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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO MATEUS DE MARCOS MARINHO PEDAGOGIA ANARQUISTA, UMA SAÍDA À INDUSTRIA CULTURAL DA EDUCAÇÃO RIO DE JANEIRO 2018 MATEUS DE MARCOS MARINHO PEDAGOGIA ANARQUISTA, UMA SAÍDA À INDUSTRIA CULTURAL DA EDUCAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do título em Licenciatura em História. Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinicius Machado Coordenadora: Prof. Dr. Ana Paula Del Pretti RIO DE JANEIRO 2018 RESUMO MARINHO. M.M. Pedagogia Anarquista, uma saída à Indústria Cultural da Educação. Rio de Janeiro, 2018. Trabalho de Conclusão em Licenciatura – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – Departamento de História, Universidade Cândido Mendes, Rio de janeiro, 2018. Destacada a problemática contemporânea em torno do que foi produzido pela Indústria Cultural e a necessidade de elucidações sobre campos de atuações alternativas, o trabalho se propõe a analisar de forma crítica a metodologia utilizada pelos meios reprodutores de poder. Propondo a partir da análise teórica do Anarquismo e suas propostas a melhor alternativa para tal. Como as propostas existentes nas organizações sociais são antagonistas uma perante a outra, a Indústria Cultural, massifica, padroniza, hierarquiza, desestimula e apazigua o indivíduo nela inserido. Já o anarquismo, emancipa, organiza e conscientiza o indivíduo a partir da autonomia e liberdade. O entendimento de Cultura fruto de todas as relações sociais, sendo por si só a educação, perpassa as duas formas educacionais, nos proporcionando a oportunidade de dar ênfase no estudo de como estas ideologias se constituíram em torno deste tema. A chamada Indústria Cultural Ensino, transforma o conhecimento em mercadoria, ao padronizar de acordo com as necessidades de massificação e parâmetros tecnicistas, hierarquizada, é no sistema de punição e recompensa que encontra a justificativa moral para a criação de uma escola limitadora, desestimulante tanto no espaço mental, quanto na sua construção arquitetônica. Já a Pedagogia Anarquista, estimula, compreende as rebeldias, senso crítico, autogestão, liberdade e igualdade. Permanece em caráter de antíteses mútuas, as formas educacionais aqui analisadas igualmente fundadas em preceitos iluministas, podem nos esclarecer a que, quem e qual a educação serve. Sendo assim, a chave para a construção de uma sociedade sejam quais forem seus valores. Palavras-chave: Indústria Cultural; Educação; Anarquismo; e Pedagogia. ABSTRACT MARINHO. M.M. Anarchist Pedagogy, an exit to the Cultural Industry of Education. Rio de Janeiro, 2018. Conclusion work in Licenciatura - University Research Institute of Rio de Janeiro - Department of History, Cândido Mendes University, Rio de Janeiro, 2018. Outlining the contemporary issues surrounding what was produced by the Cultural Industry and the need for elucidations about alternative fields of action, the paper proposes to critically analyze the methodology used by the reproductive power. Proposing from the theoretical analysis of Anarchism and its proposals the best alternative for such. As the existing proposals in social organizations are antagonistic to each other, the Cultural Industry, massifies, standardizes, hierarchizes, discourages and appeases the individual in it. Anarchism, on the other hand, emancipates, organizes and makes the individual aware of autonomy and freedom. The understanding of Culture, fruit of all social relations, being in itself the education, permeates the two educational forms, giving us the opportunity to emphasize the study of how these ideologies were constituted around this theme. The so- called Cultural Industry Teaching, transforms knowledge into merchandise, standardizing according to the needs of massification and technicist parameters, hierarchical, it is in the system of punishment and reward that finds the moral justification for the creation of a limiting school, discouraging both the mental space, and in its architectural construction. The Anarchist Pedagogy, stimulates, understands the rebellions, critical sense, self-management, freedom and equality. It remains in the character of mutual antitheses, the educational forms analyzed here also founded on illuminist precepts, can clarify to us, who and what education serves. Thus, the key to building a society whatever its values. Keywords: Cultural Industry; Education; Anarchism; Pedagogy. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 5 1.Indústria Cultural .................................................................................................................................. 7 1.1. A análise do Iluminismo na Sociedade do séc. XX - Adorno e Horkheimer .......................... 7 2. Dinâmica de consumo e a Indústria Cultural do Ensino ................................................................... 18 2.1. Indústria Cultural e Consumismo .......................................................................................... 19 2.2. A Problemática da Indústria Cultural do Ensino ................................................................... 22 3. Anarquismo, Filosofia e sua saída pedágógica .................................................................................. 31 3.1. O pensamento Anarquista Clássico e sua Filosofia ............................................................... 32 3.2. Pedagogia Lebertária, uma Saída Anarquista ........................................................................ 36 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 49 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 54 5 INTRODUÇÃO Observa-se atentamente a sociedade contemporânea, ocidentalizada e globalizada, podemos enxergar a atualidade de grandes teorias e análises feitas ao logo do séc. XX. Em nosso estudo, nos atentaremos com mais profundidade para aquelas produzidas no contexto da crise da sociedade burguesa ocorrida no início do século, quando fundaram as bases tanto da ideologia e organização social do status quo, tanto quanto moldaram as bases do pensamento transformador e revolucionário, ou seja, a subversão do discurso oficial A Indústria Cultural é uma destas elaborada pelos integrantes da Escola Frankfurt e pela escola de pensamento, influenciadas por: Theodor Adorno e Max Horkheimer, os quais elaboraram a análise do que mais tarde poderemos evidenciar empiricamente sobre o que será discutido. A divisão e fragmentação dos meios de comunicação em indústrias, fez com que a cultura, muito mais do que um simples formador indivíduo, se tornasse o meio ao qual a burguesia iria se utilizar para reproduzir e perpetuar seus valores. Baseando-se no princípio do consumo do que se produz, a indústria da cultura, faz com que seus integrantes fiquem presos em um esgotamento de potência de vida constante, uma incessante caça ao sonho derivado da perspectiva burguesa, muitas vezes inalcançável, principalmente por sua função ideológica da força motriz do sistema. Altamente condicionados a suscetibilidade da barbárie da enorme produção de estímulos, o indivíduo é reduzido a mero corpo consumidor e reprodutor do ideal oficial, e sem particularidades encontra-sena mais cruel impotência e padronização produzida por uma organização social. O mecanismo de poder, anteriormente apenas econômico, agora passa a ter também o caráter ideológico, colonizando o inconsciente do oprimido, detentores deste mecanismo se perpetuam no controle social. O mercado então se apropria de tudo, da produção ao produtor, tudo é consumido, até mesmo as ideias subversivas, sendo apropriadas por essa lógica. Tudo é absorvido e consequentemente controlado. Um sistema autoritário, usurpador de direitos e que provoca a submissão voluntária de seus integrantes. É assim, que as bases da Indústria Cultural podem ser definidas brevemente e que nas próximas páginas esmiuçaremos detalhadamente, de acordo com a brilhante obra analítica de Sonia Marrach, que se debruçou e atualizou o conceito de Indústria Cultural à luz da educação a qual utilizaremos como à principal referência. 6 Não demoraria muito que a necessidade de se apropriar do sistema de educação fosse gerada pela Indústria Cultural, ao fazer da escola o principal meio de condicionamento dos indivíduos para mais tarde se integrarem ao seu sistema como engrenagens que produzem e consomem desenfreadamente de forma padronizada e controlada, onde a massificação do ensino, uniformiza, cria espaços limitantes e tira qualquer espontaneidade do aprendizado da criança através de uma padronização do currículo hierarquizado. Agora não sendo totalmente privilégio das elites, a educação é dada à todos, mas não como meio de emancipação e sim como meio de doutrinação e apaziguamento. Com currículos iguais para todos, a produção de conhecimento na educação básica se restringe ao consumo do conteúdo programado que será transmitido pela imagem do detentor de conhecimento para aquele que nada sabe, ou seja, o produto de uma Indústria hierarquizada. Juntamente com o tecnicismo e a ideia de ascensão social pelo intelecto, faz com que o conhecimento se torne mercadoria. Tanto para o estado, ao qual se utiliza da padronização para perpetuação de seus interesses, tanto quanto para a iniciativa privada que vende o conhecimento atrelado ao sonho pequeno burguês. Já o anarquismo, é fundado em pensamentos coletivistas, individualistas e historicamente oposto a ideias autoritárias, que fora produzida por pensadores do séc. XIX como Joseph Pierre Proudhon, Mikhail Bakunin, Willian Goodwin, Kropotkin, Max Stirner, entre outros. Ideologia essa que pelo princípio básico antigovernamental e