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A INFLUENCIA SOBRE AS ESFERAS DE PODER E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES DAS MULHERES:

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3- A INFLUENCIA SOBRE AS ESFERAS DE PODER E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES DAS MULHERES:
	
Quando se trata dos direitos das mulheres, fica evidente as estratégias de pressão exercida, tanto pelos movimentos de identidade feminista como as igrejas cristãs, sobre os órgão e entes governamentais de poder a fim de efetivação de seus próprios objetivos. Isso acontece nitidamente quando se trata do direito ao aborto, haja vista a lacuna atual em virtude das novas demandas não abarcadas pela legislação.
Diante da inercia do legislativo sobre a matéria, se busca cada vez mais a atuação do judiciário, analisando e legalizando os casos concretos que envolvem essas demandas. Ocorre que, hoje em dia o judiciário caminha ruma a descriminalização do aborto, que é um dos objetivos das identidades feministas. 
As lutas por esses direitos demonstram que a sociedade está mudando, bem como as identidades das mulheres, isso é fruto de muita luta e várias conquistas já se efetivaram, mas ainda existem muitos direitos a serem alcançados. 
3.1- Estratégias de lobby do Movimento de Identidade Feminista e das Igrejas Cristãs:
O Brasil é um país laico, isso significa que não adota nenhuma religião oficial em detrimento das outras, sendo também democrático, no qual as pessoas são tratadas como sujeitos de direitos iguais, desta forma vem expresso na Constituição Federal de 1988, artigo 5° que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”.
No inciso IV do mesmo diploma legal, prevê que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”, isso demonstra que apesar do país não ser confessional, garante a liberdade aos cidadãos de se manifestarem livremente, conforme aquilo que creem e da forma que melhor lhe aprouverem.
Ocorre que, mesmo com essa previsão legal de não influência de determinados grupos, órgãos, instituições e movimento sociais nas decisões do Estado, esses entes ainda exercem pressão sobre as esferas de poderes estatais para que sejam implantados os seus próprios interesses, na forma de normas legais, ou seja, impostas a todos, sem ao menos respeitar as opiniões e escolhas das demais pessoas. Isso fica claramente visível quando se trata do direito à vida do feto e o aborto, sendo que tanto as instituições religiosas, em especial a cristã, em virtude da grande quantidade de adeptos, quanto os movimentos de identidade feminista, têm esse tipo de atuação.
Com relação aos Cristãos, mais fervorosamente os católicos e os evangélicos, esses partilham do mesmo pensamento de que a vida do feto é um bem absoluto, que deve ser protegido em toda e qualquer hipótese. Conforme Caitano (2018), a igreja católica considera ainda atualmente a prática do aborto um assassinato, sendo totalmente contra em todos os seus aspectos. 
As igrejas católicas, por meio da bíblia, manifestos papais e do catecismo, desenvolvem normas e diretrizes que norteiam o pensamento e as atitudes de um cristão diante dessas questões, assim baseado no quinto mandamento da lei de Deus, “não matarás”, o Catecismo disciplina no sentido de que: 
2270. A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida.
2271. A Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral.
2272. A colaboração formal num aborto constitui falta grave. A Igreja pune com a pena canónica da excomunhão este delito contra a vida humana. «Quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito («effectu secuto») incorre em excomunhão latae sententiae, isto é, «pelo facto mesmo de se cometer o delito e nas condições previstas pelo Direito. A Igreja não pretende, deste modo, restringir o campo da misericórdia. Simplesmente, manifesta a gravidade do crime cometido, o prejuízo irreparável causado ao inocente que foi morto, aos seus pais e a toda a sociedade. (CATECISMO, ANO,P.)
Desta forma, a igreja não só prevê que a vida do feto deve ser assegurada desde a concepção, mais também a punição para aqueles que por ventura venham a praticarem tal ato, os quais são passiveis de excomunhão da igreja, ou seja, a perda de todos os direitos de atuação católica. 
