltar para a cama, mas uma sombra atrás das cortinas chama minha atenção, e observo enquanto alguém se move pelo apartamento do outro lado da rua. Eu o vejo puxar as cortinas para olhar para fora. Apenas olhos, é tudo o que posso ver no escuro, mas eles se encontram com os meus e meu coração para. Deixo minha água cair no tapete e caio de costas no sofá. 27 Meus joelhos são como gelatina e minhas mãos tremem enquanto lágrimas quentes ardem pelo meu rosto. Quando olho para fora novamente, não há luz, não há ninguém lá. Você está cansada, Ivy, está imaginando coisas. Vá para a cama. Levando o meu corpo trêmulo pelo corredor, eu me encolho em Will, conseguindo conforto pela maneira como ele me segura perto, mesmo enquanto dorme. Fecho os olhos e tento acalmar a respiração. Apenas algumas horas é tudo o que preciso para recarregar a energia que esse bebê está sugando de mim. Will está fazendo café da manhã quando eu acordo. Eu posso ouvi-lo cantando junto com o rádio e sentir o cheiro do bacon fritando na panela. Meu estômago ronca e a necessidade de fazer xixi se torna forte demais para ser ignorada. Saio da cama e corro para o banheiro. Eu vejo meu reflexo no espelho e, na verdade, ofego com o quanto estou destruída. Fecho a porta e levo alguns minutos para domar meu todo-poderoso cabelo da cama, lavo meu rosto, escovo os dentes e tento dar um pouco de cor nas bochechas antes de me juntar ao cantor sem camisa na cozinha. — Bom dia, linda. – ele me cumprimenta com sua voz rouca de cantor. — Você acordou no meio da... 28 — Eu não conseguia dormir. — Então, você se levantou e esvaziou a máquina de lavar louça? – ele pergunta com uma sobrancelha levantada. Não esvaziei a máquina de lavar louça, não é? — Você precisa aprender a relaxar, Ivy. – ele me puxa para um abraço caloroso. — Você está queimando o bacon. – digo, com a minha mente girando, tentando pensar na noite passada. Olho para a sala, minha garrafa de água no chão me lembra do que pensei ter visto. Quando Will me solta, eu ando até lá para provar para mim mesma que estava imaginandotudo. À luz do dia, tudo parece tão normal, tão imperceptível. Mas, quando procuro a janela em que o vi olhando para mim, encontro apenas cortinas semi-fechadas e um pombo no parapeito da janela. Nada sinistro, nenhum monstro à noite - não há ninguém lá. Mesmo se houvesse provavelmente era um aluno solitário, como a maioria dos apartamentos nesta área. Pego a garrafa do tapete úmido e volto para o homem que está aqui, aquele na minha cozinha cuidando de mim e do meu bebê. Will está cheio de sonhos e vida, ele tem uma paixão contagiante dentro dele. Acho que foi por isso que me apaixonei tanto por ele, porque ele enche a parte do meu copo que estava vazio. — Você está bem? – ele pergunta, colocando um prato de café da manhã quente na minha frente na bancada da cozinha. — Você está distante um pouco. — Apenas pensando na gravidez. – eu respondo a ele. Balançando a cabeça para dispersar o nevoeiro, pego uma faca e um garfo. Will serve um copo gigante de suco de laranja para mim 29 e uma caneca de café para si. No caminho para se sentar ao meu lado, ele beija o topo da minha cabeça. — O que você quer fazer hoje? – ele me pergunta entre mordidas de ovo. — Acho que preciso parar de procrastinar e ir buscar algumas coisas para o quarto do bebê, se você quiser vir comigo? – ele acena com a cabeça, com a boca cheia de comida. — Quer ir ver um filme hoje à noite, então? — Você não está cantando? — Não, tirei uma noite de folga para poder levá-la a um encontro em que não sou o único entretenimento. – ele brinca, e isso aquece meu interior por ele ter tirado uma noite de folga por mim. — Você ainda vai me divertir mais tarde? – pergunto, olhando para ele. — Se