anti-estado por si só produz uma dialética intensa e livre na produção de modos inventivos de organização social, e de filosofias profundas ao direito à liberdade e autonomia como em nosso estudo serão referenciadas nas análises de Max Nettlau e Murray Bookchin, onde pode ser identificada no extremo o oposto da Indústria Cultural, quando seus militantes não demoraram para identificar a cilada a qual a mesma representava. Em busca da emancipação do aluno inicia-se, em paralelo a massificação do ensino, a Pedagogia Libertária com seu principal exemplo na Escola Moderna que faz uma leitura convergente das ideias anarquistas muitas vezes contraditórias em um único sentido, atualizando-as e às tornando os princípios que se propagavam. Através do estimulo à criatividade, espontaneidade, vontade, necessidade e demandas do indivíduo, leva o aluno ao deleite do aprendizado espontâneo, autônomo e liberto do julgo do programa oficial. Referenciado nos textos de Eddison Passetti e Acácio Augusto, como não sendo um ser ignorante a ser ensinado e sim humano estimulado através da livre associação e, a partir das influências que lhe são oferecidas criar a capacidade de senso crítico, distante de 7 propostas, as quais o aluno é submetido sob o viço hierárquico que tem que ser submisso, ou seja, uma escola livre, onde o aluno é estimulado a rebeldia, desobediência e a dialética das relações comportamentais, sendo capaz de produzir uma subjetividade criadora de uma organização social autogerida e não subordinada ao governo, tão menos ao Estado e suas práticas autoritárias. Uma vez entendida a oposição de ideias de ideologias que estavam em ebulição no mesmo período no início do séc. XX, o objetivo desse estudo se traduz na análise desses discursos, em busca de uma maior consciência das bases de nossa sociedade, tão quanto problematizá-las e evidenciar saídas já propostas para que consigamos transpor às dificuldades e barreiras que encontramos na educação atual, tão quanto utiliza-las futuramente para perpetuação da produção de um indivíduo, independente, autônomo e livre. 1. INDÚSTRIA CULTURAL Contextualizar a cultura contemporânea é essencial para a premissa da análise crítica realizada no estudo proposto. Indústrias como a Cinematográfica, Imprensa, Fonográfica e veículos de mídia audiovisual tais como: televisão e internet, têm que ser entendidas como um sistema harmônico que se propõem ao mesmo objetivo, transmitir conteúdo e buscar `transformação do consumidor ao modelo cultural em que o mesmo está inserido. Sendo assim, nas palavras de Max Horkheimer e Theodor Adorno a falsa unidade entre o macrocosmo da identidade universal e o microcosmo da identidade particular. 1.1. A Análise do Iluminismo na Sociedade do Séc. XX - Adorno e Horkheimer. O modo operante da chamada Indústria Cultural, caracterizado e contextualizado no cenário contemporâneo anteriormente, se dá através da estrutura sistemática de uma economia concentrada, a qual sempre é aplicada a Cultura de massas de uma forma idêntica. Sendo assim, os operadores da mesma já não se preocupam mais em negar a existência deste modelo, mas sim reformam sua autoridade a partir do reconhecimento dos indivíduos subordinados a ele, ou seja, técnica que traduz na apropriação do discurso da classe econômica dominante pela classe econômica dominada. A Racionalidade Técnica Iluminista, como dominação e de caráter repressivo juntamente com auto alienação sistemática, faz que o indivíduo reprimido pelo controle da consciência individual não consiga elaborar a demanda de fuga ao controle universal e, 8 quando feito, desde que esteja de acordo com a lei, o próprio sistema se apropria do discurso através da descoberta de um novo “talento”, logo o reprimindo é englobado na esfera universal. A subjetividade dos economicamente dominantes então rege a do objetivo social, faz- se que a Indústria Cultural seja diretamente dependente das Indústrias econômicas como a elétrica, bancária e petrolífera. Caracterizando-a assim, como mera fornecedora de objetos de consumo de acordo com a demanda dos que obtém o controle dos meios de produção e matéria prima. Esta subjetividade reguladora se dá através da classificação, padronização e organização dos consumidores por meio de uma hierarquia de consumo, onde produtos são identificados de forma qualitativa e que os sujeitos por sua vez têm que se submeter, consumindo de acordo com a classe econômica a qual está inserido. Análises conjunturais sobre estes produtos têm o caráter mantenedor deste sistema, uma vez que de forma ilusória demonstram a concorrência e a liberdade de escolha, uma vez entendido o caráter subjetivo de valoração da produção no momento de consumo, esclarecemos que o orçamento investido na mesma não se correlaciona com preço final, e sim se o valor que é pago está de acordo com a posição que se ocupa na hierarquia, o que facilita o trabalho das indústrias produtoras, o que não necessariamente diferenciam os fabricantes por qualidade seus produtos, mas sim pela quantidade de acessórios ou então de grandes nomes correlacionados aos mesmos. O pensamento crítico sobre o consumo então se torna inexistente, fazendo com que o consumidor no seu tempo livre se orienta pelas próprias estruturas da produção, como Horkheimer e Adorno elucidam nesta passagem: A tarefaque o esquematismo kantiano ainda atribuía aos sujeitos, a de, antecipadamente, referir a multiplicidade sensível aos conceitos fundamentais, é tomado do sujeito pela indústria. Esta realiza o esquematismo como um primeiro serviço ao cliente. Na alma agia, segundo Kant, um mecanismo secreto que já preparava os dados imediatos de modo que se adaptassem ao sistema da pura razão. Hoje, o enigma está revelado. Mesmo se a planificação do mecanismo por parte daqueles que manipulam os dados da indústria cultural seja imposta em virtude da própria força de uma sociedade que, não obstante toda racionalização, se mantém irracional, essa tendência fatal, passando pelas agências da indústria, transforma-se na intencionalidade astuta da própria indústria. [...] (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 8-9). Logo, antecipadamente o esquema de produção classifica tudo que o trabalhador poderia considerar. Com essa simplificação ou então a morte do pensamento crítico do trabalhador, qualquer manifestação e tentativa de emancipar-se desta ordem torna o mesmo em subversivo. 9 Pondo um fim em qualquer expressão autônoma, que se propõem a ir contra a lógica burguesa, que ignora a experiência do indivíduo e transforma sua vida numa mera reprodução de acontecimentos e entendimentos já impostos pela indústria, reprodução esta que perpassa toda e qualquer produção artística industrial sejam em filmes, músicas, peças. A intencionalidade é reproduzir o mundo externo como uma extensão das mesmas classes dominantes, demandando então uma extrema atenção do espectador para que nenhum detalhe seja perdido e esta reprodução seja concretizada na vida cotidiana, tornando então a capacidade de imaginação limitada a estes modelos, automatizando-a. O que faz com que a Indústria Cultural gere tal qual uma vanguarda própria da sua forma de se interpretar a realidade, onde nada que possa ser produzido já não tenha sido lido pela ótica de um estereótipo, e vivenciado pelos indivíduos ilusoriamente como uma liberdade implícita a um pensamento plural. Produtores de conteúdo de consumo por sua vez para obter a legitimidade de sua habilidade e competência têm que alcançar como natural esta rara sensibilidade do discurso ideológico, tornando-se especialistas neste debate. Quando a autoridade inerente a este termo entra em conflito com às hierarquias vigentes na lógica burguesa, o argumento é apropriado pela indústria como o último de forma premeditada, o que o torna, a negação do estilo como a própria forma que o modo da Indústria Cultural se aplica através da substituição do universal pelo particular ou ao contrário. Esta característica pode ser identificada como a concretização da perspectiva antiga herdada em relação ao estilo, onde mesmo que com a presença de técnicas do universal, o universal autêntico se apresentava nas obras como forma de resistência desconfiada ao estilo. Na antiguidade esta característica sempre foi um elemento ao qual atribuía a função ideológica da arte à um caráter de oposição às normas universais. Uma vez que a Indústria Cultural se apropria desta característica e a transforma em seu estilo ao imita-la, se torna absoluta e a cultura como método de resistência chega a sua morte. Redefinindo-a, a cultura agora só pode funcionar através da sociedade administrada: Só a "administração" industrializada, radical e consequente, é plenamente adequada a esse conceito de cultura. Subordinando do mesmo modo todos os ramos da produção espiritual com o único fito de ocupar — desde a saída da fábrica à noite até sua chegada, na manhã seguinte, diante do relógio de ponto — os sentidos dos homens com os sinetes dos processos de trabalho, que eles próprios devem alimentar durante o dia, a indústria cultural, sarcasticamente, realiza o conceito de cultura orgânica, que os filósofos da personalidade opunham à massificação. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 14). 