Mais adiante, esse mesmo diploma católico disciplina como deve ser a atuação do Estado frente a orientação de crescimento populacional, que de certa forma implica nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, inclusive o aborto, determinando que de nenhuma forma deve este ente atuar com imposições autoritárias e obrigatórias: 
2372. O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante uma informação objectiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos. Neste domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral. (CATECISMO, ANO, p. )
Assim, a forma como os cristãos se posicionam para atingir os próprios objetivos demonstra que a vida do feto deve ser garantida e o abortamento reprimido, impondo como sendo um dever que vai além das regras religiosas, haja vista serem também morais, tentando impor essa moralidade como universal e natural (RUIBAL, 2014), estipulando limites até mesmo quanto as práticas do Estado, uma vez que prevalece o entendimento de que é de responsabilidade, primeiramente, dos genitores e só depois deste ente, o que evidencia a tentativa de influência ou lobby, sobre o poder público. 
A influencias dos valores evangélicos se manifestam ainda mais nitidamente, haja vista a grande participação destes nas bancadas da Assembleia, Congresso Nacional e Câmaras (CAITANO, 2018), o que torna os valores religiosos impostos pelas esferas de poder a população, e neste caso prevalece assim os interesses de um grupo especifico, que pode não ser o de toda uma coletividade. 
O movimento de identidade feminista, como anteriormente já explanado, desmascarava uma sociedade conservadora, a qual inviabilizava os direitos fundamentais das mulheres, lutando assim pelo respeito e ampliação desses direitos, inclusive os sexuais, reprodutivos e ao aborto de forma legalizada, sendo colocados esses como tema central na disputa pela secularização do Estado (RUIBAL,2014). 
Mas, apesar da grande maioria das feministas buscarem a efetivação desses direitos, quando se trata de aborto, as opiniões divergentes dentro do próprio movimento. Inicialmente, as feministas colocaram o direito ao aborto como um problema de saúde pública e justiça social e outras como um direito da mulher a autonomia sobre o próprio corpo, nesse contexto explica Ruibal:
O primeiro tipo de argumento, apesar de ser fundamental na luta pelo direito ao aborto na América Latina, não coloca os direitos das mulheres no centro da questão do aborto, nem consegue capturar cabalmente a demanda feminista pela liberdade reprodutiva. Por outro lado, um discurso radical sobre a autonomia da mulher para dispor de seu corpo pode ser efetivo para mobilizar as integrantes do movimento. Não obstante, nas sociedades altamente influenciadas pela doutrina e pelo poder das instituições religiosas, e nas que tem logrado se enraizar o argumento acerca do direito à vida desde a concepção, esse tipo de discurso pode não ser adequado para sensibilizar a opinião pública, para construir alianças com atores externosao movimento, ou para demandar mudanças as autoridades estatais. (RUIBAL, 2014, p. 129 a 130)
	
Sendo assim, hoje algumas feministas tentam amenizar o aborto, tratando como uma simples antecipação voluntária do parto ou buscando aprovação da legalização gradativa de algumas modalidades de abortamento ou até mesmo por meio da descriminalização desta prática. Mas, a estratégia que mais vem utilizando é a busca por amparo legais e judiciais, através dos tribunais nacionais, exercendo influência sobre esses entes através de marchas, mobilizações nas mídias, protestos e até mesmo com propostas de alterações de leis. 
