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Pedagogia Anarquista, uma saída à Indústria Cultural da Educação - TCL Mateus de Marcos Marinho

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATEUS DE MARCOS MARINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDAGOGIA ANARQUISTA, UMA SAÍDA À INDUSTRIA CULTURAL 
DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2018
 
 
 
MATEUS DE MARCOS MARINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDAGOGIA ANARQUISTA, UMA SAÍDA À INDUSTRIA CULTURAL 
DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao 
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro como 
parte dos requisitos necessários à obtenção do título em 
Licenciatura em História. 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinicius Machado 
 Coordenadora: Prof. Dr. Ana Paula Del Pretti 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2018 
 
RESUMO 
MARINHO. M.M. Pedagogia Anarquista, uma saída à Indústria Cultural da Educação. Rio de 
Janeiro, 2018. Trabalho de Conclusão em Licenciatura – Instituto Universitário de Pesquisas 
do Rio de Janeiro – Departamento de História, Universidade Cândido Mendes, Rio de janeiro, 
2018. 
 
Destacada a problemática contemporânea em torno do que foi produzido pela Indústria 
Cultural e a necessidade de elucidações sobre campos de atuações alternativas, o trabalho se 
propõe a analisar de forma crítica a metodologia utilizada pelos meios reprodutores de poder. 
Propondo a partir da análise teórica do Anarquismo e suas propostas a melhor alternativa para 
tal. Como as propostas existentes nas organizações sociais são antagonistas uma perante a 
outra, a Indústria Cultural, massifica, padroniza, hierarquiza, desestimula e apazigua o 
indivíduo nela inserido. Já o anarquismo, emancipa, organiza e conscientiza o indivíduo a 
partir da autonomia e liberdade. O entendimento de Cultura fruto de todas as relações sociais, 
sendo por si só a educação, perpassa as duas formas educacionais, nos proporcionando a 
oportunidade de dar ênfase no estudo de como estas ideologias se constituíram em torno deste 
tema. A chamada Indústria Cultural Ensino, transforma o conhecimento em mercadoria, ao 
padronizar de acordo com as necessidades de massificação e parâmetros tecnicistas, 
hierarquizada, é no sistema de punição e recompensa que encontra a justificativa moral para a 
criação de uma escola limitadora, desestimulante tanto no espaço mental, quanto na sua 
construção arquitetônica. Já a Pedagogia Anarquista, estimula, compreende as rebeldias, 
senso crítico, autogestão, liberdade e igualdade. Permanece em caráter de antíteses mútuas, as 
formas educacionais aqui analisadas igualmente fundadas em preceitos iluministas, podem 
nos esclarecer a que, quem e qual a educação serve. Sendo assim, a chave para a construção 
de uma sociedade sejam quais forem seus valores. 
 
Palavras-chave: Indústria Cultural; Educação; Anarquismo; e Pedagogia. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
MARINHO. M.M. Anarchist Pedagogy, an exit to the Cultural Industry of Education. Rio de 
Janeiro, 2018. Conclusion work in Licenciatura - University Research Institute of Rio de 
Janeiro - Department of History, Cândido Mendes University, Rio de Janeiro, 2018. 
 
Outlining the contemporary issues surrounding what was produced by the Cultural Industry 
and the need for elucidations about alternative fields of action, the paper proposes to critically 
analyze the methodology used by the reproductive power. Proposing from the theoretical 
analysis of Anarchism and its proposals the best alternative for such. As the existing 
proposals in social organizations are antagonistic to each other, the Cultural Industry, 
massifies, standardizes, hierarchizes, discourages and appeases the individual in it. 
Anarchism, on the other hand, emancipates, organizes and makes the individual aware of 
autonomy and freedom. The understanding of Culture, fruit of all social relations, being in 
itself the education, permeates the two educational forms, giving us the opportunity to 
emphasize the study of how these ideologies were constituted around this theme. The so-
called Cultural Industry Teaching, transforms knowledge into merchandise, standardizing 
according to the needs of massification and technicist parameters, hierarchical, it is in the 
system of punishment and reward that finds the moral justification for the creation of a 
limiting school, discouraging both the mental space, and in its architectural construction. The 
Anarchist Pedagogy, stimulates, understands the rebellions, critical sense, self-management, 
freedom and equality. It remains in the character of mutual antitheses, the educational forms 
analyzed here also founded on illuminist precepts, can clarify to us, who and what education 
serves. Thus, the key to building a society whatever its values. 
 
Keywords: Cultural Industry; Education; Anarchism; Pedagogy. 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 5 
1.Indústria Cultural .................................................................................................................................. 7 
1.1. A análise do Iluminismo na Sociedade do séc. XX - Adorno e Horkheimer .......................... 7 
2. Dinâmica de consumo e a Indústria Cultural do Ensino ................................................................... 18 
2.1. Indústria Cultural e Consumismo .......................................................................................... 19 
2.2. A Problemática da Indústria Cultural do Ensino ................................................................... 22 
3. Anarquismo, Filosofia e sua saída pedágógica .................................................................................. 31 
3.1. O pensamento Anarquista Clássico e sua Filosofia ............................................................... 32 
3.2. Pedagogia Lebertária, uma Saída Anarquista ........................................................................ 36 
CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 49 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 54 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 Observa-se atentamente a sociedade contemporânea, ocidentalizada e globalizada, 
podemos enxergar a atualidade de grandes teorias e análises feitas ao logo do séc. XX. 
 Em nosso estudo, nos atentaremos com mais profundidade para aquelas produzidas no 
contexto da crise da sociedade burguesa ocorrida no início do século, quando fundaram as 
bases tanto da ideologia e organização social do status quo, tanto quanto moldaram as bases 
do pensamento transformador e revolucionário, ou seja, a subversão do discurso oficial 
 A Indústria Cultural é uma destas elaborada pelos integrantes da Escola Frankfurt e 
pela escola de pensamento, influenciadas por: Theodor Adorno e Max Horkheimer, os quais 
elaboraram a análise do que mais tarde poderemos evidenciar empiricamente sobre o que será 
discutido. A divisão e fragmentação dos meios de comunicação em indústrias, fez com que a 
cultura, muito mais do que um simples formador indivíduo, se tornasse o meio ao qual a 
burguesia iria se utilizar para reproduzir e perpetuar seus valores. 
 Baseando-se no princípio do consumo do que se produz, a indústria da cultura, faz 
com que seus integrantes fiquem presos em um esgotamento de potência de vida constante, 
uma incessante caça ao sonho derivado da perspectiva burguesa, muitas vezes inalcançável, 
principalmente por sua função ideológica da força motriz do sistema. 
 Altamente condicionados a suscetibilidade da barbárie da enorme produção de 
estímulos, o indivíduo é reduzido a mero corpo consumidor e reprodutor do ideal oficial, e 
sem particularidades encontra-sena mais cruel impotência e padronização produzida por uma 
organização social. 
 O mecanismo de poder, anteriormente apenas econômico, agora passa a ter também o 
caráter ideológico, colonizando o inconsciente do oprimido, detentores deste mecanismo se 
perpetuam no controle social. 
 O mercado então se apropria de tudo, da produção ao produtor, tudo é consumido, até 
mesmo as ideias subversivas, sendo apropriadas por essa lógica. Tudo é absorvido e 
consequentemente controlado. Um sistema autoritário, usurpador de direitos e que provoca a 
submissão voluntária de seus integrantes. 
 É assim, que as bases da Indústria Cultural podem ser definidas brevemente e que nas 
próximas páginas esmiuçaremos detalhadamente, de acordo com a brilhante obra analítica de 
Sonia Marrach, que se debruçou e atualizou o conceito de Indústria Cultural à luz da educação 
a qual utilizaremos como à principal referência. 
6 
 
 Não demoraria muito que a necessidade de se apropriar do sistema de educação fosse 
gerada pela Indústria Cultural, ao fazer da escola o principal meio de condicionamento dos 
indivíduos para mais tarde se integrarem ao seu sistema como engrenagens que produzem e 
consomem desenfreadamente de forma padronizada e controlada, onde a massificação do 
ensino, uniformiza, cria espaços limitantes e tira qualquer espontaneidade do aprendizado da 
criança através de uma padronização do currículo hierarquizado. 
 Agora não sendo totalmente privilégio das elites, a educação é dada à todos, mas não 
como meio de emancipação e sim como meio de doutrinação e apaziguamento. Com 
currículos iguais para todos, a produção de conhecimento na educação básica se restringe ao 
consumo do conteúdo programado que será transmitido pela imagem do detentor de 
conhecimento para aquele que nada sabe, ou seja, o produto de uma Indústria hierarquizada. 
 Juntamente com o tecnicismo e a ideia de ascensão social pelo intelecto, faz com que o 
conhecimento se torne mercadoria. Tanto para o estado, ao qual se utiliza da padronização 
para perpetuação de seus interesses, tanto quanto para a iniciativa privada que vende o 
conhecimento atrelado ao sonho pequeno burguês. 
 Já o anarquismo, é fundado em pensamentos coletivistas, individualistas e 
historicamente oposto a ideias autoritárias, que fora produzida por pensadores do séc. XIX 
como Joseph Pierre Proudhon, Mikhail Bakunin, Willian Goodwin, Kropotkin, Max Stirner, 
entre outros. Ideologia essa que pelo princípio básico antigovernamental e anti-estado por si 
só produz uma dialética intensa e livre na produção de modos inventivos de organização 
social, e de filosofias profundas ao direito à liberdade e autonomia como em nosso estudo 
serão referenciadas nas análises de Max Nettlau e Murray Bookchin, onde pode ser 
identificada no extremo o oposto da Indústria Cultural, quando seus militantes não 
demoraram para identificar a cilada a qual a mesma representava. 
 Em busca da emancipação do aluno inicia-se, em paralelo a massificação do ensino, a 
Pedagogia Libertária com seu principal exemplo na Escola Moderna que faz uma leitura 
convergente das ideias anarquistas muitas vezes contraditórias em um único sentido, 
atualizando-as e às tornando os princípios que se propagavam. 
 Através do estimulo à criatividade, espontaneidade, vontade, necessidade e demandas 
do indivíduo, leva o aluno ao deleite do aprendizado espontâneo, autônomo e liberto do julgo 
do programa oficial. 
 Referenciado nos textos de Eddison Passetti e Acácio Augusto, como não sendo um 
ser ignorante a ser ensinado e sim humano estimulado através da livre associação e, a partir 
das influências que lhe são oferecidas criar a capacidade de senso crítico, distante de 
7 
 
