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Teoria Geral das Obrigações

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Livro Texto 
 
Da teoria geral das obrigações. 
O direito das obrigações disciplina relações jurídicas, vínculos entre pessoas, 
que tenham por objeto certa prestação de dar, fazer ou não fazer, tratando de 
suas fontes (origens), modalidades, classificação, circulação e extinção, bem 
como das consequências do seu inadimplemento. 
Nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves, o direito das obrigações 
compreende “vínculos de conteúdo patrimonial, que se estabelecem de pessoa 
a pessoa, colocando-as, uma em face da outra, como credora e devedora, de 
tal modo que uma esteja na situação de poder exigir a prestação, e a outra, na 
contingência de cumpri-la”1. 
O direito das obrigações preocupa-se em estabelecer meios para o credor 
alcançar a satisfação de sua prerrogativa, o cumprimento da prestação2. 
No Código Civil, o Direito das Obrigações está disciplinado no Livro I da Parte 
Especial, a partir do art. 233. 
É essencial a compreensão dessa matéria para a aplicação das demais regras 
estabelecidas no Código Civil, como, por exemplo, o direito aos alimentos, as 
obrigações decorrentes diretamente da lei ou dos contratos, a questão das 
prerrogativas e dos deveres decorrentes dos direitos reais etc.; e também 
devido a sua enorme influência no direito consumerista. 
 
1 Carlos Roberto Gonçalves. Direito Civil Brasileiro. Vol. 2. Teoria Geral das Obrigações, 11ª ed., 2014, Ed. 
Saraiva, pp. 17 e 18. 
2 Idem. Ibidem. P. 19. 
Disciplina: Teoria Geral das Obrigações Unidade: I 
Professora: Célia Rosenthal Zisman 
 
A aplicação das regras concernentes ao Direito de Família, por exemplo, com 
as obrigações fundadas diretamente em lei, os ônus decorrentes do poder 
familiar, do casamento, da tutela, da curatela, da adoção, depende 
principalmente da compreensão das regras acerca das obrigações. O Código 
Civil de 2002 corrigiu neste aspecto o Diploma de 1916, que trazia no Livro I da 
Parte Especial o Direito de Família. 
 
Da obrigação. Natureza jurídica. 
O Direito depende da sociedade para existir, é ciência social. Somente há leis 
quando o relacionamento interindividual precisa de regras para o 
estabelecimento de limites que possibilite a convivência harmoniosa. E a 
recíproca é verdadeira, pois a sociedade também depende do Direito. Não há 
ordem social sem regras que restrinjam a liberdade das pessoas que convivem 
em sociedade. 
O homem caçador-coletor era autossuficiente, pois buscava prover a sua 
própria subsistência e a de seu grupo familiar. Produzia as suas ferramentas, 
construía abrigo e vestimentas, e saía à busca de alimentos. 
Hoje firmamos contratos e contraímos assim obrigações, para que possamos 
alcançar serviços e produtos indispensáveis para a vida. As obrigações surgem 
não somente dos contratos, mas também em decorrência de atos ilícitos e 
ainda da lei, diretamente, sendo disciplinadas pelo Direito para ensejar o 
convívio harmônico e pacífico. 
A sociedade necessita do direito para o convívio harmonioso. Ubi societas, ibi 
ius. Para Carlos Roberto Gonçalves, o direito das obrigações exerce grande 
influência na vida econômica, em razão, principalmente, da notável, frequência 
das relações jurídicas obrigacionais no mundo consumerista3. O autor afirma 
que é impressionante o número de relações jurídicas obrigacionais que se 
 
3 Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações. Vol. 2, 11ª ed. Ed. 
Saraiva, 2014, p. 19. 
 
travam dia a dia e que constituem o substrato desse importante ramo do direito 
civil4. 
O homem em sociedade precisa do direito para regulamentar-lhe a conduta. 
Observa, no entanto, Venosa5, que, sabendo da existência de outros homens 
no universo, mesmo sozinho há que se preservar os valores e recursos 
ambientais. 
Os vínculos obrigacionais proporcionam a circulação de riquezas e, 
consequentemente, o desenvolvimento social. 
O Direito das Obrigações é o conjunto de princípios e normas que regem os 
vínculos jurídicos entre pessoas físicas e/ou jurídicas, cujas fontes consistem 
em vontade, lei ou ato ilícito, tratando de origem, características, circulação, 
adimplemento e consequências de inadimplemento de tais vínculos. 
 
