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1 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Revisão do primeiro e segundo termo Capacidade: a) Pessoa absolutamente incapaz: Menores de 16 anos ou aqueles que não conseguem exprimir contrato. b) Pessoa relativamente incapaz: Maiores de 16 anos e menores de 18 anos ou aqueles com desenvolvimento cognitivo incompleto. c) Plenamente capaz: Maiores de 18 anos. O grande pilar do Direito Civil é a vontade. O absolutamente incapaz não tem vontade juridicamente protegida, ainda que tenha consciência de seus atos. Personalidade jurídica: A partir do nascimento com vida é adquirida. Capacidade de direito: Cada pessoa (que obrigatoriamente possui personalidade jurídica) tem capacidade de direito distintas de acordo com a sua particularidade. Exemplo: Estatuto da criança, estatuto do idoso e etc. Direitos da personalidade: Direitos que a pessoa tem sobre si. Exemplo: Direito a honra, a imagem e etc. Bens: Qualificações de bens. Exemplo: Móveis, imóveis, públicos, privados, divisíveis, indivisíveis e etc. Negócios jurídicos: Vinculo entre duas ou mais pessoas responsável por criar, modificar ou exigir direitos. O Direito Civil regula: a) Relação jurídica de uma pessoa com outra pessoa. b) Relação jurídica de uma pessoa com ela própria (direitos de personalidade). c) Reação jurídica de uma pessoa com uma coisa. Negócios jurídicos ⇨ Obrigação ⇨ Contrato. Dentro de um contrato necessariamente tem negócios jurídicos e obrigação. Direito das Obrigações Obrigação é o negócio jurídico que tem particularidades obrigacionais, toda relação jurídica entre duas pessoas que tenha conteúdo econômico imediato. Exemplo: Pagar imposto, dívida, aluguel, compra e venda e etc. Relações jurídicas que não tenham conteúdo econômico imediato, como o voto que só passa a ter esse conteúdo com a multa, são deveres. Conceito: Trata-se do vínculo jurídico em que o devedor presta uma conduta em prol do credor com conteúdo econômico. a) Devedor: Quem presta uma conduta. Tem obrigação de prestar o direito de receber. Prepondera para ele a obrigação de entregar, pois sem ter feito isso ele não receberá. 2 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo b) Credor: Quem recebe/contra prestaciona/paga uma conduta. Prepondera para ele seu direito, pois ele realizará a contra prestação devido ao direito de receber. Caso o credor não cumpra a sua parte no vinculo jurídico (não cumpra suas obrigações), ele se torna um credor inadimplente. Exemplo: Compra e venda de carro, prepondera ao devedor a obrigação de entregar o carro (prestar) para então receber e prepondera ao credor o direito de receber o carro para então pagar. Exemplo 2: Moradores de prédio tem a obrigação de não fazer barulho após as 10h. Devedores seriam os moradores e credor o prédio. Exemplo 3: Contrato de locação/aluguel. O locatário (quem aluga) é o devedor, pois prepondera para ele a obrigação de devolver o bem, e para o credor (dono) prepondera o direito de receber a restituição. Observação: Anteriormente, quando a casa ainda não foi entregue ao locatário, o dono do imóvel era o devedor, visto que ara este preponderava a obrigação de entregar. Depois de entregar, sua obrigação acaba, tornando-se credor. Devedor ⇨ Credor Devedor ⇦ Credor Quando se fala em objeto da obrigação (relação jurídica) nos referimos a conduta a ser praticada, diz-se pelo tipo obrigacional descrito no Código Civil, ou seja, uma das nove espécies obrigacionais. Quando se fala em objeto da conduta nos referimos ao bem físico. Exemplo: Compra e venda de carro, objeto da obrigação é dar o carro e o objeto da conduta é o carro. Relação sintagmática: Em regra haverá equilíbrio econômico financeiro entre a conduta e a contraprestação. Equivalência entre direitos e deveres dos sujeitos obrigacionais ou contratuais. Relação com outros ramos do Direito: a) Direito Civil: Como componente da parte especial do código, tem a parte geral como base de sua construção teórica. b) Direito de Família: As obrigações estão presentes no que tange ao aspecto patrimonial destas relações (exemplo: pensão alimentícia, regime de bens no casamento). c) Direito das Sucessões: As obrigações são transmitidas “post mortem”, como componente do patrimônio do “de cujus” (exemplo: testamento). d) Código de Defesa do Consumidor: O direito material do consumidor é uma especialização do direito das obrigações, aplicável às relações de consumo. e) Direito Público: As obrigações tributárias (Direito Tributário) e os contratos administrativos (Direito Administrativo) têm sua base no Direito das obrigações. Importância: Regula o processo de produção e distribuição de bens e serviços. As relações obrigacionais são infinitas, estão presentes desde a atividade mais simples até a atividade mais complexa da sociedade. Quem tem a última ação é o devedor. 