Um dos momentos em que foi grande a estratégia de lobby, se deu com a redemocratização do estado através da elaboração da Constituição Federal de 1988, neste período houve interferência tanto dos movimentos das igrejas cristãs, por meio da atuação da CNBB em conjunto com os políticos conservadores, objetivando a não aprovação de normas contrarias a moral cristã, inclusive a de não aprovação de nenhuma circunstância permissiva de abortamento (FREITAS, PARANHOS, LEÃO, COELHO, 2015). Já os movimentos de identidade feministas, como explicita Filgueira:
O “Lobby do Batom” foi o conjunto de sucessivas lutas femininas que resultou na participação feminina na Assembleia Constituinte, atuando como grupo de pressão. Consonante a isso, a participação feminina no processo constituinte garantiu que mais de 80% das reivindicações fossem incorporadas ao texto constitucional (FILGUEIRA, 2018, p. 38)
 
Mas, apesar de a pressão exercida por esses grupos, houve um equilibrou no texto legal, não adentrando no mérito do Aborto, apenas disciplinando no sentido da proteção à vida. Isso foi só o início das estratégias de pressão exercido por esses dois movimentos sociais, ocorre que nas campanhas eleitorais, esses institutos sempre moldam as suas práticas e estratégias objetivando a efetivação dos próprios objetivos através da representatividade nos órgãos de poder do país, sejam eles os conservadores ou liberais. 
Essas estratégias de pressão, em especial contra o legislativo, se faz evidente quando analisado o conteúdo de diversos projetos de lei, como por exemplo a aprovação do “Estatuto do Nascituro”1, a PL n°478/2007 que tem o objetivo de tornar crime hediondo; O projeto de Lei 1.763/072, que prevê a assistência financeira e psicológica as mulheres gestantes decorrente de violência sexual, para que possam dar continuidade na gestação, bem como disciplinado a possibilidade de identificação do genitor e posterior execução de alimentos e nos casos de desconhecimento, do amparo financeiro pelo estado até que esta criança alcance a maioridade (FILGUEIRA, 2018); a Reforma do Código Penal com a PLS 236/20123, a qual traz outras hipóteses de permissibilidade de abortamento; entre outros. 
	Ocorre, que o Legislativo ainda se mantendo inerte diante dessa temática e muitas vezes isso evidencia o conservadorismo que o domina, neste sentido disciplina Rafaella Porfírio:
No âmbito do Estado são apontados os principais elementos que corroboram a criminalização e o entrave nos debates pela reversão da questão, de modo que no Poder Legislativo tem destaque a influência da Igreja Católica e das evangélicas nos partidos políticos, ou sendo eles próprios formados por representantes delas, bem como a presença de um forte conservadorismo disposto nas demais bancadas, por vezes embasado a partir de argumentos religiosos, mas que não se encerra neles. (PORFÍRIO, 2016, p. 17 a 18)
É nítida a real necessidade de uma alteração legal e imparcial na legislação brasileira, com a ampliação das normas sobre o aborto que abarquem as situações existente. Inevitavelmente, a sociedade não pode parar e as demandas exigem cada vez mais uma decisão legal e equivalente a cada caso, mas com o legislativo inerte, resta apenas recorrer ao judiciário, o qual por diversas vezes tenta resolver as demandas, porém acabam causando uma enorme insegurança jurídica, em decorrência de decisões conflitantes e seletivas. 
3.2- A atuação do Judiciário diante das demandas sobre o aborto:
	Não é de hoje que a sociedade recorre ao poder judiciário como forma de resolução de conflitos em que a lei é omissa ou insuficiente, nesse processo figuram dois institutos, chamados judicialização e ativismo jurídico, que é descrita por Luiz Feltrin, vejamos: 
Ao contrário da judicialização, o ativismo judicial não está previsto na constituição federal ou em alguma ação que pode ser proposta por representantes da população, mas pode-se dizer que é uma conduta única e exclusiva do julgador, que atuando de maneira expansiva, decide julgar tal matéria de acordo com suas convicções do que acredita que seria justo e benéfico para a sociedade. (FELTRIN, 2017, p. 27).
Esses termos se tornaram bastantes usados pela doutrina, sendo abordado por Luiz Roberto Barroso, Manoel Gonçalves de Ferreira Filho, entre outros (FELTRIN, 2017), porém independente da nomenclatura usada para descrever a atuação do poder judiciário frente as demandas sociais, é mister destacar que a real intenção dessas pessoas, consistem em buscar um amparo para as suas condutas diante da legalidade.