Do conceito de obrigação. 
A obrigação é vínculo jurídico, prestigiado pela lei, através do qual o sujeito 
passivo se dispõe a dar, fazer vou não fazer algo em favor do sujeito ativo, sob 
pena de ser compelido judicialmente a fazê-lo ou a indenizá-lo, quando não se 
admite a execução específica da prestação. 
Nas Institutas de Justiniano, está expressa essa definição: Obligatio est iuris 
vinculum, quo necessitate adstringimur alicuius solvendae rei secundum 
nostrae civitatis iura (Inst. 3.13 pr.)6. 
 
Estrutura da relação obrigacional: 
São três os elementos constitutivos da obrigação: vínculo jurídico, sujeitos e 
objeto7. 
 
4 Idem. Ibidem. P. 20. 
5 Silvio de Salvo Venosa. Direito Civil. Teoria Geral das Obrigações e Teoria dos Contratos. Vol. 2. 15ª ed. 
Ed. Atlas, p. 1. 
6 Thomas Marky, Curso Elementar de Direito Romano, 8ª ed., 15ª tiragem, 2014, Ed. Saraiva, p. 107. 
 
1. Vínculo jurídico. 
 
Trata-se do elemento imaterial ou espiritual, nexo que conecta sujeito e 
prestação8. A obrigação tem como elemento estrutural vínculo entre sujeitos 
prestigiado pela lei, daí se dizer vínculo “jurídico”. Trata-se de vínculo de 
direito, cujo descumprimento implica ação a ser proposta pelo credor e que 
pode levar à penhora de bens do devedor, para que o credor possa resgatar o 
seu crédito. 
 
A sanção pelo descumprimento é aplicável pelo Estado, através da sua função 
Judiciária. A penhora de bens do devedor é a forma de o Direito 
contemporâneo resolver a questão do inadimplemento obrigacional, qualquer 
que seja a origem do vínculo. 
 
O ativo patrimonial do devedor responde pela obrigação contraída no âmbito 
civil. A única exceção é a prisão civil do devedor de alimentos, no âmbito do 
direito de família, quando o inadimplente tem condições, mas não recolhe os 
alimentos em prejuízo da integridade física, moral e intelectual do credor9. 
 
Se o devedor não paga, o credor pode ir a juízo requerer penhora e 
praceamento dos seus bens (art. 389, CC/02). 
 
No Direito Romano, até 326 a.C.10, a pessoa do devedor e não seus bens 
respondia pela dívida; o descumprimento da obrigação poderia levar a penas 
pessoais, convertendo-se em escravo o devedor. Por isso eram sempre 
personalíssimos os vínculos obrigacionais: não havia possibilidade, por 
exemplo, de cessão de crédito, ou de contrato com pessoa a declarar, pois a 
benevolência do credor interessava pessoalmente ao devedor; e a solvência do 
devedor interessa até os dias de hoje ao credor. 
 
7 Fabio Ulhoa Coelho estabelece como elementos da obrigação: sujeitos, prestação e vínculo. In Curso de 
Direito Civil. Vol. 2. Obrigações e responsabilidade civil. 4ª ed. 2010. Ed. Saraiva, p. 24. 
8 Christiano Cassetari. Elementos de Direito Civil. 2011. Ed. Saraiva, p. 132. Para o autor, tal nexo obriga 
ao respeito aos deveres relacionados à boa-fé objetiva, como lealdade, honestidade, confiança etc. 
9 Art. 5º, LXVII, CF. 
10 A Lex Poetelia determina a mudança de responsabilidade pessoal para patrimonial. 
 
 
Como escrevem Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald: “Há mais de 
dois mil anos, no Império Romano, o procedimento do ‘concurso de credores’ 
consistia em conduzir o desafortunado devedor às margens do Rio Tibre e 
fragmentar o seu corpo em múltiplos pedaços, oferecendo-se as partes aos 
seus credores de acordo com a proporcionalidade do montante dos créditos”11. 
 