propostas, as quais o aluno é submetido sob o viço hierárquico que tem que ser submisso, ou 
seja, uma escola livre, onde o aluno é estimulado a rebeldia, desobediência e a dialética das 
relações comportamentais, sendo capaz de produzir uma subjetividade criadora de uma 
organização social autogerida e não subordinada ao governo, tão menos ao Estado e suas 
práticas autoritárias. 
 Uma vez entendida a oposição de ideias de ideologias que estavam em ebulição no 
mesmo período no início do séc. XX, o objetivo desse estudo se traduz na análise desses 
discursos, em busca de uma maior consciência das bases de nossa sociedade, tão quanto 
problematizá-las e evidenciar saídas já propostas para que consigamos transpor às 
dificuldades e barreiras que encontramos na educação atual, tão quanto utiliza-las futuramente 
para perpetuação da produção de um indivíduo, independente, autônomo e livre. 
 
1. INDÚSTRIA CULTURAL 
 
Contextualizar a cultura contemporânea é essencial para a premissa da análise crítica 
realizada no estudo proposto. Indústrias como a Cinematográfica, Imprensa, Fonográfica e 
veículos de mídia audiovisual tais como: televisão e internet, têm que ser entendidas como um 
sistema harmônico que se propõem ao mesmo objetivo, transmitir conteúdo e buscar 
`transformação do consumidor ao modelo cultural em que o mesmo está inserido. 
Sendo assim, nas palavras de Max Horkheimer e Theodor Adorno a falsa unidade 
entre o macrocosmo da identidade universal e o microcosmo da identidade particular. 
 
1.1. A Análise do Iluminismo na Sociedade do Séc. XX - Adorno e Horkheimer. 
O modo operante da chamada Indústria Cultural, caracterizado e contextualizado no 
cenário contemporâneo anteriormente, se dá através da estrutura sistemática de uma economia 
concentrada, a qual sempre é aplicada a Cultura de massas de uma forma idêntica. 
Sendo assim, os operadores da mesma já não se preocupam mais em negar a existência 
deste modelo, mas sim reformam sua autoridade a partir do reconhecimento dos indivíduos 
subordinados a ele, ou seja, técnica que traduz na apropriação do discurso da classe 
econômica dominante pela classe econômica dominada. 
A Racionalidade Técnica Iluminista, como dominação e de caráter repressivo 
juntamente com auto alienação sistemática, faz que o indivíduo reprimido pelo controle da 
consciência individual não consiga elaborar a demanda de fuga ao controle universal e, 
8 
 
quando feito, desde que esteja de acordo com a lei, o próprio sistema se apropria do discurso 
através da descoberta de um novo “talento”, logo o reprimindo é englobado na esfera 
universal. 
A subjetividade dos economicamente dominantes então rege a do objetivo social, faz-
se que a Indústria Cultural seja diretamente dependente das Indústrias econômicas como a 
elétrica, bancária e petrolífera. 
Caracterizando-a assim, como mera fornecedora de objetos de consumo de acordo 
com a demanda dos que obtém o controle dos meios de produção e matéria prima. Esta 
subjetividade reguladora se dá através da classificação, padronização e organização dos 
consumidores por meio de uma hierarquia de consumo, onde produtos são identificados de 
forma qualitativa e que os sujeitos por sua vez têm que se submeter, consumindo de acordo 
com a classe econômica a qual está inserido. 
Análises conjunturais sobre estes produtos têm o caráter mantenedor deste sistema, 
uma vez que de forma ilusória demonstram a concorrência e a liberdade de escolha, uma vez 
entendido o caráter subjetivo de valoração da produção no momento de consumo, 
esclarecemos que o orçamento investido na mesma não se correlaciona com preço final, e sim 
se o valor que é pago está de acordo com a posição que se ocupa na hierarquia, o que facilita o 
trabalho das indústrias produtoras, o que não necessariamente diferenciam os fabricantes por 
qualidade seus produtos, mas sim pela quantidade de acessórios ou então de grandes nomes 
correlacionados aos mesmos. 
O pensamento crítico sobre o consumo então se torna inexistente, fazendo com que o 
consumidor no seu tempo livre se orienta pelas próprias estruturas da produção, como 
Horkheimer e Adorno elucidam nesta passagem: 
A tarefaque o esquematismo kantiano ainda atribuía aos sujeitos, a de, 
antecipadamente, referir a multiplicidade sensível aos conceitos fundamentais, é 
tomado do sujeito pela indústria. Esta realiza o esquematismo como um primeiro 
serviço ao cliente. Na alma agia, segundo Kant, um mecanismo secreto que já 
preparava os dados imediatos de modo que se adaptassem ao sistema da pura razão. 
Hoje, o enigma está revelado. Mesmo se a planificação do mecanismo por parte 
daqueles que manipulam os dados da indústria cultural seja imposta em virtude da 
própria força de uma sociedade que, não obstante toda racionalização, se mantém 
irracional, essa tendência fatal, passando pelas agências da indústria, transforma-se 
na intencionalidade astuta da própria indústria. [...] (HORKHEIMER; ADORNO, 
1947, p. 8-9). 
Logo, antecipadamente o esquema de produção classifica tudo que o trabalhador 
poderia considerar. Com essa simplificação ou então a morte do pensamento crítico do 
trabalhador, qualquer manifestação e tentativa de emancipar-se desta ordem torna o mesmo 
em subversivo. 
9 
 
Pondo um fim em qualquer expressão autônoma, que se propõem a ir contra a lógica 
burguesa, que ignora a experiência do indivíduo e transforma sua vida numa mera reprodução 
de acontecimentos e entendimentos já impostos pela indústria, reprodução esta que perpassa 
toda e qualquer produção artística industrial sejam em filmes, músicas, peças. 
A intencionalidade é reproduzir o mundo externo como uma extensão das mesmas 
classes dominantes, demandando então uma extrema atenção do espectador para que nenhum 
detalhe seja perdido e esta reprodução seja concretizada na vida cotidiana, tornando então a 
capacidade de imaginação limitada a estes modelos, automatizando-a. 
O que faz com que a Indústria Cultural gere tal qual uma vanguarda própria da sua 
forma de se interpretar a realidade, onde nada que possa ser produzido já não tenha sido lido 
pela ótica de um estereótipo, e vivenciado pelos indivíduos ilusoriamente como uma liberdade 
implícita a um pensamento plural. 
Produtores de conteúdo de consumo por sua vez para obter a legitimidade de sua 
habilidade e competência têm que alcançar como natural esta rara sensibilidade do discurso 
ideológico, tornando-se especialistas neste debate. 
 Quando a autoridade inerente a este termo entra em conflito com às hierarquias 
vigentes na lógica burguesa, o argumento é apropriado pela indústria como o último de forma 
premeditada, o que o torna, a negação do estilo como a própria forma que o modo da Indústria 
Cultural se aplica através da substituição do universal pelo particular ou ao contrário. 
Esta característica pode ser identificada como a concretização da perspectiva antiga 
herdada em relação ao estilo, onde mesmo que com a presença de técnicas do universal, o 
universal autêntico se apresentava nas obras como forma de resistência desconfiada ao estilo. 
 Na antiguidade esta característica sempre foi um elemento ao qual atribuía a função 
ideológica da arte à um caráter de oposição às normas universais. 
Uma vez que a Indústria Cultural se apropria desta característica e a transforma em seu 
estilo ao imita-la, se torna absoluta e a cultura como método de resistência chega a sua morte. 
Redefinindo-a, a cultura agora só pode funcionar através da sociedade administrada: 
Só a "administração" industrializada, radical e consequente, é plenamente adequada 
a esse conceito de cultura. Subordinando do mesmo modo todos os ramos da 
produção espiritual com o único fito de ocupar — desde a saída da fábrica à noite 
até sua chegada, na manhã seguinte, diante do relógio de ponto — os sentidos dos 
homens com os sinetes dos processos de trabalho, que eles próprios devem alimentar 
durante o dia, a indústria cultural, sarcasticamente, realiza o conceito de cultura 
orgânica, que os filósofos da personalidade opunham à massificação. 
(HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 14). 
 
