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Teoria dos números 1 conjuntos Um conjunto é formado por objetos, de modo genérico chamados de elementos. Costuma-se indicar os conjuntos por letras maiúsculas e seus elementos por letras minúsculas de nosso alfabeto. Se um objeto a é elemento de um conjunto U, dizemos “a pertence a U” e denotamos essa relação por a∈ U. Caso contrário, dizemos que “a não pertence a U” e escrevemos a ∉U. Descrição de um conjunto: Comumente usam-se três procedi- mentos para definir um conjunto. ‣ Descrever seus elementos por uma sentença. P. ex: - conjunto dos números reais; - conjunto dos planetas do sistema solar. ‣ Listar seus elementos entre chaves. P.ex: - {2,4,6,8,10} - {0,1,2,3, ...} ‣ Dar uma “Propriedade” que identifica seus elementos. P.ex: - {x| x é inteiro e x>2} - {x| x é real e 2<x<10} - {x| x goza da propriedade P} Subconjuntos Quando todos os elementos de um conjunto A qualquer pertencem a um outro conjunto B, diz-se, então, que A é um subconjunto de B, ou seja A ⊂ B (lê-se “A está contido em B) ou B ⊃A (lê-se “B contém A”) Observações: ‣ Todo o conjunto A é subconjunto dele próprio, ou seja, A ⊂ A; ‣ O conjunto vazio, por convenção, é subconjunto de qualquer conjunto, ou seja, φ ⊂A. Interseção e união (e , ou) A interseção de dois conjuntos, A e B, é o conjunto indicado por A ∩ B e definido pela proprie. “X ∈ A e X ∈ B”. Portanto: A união de dois conjuntos, A e B, é o conjunto indicado por A ∪ B, e definido pela propriedade “X ∈ A ou X ∈ B”. Portanto: 2 Diferença de conjuntos: A – B A-B é formado pelos elementos que estão em A e não estão em B. Produto cartesiano Dados os conjuntos A e B, chama-se produto cartesiano A com B, ao conjunto AxB, formado por todos os pares ordenados (x,y), onde x é elemento de A e y é elemento de B, ou seja: Número de subconjuntos de um conjunto: Se um conjunto A possuir n elementos, então existirão 2n subconjuntos de A. Indução matemática Princípio do menor número inteiro Seja L um subconjunto não vazio de Z. Dizemos que L é limitado inferiormente se existe um número a ∈ Z tal que a≤ x, qualquer que seja o elemento x ∈ L. Todo elemento a ∈ Z que cumpre essa condição chama-se limite inferior de L. Obviamente, se um inteiro a é limite inferior de L, então todo inteiro menor que a também o é. Um limite inferior de L que pertença a esse conjunto chama- se mínimo de L. Se L é um subconjunto de Z (não vazio e limitado inferiormente), então L possui um mínimo. Por exemplo, o conjunto dos números inteiros positivos é limitado inferiormente e seu mínimo é o número 0 Princípio de Indução Matemática: Dado um subconjunto S do conjunto dos números naturais (N), tal que 1 pertence a S e sempre que um número n pertence a S, o número n + 1 também pertence a S, tem-se que S = N Esta simples propriedade fornece uma das mais poderosas técnicas de demonstração em Matemática :a demonstração por indução. Suponha que seja dada uma sentença matemática P(n) que dependa de uma variável natural n, a qual se torna verdadeira ou falsa quando substituímos n por um número natural dado qualquer. Tais sentenças serão ditas sentenças abertas definidas sobre o conjunto dos naturais. Primeiro principio de indução: Seja P(n) uma função proposicional cujo universo é o conjunto dos inteiros maiores que ou iguais a um inteiro dado a. Suponhamos que se consiga provar o seguinte: (i) P(a) é verdadeira (ii) Se r ≥ a e p(r) é verdadeira, então p(r+1) também é verdadeira. Então