Coma humanização do Direito, hoje o patrimônio responde pelas dívidas 
contraídas na órbita do Direito Privado, restando somente a hipótese de prisão 
civil do alimentante que pode custear mas deixa de recolher a pensão 
alimentícia. 
 
2. Sujeitos da relação obrigacional. 
 
Sujeito ativo (credor) e sujeito passivo (devedor) são determinados ou 
passíveis de determinação no vínculo obrigacional. 
Pessoas físicas ou jurídicas compõem o aspecto subjetivo da obrigação. 
O sujeito ativo tem a expectativa de receber a prestação, e o sujeito passivo 
assume a incumbência de lhe fornecer a prestação devida, sob pena de sofrer 
a sanção, através da penhora de ativo patrimonial. 
As partes podem ser simples (um devedor e um credor) ou complexas 
(pluralidade de devedores e/ou pluralidade de credores). 
Sendo indeterminável o sujeito ativo, é possível a consignação em pagamento, 
para que o devedor se desincumba da prestação e de seu ônus. 
O credor é indeterminado, mas determinável, em casos como o da promessa 
de recompensa, em que o promitente se dirige ao público em geral. No entanto, 
assim que preenchidos os requisitos da promessa, estará identificado o credor. 
É indeterminada a parte, por exemplo, no contrato com pessoa a declarar. 
 
11 Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald. Curso de Direito Civil, vol. 2. Obrigações. 9ª ed. 2015. 
Ed. Atlas, p. 3. 
 
3. Objeto. 
 
O objeto da obrigação consiste em prestação de dar, fazer ou não fazer. São 
as três modalidades de obrigação, que a lei brasileira disciplina. 
 
As prestações de dar e fazer são positivas; a obrigação de não fazer é 
chamada de prestação negativa. A prestação consiste, portanto, em ação ou 
omissão que pode ser exigida pelo credor. 
 
O credor, diretamente, e a sociedade, indiretamente, têm interesse no 
cumprimento da prestação, para que os bens e os serviços possam alcançar os 
seus objetivos, suprindo as necessidades sociais. É por isso que a obrigação 
tem caráter transitório12: a finalidade da obrigação é naturalmente extinguir-se 
através do pagamento. 
A lei contempla muitas formas de adimplemento obrigacional. O adimplemento 
pela via direta consiste no pagamento; o adimplemento indireto ocorre através 
da remissão de dívidas, da confusão, da compensação e da consignação em 
pagamento, dentre outras hipóteses, como examinaremos em outra Unidade. 
 __________________//_____________ 
Direitos patrimoniais são obrigacionais (jus ad rem) ou reais (ius in re). 
O direito real vincula diretamente pessoa e res. 
Arrolados no art. 1.225 do Código Civil de 2002, em rol taxativo, os direitos 
reais são oponíveis em face de todos, inclusive do Estado (oponibilidade erga 
omnes). 
Direitos reais (como, por exemplo, a hipoteca, a propriedade, a servidão 
predial, o usufruto) não possuem sujeito passivo determinado ou determinável. 
O sujeito passivo em um direito real é composto por toda a sociedade, que tem 
 
12 Thomas Marky, Curso Elementar de Direito Romano, 8ª ed., 15ª tiragem, 2014, Ed. Saraiva, p. 107. A 
obrigação, para o autor, é temporária, pois tende ao cumprimento e por este se extingue. 
 
 
a obrigação negativa de não interferir no vínculo que se constituiu entre sujeito 
e res. 
Por não haver, no direito real, um sujeito passivo, não há, também, prestação. 
Já o direito obrigacional (pessoal) vincula pessoas (sujeito ativo e sujeito 
passivo). Inclui prestação (dar, fazer ou não fazer) e, portanto, sujeito passivo 
determinado ou determinável. 
Assim, enquanto o direito pessoal envolve relação entre duas pessoas, o direito 
real consiste na relação entre pessoa e coisa. 
São características que se destacam no direito real: 
a) Prerrogativa da sequela, que consiste na faculdade de perseguir a res 
até encontrá-la, para retirá-la das mãos de terceiro, quem quer que seja 
que injustamente a possua. 
 