10 
 
O Liberalismo então pode ser entendido como a própria Indústria Cultural, sendo a 
cultura um terreno onde se torna fértil a possibilidade de lucros exorbitantes em detrimento da 
sociedade, os resistentes aqui só sobrevivem, caso se adaptem a ideologia vigente. 
O seu contraponto, uma vez identificado, já se torna integrante desta lógica, 
diferentemente de outros âmbitos onde o mercado se mostra mais regulado. 
Na cultura, ainda se vê o espaço para que os mais capacitados à resistir existam se 
forem originais e organizados. Se a adaptação não ocorrer, vemos pela impotência financeira 
a forma com que se opera o modo de exclusão deste indivíduo do sistema, o mesmo é privado 
de suas potencialidades criativas e expulso da “polis”. 
A solidez das Instituições faz o consumo e a demanda, serem agora fomentadas por 
todos, do chefe de estado ao operário, não mais só pelos indivíduos da elite, esses por sua vez, 
os patrões, são os mais beneficiados por esta ideologia. 
Quando estão mais conscientes e menos enganados pela promessa da meritocracia o 
povo grita em desejo dos privilégios da mesma, o conformismo consumista, juntamente com a 
ilusão democrática, e passividade em relação aos meios de produção agora são fatores de 
coesão social através da reprodução do discurso. 
Faz-se com que se negue a possibilidade do novo, o movimento e o bem-estar da 
lógica cultural faz com que qualquer nova tentativa de se ousar neste âmbito seja arriscada de 
mais para ser posta a prova, a totalidade da Indústria Cultural sendo a falsa unidade de 
características não correlacionáveis entre cultura, arte e diversão. 
Esta última, permanece sendo característica presente na estrutura da Indústria Cultural. 
Sendo assim, também podemos enxergar uma Indústria da Diversão, não entendemos no 
discurso da classe dominante, o conceito de divertimento como pleno, mas sim, um 
divertimento inserido nas limitações econômicas implícitas à um sistema controlado pelo 
mercado do capital já elucidado anteriormente e pela hostilidade inerente ao próprio conceito 
de diversão. 
Uma vez que a ideologia é incorporada pelo público, esse pilar ganha a função de 
reafirmação e se torna mantenedor destes valores, a Indústria Cultural tem sua força no 
comprometimento com as necessidades que ela mesma cria e não só através do gradiente 
criado pela sua onipotência em detrimento da impotência dos indivíduos, leia-se então a 
Indústria da Diversão como a extensão do capitalismo. 
O individuo a procura de se reabilitar física e energeticamente para uma nova jornada 
de trabalho, porém encontra à disposição para o seu consumo apenas o produto que o mesmo 
empenha seu tempo na produção. 
11 
 
Sendo assim, está reabilitação encontra-se apenas no completo antagonismo à rotina 
sistemática, o ócio, este que se investido alguma demanda intelectual se torna mais uma vez 
um produto, o que leva ao entendimento que o prazer só é existente na ótica do não esforço, 
do não questionamento dos quais e porquês o individuo está a consumir o produto de seu 
próprio trabalho em tempo integral, o prazer por sua vez é constantemente tomado do 
indivíduo através lógica da Indústria, ou seja, que se é promete, na maioria das vezes é 
privado do indivíduo. 
Na verdade, o que resulta na impossibilidade do mesmo em escolher onde descarrega 
seu ócio, e sim consumir apenas o que está disposto à sua frente, emulando imagens, modelos 
e estéticas para o consumo, as quais nunca o trabalhador pode se apropriar. 
Desta forma, a Indústria Cultural não nega ao sujeito a possibilidade do prazer, mas o 
reprime, tornando um processo de masoquismo ou de automutilação consumido e repetido 
inúmeras vezes pelo espectador. O corpo se torna objeto, o sexo transforma em proibido, o 
riso se transforma em sadismo, o fetiche se transforma em lei. 
A indústria cultural coloca a renúncia alegre em lugar da dor, que é presente tanto no 
orgasmo como na ascese. Lei suprema é que nunca sechegue ao que se deseja e que 
disso até se deve rir com satisfação. Em cada espetáculo da indústria cultural, a 
frustração permanente que a civilização impõe é, inequivocamente, outra vez 
imposta. Oferecer-lhes uma coisa e, ao mesmo tempo, privá-los dela é processo 
idêntico e simultâneo. Este é o efeito de todo aparato erótico. Tudo gira em torno do 
coito, justamente porque este não pode acontecer. (HORKHEIMER; ADORNO, 
1947, p. 22). 
 
 A arte e a diversão aqui não só podem ser entendidas como opostos, mas sim como 
radicalizações de um mesmo espectro que se tangem. Sendo assim, a Indústria Cultural 
destrói o prazer e não meramente manipula distrações aos olhos do espectador, ela se conecta 
a conceitos ideológicos triviais. 
O humano é despersonalizado em detrimento da lógica social e declarado seu 
significado e função do seu significado, o gera assim uma razão constrangedora que se dá 
através do ataque em dois planos: Elimina o significado da obra de arte ao mesmo tempo em 
que elimina o que não tem sentido; A diversão posta como mera reprodução, não se realiza 
apenas como a distorção da cultura em fusão com o entretenimento, mas sim a 
espiritualização imposta a mesma. 
Hoje a fé volta a se espiritualizar; torna-se tão sutil a ponto de perder de vista toda e 
qualquer meta e de reduzir-se ao fundo dourado que se projeta por detrás da 
realidade. Esta se compõe das inflexões de valor com que, no espetáculo, e em 
perfeito acordo com a própria vida, são outra vez investidos o tipo bacana, o 
engenheiro, a moça dinâmica, a falta de escrúpulos disfarçada em força de caráter, 
os interesses esportivos e enfim os automóveis e os cigarros. (HORKHEIMER; 
ADORNO, 1947, p. 24). 
 
12 
 
 A Indústria Cultural faz com que a verdade subjetiva limitante se torne subordinada 
aos padrões externos, o que torna o sistema determinador da mesma, independente da 
publicidade e interesses das corporações privadas, o que acontece da mesma forma se as 
mesmas não forem atreladas a elas. 
Neste sentido a diversão sobrepõe os bens essenciais e coloca a reprodução da 
publicidade privada ainda mais como um estereótipo, de forma catártica, tal qual o estilo da 
indústria descobre da verdade. 
O princípio burguês e iluminista da diversão gera uma tendência de não limitar 
qualquer progresso cultural, roubar o direito a diversão, disciplinar, guiar e produzir a 
necessidade dos trabalhadores mais brutalmente a medida que a ideologia se solidifica. 
 Estar de acordo com a sociedade é a identificação entre o divertimento e negócio, a 
possibilidade de gerar uma reflexão sobre qualquer tipo de obra é por si só a renúncia 
implícita ao divertimento, sendo o mesmo só possível no isolamento da lógica social, 
traduzido em impotência e fuga da última possibilidade de um discurso de resistência. 
O pensamento como negação é a promessa de liberdade, ao tratar os indivíduos como 
sujeitos pensantes, porém retira dos mesmos o hábito da subjetividade na sua essência, se caso 
vier a ocorrer, a desobediência do público em relação a indústria da diversão, por sua vez, se 
dá de forma passiva coerentemente na forma que fora doutrinado. Nenhum indivíduo mais é 
permitido esquecer a identificação ingênua que a Indústria propõe e que logo desmente. 
A total diferença se torna a exemplar identificação, o homem agora se torna 
completamente substituível através da perda da semelhança, logo a ideia da ascensão através 
da meritocracia fundamentada na base ideológica, a qual se perde. 
Faz-se cada vez mais a ideia de esforço e dificuldade que é entendida como o caminho 
para o sucesso, quando o espectador não precisa se diferenciar do que é, e entende que pode 
alcançar a glória sem enfrentar o que julga ser incapaz. 
 Porém, é claro para o mesmo o esforço empregado no caminho coitado no parágrafo 
anterior não seria o suficiente, uma vez que o enriquecimento burguês não está relacionado a 
valoração de seu trabalho, neste acaso, sendo um elemento igualitário entre os competidores. 
 A racionalidade social, das classes dominantes, alcança o nível tão absurdo que 
qualquer um pode exercer um cargo de importância, sendo irracional o investimento de 
energias na qualificação dos indivíduos para estas funções, visto que quando um único 
trabalhador alcança o sucesso, não tem importância na economia. 
Acaso e igualdade se tornam idênticos, o primeiro também planificado através da 
crença em sua autoridade, com os operadores do sistema agora ao produzir o argumento com 
13 
 
a característica da imprevisibilidade, abre espaço para que relação entre os indivíduos possa 
ser natural e existente no presente, sendo os mesmos simplificados a objetos descartáveis 
juntamente com seus direitos. 
O Homem só interessa à indústria pela característica da força de trabalho e 
consumidor de bens e serviços e sua humanidade reduzida a esta lógica exaustiva, como força 
de trabalho são convocados a estar aptos a trabalhar, como consumidores são convocados a 
identificação com a humanidade representada, não enquadrados e privados da liberdade de 
escolha. 
 A ideologia da Indústria Cultural se torna rasa e cada vez menos se tem o que mostrar 
sobre o sentido da vida ao prometer algo ao ser, mesmo na existência da publicidade em todos 
os âmbitos, os valores de bondade e harmonia se mostram reais. 
Vistos por nós como abstratos se tem a pressa de apropria-los pela propaganda, com a 
com feroz vontade em chegar ao fim comercial da ação prática, existe no discurso, o que 
Modifica os contratos e a indústria se torna a verdadeira vidente do que existe, o seu modo 
operante então não é criado de forma explicita, mas sim sugerida. 
A todos é garantida a liberdade, mas não existe a obrigação em ser na totalidade de sua 
ideia mental, em detrimento, todos são aprisionados nas instituições e relações formadoras da 
hipersensibilidade do controle social e aquele que se opor, que não se dê presente em grande 
existência no sistema, consequentemente perderá o seu espaço de afirmação na vida. 
A falsa ideia do conhecimento como mero resultado do que é tratado como específico, 
pode ser criado principalmente pelas funções liberais que contém seu caráter conformista, o 
que faz parte da premissa de mera reprodução da vida dos indivíduos nela inseridos, o que 
então mantém suas classes do sistema. 
Na defensiva se mantém uma economia que pelo desenvolvimento da técnica e 
munem ao povo a característica de supérfluos na produção. 
 No Liberalismo o pobre é o preguiçoso, atualmente é o suspeito, os que se enquadram 
nesta ótica são excluídos e marginalizados, mas a solidariedade dos seres que podem e 
dispensam à assistência positiva e negativa são refletidas na Indústria Cultural, aconselhado 
pela ciência administrativa, o cuidado entre os indivíduos presentes em toda produção, acaba 
com o último ato privado sob o controle social e na aparência privatizante das relações 
humanas na produtividade. 
 