você não tomar cuidado, vou entretê-la o dia todo e você nunca comprará nada da sua lista de compras. – diz ele com uma piscadinha atrevida. — Não, eu tenho que começar a fazer essa merda. A parte de negação desta gravidez acabou. Eu vou ser adulta e realmente começar a me preparar para esse bebê. Na terceira loja de bebês, começo a me sentir claustrofóbica. Há muita coisa acontecendo, muitas coisas. Não há como um humano minúsculo precisar de toda essa porcaria. Will é como uma criança, comprando de tudo, pegando as coisas sem olhar as 30 etiquetas de preços. Ele vive a vida como se fosse um mundo de fantasia, mas eu tenho um pé ainda firmemente enraizado na realidade. — Eu gosto deste carrinho. – digo, desesperada para sair de lá. Na verdade, não se preocupando com nada além de 50% de desconto. — Eu também. – Will concorda comigo. — Vamos comprar isso hoje, posso voltar novamente e pegar algumas das outras coisas da lista. — Ok, linda. – diz ele, envolvendo os braços em volta de mim. Enchendo-me de beijos suaves, eu esqueço como ele é irritante para fazer compras e me derreto com sua afeição. Will conseguiu um show fora da cidade. Eu não consegui tirar o tempo de folga do trabalho e, na verdade, estou cansada demais para ir atrás dele e da banda. Se ele quer chamar a atenção de uma gravadora, ele precisa fazer isso, esse é o sonho dele. Não posso impedi-lo de persegui-lo. Mesmo se eu tentasse, ele me deixaria e faria de qualquer maneira. Um tempo sozinha era bom e ruim, acho que precisava de um minuto para pensar sobre as coisas. Eu me senti caindo ultimamente. Meus pensamentos são doentios e irracionais, o medo está se infiltrando novamente e preciso 31 controlá-lo. Não posso olhar por cima do ombro a cada dez minutos, tenho um filho para pensar agora. — Alô. – atendo meu celular enquanto me sento no trem para casa à tarde, cheio de pessoas cansadas e com olhos tristes. Apenas como eu. — Ei, linda. – a voz rouca do Will de rockstar vem pelo celular e me faz sorrir. Sinto falta dele. — Como estão minhas duas pessoas favoritas? — Estou cansada hoje e meus pés estão doendo. Mal posso esperar para chegar em casa. Como é que vai aí? — Porra, ótimo! Foi por isso que liguei para você. – O tom dele muda e posso sentir más notícias antes que ele continue. — Fomos adicionados aos festivais de inverno, como uma mini-turnê como deve ser. Isso é ótimo. – Para ele, é. Para mim, este é provavelmente um começo de um coração partido. — Isso é incrível. – eu minto. — Estou tão feliz por você. – eu minto um pouco mais. — Eu queria te contar primeiro. – É claro que ele quis. Ele é bom demais para ser verdade. Eu tinha um homem assim antes - eu deveria ter aprendido. — Estamos nos preparando para o show de hoje à noite, mas eu ligo para você de manhã e conto tudo. — Ok, acabe com eles. – digo, mas não há nenhum sentimento na minha voz. Já estou desistindo, porque não há como competir com a música dele - essa cadela tem todo o apelo sexual. — Eu... – ele começa, depois para. — Adeus, linda. – É melhor que ele não diga isso. Agora não. 32 — Tchau, Will. – eu desligo antes que ele possa dizer outra palavra. Porra. Quando chego em casa, meu capacho está cheio com três caixas de entregas. Sei que não pedi nada, lembro-me de pedir tantas coisas e estou seis meses sóbria - então, definitivamente, não fiquei bêbada. Os rótulos são todos endereçados a mim, então eu arrasto as caixas para dentro uma de cada vez. Talvez fosse Misha, ela às vezes acha engraçado. Enchi um copo com leite, tentando acalmar o refluxo ácido que agora é a minha vida, e pego uma faca de cozinha para abrir as caixas. Sentada no sofá, com uma caixa enorme entre as pernas, eu abro a primeira. Cortando a fita transparente, apreensiva e animada para ver o que está na caixa. Provavelmente é um engano e terei que enviar tudo de volta. Quando tiro os sacos de bolhas que mantêm o conteúdo seguro, encontro os itens mais fofos para bebês. Lembro-me de cada um deles, porque os admirei em nosso passeio de compras, mas não podia pagar a maioria deles. Will. Ele os enviou. 