A jurisdicionalização de questões políticas confirma a demora e a ineficácia de ações deste cunho dada a necessidade de solução célere, pois tratam de episódios que envolvem valores fundamentais como a vida humana. Esta tendência comprova a falha do Estado em efetivar os direitos sociais, estando muito aquém da reserva do possível. (MORAIS, 2008, p. 54)
No posicionamento de Morais fica evidente os principais pontos constantes nos recorrentes casos interpostos no judiciário, que são questões políticas sobre valores morais em que o Estado não dá o devido tratamento. Na prática, o Aborto vem sendo um dos assuntos mais tratados nos tribunais, em virtude de a lei não ter grande abrangência e a realidade social exigir amparo legal em diversas outras hipóteses que até então são criminalizadas pelo código penal brasileiro.
 Nos casos de aborto tem-se que a intenção da maioria das mulheres é de realizar o abortamento de forma segura e legal, a fim de evitar uma possível punição criminal, para isso buscam a tutela dos tribunais visando a procedência e o respeito aos direitos, os quis conflitam entre o direito à vida, a dignidade humana e a saúde feminina, buscando-se ainda a celeridade no tramite, tendo em vista a urgência na apreciação da demanda, a qual se for morosa pode perder o objeto da ação com o nascimento da criança. 
Neste sentido é mister destacar as atuações judiciais, realizadas em 2012 na ADPF 54 e atualmente na ADPF 442, ambas com o objetivo de ensejar em permissibilidade legal da antecipação do parto. A arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental- ADPF, consiste em interpretar normas legais baseadas na constituição federal de 1988, tendo base legal no artigo 102, §1, o qual disciplina que “a arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei”.
Na ADPF 54, impetrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde-CNTS, buscava-se o julgamento e decretação de inconstitucionalidade na interpretação de que a antecipação do parto nos casos de fetos anencéfalos trata-se de conduta reprimida criminalmente nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do código penal, sendo qualificada como prática abortiva. A presente arguição teve como Relator o ministro Marcos Aurélio, o qual expressou em seu voto os direitos em conflito, vejamos: 
Inescapável é o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os interesses de parte da sociedade que deseja proteger todos os que a integram sejam os que nasceram, sejam os que estejam para nascer independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. O tema envolve a dignidade humana, o usufruto da vida, a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais, especificamente,os direitos sexuais e reprodutivos de milhares de mulheres. No caso, não há colisão real entre direitos fundamentais, apenas conflito aparente.
(ADPF 54, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00011). (http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2226954)
	Durante o Voto do ministro Marcos Aurélio, ficou evidente o seu posicionamento destacou que a intenção não era a decretação da inconstitucionalidade dos artigos do código penal, apenas da interpretação especifica dado aos fetos anencéfalos, posicionou-se no entendimento de que a antecipação do parto nesses casos não se trata de aborto seletivo, apenas da antecipação terapêutica do parto tendo em vista a inviabilidade da vida extrauterina. 
Ao final, foi declarada a inconstitucionalidade da interpretação e prevaleceu o entendimento de que essa prática terapêutica configura hipótese de permissibilidade legal prevista no artigo 128, incisos I e II do CP, passiveis de exclusão de culpabilidade, sendo assim por maioria foi declarada a procedência da ação. 