b) Legitimidade para a propositura de ação real, reipersecutória, para o 
exercício do direito de sequela. Todo titular de direito real tem 
legitimidade para a distribuição de ação reivindicatória. 
 
c) Oponibilidade em face de todos, que se trata de possibilidade de 
defender o direito erga omnes. Qualquer pessoa, inclusive o Estado, 
deve respeitar o direito real. 
 
d) Perpetuidade: direitos reais como, por exemplo, propriedade e usufruto, 
tendem a perdurar no tempo, enquanto direitos pessoais são, como se 
observou anteriormente, transitórios. Como afirma Silvio de Salvo 
Venosa, enquanto o direito obrigacional tem caráter essencialmente 
transitório, “o direito real tem sentido de inconsumibilidade, de 
permanência”13. 
 
___________________________//___________________ 
 
 
13 Silvio de Salvo Venosa. Direito Civil. Teoria Geral das Obrigações e Teoria dos Contratos. Vol. 2. 15ª ed. 
Ed. Atlas, p.7. 
 
Das obrigações reais ou propter rem. 
A obrigação propter rem consiste em vínculo jurídico com sujeito ativo, sujeito 
passivo e prestação em decorrência de certo direito real14. 
Contém, portanto, todos os elementos de qualquer estrutura de relação 
obrigacional. 
Essas obrigações, chamadas de obrigações reais, apresentam certas 
especificidades: 
A sua fonte é sempre a lei – elas não resultam da vontade das partes ou do ato 
ilícito. 
Em geral essas obrigações vinculam reciprocamente vizinhos, com a finalidade 
de estabelecer um relacionamento harmonioso entre eles, poupando os 
conflitos que prejudicam a convivência e sobrecarregam o Judiciário. 
É peculiar dessas obrigações o fato de acompanharem o titular de certo direito 
real, ou o possuidor. 
Podem ser obrigações de dar, fazer ou não fazer, sempre decorrentes da 
relação do devedor e do credor com a coisa. 
São exemplos de obrigações reais: a obrigação do proprietário de respeitar a 
segurança, o sossego e a saúde dos vizinhos (art. 1277, CC); o dever do 
proprietário de custear metade da cerca, muro ou vala divisória entre os 
prédios; ou de ceder passagem forçada de cabos, fios, tubulações, aquedutos 
ou passagem ao vizinho, proprietário de prédio encravado. 
No direito de vizinhança, credor e devedor são titulares de direitos reais ou 
possuidores da mesma coisa (condôminos) ou de coisas vizinhas. 
A obrigação real acompanha o titular do direito real, por isso, ao deixar de ser 
titular do direito real, o devedor se livra da obrigação propter rem, que perde a 
sua fonte imediata. 
 
 
14 Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações. Vol. 2, 11ª ed. Ed. 
Saraiva, 2014, p. 27. 
 
Da natureza jurídica híbrida das obrigações reais. 
A obrigação propter rem tem natureza jurídica híbrida, com características de 
direito pessoal e de direito real. 
Características de direito pessoal (obrigacional): contem sujeito passivo 
determinado ou determinável, e prestação. 
Característica de direito real: transmitem-se ao sucessor a título singular, como 
o legatário, por exemplo. 
Obrigações em geral não se transmitem ao sucessor a título singular, como o 
legatário. Assim, as obrigações propter rem neste aspecto se aproximam dos 
direitos reais, porque se transmitem ao adquirente a título singular, posto que 
acompanham o dono. 
O adquirente inter vivos de coisas individuadas, como na venda e compra de 
imóveis, por exemplo, ou o sucessor a título singular causa mortis (legatário), 
contemplado com coisas singularizadas, por força de testamento, não assume 
dívida deixada pelo autor da herança, como fazem os herdeiros (sucessores a 
título universal), mas está obrigado a honrar as obrigações propter rem, já que 
estas acompanham e vinculam o dono da coisa. 
Uma vez que tem como objeto uma prestação, e não uma res, não se trata 
exatamente de direito real. E a obrigaçãoreal se diferencia das obrigações 
comuns, porque pode haver cessão de débito sem anuência do credor, além de 
se transmitir ao sucessor a título singular e de se extinguir com a perda do 
direito real. 
___________________//_______________ 
Dos ônus reais. 
Ônus real é o gravame que deve recair sobre determinado bem da pessoa15. 
São obrigações que recaem sobre coisas, restringindo o direito do titular do 
domínio, como ocorre com a hipoteca. O dono da coisa é o devedor em certo 
vínculo obrigacional e a coisa é onerada para se destinar ao pagamento. 
 
