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Desenvolvimento Instrucional CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Gestão da Inovação PROFESSOR: ANTONIO IACONO Aula 6: Sistemas de Inovação Meta Nesta aula vamos apresentar a importância da construção de um sistema de inovação para a promoção das atividades inovativas das empresas. Objetivos O objetivo principal desta aula é o de apresentar o conceito de sistema de inovação e as principais abordagens que a literatura nos fornece. Para isso, vamos explorar os seguintes pontos: • Principais elementos de análise de um Sistema de Inovação (SI) • Abordagem de Sistema Nacional de Inovação; • Abordagem de Sistema Setorial de Inovação. Após esta aula, você será capaz de: • Caracterizar as diferentes abordagens de sistemas de inovação; • Compreender a importância da interação entre empresa, instituições e governo para a promoção da inovação em um país; | 2 Introdução Até o presente momento vimos que no processo de inovação a empresa atua como elemento-chave e que, apesar de fundamental, o sucesso no resultado não depende exclusivamente de seus fatores internos; ou seja, está atrelado também a fatores que são externos à empresa. Dentre os diversos fatores externos que influenciam no processo de mudança tecnológica, destacamos o Sistema de Inovação, foco desta nossa aula. Os estudos sobre sistemas de inovação recaem, em grande medida, na compreensão de como as inovações tecnológicas estão relacionadas com o crescimento e o desenvolvimento econômico. A discussão sobre este tema teve início a partir das observações do baixo crescimento econômico ocorrido no início da década de 1970 nos países industriais avançados e o desenvolvimento do Japão, com grande poder econômico e tecnológico. Tal contexto estimulou o debate no que se refere à capacitação tecnológica dos países mais industrializadas. A discussão deste tema intensificou-se com o desempenho acelerado, em termos de progresso técnico, de alguns países em desenvolvimento, como a Coréia do Sul e Taiwan. Estes países chamaram a atenção por conseguirem reduzir consideravelmente seu atraso tecnológico em relação aos países desenvolvidos no período pós-guerra. A atividade inovadora da empresa, que até então, era o elemento central de análise do progresso técnico, passou a ter uma visão sistêmica, a qual enfatiza a importância da ação coordenada de diferentes atores (universidades, empresas, instituições de pesquisa, instituições financeiras, órgãos governamentais de políticas públicas) no desempenho tecnológico dos países (Sbicca e Pelaez, 2006). Esta visão permitiu explicar as diferentes taxas de crescimento da economia entre os países e sua correlação com a inovação tecnológica. Posto isto, vamos apresentar neste breve capítulo o conceito de sistema de inovação, seus principais elementos de análise, e as principais abordagens que a literatura nos fornece. Espero que aproveite. Bom estudo! | 3 1. Sistemas de Inovação A abordagem dos sistemas de inovação é de suma importância pois nos permite descrever, compreender, explicar e influenciar os processos de inovação; ou seja, identificar fatores que moldam e influenciam as inovações. Mas, afinal, o que é um sistema de inovação? Um sistema de inovação pode ser definido como um conjunto de instituições públicas e privadas que contribuem nos âmbitos macro e microeconômico para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias (Sbicca e Pelaez, 2006). Esta definição nos leva a refletir sobre dois aspectos centrais percebidos: primeiro, a ideia de sistema, e segundo, o conceito de inovação. Para entendermos melhor o que é um sistema de inovação vamos entender melhor seus elementos constituintes. Comecemos pelo termo sistema. O sistema pode ser entendido como um conjunto de componentes econômicos e sociais inter-relacionados, que contribuem na determinação do comportamento inovativo das empresas. A interação é o fator-chave em um sistema. A inovação é definida em termos bem amplos. É o conjunto de atividades pelas quais a empresa produz novos produtos ou processos produtivos. Quanto às instituições, referem-se a todas as regras e normas consolidadas, e leis que regulam a interação entre os indivíduos. As instituições são importantes, pois reduzem as incertezas e o montante de informações necessárias para as ações e escolhas, permitindo o acúmulo e a transferência de conhecimento. As universidades, bancos, institutos de pesquisa (públicos ou privados) são aqui considerados organizações. As definições acima nos permitem entender que a análise do processo de inovação, só pode ser feita quando focalizamos o todo, ou seja, o sistema, e não somente as partes que o compõem. Em outros termos, significa dizer que a análise do comportamento isolado de uma empresa não será suficiente para o entendimento da dinâmica do processo de inovação, já que a empresa não inova de maneira isolada. Ao contrário, a estratégia de inovação adotada pela firma é influenciada por instituições que constituem incentivos e limites à | 4 inovação — como leis, políticas governamentais, comportamentos culturais, regras sociais e normas técnicas. Ao mesmo tempo, o processo de inovação envolve outros agentes além da firma