3 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Mutabilidade: É pouco mutável por sofrer influência mínima da organização social, política, religiosa e moral local e por prestigiar a segurança jurídica das relações econômicas. Quando existente, a mudança está relacionada à evolução econômica. Evolução histórica: a) Direito Grego: Aristóteles dividia as obrigações em voluntárias (oriunda do acordo das partes) e involuntárias (decorrentes de um fato), sendo que esta subdividida em “ato ilícito cometido às escondidas” (ex: furto, adultério) e “ato ilícito cometido com violência” (ex: roubo, homicídio). b) Direito Romano: Foi criada a figura do nexum (do verbo latino “nectere”, que significa ligar, prender), que possibilitava ao credor exigir do devedor o cumprimento de determinada obrigação, respondendo o seu corpo pelo descumprimento, podendo ser reduzido à condição de escravo. Nesta fase não era admitida a cessão ou transferência da obrigação, pois o vínculo se relacionava à pessoa. Posteriormente, trocou-se a responsabilidade corporal do devedor para a patrimonial. A ideia de que a obrigação importava no dever de dar, fazer ou não fazer algo, concepção que persiste até os dias atuais. Elementos da obrigação: a) Elemento subjetivo (pessoal): Corresponde aos sujeitos da obrigação (ativo e passivo). Pessoa capaz, incapaz desde que representado ou assistido, emancipado (pois atingiu capacidade civil plena), pessoa jurídica regularmente constituída, pessoa jurídica de fato/irregular mediante responsabilização do sócio e ente despersonalizado (nascituro, espólio, massa falida, condomínio). b) Objeto real (bem físico/conduta): Requisitos de validade. Deve ser lícito (não pode violar o ordenamento jurídico), determinado ou determinável (pelo gênero e quantidade) e possível (não deve existir impossibilidade física ou material). Observação: Se essas características não existem no momento da constituição, essa obrigação é inexistente. Se essas características se perdem após a constituição da obrigação, esta é desfeita. c) Vínculo jurídico: É o liame que sujeita o devedor a cumprir a obrigação em favor do credor, sob pena de determinada sanção. O ordenamento jurídico impõe ao obrigado o dever de “quitar” espontaneamente o débito e, caso contrário, de se responsabilizar patrimonialmente por ele. Débito é o dever jurídico imposto ao devedor de cumprir a conduta (vínculo espiritual, pessoal ou imaterial) e responsabilidade é a possibilidade de ajuizamento de ação para a exigência da conduta (vínculo material). Excepcionalmente, algum destes elementos não estará presente. A responsabilidade de terceiros (fiança) é uma responsabilidade sem 4 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo débito e a dívida prescrita é um débito sem responsabilidade. É o que se chama de obrigação imperfeita. Características: a) Vínculo jurídico entre os sujeitos obrigacionais, débito recíproco entre credor e devedor para fins de cumprimento das suas respectivas obrigações. Abrange apenas osrelacionamentos disciplinados pelo Direito. b) Pluralidade de sujeitos obrigacionais, necessidade de um sujeito obrigacional em cada polo, não atingindo terceiros (obrigação é sempre bilateral). c) Deve ser transitória, não é permanente. Com o cumprimento, extingue-se o vínculo jurídico. d) Obrigatoriedade de conteúdo econômico imediato, cunho pecuniário da prestação. Fontes (como a obrigação pode surgir): a) Negócio jurídico (bilateral), conjunto de vontades humanas. b) Ato unilateral, em sua origem constitui uma única pessoa e em seu cumprimento será bilateral. Declarações unilaterais de vontade. Exemplo: Promessa de recompensa, quem encontrou o bem pode ou não querer a satisfação econômica. c) Atos ilícitos (ato que viola o ordenamento e causa um dano). Exemplo: Atropelamento de alguém, violou o ordenamento e causou dano permanente a essa pessoa, e por isso tem a obrigação de pagar pensão a ela. d) A lei determina que cumpra determinada obrigação, fonte primária. Exemplo: Pagamento de pensão alimentícia. Obrigação Natural: Trata-se de uma relação jurídica entre pessoas com conteúdo econômico ou não. Tem débito, mas não há responsabilidade. Não são judicialmente exigíveis, mas, se forem cumpridas serão tidas por válido o pagamento, que não poderá ser repetido (retenção do pagamento, soluti retentio). Possui juridicidade limitada, mas situa-se no campo do Direito. Embora desprovida de poder coativo, se o devedor espontaneamente a cumpre, o pagamento considera-se legal e, por essa razão, não se concede ação no caso de se pretender recobrar o que foi pago, por isso se trata de uma obrigação imperfeita. Obrigação Moral: É mero dever de consciência, o Direito não lhe reconhece qualquer prerrogativa. Seu cumprimento constitui uma simples questão de princípios (carga valorativa, moralidade), sem qualquer juridicidade, e sua consequência será somente social, como no caso de não tirarmos o chapéu ao entrarmos em templo religioso, de não levantarmos para um idoso ou uma grávida sentar e etc. Embora não tenha natureza jurídica, seus princípios inspiram e instruem as normas jurídicas. Direito Real: Exercer o domínio direto sobre a coisa que produz eficácia para todos os terceiros (erga omnes), toda a coletividade é sujeito passivo. 5 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Diferente do direito obrigacional, o qual só produz efeitos entre o credor e o devedor de forma específica. Obrigação com eficácia real: Obrigação de natureza pessoal (direito obrigacional, entre duas pessoas) que geram efeitos reais (para terceiros que não participam da relação). Para que isso ocorra o terceiro precisa aceitar se vincular a relação jurídica que ele não criou originalmente. Exemplo: Contrato de locação, com o registro imobiliário, permite que o locatário oponha seu direito de preferência erga omnes, isto é, perante qualquer pessoa que venha a adquirir a coisa locada. O contrato, portanto, nas condições descritas na lei, alcança eficácia real. Desse modo, as obrigações do locador podem ser transmitidas ao novo titular do domínio, que deve respeitar o contrato de locação, do qual não fez parte. Existe, portanto, uma obrigação que emite uma eficácia real. Obrigação propter rem: Tem natureza exclusivamente real. Decorre da coisa, a