15 Roberto Senise Lisboa, Manual de Direito Civil. Obrigações e responsabilidade civil. Vol. 2, 4ª ed., 
2009, Ed. Saraiva, p. 24. 
 
Os ônus reais não vinculam o devedor e todo o seu patrimônio, como nas 
obrigações propter rem, mas sim o objeto onerado. Além disso, a obrigação 
propter rem transmite-se ao novo proprietário da coisa, pois acompanha o 
dono; os ônus reais não se transmitem a terceiro, pois a dívida é pessoal, 
onerando o imóvel do devedor para a garantia de pagamento. 
_____________________________//________________ 
Das fontes das obrigações: 
Fonte ou origem, nascente de obrigação, consiste em ato ou fato que enseja 
vínculo obrigacional. 
Das fontes de obrigação no Direito romano: 
No período clássico, duas eram as fontes de obrigação no Direito Romano: o 
contrato e o delito. Com o tempo, reformulou-se o rol para se estabelecer nas 
Institutas do Imperador Justiniano, como fontes de obrigação16: 
Contrato, quase contrato (gestão de negócios e repetição de indébito), delito e 
quase delito (este entendido como o ilícito culposo, em que há imprudência, 
imperícia ou negligência, e não dolo). 
No direito contemporâneo, o Código Civil de 2002 traz como fontes diretas 
(imediatas): 
1. Vontade. 
A vontade se manifesta de modo bilateral ou plurilateral (negócio jurídico 
bilateral ou plurilateral), como, por exemplo, através de contrato ou casamento; 
ou por declaração unilateral da vontade, como no caso da promessa de 
recompensa, do pagamento indevido e da gestão de negócios. 
2. Ato ilícito. 
O ilícito culposo ou doloso gera a obrigação de indenizar, tornar indene a vítima 
ou a sua família, em casos específicos. O ato ilícito enseja obrigação desde 
 
16 Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações. Vol. 2, 11ª ed. Ed. 
Saraiva, 2014, pp. 46 e 47. 
 
que preenchidos os pressupostos da responsabilidade civil – ação ou omissão, 
dano (moral e/ou material), nexo de causalidade e culpa. 
Vale ressaltar que, embora não se trate da regra geral, o Direito brasileiro 
contempla a teoria do risco, em que a responsabilidade civil se configura e leva 
à obrigação de indenizar independentemente de culpa. Trata-se da 
responsabilidade civil objetiva, prevista no parágrafo único do art. 927 do 
CC/2002, que decorre da lei ou da determinação judicial. A responsabilidade 
civil objetiva (sem culpa) existe sem ato ilícito, em decorrência da determinação 
legal, para a proteção da vítima, em função do interesse social. 
3. Lei. 
A lei é fonte direta de obrigações em várias hipóteses. Obrigações tributárias e 
previdenciárias, ou típicas do Direito de Família, como aquelas relacionadas ao 
exercício do poder familiar, da tutela e da curatela, decorrem diretamente da 
lei. 
Vimos também que as obrigações propter rem (como o dever de ceder 
passagem forçada ao vizinho proprietário de prédio encravado ou de pagar por 
metade da vala divisória entre as propriedades imobiliárias, do direito de 
vizinhança), têm como fonte direta a própria lei. 
Importante salientar que há autores que acrescentam às fontes diretas os 
títulos de crédito, como fontes autônomas17. 
Da fonte indireta (mediata) das obrigações. 
Indiretamente, como fundamento, a fonte da obrigação é sempre a lei. A lei que 
determina ser a vontade fonte de obrigação (art. 389, CC); a lei é fonte indireta 
da responsabilidade civil (obrigação de reparar) por ato ilícito (art. 186 e 927, 
CC). Por vezes, como nos exemplos acima, a lei é, ainda, fonte direta da 
obrigação. 
_________________//______________ 
 
17 Christiano Cassetari. Elementos de Direito Civil. 2011. Ed. Saraiva, p. 132. 
 
 
Das modalidades das obrigações. 
Há somente três modalidades de obrigação. AS OBRIGAÇÕES PODEM SER 
DE DAR, FAZER OU NÃO FAZER. Examinemos as características de cada 
uma delas. 
Da obrigação de dar. 
 