	Já a ADPF 442, impetrada pelo Partido Socialismo e Liberdade (P-Sol), tem como objetivo a declaração de não recepção parcial dos artigos 124 e 126 do Código penal, pela constituição Federal de 1988, tornando possível que mulheres realizem a interrupção voluntaria da gestação até a 12 semana, pautadas na autonomia da vontade, sem a necessidade de provação do judiciário afim de análise e permissibilidade nos casos concretos, sendo os profissionais da saúde portadores do direito de realizar o procedimento, alegando a ofensa a preceitos fundamentais, tais como a dignidade da pessoa humana, direito a saúde da mulher, não descriminação, entre outros. (https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5144865)
	Essa Arguição tem como ministra Relatora Rosa Weber baseou-se nas decisões realizadas pelo STF anteriormente, sendo a ADPF 54, sobre o aborto de fetos anencéfalos, ADI 3510, em que tornou possível as pesquisas com células tronco-embrionárias e o HC 124.306, que determinou a procedência do habeas corpus que analisou a ausência da necessidade de prisão preventiva dos autores e coautores do crime de aborto, bem como a antecipação do parto no primeiro trimestre da gestação, que segue abaixo: 
Ementa: Direito processual penal. Habeas corpus. Prisão preventiva. Ausência dos requisitos para sua decretação. inconstitucionalidade da incidência do tipo penal do aborto no caso de interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre. Ordem concedida de ofício. 1. O habeas corpus não é cabível na hipótese. Todavia, é o caso de concessão da ordem de ofício, para o fim de desconstituir a prisão preventiva, com base em duas ordens de fundamentos. 2. Em primeiro lugar, não estão presentes os requisitos que legitimam a prisão cautelar, a saber: risco para a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal (CPP, art. 312) [....]. (HC 124306, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 09/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017) (http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000259905&base=baseAcordaos)
	Quando instados a se manifestarem, diversos órgão de poder estatal defenderam que a apreciação da matéria é de competência do Poder Legislativo e não do Judiciário, tendo e vista ser o órgão responsável pela decisão de matérias desta natureza, sendo posteriormente convocado uma audiência pública, a qual aconteceu nos dias 3 e 6 de agosto de 2018, na qual foram ouvidos sessenta especialistas na área, nacionais e internacionais, atuantes em diversas áreas, seja da saúde, direito, religioso, feminista, entre outros. 
É importante frisar a frase da ministra Rosa Weber que marcou o encerramento da audiência pública, a qual afirmou no sentido de que “o próximo tempo é de reflexão, e esse tempo de reflexão se faz necessário para o amadurecimento da causa, e precederá necessariamente o momento do julgamento” (http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=386005)
	Apesar de atualmente o STF atuar de forma flexível as demandas sociais, isso não é uma regra geral, tendo em vista que os demais tribunais ainda se mantem conservadores, principalmente quando se trata de ações no intuito de ser permitir a antecipação do parto em que não esteja previsto em lei, sendo que nestes casos o tratamento e decisões demonstram o desamparo judicial a essas mulheres (MORAIS,2008). 
	Com a ADPF 442, surge a esperança da descriminalização do aborto, caso acorra a aprovação, tendo em vista a revogação dos artigos por estarem em discordância com a atual constituição cidadã. Não é de Hoje que se busca essa descriminalização, já que os meios adotados para combater a pratica do aborto se mostra ineficiente, em virtude de a possibilidade de punição não diminuir os casos de abortamento no país, muito pelo contrário são os maiores causadores de problemas de saúde e mortalidade feminina em virtude da clandestinidade da ação e dos meios utilizados. 
	Assim, diante da atual situação das políticas públicas voltadas as mulheres, da legislação brasileira e hipótese de descriminalização do aborto, afirmam Dannemann e Filho (2018, p 110), que a medida a ser tomada a curto prazo é o empoderamento das mulheres através do fortalecimento da autonomia e decisão, a humanização dos profissionais de saúde e a melhoria e efetivação desta área, já a longo prazo consiste na alteração da legislação atual tornando possível a descriminalização do abortamento.
3.3- A Construção de Novas Identidades das Mulheres:
Todas as exigências das mulheres, sejam por direitos sexuais, reprodutivos, autonomia da vontade, igualdade, liberdade, crença, assim por diante, refletem as significativas e cruciais mudanças, as quais demonstram a desconstrução de antigos preceitos, que posteriormente eram impostos e seguidos por elas cegamente. A realidade atual é de luta por transformações sociais, tendo em vista a ocorrência de mudanças indenitárias, ou seja, no âmbito interno das próprias convicções. Assim, pode-se entender que as mudanças sócias estão intimamente ligadas as mudanças de identidade que as mulheres veem construindo ao longo dos anos. 