própria coisa que responde por essa obrigação que ela mesma gera. Ocorre em situações nas quais o proprietário é por vezes sujeito de obrigações apenas porque é proprietário (ou possuidor) e qualquer pessoa que o suceda na posição de proprietário ou possuidor assumirá tal obrigação. Contudo, o proprietário poderá liberar-se da obrigação se se despir da condição de proprietário ou possuidor, abandonando a coisa que lhe pertence, renunciando à propriedade ou abrindo mão da posse. Desse modo, a pessoa do devedor poderá variar, de acordo com a relação de propriedade ou de posse existente entre o sujeito e determinada coisa. Obrigação de ônus real: Ônus pode significar um peso que incide sobre uma pessoa ou coisa, um dever ou um gravame que restringe o direito do titular de um direito real. Trata-se de uma limitação do direito de propriedade, prestações periódicas que limitam o gozo da coisa e o poder de dispor, prevalecendo erga omnes, constituindo-se verdadeiros direitos reais. Nesse diapasão, o ônus distingue-se do dever, porque neste, que é próprio da obrigação, há o característico da coercibilidade, enquanto tal não existe no ônus. A parte onerosa pode não praticar o que determina o ônus, sujeitando-se a determinadas consequências. Quem tem um dever pode ser obrigado a cumpri-lo. Enquanto a responsabilidade pelo ônus real é limitada ao bem onerado, ao valor deste, na propter rem o obrigado responde com seu patrimônio, sem limite. Ainda, o ônus desaparece, desaparecendo o objeto, enquanto os efeitos da obrigação real podem permanecer, ainda que desaparecida a coisa. Exemplo: Proprietário do imóvel obrigava-se a pagar prestações periódicas de soma determinada e os sucessores continuariam a suportar o encargo. Obrigação periódica: Também chamada de trato sucessivo ou execução diferida, são aquelas cumpridas mediante atos periódicos, obrigação composta por vários períodos autônomos e independentes. Acontece renovação a cada período, prazos prescricionais próprios. Exemplo: Pagamento de aluguel ou financiamento. 6 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Fundo de direito: Nele existe a constituição de um núcleo que cria um direito e obrigações verificadas em períodos para uma pessoa em razão da modificação da sua qualificação jurídica para com o Estado. Exemplo: Aposentadoria. Exercícios 1. Explique o que é uma obrigação e porque suas normas são pouco mutáveis. Obrigação é o negócio jurídico que tem particularidades obrigacionais, é toda relação jurídica entre duas pessoas que tenha conteúdo econômico imediato. Nela o credor pode exigir uma prestação de um determinado devedor. Suas normas são pouco mutáveis por prestigiar a segurança jurídica das relações econômicas (circulação de bens e riquezas). Quando existente, a mudança está relacionada à evolução econômica. 2. Explique no que consiste o vinculo jurídico de uma obrigação e sua importância prática, fazendo comparação com a obrigação natural e moral. O vínculo jurídico de uma obrigação se divide entre débito (referente ao dever, coação jurídica em relação ao devedor quanto ao cumprimento da obrigação) e responsabilidade (possiblidade de manejo de ação judicial contra o devedor caso ele não cumpra a prestação convencionada). Sua importância prática é de conferir exigibilidade a essa obrigação, compelir o devedor a cumprir obrigação após a sua devida constituição. Na obrigação natural há a existência do vinculo entre pessoas, mas não possui o efeito jurídico necessário para compelir a parte a cumprir as suas obrigações. Já a obrigação moral não tem o vinculo com nenhuma outra pessoa, pois a necessidade de cumprir determinada obrigação parte dos valores intrínsecos a cada pessoa, não possuindo, portanto, força jurídica para exigir que a obrigação seja cumprida. 3. Explique a importância de se reconhecer determinada obrigação como sendo de eficácia real. A obrigação de eficácia real é um fenômeno de direito obrigacional pessoal que atinge terceiros. Estes precisam aceitar se vincular a essa obrigação que não foi criada por eles. 4. Qual é o efeito pratico de se diferenciar, quanto ao exercício do direito pelo sujeito ativo, uma obrigação propter rem de uma obrigação pessoal (teoria geral das obrigações)? Na obrigação pessoal a exigência da prestação é feita de forma direta entre credor e devedor que convergiram vontades para criar aquela obrigação. Já na obrigação propter rem o credor se volta contra quem detém a coisa, independentemente do momento em que essa obrigação foi constituída, 7 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3ºtermo pois o que interessa é quem está naquele momento exercendo domínio sobre a coisa. 5. Considerando a teoria geral das obrigações assinale a alternativa INCORRETA: a) O Brasil adota a teoria dualista obrigacional, isto é, existe diferenciação entre débito e responsabilidade; b) O sujeito ativo/passivo não pode ser pessoa incapaz; Desde que representado ou assistido, ou emancipado, pois atingiu capacidade civil plena. c) A pouca mutabilidade das relações econômicas representadas pela positivação das normas obrigacionais tem a finalidade de fomentar a lucratividade das empresas; Tem a finalidade de garantir a segurança jurídica das relações econômicas. d) O objeto da obrigação sempre será uma coisa individualizada com conteúdo econômico. 