Conceito: a obrigação de dar é vínculo jurídico em que o devedor assume a 
incumbência de entregar ou restituir algo em favor do credor, sob pena de ser 
compelido judicialmente ao cumprimento. 
A sua prestação consiste na entrega ou na restituição de algo, na tradição de 
uma coisa pelo devedor ao credor. 
A obrigação de dar pode envolver coisa certa ou incerta. 
Na obrigação de dar coisa certa, o devedor se compromete a entregar objeto 
perfeitamente determinado, especificado. Ex.: certo veículo automotor, cujas 
placas e chassis estejam previamente especificadas. 
Aquele que se obriga a dar coisa certa não pode entregar coisa diversa, ainda 
que seja mais valiosa, a menos que haja anuência do credor para essa dação 
em pagamento. 
Na obrigação de dar coisa incerta, o objeto será escolhido. As partes 
avençaram somente o gênero a que a coisa pertence e a sua quantidade. Por 
exemplo: três veículos automotores. 
Há, na obrigação de dar coisa incerta, a vantagem de que a obrigação jamais 
será extinta por perecimento do objeto, pois o gênero não pode perecer; e a 
peculiaridade da escolha, prerrogativa do devedor, salvo convenção em sentido 
contrário, como analisaremos. 
 
Obrigação de dar e de restituir. 
 
O devedor é o titular do domínio sobre o objeto a ser entregue na obrigação de 
dar. O credor, neste caso, não é o dono da coisa. 
 
Já na obrigação de restituir, o devedor tem a posse direta de objeto 
pertencente ao credor. O credor é o dono da coisa. 
Como exemplo, tem-se a obrigação do locatário, do consignatário (no contrato 
estimatório), do credor pignoratício (que tem a posse de coisa do devedor, no 
penhor comum), do credor anticrético, do comodatário ou do depositário. 
 
A regra de que a coisa perece para o dono e a sua aplicação na obrigação 
de dar: res perrit domino. 
A obrigação constituída por contrato, ato ilícito ou em decorrência da lei, ou de 
manifestação unilateral de vontade, não transfere de plano o domínio da coisa 
ao credor. 
A titularidade do domínio se transfere, na obrigação de dar, somente no 
momento ulterior, com a tradição (coisa móvel) ou com o registro do título no 
Cartório de Registro Imobiliário (transferência de domínio de coisa imóvel). 
Enquanto não houver a tradição, os riscos correm por conta do dono – res 
perrit domino: Caso ocorra a perda ou a deterioração da coisa em decorrência 
de caso fortuito ou força maior, o prejuízo é do dono. 
 
A regra se aplica da seguinte maneira no destino da obrigação em face do 
perecimento da coisa: 
Se a coisa perece sem culpa do devedor, este, sendo o proprietário, sofre o 
prejuízo: a obrigação de dar se desfaz. O devedor, dono da coisa, restitui ao 
credor o valor eventualmente já recebido, por causa da extinção do vínculo 
jurídico obrigacional. 
Caso seja de restituir, a obrigação, o credor, proprietário, sofre o prejuízo e nada 
pode cobrar do devedor, diante do perecimento sem culpa a ser atribuída (caso 
fortuito ou força maior). 
 
 
Se a coisa se deteriora sem culpa do devedor, aplica-se a regra res perrit domino 
com as seguintes consequências: 
Obrigação de dar – o credor resolve a obrigação, ou aceita a coisa abatido do 
preço o valor do estrago. 
Obrigação de restituir - o credor só pode reclamar a coisa deteriorada no estado 
em que se encontre.________________________//_____________ 
A questão da culpa na frustração da obrigação de dar ou de restituir: 
Caso exista culpa, há responsabilidade – art. 389, CC 
Se a coisa perece por culpa do devedor, o credor resolve o vínculo jurídico 
obrigacional e exige perdas e danos, além de responder, o devedor, pelo 
equivalente à coisa. 
Se a coisa se se deteriora por culpa do devedor, o credor ou resolve o contrato 
exigindo perdas e danos; ou aceita a coisa no estado em que se encontra, 
reclamando a composição do prejuízo. A obrigação persiste, alterada por causa 
da deterioração. 
 
