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Gestão Pública e Políticas Públicas no Brasil Sumário MÓDULO 1 – Gestão Pública e Políticas Pública no Brasil 1. Gestão Pública 1.1 Conceito de Gestão Pública 1.2 Modelos de Gestão 1.2.1 Administração Patrimonialista 1.2.2 Administração Pública Burocrática 1.2.3 Administração Pública Gerencial 1.2.4 A Nova Gestão Pública 2. Políticas Públicas no Brasil 2.1 Políticas Públicas de Segurança Considerações Finais MÓDULO 2 – SUJEITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS 1. Os sujeitos das políticas públicas 1.1 Atores Públicos 1.2 Atores Privados 2 Atores e seus comportamentos 3 Atores políticos e relações de poder Considerações Finais MÓDULO 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS: CONTROLE E PLANEJAMENTO 1.Considerações Iniciais 2. Planejamento 2.1 Planejamento: conceito e funções 3. A função do controle 4. O controle jurisdicional das Políticas Públicas 4.1 Separação dos Poderes e Controle das Políticas Públicas Considerações Finais MÓDULO 4 – DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS 1. Democracia 2. Democracia Participativa 3. Políticas Públicas e Democracia Participativa 4. Conselhos Gestores das Políticas Públicas 5. Efetividade Considerações Finais MÓDULO 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITO E TIPOLOGIA 1. Políticas Públicas 1.1 Conceito 1.1.1 Abordagem estatista 1.1.2 Abordagem multicêntrica 2. A Tipologia de Políticas Públicas Considerações Finais Gestão Pública e Políticas Públicas no Brasil Elisangela Carolina Luciano Disciplina Gestão Pública Módulo 1 – Gestão Pública e Políticas Públicas no Brasil – Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2016. Guia de Estudos – Módulo 1 – Gestão Pública e Políticas Públicas no Brasil 1. Gestão Pública 2. Políticas Públicas 3. Segurança Orgs.: Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos Conversa Inicial No primeiro módulo, discutiremos sobre gestão pública e políticas pública no Brasil, para tanto, nosso foco será as políticas públicas na área da segurança. No primeiro momento estudaremos a gestão pública, termo que tem sido utilizado de forma intensa nas últimas décadas, em substituição à administração pública. Para compreender o momento atual é preciso voltar o olhar para a história do Estado brasileiro a fim de compreender os princípios dos modelos de administração pública que se fizeram presentes em cada momento histórico e foram sendo substituídos, de forma gradual e contínua, por concepções que melhor atendia as necessidades da sociedade em uma dada época. Em seguida, trataremos da Política Pública, o que possibilitará ao leitor compreender que, com a expansão da democracia as responsabilidades do Estado para com a sociedade se intensifica o que requer a mobilização de planos, metas, ações e decisões para que possa cumprir sua principal função: proporcionar o bem-estar para a população. Por fim, abordaremos as principais políticas públicas implementadas no país na área da segurança, sendo possível, uma vez mais compreender que a substituição de um regime militar por um regime democrático impôs ao Estado o desafio de humanizar a atuação da polícia. Agora com a descrição de toda a trajetória, podemos iniciar a nossa jornada de estudos. Ótimo aprendizado! Profº Mestranda Elisangela Carolina Luciano 1. Gestão Pública 1.3 Conceito de Gestão Pública As organizações querem sejam elas públicas ou privadas, constituem-se em espaços onde as relações estabelecidas são motivadas por pessoas que compartilham do mesmo objetivo: alcançar metas individuais e coletivas com a máxima utilidade e benefícios a um custo mínimo. No que concerne aos fatores que vão diferenciar a organização do setor público daquela mantida pela inciativa privada é o poder de coação conferido ao Estado em razão do particular. Neste prisma, a gestão desenvolvida pelo Estado com vistas a prestar os serviços que lhes cabe possui um caráter singular que o distancia sobremaneira da gestão de uma organização privada. Esta singularidade está expressa na razão de ser da organização privada e da razão de ser da organização pública, ou seja, enquanto a primeira se posiciona como prestadora de serviços e produtos com a pretensão de obter a maior quantidade possível de lucros, a segunda só funciona corretamente se os gestores públicos estiverem respaldados pela legitimidade dos interesses gerais da sociedade e da democracia em seu maior grau além de dispor de toda a informação necessária para desenvolver uma gestão eficiente. Desta forma, ao compreender que a organização pública está a serviço da coletividade, tem-se o primeiro conceito de gestão pública que é a dedicação contínua voltada para o desenvolvimento social. No entanto, ampliar este horizonte de conhecimento e compreender com clareza as especificidades do tema é de grande valia para o trato da coisa pública. De acordo com Santos (2014, p.89), “gestão pública refere-se às funções de gerencia pública dos negócios do governo” tal entendimento corrobora com os ensinamentos de Silva (2013) que destaca que Gestão Pública é um termo criado recentemente para designar o uso de práticas novas provenientes tanto da administração do setor público quanto do setor privado, como, por exemplo, olhar para o cidadão enquanto consumidor. Na seara da conceitualização da Gestão Pública, é mister compreender os aspectos modernos que influenciam o entendimento que se tem nos dias atuais do objeto de estudo. Neste contexto, as palavras de Coelho (2002) ampliam esta discussão ao esclarecerem que o formato moderno de gestão pública tem como característica a administração gerencial. Nas palavras do autor: A administração gerencial pode ser caracterizada pelo uso de formas modernas de gestão pública, aperfeiçoando os critérios para controlar os serviços públicos, as relações que se estabelecem entre o Poder Público e seus servidores e modificando, ainda, a própria atuação da administração, que passa a buscar a eficiência, a qualidade e a concretização do regime democrático, através da participação intensa dos cidadãos (COELHO, 2002, p.259). Ao conferir ao cidadão o lugar central de toda ação administrativa, torna- se evidente o objetivo máximo da gestão pública, ou seja, o bem da coletividade administrada. Esta é a meta a ser observada e perseguida pelo gestor público o que requer a concretude de alguns propósitos, como o combate do clientelismo e do patrimonialismo historicamente arraigados na administração pública, a qualificação dos serviços prestados à sociedade, a redução de custos sem deixar de atender as necessidades sociais e o aprimoramento do controle social (BUENO, OLIVEIRA, 2002). Neste prisma deflui-se que, a nova Gestão Pública procura não apenas renovar como também inovar a maneira como a administração cuida de seu funcionamento, incorporando técnicas provenientes do setor privado adaptando-as às suas características e necessidades bem como implantando novas iniciativas para atender ao binômio eficiência econômica e eficácia social. Esta nova concepção tem como suporte de sustentação a informação e o tratamento que se dá a ela, num processo que inclui: transmissão, analise, armazenamento e novas consultas para a tomada de decisões e, consequentemente, novo controle e nova avaliação. Santos (2014, p.89) ressalta que, para alcançar a eficiência, a Gestão Pública necessita da efetivação de um conjunto de parâmetros básicos, a saber: “I- tradução da missão; II- realização de planejamento e controle; III- administração de recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros;V- tomada de decisões diante de conflitos internos e externos”. Torna-se, portanto, evidente o papel da Gestão Pública no atendimento ao interesse da coletividade. A Gestão Pública é a ferramenta que o Estado se utilizará para controlar a sua eficiência na realização do interesse público estabelecidos política e administrativamente. Sabendo-se que uma Gestão Pública eficiente é um direito constitucional garantido ao cidadão, quais são os princípios que o gestor público deve se pautar a fim de alcançar esta eficiência? 1.2 Modelos de Gestão Modelos de Gestão Pública podem ser compreendidos como um conjunto de métodos e técnicas administrativos colocados em prática para alcançar os objetivos traçados. Dentro de um contexto histórico, a maneira como se concebe a gestão nos dias atuais é um fruto de uma evolução e aprimoramento de modelos anteriores que foram sendo substituídos por apresentarem deficiências e necessidades que o impediam atender as demandas e exigências sociais de uma dada época. Desta forma, partindo de uma perspectiva histórica é possível verificar que a administração pública evoluiu por intermédio de três modelos básicos: patrimonialista, burocrática e gerencial. A análise das especificidades de cada uma, permite entender que nenhum modelo foi inteiramente abandonada ao se sucederem no tempo. 