6. Jorge é proprietário de uma casa no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), ele é casado com Maria sob o regime de comunhão parcial de bens o que implica dizer que a casa é metade dela e metade dele. Jorge não paga o IPTU (imposto sobre a propriedade) e ambos são demandados pelo Município. Jorge vende a casa para Pedro que ingressa na ação se defendendo falando que a responsabilidade pela dívida é de Jorge. O juiz não acolhe a defesa de Pedro, razão pela qual permanece na condição de réu. Ato contínuo penhora ações de Pedro para o pagamento da dívida e exclui Jorge da ação. O juiz agiu corretamente quanto à penhora e exclusão de Jorge da ação? Explique. Sim, o IPTU é uma obrigação propter rem, portanto é transferida com a titularidade do bem e qualquer pessoa que o suceda na posição de proprietário ou possuidor assumirá tal obrigação ainda que não saiba de sua existência. De acordo com o artigo 130 do CNT, “os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação”. Obrigação de dar coisa certa Conceito: Trata-se da modalidade de obrigação em que o devedor presta uma conduta de entregar ou restituir coisa ao credor com conteúdo econômico. A coisa certa pode ser definida por três características, sendo elas: a) Gênero (o que é, qual bem/objeto); b) Quantidade (o quanto do bem será entregue); c) Qualidade (qual, permite individualizar a coisa em relação as demais, distinguir). Exemplo: Entregar um (quantidade) notebook (gênero) LG de processador AMD com 4GB de memória (qualidade). Quando não há qualidade temos uma coisa incerta. Existem coisas que serão mais certas do que outras, tudo depende do que se pretende fazer. Modalidades: a) Entregar: O devedor é o proprietário da coisa. O credor, querendo a coisa, fará a contraprestação para a propriedade ser transferida 8 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo (transferência mediante contraprestação). Pressupõe transferência de propriedade. Exemplo: Venda, troca. . b) Restituir: O credor é o proprietário da coisa. Ele empresta a coisa ao devedor que tem a conduta (obrigação) de restitui-la ao proprietário. Pressupõe devolução de posse. Exemplo: Empréstimo, depósito, crédito. Objeto: A obrigação de dar coisa certa é modalidade típica da obrigação prevista no Código Civil. No entanto, em que pese ser específica, segue as regras da teoria geral, ou seja, precisa respeitar licitude, determinação, possibilidade e conteúdo econômico. Somada a essas características tem-se a certeza. Hipóteses que, juridicamente, o devedor tem para satisfazer a entrega ou restituição da coisa certa: 1. Bem móvel: A transferência de propriedade se dá pela tradição. a) Tradição real – Efetivamente entrega o bem para o credor. b) Tradição simbólica – Pratica um ato de simbolismo quanto a entrega. Exemplo: Entrega das chaves de um carro. 2. Bem imóvel: A transferência de propriedade se dá pelo registro no cartório de imóveis. a) Tradição ficta – Ocorrido o fato descrito na lei (registro), admite-se a tradição (entrega) presumida. - Constituto possessório ou cláusula constituti – A pessoa possuía o imóvel em nome próprio e passa em nome alheio. Exemplo: Proprietário de um imóvel que vende para outra pessoa, mas se mantém como locatário (se mantém possuidor, mas não mais proprietário). - Tradição brevi mano – A pessoa possuía o imóvel em nome alheio e passa a possuir em nome próprio. Adquirir a propriedade consolida a situação que ele tinha sobre a coisa. Exemplo: Locatário que adquire a residência. - Tradição longa mano – A pessoa não exercia posse nem propriedade sobre o bem adquirido. Nunca teve contato com o bem, mas a partir do registro entra em contato. Com a relação jurídica, adquire ambos os direitos. 3. Extensão: O que deve ser dado deve ser constado no contrato. O acessório segue o principal, com exceção da(s): a) Previsão expressa em sentido contrário no contrato. b) Circunstâncias do caso concreto. 4. Premissas: a) Na obrigação de entregar o proprietário da coisa é o devedor. b) Na obrigação de restituir o proprietário da coisa é o credor. c) A coisa sempre perece para o proprietário. d) A coisa sempre acresce para o proprietário. e) A coisa sempre dá frutos para o proprietário. f) O credor não é obrigado a receber coisa diversa da contratada. 9 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo g) O credor não é obrigado a receber de forma parcelada. Vigora o princípio da indivisibilidade do objeto, a coisa precisa ser cumprida de forma integral. h) A culpa é sinônimo de perdas e danos. Responsabilidade, que gera indenização no ponto de vista civil. i) Ausência de culpa é sinônimo de ausência de responsabilidade (desfazimento da relação jurídica). j) Em caso de descumprimento obrigacional com culpa, a satisfação da obrigação se dá pelo seu conteúdo econômico. É importante definir o conteúdo econômico para saber o valor da indenização para cumprimento da obrigação. Responsabilidade do devedor antes de cumprir a tradição Tipo de obrigação Perda com culpa Perda sem culpa Deterioração com culpa Deterioração sem culpa Entregar Como há culpa, há responabilidade. Equivalente (valor econômico) + perdas e danos. Exemplo: Sujeito tinha a obrigação de entregar o celular, mas o perdeu com culpa. Por conta disso, o credor perdeu ligações e consequentemente clientes. O valor dessa perda de clientes deve ser devolvido também. h) Como não há culpa, não há responsabilidade. Desfaz a obrigação (resolve). Retorno ao status quo ante. Ausência de relação jurídica entre as partes. Exemplo: Sujeito tinha a obrigação de entregar o celular, mas roubaram. i) O bem perde valor econômico com a deterioração. Bem deteriorado + perdas e danos + valor da deterioração. Ou equivalente + perdas e danos. Exemplo: Sujeito tinha a obrigação de entregar o celular, mas ele o derrubou e