10 O Liberalismo então pode ser entendido como a própria Indústria Cultural, sendo a cultura um terreno onde se torna fértil a possibilidade de lucros exorbitantes em detrimento da sociedade, os resistentes aqui só sobrevivem, caso se adaptem a ideologia vigente. O seu contraponto, uma vez identificado, já se torna integrante desta lógica, diferentemente de outros âmbitos onde o mercado se mostra mais regulado. Na cultura, ainda se vê o espaço para que os mais capacitados à resistir existam se forem originais e organizados. Se a adaptação não ocorrer, vemos pela impotência financeira a forma com que se opera o modo de exclusão deste indivíduo do sistema, o mesmo é privado de suas potencialidades criativas e expulso da “polis”. A solidez das Instituições faz o consumo e a demanda, serem agora fomentadas por todos, do chefe de estado ao operário, não mais só pelos indivíduos da elite, esses por sua vez, os patrões, são os mais beneficiados por esta ideologia. Quando estão mais conscientes e menos enganados pela promessa da meritocracia o povo grita em desejo dos privilégios da mesma, o conformismo consumista, juntamente com a ilusão democrática, e passividade em relação aos meios de produção agora são fatores de coesão social através da reprodução do discurso. Faz-se com que se negue a possibilidade do novo, o movimento e o bem-estar da lógica cultural faz com que qualquer nova tentativa de se ousar neste âmbito seja arriscada de mais para ser posta a prova, a totalidade da Indústria Cultural sendo a falsa unidade de características não correlacionáveis entre cultura, arte e diversão. Esta última, permanece sendo característica presente na estrutura da Indústria Cultural. Sendo assim, também podemos enxergar uma Indústria da Diversão, não entendemos no discurso da classe dominante, o conceito de divertimento como pleno, mas sim, um divertimento inserido nas limitações econômicas implícitas à um sistema controlado pelo mercado do capital já elucidado anteriormente e pela hostilidade inerente ao próprio conceito de diversão. Uma vez que a ideologia é incorporada pelo público, esse pilar ganha a função de reafirmação e se torna mantenedor destes valores, a Indústria Cultural tem sua força no comprometimento com as necessidades que ela mesma cria e não só através do gradiente criado pela sua onipotência em detrimento da impotência dos indivíduos, leia-se então a Indústria da Diversão como a extensão do capitalismo. O individuo a procura de se reabilitar física e energeticamente para uma nova jornada de trabalho, porém encontra à disposição para o seu consumo apenas o produto que o mesmo empenha seu tempo na produção. 11 Sendo assim, está reabilitação encontra-se apenas no completo antagonismo à rotina sistemática, o ócio, este que se investido alguma demanda intelectual se torna mais uma vez um produto, o que leva ao entendimento que o prazer só é existente na ótica do não esforço, do não questionamento dos quais e porquês o individuo está a consumir o produto de seu próprio trabalho em tempo integral, o prazer por sua vez é constantemente tomado do indivíduo através lógica da Indústria, ou seja, que se é promete, na maioria das vezes é privado do indivíduo. Na verdade, o que resulta na impossibilidade do mesmo em escolher onde descarrega seu ócio, e sim consumir apenas o que está disposto à sua frente, emulando imagens, modelos e estéticas para o consumo, as quais nunca o trabalhador pode se apropriar. Desta forma, a Indústria Cultural não nega ao sujeito a possibilidade do prazer, mas o reprime, tornando um processo de masoquismo ou de automutilação consumido e repetido inúmeras vezes pelo espectador. O corpo se torna objeto, o sexo transforma em proibido, o riso se transforma em sadismo, o fetiche se transforma em lei. A indústria cultural coloca a renúncia alegre em lugar da dor, que é presente tanto no orgasmo como na ascese. Lei suprema é que nunca sechegue ao que se deseja e que disso até se deve rir com satisfação. Em cada espetáculo da indústria cultural, a frustração permanente que a civilização impõe é, inequivocamente, outra vez imposta. Oferecer-lhes uma coisa e, ao mesmo tempo, privá-los dela é processo idêntico e simultâneo. Este é o efeito de todo aparato erótico. Tudo gira em torno do coito, justamente porque este não pode acontecer. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 22). A arte e a diversão aqui não só podem ser entendidas como opostos, mas sim como radicalizações de um mesmo espectro que se tangem. Sendo assim, a Indústria Cultural destrói o prazer e não meramente manipula distrações aos olhos do espectador, ela se conecta a conceitos ideológicos triviais. O humano é despersonalizado em detrimento da lógica social e declarado seu significado e função do seu significado, o gera assim uma razão constrangedora que se dá através do ataque em dois planos: Elimina o significado da obra de arte ao mesmo tempo em que elimina o que não tem sentido; A diversão posta como mera reprodução, não se realiza apenas como a distorção da cultura em fusão com o entretenimento, mas sim a espiritualização imposta a mesma. Hoje a fé volta a se espiritualizar; torna-se tão sutil a ponto de perder de vista toda e qualquer meta e de reduzir-se ao fundo dourado que se projeta por detrás da realidade. Esta se compõe das inflexões de valor com que, no espetáculo, e em perfeito acordo com a própria vida, são outra vez investidos o tipo bacana, o engenheiro, a moça dinâmica, a falta de escrúpulos disfarçada em força de caráter, os interesses esportivos e enfim os automóveis e os cigarros. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 24). 12 A Indústria Cultural faz com que a verdade subjetiva limitante se torne subordinada aos padrões externos, o que torna o sistema determinador da mesma, independente da publicidade e interesses das corporações privadas, o que acontece da mesma forma se as mesmas não forem atreladas a elas. Neste sentido a diversão sobrepõe os bens essenciais e coloca a reprodução da publicidade privada ainda mais como um estereótipo, de forma catártica, tal qual o estilo da indústria descobre da verdade. O princípio burguês e iluminista da diversão gera uma tendência de não limitar qualquer progresso cultural, roubar o direito a diversão, disciplinar, guiar e produzir a necessidade dos trabalhadores mais brutalmente a medida que a ideologia se solidifica. Estar de acordo com a sociedade é a identificação entre o divertimento e negócio, a possibilidade de gerar uma reflexão sobre qualquer tipo de obra é por si só a renúncia implícita ao divertimento, sendo o mesmo só possível no isolamento da lógica social, traduzido em impotência e fuga da última possibilidade de um discurso de resistência. O pensamento como negação é a promessa de liberdade, ao tratar os indivíduos como sujeitos pensantes, porém retira dos mesmos o hábito da subjetividade na sua essência, se caso vier a ocorrer, a desobediência do público em relação a indústria da diversão, por sua vez, se dá de forma passiva coerentemente na forma que fora doutrinado. Nenhum indivíduo mais é permitido esquecer a identificação ingênua que a Indústria propõe e que logo desmente. A total diferença se torna a exemplar identificação, o homem agora se torna completamente substituível através da perda da semelhança, logo a ideia da ascensão através da meritocracia fundamentada na base ideológica, a qual se perde. Faz-se cada vez mais a ideia de esforço e dificuldade que é entendida como o caminho para o sucesso, quando o espectador não precisa se diferenciar do que é, e entende que pode alcançar a glória sem enfrentar o que julga ser incapaz. Porém, é claro para o mesmo o esforço empregado no caminho coitado no parágrafo anterior não seria o suficiente, uma vez que o enriquecimento burguês não está relacionado a valoração de seu trabalho, neste acaso, sendo um elemento igualitário entre os competidores. A racionalidade social, das classes dominantes, alcança o nível tão absurdo que qualquer um pode exercer um cargo de importância, sendo irracional o investimento de energias na qualificação dos indivíduos para estas funções, visto que quando um único trabalhador alcança o sucesso, não tem importância na economia. Acaso e igualdade se tornam idênticos, o primeiro também planificado através da crença em sua autoridade, com os operadores do sistema agora ao produzir o argumento com 13 a característica da imprevisibilidade, abre espaço para que relação entre os indivíduos possa ser natural e existente no presente, sendo os mesmos simplificados a objetos descartáveis juntamente com seus direitos. O Homem só interessa à indústria pela característica da força de trabalho e consumidor de bens e serviços e sua humanidade reduzida a esta lógica exaustiva, como força de trabalho são convocados a estar aptos a trabalhar, como consumidores são convocados a identificação com a humanidade representada, não enquadrados e privados da liberdade de escolha. A ideologia da Indústria Cultural se torna rasa e cada vez menos se tem o que mostrar sobre o sentido da vida ao prometer algo ao ser, mesmo na existência da publicidade em todos os âmbitos, os valores de bondade e harmonia se mostram reais. Vistos por nós como abstratos se tem a pressa de apropria-los pela propaganda, com a com feroz vontade em chegar ao fim comercial da ação prática, existe no discurso, o que Modifica os contratos e a indústria se torna a verdadeira vidente do que existe, o seu modo operante então não é criado de forma explicita, mas sim sugerida. A todos é garantida a liberdade, mas não existe a obrigação em ser na totalidade de sua ideia mental, em detrimento, todos são aprisionados nas instituições e relações formadoras da hipersensibilidade do controle social e aquele que se opor, que não se dê presente em grande existência no sistema, consequentemente perderá o seu espaço de afirmação na vida. A falsa ideia do conhecimento como mero resultado do que é tratado como específico, pode ser criado principalmente pelas funções liberais que contém seu caráter conformista, o que faz parte da premissa de mera reprodução da vida dos indivíduos nela inseridos, o que então mantém suas classes do sistema. Na defensiva se mantém uma economia que pelo desenvolvimento da técnica e munem ao povo a característica de supérfluos na produção. No Liberalismo o pobre é o preguiçoso, atualmente é o suspeito, os que se enquadram nesta ótica são excluídos e marginalizados, mas a solidariedade dos seres que podem e dispensam à assistência positiva e negativa são refletidas na Indústria Cultural, aconselhado pela ciência administrativa, o cuidado entre os indivíduos presentes em toda produção, acaba com o último ato privado sob o controle social e na aparência privatizante das relações humanas na produtividade. 