33 Capitulo Cinco Kian Eliminar a competição, esse foi o primeiro passo no meu plano. O próximo está me envolver com Misha, porque eu sei que não vou passar por ela. Se eu tiver uma chance disso funcionar, preciso que Ivy fique sozinha. Eu a vejo abrir os presentes que enviei para ela, as coisas que ela escolheu na loja, mas não comprou. A última caixa é toda de roupa. Ela segura cada pequeno item e olha para eles. Posso ver as lágrimas rolando como rios pelas bochechas dela. Lambo meus lábios imaginando a salinidade na minha língua. Quero segurá-la em meus braços e tirar essa dor profunda dela. A necessidade de colocar minhas mãos em sua barriga inchada cresce violentamente dentro de mim a cada dia. Quero sentir o meu filho se movendo dentro dela, conhecer o batimento cardíaco como eu conheço o dela. Ela enxuga as bochechas e pega o celular, minha mão paira sobre o meu, esperando uma mensagem de agradecimento. A mensagem não chega até mim. Ivy não sabe que eu posso vê-la, ela não sabe que 34 eu estou aqui cuidando dela. Vou garantir que ela esteja bem, que nada aconteça com ela. Agora que o Sr. Rock'n Roll Will está fora da cidade por alguns meses, ela precisará de alguém. Você vai precisar de mim, Ivy. — Kian, abra essa porra de porta ou eu vou arrombar! – Kade, ele sabe. Eu sabia que ele descobriria. Ele é o único que sabia sobre esse lugar. Eu tenho evitado suas chamadas e mensagens de textos. — Kian. Não me faça fazer isso, cara. Deixe-me entrar, só quero falar com você. — Vá embora, Kade. — Kian, eu não vou embora. Vou começar a gritar, que os seus vizinhos vão ligar para a polícia. Deixe-me entrar. – eu sei o quão teimoso ele pode ser, ele não vai desistir disso. Não tem como ele sair dessa porta. Dou mais um olhar para Ivy, com seu sorriso amplo e suas bochechas molhadas de lágrimas felizes. Eu abro a porta que meu amigo está batendo. — O que é isso, cara? – ele diz assim que passa pelo batenteda porta do meu espaço. Sua raiva é tangível pela maneira como ele se mantém e no tom áspero de sua voz. — Você não pode fazer isso, Kian. — Você sabia? – pergunto a ele, porque meu humor ainda está para ser determinado por enquanto. — Sabia o que? Que você a estava observando de novo? Que você está perdendo a cabeça? 35 — Sabia. Você. Sabia? – eu digo as palavras, enfatizando-as para que ele possa entender que não estou em um lugar para ser pressionado hoje à noite. — Eu sabia o que, Kian? – ele diz, inclinando os ombros, balançando a cabeça, entrando mais na sala. — Que ela está carregando meu filho? Você sabia que Ivy está grávida? – Seus olhos se arregalam e sua mandíbula se abre levemente. — Não, ela nunca falou com nenhum de nós. Nem mesmo quando a procuramos. Ela cortou você da vida dela e tudo sobre você, Kian. — No entanto, ela ficou exatamente onde sabia que eu poderia encontrá-la. Ela nem mudou as fechaduras das portas. – eu racionalizo as minhas ações com as dela. — Kian, eu não sabia. – ele levanta as mãos como se eu estivesse apontando uma arma para ele. — Você tem certeza? Faz muito tempo, cara. — Tenho certeza. Seu ginecologista tem uma péssima segurança. Foi fácil descobrir, as datas não mentem. Ele balança a cabeça e abaixa as mãos. — Eu realmente não sabia. – eu não sei mais em quem confiar, mas sinto que não posso confiar nele. — O que vai fazer? – ele pergunta cautelosamente. — Eu não sei. Não sei o que fazer. – É a verdade