P(n) é verdadeira para todo n ≥a. Demonstração: Seja L =}x ∈ Z | x ≥ a e p(x) é falsa Se mostramos que L=φ, o princípio 3 estará justificado. Para isso vamos raciocinar por redução ao absurdo. Suponhamos então que L=φ. Então, uma vez que L é limitado inferiormente (a é um limite inferior), L possui um mínimo l0. Como p(a) é verdadeira, é claro que l0 > a e, então, l0 – 1 ≥ a. Por outro lado, p(l0 – 1) é verdadeira, já que l0 – 1 está fora de L. Então, levando em conta a hipótese (ii), p((l0 – 1) +1) = p(l0 ) é verdadeira. Mas isso é absurdo, pois l0 está em L. # Como imagem para ilustrar o primeiro principio de indução, costuma-se usar o efeito dominó. Suponhamos uma fileira infinita de pedrinhas de dominó. Se a primeira pedra tomba para frente, e o fato de uma pedra tombar faz com que a da frente tombe também, então todas as pedrinhas tombarão. Segundo princípio de indução: Seja P(n) uma função proposicional cujo universo é o conjunto dos inteiros maiores que ou iguais a um inteiro dado a. Suponhamos que se consiga provar o seguinte: (i) P(a) é verdadeira. (ii) Se r ≥a e p(k) é verdadeira e para todo k tal que a ≤ k < r, então p(r) também é verdadeira. Então p(n) é verdadeira para todo n ≥a. A demonstração desse princípio é análoga à do primeiro. Critérios de divisibilidade Quando perguntamos se um dado número b é divisível por um número a, podemos pensar que estamos perguntando se o resto da divisão de b por a é igual a zero. – Um número é divisível por 2 quando é par. – Um número é divisível por 3 quando a soma dos seus algarismos é divisível por 3. – Um número é divisível por 4 quando o número formado pelos seus dois últimos algarismos é divisível por 4. – Um número é divisível por 5 quando terminar em 0 ou 5 – Será divisível por 6 quando é divisível por 2 e 3 ao mesmo tempo. – Será divisível por 9 quando a soma dos seus algarismos é divisível por 9 – É divisível por 10 quando termina em 0 Algoritmo euclidiano O algoritmo euclidiano, que trata- remos aqui, estabelece uma “divisão com resto” e é a base da aritmética teórica (teoria dos números). Seu nome deriva do fato de Euclides o haver usado em seus elementos para determinar o máximo divisor comum de dois números positivos. Máximo divisor comum (M.D.C.) O máximo divisor comum corresponde ao maior número divisível entre dois ou mais números inteiros. Definição 1: Sejam a e b dois números inteiros. Um elemento d ∈ Z se diz 4 máximo divisor comum de a e b se cumpre as seguintes condições: (i) d ≥ 0 (ii) d | a e d | b (iii) se d’ é um numero inteiro tal que d’ | a e d’ | b, então d’ | d (ou seja, todo divisor comum a a e b também é divisor de d) Propriedades do MDC – Se d e d, são máximos divisores comuns de a e b, então d = d 1 (de fato, devido à definição, d | d 1 e d 1| d. Como se trata de números positivos, isso só é possível se d = d 1. Fica garantido então, que dado um par de inteiros não pode ter mais de um máximo divisor comum) – O número zero é o máximo divisor comum de a = 0 e b = 0 – Quando fatoramos dois ou mais números, o MDC deles é o produto dos fatores comuns a eles. – Se d é o máximo divisor comum de a e b, então d também é o mdc de -a e b, a e -b e -a e -b. (basta lembrar que todo divisor de x é divisor de -x, e vice-versa) Obviamente, a definição de m.d.c. de dois números inteiros não garante por si só sua existência. A intuição nos diz que isso é verdade, mas a rigor, é preciso demonstrar que é. A seguinte demonstração se justifica