14 Ninguém é esquecido, por todos os lados estão os vizinhos, os assistentes sociais do tipo do Dr. Gillespie e filósofos a domicílio com o coração do lado direito, que, da miséria socialmente reproduzida, fazem, com a sua intervenção afável de homem para homem, casos particulares e curáveis à medida que a depravação pessoal do sujeito não se oponha. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 30). A sociedade assume a produtividade da dor pela insistência na boa vontade, sendo todos conhecedores do fato que a ajuda não pode ser feita de modo solitário, a indústria reconhece isso e ao invés de resumir a solução à solidariedade, investe todo seu potencial comercial e encara e admite ter dificuldade em manter sua posição, reconhece esta como a vida difícil, mas cataloga e iguala a dor dos indivíduos. Sendo assim, a cultura de massas é trágica, a arte toma para si essa busca da substância trágica, uma vez que a diversão não alcança a devidacaracterística de reprodução da tragédia, como momento calculado e aprovado, o trágico se torna a benção, a verdade é praticada com pesar, porém a tragédia aparece com o caráter de não leva-la à sério. A felicidade tediosa se torna interessante com a existência do trágico, com sua representatividade sem preconceitos necessários, o forte e particular destino humano se mostra ainda possível, a ideologia que envolve a reprodução da realidade homogenia e comprimida é grandiosa, nobre e capaz, juntamente se mistura ao sofrimento necessário, tornando-se o destino do ser. A ameaça da destruição dos não colaboradores se reduz ao trágico, o que concretiza assim a estética burguesa que se aspirava, o justo castigo como o destino trágico e o povo oprimido pelo sistema, civilizados pela automaticidade e pela força, de onde ainda se produz um resquício de resistência, a de serem disciplinados pelo espetáculo da vida e pela contenção das vítimas, na contenção de revoluções sempre fora feito pela cultura, a Indústria Cultural é pedagógica quanto a tolerância a vida desumana faz o uso do desgosto e o impulso para o abandono do coletivo que cansou o individuo. O desespero sistemático vivido no dia a dia é a reprodução e a garantia de vida, Inserindo na lógica quando reconhecemos a nossa inutilidade, sendo meros reféns dos que detém o poder, somos então a sociedade dos desesperados, somos incapazes de empreender, nos tornamos proprietários e sujeitos no âmbito econômico, incluímos até os que ainda estão sob a lógica do mercantilismo burguês e todos extremamente dependentes, onde nos torna empregados em uma sociedade dos empregados que não há mais dignidade, em um rito de iniciação que é constante no capitalismo tardio. Aos poderes que estamos subordinados, devemos mostrar sem resistência alguma a identificação possível e renunciar ao desejo da felicidade, todos podem gozar da felicidade, 15 todos podem ser como a sociedade onipresente e potente, com a apatia geral, o sistema reconhece seu poder, doando uma parte dele. A segurança é a passividade dos sujeitos, liquidando o trágico, a fraude da aparência do trágico é produzida pelo horror trazido pela mentirosa identidade entre sociedade e sujeito que o trágico se diluiu. Sendo de caráter fascista o ato dos patrões em acolher os que cedem à própria vontade e se integram ao sistema, o que liquida o indivíduo. O indivíduo por sua vez, é mais uma das mentiras produzidas pela Indústria Cultural, não se resumindo apenas pela evidenciação das técnicas de produção, sendo tolerado quando o universal permanece fora de contestação pela sua identidade. Resumindo o individual à capacidade do universal de mostrar o acidente, tornando-o imediato e identificável. O eu é uma patente dependente do contexto social que é dado como natural, como premissa do controle e da neutralização do trágico, a pseudo individualidade se dá através do fato que os indivíduos não são efetivamente assim, mas sim o encontro de tendências universais, o que possibilita a recaptura integral na universalidade. A forma do indivíduo na época burguesa é de caráter fictício e o seu erro é se vangloriar da harmonia do universal com o particular, a cultura de massas por sua vez desvenda este fato, fora sempre contraditório o principio da individualidade, a verdadeira individualidade nunca foi alcançada, apenas produtos da genética uma vez que a auto conservação das classes é mantida. O indivíduo burguês em que a sociedade se baseava, carregava um estigma, em sua liberdade ilusória, era produto da estrutura econômica e social, o poder recorria nas relações de força dominantes ao demandar a resposta do que era sujeito. Porém, a sociedade burguesa também desenvolveu o indivíduo, contrariando os dominantes, a técnica educou do homem à criança e o processo de individualização se deu em detrimento da individualidade, que só se manteve na perseguição de sua própria meta. O burguês, para quem a vida se divide em negócios e vida privada, a vida privada em representações e intimidade, a intimidade na repugnante comunidade do matrimônio e na amarga consolação de estar completamente só, separado de si e de todos, virtualmente já é o nazista, ao mesmo tempo entusiasta e injuriante, ou o moderno habitante das metrópoles, que só pode conceber a amizade como social contact, como a aproximação social de indivíduos intimamente distantes. (HORKHEIMER, ADORNO, 1947, p. 34). A Indústria Cultural faz o que quer com a individualidade, uma vez que se reproduz a fratura hoje exposta da sociedade. na identificação aos modelos, a aparência desaparece, onde nenhum individuo as acredita e a obsessão pelos mesmos vive da satisfação privada de que 16 não temos mais a obrigação da individualização, mesmo que pelo esforço trabalhoso da imitação. É inútil esperar que o indivíduo contraditório dure gerações, que nesta quebra psicológica, o sistema deve necessariamente se despedaçar, a ironia da substituição do individual pelo estereótipo deve atribuir ao que é intolerável aos homens. A ideia de oferta do espetáculo por um baixo custo – hoje não mais – custo monetário oferecido ao individuo, foi apropriada pela Indústria Cultural como condição substancial da própria produção, atribui não só a mesma como acompanhante inerente ao triunfo, mas sim atribuindo esta característica a todos. O espetáculo demonstra tudo que se tem e tudo que se pode. O fácil acesso à artigos colocados no topo da hierarquia do mercado, agora produzidos em massa e com seu complemento, a confusão universal, dá inicio a transformação no caráter de mercadoria da própria arte, através do reconhecimento expresso da mesma e de que a arte renegue a própria autonomia e, se coloca ao lado dos bens de consumo, possuindo o encanto pela novidade. Assim como os visitantes das feiras, atraídos pela voz persuasiva dos vendedores, superavam com um corajoso sorriso a desilusão causada pelos barracões, pois que, no fundo, já de antes conheciam o que se lhes apresentava, assim também o frequentador do cinema se enfileira compreensivo do lado da instituição. (Horkheimer; Adorno, 1947, p. 35). No contexto burguês, o único em que a arte se mostrou como domínio separado, sua liberdade como negação da função social impõe pelo mercado e se mantem ligada a ideia de economia mercantil. Obras de arte puras negam o caráter da mercadoria social pelo fato de seguirem a própria regra, foi ao mesmo tempo mercadorias, até o século XVII, a proteção patronal defendia os artistas do mercado, estes sujeitos troca aos patrões e a seus propósitos, a liberdade dos fins da obra de arte moderna sobrevive do anonimato do mercado, as exigências deste, são medidas de forma que o artista se mantém isento do objetivo determinado. A autonomia do artista é tolerada e acompanhada de toda história burguesa falsamente que se deu por último na liquidação social da arte, sendo a o mercado e a autonomia os maiores opostos na arte burguesa, a função sem término, implícito a estética idealista, inverte a lógica social que a arte burguesa segue aos fins inúteis dados pelo mercado, a demanda e divergência de opiniões ao fim se apropriou do império da inutilidade. A utilização da arte se torna total, escrevendo então uma diferente estrutura econômica nos mercados culturais, o útil através da obra de arte se torna inútil na sociedade de conflito, 17 porém tendo seu fim na sua existência como inútil. A obra de arte então privando antecipadamente os homens do que se deveria se propor, o princípio da utilidade, o valor de uso se torna valor de troca, o prazer estético por meio da compreensão ganha prestígio. O consumidor assim se torna o porque da existência da Indústria da Diversão, sendo assim, o mesmo não pode fugir dela, tudo tem valor enquanto pode ser trocado, e não pelo o que é, a arte paraquem a consome é o fetiche, tornando-se o seu valor social, totalmente inserido como produto do mercado, a arte ganha então o único objetivo, o do lucro. Adaptadas pela Indústria Cultural, o caráter politico da arte tem seu preço reduzido e se torna acessível a todos, isto não significa que a arte é a característica de uma sociedade livre, mas sim de uma sociedade onde a cultura está em processo de falência pelo progresso do que se torna inconsistente. Quem no século passado, ou no início deste, gastava para ver um drama ou escutar um concerto, tributava ao espetáculo pelo menos tanto respeito quanto o dinheiro do ingresso. O burguês, que queria extrair alguma coisa por si, podia às vezes procurar relacionar-se com a própria obra. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947,p. 38). Na introdução da lógica desse sistema, a arte ganha vantagem a partir da premissa do valor de troca como coadjuvante do valor de uso, a arte ainda limitava o burguês pelo valor caro que era atribuída, não sendo mais valorada pelo dinheiro, isso chegou a um fim, a alienação e o signo de reificação. A crítica como respeito se torna o culto ao célebre na Indústria Cultural, nada se é caro, quanto mais se eleva o nível de status atrelado a mercadoria, mais o preço se é justificado, então é o momento onde se tem muito para ver e ouvir, o momento onde se pode ter tudo. Chegamos então à conclusão de que a cultura é uma mercadoria do paradoxo, sujeitada a lei de troca, a mesma não é objeto de permuta, seu fim acaba tanto no uso, que quanto mais presente se torna absurdo, a concorrência assim é apenas uma aparência, a sua finalidade é econômica, pela sua apatia e saciedade gerada nos consumidores, a Indústria Cultural já não é hoje mais necessária a vida, não sendo mais potente contra a isso, a publicidade então a mantém para vida, pois o produto já reduz o prazer que a mercadoria promete, por se resumir a esta promessa, a publicidade se torna necessária para a relevância do sistema. Anteriormente, na sociedade competitiva, a propaganda exercia a função de orientação do que deveria ser consumido. Agora com o fim do livre-mercado a propaganda exerce o papel de dominação ao sistema, por meio de seu valor exorbitante, a propaganda mantém nas das grandes corporações o controle em detrimento de novos produtores. 18 Sendo assim, a legitimadora do que é válido se consumir, serve exclusivamente à venda, ela já não é mais necessária para percebermos que a oferta de consumo já é limitada, torna-se assim o meio de financiamento dos meios de comunicação ideológicos. Desta forma, o “estilo” da Indústria Cultural, técnica e economicamente, hoje se confundem com a indústria da propaganda, a repetição mecânica do produto cultural é a repetição do slogan publicitário, o imperativo da eficiência é a técnica do manejo dos homens, está presente desde o surpreendente à qualquer lógica familiar, do leve ao incisivo, do especializado ao simples, sempre os subjugando como desatento ou receoso. A linguagem é a contribuição mais forte, a imagem da publicidade cultural, a partir do momento que a linguagem é a comunicação, quanto mais às palavras ganham significados, signos de qualidade, quanto mais transparente sua transmissão, mais se torna difusa e impenetrável. O elemento iluminista de desmistificação da linguagem é então invertido que no lugar de guiar o objeto à experiência, a palavra o expõe como um momento abstrato, excluindo a inexistente expressão pela necessidade de clareza aparente na realidade, quando firma o significado em única função reconhecida pela semântica, se dá no sinal e, a natura do sinal se reforça rapidamente com os modelos da língua quando são postos em circulação. A repetição das determinações torna-se então a palavra de qualquer família, a repetição cega, é então a palavra de ordem totalitária, a reprodução assim é feita de modo que nem os indivíduos sabem os seus significados e as compreendem. Aqui se corta o último vínculo entre experiência e língua, que no século XIX ainda tinha sua influência pelo dialeto. A democracia então deixa como herança na Indústria Cultural seu caráter civilizatório da livre iniciativa, que nunca se diferenciou demais das espirituais. 2. DINÂMICA DE CONSUMO E A INDÚSTRIA CULTURAL DO ENSINO Tendo conhecimento do mecanismo de funcionamento da Indústria Cultural, podemos o correlacionar com o modelo de sociedade administrada, através do viés das dinâmicas dos afetos e consumismo. Uma subjetividade resultante do capitalismo tardio ao qual vivemos inseridos no contexto do início do séc. XXI, que por sua vez desemboca na chamada Indústria Cultural do Ensino, a qual é constituída na escola de massas, hierarquização e imagem do professor como possuidor de todo o conhecimento em detrimento do aluno ignorante, definindo os modos operante vigente. 19 2.1. Indústria Cultural e Consumismo. Uma vez entendido o modo operante da Indústria Cultural identificado por Max Horkheimer e Theodor Adorno no contexto em que se apresentava a eles na época que o conceito fora cunhado, precisamos agora entender como se dá este sistema sobre os indivíduos, na lógica do consumismo e sua satisfação em que a sociedade administrada, se apresenta em sua totalidade. O consumismo então se apresenta como característica principal inerente a esta sociedade, e oferece ao individuo duas opções de satisfação: o prazer do objeto, passando pela confusão com a necessidade, que se dá de forma imediata e material e a segunda que se encontra na transcendência ao objeto, no ato de encontro com a conformidade com a lei. O gozo então é o princípio do prazer, e consequentemente se encontra no objeto consumido, o mesmo então oferece a indústria a liberdade de produção, através do consumo de qualquer objeto por mais supérfluo que seja, o fim da mesma se dá no gozo, e assim faz-se o indivíduo ser submetido e aprisionado aos interesses da produção industrial, na condição de instrumento do gozo do outro, no dever de consumir, não sendo mais detentores de qualquer subjetividade, onde os mesmos se encontram afastados do poder de prazer egóico, do prazer mediado. Encontramos hoje então as paixões com o caráter de desencanto, transcendendo então ao caráter industrial da produção de bens culturais, perpassando também as questões inerentes ao particular do indivíduo. A Indústria Cultural então opera sobre a subjetividade do consumidor, manipulando e operando paixões desencantadas, sendo presente na relação indivíduo e sociedade um caráter de coesão ilusório de reconciliação sustentada sobre o sacrifício do indivíduo e a subjetividade destorcida. O efetivo do prazer se faz necessário pela entrega às satisfações prometidas pelo mundo empírico, alienando-se o desejo narcisista presença no imaginário, o gozo, no entanto, implica na transcendência do ego e mundo empírico, representado na satisfação, além do prazer, estando assim de acordo com a lei. O gozo com o consumo é uma satisfação repressiva, quando a diferença entre prazer e gozo, é a característica imediatista e particular do indivíduo presente no primeiro prazer e a reconciliação com o todo, presente nos interesses dos dominantes travestidos de senso comum, no meio disto, a Indústria Cultural opera em um momento sugerindo modelos particulares de ego, afirmando a presença de uma moral universal. 20 Compreender a história do homem como a história de sua repressão, conforme propõe Marcuse, nos leva a sustentar o alívio do sofrimento como o télos da sociedade, segundo propõe Adorno. (RAMOS, 2008, p-82.) A negação e domínio do corpo e da paixão como controle do particular sobre o psíquico se mostra na raiz desses princípios, como materialista e corporal, a pulsão tem o valor crítico e histórico por relembrar o que fora negado ao homem para que sua civilização pudesse surgir e seconsolidar. Porém nunca se cumpriu a prometida satisfação da civilização, encontramos a opressão crescente e desnecessária pelo avanço tecnológico conquistado pela produção industrial, a fruição e o prazer passam a ser às lembranças do que se é negado e por si só deveriam orientar o esclarecimento, esta Fruição por meio da via da experiência estética e distante do modo operante mimético da Indústria Cultural revela indivíduos esvaziados de subjetividade. A procura na experiência empírica do gozo dando o sentido da vida acontece a reprodução do mundo ao qual o prazer se é negado em função da infantilização das questões que atravessam o particular e o todo, porém no gozo e prazer, ainda podemos afirmar a sua compreensão como método de resistência do particular à realidade material, que tem como característica a reificação e mutilação diária. Como exemplo, desta violência diária e mantenedora deste sistema, podemos usar o medo, de característica da dominação que se faz a sua justificação, sendo suas cicatrizes essenciais para que o indivíduo relembre constantemente a sua existência, o que causa a mesma paralisia presente no status quo, vivendo em estado de sítio constante derivado da opressão do todo e a passividade particular. Sendo assim, o individuo reduzido às condições do sistema, os contatos interpessoais sem a corporeidade resultantes de um isolamento protetor da opressão dificultam a identificação e ruptura com o mesmo, o medo de novas relações e a desconfiança presente em relações anteriores dá o tom de sempre subjugar ou ser subjugado, de acordo com a lógica sistemática aqui já explicada. Esporadicamente, às vezes, as angústias e sofrimentos surgem na superfície do indivíduo, mas rapidamente são modificadas de seu objetivo inicial e transformadas em dificuldades de adaptação. O medo sendo o produtor deste desconhecimento da população então é essencial para esta sociedade, a fim de alcançar o nível em que suas fontes objetivas não sejam identificadas e, é desta forma que se opera o consumismo, sendo a repetição do remédio e ao mesmo tempo 21 a doença, assim podemos perceber que o prazer nele buscado é