1.2.1 Administração Patrimonialista A Administração Pública Patrimonialista é uma herança do período feudal. Neste modelo, o Estado é considerado como a extensão do poder do administrador público e seus servidores, nobres, cujos títulos eram recebidos dos governantes como prova de gratidão e como estratégia para defender os interesses destes. Desta forma, o foco da administração pública não é servir a população e criar condições de atende-la em suas necessidades e sim o povo, por meio de seu trabalho, atender as necessidades do Estado. Princípios administrativos consagrados como a isonomia, a impessoalidade, a indisponibilidade do interesse público, a legalidade e publicidade eram totalmente desprezados pelo administrador, abrindo precedentes para o surgimento do nepotismo, da corrupção e da dilapidação do patrimônio público, prejudicando, desta maneira, toda uma população que deveria ser protegida pelo Estado. Segundo Alexandrino e Paulo (2009) esse modelo passa a ser questionado com o advento da Revolução Francesa e o contato de alguns representantes da população com os ideais democráticos que começam a ser difundidos neste período e vão servir de apoio para pressionar o governo para o cumprimento dos preceitos constitucionais citados. No Brasil, o patrimonialismo iniciou no período colonial e se estendeu até a década de 1930. Todavia, nos dias atuais, muitos órgãos públicos ainda guardam resquícios deste modelo, haja vista que, ele se encontra presente na atuação inadequada de maus gestores que se valem da administração pública para praticar o nepotismo, desvios, corrupção, obtendo, com isso, vantagens pessoais. 1.2.2 Administração Pública Burocrática Com a revolução industrial e o surgimento do Estado Liberal, uma nova lógica surge na administração pública do século XIX para atender as necessidades de um capitalismo industrial que surge modificando a ordem social vigente e torando impraticável o patrimonialismo. Neste contexto, mercado e democracia são duas vertentes que só podem coexistir quando a sociedade consegue se distinguir-se do Estado e o controlar. Surge desta forma, uma concepção de administração que busca separar a coisa pública da coisa privada. Segundo Alexandrino e Paulo (2009), a administração burocrática se caracteriza pela submissão ao Direito e a racionalidade, opondo-se ao nepotismo e se apoiando nos princípios de hierarquia profissional, impessoalidade, carreira pública e a profissionalização do servidor. Em virtude do histórico corrupto e nepotista do modelo anterior, a atuação do Estado em todo o processo de contratação de servidores, produtos e serviços e atendimento à população, passam a ser controlado de maneira rígida e criteriosa. No entanto, trata-se de uma modelo que também apresenta falhas e críticas, como ressalta Silva (2013): Um dos motivos da adoção deste modelo seria porque é uma alternativa muito superior à Administração Patrimonialista do Estado. No entanto, a hipótese de eficiência em que se baseava não se revelou autentico, pois se constatou que não garantia nem rapidez, nem boa qualidade, nem custo baixo para os serviços prestados ao público. Na verdade, a administração burocrática é cara, lenta, autorreferida e pouco ou nada orientada para o atendimento das demandas do cidadão (SILVA, 2013, p.13). Em síntese, o modelo de Administração Burocrático é norteado pelas seguintes premissas: formalismo, impessoalidade, divisão funcional hierárquica, profissionalização e ideia de carreira pública e discricionariedade nas decisões, ou seja, um modelo submisso à lei. 1.2.3 Administração Pública Gerencial Uma gestão administrativa e econômica deficitária aliada às crescentes demandas sociais fizeram surgir, na maioria dos países, um cenário político e social marcado pelo descontrole fiscal, administrativo e econômico, culminando em inflação, desemprego e recessão, ou seja, o surgimento de uma crise generalizada do Estado que se tornou mais evidente a partir de 1970. Em virtude do cenário caótico que se descortinava com a crise, era inegável a necessidade de um novo modelo de gestão e uma reforma no aparelho do Estado era imperativo. Com isso, surge um novo conceito de gestão, que “aos poucos foram-se delineando os contornos da nova administração pública ou administração pública gerencial em vários países, principalmente na Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália [...]” (BRESSER- PEREIRA,1998, p.9). Entre as principais características deste novo paradigma é possível citar a busca pela eficiência por meio da prestação de serviços públicos de qualidade, simplificação dos processos, a administração adequada do patrimônio público, a economicidade e, o mais importante, o foco no cidadão, legítimo proprietário da “res publica” (SILVA, 2013). Nos dias atuais, o modelo de gestão pública gerencial vem se consolidando em virtude do processo de mudanças ocorridas nas estruturas organizacionais, a necessidade de reduzir custos, a redução da máquina estatal, a descentralização dos serviços públicos e a busca pela padronização na gestão do tempo e dos recursos. Síntese Modelos de Gestão Pública no Brasil: O país passou por três modelos diferentes de gestão: patrimonialista, burocrático e gerencial. No modelo patrimonialista o Estado era concebido como patrimônio do governante, que indicava os administradores conferindo a estes títulos de nobreza. O modelo burocrático surgiu como o objetivo de superar a corrupção do modelo anterior, dando às ações da administração pública em caráter de impessoalidade. O modelo gerencial surgiu da preocupação em qualificar os serviços prestados pelo Estado e reduzir custos, visando resultados e ampliando a governança do Estado. 1.2.4 A Nova Gestão Pública A Nova Gestão Pública surge com características que se distinguem dos modelos que a antecederam pelas necessidades de redimensionar o papel e as formas de atuação do Estado, com vistas ao atendimento das demandas contemporâneas. Neste modelo, a tendência dominante se caracteriza pelo desafio de desenvolver e colocar em prática programas capazes de aumentar a eficiência e a qualidade dos serviços prestados. Neste contexto, surge a New Public Management, cuja gênese está na noção de equidade no acesso aos serviços públicos, na ampliação do dever social, no resgate do conceito de esfera pública, na transparência na prestação decontas, na elaboração de indicadores de desempenho, na maior autonomia gerencial e no foco nos resultados (SILVA, 2013). Importante destacar que o conceito de Nova Gestão Pública pode ser traduzido pelo desejo de reforçar a cidadania, reforçar nos servidores a noção de coisa pública, reconhecer os direitos como garantia do cidadão, buscar a satisfação do cliente, o que requer melhoria na qualidade do atendimento, redução do tempo e simplificação nos processos, universalização e igualdade. Na tentativa desenvolver um esboço dos princípios que orientam a Nova Gestão Pública, Levy e Dragon (2005) tecem os seguintes agrupamentos: • Definição do público-alvo: a definição clara do público-alvo é a primeira ação que um projeto deve empreender para que se possa tornar explicito o grupo de pessoas ou instituições que se beneficiarão com as políticas a serem implementadas, os projetos a serem desenvolvidos e as decisões a serem tomadas. • Foco em resultados: para isto, é importante definir quais serão os resultados que se pretende atingir e que moverão ações para que tais objetivos sejam alcançados de forma eficiente. A participação de todos os envolvidos no processo é de suma importância para que os resultados que se almeja alcançar sejam coerentes com as necessidades e prioridades do público-alvo e que estes sejam elaborados levando-se em conta as reais possibilidades de serem concretizados, evitando o estabelecimento de metas demasiadamente idealistas. • Flexibilidade administrativa: com este princípio, as instituições e as pessoas conquistam gradativamente a autonomia necessária para alcançar os objetivos o que requer, por sua vez, a delimitação clara dos espaços de atuação da administração pública. • Controle social: o Estado tem o dever legal e moral de prestar contas para a sociedade sobre sua atuação. O modelo de Nova Gestão Pública é realizada fundamentalmente por meio de ação conjunta com a comunidade, é com ela e não para ela que a busca de solução para os problemas sociais é realizada. O controle social é um instrumento do cidadão mas que é usado a favor do próprio Estado, haja vista que, a transparência gera confiança por parte da população, que é um dos principais pilares da governabilidade. • Valorização do Servidor: colocar em prática uma Nova Gestão Pública significa resgatar a imagem do servidor público, criando condições para que ele possa desenvolver sua criatividade, sua capacidade empreendedora, destacando seu compromisso com a população e o seu comprometimento ético, ao mesmo tempo em que se deve empreender esforços para que o servidor público seja reconhecido pela coletividade como profissional indispensável no serviço público, legitimando e valorizando o exercício da função pública. • Trabalho em rede: o uso das novas tecnologias da comunicação e da informação ganha um lugar de destaque no contexto da Nova Gestão Pública. A tecnologia proporciona agilidade em todos os processos. A tomada de decisão se torna mais coerente pelo volume de informações disponíveis para serem consultadas, analisadas e compartilhadas entre os diferentes setores. A integração entre os diferentes setores é facilitada e, com isso, reduz-se a burocracia na comunicação entre os responsáveis pelos projetos. Cabe, portanto, como última reflexão desta sessão, ressaltar que a Nova Gestão Pública busca, da mesma forma que gestão gerencial, alcançar resultados, tendo como premissa o paradigma da transparência, o fazer mais com menos e o desenvolvimento de parâmetros de desempenho. O entendimento de que um dos mais importantes desafios do setor público brasileiro é de caráter gerencial fez com que os modelos de administração pública fossem evoluindo em busca de uma gestão de excelência, focada no cidadão e na busca de resultados. Todavia, nenhum modelo vigente foi totalmente superado pelo que o substituiu. Neste contexto, procure identificar os resquícios de cada modelo estudado no contexto da Nova Gestão Pública. 