 
 
 
14 
 
Ninguém é esquecido, por todos os lados estão os vizinhos, os assistentes sociais do 
tipo do Dr. Gillespie e filósofos a domicílio com o coração do lado direito, que, da 
miséria socialmente reproduzida, fazem, com a sua intervenção afável de homem 
para homem, casos particulares e curáveis à medida que a depravação pessoal do 
sujeito não se oponha. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947, p. 30). 
 
 A sociedade assume a produtividade da dor pela insistência na boa vontade, sendo 
todos conhecedores do fato que a ajuda não pode ser feita de modo solitário, a indústria 
reconhece isso e ao invés de resumir a solução à solidariedade, investe todo seu potencial 
comercial e encara e admite ter dificuldade em manter sua posição, reconhece esta como a 
vida difícil, mas cataloga e iguala a dor dos indivíduos. 
Sendo assim, a cultura de massas é trágica, a arte toma para si essa busca da substância 
trágica, uma vez que a diversão não alcança a devidacaracterística de reprodução da tragédia, 
como momento calculado e aprovado, o trágico se torna a benção, a verdade é praticada com 
pesar, porém a tragédia aparece com o caráter de não leva-la à sério. 
A felicidade tediosa se torna interessante com a existência do trágico, com sua 
representatividade sem preconceitos necessários, o forte e particular destino humano se 
mostra ainda possível, a ideologia que envolve a reprodução da realidade homogenia e 
comprimida é grandiosa, nobre e capaz, juntamente se mistura ao sofrimento necessário, 
tornando-se o destino do ser. 
A ameaça da destruição dos não colaboradores se reduz ao trágico, o que concretiza 
assim a estética burguesa que se aspirava, o justo castigo como o destino trágico e o povo 
oprimido pelo sistema, civilizados pela automaticidade e pela força, de onde ainda se produz 
um resquício de resistência, a de serem disciplinados pelo espetáculo da vida e pela contenção 
das vítimas, na contenção de revoluções sempre fora feito pela cultura, a Indústria Cultural é 
pedagógica quanto a tolerância a vida desumana faz o uso do desgosto e o impulso para o 
abandono do coletivo que cansou o individuo. 
O desespero sistemático vivido no dia a dia é a reprodução e a garantia de vida, 
Inserindo na lógica quando reconhecemos a nossa inutilidade, sendo meros reféns dos que 
detém o poder, somos então a sociedade dos desesperados, somos incapazes de empreender, 
nos tornamos proprietários e sujeitos no âmbito econômico, incluímos até os que ainda estão 
sob a lógica do mercantilismo burguês e todos extremamente dependentes, onde nos torna 
empregados em uma sociedade dos empregados que não há mais dignidade, em um rito de 
iniciação que é constante no capitalismo tardio. 
Aos poderes que estamos subordinados, devemos mostrar sem resistência alguma a 
identificação possível e renunciar ao desejo da felicidade, todos podem gozar da felicidade, 
15 
 
todos podem ser como a sociedade onipresente e potente, com a apatia geral, o sistema 
reconhece seu poder, doando uma parte dele. 
A segurança é a passividade dos sujeitos, liquidando o trágico, a fraude da aparência 
do trágico é produzida pelo horror trazido pela mentirosa identidade entre sociedade e sujeito 
que o trágico se diluiu. Sendo de caráter fascista o ato dos patrões em acolher os que cedem à 
própria vontade e se integram ao sistema, o que liquida o indivíduo. 
 O indivíduo por sua vez, é mais uma das mentiras produzidas pela Indústria Cultural, 
não se resumindo apenas pela evidenciação das técnicas de produção, sendo tolerado quando 
o universal permanece fora de contestação pela sua identidade. Resumindo o individual à 
capacidade do universal de mostrar o acidente, tornando-o imediato e identificável. 
O eu é uma patente dependente do contexto social que é dado como natural, como 
premissa do controle e da neutralização do trágico, a pseudo individualidade se dá através do 
fato que os indivíduos não são efetivamente assim, mas sim o encontro de tendências 
universais, o que possibilita a recaptura integral na universalidade. 
A forma do indivíduo na época burguesa é de caráter fictício e o seu erro é se 
vangloriar da harmonia do universal com o particular, a cultura de massas por sua vez 
desvenda este fato, fora sempre contraditório o principio da individualidade, a verdadeira 
individualidade nunca foi alcançada, apenas produtos da genética uma vez que a auto 
conservação das classes é mantida. 
O indivíduo burguês em que a sociedade se baseava, carregava um estigma, em sua 
liberdade ilusória, era produto da estrutura econômica e social, o poder recorria nas relações 
de força dominantes ao demandar a resposta do que era sujeito. Porém, a sociedade burguesa 
também desenvolveu o indivíduo, contrariando os dominantes, a técnica educou do homem à 
criança e o processo de individualização se deu em detrimento da individualidade, que só se 
manteve na perseguição de sua própria meta. 
O burguês, para quem a vida se divide em negócios e vida privada, a vida privada 
em representações e intimidade, a intimidade na repugnante comunidade do 
matrimônio e na amarga consolação de estar completamente só, separado de si e de 
todos, virtualmente já é o nazista, ao mesmo tempo entusiasta e injuriante, ou o 
moderno habitante das metrópoles, que só pode conceber a amizade como social 
contact, como a aproximação social de indivíduos intimamente distantes. 
(HORKHEIMER, ADORNO, 1947, p. 34). 
 
 A Indústria Cultural faz o que quer com a individualidade, uma vez que se reproduz a 
fratura hoje exposta da sociedade. na identificação aos modelos, a aparência desaparece, onde 
nenhum individuo as acredita e a obsessão pelos mesmos vive da satisfação privada de que 
16 
 
não temos mais a obrigação da individualização, mesmo que pelo esforço trabalhoso da 
imitação. 
É inútil esperar que o indivíduo contraditório dure gerações, que nesta quebra 
psicológica, o sistema deve necessariamente se despedaçar, a ironia da substituição do 
individual pelo estereótipo deve atribuir ao que é intolerável aos homens. 
 A ideia de oferta do espetáculo por um baixo custo – hoje não mais – custo monetário 
oferecido ao individuo, foi apropriada pela Indústria Cultural como condição substancial da 
própria produção, atribui não só a mesma como acompanhante inerente ao triunfo, mas sim 
atribuindo esta característica a todos. O espetáculo demonstra tudo que se tem e tudo que se 
pode. 
O fácil acesso à artigos colocados no topo da hierarquia do mercado, agora produzidos 
em massa e com seu complemento, a confusão universal, dá inicio a transformação no caráter 
de mercadoria da própria arte, através do reconhecimento expresso da mesma e de que a arte 
renegue a própria autonomia e, se coloca ao lado dos bens de consumo, possuindo o encanto 
pela novidade. 
Assim como os visitantes das feiras, atraídos pela voz persuasiva dos vendedores, 
superavam com um corajoso sorriso a desilusão causada pelos barracões, pois que, 
no fundo, já de antes conheciam o que se lhes apresentava, assim também o 
frequentador do cinema se enfileira compreensivo do lado da instituição. 
(Horkheimer; Adorno, 1947, p. 35). 
 
 No contexto burguês, o único em que a arte se mostrou como domínio separado, sua 
liberdade como negação da função social impõe pelo mercado e se mantem ligada a ideia de 
economia mercantil. 
Obras de arte puras negam o caráter da mercadoria social pelo fato de seguirem a 
própria regra, foi ao mesmo tempo mercadorias, até o século XVII, a proteção patronal 
defendia os artistas do mercado, estes sujeitos troca aos patrões e a seus propósitos, a 
liberdade dos fins da obra de arte moderna sobrevive do anonimato do mercado, as exigências 
deste, são medidas de forma que o artista se mantém isento do objetivo determinado. 
A autonomia do artista é tolerada e acompanhada de toda história burguesa falsamente 
que se deu por último na liquidação social da arte, sendo a o mercado e a autonomia os 
maiores opostos na arte burguesa, a função sem término, implícito a estética idealista, inverte 
a lógica social que a arte burguesa segue aos fins inúteis dados pelo mercado, a demanda e 
divergência de opiniões ao fim se apropriou do império da inutilidade. 
A utilização da arte se torna total, escrevendo então uma diferente estrutura econômica 
nos mercados culturais, o útil através da obra de arte se torna inútil na sociedade de conflito, 
17 
 
porém tendo seu fim na sua existência como inútil. A obra de arte então privando 
antecipadamente os homens do que se deveria se propor, o princípio da utilidade, o valor de 
uso se torna valor de troca, o prazer estético por meio da compreensão ganha prestígio. 
O consumidor assim se torna o porque da existência da Indústria da Diversão, sendo 
assim, o mesmo não pode fugir dela, tudo tem valor enquanto pode ser trocado, e não pelo o 
que é, a arte paraquem a consome é o fetiche, tornando-se o seu valor social, totalmente 
inserido como produto do mercado, a arte ganha então o único objetivo, o do lucro. 
Adaptadas pela Indústria Cultural, o caráter politico da arte tem seu preço reduzido e 
se torna acessível a todos, isto não significa que a arte é a característica de uma sociedade 
livre, mas sim de uma sociedade onde a cultura está em processo de falência pelo progresso 
do que se torna inconsistente. 
Quem no século passado, ou no início deste, gastava para ver um drama ou escutar 
um concerto, tributava ao espetáculo pelo menos tanto respeito quanto o dinheiro do 
ingresso. O burguês, que queria extrair alguma coisa por si, podia às vezes procurar 
relacionar-se com a própria obra. (HORKHEIMER; ADORNO, 1947,p. 38). 
 