que não sei o que fazer, quero estar perto dela, mas não posso estar lá para sempre e isso não é justo. — Como eu faço isso? Vou morrer, mais cedo ou mais tarde. Eu quero ir lá e abraçá-la e amá-la. Mas 36 sei que devo ficar aqui e deixá-la, apenas observar à distância. Não consigo tirá-la da cabeça, quero tanto estar com ela que é tudo que consigo pensar. Mesmo quando durmo, sonho com ela. — Kian, pense antes de fazer qualquer coisa. — Quando estávamos juntos, quando ela estava acordada, foi mágico. Foda-se, eu sei que ela me amava. – eu suspiro, sentando no sofá. — Eu não imaginava ter sentimentos por ela, Kade. Foi real para nós dois. — Você chegou até ela? — Não, pensei que seria melhor apenas desaparecer da vida dela, mas agora acho que cometi um grande erro. — Você deve encontrá-la. – diz ele. — Isso, de se esconder, observando-a, está errado, Kian. Você deveria vê-la cara a cara. — E se ela não falar comigo? — Você não saberá se não tentar, Kian. Isso não é saudável. Você sabe que uma vez que você entrar neste carrossel, não pode descer novamente. – É tarde demais, eu já estou lá e ele está girando fora de controle ao meu redor. — Não sei o que fazer, mas estando aqui, sinto-me perto dela. E talvez isso seja o mais perto que eu mereço. – ela está feliz, e eu já estou interferindo nisso. Eu deveria ficar longe. — Bata na porta da frente e pergunte se você pode conversar. – diz ele, como se fosse assim tão fácil. — É tão fácil. Na pior das hipóteses, ela bate a porta na sua cara e você bate novamente. 37 A visita de Kade foi seguida por um milhão de chamadas perdidas de meu pai. Eu nem me importo em ouvir as mensagens de voz dele. Eu já sei o que elas dirão e o nível da sua voz. Hoje perdi minha consulta na clínica do sono, eu estava fazendo compras. Eu tinha coisas melhores para fazer do que dormir hoje, eu precisava fazer Ivy sorrir. Volto a observá-la, talvez deva falar com ela - ela bateria a porta na minha cara? Eu imagino estar tão perto dela novamente, tão perto que posso ver as manchas em seus olhos. Estou andando de um lado para o outro, mordendo minha unha, dividido entre observá-la daqui ou ir vê-la. São três da manhã e não posso mais negar a força que ela tem sobre mim. Pego o chaveiro no qual me apeguei todo esse tempo. Eu visto um casaco preto antes de sair, caminhando pela rua, tentando não ser vista. Minhas mãos tremem e minhas respirações são curtas e rápidas quando entro pela porta da frente do prédio dela, assim como já fiz tantas vezes antes. A emoção de entrar sem ser detectado, o pensamento dela dormindo enquanto a observo, é um ponto alto que perdi. Meu corpo inteiro zumbe com o desejo de ficar em cima de sua cama, vê-la dessa maneira novamente. Foi aí que me apaixonei por Ivy. A chave gira na fechadura - você não a mudou. Você sabia que eu voltaria para você, você estava esperando por mim, não é? Sinto seu cheiro assim que passo pela porta, sua doçura me 38 preenchendo. Atraído por você como uma mariposa pela chama mortal, não posso ficar longe. Meus passos caem silenciosamente no chão enquanto me movo em direção ao quarto dela. Da porta, eu posso vê-la deitada de costas para mim, com as ondas de cabelo selvagem caindo sobre os ombros. Paro, espero, verifico se ela está dormindo profundamente antes de dar outro passo em sua direção. De pé na beira da cama, fico maravilhado quando ela embala meu filho no ventre, com as mãos pequenas espalhadas sobre a barriga, os olhos fechados e a respiração lenta e superficial. Minha doce Ivy dorme tão profundamente. Apenas estar perto dela acalma um pouco do barulho maníaco dentro da minha cabeça. — Kian. – Sua voz me arrasta dos meus sonhos acordados. Quando olho para ela, ela ainda está dormindo, ela pode me