2 Políticas Públicas no Brasil O Estado brasileiro, por meio de suas legislações, garante ao cidadão uma série de direitos sociais que para serem efetivados dependem da implementação de políticas públicas consistentes para cada área. Todavia, um dos grandes desafios enfrentados pelo país para esta implementação é a falta de interlocução entre os entes federados. Desta forma, o regime de colaboração e a intersetoriedade das ações é uma meta que tem sido perseguida no decorrer da história pelo Estado brasileiro. A descentralização política e administrativa é uma característica marcante da Constituição Federal de 1988 que, na seara do artigo 18 estabelece que: “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.” É por meio de tais preceitos constitucionais que os diferentes entes federados desenvolvem e efetivam políticas públicas, cujos resultados e efeitos são influenciados pelos graus de colaboração que se estabelece entre eles. Mas, o que são políticas públicas afinal? Para responder a este questionamento é necessário que se compreenda que não há uma única nem tão pouco uma melhor definição para este termo, muito embora há conceitos que se divergem um do outro. Do ponto de vista teórico-conceitual, a política pública pode ser entendida como um campo multidisciplinar e seu foco está na sistematização e articulação de teorias construídas por diferentes áreas do conhecimento- ciência política, economia, sociologia- a fim de explicar a finalidade da política e de seus processos. Como a implementação de políticas públicas repercutem diretamente no cenário socioeconômico, toda teoria da política passa pela compreensão das relações que se estabelecem entre Estado, economia, política e sociedade. Outra linha de raciocínio defende a ideia de que política pública é o processo em que o governo busca soluções para os problemas sociais por ele diagnosticado. Refletindo nesta questão é possível entender o quão minimalista é esta definição pois, quando compreende que o governo deve levantar os problemas e buscar soluções, secundariza-se os aspectos racionais e procedimentais envolvidos neste processo, ou seja, o embate que se materializa em torno de ideias e interesses. Aliás, ao concentrar o foco de atuação apenas na figura do governo, corre-se o risco, por um lado, de desprezar os limites que cercam as decisões do próprio governo e, por outro lado, inviabiliza a cooperação e o diálogo que pode e deve acontecer entre governo e demais instituições e grupos sociais. Embora a política pública seja um ramo da ciência política, ela não se limita a esta, podendo também se constituir em objeto de análise de outras áreas dos conhecimentos, como por exemplo, as áreas de econometria e avaliação pois ela comporta diferentes olhares e interpretações. Vale destacar que, após finalizada e formuladas, a política pública se desdobra em planos, projetos, bases de dados, programas, sistema de informação, pesquisas, análise a luz de outras legislações, aprovação de novas legislações e, quando colocadas em prática, ficam submetidas à um programa de controle e avaliação. Síntese Pode-se compreender política pública como a área do conhecimento que busca, em um mesmo momento, colocar o governo em ação e analisar a eficácia desta ação propondo, quando necessário, mudanças no curso destas ações. É na formulação de políticas públicas que governos democráticos materializam seus objetivos e suas plataformas eleitorais em programas que irão transformar a realidade. 2.1 Políticas Públicas de Segurança O atual cenário contemporâneo, caracterizadopela globalização, tem motivado transformações importantes na estrutura do Estado, redefinindo a sua atuação enquanto organização política, especialmente no que concerne a área de segurança pública, onde a ampliação dos instrumentos de controle sobre a sociedade tem se ampliado. Passeti (2003) destaca que, no decorrer da história, o “Estado neoliberal” deu espaço para o “Estado penal” e, por esta via é possível observar os efeitos do processo de globalização no confinamento, segregação e extermínio de populações pobres, jovens, infantil, juvenil e adulta. Trata-se, como destaca Wacquant (2001) da criminalização da miséria e da pobreza cuja gênese encontra arraigada na insegurança social provocada pela mercantilização das relações sociais, o recuo das proteções coletivas e a ausência do trabalho assalariado. Neste contexto, o “Estado penal” surge em meio a deterioração das relações de produção e das formas de trabalho precárias impostas pelo “Estado neoliberal”, implantado no país para atender aos interesses do mercado. Desta forma, quando o mercado passa a ser um instrumento de controle com mais influência do que o próprio Estado, ocorre um processo de enrijecimento das penalizações e controle das periferias de modo a preservar as relações de poder. Com isto, ocorre, como ressalta Passeti (2003), uma ação menor do Estado controlando os ricos e possibilitando uma multiplicação de lucros pelas vias do mercado e uma ação desproporcionalmente maior para os pobres, por meio de um Estado assistencialista, penalizador e excludente. Desta forma, o Estado não estava a serviço da soberania do povo e sim aos interesses de uma minoria que chegava ao poder. Tem-se, então, dois Estados- um para os pobres e outro para os ricos- com formas de controle e penalização divergente para cada segmento aplicado. Adorno (1996) tece uma importante reflexão sobre o processo de democratização do Estado, em virtude da significância e relevância de suas observações para este texto, a íntegra de suas palavras serão destacadas a seguir: No Brasil, a reconstrução da sociedade e do Estado democráticos, após 20 anos do regime autoritário, não foi suficientemente profunda para conter o arbítrio das agências responsáveis pelo controle da ordem pública. Não obstante as mudanças dos padrões emergentes de criminalidade urbana violenta, as políticas de segurança e justiça criminal, formuladas e implementadas pelos governos democráticos, não se diferenciaram grosso modo daquelas adotadas pelo regime autoritário. A despeito dos avanços e conquistas obtidos nos últimos anos, traços do passado autoritário revelam-se resistentes às mudanças em direção ao Estado democrático de Direito (ADORNO, 1996, p. 233). Um dos desafios mais importantes enfrentados pelo processo de transição para a democracia foi o de manter a ordem pública em um cenário marcado pela insegurança nas cidades e a necessidade de mudar toda uma estrutura de segurança pública estruturada dentro de um regime de ditatorial e que passa a atuar dentro de princípios democráticos impostos pelos movimentos sociais. Com relação às políticas públicas implementadas pelo Estado até 1980, estas caracterizavam-se pela “centralização decisória e financeira na esfera federal, pela fragmentação institucional, pelo caráter setorial” e, especialmente, pela “exclusão da sociedade civil do processo de formulação das políticas, da implementação dos programas e do controle da ação governamental” (FARAH, 2006, p. 189). Com o fim da Ditadura Militar e a promulgação da Constituição Federal de 1988, estabelece-se que a Segurança Pública- dever do Estado, direito e responsabilidade de todos- é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio através dos seguintes órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (ARTIGO 144, CF). Na seara do artigo 142 é expressa o papel das Forças Armadas como órgão responsável pela segurança nacional, defesa da Pátria, soberania nacional e garantia dos poderes constitucionais. Partindo da leitura do artigo 142 e 144, observa-se que a Constituição inova ao ressaltar que a Segurança Pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Todavia, ao citar órgão federais e estaduais responsáveis pela segurança, omite o papel do município e da sociedade como um todo no combate à violência. Os anos de 1990 foram marcados pela formulação de políticas de segurança que visavam a cooperação e corresponsabilidade dos três níveis de poderes: federal, estadual e municipal. Em 1997, por meio do Decreto nº. 2.315 foi criada a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), substituindo a Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública (SEPLANSEG), órgão que não previa as atribuições dos municípios nas ações da secretaria (BRASIL, 1997). O Estado implantou ainda o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e, no ano 2001 o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e o Plano de Prevenção da Violência Urbana. Melo (2012) esclarece que o PNSP e o FNSP determinavam que os municípios formassem guardas civis visando uma atuação em ações democráticas, como diagnóstico e solução de pequenos conflitos, ações mais voltadas para o cidadão, com caráter mais de prevenção do que de repressão. No entanto, pela falta de diretrizes para sua formação, a guarda civil foi vista pela maioria dos municípios brasileiros como agentes atuando no controle do trânsito. Segundo Pimenta (2015): Foi instituído o FNSP por meio da Lei Nº 10.201, alterada pela Lei Nº 10.746/2003, com objetivo de apoiar projetos na área de segurança pública e de prevenção da violência, com base nas diretrizes do Programa de Segurança Pública para o Brasil do governo federal. Não havia na lei referida a obrigatoriedade do município em manter guarda civis para pleitear recursos do fundo. O que regulamentava a participação dos municípios era a implantação de um Conselho de Segurança Pública, ou a realização de Policiamento Comunitário, como também ações voltadas