 Na introdução da lógica desse sistema, a arte ganha vantagem a partir da premissa do 
valor de troca como coadjuvante do valor de uso, a arte ainda limitava o burguês pelo valor 
caro que era atribuída, não sendo mais valorada pelo dinheiro, isso chegou a um fim, a 
alienação e o signo de reificação. A crítica como respeito se torna o culto ao célebre na 
Indústria Cultural, nada se é caro, quanto mais se eleva o nível de status atrelado a 
mercadoria, mais o preço se é justificado, então é o momento onde se tem muito para ver e 
ouvir, o momento onde se pode ter tudo. 
 Chegamos então à conclusão de que a cultura é uma mercadoria do paradoxo, 
sujeitada a lei de troca, a mesma não é objeto de permuta, seu fim acaba tanto no uso, que 
quanto mais presente se torna absurdo, a concorrência assim é apenas uma aparência, a sua 
finalidade é econômica, pela sua apatia e saciedade gerada nos consumidores, a Indústria 
Cultural já não é hoje mais necessária a vida, não sendo mais potente contra a isso, a 
publicidade então a mantém para vida, pois o produto já reduz o prazer que a mercadoria 
promete, por se resumir a esta promessa, a publicidade se torna necessária para a relevância 
do sistema. 
Anteriormente, na sociedade competitiva, a propaganda exercia a função de orientação 
do que deveria ser consumido. Agora com o fim do livre-mercado a propaganda exerce o 
papel de dominação ao sistema, por meio de seu valor exorbitante, a propaganda mantém nas 
das grandes corporações o controle em detrimento de novos produtores. 
18 
 
Sendo assim, a legitimadora do que é válido se consumir, serve exclusivamente à 
venda, ela já não é mais necessária para percebermos que a oferta de consumo já é limitada, 
torna-se assim o meio de financiamento dos meios de comunicação ideológicos. 
Desta forma, o “estilo” da Indústria Cultural, técnica e economicamente, hoje se 
confundem com a indústria da propaganda, a repetição mecânica do produto cultural é a 
repetição do slogan publicitário, o imperativo da eficiência é a técnica do manejo dos homens, 
está presente desde o surpreendente à qualquer lógica familiar, do leve ao incisivo, do 
especializado ao simples, sempre os subjugando como desatento ou receoso. 
 A linguagem é a contribuição mais forte, a imagem da publicidade cultural, a partir do 
momento que a linguagem é a comunicação, quanto mais às palavras ganham significados, 
signos de qualidade, quanto mais transparente sua transmissão, mais se torna difusa e 
impenetrável. 
O elemento iluminista de desmistificação da linguagem é então invertido que no lugar 
de guiar o objeto à experiência, a palavra o expõe como um momento abstrato, excluindo a 
inexistente expressão pela necessidade de clareza aparente na realidade, quando firma o 
significado em única função reconhecida pela semântica, se dá no sinal e, a natura do sinal se 
reforça rapidamente com os modelos da língua quando são postos em circulação. 
A repetição das determinações torna-se então a palavra de qualquer família, a 
repetição cega, é então a palavra de ordem totalitária, a reprodução assim é feita de modo que 
nem os indivíduos sabem os seus significados e as compreendem. 
Aqui se corta o último vínculo entre experiência e língua, que no século XIX ainda 
tinha sua influência pelo dialeto. 
A democracia então deixa como herança na Indústria Cultural seu caráter civilizatório 
da livre iniciativa, que nunca se diferenciou demais das espirituais. 
 
2. DINÂMICA DE CONSUMO E A INDÚSTRIA CULTURAL DO ENSINO 
 
Tendo conhecimento do mecanismo de funcionamento da Indústria Cultural, podemos 
o correlacionar com o modelo de sociedade administrada, através do viés das dinâmicas dos 
afetos e consumismo. Uma subjetividade resultante do capitalismo tardio ao qual vivemos 
inseridos no contexto do início do séc. XXI, que por sua vez desemboca na chamada Indústria 
Cultural do Ensino, a qual é constituída na escola de massas, hierarquização e imagem do 
professor como possuidor de todo o conhecimento em detrimento do aluno ignorante, 
definindo os modos operante vigente. 
19 
 
2.1. Indústria Cultural e Consumismo. 
 
Uma vez entendido o modo operante da Indústria Cultural identificado por Max 
Horkheimer e Theodor Adorno no contexto em que se apresentava a eles na época que o 
conceito fora cunhado, precisamos agora entender como se dá este sistema sobre os 
indivíduos, na lógica do consumismo e sua satisfação em que a sociedade administrada, se 
apresenta em sua totalidade. 
 O consumismo então se apresenta como característica principal inerente a esta 
sociedade, e oferece ao individuo duas opções de satisfação: o prazer do objeto, passando pela 
confusão com a necessidade, que se dá de forma imediata e material e a segunda que se 
encontra na transcendência ao objeto, no ato de encontro com a conformidade com a lei. 
O gozo então é o princípio do prazer, e consequentemente se encontra no objeto 
consumido, o mesmo então oferece a indústria a liberdade de produção, através do consumo 
de qualquer objeto por mais supérfluo que seja, o fim da mesma se dá no gozo, e assim faz-se 
o indivíduo ser submetido e aprisionado aos interesses da produção industrial, na condição de 
instrumento do gozo do outro, no dever de consumir, não sendo mais detentores de qualquer 
subjetividade, onde os mesmos se encontram afastados do poder de prazer egóico, do prazer 
mediado. 
Encontramos hoje então as paixões com o caráter de desencanto, transcendendo então 
ao caráter industrial da produção de bens culturais, perpassando também as questões inerentes 
ao particular do indivíduo. 
A Indústria Cultural então opera sobre a subjetividade do consumidor, manipulando e 
operando paixões desencantadas, sendo presente na relação indivíduo e sociedade um caráter 
de coesão ilusório de reconciliação sustentada sobre o sacrifício do indivíduo e a 
subjetividade destorcida. 
 O efetivo do prazer se faz necessário pela entrega às satisfações prometidas pelo 
mundo empírico, alienando-se o desejo narcisista presença no imaginário, o gozo, no entanto, 
implica na transcendência do ego e mundo empírico, representado na satisfação, além do 
prazer, estando assim de acordo com a lei. 
O gozo com o consumo é uma satisfação repressiva, quando a diferença entre prazer e 
gozo, é a característica imediatista e particular do indivíduo presente no primeiro prazer e a 
reconciliação com o todo, presente nos interesses dos dominantes travestidos de senso 
comum, no meio disto, a Indústria Cultural opera em um momento sugerindo modelos 
particulares de ego, afirmando a presença de uma moral universal. 
20 
 
Compreender a história do homem como a história de sua repressão, conforme 
propõe Marcuse, nos leva a sustentar o alívio do sofrimento como o télos da 
sociedade, segundo propõe Adorno. (RAMOS, 2008, p-82.) 
 
 A negação e domínio do corpo e da paixão como controle do particular sobre o 
psíquico se mostra na raiz desses princípios, como materialista e corporal, a pulsão tem o 
valor crítico e histórico por relembrar o que fora negado ao homem para que sua civilização 
pudesse surgir e seconsolidar. 
Porém nunca se cumpriu a prometida satisfação da civilização, encontramos a 
opressão crescente e desnecessária pelo avanço tecnológico conquistado pela produção 
industrial, a fruição e o prazer passam a ser às lembranças do que se é negado e por si só 
deveriam orientar o esclarecimento, esta Fruição por meio da via da experiência estética e 
distante do modo operante mimético da Indústria Cultural revela indivíduos esvaziados de 
subjetividade. 
A procura na experiência empírica do gozo dando o sentido da vida acontece a 
reprodução do mundo ao qual o prazer se é negado em função da infantilização das questões 
que atravessam o particular e o todo, porém no gozo e prazer, ainda podemos afirmar a sua 
compreensão como método de resistência do particular à realidade material, que tem como 
característica a reificação e mutilação diária. 
 Como exemplo, desta violência diária e mantenedora deste sistema, podemos usar o 
medo, de característica da dominação que se faz a sua justificação, sendo suas cicatrizes 
essenciais para que o indivíduo relembre constantemente a sua existência, o que causa a 
mesma paralisia presente no status quo, vivendo em estado de sítio constante derivado da 
opressão do todo e a passividade particular. 
Sendo assim, o individuo reduzido às condições do sistema, os contatos interpessoais 
sem a corporeidade resultantes de um isolamento protetor da opressão dificultam a 
identificação e ruptura com o mesmo, o medo de novas relações e a desconfiança presente em 
relações anteriores dá o tom de sempre subjugar ou ser subjugado, de acordo com a lógica 
sistemática aqui já explicada. 
Esporadicamente, às vezes, as angústias e sofrimentos surgem na superfície do 
indivíduo, mas rapidamente são modificadas de seu objetivo inicial e transformadas em 
dificuldades de adaptação. 
O medo sendo o produtor deste desconhecimento da população então é essencial para 
esta sociedade, a fim de alcançar o nível em que suas fontes objetivas não sejam identificadas 
e, é desta forma que se opera o consumismo, sendo a repetição do remédio e ao mesmo tempo 
21 
 