sentir. Ela sabe que estou aqui. Inclinando-me para onde sua cabeça repousa sobre o travesseiro, sussurro baixinho para ela: — Shhh, é apenas um sonho. – antes de sair, trancando a porta da frente silenciosamente atrás de mim. 39 Capítulo Seis Ivy Will culpou Misha pelas coisas do bebê, mas ela diz que não foi ela - era uma deles, então agradeci aos dois. Mal posso esperar que Will chegue em casa, mesmo sabendo que só vai demorar alguns dias. Sinto falta dele. Continuo sonhando com Kian, e isso não acontece quando Will está aqui me abraçando, ele impede que meus pedaços se desmoronem. Enxugando uma lágrima perdida, pinto outro pequeno quadrado na parede do quarto de hóspedes, tentando escolher uma cor para o quarto do bebê. Nada está me inspirando ou fazendo isso parecer real. Pensei que, quando chegasse ao ponto de pintar o quarto e construir móveis, seria real para mim, mas tudo ainda parece muito distante. Meu terapeuta acha que eu preciso informar a Kian, que é um direito seu saber que ele será pai e que deve ajudar essa criança, pelo menos financeiramente. 40 Tenho medo do que sentiria se vir o Kian - que não teria medo dele. Que eu esqueceria o que ele é - um monstro. Se eu olhar nos olhos dele, posso ver o homem que amo, e não o bastardo que me enganou. É melhor se eu fizer isso sozinha. Não sou forte o suficiente para me proteger de Kian, o que deixaria o meu filho vulnerável. Meu celular toca da cozinha onde o deixei carregando. Largo o pincel na pressa para chegar a ele, caso seja Will. Deixo cair respingos e entro nela, deixando um rastro de pegadas cinza pelo corredor. — Alô. – digo sem fôlego quando chego lá. — O que você está fazendo? – É Misha, não Will. — Pintando. Bem, na verdade não estou pintando. Eu estou tentando escolher uma cor. — Você sabe que seria muito mais fácil se fosse como uma pessoa normal e descobrisse o sexo do bebê, certo? — Foda-se, eu não quero saber. — Não xingue, seu bebê pode ouvi-la. – ela brinca. — Eu realmente não dou a mínima. – digo. — O que foi? – eu olho para o relógio na parede. — É tarde para uma ligação Misha, por que você não está na cama com um homem ou está dormindo profundamente? — Minha mãe caiu. Ela quebrou o quadril e, dentre sete os irmãos, tive sorte, então vou pegar um trem hoje à noite para 41 ajudá-la. Volto em algumas semanas. Eu só queria que você soubesse. — Sete irmãos e eles escolheram você? O que a sua mãe fez na vida passada para merecer isso? – Misha ri de mim.Ela não é exatamente do tipo carinhosa. — Tenho certeza de que vou sobreviver sem você... no entanto, você pode não sobreviver. – Nós duas rimos um pouco. — Não zombe de mim. Isso é pior do que a detenção no ensino médio. Na verdade, prefiro ir para a escola militar. – ela suspira. — Mas eu vou sentir sua falta. Podemos nos ver no FaceTime ou o Skype quando tiver tempo. Quem vai construir toda essa merda que você comprou? — Eu não comprei! Eu continuo lhe dizendo isso. Deve ter sido Will. Por falar nisso... quando seu rockstar mulherengo estará em casa? — Quinta-feira, mas apenas por duas noites. Eles receberam uma vaga no circuito do festival e eu disse para ele ir. — Você o quê? – ela parece chocada. — Eu disse para ele fazer isso, Misha. É o sonho dele. Não posso tirar isso dele, não é justo. — Disse para você que rapazes com guitarras quebram mais corações do que cordas. – ela repete a frase que usou para mim quando o convidei para morar comigo. — Eu meio que sabia que não seria uma coisa eterna. – eu não consigo esconder a decepção na minha voz. 42 — Mas isso não impediu que você esperasse. Sinto muito, Ivy, mas você e o bebê terão a tia Misha para amar os dois. — Ahhh, obrigada. — Amo vocês. Vejo você depois de cumprir minha sentença obrigatória