à prevenção da violência e criminalidade através de projetos. A descentralização dos recursos em relação às unidades das federações é feita por meio de convênios, e a partir do ano de 2004 também através de aquisições diretas de alguns equipamentos, posteriormente doados aos estados e municípios (PIMENTA, 2015, p.05). No ano de 2003 o Plano Nacional de Segurança Pública publicou a Matriz Curricular Nacional, um documento com vistas a orientar os municípios com em relação à formação das guardas municipais, documento complementado em 2005 com a elaboração do Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios pelo Ministério da Justiça, que legitima a importante participação do municípios na área da segurança (BRASIL, 2005). Novos dispositivos de sustentação foram sendo desenvolvidos para a área da segurança, entre os quais, é possível ressaltar o eixo de formação pela Matriz Curricular Nacional para Profissionais em Segurança Pública que se constituiu na base de formação e especialização destes profissionais e na ampliação para a pós-graduação stricto sensu. Neste contexto, é possível considerar que a segurança pública vem motivando a ampliação de seu conceito por diferentes frentes: implementação de políticas públicas, acompanhamento e avaliação das mesmas, a busca pelo desenvolvimento de um policiamento democrático, que substitua a tradicional atuação baseada na repressão, por uma prática que prima pela prevenção e pelo respeito ao outro como cidadão. Desta forma, um dos elementos que devem ser considerados ao se formular políticas públicas de segurança no Estado, é a construção de competências fundamentadas no exercício responsável da ação policial.Algumas políticas públicas na área da segurança apresentada neste texto são ilustrativas do objetivo que esta área tem buscado no decorrer dos anos, ou seja, a articulação da população no policiamento comunitário, a informatização dos sistemas e a profissionalização policial. Contudo, o país ainda carece de mais investimentos neste setor, como ressalta as palavras de Sapori (2007): Se a sociedade brasileira progride no processo democrático, mesmo que de forma parcimoniosa, e também na provisão de diversos bens coletivos atinentes à saúde, à educação e ao trabalho, o mesmo não se dá no caso da ordem pública. Ao contrário, as últimas décadas de democracia assistiram a uma considerável deterioração da capacidade do poder público para controlar a criminalidade e a violência (SAPORI, 2013, p. 98). Refletindo nas palavras do autor, é possível compreender que as políticas públicas na área de segurança no Brasil continuam distantes das mudanças necessárias pois, pensar em políticas públicas significa colocar na agenda as relações difíceis e complexas que as instituições responsáveis mantem com as populações vulneráveis, ou seja, um desafio demasiadamente grande para ainda fortemente estigmatizada pelo conceito de luta feroz contra o crime num arranjo institucional pouco maleável. Porém, é importante ressaltar o esforço empreendido pelo governo federal nos últimos anos na tentativa de manter programas a nível nacional de segurança pública que buscam imprimir novos modelos e concepções. Entre os programas, merecem destaque o Susp, o Infoseg, à Renaesp e o Pronasci. Síntese A passagem do Brasil do regime militar para o sistema democrático tiveram como pressuposto a eliminação de práticas autoritárias e a implantação de um sistema pautado no reconhecimento da cidadania e da justiça. Este processo fez com que as instituições policiais passassem por uma mudança de paradigma, visando a compreensão de que a democracia requer uma polícia eficiente e respeitadora dos direitos. Esta mudança de paradigma requer políticas públicas nesta área debatidas e formuladas em cooperação com diferentes áreas do conhecimento. Considerações Finais Ao finalizar o módulo 1, esperamos que você tenha compreendido que o debate que se estabelece em torno das políticas públicas na área da segurança tem a capacidade de alargar as possibilidades de discussão. Enquanto nação, ainda estamos muito conectados a uma concepção que compreende o espaço social como um cenário isento de violência e crime, todavia, os debates contemporâneos sobre a temática acenam para a importância de uma gestão permanente da segurança a partir de políticas de Estado pensadas na sua complexidade e na inter-relação com políticas públicas em outras áreas e com a sociedade civil. Trata-se de um novo olhar frente a uma democracia jovem que necessita ainda de um projeto de nação capaz de nortear um contrato social onde desenvolvimento e segurança são peças de uma mesma engrenagem. Sujeitos das Políticas Públicas Elisangela Carolina Luciano Disciplina: Gestão Pública Módulo 1B – Sujeitos das Políticas Públicas - Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2017. Guia de Estudos – Módulo 1B – Sujeitos das Políticas Públicas 1. Sujeitos 2. Atores 3. Políticas Orgs.: Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos Conversa Inicial Iniciamos mais um módulo com a certeza de que o tema Políticas Públicas é demasiado rico em detalhes e, portanto, desafiador. Em razão desta característica, é de importância ímpar que o mesmo receba um tratamento metodológico que, em cada experiência de estudo as atenções estejam voltadas para um assunto específico. Sendo assim, neste Guia os sujeitos ou, como se convencionou a ser tratado pela literatura: os atores, das Políticas Públicas se constituirão em nosso objeto de estudo, análise e reflexão. Desta forma, importante se faz descrever o caminho que será percorrido para que este assunto seja abordado com toda a propriedade que o mesmo exige. Destaca-se, portanto que inicialmente será desenvolvida uma introdução ao tema, versando sobre o conceito de atores. Uma vez compreendida a questão inicial, o olhar se volta para a compreensão das especificidades dos atores públicos e dos atores privados, para então entender são estabelecidas as relações de poder entre estes diferentes atores. Ótimo aprendizado! Profº Mestranda Elisangela Carolina Luciano 1. Os sujeitos das políticas públicas Como já discutido em outros módulos, a política compreendida enquanto politics pode ser entendida enquanto um processo que operacionaliza diversos procedimentos e mecanismos com o intuito de solucionar, de forma pacífica, os conflitos inerentes à destinação de recursos e bens públicos. Nesse processo diverso são os atores envolvidos cujo interesses serão positiva ou negativamente afetados pelas ações e pelas decisões, a literatura os denomina de atores políticos. Os atores políticos, aqui também denominados de sujeitos das políticas públicas, são vários e se distinguem de acordo com o tipo de política pública que se encontram envolvidos, portanto, são específicos. Cada ator político pode revelar padrões próprios de atitudes e comportamentos, assim como exibir interesses e recursos de poder próprios. Entende-se por recursos de poder os diversos mecanismos utilizados pelos atores como forma de intervir no processo decisório e estabelecer negociações políticas, como: posições de autoridade, recursos financeiros, reputação, capacidade de mobilização política, conhecimento, habilidades estratégicas, vínculos com outros atores, informações etc (RUA, 2014). A doutrina com frequência refere-se aos atores políticos como “Stakeholders”. Ao buscar uma compreensão sobre o termo é possível interpretá-lo como fazendo menção a alguém que possui certo interesse sobre algo que está sendo decidido de forma definitiva e que a depender da decisão tomada poderá ganhar ou perder. No contexto das políticas públicas não é comum mencionar os atores políticos de forma abstrata e geral, uma vez que eles estão necessariamente relacionados com certa área de políticas públicas, a uma política pública em si ou a uma questão de políticas públicas. Compre salientar que os atores integram toda a dinâmica da qual o processo da política pública faz parte, norteados por seus valores e interesses, se fazendo presente desde na condição de tomadores de decisões até assumindo o papel de beneficiário e não beneficiário, fornecedores, financiadores e implementadores, que atuam de forma direta ou indireta neste processo. Acrescenta-se que governo e sociedade não podem ser considerados como atores políticos de forma genérica, pois o termo requer maior detalhamento. Na literatura especializada diversos autores buscaram uma forma de categorizar esses atores. Secchi (2013) realizou esta tarefa dividindo em quatro categorias nas quais, em cada uma, agregou os atores que possuem características semelhantes. Para alcançar esta categorização, o autor inicialmente os dividiu entre atores coletivos e atores individuais, compreendendo os atores individuais aqueles que agem intencionalmente no interior de uma “arena” da política, e compreende os atores políticos como grupos que atuam que também atuam intencionalmente dentro deste contexto. A segunda divisão realizada pelo autor refere-se a atuação no governo. Desta forma, alguns atores irão aparecer em mais de uma categoria o que não quer dizer que seus interesses ou comportamentos são comuns a outros atores. Assim, um mesmo ator pode apresentar interesses diferentes em contextos diferentes, ao mesmo tempo em que atores pertencentes a uma mesmacategoria podem apresentar comportamentos e interesses conflitantes (Secchi, 2013). Fonte: Secch, 2013 Pinho (2011) estabelece uma definição de atores de forma mais abrangente, por meio da qual se observa que a condição de ator e a condição de lócus institucional por vezes se funde como é