princi- palmente porque garante a possibilidade de exprimir de maneira aritmética o m.d.c. de a e b como uma soma envolvendo esses elementos. Proposição 1: Para quaisquer inteiros a e b , existem inteiros x0 e y0 tais que d = ax0 + by0 é o máximo divisor comum de a e b. Demonstração: Levando em conta a última propriedade imediata, relacionada acima, podemos nos ater ao caso em a > 0 e b > 0 Consideremos o conjunto L=}ax0 + by0| x, y ∈ Z L possui elementos estritamente positivos, por exemplo a+b, obtido ao se fazer x=y=1. Seja d o menor entre todos os elementos estritamente positivos de L. Portanto d= ax0 + by0, para conveniente elementos x0, y0 ∈ Z. Mostremos que dé o m.d.c. de a e b. De fato: (i) Obviamente d ≥ 0 ; (ii) Apliquemos o algoritmo euclidiano a a e d, o que é possível, pois d > 0 : a = dq + r(0 ≥ r < d). Mas, como já vimos, d= ax0 + by0 e, então: a = (ax0 + by0 ) q + r Daí, por transposições algébricas convenientes, r = a(1-qx0) + b(-qy0) O que mostra que r é um elemento de L. Então, r não pode ser estritamente positivo, pois é menor que d (= mínimo de L). Logo, r=0 e, portanto, a=dq. Ou seja, d|a. De maneira análoga se demonstra que d | b. ; (iii) Se d’ | a e d’ | b, então d’| d, uma vez que d= ax0 + by0 # 5 Proposição 2: Para que os inteiros a e b sejam primos entre si, é necessário e suficiente que se possam encontrar x0, y0 ∈ Z tais que ax0 + by0 = 1 Demonstração: Se a e b são primos entre si, então a proposição 1 garante a existência do par de elementos x0, y0 conforme o enunciado. Reciprocamente, suponhamos que se possam encontrar x0, y0 ∈ Z tais que ax0 + by0 = 1. Então qualquer divisor de a e b é também divisor de 1. Logo, os únicos divisores comuns aos elementos de a e b são +1 e -1. De onde o m.d.c. de a e b é 1. # Corolário: se a e b são inteiros não simultâneos nulos e se d = mdc(a,b), então mdc(a/d, b/d) = 1. Demonstração: é só trabalhar com a identidade de Bezout para a e b. Como d=mdc(a,b), então existem inteiros x0 e y0 tais que ax0 + by0 = d. Daí (dividindo ambos os membros por d): (a/d)x0 + (b/d)y0 = 1 Então, por causa da proposição, a/d e b/d são primos entre si. # Proposição 3: Se a e b são inteiros primos entre si e a | bc, então a | c. Demonstração: Devido à proposição anterior, ax0 + by0 = 1, para convenientes inteiros x0 e y0. Multiplicando-se os dois membros dessa igualdade por c: (ac)x0 + (bc)y0 = c Como a divide a, então a divide (ac)x0; e, como a divide bc (por hipó- tese), então divide (bc)y0. Logo, a divide a soma (ac)x0 + (bc)y0. Ou seja, a divide c, como queríamos provar. # Proposição 4: Sejam a e b inteiros primos entre si. Se a | c e b | c, então ab | c. Demonstração: Consideramos uma identidade de Bezout para a e b : ax0 + by0 = 1 Multiplicando-se ambos os membros dessa igualdade por c: (ac)x0 + (bc)y0 = c Como a |a eb |c, então ab | ac e portanto, ab | (ac)x0. De maneira análoga, demonstra-se que ab | (bc)y0. Logo, ab | [(ac)x0 + (bc)y0], ou seja, ab | c. # Exercício: Prove que mdc(a, mdc(b,c)) = mdc(a,b,c): Resolução: Seja d = mdc(a,b,c) e provemos que d= mdc(a, mdc(b,c)). (i) d ≥ 0, pela definição de mdc. (ii) Como d | a,d | b e d | c, por hipótese, então d | a e d| mdc(b,c) visto que todo divisor de b e c é divisor do máximo divisor comum desses números. (iii) Seja d’ um divisor de a e de mdc(b,c) ; então d’ | a, d’ | b e d’ | c e portanto, divide o máximo divisor comum desses números, ou seja, divide d. #
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