a doença, assim podemos perceber que o prazer nele buscado é ilusório, sendo falso qualquer 
sentimento de satisfação produzido pela Indústria Cultural. 
 Atualmente, na forma de superego, internalizada e experienciada, a ameaça não tem 
mais a objetividade na qual se originou, vivenciada de forma subjetiva facilita à procura de 
soluções e justificativas subjetivadas, a imagem do pai, ao invés, de ser abolida, tem invertida 
a sua função pelas massas, o pai proibitivo que antes colocava o sacrifício e prometia o gozo 
em outro plano espiritual, hoje se transforma no pai permissivo, que soma sacrifício ao gozo 
que retirados de seu objetivo são confundidos, a lei agora se torna a busca da satisfação e 
inverte o objetivo do prazer, que agora assimilado pela sociedade opressora e retirado do 
particular, torna-se o gozo administrado que leva à imagem paterna que impõe a satisfação em 
vez de produzi-la. 
Consequentemente a dificuldade de diferir a dor da satisfação é parte da alienação 
subjetiva inerente ao mundo administrado, justificando assim a dor como a satisfação e 
critério para a mesma. 
Desta forma, podemos entender o outro da lei do gozo, sendo o resultado da 
internalização da Indústria Cultural como processo histórico, sendo assim a segunda natureza 
humana, como encantamento o gozo é a reconciliação e resistência, não só o sacrifício. 
O indivíduo pode se aproximar do que é negado, sem negá-lo e reproduzi-lo 
imediatamente pela experiência estética, sendo a arte atribuída a função reconciliadora, 
enquanto a Indústria Cultural exerce seu papel de não cumprimento de suas promessas. 
Sendo assim, a arte é um modo de resistência pelo encantamento, para que a 
imaginação exista, se faz necessário, em um mundo desencantado, todos os objetos, dentre 
eles pessoas, são hoje massas organizadas guiadas por leis naturais. 
Porém o encantamento é existente na técnica, que é fetichizada e absorve 
anteriormente retirado pela racionalização, no encantamento o objeto é o fim em si mesmo, 
tornando possível a diferença, na fácil satisfação é o meio, um recurso formal, desencantado 
não ultrapassa a aparência, nem a forma, a arte então não é só uma projeção, mas sim uma 
cópia, sendo não só o objetivo de identificação, mas sim do seu significado para além do 
mesmo. 
 O gozo como sacrifício do ego implícito ao encantamento se dá na razão formalizada, 
que na não experiência de um ego autônomo, a auto conservação burguesa identifica 
imediatamente o particular ao sistema, que o ego, por sua vez é formalizado e negado 
naturalmente e só pode ser visto como instrumento. 
22 
 
Dentro do sistema o individuo é mera unidade formal, ganhando a existência lógica e 
perdendo sua singularidade, cabe assim a Indústria Cultural a administração das satisfações 
autorizadas, ditando e destituindo as regras de acordo com a lógica do capital, ela não pode 
apresentar seus objetivos além desta aparência, ela espera e reafirma a experiência 
anteriormente estabelecida, concretizando as óticas filtradas pelo sistema. 
Atualmente a exigência da consciência se dá, cada vez mais, em condições de 
assimilar ao choque cotidiano da experiência, sendo este no ritmo imagético assimilado pela 
Indústria Cultural, já o indivíduo ao contrário é submetido ao esforço da absorção desses 
fragmentos e estímulos sem conexão e sentido. 
 Sob os choques, o indivíduo forçado a manter toda sua atenção aos estímulos, reduz 
sua consciência ao sistema perceptivo, sem relaxar e se desprender aos mesmos sobre a 
percepção do que é real e não ultrapassar o superficial do que é instantâneo aos olhos, sem 
conexão com a experiência, a velocidade com o que o consumo se dá só possibilita o 
imediatismo. 
Sendo assim, a percepção de mundo é limitada e a atitude de percepção frágil, a qual 
possibilita os modelos administrados está na lógica de consumo feroz que é imposto e 
promove a operacionalização do mundo, dos objetos e do ser, sendo a racionalidade 
tecnológica, a única capaz de dar coerência às coisas reduzidas e às suas funções. 
O entendimento e a organização do mundo se assemelham a produção das fábricas, o 
ritmo da percepção e do pensamento ditado pela velocidade do estímulo e da informação, o 
mesmo ritmo do consumo. 
O gozo reduzido ao ato se consome como energia calculada desprendida do sistema, o 
que regride e abre espaços para Indústria Cultural e todas às suas manipulações do prazer 
virtual. 
Enfraquecido de seu ego, o indivíduo ganha satisfações semelhantes ao seu 
autoerotismo pré-narcisista já fragmentado, sendo a busca pelo prazer imediato perversa, 
dispensando a necessidade em se integrar com o outro. 
 
2.2. A Problemática da Industria Cultural do Ensino. 
 
 O reconhecimento da Indústria Cultural hoje como status quo está na sua oitava 
década, ao longo deste tempo onde nunca se viu no tempo histórico ser encurtado, esta 
ideologia resultante do capitalismo tardio, mesmo que se utilize de suas dinâmicas subjetivas 
para a sua conservação, também se apresenta de forma retórica como o conservadorismo de 
23 
 
nossa época ou então se mostra evidente neste mesmo caráter em acontecimentos como o ano 
de 1968, podendo então utilizar o mesmo para analisar o papel que a educação possui e atua 
na sociedade administrada. 
Inicialmente a base ideológica conservadora e sua postura é desenvolvida na fusão 
entre a sociedade escravocrata e a economia mercantil, e como resultante da presença da 
lógica liberal no âmbito econômico, aceita com certas ressalvas a mudança, desde que a 
mesma seja gradual, entende a mesma como natural em sua ordem. 
Como lema, segundo, (MARRCH, 2009, p.78) “Reformar para Conservar”, fazendo 
de sua escola, a sua moral e autoridade através da conciliação, o conservadorismo então 
concilia a ótica deeducação liberal aos privilégios de classe, os tornando então representantes 
deste mesmo status social. 
O diploma e o curso universitário então se tornam legitimadores de sua posição, 
mantendo assim nas mãos das elites o poder intelectual, controle e monopólio do 
conhecimento, logo os outros níveis de ensino ganham o caráter de formação ou caminho para 
efetivação desta meta, disponibilizando a educação primária, função de preparação do 
indivíduo para a ascendência de classe ou então manutenção da qual o mesmo já é inserido. 
Conforme (MARRACH, 2009, pg. 80), a escola então como quase rito de iniciação, 
fornece ao individuo a oportunidade de conhecer o sistema cultural e social da civilização, e 
através da apropriação da politica educacional iluminista, a Indústria Cultural transforma a 
educação democrática no mito da modelagem ou controle das almas, como historiadores é 
fundamental entendermos o significado das mudanças de passagem do rito, ao mito do 
esclarecimento. 
As escolas no séc. XIX tiveram a função de separação “do Joio do trigo”, uma 
diferenciação social entre classes, e através da privatização torna a escola média, a seletora e 
responsável do ingresso dos privilegiados ao ensino superior. A submissão implícita ao aluno 
no lugar de não ser possuidor de sentido faz com que os métodos de decorar a informação 
sejam justificados. Na História através das datas a transformava em mera narrativa dos 
grandes homens, dos grandes feitos e que de forma linear e romântica, formava uma história 
progressista acumulativa. 
Já nas Faculdades do séc. XIX aos que eram designados ao privilégio de se 
reconhecerem como indivíduos a partir da diferenciação dos de mais através da detenção de 
conhecimento, aos quais se traduzira em privilégios econômicos e sociais, o conservadorismo 
através das apostilas, que mais poderiam ser chamadas de manuais, instigavam o decorar e a 
24 
 
crítica de seus alunos, na tentativa de adequar o mesmo aos seus métodos e ideologias 
institucionalizadas. 
Porém é preciso ressaltar que a aparente tentativa de controle é passiva ao 
acontecimento de mudanças, a dicotomia fundamental entre o reformismo “aceitável” para 
conservar as instituições, que permitiam através dos privilégios obtidos, os indivíduos 
enxergassem o método pedagógico como também político. 
Sendo assim, se misturavam mais uma vez a ética do publico e privado, sendo as mais 
altas responsabilidades guiadas pelo intelecto, de formar ora tecnicistas de acordo com o 
sistema, ora de espaços de afirmação para novas ideias, a última sendo resultante em punição. 
Conforme (MARRACH, 2008, pg. 96), os conceitos de moralidade e civilidade 
altamente impostos pelo manual institucional faziam quaisquer ato de indisciplina resultante 
de advertências à expulsões de curso, o Iluminismo como esclarecimento então é apropriado, 
que de proposta a educação democrática se tornou o mito, o molde e seu conteúdo, ou seja, o 
controle de almas, sendo a educação então responsável pelo novo esclarecimento, o controle 
e toda especialização, toda profissionalização implicante de cegueira e ignorância. 
De acordo com (MARRACH, 2008, pg-105), o pensamento burguês, ordeiro e 
sistemático agora impõe a moderação a todos, onde é negado tudo o que lhe é particular a um 
jovem, envergonhando o mesmo sobre suas atitudes, o velho burguês olha a juventude de 
cima, e esta é a chave para o entendimento de seu método pedagógico, o progresso linear e 
gradual agora, aos olhos do burguês era a proclamação do moderado e calmo. 
 O séc. XIX valoriza então a maturidade moderada, criando assim, o espaço necessário 
para que a pedagogia tradicional se desenvolvesse, que tal qual a imagem do pai, o professor 
representava a estabilidade do Estado. 
Para a sustentabilidade da imago do professor e do aluno como submisso precisara 
criar um ambiente onde o mesmo terá de cumprir tarefas e deveres como “provas” de seu 
amadurecimento, sendo o principal deles, manter sua docilidade, até que pudesse gozar e 
conquistar seus direitos. 
A arquitetura do ambiente escolar, tanto quanto salas superlotadas ajudam a reprimir 
instintos de corpos em desenvolvimento que demandam movimento, apaziguando assim os 
alunos, o que traz a falta de sentido e tornando um fardo a tarefa do aprendizado. 
O séc. XIX então olhando sobre ele mesmo acreditara que havia encontrado o caminho 
progressista através de seus avanços tecnológicos e na comunicação. Porém às guerras e 
revoltas populares ocorridas no inicio do séc. XX trouxeram a cabo à lógica burguesa que se 
tornara fiel ao Liberalismo Progressista. 
25 
 