	Essas mudanças na identidade feminina, refletem em todos os campos, inclusive na religião, isso mostra que até mesmo dentro dos setores mais tradicionais as mulheres estão reconhecendo os seus valores e buscando mudanças, como menciona Cátia Rodrigues (2003):
Há uma “destradicionalização” dos valores e costumes, com uma dissolução das tradições, inclusive religiosas. Isso se dá através de um processo de reflexibilidade, ou seja, de um processo de reflexão crítica e pessoal radical, que põe à prova os conceitos e valores de acordo com sua validade social. Evidentemente, tal processo não significa a destruição das tradições e instituições, mas uma desconstrução e reformulação dos valores, com a produção de uma intimidade mais rica e consciente, livre e responsável, em que a pessoa torna-se mais autêntica consigo mesma. Isso é possível através da promoção das capacidades de intercâmbio e de flexibilidade adaptativa, que dá às pessoas maiores condições de enfrentar a labilidade que a realidade moderna traz em si. (RODRIGUES, 2003, p. 38)
	Ocorre que, para as mulheres cristãs a identidade religiosa as dão sentido para a vida, mas diante das novas realidades sociais e desejos pessoas, essas estão optando por “moldar” as suas crenças a fim alcançar um equilíbrio entre os preceitos religiosos e a modernidade, almejando uma qualidade de vida em todos os seus aspectos, isso é o que faz nascer uma identidade própria para essas mulheres. 
Diante do hiato entre os valores religiosos sobre sexualidade e os desejos, reflexões e novos paradigmas construídos por elas a este respeito, as mulheres buscam novos caminhos e interpretações a fim de preservarem suacrença religiosa. Assim, as mulheres católicas modificam para si mesmas os aspectos do Catolicismo que lhes incomodam, passando a agir segundo suas consciências, e preservam os aspectos que lhes dão sentido existencial. (RODRIGUES, 2003, p. 45)
	Ainda segundo Rodrigues (2003), a partir do momento em que as mulheres param de reprimir os seus desejos baseados em preceitos morais preestabelecidos elas evoluem, passam desta forma por uma verdadeira metamorfose. 
	Os movimentos de identidade feministas são exemplos dessas mudanças, haja vista as mobilizações de cunho social, anteriormente inexistentes, em busca de melhores condições de vida, trabalho, educação, reprodutivo e sexual, voltados a classe feminina, realizando isso através da difusão de ideias, lutas práticas e construções teóricas importantes, atingindo as mulheres de todos os setores da sociedade. 
	Exemplo dessa abrangência consiste no movimento chamado “marcha das vadias”, a qual surgiu inicialmente no Canada e hoje faz parte da realidade brasileira, sendo uma iniciativa, que a princípio surgiu para questionar a violência sofrida pelas mulheres, pautada no pensamento de que elas são os próprias responsáveis pelas atrocidades sofridos em virtude da vestimenta, do comportamento ou simplesmente pela condição de ser mulher. Hoje a marcha vai muito além de questionamentos sobre a violência, abarcando questões de gênero e sexualidade (RIBEIRO, 2016).
A marcha das vadias denuncia apenas alguns dos problemas enfrentados pelas mulheres atualmente, sendo inadmitísseis certos posicionamento e comportamentos decorrentes de preconceitos de gênero. 
Evidentemente que muitas conquistas já foram alcançadas, mas ainda existem muitas coisas a serem mudadas, haja vista a crescente incidência de violência doméstica, desigualdades salarias de oportunidades, a violência obstétrica, assédio sexual, violência sexual, entre outros e para isso se faz necessário a atuação feminina objetivando a proteção legal e a criação e fiscalização de políticas públicas eficientes. 
Assim, diante da pós-modernidade as mudanças devem ser constantes, a fim de se alcançar a tão almejada proteção e igualdade defendida na constituição cidadã.

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