possível constatar: Individuais Coletivos Atores Governamentais Atores não governamentais Políticos; Magistrados; Burocratas; Formadores de opinião; Grupo de interesses; Partidos políticos; Movimentos sociais; Organizações da sociedade; Burocracia Burocratas; Políticos; Juízes; Designados politicamente; Partidos políticos; Meios de comunicação; Grupos de interesse; Destinatários da política; Organizações do terceiro setor; Outros Stakeholders; • Poder executivo: é considerado como principal ator no processo de formulação e gestão, implementação e avaliação de políticas públicas. • Poder legislativo: possui significativa importância no processo de análise, legitimação e fiscalização de políticas públicas, compreendem diversos representantes governamentais – deputados, senadores e vereadores, bem como os conselheiros dos tribunais de conta. • Poder judiciário: compreende os magistrados de instancias diferentes cujas decisões podem alterar completamente uma política pública. • Organizações da sociedade civil: sindicatos, entidades de classe, grupos de interesse, ONGs, associações que exercem influencia na formulação e na fiscalização. • Demais esferas de governo, tanto a nível municipal, quanto estadual. • Acordos internacionais e outros organismos Um estudo dedicado a compreender os atores que fazem parte das políticas públicas, requer inicialmente, que se faça uma distinção entre atores privados e atores públicos. Nesse contexto, entende-se por autores públicos os sujeitos que desenvolvem funções públicas, cujas ações e mobilização de recursos estão associadas a essas funções e, autores privados, os que estão mais diretamente envolvidos com o terceiro setor da sociedade as que, pelo poder que exercem no processo decisório, se envolve nos assuntos relativos às políticas públicas. Cada um destes tipos de atores será apresentado nos itens a seguir: Síntese Em síntese, pode-se compreender por atores políticos todo aquele que, de forma direta ou indireta desempenha um papel no contexto político. Em todo o processo que envolve a consecução de uma política pública, do questionamento inicial até a execução, existem principalmente dois tipos de atores: os públicos, que representam o papel do Estado e os privados, que representam grupos, empresários, associações e sindicatos provenientes da organização da sociedade civil. 1.1 Atores Públicos É possível diferenciar, de maneira bem simples, duas categorias de atores públicos: os burocratas e os políticos. Max Weber (1970) utiliza-se de uma definição clássica para considerar como políticos modernos aqueles que se transformam em “empresários do voto”. Portanto, assume a posição de atores em virtude de conquista de um mandato político. Em virtude disto, a sua atuação no campo das políticas públicas esta condicionada pelo calculo eleitoral, ou seja, suas decisões são avaliadas pelo número de votos ou apoios para a conquista de novos eleitores. Contudo, outra questão que pesa em suas ações e decisões é a vinculação a partidos políticos, isto é, o grau de autonomia que possuem no interior dessas organizações que disputam muitas vezes entre si o preenchimento de cargos públicos. Podemos citar como exemplo: governadores, parlamentares, membros eleitos do executivo federal, prefeitos. Importante destacar, que há duas formas de ocupar os cargos públicos. Mediante a um processo eleitoral, os políticos eleitorais, e os políticos designados para exercer a função. Os políticos designados são escolhidos pelos políticos eleitos com vistas a ocupar um cargo na Administração Pública. Na prática, são políticos designados aqueles que ocupam posições importantes na estrutura de seus partidos ou são aqueles políticos que se destacaram nas eleições mas continuam sem mandato. São exemplos de políticos designados: diretores de empresas estatais, secretários, ministros entre outros. Diferente dos políticos os burocratas ocupam cargos que são pertencentes a um sistema de carreira pública, que requer conhecimento específico. São responsáveis, principalmente, por controlar certas posições organizacionais, recursos e autoridade, e posições relativas à informação. Na literatura especializada os burocratas são conhecidos como “profissionais do conhecimento” e, por deterem conhecimentos inerentes a essa área, as relações que estabelecem com os políticos nem sempre são harmoniosas. Isso acontece, pois, o interesse que move as ações dos burocratas é a progressão de sua carreira que não se sujeita a nenhum tipo de responsabilidade política “possibilidade de ser reeleito, prestar a contas ao eleitor”, sua responsabilidade é apenas de ordem técnica, ao contrário dos políticos que o tempo todo necessita se preocupar com os eleitores. Como foi possível observar, em algumas circunstâncias, os políticos assumem cargos nas organizações burocráticas, ao mesmo passo em que a certas atividades políticas também são desenvolvidas por burocratas, o que torna bastante imprecisa a linha demarcatória desses papéis institucionais. Além disso, com frequência os burocratas cultivam e possuem uma clientela que compartilha afinidades setoriais, que podem ou não ser organizar em redes de grupos que proporcionam uma base de sustentação importante para a política dos burocratas. Os burocratas, no papel de atores públicos, desenvolvem suas funções no contexto de organizações públicas. Essas organizações podem ser consideradas enquanto em conjunto de sujeitos regidos por um estatuto legitimado formalmente, que visam certos objetivos organizacionais, de acordo com a estrutura hierárquica de comando, a divisão de trabalho e as rotinas de procedimentos. As organizações promovem, entre seus integrantes, o sentimento de pertencimento, valores, crenças e ideias compartilhadas. Os integrantes buscam mobilizar seus quadros de modo a se fortalecerem dentre da instituição, por meio da ampliação de seus recursos orçamentários e humanos e de seu progressivo controle da sua área de atuação e do entrono. Rua (2014) ressalta que a literatura pós Max Weber sobre a burocracia, mostra que os agentes burocráticos são dotados de recursos e capacidades para desenvolver projetos políticos, com o objetivo de atender a interesses pessoais ou organizacionais. Por esta razão, é muito comum existir disputas não somente entre burocratas e políticos como também entre as diferentes organizações burocráticas em setores diversos do governo. Existe uma linha teórica da Ciência Política denominada Public Choice, traduzida como (Teórica da Escolha Pública). Esta vertente dedica-se a analisar o comportamento dos funcionários do governo e dos políticos e as interações que ambos desenvolvem na política pública, buscando explicar como suas decisões podem ser contrárias as preferências do público para que se possa ser possível atender a “interesses especiais”. Outra vertente, conhecida como “Rent-Seekieng” ou “Teoria dos Comportamentos Rentistas” e focam nas ações de auto interesse de grupos ou sujeitos que buscam conseguir, através da política, rendimentos significativamente superiores aos que seriam possíveis de se conseguir em um mercado concorrencial. Em síntese, essa abordagem sustenta que quando o governo e uma economia de mercado estão presentes, os representantes do governo gozam de inúmeras vantagens especiais de mercado. Nesse “jogo” tanto os representantes do governo como os indivíduos que participam do mercado buscam por tais vantagens ou privilégioscom os objetivos de conquistar benefícios que a renda monopolista é capaz de fornecer. Uma vez os privilégios concedidos, todo o sistema econômico perde a sua eficiência, e, o conjunto de recursos que poderiam ser utilizados para beneficiar toda a sociedade, é mobilizado com vistas a atender apenas a interesses particulares. Não se pode considerar tal ato como uma simples corrupção e sim como uso ilegal de instrumentos legítimos como: incentivos, isenções, regulamentos diversos, subsídios, etc. Ferrarezi (2006) trata do comportamento rentista como uma interação promiscua formada por um “triangulo de ferro”: governo, comissão parlamentar e um grupo de interesse específico. Além dos agentes do governo que se encontram na esfera decisória e dos burocratas, estudo tem apontado que no processo de implementação de políticas públicas os servidores públicos, profissionais que atuam em escalões mais baixos do sistema, e estão em contato direto com o público das políticas públicas, merecem atenção enquanto atores são eles: policiais, professores, bombeiros, agentes de fiscalização, atendentes de hospitais, diretores de escola, etc. A existência de grupos organizados, reivindicando pelo desenvolvimento de políticas públicas em áreas de seus interesses, certamente com algum grau de vulnerabilidade social, é uma garantia de expectativas atendidas? Esse grupo de atores, denominados pela literatura como “Street Level Bureaucracy” ou “burocracia de nível de rua”, são dotados de recursos para exercer certo grau de poder político, uma vez que a sua atuação é que determinará como a ação do governo traduzida em política pública será apresentada para os cidadãos. Segundo Rua (2014) esses atores no exercício de suas funções também fazem escolhas políticas e não apenas aplicam as decisões dos políticos eleitos e, com isso, tornam-se capazes de modificar as políticas públicas no ato de sua implementação. Por esta razão implementar uma política pública requer uma negociação constante com a burocracia neste nível aja vista que, suas relações com o público e seus preconceitos vão influenciar o tratamento oferecido ao cidadão. 