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1 1 OCEANOGRAFIA PESQUEIRA Unidade 1 – A superfície da Terra Introdução à gênese dos continentes e oceanos Aproximadamente dois terços da superfície da terra encontram-se abaixo dos oceanos. Antes do século XIX, as profundidades dos oceanos eram matéria de pura especulação, e a maioria das pessoas pensava que o fundo dos oceanos era relativamente liso e sem quaisquer aspectos relevantes. Com o passar do tempo, a exploração oceânica melhorou profundamente o nosso conhecimento sobre o fundo dos oceanos e a sua expansão. Sabe-se agora que a maioria dos processos geológicos que ocorrem na Terra está ligada, diretamente ou indiretamente, à dinâmica do assoalho oceânico. O marco de referência para o entendimento da formação dos oceanos e continentes está há aproximadamente 200 milhões de anos, quando havia apenas uma única massa terrestre em nosso planeta chamada Pangéia. A teoria de que os continentes nem sempre estiveram nas suas posições atuais data de muito antes do século vinte. A proposta foi apresentada pela primeira vez em 1596 pelo holandês Abraham Ortelius. Ele sugeriu que as Américas eram afastadas da Europa e África por terremotos e inundações e acrescentou: "os vestígios da ruptura são claros. Basta observar com cuidado as correspondências entre as costas dos três continentes." 2 2 A idéia de Ortelius foi retomada no século XIX. No entanto, só em 1912 a idéia do movimento dos continentes foi seriamente considerada como uma teoria científica designada por Deriva dos Continentes, descrita em dois artigos publicados pelo meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener. Ele postulou que a cerca de 200 milhões de anos havia um supercontinente - Pangeia=Pangea - que começou a fraturar-se. O nome Pangéia vem dos termos gregos pan = todo e gea = terra. Há 180 milhões de anos A massa original de Pangéia tinha apenas começado a aparecer. A princípio os continentes foram se separando nas linhas do Atlântico Norte e Oceano Índico. A América do Norte separou-se da África, bem como da Índia e da Antártida. O mar de Téthys, entre a África e a Ásia fechou-se e os supercontinentes Laurásia (ao norte) e Gondwana (ao sul) ficaram quase que completamente separados. A Índia começou a mover-se em direção ao norte. Há 135 milhões de anos Depois de mais de 45 milhões de anos de flutuação, as massas continentais ainda estavam em movimento. As fendas originais que formavam o Atlântico Norte e o Oceano Índico continuavam se abrindo. O Atlântico norte estava com 1.000 km de largura. Outras fendas originaram o mar de Labrador, separando a Groenlândia da América do Norte. A Índia continuou firmemente seu curso de colisão com a Ásia, distante ainda 3.200 km. Há 65 milhões de anos Nessa época os continentes começaram a tomar a configuração atual. Finalmente a América do Sul separou-se da África. Em Gondwana, apenas Austrália e Antártida ainda estão em processo de afastamento. A Groenlândia separou-se da Europa e a América do Norte ficou completamente afastada da massa de terra da parte Eurasiana. Posições atuais O Atlântico agora é um oceano comprido, que vai desde o Ártico ao Antártico. As Américas juntaram-se e a Austrália separou-se da Antártida, movendo-se ainda mais para o norte. Sua colisão com a Ásia, combinada com o movimento contínuo deram 3 3 origem aos Himalaias. Todos os continentes que antes constituíam a grande Pangéia foram separados por grandes oceanos. Uma comparação de áreas mostra o quanto a Índia tem sido submersa por deslizamentos sob a costa da Ásia. Alexander Du Toit, professor de geologia na Universidade de Joanesburgo e um dos defensores das idéias de Wegener, propôs que Pangeia primeiramente se dividiu em dois grandes continentes: Laurásia no hemisfério norte e Gondwana no hemisfério sul. Laurásia e Gondwana continuaram então a sofrer sucessivas fraturas ao longo dos tempos, dando origem aos vários continentes atuais. A teoria de Wegener foi apoiada em parte pelos cientistas da época, pois esta hipótese já havia sido utilizada por Abraham Ortelius três séculos antes. Wegener se baseava nas ocorrências de estruturas geológicas pouco comuns e pela existência dos fósseis de plantas e animais encontrados na América do Sul e África, separados atualmente pelo Oceano Atlântico. Deduziu que era fisicamente impossível para a maioria daqueles organismos ter nadado ou ter sido transportado através do vasto oceano. Para