de "olhar a mãe". — Divirta-se, mas não estrague todos os homens da cidade. Sua mãe tem uma boa reputação a defender. – ela ri histericamente de mim antes de desligar com um breve “tchau”. Acho que vou ter que limpar meu desastre de tinta antes de tentar dormir um pouco. Meus pés grudam no chão, pegajosos com tinta ainda molhada enquanto trilho mais uma bagunça de volta para o quarto. Quando olho ao redor do quarto cheio de coisas de bebê e manchas estranhas de tinta incompatível, fico impressionada com uma tristeza pesada. Eu posso sentir a solidão em meus ossos enquanto sento no chão e luto contra as lágrimas. Falando comigo mesma, culpo os hormônios e o bebê - mas sei a verdade. Estou quebrando e desta vez não tenho ideia de como juntar as peças. Eu limpo minha bagunça e coloco alguns dos itens menores no armário. Quando olho para o relógio, é depois da uma da manhã. Will não ligou, ele está obviamente ocupado com os caras. Tomo um banho quente e curto, visto uma de suas camisetas, que agora se encaixa confortavelmente na minha barriga, com um short de pijama. Isso me faz sentir como se ele estivesse aqui, me abraçando enquanto me encolho no travesseiro e no seu corpo e fechava os olhos. Meus sonhos se transformam em pesadelos, depois em Kian. Meu sono é inquieto e quebrado, assim como 43 meu coração. Verifico meu celular algumas vezes para ver se há uma mensagem de texto ou chamada de Will, mas não há nada. Eu tento me enganar para adormecer, mas isso simplesmente não vem a mim. Em pouco tempo, os dois alarmes que programei a cada noite tocam e é hora de me arrastar para o trabalho. No caminho para a estação, paro na Starbucks e peço chá, preciso de algo quente e reconfortante no meu corpo agora. Estou no limite, e nada vai resolver essa tensão. Na verdade, estou ansiosa pela distração do trabalho, pelo menos minha mente estará ocupada. O cheiro de tinta paira no ar quando abro a porta. Fiquei até tarde no trabalho e tive que pegar um trem atrasado. Quando olho ao redor da sala, a princípio meu coração para, mas depois ouço. A voz grave de Will cantando do banheiro e, quando eu vou encontrá-lo, paro na porta do quarto do bebê. Está pintado na cor cinza com a qual eu estava pintando ontem à noite. Parece impressionante, e estou tão agradecida por ele ter feito isso por mim. Olhando em volta, vejo que o berço foi montado, seus sapatos estão no chão com as instruções e uma chave de fenda. O suave zumbido de sua voz me atrai para ele, e quando chego ao nosso quarto, ele está ali de cueca, cantando para si mesmo enquanto seca o cabelo. Andando atrás dele, sorrio e envolvo meus braços em volta de sua cintura. 44 — Você está em casa. – ele se vira, me dando um beijo e me puxando para perto dele. Ele cheira a sabonete e loção pós-barba. Sua mandíbula normalmente áspera está lisa quando eu seguro seu rosto no meu, para que eu possa beijá-lo um pouco mais. — Senti sua falta. – eu sussurro contra seus lábios, passando minhas mãos por seu peito nu. — Eu também senti sua falta, linda. – diz ele, com suas mãos passando sobre a minha barriga. — Vocês dois. — Me desculpe por me atrasar, se soubesse que você estava voltando para casa hoje, teria tentado estar aqui mais cedo. — Queria surpreendê-la e ajudar com as coisas do bebê. Então isso funcionou perfeitamente. Vamos pedir comida chinesa e ter amassos no sofá. – ele diz, me soltando. Eu amo o som desse plano. — Porque eu tenho que ir de novo amanhã. – E assim o meu coração se parti. Eu sabia que isso poderia acontecer. Sabia que ele perseguiria esse sonho e ficaria com a sequência de destruição e dor no coração. Eu preciso apenas isolar meu maldito coração, deixar que isso seja o que é - uma fase passageira em nossas vidas. Uma transição. 