3.2 Atores Privados São considerados atores privados os entes que atuam no contexto da vida privada, seja no cenário econômico, seja no desenvolvimento de atividades extra materiais, como na orientação sexual, religião, questões étnicas, questão de gênero valores morais e éticos. Fazem parte deste grupo as associações civis e religiosas, empresários, grupos de interesses, sindicatos, movimentos sociais, trabalhadores formais e informais, ONGs. Os atores privados podem ainda ser identificados no contexto internacional: movimento ambientalista, corporações financeiras internacionais; no âmbito nacional: movimento negro; no âmbito regional: associação dos bancários; e setorial: produtores ruralistas, de autopeças, sanitaristas. É importante salientar que os atores privados atuam também como atores formais quando se trata de organizações ou mesmo pessoas que desempenham funções pré-determinadas, de acordo com estatutos privados ou públicos, como exemplo é possível citar um representante da indústria farmacológica no conselho nacional de saúde. Também podem atuar de maneira informal por meio da participação em redes que se decidam a implementação de políticas públicas e coalizões de defesa. Os empresários são os atores privados que mais se destacam pela capacidade que possuem de intervir e influenciar nas políticas por afetarem diretamente a economia do país, controlando oferta de empregos, parcelas do mercado e atividades de produção portanto, são atores de relevância significativa não pelo que podem fazer e sim pelo que podem deixar de fazer ou seja, não investir na atividade produtiva. Da mesma forma que os empresários os trabalhadores fazem parte do grupo de atores privados, assumindo igual importância no contexto das políticas públicas. A capacidade que eles possuem de influenciar nas decisões é proporcionalmente igual a sua capacidade de organização. Desta forma, quando atuam por intermédio de seus sindicatos, movimentos sociais, igrejas ou ONGs sua capacidade de exercer uma pressão política é maior, como se torna ainda mais relevante quando atuam em setores estratégicos da sociedade. Desta forma, uma greve dos profissionais que controlam o tráfico aéreo possui a capacidade de provocar um verdadeiro caos em um país e até mesmo no continente. Da mesma forma, uma greve de motoristas de caminhão pode ganhar magnitude incalculável de prejuízos no escoamento da produção rural. É importante compreender que a greve é apenas uma ferramenta que pode ser utilizado pelos trabalhadores para exercer pressão em uma circunstância de negociação política. Entende-se, portanto, que trabalhadores e empresários constituem o grupo de atores de importância impar e não porque as políticas públicas mobilizam o trabalho e o capital e sim por ser um dos mais importantes elementos no processo de intermediação de interesses, decisão, formulação e implementação de políticas públicas em uma sociedade contemporânea: entendido como corporativismo. Pela importância que este termo assume, faz-se necessário entender a definição de seu conceito e suas características. Desta forma, é possível citar Schmiter (1974) que deu ao corporativismo uma definição que ao mesmo tempo é sintética e abrangente, ou seja, definiu como sendo um sistema que representa os interesses, um modelo de organização institucional voltado para a articulação dos interesses associativos da sociedade civil com as estruturas do Estado. Também devem ser considerados os atores internacionais que podem assumir um papel importante a depender do objeto e do tipo de cada política a ser implementada. São atores internacionais os governos de países que mantém relações harmoniosas e que pode afetar a economia e a política interna do país. São exemplos de atuação desses atores o estabelecimento de regimes internacionais onde os comportamentos são coordenados e pactuados entre os países que possuem interesses em comum. Ao estudar os atores não se pode deixar de mencionar o papel da mídia, seja ela impressa ou eletrônica, que, embora não atuem diretamente, exercem certa influência nas políticas públicas, por serem agentes importantes no processo de formar a opinião do cidadão e pela capacidade de mobilizar os outros atores. A televisão pode ser destacada pelo seu poder de chamar a atenção do público, de mobilizar a indignação das pessoas, por expor as demandas públicas e por influenciar nos valores e nas opiniões da massa da população. 2. Atores e seus comportamentos Seja na política ou nas políticas públicas os autores são regidos por certos interesses, sejam eles quais forem; e é prudente entender que o fazem de maneira racional, isto é, escolhem de forma intencional os meios mais adequados para a concussão de seus objetivos. A Teoria da Escolha Racional segue este ponto de partida. De maneira sintética é possível compreender que esta vertente teórica considera que todos os indivíduos sabem muito bem o que querem, tem ciência de seu interesse, de suas preferências, possuem informações importantes sobre como realizá-las; e buscam escolher, entre as alternativas que dispõe as melhores para satisfazê-la. Embora as alternativas que podem ser mobilizadas pelos indivíduos possuem certas restrições externas essas não os obrigam a escolher uma em detrimento de outra. Isto significa que a escolha existe e é o indivíduo o único responsável por fazê-la ou não. Desta forma, exercer um comportamento racional significa a realização de escolhas o que, por sua vez, implica renunciar. Grosso modo, em qualquer situação em que uma escolha é necessária sempre haverá ao menos uma alternativa a ser renunciada,por isso, toda escolha possui um custo (renuncia). Se uma escolha representa custos, o comportamento racional se revela na escolha da alternativa que trarão benefícios maiores que os custos. Portanto, este comportamento se origina de uma avaliação dos aspectos positivos e negativos de cada alternativa e da seleção da alternativa que trará mais vantagens. Portanto, a satisfação de cada autor será maximizada quando um mesmo escolhe ter mais do que ele quer e menos do que não deseja. A escolha também significa que se deve levar em consideração a natureza do bem almejado. Quando este é um bem público, não pode haver nenhuma possibilidade de que os outros membros do grupo sejam privados de desfrutar dele, ainda que não tenham se deparado com o enfrentamento de custos para conquistá-lo. Quando se trata de bens públicos é preciso questionar correntes filosóficas que sustentavam que o ser humano é essencialmente participativo, necessitando da existência de meios adequados à participação para que ele, naturalmente, haja desta forma. Olsen (1999) leciona que a participação vem acompanhada de custos e o indivíduo age racionalmente considerando suas preferências, analisando os custos que sua participação trará e as características do grupo do qual faz parte. Como o bem público tem como característica a não exclusividade, o mais racional é que cada membro de um grupo evite arcar com os custos advindos da participação e, portanto, apenas desfrutam dos benefícios. Em um grande grupo social quem ou quais membros arcam com os custos da participação? Será que em um grupo formado por uma grande quantidade de membros alguém assume os custos ou cada indivíduo deste grupo acredita que alguém assumirá? Olsen (1999) argumenta que este comportamento dos membros do grupo é conhecido como “free-rider” ou “carona”, explica o autor que, embora o cálculo de custos seja algo racional, o resultado é irracional, pois nem o sujeito sozinho nem o grupo realizam aquilo que devia ser de seu interesse, pois, mesmo inconsciente sabem que o bem público jamais será alcançado. Trata daquilo que a literatura chama de “problema de Olson” ou a “lógica da ação coletiva”, que determina que os grupos formados por um grande volume de membros demonstram apresentar provisão razoável de bens públicos. Já os grupos formados por um número menor de membros estão menos sujeitos ao insucesso dos grupos maiores em razão do custo menor com a coordenação e o controle das ações realizadas por seus membros. Como consequência, as políticas públicas apresentam a tendência de beneficiar os pequenos grupos de maneira desproporcional aos benefícios trazidos para os grandes grupos Olsem (1999). Silva (2013) compartilha destas questões destacando ser possível a identificação de certos padrões de comportamentos e interações dos autores quando estes buscam se beneficiar e influenciar as políticas públicas. Neste ínterim a cooperação é destaca pelo autor como sendo a forma de atuação que mais mobiliza recursos e estratégias para definir a favor dos atores no processo de decisão na área em que atuam. Outro padrão de interação observado por Silva (2013) é a oposição, esta é uma forma de atuação que apresenta significativa quantidade de estratégias para intervir na tomada de decisão na área em que operam. A oposição ainda se vale de recursos e valores para agir em favor de seus interesses, com exemplo é possível citar o poder de veto. A conformidade também é apresentada como um padrão de interação dos atores, contudo, esta apresenta uma quantidade quase que irrelevante de recursos estratégicos com o objetivo de intervir no processo, o seu valor acaba se mostrando de maneira favorável às questões que estão em disputa e em debate. O principal e até mesmo o padrão de comportamento que mais interfere no processo decisório é o desinteresse assumido pelos atores. A capacidade de influenciar não é revelada na capacidade de mudar a ordem dos fatos e sim em não tomar partido por não estarem dispostos a entrar em conflito