O surgimento da chamada sociedade de controle derivada no pós-guerra por sua vez, 
desemboca no surgimento da sociedade administrada e na Indústria Cultural. O controle 
burocrático e centralizado se torna a forma, que ora convoca o povo a “participação”, ora 
afirma sua hierarquia da legitimação tecnicista e administrativa como coação econômica e 
repressão politica. 
A democratização da informação agora era feita pelos meios de comunicação em 
massa, mas as liberdades individuais acabaram sendo submetidas a ordem burocrática, de 
fronteiras a correspondências, tudo agora é submetido ao estado. Junto a isso, ainda na lógica 
tradicional, a escola legitima a presença e autoridade do Estado, jovens confinados à espaços 
repressores e limitantes agora tem a substituição da violência física para a violência 
controladora subjetiva, se tornando simbólica e perpassando ao controle interno, não mais ao 
externo e consequentemente ocasionando uma grande modificação nos hábitos do dia a dia. 
A civilização do séc. XX era baseada então nas armas, dinheiro, controle social e 
burocracia administrada, de característica dominante de uma ampla gama de técnicas de 
controle social sobre o homem, o que favorece a minoria em detrimento da maioria. 
A tendência à concentração estava presente desde a esfera governamental, passando 
pela comunicação e desafogando na formação da opinião pública, a repetição midiática da 
ideia é o controle social e a possibilidade de técnicas controlou a educação e seu sistema, até a 
ciência. A escola então encontra sua função civilizatória, querendo colaborar na transição da 
violência física, para a violência simbólica e o poder da palavra e da imagem agora operam 
pela chave do controle interno, não mais externo, a linguagem civilizada e a sua consciência. 
 
[...] a sociedade industrial-administrada, em que o mundo do controle, da burocracia, 
das grandes organizações, em que o indivíduo é aniquilado pelas engrenagens, o 
esclarecimento é engolido pelas novas formas de controle social e a cultura clássica 
burguesa é devorada pela Indústria Cultural. (MARRACH, 2008, pg.117). 
 
 A cultura administrada é a cultura de massas, que pela Indústria Cultural encontrou 
pela primeira vez uma atuação mundial. 
Segundo, (MARRACH, 2008, pg.117), durante o séc. XX teve grande efeito na 
educação e na dialética do esclarecimento, produzindo a Indústria cultural da educação, sendo 
o século das técnicas de controle social, planificado, em que poucos controlam muitos e nele 
as massas ganham participação social e politica, demandando novas formas de controle, com 
a educação que agora chega aos médios e ao proletariado, surge o medo do esclarecimento 
das massas. 
26 
 
O Iluminismo é substituído pela educação, controlada por um Estado sobe políticas 
educacionais, a formação clássica anteriormente almejada já não era mais possível. Agora se 
foca na produção de funcionários para a máquina administrativa e operários para a linha de 
montagem da indústria. 
De acordo com (MARRACH, 2008, pg. 118), o Liberalismo Clássico Burguês tem sua 
morte, deixando como herdeiros organizações burocráticas, das técnicas sociais, de controle, 
da sociedade administrada, e esse tem um caráter autoritário, os jovens não nascem em uma 
democracia.Por isso a necessidade de se ensinar valores democráticos aos mesmos, desejando uma 
sociedade com planejamento participativo. Agora a escola que coloca a educação como outro 
âmbito a vida já não bastava para sociedade de massas altamente populosa, criando-se 
partidos e organizações politicas a fim de manejar as massas. Ao individuo da sociedade 
administradas e industriais, de forças sociais e econômicas invisíveis, não resta mais nada 
além do não entendimento. A sociedade enigmática, o esclarecimento complexo, provocando 
crise de valores, autoridade, liberdade, do bom senso, senso comum, do desajuste pessoal e 
social, logo começou a existir a necessidade de uma escola que contribua para a compreensão 
da sociedade e a interpretação dos conflitos individuais. 
Vistos dessa forma, os problemas escolares adquirem uma dimensão humana e 
social profunda. Por isso, por enfrenta-los cotidianamente, o indivíduo moderno 
precisa das ciências humanas para aprofundar e ampliar a consciência, para 
compreender as motivações, suas quimeras, seus enigmas e os enigmas da 
sociedade. (MARRACH, 2008, pg-119.) 
 
Temos então a necessidade de criar uma coesão entre as ciências humanas a fim de um 
melhor entendimento sobre a sociedade contemporânea, uma ampliação da consciência e 
capacidade de tolerância de seus conflitos. Porém a Indústria Cultural da educação fez o 
contrário, como empresa capitalista, rentável, fazendo a educação campo fértil para o 
investimento privado, instituiu a departamentalização e o tecnicismo do ensino, sendo 
possível usarmos o conceito de Indústria Cultural cunhado por Adorno e Horkheimer para 
evidenciar o processo de comércio dos bens culturais. 
Conforme abordado por (MARRACH, 2008, pg. 206.), a educação regida pela lógica 
do lucro, é a Indústria Cultural, simbolismos que se apresentam como na forma erudita, como 
publico produtor de conhecimento e o da indústria, destinado aos que trabalham durante ao 
dia, para que possam consumir este conhecimento durante a noite visando apenas a ascensão 
social e não a produção de conhecimento. 
27 
 