ilusório, sendo falso qualquer sentimento de satisfação produzido pela Indústria Cultural. Atualmente, na forma de superego, internalizada e experienciada, a ameaça não tem mais a objetividade na qual se originou, vivenciada de forma subjetiva facilita à procura de soluções e justificativas subjetivadas, a imagem do pai, ao invés, de ser abolida, tem invertida a sua função pelas massas, o pai proibitivo que antes colocava o sacrifício e prometia o gozo em outro plano espiritual, hoje se transforma no pai permissivo, que soma sacrifício ao gozo que retirados de seu objetivo são confundidos, a lei agora se torna a busca da satisfação e inverte o objetivo do prazer, que agora assimilado pela sociedade opressora e retirado do particular, torna-se o gozo administrado que leva à imagem paterna que impõe a satisfação em vez de produzi-la. Consequentemente a dificuldade de diferir a dor da satisfação é parte da alienação subjetiva inerente ao mundo administrado, justificando assim a dor como a satisfação e critério para a mesma. Desta forma, podemos entender o outro da lei do gozo, sendo o resultado da internalização da Indústria Cultural como processo histórico, sendo assim a segunda natureza humana, como encantamento o gozo é a reconciliação e resistência, não só o sacrifício. O indivíduo pode se aproximar do que é negado, sem negá-lo e reproduzi-lo imediatamente pela experiência estética, sendo a arte atribuída a função reconciliadora, enquanto a Indústria Cultural exerce seu papel de não cumprimento de suas promessas. Sendo assim, a arte é um modo de resistência pelo encantamento, para que a imaginação exista, se faz necessário, em um mundo desencantado, todos os objetos, dentre eles pessoas, são hoje massas organizadas guiadas por leis naturais. Porém o encantamento é existente na técnica, que é fetichizada e absorve anteriormente retirado pela racionalização, no encantamento o objeto é o fim em si mesmo, tornando possível a diferença, na fácil satisfação é o meio, um recurso formal, desencantado não ultrapassa a aparência, nem a forma, a arte então não é só uma projeção, mas sim uma cópia, sendo não só o objetivo de identificação, mas sim do seu significado para além do mesmo. O gozo como sacrifício do ego implícito ao encantamento se dá na razão formalizada, que na não experiência de um ego autônomo, a auto conservação burguesa identifica imediatamente o particular ao sistema, que o ego, por sua vez é formalizado e negado naturalmente e só pode ser visto como instrumento. 22 Dentro do sistema o individuo é mera unidade formal, ganhando a existência lógica e perdendo sua singularidade, cabe assim a Indústria Cultural a administração das satisfações autorizadas, ditando e destituindo as regras de acordo com a lógica do capital, ela não pode apresentar seus objetivos além desta aparência, ela espera e reafirma a experiência anteriormente estabelecida, concretizando as óticas filtradas pelo sistema. Atualmente a exigência da consciência se dá, cada vez mais, em condições de assimilar ao choque cotidiano da experiência, sendo este no ritmo imagético assimilado pela Indústria Cultural, já o indivíduo ao contrário é submetido ao esforço da absorção desses fragmentos e estímulos sem conexão e sentido. Sob os choques, o indivíduo forçado a manter toda sua atenção aos estímulos, reduz sua consciência ao sistema perceptivo, sem relaxar e se desprender aos mesmos sobre a percepção do que é real e não ultrapassar o superficial do que é instantâneo aos olhos, sem conexão com a experiência, a velocidade com o que o consumo se dá só possibilita o imediatismo. Sendo assim, a percepção de mundo é limitada e a atitude de percepção frágil, a qual possibilita os modelos administrados está na lógica de consumo feroz que é imposto e promove a operacionalização do mundo, dos objetos e do ser, sendo a racionalidade tecnológica, a única capaz de dar coerência às coisas reduzidas e às suas funções. O entendimento e a organização do mundo se assemelham a produção das fábricas, o ritmo da percepção e do pensamento ditado pela velocidade do estímulo e da informação, o mesmo ritmo do consumo. O gozo reduzido ao ato se consome como energia calculada desprendida do sistema, o que regride e abre espaços para Indústria Cultural e todas às suas manipulações do prazer virtual. Enfraquecido de seu ego, o indivíduo ganha satisfações semelhantes ao seu autoerotismo pré-narcisista já fragmentado, sendo a busca pelo prazer imediato perversa, dispensando a necessidade em se integrar com o outro. 2.2. A Problemática da Industria Cultural do Ensino. O reconhecimento da Indústria Cultural hoje como status quo está na sua oitava década, ao longo deste tempo onde nunca se viu no tempo histórico ser encurtado, esta ideologia resultante do capitalismo tardio, mesmo que se utilize de suas dinâmicas subjetivas para a sua conservação, também se apresenta de forma retórica como o conservadorismo de 23 nossa época ou então se mostra evidente neste mesmo caráter em acontecimentos como o ano de 1968, podendo então utilizar o mesmo para analisar o papel que a educação possui e atua na sociedade administrada. Inicialmente a base ideológica conservadora e sua postura é desenvolvida na fusão entre a sociedade escravocrata e a economia mercantil, e como resultante da presença da lógica liberal no âmbito econômico, aceita com certas ressalvas a mudança, desde que a mesma seja gradual, entende a mesma como natural em sua ordem. Como lema, segundo, (MARRCH, 2009, p.78) “Reformar para Conservar”, fazendo de sua escola, a sua moral e autoridade através da conciliação, o conservadorismo então concilia a ótica deeducação liberal aos privilégios de classe, os tornando então representantes deste mesmo status social. O diploma e o curso universitário então se tornam legitimadores de sua posição, mantendo assim nas mãos das elites o poder intelectual, controle e monopólio do conhecimento, logo os outros níveis de ensino ganham o caráter de formação ou caminho para efetivação desta meta, disponibilizando a educação primária, função de preparação do indivíduo para a ascendência de classe ou então manutenção da qual o mesmo já é inserido. Conforme (MARRACH, 2009, pg. 80), a escola então como quase rito de iniciação, fornece ao individuo a oportunidade de conhecer o sistema cultural e social da civilização, e através da apropriação da politica educacional iluminista, a Indústria Cultural transforma a educação democrática no mito da modelagem ou controle das almas, como historiadores é fundamental entendermos o significado das mudanças de passagem do rito, ao mito do esclarecimento. As escolas no séc. XIX tiveram a função de separação “do Joio do trigo”, uma diferenciação social entre classes, e através da privatização torna a escola média, a seletora e responsável do ingresso dos privilegiados ao ensino superior. A submissão implícita ao aluno no lugar de não ser possuidor de sentido faz com que os métodos de decorar a informação sejam justificados. Na História através das datas a transformava em mera narrativa dos grandes homens, dos grandes feitos e que de forma linear e romântica, formava uma história progressista acumulativa. Já nas Faculdades do séc. XIX aos que eram designados ao privilégio de se reconhecerem como indivíduos a partir da diferenciação dos de mais através da detenção de conhecimento, aos quais se traduzira em privilégios econômicos e sociais, o conservadorismo através das apostilas, que mais poderiam ser chamadas de manuais, instigavam o decorar e a 24 crítica de seus alunos, na tentativa de adequar o mesmo aos seus métodos e ideologias institucionalizadas. Porém é preciso ressaltar que a aparente tentativa de controle é passiva ao acontecimento de mudanças, a dicotomia fundamental entre o reformismo “aceitável” para conservar as instituições, que permitiam através dos privilégios obtidos, os indivíduos enxergassem o método pedagógico como também político. Sendo assim, se misturavam mais uma vez a ética do publico e privado, sendo as mais altas responsabilidades guiadas pelo intelecto, de formar ora tecnicistas de acordo com o sistema, ora de espaços de afirmação para novas ideias, a última sendo resultante em punição. Conforme (MARRACH, 2008, pg. 96), os conceitos de moralidade e civilidade altamente impostos pelo manual institucional faziam quaisquer ato de indisciplina resultante de advertências à expulsões de curso, o Iluminismo como esclarecimento então é apropriado, que de proposta a educação democrática se tornou o mito, o molde e seu conteúdo, ou seja, o controle de almas, sendo a educação então responsável pelo novo esclarecimento, o controle e toda especialização, toda profissionalização implicante de cegueira e ignorância. De acordo com (MARRACH, 2008, pg-105), o pensamento burguês, ordeiro e sistemático agora impõe a moderação a todos, onde é negado tudo o que lhe é particular a um jovem, envergonhando o mesmo sobre suas atitudes, o velho burguês olha a juventude de cima, e esta é a chave para o entendimento de seu método pedagógico, o progresso linear e gradual agora, aos olhos do burguês era a proclamação do moderado e calmo. O séc. XIX valoriza então a maturidade moderada, criando assim, o espaço necessário para que a pedagogia tradicional se desenvolvesse, que tal qual a imagem do pai, o professor representava a estabilidade do Estado. Para a sustentabilidade da imago do professor e do aluno como submisso precisara criar um ambiente onde o mesmo terá de cumprir tarefas e deveres como “provas” de seu amadurecimento, sendo o principal deles, manter sua docilidade, até que pudesse gozar e conquistar seus direitos. A arquitetura do ambiente escolar, tanto quanto salas superlotadas ajudam a reprimir instintos de corpos em desenvolvimento que demandam movimento, apaziguando assim os alunos, o que traz a falta de sentido e tornando um fardo a tarefa do aprendizado. O séc. XIX então olhando sobre ele mesmo acreditara que havia encontrado o caminho progressista através de seus avanços tecnológicos e na comunicação. Porém às guerras e revoltas populares ocorridas no inicio do séc. XX trouxeram a cabo à lógica burguesa que se tornara fiel ao Liberalismo Progressista. 