45 Capítulo Sete Kian Misha vai sair da cidade para cuidar de sua mãe, que sofreu um pequeno acidente. Will partirá amanhã em um voo matutino. Enquanto Ivy estiver no trabalho, eu irei e terminarei o quarto do bebê. Ela não deveria estar fazendo tudo sozinha, ela precisa de mim para ajudá-la. Observo enquanto eles se movem do quarto de volta para a sala de estar. A maneira como ele a toca me machuca. Eu não deveria ver isso - minha raiva lentamente se enfurece. Eu não posso ver isso. Ela é minha Ivy - não dele. Ele vai embora amanhã, digo para mim mesmo. Deixe-o ter sua última noite. Afasto-me do meu telescópio e deito no sofá. A tortura de saber que ela encontrou conforto sem mim dói. Meu celular toca da cozinha onde eu o deixei para ignorá-lo, eu estava vendo o Will. Levanto com um gemido e o encontro, há uma mensagem de Kade. 46 Durma Kian. Tome seus remédios ou vá à clínica. Você precisa dormir. Esta noite. Ele tem razão. Eu preciso dormir, e amanhã eles vão embora e Ivy será minha Ivy novamente. Ninguém será capaz de nos separar então. Pego minha carteira, celular e chaves da bancada, visto um casaco com capuz e dou uma caminhada lenta até o meu carro. O ar fresco da noite me enche de energia e rejuvenesce a minha alma. A névoa gruda no interior dos meus pulmões, densa e gelada. É mais uma noite fria, então eu posso sentir a sua calidez novamente. Dirigindo devagar, minha alma ainda está presa à dela, querendo voltar, parar o que está acontecendo entre ela e Will. A força dela está me puxando, me arrastando, não me permitindo me afastar - mesmo que saiba que preciso. Minha casa está escura e não me preocupo em acender as luzes. Caminho e abro o frasco de remédios ao lado da minha cama desarrumada. Pegando três pílulas na mão, abro uma garrafa velha de água para engoli-las. Eu tiro minhas roupas enquanto as drogas me deixam lentamente lento, meus membros ficam mais pesados quando eu me deito. Meu corpo caiu com a gravidade pelo colchão, com um peso de chumbo. Incapaz de lutar contra isso, eu sucumbo ao sono que preciso desesperadamente para permanecer vivo. Sem sonhos, nada além do consolo escuro que as drogas proporcionam. A vida deixa meu corpo e minha mente tem o resto que precisa para curar e para sobreviver. 47 — Você sabe o que tirou a vida de sua mãe? – A voz de meu pai é rouca e suas mãos tremem, mesmo que ele tente estabilizá- las. — A maldição, ela me disse isso. – digo, lembrando como ela nunca dormia, do jeito que ela rapidamente perdeu a cabeça e depois o corpo. — Insônia familiar fatal. – ele diz palavras que me parecem estranhas. O pai dela morreu da mesma coisa e o pai dele também. Eles chamaram de maldiçãoda família. Eu o ouço, mas não estou ouvindo. Minha mente parece que está fraturada, e que nada pode curar a fenda que se formou nos oito dias que eu esperava ser salvo, mas desejava morrer. Nós realmente nunca conversamos sobre minha mãe e sua morte, meu pai simplesmente continuou com a vida. — Kian, você está mostrando todos os sintomas. Seu estresse pós-traumático está piorando. Eu não quero te perder, filho. Você precisa de ajuda. — Eu não tenho um pai amaldiçoado. – digo a ele, querendo rir da ideia de uma maldição vinda de meu pai, o médico - o homem da ciência e da pesquisa. — Não é uma maldição, Kian. É uma doença e não há cura para ela. A maioria das pessoas morre em muito pouco tempo. — Graças a Deus, porque estou acabando com a vida de qualquer maneira. – eu resmungo, girando na cadeira do escritório. — Kian, você não quis dizer isso. Um dia vai se apaixonar de novo e gostará de ter mais tempo. 