ele, a presença de espécies fósseis idênticas ao longo das costas da África e América do Sul era a evidência que faltava para demonstrar que os dois continentes estiveram ligados em algum tempo passado. Contudo, a teoria da Deriva Continental foi uma grande novidade para a comunidade científica, fazendo surgir uma nova maneira de ver a evolução da Terra. No entanto, apesar das evidências, uma fraqueza fatal na teoria de Wegener era o fato de não poder responder satisfatoriamente à pergunta mais importante levantada pelos seus críticos: 4 4 Que tipo de forças podia ser tão forte para mover massas de rochas tão grandes ao longo de enormes distâncias? Wegener sugeriu que os continentes se separavam através do fundo do oceano, mas Harold Jeffreys, um geofísico inglês de notável destaque, contra-argumentou que era fisicamente impossível para uma massa de rocha tão grande separar-se através do fundo oceânico sem se fragmentar na totalidade. Entretanto, após a morte de Wegener (1930) surgiram novas evidências a partir da exploração dos fundos oceânicos, além de outros estudos geológicos e geofísicos, que reacenderam o interesse pela teoria de Wegener, conduzindo finalmente ao desenvolvimento da teoria da Tectônica de Placas. A Tectônica de Placas provou ser tão importante para as ciências de terra como a descoberta da estrutura do átomo foi para a Física e Química, assim como a Teoria da Evolução foi para as Ciências da Vida. Embora atualmente a teoria da tectônica de placas seja aceita, existem várias vertentes da teoria que continuam a ser debatidas. 5 5 Em 1947, os sismologistas do navio de pesquisa Atlantis (EUA) descobriram que a camada de sedimento no fundo do oceano Atlântico era muito mais fina do que pensavam inicialmente. Os cientistas acreditavam que os oceanos existiam há pelo menos 4 bilhões de anos. Desta forma, a camada de sedimento deveria de ser muito espessa. Navio Atlantis e o submersível Alvin, do Woods Hole Oceanographic Institute Então por que havia tão pouca acumulação de sedimento e de restos de fragmentos sedimentares no fundo do oceano? 6 6 As respostas a esta e outras perguntas que surgiram após uma exploração mais pormenorizada e avançada provariam ser vital para o surgimento do conceito de tectônica de placas. Na década de 50, usando instrumentos de medida do magnetismo (magnetômetros), pesquisadores começaram a reconhecer variações magnéticas impares através do fundo dos oceanos. Esta descoberta, embora inesperada, não foi inteiramente surpreendente porque se sabia que o basalto (uma rocha vulcânica rica em ferro e que faz parte do fundo dos oceanos) contêm um mineral fortemente magnético (magnetite), que pode localmente provocar a distorção das leituras da bússola. Sabendo que a presença da magnetite oferece ao basalto propriedades magnéticas significativas, estas variações magnéticas forneceram novos meios para o estudo dos fundos dos oceanos profundos. 7 7 Pesquisas indicam que os continentes atuais podem ser ajustados uns aos outros com a aproximação das margens das plataformas continentais, a 1.800m de profundidade. O campo gravitacionalda Terra forçou os elementos mais leves e voláteis a deslocarem-se para fora, formando uma sólida crosta na superfície. A maior proporção do material acrescentado à crosta foi rocha basáltica vulcânica, oriunda do derretimento parcial das camadas inferiores. Dessa forma, a crosta que está por baixo da maioria das massas de água na Terra é basicamente constituída por esse material. Os indícios mais antigos de uma atmosfera e de uma hidrosfera estão em sedimentos depositados como resíduos da erosão de montanhas existentes a 3,3 milhões de anos. Naquele tempo, a atmosfera era formada por vapores semelhantes aos que atualmente saem dos vulcões e de fontes termais. Esta atmosfera primitiva e os oceanos podem ter causado erosões na crosta terrestre e resultando na geração de amplas camadas de sedimentos de novas composições químicas. Em continuação a esses processos, os oceanos tornaram-se mais profundos e a convecção da crosta produziu cadeias de montanhas que, por sua vez, sofreram os efeitos das erosões e deram origem a novas rochas sedimentares. Modelo do relevo do fundo oceânico ao longo de uma cordilheira meso- oceânica (vermelho acastanhado). O azul corresponde às regiões mais baixas (vales), enquanto, do verde passando pelo amarelo até ao castanho-avermelhado,corresponde às regiões elevadas (montanhas). Durante as