25 O surgimento da chamada sociedade de controle derivada no pós-guerra por sua vez, desemboca no surgimento da sociedade administrada e na Indústria Cultural. O controle burocrático e centralizado se torna a forma, que ora convoca o povo a “participação”, ora afirma sua hierarquia da legitimação tecnicista e administrativa como coação econômica e repressão politica. A democratização da informação agora era feita pelos meios de comunicação em massa, mas as liberdades individuais acabaram sendo submetidas a ordem burocrática, de fronteiras a correspondências, tudo agora é submetido ao estado. Junto a isso, ainda na lógica tradicional, a escola legitima a presença e autoridade do Estado, jovens confinados à espaços repressores e limitantes agora tem a substituição da violência física para a violência controladora subjetiva, se tornando simbólica e perpassando ao controle interno, não mais ao externo e consequentemente ocasionando uma grande modificação nos hábitos do dia a dia. A civilização do séc. XX era baseada então nas armas, dinheiro, controle social e burocracia administrada, de característica dominante de uma ampla gama de técnicas de controle social sobre o homem, o que favorece a minoria em detrimento da maioria. A tendência à concentração estava presente desde a esfera governamental, passando pela comunicação e desafogando na formação da opinião pública, a repetição midiática da ideia é o controle social e a possibilidade de técnicas controlou a educação e seu sistema, até a ciência. A escola então encontra sua função civilizatória, querendo colaborar na transição da violência física, para a violência simbólica e o poder da palavra e da imagem agora operam pela chave do controle interno, não mais externo, a linguagem civilizada e a sua consciência. [...] a sociedade industrial-administrada, em que o mundo do controle, da burocracia, das grandes organizações, em que o indivíduo é aniquilado pelas engrenagens, o esclarecimento é engolido pelas novas formas de controle social e a cultura clássica burguesa é devorada pela Indústria Cultural. (MARRACH, 2008, pg.117). A cultura administrada é a cultura de massas, que pela Indústria Cultural encontrou pela primeira vez uma atuação mundial. Segundo, (MARRACH, 2008, pg.117), durante o séc. XX teve grande efeito na educação e na dialética do esclarecimento, produzindo a Indústria cultural da educação, sendo o século das técnicas de controle social, planificado, em que poucos controlam muitos e nele as massas ganham participação social e politica, demandando novas formas de controle, com a educação que agora chega aos médios e ao proletariado, surge o medo do esclarecimento das massas. 26 O Iluminismo é substituído pela educação, controlada por um Estado sobe políticas educacionais, a formação clássica anteriormente almejada já não era mais possível. Agora se foca na produção de funcionários para a máquina administrativa e operários para a linha de montagem da indústria. De acordo com (MARRACH, 2008, pg. 118), o Liberalismo Clássico Burguês tem sua morte, deixando como herdeiros organizações burocráticas, das técnicas sociais, de controle, da sociedade administrada, e esse tem um caráter autoritário, os jovens não nascem em uma democracia.Por isso a necessidade de se ensinar valores democráticos aos mesmos, desejando uma sociedade com planejamento participativo. Agora a escola que coloca a educação como outro âmbito a vida já não bastava para sociedade de massas altamente populosa, criando-se partidos e organizações politicas a fim de manejar as massas. Ao individuo da sociedade administradas e industriais, de forças sociais e econômicas invisíveis, não resta mais nada além do não entendimento. A sociedade enigmática, o esclarecimento complexo, provocando crise de valores, autoridade, liberdade, do bom senso, senso comum, do desajuste pessoal e social, logo começou a existir a necessidade de uma escola que contribua para a compreensão da sociedade e a interpretação dos conflitos individuais. Vistos dessa forma, os problemas escolares adquirem uma dimensão humana e social profunda. Por isso, por enfrenta-los cotidianamente, o indivíduo moderno precisa das ciências humanas para aprofundar e ampliar a consciência, para compreender as motivações, suas quimeras, seus enigmas e os enigmas da sociedade. (MARRACH, 2008, pg-119.) Temos então a necessidade de criar uma coesão entre as ciências humanas a fim de um melhor entendimento sobre a sociedade contemporânea, uma ampliação da consciência e capacidade de tolerância de seus conflitos. Porém a Indústria Cultural da educação fez o contrário, como empresa capitalista, rentável, fazendo a educação campo fértil para o investimento privado, instituiu a departamentalização e o tecnicismo do ensino, sendo possível usarmos o conceito de Indústria Cultural cunhado por Adorno e Horkheimer para evidenciar o processo de comércio dos bens culturais. Conforme abordado por (MARRACH, 2008, pg. 206.), a educação regida pela lógica do lucro, é a Indústria Cultural, simbolismos que se apresentam como na forma erudita, como publico produtor de conhecimento e o da indústria, destinado aos que trabalham durante ao dia, para que possam consumir este conhecimento durante a noite visando apenas a ascensão social e não a produção de conhecimento. 27 Assim a massificação da educação se faz através de salas de aulas superlotadas, em sua maioria noturna e valorizando trabalhos do intelecto de forma tecnicista pelo custo irrisório, com bibliotecas precárias assegurando a não possibilidade da produção de conhecimento, não só olhando na maior acessibilidade pensamos a Indústria Cultural da educação como evidente, mas sim também na produção dos simbolismos sociais. A produção erudita sendo a orientadora da educação média, a mesma é cada vez mais consumida por um público heterogêneo, que através de seus manuais adapta esse conhecimento de forma ultra didática caracterizando o fim em si mesmo, o consumo. A extração do pensamento traduz o conhecimento em fácil compreensão, impossibilitando assim qualquer diferenciação ou mudança do status quo como mercadoria de consumo, buscando cada vez mais a expansão e o lucro, a Indústria Cultural encontra diversos tecnicismos e caminhos para isto. Surge para o professor à necessidade de nivelar o conhecimento a ser trabalhado de acordo com a média dos alunos, professores subordinados aos detentores do poder ideológico, se autocensurando em prol de aplicar o conteúdo despolitizado tecnicista, através de aulas expositivas, fechadas ao diálogo e debate, dá o tom e justifica sua existência modeladora e assim a Indústria Cultural do ensino rompe com o pensamento crítico. O professor contratado por afinidade teórica se torna o professor-trabalhador, que empregado em muitas instituições ao mesmo tempo perde o caráter de dedicação exclusiva, atribuída agora a classe do ensino universitário, já o aluno por sua vez, devido às demandas sociais trazidas pela sociedade administrada, cada vez mais está em busca do consumo e da rápida inserção no mercado de trabalho e faz o casamento perfeito entre as posturas de cada qual, a cultura do especialista e o organizador técnico, para que a Indústria Cultural se renove no discurso próprio de uma administração técnica. Forma então o interesse dos alunos na manutenção do emprego como plano de vida e não mais o pensamento crítico, o aluno anteriormente era aventureiro com a obtenção do conhecimento, agora o mesmo é moldado para a eterna submissão aos interesses das grandes corporações. Depois de entendermos como a massificação do ensino se dá no nível universitário, podemos então nos debruçar sobre o ensino básico e médio, agora com o prolongamento das jornadas escolares, tempo este fundamental para a preparação do aluno para a vida assalariada, a escola também preenchia a lacuna do espaço da mão de obra supérflua, desqualificada, que agora era absorvida, institui a profissionalização generalizada, com a 28 função de encaminhar com maior rapidez o aluno para o mercado de trabalho e a demanda universitária. Sendo assim esvazia o discurso da educação, agora o primário e o secundário só se ocupam de preparar o índio para o mercado de trabalho, não mais para a cidadania e para o vestibular, o que nos leva a entender o porque que a iniciativa privada tem tanta importância na preparação dos alunos para as provas de qualificação, o ensino público não se responsabiliza pelas mesmas, logo a iniciativa privada se apropria desta função, para obter lucro. A escola de massas então planificada, com seus uniformes e seu ensino simultâneo é igual para todos, prepara para a vida assalariada. O trabalho tão desconexo tal como esta educação que começam firmados na obrigatoriedade e disciplina como sobrevivência, o conhecimento burocrático pontual, ordeiro e ansioso em cumprir com o currículo, mesmo sem sentido controla o tempo e os espaços, demarcando-os. De acordo com (MARRACH, 2009, pg. 212-213), o professor não ensina, administra as aulas, com o tempo contado, o objetivo é o controle através da reprodução dos exercidos sequenciados, previsíveis e econômicos, ensinando para o aluno que tempo é dinheiro. Sendo assim, meramente