inovadora — como aqueles relacionados ao consumo, ao financiamento e à regulação da tecnologia, assim como aqueles envolvidos na produção e na difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos de apoio, como as universidades e os centros de pesquisa. Vamos agora apresentar os principais elementos de análise de um sistema de inovação. a) Interação De uma maneira mais abrangente, a inovação pode ser vista como um processo em que as empresas introduzem novas práticas, produtos e processos que são novos para elas. A inovação, nesse sentido, é consequência de um processo que só pode ser analisado quando se leva em conta seu caráter interativo. É interativo ao entendermos que envolve uma relação entre diversos atores tais como empresas, agências governamentais, universidades, institutos de pesquisa, agentes financeiros, dentre outros. Nessa rede de relações podemos destacar três elementos-chaves: (i) as universidades e centros de pesquisa, (ii) o Estado e (iii) as empresas. As universidades e centros de pesquisa, bem como o Estado caracterizam-se por terem como atividade principal a pesquisa básica, ou seja, não tem por objetivo uma aplicação produtiva imediata. As empresas, diferentemente, caracterizam-se pela pesquisa aplicada, ou seja, voltada para soluções de um determinado setor produtivo. Isto implica necessariamente um comportamento orientado pelo lucro, o que não se observa quando das universidades, que se caracterizam pela "pesquisa por excelência", sem objetivos financeiros diretos. O Estado, nesse contexto, pode ser visto como o agente coordenador do sistema, e tem como propósito promover a capacitação tecnológica através de demandas governamentais, da definição de diretrizes para o sistema, da geração de infraestrutura necessária para que ocorra a interação entre os | 5 agentes, e de uma Política de Ciência e Tecnologia (C&T) adequada às diretrizes de desenvolvimento do país, da região ou do setor (Sbicca e Pelaez, 2006). A articulação desses atores acaba gerando um efeito sinérgico fundamental ao progresso técnico, na medida em que provoca uma síntese positiva das forças produtivas necessárias à inovação tecnológica. b) Dinâmica A dinâmica do sistema é resultado da complexa interação entre seus componentes. Vale lembrar que a inovação não é mais entendida como um processo linear que percorre o caminho da pesquisa básica à pesquisa aplicada, e depois para o desenvolvimento e implementação na produção. A inovação envolve mecanismos de feedback e relações interativas entre a ciência,a tecnologia, o aprendizado, a produção, a política e a demanda. A cadeia de causa e efeito, tem seu início com a P&D e termina com o aumento da produtividade, mediada pela interação da geração e da difusão da tecnologia, insere-se num contexto mais complexo no qual os componentes do sistema combinam-se de modo a incentivar ou bloquear os processos de aprendizagem e de inovação. c) Aprendizagem A aprendizagem, conforme já estudado em capítulos anteriores está fortemente relacionada à capacidade de inovar; poderíamos dizer que é inerente à capacidade de inovar. Ela é tratada como uma atividade social que envolve interações entre pessoas, e que não se dá apenas através da educação formal e da atividade de P&D. A inovação é influenciada por diferentes tipos de aprendizado. Conforme visto na aula sobre Aprendizagem tecnológica, o aprendizado pode ocorrer através do aumento da eficiência das operações de produção (leaming-by-doing), através do aumento da eficiência do uso de sistemas complexos (leaming-by-using) e da interação entre usuários e produtores (leaming-by-interacting), resultando em inovações de produto. As ligações entre usuários e produtores podem ser expandidas para a aprendizagem e os fluxos de conhecimento das atividades de valor agregado da empresa. As ligações entre usuários e produtores podem ser encontradas | 6 na interface entre universidade e indústria e entre a indústria e alguns usuários finais da indústria, como trabalhadores e consumidores. Mas, a aprendizagem, por ser de caráter interativo e social, deve considerar o contexto cultural e o envolvimento de instituições. Sendo assim, a estrutura de análise do Sistema de Inovação deve ser sistêmica e interdisciplinar, na medida em que considera a influência de fatores institucionais, sociais e políticos, além dos econômicos. A capacidade de desenvolvimento tecnológico de empresas ou de países vai depender, em parte, do domínio do "estado da arte" das tecnologias já presentes. Tal consideração denota um aspecto cumulativo para a capacitação tecnológica; e, como consequência, podemos inferir que as empresas com maior probabilidade de gerar inovações são aquelas que se encontram mais próximas da fronteira tecnológica (Sbicca e Pelaez, 2006). d) Perspectiva histórica A perspectiva histórica é outra característica importante no que se refere à análise do sistema de inovação. Devemos considerar que um processo da mudança tecnológica, que parte da invenção técnica, passando pela transformação em uma inovação propriamente dita, e termina em sua difusão, leva longos intervalos de tempo. A trajetória tecnológica auxilia na compreensão dos aspectos que estimulam o processo de inovação. As