Assim a massificação da educação se faz através de salas de aulas superlotadas, em 
sua maioria noturna e valorizando trabalhos do intelecto de forma tecnicista pelo custo 
irrisório, com bibliotecas precárias assegurando a não possibilidade da produção de 
conhecimento, não só olhando na maior acessibilidade pensamos a Indústria Cultural da 
educação como evidente, mas sim também na produção dos simbolismos sociais. 
 A produção erudita sendo a orientadora da educação média, a mesma é cada vez mais 
consumida por um público heterogêneo, que através de seus manuais adapta esse 
conhecimento de forma ultra didática caracterizando o fim em si mesmo, o consumo. 
A extração do pensamento traduz o conhecimento em fácil compreensão, 
impossibilitando assim qualquer diferenciação ou mudança do status quo como mercadoria de 
consumo, buscando cada vez mais a expansão e o lucro, a Indústria Cultural encontra diversos 
tecnicismos e caminhos para isto. 
Surge para o professor à necessidade de nivelar o conhecimento a ser trabalhado de 
acordo com a média dos alunos, professores subordinados aos detentores do poder ideológico, 
se autocensurando em prol de aplicar o conteúdo despolitizado tecnicista, através de aulas 
expositivas, fechadas ao diálogo e debate, dá o tom e justifica sua existência modeladora e 
assim a Indústria Cultural do ensino rompe com o pensamento crítico. 
O professor contratado por afinidade teórica se torna o professor-trabalhador, que 
empregado em muitas instituições ao mesmo tempo perde o caráter de dedicação exclusiva, 
atribuída agora a classe do ensino universitário, já o aluno por sua vez, devido às demandas 
sociais trazidas pela sociedade administrada, cada vez mais está em busca do consumo e da 
rápida inserção no mercado de trabalho e faz o casamento perfeito entre as posturas de cada 
qual, a cultura do especialista e o organizador técnico, para que a Indústria Cultural se renove 
no discurso próprio de uma administração técnica. 
 Forma então o interesse dos alunos na manutenção do emprego como plano de vida e 
não mais o pensamento crítico, o aluno anteriormente era aventureiro com a obtenção do 
conhecimento, agora o mesmo é moldado para a eterna submissão aos interesses das grandes 
corporações. 
Depois de entendermos como a massificação do ensino se dá no nível universitário, 
podemos então nos debruçar sobre o ensino básico e médio, agora com o prolongamento das 
jornadas escolares, tempo este fundamental para a preparação do aluno para a vida 
assalariada, a escola também preenchia a lacuna do espaço da mão de obra supérflua, 
desqualificada, que agora era absorvida, institui a profissionalização generalizada, com a 
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função de encaminhar com maior rapidez o aluno para o mercado de trabalho e a demanda 
universitária. 
Sendo assim esvazia o discurso da educação, agora o primário e o secundário só se 
ocupam de preparar o índio para o mercado de trabalho, não mais para a cidadania e para o 
vestibular, o que nos leva a entender o porque que a iniciativa privada tem tanta importância 
na preparação dos alunos para as provas de qualificação, o ensino público não se 
responsabiliza pelas mesmas, logo a iniciativa privada se apropria desta função, para obter 
lucro. 
A escola de massas então planificada, com seus uniformes e seu ensino simultâneo é 
igual para todos, prepara para a vida assalariada. O trabalho tão desconexo tal como esta 
educação que começam firmados na obrigatoriedade e disciplina como sobrevivência, o 
conhecimento burocrático pontual, ordeiro e ansioso em cumprir com o currículo, mesmo sem 
sentido controla o tempo e os espaços, demarcando-os. 
De acordo com (MARRACH, 2009, pg. 212-213), o professor não ensina, administra 
as aulas, com o tempo contado, o objetivo é o controle através da reprodução dos exercidos 
sequenciados, previsíveis e econômicos, ensinando para o aluno que tempo é dinheiro. 
 Sendo assim, meramente ideológico, o ensino ocupa a função de educar o aluno para 
o tempo racionalizado e dominado como promessa de evolução imediata, evidenciado na 
aprovação dos alunos ao fim do ano letivo, ao realizar aulas sequenciadas em menos de uma 
hora, sem ordem e interdisciplinaridades entre as mesmas, nem se preocupando em adaptar ao 
ritmo dos alunos e sim com o objetivo de cumprir o currículo, faz com que aluno aprenda que 
a qualidade do trabalho não é o que se valoriza, mas sim a duração do mesmo. 
Desta forma, uma vez que pensamos a educação como espaço de cultura podemos 
evidenciar, que o método preparatório e o discurso universitário desaguam nos inúmeros 
cargos do sistema burocrático, o chamado “mundo do receituário” sendo a adaptação desta 
lógica ao mundo real. 
A adaptação por meio de fórmulas, manuais e receitas, sendo representante da 
dominação, o mesmo se mantém presente em todas as carreiras preparadas pelo sistema 
educacional, informações que poderiam ser produtoras de um pensamento crítico são 
reduzidas a meros esquemas didáticos para facilitar a digestão da informação pelo aluno do 
ensino secundário, informações estas não possuidoras de sentido, cumprindo a função de 
serem decoradas única e simplesmente para o vestibular. 
Segundo (MARRACH, 2009, pg. 216), mesmo com o discurso ilusório de 
humanizadora, a escola agora já ocupa sua função como organizadora burocrática, onde 
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professores mal formados, se tornam engrenagens do maquinário do sistema - o intelecto 
domesticado pelo organizacional. 
Neste contexto se evidencia a escola como instituição de organização burocrática e 
tecnoburocrática, ou seja, sua massificação. 
Esta massificação da cultura escolar, em semi educação, é o avesso do esclarecimento, 
o anti-iluminismo não prepara para maioridade intelectual, autonomia e democracia, mas sim 
o mantém na menoridade intelectual,tornando-o maleável e adaptável ao local de trabalho. 
Em uma sala de aula onde a frente e acima das carteiras dos alunos se encontra o 
quadro e a mesa do professor, o apelo à autoridade do mesmo é legitimada, dado pela sua 
competência e induzindo a obediência a mesma. Nesse sentido, as relações simbólicas se 
tornam forças simbólicas, mistificadas e burocratizadas pelo discurso do ensino escolar. 
A educação então é o adestramento através da reprodução do conhecimento, não 
existindo comunicação de livre compreensão, a escola se transforma no mundo da não 
comunicação, não permite então a inserção de temas como angústias, curiosidades e 
problemas inerentes ao mundo jovem. 
Como dito por (MARRACH, 2009, pg-219), na escola de massas a imaginação é 
abolida. A pedagogia burocrática é o sistema de controle do conhecimento em detrimento do 
enriquecimento intelectual do aluno. A escola burocrática organiza e planeja, subdividida em 
cargos hierárquicos, cada qual com sua especialização, limitando e delimitando o 
conhecimento que transmitido constitui um conjunto de fatos e noções desarticulados e 
desconexos que deverá ser decorado pelo aluno para o exame. 
A autoridade burocrática é exercida por todos os cargos e subcargos da organização 
hierárquica, fornecendo ao aluno apenas o caráter de objeto para ser enquadrado e fabricado 
nesta hierarquia. 
A cultura humanística é esvaziada e massificada, matérias fundamentais para visão de 
mundo, como História e Geografia, tornam-se matérias decorativas, um amontoado de 
narrativas sem conexão e interpretação, são ministrados com o único objetivo, o do rápido 
consumo da informação, para o esquecimento da mesma forma que irá se seguir. 
Sendo o conhecimento agora de curta duração, e os exames, também são o fim em si 
mesmo da pedagogia burocrática, não mais validando o conhecimento adquirido pelo aluno, 
mas sim o acúmulo de informações produzidas pelo mesmo, em função do autoritarismo que 
é submetido. 
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A leitura obrigatória ou como castigo produz o desinteresse e o desgosto do aluno pela 
mesma, trazendo também esse desestímulo a curiosidade, vontade de aprender, ler e conhecer 
novos temas. 
A Dominação sendo exercida por bens-simbólicos a escola impõe a linguagem 
ortodoxa e se torna modelos de forças simbólicas, o aluno se encontra em um ambiente onde 
o poder da força define quem? há quem? e como? pode se falar. 
De acordo com (MARRACH, 2009, pg.223), o aluno atribui poder a linguagem 
dominando em detrimento do silêncio do submisso. 
 As relações de comunicação então se dão na estrutura burocrática de autoridade, 
sendo então a educação ligada a violência simbólica, educação com base em comunicados, 
sem diálogos. 
A língua então é colocada como imutável, elitista e ignora sua presença na boca do 
povo e se afirma de forma autoritária ao vocabulário dos alunos, os donos da linguagem estão 
em paralelo com os donos do poder, pelo modelo ortodoxo imposto, a liberdade linguística é 
negada, e a linguagem é a base da liberdade, meio por onde o homem constrói sua visão de 
mundo, sociedade e de si próprio, sendo aplicada de forma contrária a esta, atribui como 
caráter inerente a submissão ao aluno, tornando-se mais tarde cidadãos dóceis e submissos, 
tendo em mente os rituais da pedagogia burocrática, a escola se torna lugar de angústia. 
Conforme, (MARRACH, 2009, pg. 225), onde se proíbe o diálogo e a comunicação e 
se ensina o individualismo excessivo, competição, o sentimento de inferioridade, submissão, 
medo ao conflito, a insegurança e a dependência, as normas formais, tentam esconder, 
deformam e revelam o (dês)ensino em prol do adestramento. 
Sendo assim, entendida como um mito a escola burocrática é contraditória quanto ao 
uso da linguagem verbal e não verbal, e nessa falsificação deformadora de sentidos, a escola 
se apresenta como mito, colocando a ideologia da educação no centro da vida social, 
declarando a igualdade de ensino entre todos e declarando por meio da meritocracia que a 
ascensão social, como se não houvesse barreiras doutrinatórias e de classe para isso. 
 O mito da educação conserva o fetiche autoritário, que invadiu ideologias, políticas 
educacionais e práticas pedagógicas, o adestramento para submissão, reproduz desigualdades 
sociais e a ideologia dominante, depois de criada a insegurança, a escola burocrática oferece 
modelos a serem seguidos por seus alunos, os quais prontamente sem a produção de sentido 
no processo educacional, às apropriam como sua função de vida. 
Os mesmos ocupam seu papel na burocracia e se tornam assim, meras peças para 
reprodução do sistema. 
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Sendo assim, a submissão é essencial para renovação e domínio da classe dominante, 
sendo a escola burocrática de massas o lar das angústias, onde a mesma não se preocupa com 
o desenvolvimento humano e sim com o profissional, conforma o estudante e o atrai para seus 
símbolos de prestigio: honrarias, diplomas e influência social pela posse do conhecimento. 
Segundo (MARRACH, 2009, pg. 227), para os menos submissos, oferece como ritual 
de punição, sarcasmo e repressões que visam o engajamento moral do aluno. Os jovens saem 
das escolas ansiosos, inseguros e apáticos, a inércia e insegurança são criadas pela educação 
burocrática. 
Angustiado o jovem pede por segurança e, como o modelo que fora apresentado, 
através da reprodução do discurso dominante não o atende e o mesmo continua na busca 
desta garantia, mas sem saber lidar com conflitos, o mesmo segue no contexto fingindo o 
bem-estar, indiferente ao social e político, se prende aos subcargos como sua função única e 
essencialmente burocrática. 
De acordo com (MARRACH, 2009, pg. 227), na sociedade de massas, o homem é 
cada vez mais seu produto, uma fábrica de homens preparados para serem utilizados pelo 
sistema, velho e ultrapassado, destrói a personalidade do jovem, massifica o indivíduo e 
atribui o modo de ser e não pensar que sustenta a tecnoburocracia da sociedade administrada, 
adestrando jovens e conformando homens a viver em uma sociedade autoritária. 
Sentindo e vivendo estas transformações, e se questionando: Mudança social para 
onde? Educação para quem? Esclarecimento para que? Anarquistas e pensadores libertários 
enfrentam os problemas tentando elaborar novas formas educacionais para a mudança, o que 
mostraremos com mais detalhes no próximo capítulo. 
 
3. ANARQUISMO, FILOSOFIA E SUA SAÍDA PEDAGÓGICA 
 
 O anarquismo como posição ideológica contra todo tipo de autoridade e em prol da 
destituição de toda configuração governamental e seus dispositivos de controle, sempre vai 
representar a saída mais racional e coerente para as problemáticas resultantes dos conflitos de 
poder que atravessam todas as organizações sociais experimentadas até hoje. 
Por definição, e evolução histórica esta ideologia sempre se preocupou com a 
liberdade e autonomia de seus indivíduos, desembocando na eterna dialética entre as livres 
associações das vivências, da cultura, das relações e do ser, configurando assim uma nova 
forma de organização social, pedagógica, autônoma, criativa e inventiva, que hoje configura o 
oposto da ideologia vigente. 
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3.1. O Pensamento Anarquista Clássico e sua Filosofia. 
 
 Para muitos o primeiro anarquista, mas certamente o que cunhou o conceito 
ideológico, tal qual conhecemos hoje, Pierre Joseph Proudhon construiu sua crítica na 
observação de que os regimes por ele analisados apenas teriam reproduzido o autoritarismo 
desacerbado. 
Conforme (NETTLAU, 2014. p. 75), o estado burocrático, exército, burguesia 
gananciosa e o conservadorismo rural juntamente as hierarquias totalitárias que nasciam no 
socialismo, denunciando todo o mal da autoridade, estatal, privada, religiosa e socialista. 
 Bakunin mais tarde fará o mesmo em seus escritos, trazendo a emancipação política, 
intelectual e social, consequentemente nasce

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