quebrou. Não teve intenção, mas o ato partiu dele. f) Como não há culpa, não há responsabilidade. Desfaz a obrigação. Exemplo: Sujeito tinha a obrigação de entregar o celular, mas alguém esbarrou nele e esse quebrou. i) Restituir Como há culpa, há responabilidade. Equivalente + perdas e danos. Exemplo: Sujeito fez uma ultrapassagem errada com o carro emprestado e capota, causando uma perda total do bem. h) Como não há culpa, não há responsabilidade. Desfaz a obrigação. Exemplo: Sujeito usando o carro emprestado sofre um acidente com o carro por culpa de um terceiro, causando perda total do carro. i) O bem perde valor econômico com a deterioração. Bem deteriorado + perdas e danos + valor da deterioração. Ou equivalente + perdas e danos. Exemplo: Sujeito fez uma ultrapassagem errada com o carro emprestado e sofre acidente causando deterioraçãono para- choque. f) Como não há culpa, não há responsabilidade. Devolução do bem no estado em que se encontra. Exemplo: Sujeito usando o carro emprestado sofre um acidente com o carro por culpa de um terceiro que ultrapassa errado, causando deterioração no para-choque. c) 10 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Acréscimo: A coisa sofre uma incorporação (aumenta de tamanho ou valor). Quando ocorre o emprego de ação humana, como da construção ou plantação que se faça sobre o solo, é chamado de acréscimo artificial. Quando ocorre por evento da natureza é chamado de natural. Melhoramento: A coisa é melhorada. As benfeitorias são coisas que melhoram o imóvel, podendo ser: necessária quando se destina a manutenção do bem ou o seu uso regular (por exemplo, reparos no telhado), útil quando agregam uma utilidade que o bem não possuía, otimiza o bem (por exemplo, sistema de segurança, piscina) e voluptuária quando embeleza o bem. Acréscimo Melhoramento Tipo de obrigação Natural Artificial (boa-fé) Artificial (má fé) Boa fé Má fé Entregar O acréscimo pertence ao devedor (proprietário) que tem direito ao complemento do preço (aumento do valor). Caso o credor se recuse a complementar, desfaz a obrigação. O acréscimo pertence ao devedor que tem direito ao complemento do preço. Caso haja recusa do credor, desfaz a obrigação. Exemplo: Pessoa vende fazenda e entre a venda e a entrega constrói um depósito para feno. O devedor tem direito de complemento do preço anteriormente exigido. Não há. Inadimpleme nto especifico. Qualquer melhoramento pode ser exigido do credor. Caso haja recusa no complemento do preço, desfaz a obrigação. Exemplo: Pessoa vende casa e entre a venda e a entrega coloca piscina e cerca elétrica. O devedor tem direito de complemento do preço anteriormente exigido. Não há. Inadimplemento especifico. Não se analisa intenção na culpa, intenção é dolo! Devedor está de boa fé no imóvel se existe autorização de ele estar lá. 11 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Acréscimo Melhoramento Tipo de obrigação Natural Artificial (boa- fé) Artificial (má fé) Boa fé Má fé Restituir O acréscimo natural pertence ao credor (proprietário da coisa). O devedor não concorreu com nenhum tipo de despesa para esse acréscimo. O acréscimo pertence ao credor, mas deve indenizar as despesas do devedor. O credor não pode enriquecer sem causa. Exemplo: Sujeito viaja a trabalho e deixa a posse com alguém. Para otimizar a colheita, essa pessoa constrói um barracão (emprego de ação humana). Não há direito sobre acréscimo de má-fé. Exemplo: Sujeito invade a propriedade e faz um pomar. O devedor tem direito: - Necessária + retenção (Dado ao possuidor em relação ao proprietário quanto a valores que eram indispensáveis a coisa. Enquanto o credor não ressarcir o devedor, este pode reter a coisa até o momento da indenização); - Útil; - Voluptuária (Desde que não possa ser levantada e haja previsão no contrato). Exenplo: Sujeito aluga o imóvel e durante o aluguel ele refez o telhado, colocou instrumentos de segurança e um jardim. O devedor tem direito apenas a necessária, já que teria ser feita pelo proprietário de qualquer forma, mas não terá direito de retenção Exemplo: Pessoa mora de aluguel, o contrato acabou e essa continua com a posse. Nesse tempo ela teve que consertar o sistema hidráulico. Frutos: Utilidades que a coisa principal periodicamente produz cuja percepção não desnatura sua substância (inalterabilidade e separabilidade da coisa). É um acessório do principal que ao ser separado deste se torna um bem principal, sujeito às regras de aquisição de propriedade. Eles são classificados, quanto à origem, em: a) Naturais: Decorrem de eventos da natureza, sem intervenção humana. b) Industriais: Decorrem da intervenção humana e manufatura. Pegar um produto e transforma-lo. c) Civis: Rendimentos. Do aluguel, arrendamento e etc. Quanto ao período em que eles se destacam da coisa principal eles são classificados como: a) Pendentes: Se conservam na coisa até a colheita (após da tradição). b) Percebidos: Aqueles destacados da coisa (antes da tradição). 