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SISTEMA EXTRAPIRAMIDAL: OS GÂNGLIOS DA BASE E A SUBSTÂNCIA NEGRA O cérebro (telencéfalo) é constituído por três elementos: (1) córtex cerebral, representando a substância cinzenta periférica na qual se localizam diversos grupamentos neuronais, cada um responsável por uma função cortical superior; (2) substância branca subcortical, na qual passa uma enorme variedade de feixes de fibras longitudinais, transversais e radiais; (3) gânglios da base, grandes núcleos neuronais (substância cinzenta) no interior do cérebro, pertencentes ao sistema extrapiramidal e dispostos aos pares. O tálamo e o hipotálamo constituem o diencéfalo, localizado na região encefálica central, tendo importantes conexões bidirecionais com os neurônios do córtex cerebral e dos gânglios da base. Estes últimos estão localizados lateralmente ao tálamo, separados dele pela cápsula interna (figura 6). Os gânglios da base de importância clínica são o corpo estriado (núcleo caudado + putâmen + globo pálido) e o núcleo subtalâmico. O corpo estriado é separado em dois elementos funcionais: o neoestriado, ou striatum (núcleo caudado + putâmen), filogeneticamente mais evoluído, e o globo pálido (paleoestriado), ou simplesmente pallidum. Anatomicamente (mas não funcionalmente), o putâmen está muito próximo ao globo pálido, formando uma estrutura em forma de lente (núcleo lentiforme). O núcleo subtalâmico é uma pequena massa arredondada localizada abaixo do tálamo. O núcleo amigdaloide, ou amígdala cerebral, embora anatomicamente relacionado à cauda do núcleo caudado, não participa do sistema extrapiramidal, mas sim do sistema límbico. Por outro lado, a substância negra, que é um núcleo neuronal mesencefálico, participa ativamente do sistema extrapiramidal, recebendo e enviando sinais aos núcleos da base (figura 6C). Participam ativamente do sistema extrapiramidal o córtex pré-motor, localizado na área 6 do lobo frontal (figura 4A), assim como o núcleo rubro do mesencéfalo (figura 6C). Também participam os neurônios mesencefálicos da formação reticular e dos colículos superiores da área tectal (envolvidos com a recepção de estímulos visuais), neurônios pontinos dos núcleos vestibulares do VIII par (reguladores do equilíbrio) e neurônios bulbares dos núcleos olivares inferiores (envolvidos com a função cerebelar) ... VISÃO FUNCIONAL O sistema extrapiramidal é responsável pela modulação involuntária e automatismo dos movimentos, bem como pelo tônus muscular, trocando sinais com o córtex piramidal (área 4) e o córtex pré-motor extrapiramidal (área 6), nos quais estão armazenados os programas de atividades motoras coordenadas e sequenciais, aprendidos ao longo da vida, como o ato de dirigir veículos... Para isso, os gânglios da base precisam receber e enviar estímulos para o córtex cerebral. O objetivo final é influenciar os neurônios motores da ponta anterior da medula, tanto o neurônio alfa (segundo neurônio motor), responsável pela contração muscular para executar o movimento, como o neurônio gama, regulador do tônus muscular. Várias vias eferentes comunicam as informações extrapiramidais a estes neurônios, sendo que pelo menos seis delas são bem conhecidas: a. córtico-rubroespinhal (principal); b. córtico-reticuloespinhal; c. pálido-reticuloespinhal; d. tectoespinhal; e. vestibuloespinhal; f. olivoespinhal. Todos esses feixes, menos o rubroespinhal, caminham pelo funículo anterior da medula. Através das mesmas vias eferentes, o sistema extrapiramidal também influi sobre os neurônios dos núcleos motores dos pares cranianos, localizados no tronco encefálico. O núcleo rubro mesencefálico recebe fibras do córtex motor e pré-motor do mesmo lado, enviando axônios para a medula pelo feixe rubroespinhal, caminhando no funículo lateral medular, lado a lado