décadas de 50 e 60 foram sendo traçados cada vez mais mapas das anomalias magnéticas dos fundos oceânicos. Desta forma, ficou provado que as variações magnéticas não eram aleatórias, mas obedeciam a padrões determinados. Ao serem traçados sobre grandes regiões do fundo oceânico, os padrões magnéticos apresentaram um padrão do tipo “zebra”, indicando a formação de bandas de anomalias magnéticas. Assim, as bandas alternadas de diferente polaridade magnética ficavam determinadas paralelas, de um e do outro lado da cordilheira meso-oceânica: uma faixa com polaridade normal e a faixa adjacente com polaridade invertida. O padrão total, definido por estas faixas alternadas de rocha magnetizada com polarização normal e inversa, tornou-se conhecido como o “listado” magnético. Sua descoberta chamou atenção para outras perguntas: Como se forma o padrão magnético do “listado”? Por que as faixas simétricas ocorrem em torno das cordilheiras ou dorsais meso-oceânicas? Estas perguntas não poderiam ser respondidas sem se saber o significado destas dorsais. Em 1961, os cientistas começaram a teorizar sobre a estrutura das zonas das dorsais da cordilheira meso-oceânica onde o fundo oceânico era rasgado longitudinalmente ao longo da crista. O magma novo, proveniente de grandes profundidades da terra, subia facilmente ao longo destas zonas de fraqueza e era expelido ao longo da cordilheira, criando uma nova crosta oceânica. Este processo, atuando por milhões de anos construiu o sistema de mais de 60.000 quilômetros ao longo das cordilheiras ou dorsais meso-oceânicas. Esta hipótese era suportada por diversas evidências (1) as formações junto à cordilheira são muito novas, e tornam-se progressivamente mais velhas na medida em que vão se afastando; (2) a rocha mais nova junto à cordilheira tem sempre uma polaridade (normal) atual; e (3) as “listas” das rochas paralelas e simétricas à cordilheira se alternam na polaridade magnética (normal-invertida-normal, etc.), sugerindo que o campo magnético da terra se inverteu muitas vezes. Outra evidência da expansão do fundo oceânico veio de uma fonte inesperada: a exploração do petróleo ao longo das plataformas continentais. Quando as idades das amostras foram determinadas por métodos de datação paleontológica e isotópica (datação radiométrica), surgiu a evidência que faltava para provar a hipótese da expansão dos fundos oceânicos. Uma consequência profunda da expansão dos fundos oceânicos seria que a nova crosta oceânica, sendo continuamente criada ao longo das cordilheiras oceânicas, implicava um grande aumento no tamanho da Terra desde a sua formação. Como é sabido, a Terra mudou pouco no tamanho desde sua formação há 4,6 bilhões de anos, levantando uma pergunta chave: Como pode a nova crosta oceânica ser adicionada, continuamente ao longo das cordilheiras oceânicas, sem aumentar o tamanho da Terra? Esta pergunta intrigou particularmente cientistas Harry H. Hess e Robert S. Dietz. O primeiro formulou o raciocínio seguinte: Se a crosta oceânica se expandia ao longo das cordilheiras oceânicas, ela tinha de ser "consumida" em outros lugares da Terra. Deste modo, Hess sugeriu que uma nova crosta oceânica espalhou-se continuamente, afastada das cordilheiras, seguindo um movimento de transporte do tipo "correia". Desta forma, milhões de anos mais tarde, esta crosta oceânica desceria até às fossas oceânicas, onde seria "consumida". De acordo com pesquisador, enquanto o Oceano Atlântico se expandia o Oceano Pacífico se contraia. Assim, as idéias de Hess davam uma explicação clara porque a Terra não aumentava de tamanho. O vulcanismo Durante o século XX, os cientistas chegaram à conclusão que os abalos sísmicos tendem a se concentrar em determinadas áreas da Terra, ao longo das fossas e das cordilheiras oceânicas. Os sismologistas começaram a identificar diversas zonas proeminentes dos tremores. Estas zonas tornaram- se mais tarde conhecidas como zonas de Wadati-Benioff, ou simplesmente zonas de Benioff . Os dados obtidos permitiram que os cientistas traçassem com precisão as zonas de concentração dos abalos sísmicos de todo o planeta. http://domingos.home.sapo.pt/sismos_1.html Existem quatro tipos de limites de placa tectônicas: · Limites divergentes - a nova crosta é gerada enquanto que as placas são "empurradas", afastando-se umas das outras; · Limites convergentes - a crosta é “consumida” enquanto uma placa "mergulha" sob outra; · Limites transformantes - as