12 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo c) Futuros: Não se consegue determinar o período em que serão destacados, mas são após os frutos pendentes. A principal diferença entre um fruto e um produto é que, enquanto um fruto não desnatura a coisa principal, o produto desnatura. A retirada do produto da coisa principal ocasiona a desnaturação e o desaparecimento desta. Exemplo: Minas de carvão. Fruto Tipos de obrigação Boa-fé Má-fé Pendente (pós- tradição) Percebido (pré- tradição) Pendente Percebido Entregar O credor que está comprando ao receber a coisa (tradição) passa a ser proprietário dos frutos que serão colhidos. Os frutos colhidos antes da entrega são do devedor, já que este é proprietário antes da entrega. Não há. Não há. Restituir O devedor está com a coisa e terá que devolver. O fruto é colhido após a devolução, portanto pertence ao credor. Quando o devedor devolver a coisa, o credor vai ter a propriedade e a posse. O devedor está possuindo a coisa, e o fruto colhido antes da restituição pertence a ele. Requisitos: Ele tem a posse de boa-fé; Tradição simbólica de boa-fé ao tirar o fruto do principal se torna sua propriedade; e uma espécie de remuneração pelo exercício da posse. O Código Civil não protege má- fé, portanto os frutos pertencem sempre ao credor proprietário. * O Código Civil não protege má- fé, portanto os frutos pertencem sempre ao credor proprietário. * * Seja de boa-fé ou de má-fé, o devedor tem direito as despesas de produção de custeio desses frutos na propriedade do credor. O credor deverá o indenizar. Exercícios 1. João comprou de Guilherme uma moto pelo preço de R$ 2.000,00 (dois mil reais). O preço foi pago e a moto terá que ser entregue no dia 23/03/2015. No dia 22/03/2015 a moto foi roubada de dentro da residência de Guilherme. O que João pode exigir de Guilherme? Tratando-se de obrigação de dar coisa certa em que a coisa perece antes da tradição sem culpa, resolve a obrigação com o retorno ao status quo ante. Pelo fato de já ter sido pago o valor, a resolução da obrigação implica em devolução do dinheiro pago. Ausência de relação jurídica entre as partes. 2. Pedro emprestou para seu amigo Diego um pomar, pois viajaria ao exterior a trabalho. Pedro somente retornará a sua propriedade no dia 05/07/2015. Até a data anteriormente mencionada Diego colheu 20 maças e 30 laranjas. No entanto, ainda ficaram 30 maças e 10 laranjas a serem colhidas. No dia combinado Diego 13 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo devolveu o Pomar a Pedro. Quais os direitos de Pedro e Diego? Tratando-se de obrigação de restituir coisa certa e estando Diego de boa fé na posse do imóvel, os frutos colhidos são do possuído (devedor, Diego), e os frutos pendentes que serão colhidos após a devolução são do proprietário (credor, Pedro). Serão 20 maçãs e 30 laranjas para o Diego e 30 maçãs e 10 laranjas para Pedro. 3. Chico invadiu (sem o consentimento) a propriedade de José. Lá construiu uma fábrica de botões para desenvolvimento de atividade industrial no valor de R$ 500.000,000 (quinhentos mil reais). José tomou conhecimento da invasão e conseguiu, através do Poder Judiciário, ter sua propriedade de volta. Qual é o direito de Chico, ou seja, o que ele pode exigir de José? Tratando-se de uma obrigação de restituir coisa certa emque o possuidor está de má fé e tendo construído uma acessão no local, não há qualquer tipo d indenização. Chico não tem direito a fábrica ou ao dinheiro investido (não há direito sobre acréscimo de má-fé). 4. João emprestou seu relógio para Guilherme no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pois este participaria de um evento de grande importância. Guilherme ingeriu muito álcool e quebrou o relógio de João, após cair nas escadas do salão de festas. Qual o direito de João? O Tratando-se de obrigação de restituir coisa certa, a coisa pereceu por culpa do devedor, tendo João o equivalente mais o valor das perdas e danos ou o bem deteriorado mais perdas e danos e o valor da deterioração. 5. João vê uma casa abandonada no centro da cidade e resolve invadi-la para moradia própria. Faz reformas no telhado no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), uma piscina no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e pendura vários quadros nas paredes no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Pedro, proprietário da casa obtém no Poder Judiciário sua casa de volta. Qual o direito de João? Tratando-se de obrigação de restituir coisa certa em que o possuidor está de má fé no imóvel, ele só terá direito do valor do telhado por se tratar de uma benfeitoria necessária. 6. José aluga uma casa cujo proprietário é Diego pelo prazo de 12 meses. Um vendaval destrói parte do telhado no segundo mês de locação. José refaz o telhado no valor de R$ 9.000,00 (nove mil reais). Passados os 12 meses Diego exige a casa de volta. Quais são os direitos de José? Tratando-se de obrigação de restituir coisa certa em que o possuidor está de boa-fé, ele tem direito de receber o valor da benfeitoria necessária e do direito de retenção enquanto não for indenizado. 7. Acerca das obrigações de dar assinale a opção correta: a) Quando se tem a modalidade restituir, o credor (sujeito ativo) não é o proprietário do bem; O credor é o proprietário na obrigação de restituir. b) Tratando-se de obrigação de entrega de coisa certa, a obrigação será extinta caso a coisa se perca sem culpa do devedor, antes da tradição ou mediante condição suspensiva; 14 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo c) As benfeitorias voluptuárias podem sempre serem levantadas, desde que esteja o devedor (sujeito passivo) de boa-fé; As benfeitorias voluptuárias não podem sempre serem levantadas quando isso implicar em destruição da coisa principal, ainda que de boa fé. d) A acessão natural gera para o devedor o dever de indenizar o credor na obrigação de restituir. Não gera dever de indenizar. Obrigação de dar coisa incerta Conceito: Trata-se da modalidade típica da obrigação na qual o devedor presta uma conduta de entregar uma coisa, após a sua identificação, para o credor, com conteúdo econômico. Só se manifesta pela obrigação