ideológico, o ensino ocupa a função de educar o aluno para o tempo racionalizado e dominado como promessa de evolução imediata, evidenciado na aprovação dos alunos ao fim do ano letivo, ao realizar aulas sequenciadas em menos de uma hora, sem ordem e interdisciplinaridades entre as mesmas, nem se preocupando em adaptar ao ritmo dos alunos e sim com o objetivo de cumprir o currículo, faz com que aluno aprenda que a qualidade do trabalho não é o que se valoriza, mas sim a duração do mesmo. Desta forma, uma vez que pensamos a educação como espaço de cultura podemos evidenciar, que o método preparatório e o discurso universitário desaguam nos inúmeros cargos do sistema burocrático, o chamado “mundo do receituário” sendo a adaptação desta lógica ao mundo real. A adaptação por meio de fórmulas, manuais e receitas, sendo representante da dominação, o mesmo se mantém presente em todas as carreiras preparadas pelo sistema educacional, informações que poderiam ser produtoras de um pensamento crítico são reduzidas a meros esquemas didáticos para facilitar a digestão da informação pelo aluno do ensino secundário, informações estas não possuidoras de sentido, cumprindo a função de serem decoradas única e simplesmente para o vestibular. Segundo (MARRACH, 2009, pg. 216), mesmo com o discurso ilusório de humanizadora, a escola agora já ocupa sua função como organizadora burocrática, onde 29 professores mal formados, se tornam engrenagens do maquinário do sistema - o intelecto domesticado pelo organizacional. Neste contexto se evidencia a escola como instituição de organização burocrática e tecnoburocrática, ou seja, sua massificação. Esta massificação da cultura escolar, em semi educação, é o avesso do esclarecimento, o anti-iluminismo não prepara para maioridade intelectual, autonomia e democracia, mas sim o mantém na menoridade intelectual,tornando-o maleável e adaptável ao local de trabalho. Em uma sala de aula onde a frente e acima das carteiras dos alunos se encontra o quadro e a mesa do professor, o apelo à autoridade do mesmo é legitimada, dado pela sua competência e induzindo a obediência a mesma. Nesse sentido, as relações simbólicas se tornam forças simbólicas, mistificadas e burocratizadas pelo discurso do ensino escolar. A educação então é o adestramento através da reprodução do conhecimento, não existindo comunicação de livre compreensão, a escola se transforma no mundo da não comunicação, não permite então a inserção de temas como angústias, curiosidades e problemas inerentes ao mundo jovem. Como dito por (MARRACH, 2009, pg-219), na escola de massas a imaginação é abolida. A pedagogia burocrática é o sistema de controle do conhecimento em detrimento do enriquecimento intelectual do aluno. A escola burocrática organiza e planeja, subdividida em cargos hierárquicos, cada qual com sua especialização, limitando e delimitando o conhecimento que transmitido constitui um conjunto de fatos e noções desarticulados e desconexos que deverá ser decorado pelo aluno para o exame. A autoridade burocrática é exercida por todos os cargos e subcargos da organização hierárquica, fornecendo ao aluno apenas o caráter de objeto para ser enquadrado e fabricado nesta hierarquia. A cultura humanística é esvaziada e massificada, matérias fundamentais para visão de mundo, como História e Geografia, tornam-se matérias decorativas, um amontoado de narrativas sem conexão e interpretação, são ministrados com o único objetivo, o do rápido consumo da informação, para o esquecimento da mesma forma que irá se seguir. Sendo o conhecimento agora de curta duração, e os exames, também são o fim em si mesmo da pedagogia burocrática, não mais validando o conhecimento adquirido pelo aluno, mas sim o acúmulo de informações produzidas pelo mesmo, em função do autoritarismo que é submetido. 30 A leitura obrigatória ou como castigo produz o desinteresse e o desgosto do aluno pela mesma, trazendo também esse desestímulo a curiosidade, vontade de aprender, ler e conhecer novos temas. A Dominação sendo exercida por bens-simbólicos a escola impõe a linguagem ortodoxa e se torna modelos de forças simbólicas, o aluno se encontra em um ambiente onde o poder da força define quem? há quem? e como? pode se falar. De acordo com (MARRACH, 2009, pg.223), o aluno atribui poder a linguagem dominando em detrimento do silêncio do submisso. As relações de comunicação então se dão na estrutura burocrática de autoridade, sendo então a educação ligada a violência simbólica, educação com base em comunicados, sem diálogos. A língua então é colocada como imutável, elitista e ignora sua presença na boca do povo e se afirma de forma autoritária ao vocabulário dos alunos, os donos da linguagem estão em paralelo com os donos do poder, pelo modelo ortodoxo imposto, a liberdade linguística é negada, e a linguagem é a base da liberdade, meio por onde o homem constrói sua visão de mundo, sociedade e de si próprio, sendo aplicada de forma contrária a esta, atribui como caráter inerente a submissão ao aluno, tornando-se mais tarde cidadãos dóceis e submissos, tendo em mente os rituais da pedagogia burocrática, a escola se torna lugar de angústia. Conforme, (MARRACH, 2009, pg. 225), onde se proíbe o diálogo e a comunicação e se ensina o individualismo excessivo, competição, o sentimento de inferioridade, submissão, medo ao conflito, a insegurança e a dependência, as normas formais, tentam esconder, deformam e revelam o (dês)ensino em prol do adestramento. Sendo assim, entendida como um mito a escola burocrática é contraditória quanto ao uso da linguagem verbal e não verbal, e nessa falsificação deformadora de sentidos, a escola se apresenta como mito, colocando a ideologia da educação no centro da vida social, declarando a igualdade de ensino entre todos e declarando por meio da meritocracia que a ascensão social, como se não houvesse barreiras doutrinatórias e de classe para isso. O mito da educação conserva o fetiche autoritário, que invadiu ideologias, políticas educacionais e práticas pedagógicas, o adestramento para submissão, reproduz desigualdades sociais e a ideologia dominante, depois de criada a insegurança, a escola burocrática oferece modelos a serem seguidos por seus alunos, os quais prontamente sem a produção de sentido no processo educacional, às apropriam como sua função de vida. Os mesmos ocupam seu papel na burocracia e se tornam assim, meras peças para reprodução do sistema. 31 Sendo assim, a submissão é essencial para renovação e domínio da classe dominante, sendo a escola burocrática de massas o lar das angústias, onde a mesma não se preocupa com o desenvolvimento humano e sim com o profissional, conforma o estudante e o atrai para seus símbolos de prestigio: honrarias, diplomas e influência social pela posse do conhecimento. Segundo (MARRACH, 2009, pg. 227), para os menos submissos, oferece como ritual de punição, sarcasmo e repressões que visam o engajamento moral do aluno. Os jovens saem das escolas ansiosos, inseguros e apáticos, a inércia e insegurança são criadas pela educação burocrática. Angustiado o jovem pede por segurança e, como o modelo que fora apresentado, através da reprodução do discurso dominante não o atende e o mesmo continua na busca desta garantia, mas sem saber lidar com conflitos, o mesmo segue no contexto fingindo o bem-estar, indiferente ao social e político, se prende aos subcargos como sua função única e essencialmente burocrática. De acordo com (MARRACH, 2009, pg. 227), na sociedade de massas, o homem é cada vez mais seu produto, uma fábrica de homens preparados para serem utilizados pelo sistema, velho e ultrapassado, destrói a personalidade do jovem, massifica o indivíduo e atribui o modo de ser e não pensar que sustenta a tecnoburocracia da sociedade administrada, adestrando jovens e conformando homens a viver em uma sociedade autoritária. Sentindo e vivendo estas transformações, e se questionando: Mudança social para onde? Educação para quem? Esclarecimento para que? Anarquistas e pensadores libertários enfrentam os problemas tentando elaborar novas formas educacionais para a mudança, o que mostraremos com mais detalhes no próximo capítulo. 3. ANARQUISMO, FILOSOFIA E SUA SAÍDA PEDAGÓGICA O anarquismo como posição ideológica contra todo tipo de autoridade e em prol da destituição de toda configuração governamental e seus dispositivos de controle, sempre vai representar a saída mais racional e coerente para as problemáticas resultantes dos conflitos de poder que atravessam todas as organizações sociais experimentadas até hoje. Por definição, e evolução histórica esta ideologia sempre se preocupou com a liberdade e autonomia de seus indivíduos, desembocando na eterna dialética entre as livres associações das vivências, da cultura, das relações e do ser, configurando assim uma nova forma de organização social, pedagógica, autônoma, criativa e inventiva, que hoje configura o oposto da ideologia vigente. 32 3.1. O Pensamento Anarquista Clássico e sua Filosofia. Para muitos o primeiro anarquista, mas certamente o que cunhou o conceito ideológico, tal qual conhecemos hoje, Pierre Joseph Proudhon construiu sua crítica na observação de que os regimes por ele analisados apenas teriam reproduzido o autoritarismo desacerbado. Conforme (NETTLAU, 2014. p. 75), o estado burocrático, exército, burguesia gananciosa e o conservadorismo rural juntamente as hierarquias totalitárias que nasciam no socialismo, denunciando todo o mal da autoridade, estatal, privada, religiosa e socialista. Bakunin mais tarde fará o mesmo em seus escritos, trazendo a emancipação política, intelectual e social, consequentemente nasce
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