Dos acessórios da coisa. 
O domínio só se transfere com a tradição. Então, antes da tradição, acréscimos 
são do dono: pertencem ao devedor, na obrigação de dar; e ao credor, se a 
obrigação for de restituir. 
O acessório segue o principal, portanto pertence a quem pertencer o principal. 
A regra quanto aos acessórios, na obrigação de dar, é a de que os frutos 
percebidos são do devedor e pendentes do credor. 
Na obrigação de restituir, o credor é o dono, portanto se beneficia com os 
acessórios. 
 
Uma vez que a lei proíbe o enriquecimento ilícito, o locupletamento à custa de 
outrem, deve o credor, na obrigação de restituir, ressarcir o devedor das 
despesas que foram suportadas para que se originassem os acessórios. 
O possuidor de boa-fé, ao restituir o bem, tem direito ao reembolso por 
benfeitorias úteis e necessárias, podendo, ainda, exercer o seu direito de 
retenção, para compelir o credor ao rápido reembolso. 
O possuidor de má-fé ao restituir o objeto de propriedade do credor tem direito 
ao reembolso por benfeitorias necessárias, mas não pode exercer direito de 
retenção. 
A justificativa é que o credor não pode se enriquecer ou se beneficiar à custa 
de outrem, ainda que se trate de um possuidor de má-fé. Este acresceu ao 
bem benfeitorias que onerariam obrigatoriamente o seu proprietário, posto que 
as benfeitorias necessárias impedem a perda ou a deterioração do bem. 
 
Da execução da obrigação de dar coisa certa. 
O credor pode exigir o bem objeto da prestação. Somente se for impossível 
exigir a coisa em espécie, por haver perecido por culpa do devedor, cabe o 
pleito de perdas e danos. 
Incluem-se, nesse quantum indenizatório, danos morais e materiais, dentre os 
danos emergentes, e, ainda, os lucros cessantes. 
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Da obrigação de dar coisa incerta: genus nunquam perit. 
Nessa espécie de vínculo jurídico obrigacional, indica-se gênero e quantidade. 
O objeto é indeterminado, mas determinável, pois para que ocorra o 
cumprimento, faz-se necessária a sua determinação, através do ato da 
escolha. Christiano Cassetari18 cita como exemplo a prestação que consiste na 
entrega de cem caixas de vinho, ainda não determinado se o vinho é tinto ou é 
branco, qual o tipo da uva, ou a procedência da bebida. 
 
18 Elementos de Direito Civil. 2011. Ed. Saraiva, p. 134. 
 
A vantagem nesse caso é que na obrigação de dar coisa incerta não ocorre a 
extinção do vínculo por perda do objeto. 
Nos termos do art. 246 do CC/2002, “Antes da escolha, não poderá o devedor 
alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso 
fortuito”. 
O gênero não perece (genus non perit ou genus nunquam perit), o que 
representa vantagem para as partes, mormente para o credor. 
A escolha é o ato de seleção das coisas constantes do gênero, para o 
cumprimento da prestação em favor do credor. 
Com a escolha, a obrigação passa a ser de dar coisa certa. 
O devedor tem a vantagem da escolha. Mas a regra é supletiva, de modo que as 
partes podem dispor em sentido contrário, estabelecendo que o direito de 
escolha é do credor, ou de terceiro, como um perito, exímio conhecedor do 
objeto do gênero estabelecido. 
 O devedor não tem, no entanto, direito absoluto em relação à escolha. Deve 
entregar coisa de qualidade mediana, para não prejudicar o credor. 
Não pode o devedor escolher entregar o pior e nem está obrigado a dar o melhor 
dos objetos do gênero estabelecido. 
Já quando as partes convencionam que a prerrogativa é do credor ou de terceiro, 
é porque renunciam à prestação de coisa mediana. O credor ou o terceiro pode 
escolher a o melhor do gênero. 
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