48 — O que? Como você fez? – eu odeio que ele tão facilmente substituiu minha mãe. — Sim, como eu fiz. – ele olha para mim com olhos cansados, é como se olhar no espelho. — Vou ajudá-lo, nós cuidaremos disso. Darei a você todo o tempo que o remédio puder comprar. Mas Kian, você precisa obter ajuda com sua saúde mental, filho. — Não quero sua ajuda, pai. Passo por Will na porta da frente, ele está carregando suas malas e há um carro cheio de caras estacionados em frente ao prédio buzinando para ele. Faço uma pausa e o vejo sair, esperando que meus planos cuidadosamente elaborados sejam suficientes para mantê-lo afastado para sempre. Não há muito que você não possa fazer por um "amigo" com conexões familiares poderosas como a nossa. Ajudou o fato de sua música não ser terrível, era mais fácil convencê-los de que ele tem potencial para ser uma estrela. Quando o carro dele se afasta, eu viro e pressiono o botão do elevador para subir. É hoje. Estou pronto para terminar de trabalhar no quarto do meu bebê. Eu quero que seja perfeito, assim como ela será. Ivy não sabe que é uma garota, eu li o arquivo da ginecologista e dizia em grandes letras que ela não queria saber. Eu, no entanto, precisava saber. 49 As paredes suaves de cinza combinam com os móveis brancos e os suaves tons de verde que ela escolheu ao fazer compras. Eu me assegurei de conseguir tudo o que ela queria, eles merecem. Eu deveria ter tempo suficiente para terminar tudo antes que ela chegue em casa do trabalho hoje. O caro Will me ajudou com umas coisas ontem à noite. Embora eu não tenha certeza se confio nas habilidades dele, ainda checarei cada parafuso e porca do berço. Estou perdido nas tarefas em questão, não olho o relógio o suficiente. Quando faço uma pausa, já é fim de tarde, faço um sanduíche e encho um copo com água gelada. Sentar em seu balcão comendo me lembra de sentar aqui com ela, observando-a sorrir e ouvindo sua risada. Eu sinto tanto a falta dela que dói. Há uma dor física, que penetra em mim, só de pensar nela a acalma. Como rapidamente, e volto a dar os retoques finais no quarto do bebê, ela estará em casa em breve. Isso precisa ser feito antes que ela chegue aqui, eu quero que seja uma surpresa. Admirando meu trabalho da porta, olho ao redor do belo quarto e me pergunto se Ivy vai adorar. Está ficando tarde e preciso que o resto da minha surpresa seja igualmente perfeito. Tomo um banho e visto as roupas que trouxe comigo antes de ir para a cozinha e começar a preparar o jantar. 50 Enquanto a comida está sendo preparada, ponho dois lugares na bancada e acendo uma vela. Ligando o rádio, vinculo-o ao meu celular para poder reproduzir minha playlist Ivy cuidadosamente selecionada. É assim que eu quero que toda noite pareça, ela voltando para casa para mim. É assim que deveria ter sido o tempo todo. Meu corpo move com a música enquanto arrumo a louça e fico de olho na carne assada no forno. Quando eu sei que não vai queimar, vou para o quarto e o banheiro, e limpo qualquer sinal de Will, guardando os seus pertences para que eu possa jogá-los na rampa de lixo no final do corredor. Ele não voltará para eles, aquele garoto tinha ambição nos olhos. Não há chance de ele não perseguir essa oportunidade, estou apostando nela. De volta para dentro, apago as luzes e sirvo uma taça de seu vinho favorito. O vermelho inebriante tem gosto de seus beijos quando eu o tomo da cadeira de frente para a porta. Eu espero minha Ivy voltar para casa. A chave gira na fechadura. Estou tão cansado. A maçaneta gira. Eu preciso dormir. A porta se abre. Ela vai me ajudar a dormir. Ivy entra. — Pensei que você estava indo embora. – diz ela, sem me ver. Ela acha que Will faria tudo isso por ela. Eu estou machucado. — Olá, Ivy. – eu a cumprimento das sombras. 51 — Kian. – ela sussurra. Descansarei, finalmente. Continua...
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