placas deslizam horizontalmente uma em relação à outra. Não há crosta sendo “produzida” nem sendo “consumida”; · Zonas dos limites entre placas - as largas bandas em que os limites entre placas não estão bem definidos e os efeitos da interação das placas não são claros. Os limites divergentes ocorrem ao longo das placas que estão em movimento de separação (afastamento; divergente) e a nova crosta é criada pelo magma que se eleva do manto. A imagem corresponde a duas "correias" gigantes, semelhantes a tapetes rolantes enfrentando-se, mas movendo-se lentamente, em sentidos opostos “transportando” a crosta oceânica recentemente formada a partir da cordilheira oceânica. Talvez os limites divergentes melhor conhecidos sejam os da cordilheira oceânica Meso-Atlântica. Esta gigantesca montanha submersa estende-se desde o Oceano Ártico até ao extremo sul da África. A velocidade de expansão (afastamento) das placas ao longo desta cordilheira oceânica é de aproximadamente 2,5 cm/ano, ou de 25 quilômetros em cada milhão de anos. Esta velocidade de expansão pode parecer lenta para os padrões humanos, mas porque este processo teve a sua origem há cerca de 200 milhões de anos e resultou num afastamento das placas da ordem dos milhares de quilômetros. A expansão do fundo oceânico ao longo dos 200 milhões de anos passados fez com que o Oceano Atlântico crescesse a partir de uma minúscula entrada de água entre os continentes da Europa, África e das Américas, dando origem ao vasto oceano que hoje existe. A Islândia é um país vulcânico que está sobre a dorsal Meso-Atlântica, oferecendo aos cientistas um laboratório natural para estudarem em terra os processos que ocorrem ao longo das partes submersas de uma cordilheira meso-oceânica. A Islândia estáexpandindo-se entre as placas Norte-Americana e Euro- Asiática, considerando-se que a América do Norte está em movimento para Oeste relativamente à Euro-Ásia. Já foi anteriormente referido que o tamanho da Terra não mudou significativamente durante os últimos 600 milhões de anos, e muito provavelmente logo após sua formação há 4,6 bilhões de anos. O tamanho da Terra, praticamente constante desde a sua formação, indica que a crosta terrestre tem de ser “destruída” de acordo com uma velocidade mais ou menos idêntica à que está sendo formada. Tal destruição (reciclagem) da crosta ocorre ao longo dos limites convergentes das placas que se movem umas contra as outras. O fenômeno de subducção significa que uma placa afunda sob a outra. Dessa forma, a região onde uma placa se desloca para baixo de outra é chamada “zona de subducção”. O tipo de convergência, chamada por alguns de uma "colisão muito lenta " que ocorre entre placas, depende do tipo de litosfera envolvido. A convergência pode ocorrer entre uma placa oceânica e uma continental, entre duas placas oceânicas, ou entre duas placas continentais. A zona entre duas placas que deslizam horizontalmente, uma em relação à outra, é chamada um limite de falha transformante, ou simplesmente um limite transformante. O conceito de falhas transformantes foi proposto pelo geofísico canadense J. Tuzo Wilson, tendo determinado que estas falhas ou grandes zonas de fratura ligam dois centros de expansão, que são por sua vez limites divergentes de placas ou menos frequentemente, centros de “destruição”. São as chamadas fossas ou limites convergentes de placas, que são em sua maioria encontradas no fundo oceânico. Em geral, estas falhas deslocam as dorsais ativas, que estão em expansão, originando margens da placa em "zig-zag". Estes são os principais geradores dos tremores de terra de baixa profundidade, também designados sismos rasos. Algumas falhas transformantes ocorrem nos continentes. Por exemplo, a zona de falha de Santo André (San Andreas) na Califórnia e a falha Alpina na Nova Zelândia. http://domingos.home.sapo.pt/estruterra_4.html Atualmente é possível medir com precisão a velocidade de expansão e de subducção das placas. Mas, como é que os cientistas podem saber a velocidade dos movimentos das placas ao longo do tempo geológico? Os oceanos guardam uma das chaves deste enigma; o listado magnético dos fundos oceânicos grava as inversões do campo magnético terrestre tal como já foi referido anteriormente. Os cientistas, sabendo da duração aproximada de uma inversão, podem calcular a velocidade média do movimento da placa durante uma dada extensão de tempo.
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