com o feixe piramidal. Como estes feixes cruzam para o lado oposto, dizemos que o sistema extrapiramidal de um hemisfério cerebral controla os movimentos contralaterais, tal como acontece com o sistema piramidal! O feixe pálido-reticular também cruza para o lado oposto... Vale lembrar que o núcleo rubro recebe fibras do cerebelo, órgão que exerce importante influência sobre os movimentos. É o globo pálido externo que envia fibras (cruzadas) para a formação reticular mesencefálica... O núcleo subtalâmico modula a atividade do globo pálido. O neoestriado é o principal gânglio da base, filogeneticamente mais evoluído. Ele apresenta organização somatotópica dos segmentos corporais e possui função modulatória, inibindo de forma indireta a função do córtex motor piramidal e pré-motor. O neoestriado recebe estímulos do córtex pré-motor, enviando sinais para o globo pálido que envia sinais para o tálamo (núcleos ventrolateral e ventral anterior) que, por sua vez, envia sinais de volta ao córtex pré-motor e motor piramidal, fechando o circuito corticoestriado-talamocortical. Os neurônios derivados do neoestriado são GABAérgicos (neurotransmissor = GABA). O neoestriado também recebe neurônios dopaminérgicos (neurotransmissor = dopamina) provenientes da substância negra (feixe nigro-estriatal), que inibem os neurônios GABAérgicos estriatais, enviando de volta axônios para a substância negra (alça de feedback). Interneurônios colinérgicos do próprio neoestriado (neurotransmissor = acetilcolina) ativam seus neurônios GABAérgicos inibitórios. Vejamos dois exemplos de disfunção do sistema extrapiramidal... Na doença de Huntington (protótipo de uma síndrome hipotônico-hipercinética), há uma degeneração geneticamente programada dos neurônios GABAérgicos do corpo estriado (explicando a atrofia bilateral dos gânglios da base), com níveis normais de dopamina (preservação da substância negra). A hipoatividade do neoestriado provoca uma desinibição cortical motora, permitindo a ocorrência de movimentos involuntários descoordenados (coreia, atetose, coreoatetose). Se a lesão for apenas em um dos neoestriados, a coreia será contralateral à lesão... Já na doença de Parkinson (protótipo de uma síndrome hipertônico-hipocinética), a degeneração da substância negra reduz a dopamina estriatal, aumentando a atividade modulatória do estriado, o que provoca bradicinesia (parkinsonismo). Os anticolinérgicos inibem o neoestriado, teoricamente piorando a coreia e melhorando o parkinsonismo. Porém o neurotransmissor de maior influência é a dopamina estriatal: a administração de L-dopa, por inibir o neoestriado, piora a coreia e melhora os sintomas da doença de Parkinson; enquanto o uso de antagonistas dopaminérgicos (ex.: neurolépticos), por ativar o neoestriado, tem efeito contrário, melhorando a coreia e piorando ou desencadeando parkinsonismo. O efeito inibitório do neoestriado sobre o tálamo (e, portanto, sobre o córtex motor e pré-motor) se dá pela inibição do Globo Pálido externo (GPe). Como o GPe inibe o Globo Pálido interno (GPi), o neoestriado acaba ativando este último (por inibir o neurônio inibitório do GPe)! Assim, acaba por liberar o GPi para exercer o seu efeito inibitório sobre o tálamo... Podemos dizer então que o GPi exerce efeito inibitório, enquanto o GPe exerce efeito ativador do córtex motor e pré-motor! Em outras palavras: lesão do GPi = hipercinesia (coreia, atetose); lesão do GPe = parkinsonismo. E o núcleo subtalâmico??? Este núcleo modula a atividade do GPi, ativando-o e, portanto, mantendo seu efeito inibitório sobre o tálamo. Uma lesão do núcleo subtalâmico produz outra síndrome hipercinética, denominada hemibalismo (movimentos súbitos de arremesso do membro superior), contralateral ao núcleo subtalâmico lesado.
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