de entregar. A incerteza é uma característica momentânea. O ato de concentração é o fenômeno jurídico pela qual se identifica a coisa (retirada da incerteza). Conteúdo: Não basta para a individualização da coisa, a mera escolha. É preciso que o sujeito obrigacional pratique um ato posterior a escolha, que seria o ato de comunicação do sujeito contrário. A concentração é o ato pela qual as partes transformam a obrigação de dar coisa incerta em obrigação de dar coisa certa. A comunicação da escolha da coisa deve ser inequívoca e pessoal. Não pode haver dúvidas quanto à ciência sobre a escolha realizada pelos sujeitos obrigacionais. Direito de escolha: Estabelecer-se-á a quem pertence o direito de escolher a coisa que será individualizada. a) Titular: Pertence a quem está descrito no título obrigacional. Credor, devedor ou terceiro. Em caso de omisso do título obrigacional a regra do CC é de que pertence ao devedor. b) Prazo: É aquele que estiver descrito no título obrigacional. Na omissão do título obrigacional, aplica-se a regra do CPC de prazo de contestação (15 dias). Quando o sujeito obrigacional, titular do direito de escolha, perde o prazo, o direito de escolha é transferido ao outro sujeito obrigacional. O prazo que ele tem é de 15 dias ou aquele que conste no título, a partir da transferência para realizar a escolha. Caso haja transferência e o novo titular não exerça a escolha no prazo, a consequência jurídica seria reverter novamente para o outro sujeito obrigacional ou o juiz decidir sob pena de perpetuação do conflito. As obrigações podem se iniciar incertas e tornar-se certas. Exemplo: Nas vendas de gados para reprodução as partes geralmente se vinculam antes da escolha para deixar determinado que existe uma obrigação entre elas. Para ser incerta o credor não pode ter definido as qualidades, apenas o gênero e quantidade. Depois da escolha dos gados, a coisa que era incerta passa a ser certa e o devedor é obrigado a entrega-los. 15 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo c) Limites da escolha: Art. 244 CC. Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. O devedor pela boa fé deverá escolher a coisa intermediária (mediana). A aplicação desses limites possui duas correntes, sendo elas: - Legalista. O código menciona somente o devedor, razão pela qual referida limitação não se impõe aos demais titulares do direito de escolha. - Valorativa. Aplicação do princípio da igualdade. Os limites são para todos os titulares do direito de escolha. d) Efeito: Ocorrida a concentração a obrigação se transforma em coisa certa. A concentração retroage a obrigação desde o momento da constituição, como se obrigação fosse de dar coisa certa desde o momento da constituição. e) Perda ou deterioração da coisa antes da concentração: O gênero nunca perece enquanto a obrigação não se transformar em coisa certa. Sempre terá alguma coisa para ser concentrada. Exemplo: Obrigação de entregar 30 touros, porém raio mata todos eles. Continua a obrigação de entrega-los. f) Perecimento de gênero limitado: Aquele que sofre limitação por questões territoriais e de espaço tempo (geográficas ou paliativas). Enquanto perdurar/existir o gênero, aplica-se a regra de que ele nunca perece. Se o gênero limitado se perder por completo aplicam-se as regras da obrigação de dar coisa certa. Exemplo: Obrigação de entregar touros de fazenda específica, obrigação de entregar carro da garagem de um famoso. Todos os touros ou todos os carros de perderam por conta de um raio, como o sujeito não teve culpa a solução é restituir o dinheiro e desfazer a obrigação. Exercícios 1. João comprou de Guilherme uma moto sem especificação inicial, pelo preço de R$ 2.000,00 (dois mil reais). O preço foi pago e a moto terá que ser entregue no dia 23/03/2015. No dia 22/03/2015 a moto foi roubada de dentro da residência de Guilherme. O que João pode exigir de Guilherme? Tratando-se de obrigação de dar coisa incerta visto que não tem especificação inicial. João pode exigir de Guilherme a moto, o cumprimento da obrigação. Se houvesse concentração a obrigação é de dar coisa certa, ocorrendo perda sem culpa e desfazendo a obrigação. Se a moto pertencesse a gênero limitado e se perdesse por completo a obrigação seria desfeita, e se ainda existisse manteria a obrigação de entrega da moto. 2. Explique o fenômeno da concentração. A concentração é o ato pela qual se individualiza a coisa, se transforma o regime jurídico da obrigação de dar coisa incerta para obrigação de dar coisa certa. A concentração precisa satisfazer dois requisitos, da escolha em que efetivamente se identifica qual a coisa a ser 16 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo entregue, e o ato de comunicação em que se dá ciência inequívoca para o sujeito obrigacional contrario de qual foi a coisa escolhida para ser entreguepara fins de satisfação da obrigação. 