por não visualizarem uma relação compensadora entre os benefícios que poderão ser alcançados e a utilização de seus recursos. De acordo com Rapoport (1980) a relação entre os atores obedece a uma dinâmica caracterizada por três padrões: debates, lutas e jogos. As lutas revelam padrões de interação significativamente conflituosos, que se fazem presentes quando não é possível uma conciliação entre as preferências dos diferentes atores. Neste caso, a conquista do interesse de cada um representa a derrota dos outros, portanto, a luta tem como objetivo eliminar o inimigo. É esta situação ou circunstância que caracteriza um jogo de soma nula ou soma zero, ou seja, o ganho de um autor corresponde à perda do outro. A luta caracteriza também um jogo cuja soma seja negativa, pois, não há ganhos, todos perdem, embora a perda de uns possa ser maior que de outros. Portanto, a luta é de todas as situações, a pior no cenário político. Contudo, dependendo do que esteja em jogo e dos custos advindos do confronto, ainda é possível que haja um ajuste de interesses, ou seja, pode ter uma situação em que nem um lado perca tudo nem o outro lado ganhe tudo. Cada lado sede para que o conflito seja solucionado sem que haja enfrentamentos radicais que trariam como consequência custo elevados para as duas partes. Os jogos constituem-se em situações mais corriqueiras na política. É apoiado na lógica da competição e da vitória sobre o adversário em uma dada circunstância, sem, contudo, excluí-lo do processo de modo que ele possa tornar-se um aliado em um momento conveniente. Para que os jogos aconteçam são necessários o conhecimento e o prévio consenso sobre as regras que as disputas serão regidas. E, por último, têm-se o debate caracterizado pelas situações nas quais os diferentes atores apresentam seus argumentos com vistas a convencer o outro da superioridade de suas propostas, deste modo, obtém sucesso no debate o ator que consegue mudar a preferência de seu oponente tornando seu aliado. Como no debate, a persuasão é a lógica principal, fatores como informação, conhecimento e capacidade argumentativa são imprescindíveis. Segundo Rua (2014), nos jogos de poder, os procedimentos, as estratégias e as táticas empregadas pelos atores políticos são diversas. A persuasão constitui-se em um dos múltiplos fatores e limita-se à busca de adesão pela defesa de uma ação em curso. Os atores, além da persuasão, recorrem ainda à troca de favores, que são intercâmbios de apoios e benefícios como cargos, dinheiro, bens, etc. Quando nem o intercambio e nem a persuasão são capazes de trazer resultados positivos, há autores que recorrem a outro recurso: as ameaças. As ameaças referem-se a prejuízos ou danos impostos por quem às realiza, além da suspensão de benefícios ou favores por parte do ator. Além das três principais formas de atuação: lutas, jogos e debates, existem uma quarta forma que é a pressão pública, colocada em prática por atores coletivos ou individuais. A pressão pública inclui manifestações pela impressa, comportamentos radicais como a realização de uma greve de fome, manifestações coletivas, sejam elas violentas ou pacíficas, capazes de mobilizar a opinião, causar constrangimento, despertar a atenção da imprensa e até mesmo de atores internacionais, para o dilema político em questão. Além disso, o exercício da autoridade é também uma forma de atuação, caracterizada pela exigência da obediência. E, por fim, é possível ainda adotar o compromisso e a negociação como formas de encontrar soluções para o problema. Nesse caso, ao final desse processo, as partes acreditam que ganharam algo e que ninguém perdeu nada. Certamente os procedimentos aqui relatados são os mais comuns, no entanto, cumpre aqui observar a existência de outroscomportamentos como, por exemplo, a obstrução, caracterizado pelo uso de recursos e estratégias que tem como objetivo confundir, atrasar ou até mesmo impedir um processo decisório. Síntese Diversos são os comportamentos que irão influenciar no processo decisório de Políticas Públicas, neste contexto, exercer um comportamento racional significa a realização de escolhas o que, por sua vez, implica renunciar. Quando se trata de assuntos relacionados ao bem comum, o interesse coletivo é o que deve ser preservado. Não pode haver nenhuma possibilidade de que os outros membros do grupo sejam privados de desfrutar de algo, ainda que não tenham se deparado com o enfrentamento de custos para conquistá-lo. 3. Atores políticos e relações de poder Nos itens anteriores estudamos as características dos diferentes atores que integram e interagem no processo das políticas públicas. Agora, importante se faz o estudo das relações de poderes que existem entre estes. Desta forma, é importante mencionar que são vários os elementos de poder que interfere e influenciam nas políticas públicas e, consequentemente, nas relações estabelecidas entre os diferentes atores políticos, comportamentos, formas de exercer o poder, recursos de poder, habilidades para colocar em uso os recursos de poder. Silva (2003) define recursos de poder como um modo utilizado pelos diferentes grupos políticos para realizar intervenções no processo de formação da agenda estatal bem como participar das decisões, viabilizando a concretização dos próprios interesses econômicos políticos e sociais. O autor salienta ainda que os recursos de poder podem ser analisados por meio de três perspectivas. A primeira perspectiva ou dimensão diz respeito a áreas específicas de atuação, levando em consideração as características desse setor, suas dinâmicas e agendas, os interesses e objetivos de seus atores. A segunda dimensão refere-se à capacidade de ação para tanto, o tipo de recurso que cada ator dispõe e sua associação com outros grupos, indivíduos ou organizações é levado em consideração. A terceira dimensão está relacionada às formas de interação na arena decisória pelos atores participantes, toda vez que uma questão de política pública torna-se motivo de disputa. O poder político ocupa parte importante dos debates na Ciência Política, motivo pelo qual se torna interessante conhecer as concepções acerca da distribuição do poder e suas implicações no contexto das políticas públicas. Assim, a literatura apresenta três correntes teóricas que exploram estas relações de poder: o elitismo, o pluralismo e o marxismo. Segundo a teoria pluralista todos os atores se mantêm equivalentes no ponto inicial de todo o processo político, neste contexto, não existem nenhum tipo de privilégios que garantam a vitória de um interesse antes que o jogo político se conclua, portanto, todos os atores compartilham as mesmas chances de alcançar a decisão que lhes pareça mais favorável. Como os indivíduos se organizam em pequenos grupos o poder político se torna fragmentado uma vez que cada grupo agrega indivíduos como interesses diferentes. No modelo pluralista, o Estado se mantém neutro e a decisão depende da disposição e da capacidade de cada ator de mobilizar os recursos de poder que dispõe para identificar suas alianças e defender seus interesses ao enfrentar a disputa. Ao contrário do pluralismo, na abordagem de classes sociais e no modelo elitista não há neutralidade por parte do Estado nem a possibilidade de um jogo político “aberto”. No elitismo os resultados buscam atender aos interesses e preferências de quem controla a sociedade, ou seja, a elite. No marxismo o modelo de classes e os resultados nunca vão ameaçar o projeto da classe que se mantém economicamente dominante. Cumpre ainda ressaltar que mesmo as elites competem entre si e, nesse processo, buscam conquistar o apoio de certos setores pertencentes à classe dominada ou da massa da população. Quando isso acontece, a classe dominada ou a massa passa a exercer influencia, ainda que pequena, no processo político. Para o pluralismo as decisões são frutos da combinação de diferentes formas de interação: cooperação, competição e conflito, as políticas públicas revelam-se então no equilíbrio destas interações. Para o marxismo, as políticas públicas representam o conflito entre o trabalho e o capital, portanto, elas materializam o interesse da classe dominante. Para o elitismo as políticas públicas são o resultado dos valores, dos interesses e das preferências das elites dirigentes, sejam elas sociais ou governamentais, neste caso, são admitidas apenas questões que não representam riscos aos interesses da elite. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao concluir este assunto é importante que se possa compreender que uma das principais características das sociedades modernas é a diferenciação social, ou seja, seus membros não possuem apenas atributos que os diferenciam, como cor, sexo, opções religiosas, escolaridade, estado civil, renda, como também valores, concepções, interesses diferentes e assumem ainda diferentes papeis ao longo de sua vida. São todas estas questões que fazem com que viver em sociedade seja um desafio complexo e dotado de conflitos, sejam eles de interesse, valores ou opiniões. Porém, quando tais conflitos são bem administrados, a sociedade se desenvolve e progride e, para que isto possa acontecer, a política necessita atual em prol a este desenvolvimento. Como foi possível verificar no decorrer deste material uma parcela importante da atividade política de um governo se traduz no desenvolvimento de políticas públicas que atendam à demanda da sociedade, é nesse processo que os atores ou os sujeitos das políticas públicas se fazem presentes, os atores são vários e se distinguem de acordo com o tipo de política pública que se encontram envolvidos, portanto, são específicos. Cada ator político pode revelar padrões próprios de atitudes e comportamentos, assim como exibir interesses e recursos de poder próprios. Políticas Públicas: controle e planejamento Elisangela Carolina Luciano Disciplina: Gestão Pública e Políticas Públicas no Brasil Módulo 1C – Políticas Públicas: controle e planejamento – Faculdade Campos Elíseos (FCE) – São Paulo – 2017. Guia de Estudos – Módulo 1C – Políticas Públicas: controle e planejamento 1. Controle 2. Planejamento 3. Política Pública Orgs.: Cláudia Regina Esteves Faculdade Campos Elíseos Conversa Inicial Este módulo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a importância do planejamento e do controle no processo de desenvolvimento, execução e avaliação de políticas públicas. O planejamento pode ser compreendido como um processo de organização que determina a melhor maneira de colocar em prática ações para que seja possível alcançar metas e objetivos definidos previamente, estabelecendo recursos, prazos, etapas e levando se em consideração as condições existentes. Neste processo, o acompanhamento é importante, mas a avaliação ganha igualmente papel de destaque para que seja possível repensar a ação e replanejar o trabalho. Portanto, planejamento e controle constituem dois instrumentos que são indissociáveis neste processo. Com base nestas reflexões, daremos início a mais um módulo de estudos, com a certeza de que os conhecimentos serão ampliados. Ótimo aprendizado! Profº Mestranda Elisangela Carolina Luciano 1.Considerações Iniciais Governança e governabilidade são conceitos presentes nos debates atuais envolvendo o Estado, ora sendo abordados de forma diferenciada ora compreendidos enquanto conceitos de natureza equivalente, contudo, seja qual fora concepção adotada, a literatura sempre irá abordar de forma interligada. A governança é um conceito inteiramente relacionado à capacidade apresentada pelo Estado de colocar em curso as políticas publicas administrar as metas coletivas e gerenciar os recursos financeiros. O Banco Mundial apresenta um conceito de governança, no qual faz menção a autoridade exercida pelo Estado na gestão dos recursos que uma nação dispõe, com vistas a promover o desenvolvimento do país. Neste contexto, o controle ou a avaliação não ocorrem apenas mediante a análise dos resultados obtidos pelas políticas governamentais implementadas, mas também, e o mais importante, pela maneira com que o poder é exercido pelo governo. São apresentadas oito características que definem uma boa governança, que será capaz de promover um desenvolvimento sustentável: Estado de direito; equidade e inclusividade; participação; efetividade e eficiência; transparência; orientação por consenso; prestação de contas e responsabilidade. Entende-se assim, que a governança está relacionada a forma com que as ações são coordenadas e articuladas pelo governo, em cooperação com os diferentes atores políticos e sociais. Planejamento Planejar é uma ação presente na vida do ser humano. Em nosso dia a dia, tudo o que não faz parte do contexto de nossas atividades rotineiras necessita de processos racionais para ser desenvolvido, ou seja, utilizamos um planejamento das ações para alcançar o que desejamos. As ideias que envolvem o termo planejamento têm sido amplamente discutidas nos dias atuais. Padilha (2001) define planejamento como sendo a busca pelo equilíbrio entre recursos e objetivos, entre meios e fim visando o êxito da empresa, da organização grupal, instituição ou atividade humana. Destaca ainda que planejamento é um ato que exige reflexão, tomada de decisão sobre a ação, previsão de meios materiais e recursos humanos que viabilizem a concretização de objetivos, dentro dos prazos estabelecidos e etapas determinadas a partir de dados obtidos pela avaliação. Silva (2011) destaca que, planejamento é um processo de organização que determina a melhor maneira de colocar em prática ações para que seja possível alcançar metas e objetivos definidos previamente, estabelecendo recursos, prazos, etapas e levando se em consideração as condições existentes. Neste processo, o acompanhamento é importante mas a avaliação ganha igualmente papel de destaque para que seja possível repensar a ação e replanejar o trabalho. Silva (2011) faz ainda uma distinção entre os termos ou expressões como planejamento, plano e projeto. Segundo o autor, plano é a sistematização do processo de organização da ação, ou seja, um guia das ações, planejamento é a tomada de decisão e projeto pode ser definido como a ideia de lançar-se adiante de algo a ser construído. O mesmo autor ainda destaca que o planejamento assume a “(...) função de mediador e articulador do trabalho coletivo, em seus diferentes níveis, que se integram e se articulam por meio do planejamento participativo”(p. 01). 3.1 Planejamento: conceito e funções Planejar é um ato de reflexão sobre a ação; um processo que visa prever as necessidades e empregar os recursos e meios disponíveis de forma racional, tendo como meta o alcance dos objetivos dentro de prazos estabelecidos e etapas claramente definidas, por meio de diagnósticos obtidos em um processo avaliativo. O Brasil vive um processo de redemocratização que faz com que a noção de gestão pública eficiente seja compartilhada por diversos agentes sociais, o que exige transparência dos atos e planejamento das gestões por parte de quem gerencia os recursos. Cenário que torna a sociedade brasileira motivada a adotar dois procedimentos. O primeiro, diz respeito ao aperfeiçoamento das regas associadas à organização, planejamento, controle e direção dos procedimentos empregados pelo governo. O segundo, relacionado a uma aproximação e participação mais intensa por parte da sociedade, por meio das organizações corporativas, privadas ou públicas, de caráter não governamental, na gestão pública. O planejamento é um processo que se inicia a partir de uma agenda definida previamente, o Estado constrói sozinho ou em parceria com instituições não governamentais as possíveis ações a serem implementadas com suas fundamentações jurídicas, técnicas-fim e financeiras, submetendo-a a análise, apreciação, julgamento e avaliação do Poder Executivo e de segmentos não governamentais, mas que atuam na decisão, por meio da participação da sociedade civil. A Lei Maior do país construiu um sistema novo de planejamento público, apoiado na Lei de Diretrizes Orçamentárias- LDO e no PPA, trazendo inovações significativas no que concernem os gastos públicos. A partir da Constituição Federal de 1988 passam a serem estabelecidos os instrumentos que a administração pública deve seguir para o sistema de planejamento e orçamento: LDO, PPA, Lei de Orçamentos Anuais – LOA trata-se de uma tríade que forma uma base do sistema de orçamento e planejamento. Embora esse sistema seja precursor do que existe de mais moderno em programação de gastos, tais propósitos acabam se tornando distorcidos frente ao abismo que se instaura entre o que é planejado e o que é executado. O PPA constitui-se em um instrumento de planejamento estratégico para um período de quatro anos. O primeiro ano constitui-se no segundo ano de mandato do chefe do Poder Executivo e o ultimo o primeiro do mandato seguinte. Trata-se de um documento que define as diretrizes, metas o objetivos a serem atingidas pela Administração Pública, no que se refere às despesas com inversões, transferências de mandato, investimento, despesas com as ações-fim implementadas pelo governo, despesas de custeio dos investimentos e das inversões previstas. Esta regra pode ser considerada um importante progresso institucional do ciclo orçamentário por possibilitar um detalhamento mais completo das ações do governo e disponibilizar um diversificado e amplo conjunto de informações acerca das ações planejadas, garantindo uma maior transparência informacional e ampliando as condições para avaliação e controle das atividades governamentais. Neste contexto, planejamento requer a colaboração entre as diferentes instituições de modo a angariar os recursos necessários, coordenar a participação, as ações e as decisões e consequentemente, a definição de metas e objetivos. Não se pode deixar de ressaltar o papel relevante adotado pelo processo de ampliação da participação dos atores externos ao Estado que possuam interesses afetados, de alguma forma, pelas ações governamentais. É necessário buscar um consenso e a devida responsabilização por parte dos agentes executórios, bem como legitimar as instituições que se encontram envolvidas na busca de resultados efetivos. Portanto, é possível estabelecer este tipo de estratégia de ação com vistas a potencializar a aplicação dos recursos orçamentários, fortalecendo a governança governamental. O processo de democratização da sociedade brasileira e das ações do governo trouxeram como exigência a necessidade de se ter uma transparência com relação aos negócios de caráter público e a prestação de contas. Neste ínterim, orçamento e planejamento tendem a ocupar esse espaço da governança de modo que o governo passe a governar com a sociedade e para a sociedade (PARES, VALLE, 2016). Conceitos como participação social, parceria concessões públicas, poucos utilizados por parte da administração pública até meados dos anos noventa, passam a estar na ordem dos debates políticos, tornando necessário estabelecer linhas demarcatórias e jurídicas entre o que é privado e o que é público, condição imprescindível para as novas formas de relações administrativas. O
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