3. Explique a importância pratica do efeito da retroatividade da concentração. A retroatividade da concentração impõe que a obrigação seja considerada como certa desde o momento da constituição da obrigação. Obrigação de fazer e não fazer Obrigação de fazer é aquela na qual o devedor se compromete a praticar determinado ato ou atividade em proveito do credor. Pode ser a prestação de uma atividade física ou material, como fazer um reparo em máquina, pintar casa, levantar muro; uma atividade intelectual, artística ou científica como escrever obra literária, partitura musical, ou realizar experiência científica; ou até uma atividade cujo conteúdo é essencialmente jurídico, como a obrigação de locar ou emprestar imóvel, de realizar outro contrato etc. Apesar de semelhante, se difere da obrigação de dar. Se o devedor tem que dar ou entregar alguma coisa, não tendo, porém, de fazê-la previamente, a obrigação é de dar. Todavia, se, primeiramente, tem ele de confeccionar a coisa para depois entregá-la, tendo de realizar algum ato, do qual será mero corolário o de dar, tecnicamente a obrigação é de fazer. Na grande maioria das obrigações de fazer, é costume enfatizar que a pessoa do devedor é preponderante no cumprimento da obrigação, o que não ocorre nas obrigações de dar. Já a obrigação de não fazer é aquela na qual o devedor se obriga a se abster da prática de algum ato ou atividade. Exemplos: Obrigações de não fazer a obrigação do locador de não perturbar o locatário na utilização da coisa locada. Obrigação contraída pelo locatário de não sublocar a coisa. Obrigação do artista de não atuar senão para determinado empresário, ou para determinada empresa. Será lícita sempre que não envolva restrição sensível à liberdade individual. Exemplo: Obrigação de não casar, de não trabalhar, de não cultuar determinada religião. 17 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Tipos de obrigações Conceito Espécies Hipóteses de responsabilidade Urgência Fazer Trata-se da obrigação em que o devedor pratica um ato, atividade ou serviço em prol do credor. Ato: Ação humana única. Exemplo: Representar um cliente na audiência. Atividade: Conjunto de atos praticados pela ação humana pode ser contínuo. Exemplo: Patrocínio de esportistas. Serviço: Ação humana que altera a realidade sensível. Exemplo: Construção de muro. a) Personalíssima (infungível) na qual o devedor não pode ser modificado porque ele tem características peculiares, somente ele pode realizar a obrigação. b) Não personalíssima (fungível) na qual o devedor pode ser modificado para realizar a obrigação. Obrigação personalíssima: a) Descumprimento sem culpa - resolve a obrigação. Exemplo: Médico deixa de fazer cirurgia em paciente por ter sofrido acidente e quebrado a mão. b) Descumprimento com culpa: - cumprimento forçado + perdas e danos; - equivalente + perdas e danos. Em caso de urgência pode o credor praticar atos independentem ente de autorização judicial, que o devedor deveria praticar. Trata- se de regra de preservação de direitos (autotutela). Exemplo: Construção de muro para o cachorro do vizinho não quebrar. Obrigação não personalíssima: a) Descumprimento sem culpa resolve. b) Descumprimento com culpa: - cumprimento forçado + perdas e danos; - credor pode exigir o ressarcimento (devolução do dinheiro e pagamento do serviço realizado) + perdas e danos; - credor pode contratar outro devedor à custa do inadimplente + perdas e danos. Não fazer Trata-se da obrigação em que o devedor tem o dever de se abster de praticar determinado ato. Exemplo: Não ligar o som alto após as 22 horas. Somente existe a obrigação personalíssima. Somente o devedor específico tem o poder de abstenção, e ao não se abster (praticar o ato que não deveria) ele incide ao descumprimento obrigacional. Sempre personalíssima. a) Descumprimento sem culpa - resolve. Exemplo: Pessoa tenta invadir residência, alarme ativa e o dono da casa descumpre a regra de condomínio de não fazer barulho após as 22 horas. b) Descumprimento com culpa - equivalente + perdas e danos. Exemplo: Deixou o som ligado alto após as 22 horas, descumprindo a regra de condomínio. Em caso de urgência pode o credor praticar atos independentem ente de autorização judicial, que o devedor deveria praticar. Trata- se de regra de preservação de direitos (autotutela). 18 Bianca Marinelli – Direito Civil III – 3º termo Exercícios 1. Obrigação de fazer que envolva ato posterior de entrega para fins de cumprimento obrigacional, é regida por qual regra? A obrigação continua sendo regida pelas regras da obrigação de fazer, pois em que pese o ato posterior de entrega, o fazer é a conduta preponderante. Para realizar a entrega, era necessário ato inicial de fazer. O ato de entregar é considerado um ato de mero exaurimento da obrigação de fazer, ou seja, é seu pressuposto lógico. 2. Na ação de medicamento, qual seria o meio coercitivo adequado para forçar o Estado a fornecer o medicamento? Imposição de multa. 3. E se o Estado continua descumprindo? Nomeação de um interventor. Se mesmo assim não adiantar, pode o juiz determinar o bloqueio da conta pública. 4. João contratou Diego, artista de qualidades únicas, para pintar um quadro de seu filho recém-nascido pagando-lhe o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Diego delegou a obrigação a Rafael, seu discípulo. A obra foi entregue. João pode reclamar alguma coisa de Diego? Visto que se trata de uma obrigação de fazer personalíssima, Diego não poderia ter delegado. João pode exigir o cumprimento da obrigação por parte de Diego mais perdas e dano, ou ele pode exigir o equivalente mais perdas e danos. 5. Sobre as obrigações de fazer e não fazer assinale a alternativa incorreta. a) Impõe uma prestação positiva e um dever de abstenção do sujeito passivo ao sujeito ativo, respectivamente. b) Nas obrigações de não fazer, não é necessária tradição do conteúdo da obrigação. c) Ambas as obrigações foram responsáveis por significativas mudanças do CPC. d) O cumprimento da obrigação de não fazer sempre se dará com a prática do ato simples. Existem obrigações de não fazer que o ato é reiterado no tempo, mesmo que descumprido é necessário manter o cumprimento durante os demais períodos.
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