especificidades do sistema de inovação são resultados de sua perspectiva histórica e também das instituições que o influenciaram ao longo do tempo. Portanto, quando se estuda um SNI que obteve êxito pode-se observar os elementos que contribuíram para este resultado. Todavia, tais experiências não podem ser, pura e simplesmente, transpostas para outros países, regiões ou setores, já que tais especificidades só se revelam ao longo de um processo histórico de formação. Nas seções adiante vamos apresentar três abordagens de sistema de inovação que a literatura dispõe: nacional, setorial; e local/regional. Passemos a cada uma dela agora. | 7 2. Sistema Nacional de Inovação Conforme já enfatizado, a abordagem conceitual de Sistema Nacional de Inovação (SNI) emergiu como uma das correntes dominantes de pesquisa do campo de estudos sobre inovação, com a preocupação de explicar o crescimento tecnológico em uma economia de forma mais eficaz. A crise, na década de 1980, do modelo de industrialização por substituição de importação, bem como a do Estado de suas políticas, contribuíram para a busca de um novo entendimento do crescimento e desenvolvimento econômico, nos países em desenvolvimento. São várias as definições de sistema nacional de inovação colocadas pela literatura, mas todas apresentam em comum a presença de instituições, das relações entre os diversos tipos de atores econômicos, e foco no conhecimento e na tecnologia. Seguem algumas definições dos principais autores sobre o tema. Para Freeman (1987), um SNI é uma rede de instituições públicas e privadas, cujas atividades e interações iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias. Para Lundvall (1992), compreende, fundamentalmente, os elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso de novos conhecimentos. Conforme Nelson e Rosenberg (1993) é o conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovador das empresas nacionais. Com a finalidade de um melhor entendimento do que é e de como funciona um sistema de inovação, passemos a um maior detalhamento, selecionando as interações entre organizações que surgem como as mais importantes em relação aos processos inovativos. Nesse sentido, os tipos de organização, considerados, que mais influenciam as atividades inovativas são quatro. As empresas, as universidades e institutos de pesquisa científica, as instituições financeiras, e o governo. Uma visão do sistema de inovação, com seus principais componentes é apresentada na Figura 1. Desenvolvimento Instrucional Figura 1: Visão sistemática do sistema de inovação Fonte: Malerba (2012) Clientes Fornecedores Empresa Inovadora Formação e pesquisa científica Políticas tecnológicas 1. instituições para pesquisa e transferência tecnológica: universidade; instituiçoes públicas para a pesquisa científica, institutos de pesquisa especializados. 2. Sistema educacional: educação profissional, educação secundária, qualificação universitária. Entidades governamentais a) Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. b) Ministério da Defesa, Transportes, Comunicação, Indústria c) Entidades locaisFornecedores 1. Núcleo oligopolista: fonte principal de financiamento privado para a pesquisa industrial. 2. empresas schumpeterianas: inovadores radicais ou de nichos, fornecedores de inovação. 3. redes de pequenas empresas. Sistema stock exchange based vs sistema bank-based Desenvolvimento Instrucional Duas importantes observações podem ser feitas pelas definições acima apresentadas. Na primeira, o entendimento de que a inovação vai além da empresa, e a importância de sua propagação no sistema econômico. Na segunda e terceira definições, o foco reside na importância das interações entre os agentes para a dinâmica da inovação, e no papel das instituições. Vale destacar também a importância de se colocar o Estado no papel central do processo de inovação (geração, difusão e uso) para o desenvolvimento econômico. Tais considerações conceituais vão ao encontro de uma conclusão central na literatura sobre inovação, já enfatizada, que afirma que as atividades de inovação dependem fortemente de fontes externas, ou seja, os inovadores raramente inovam isoladamente, comumente precisam trabalhar em conjunto com outras entidades para desenvolver uma inovação. Sendo assim, entendemos que qualquer que seja o processo de geração de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, ou de imitação e adaptação tecnológica, vai envolver uma ampla variedade de atores complementares, instituições públicas de pesquisa e treinamento, sociedades técnicas e sindicatos, entre outros. Nesse sentido, sistemas nacionais de inovação devem considerar, em sua constituição, as instituições e políticas voltadas para o aprendizado tecnológico. Essa caracterização refere duas diferentes abordagens de Sistema Nacional de Inovação, que vale a pena apresentar: a abordagem restrita e a abordagem ampla. A abordagem restrita de sistema nacionalde inovação tem como foco as empresas, instituições de pesquisa e universidades. Nos indicadores de Ciência e Tecnologia, destacam-se o P&D, patentes e artigos. Tal visão está relacionada ao modo STI (Science, Technology, Innovation) de inovação. Este modo foca a inovação baseada em esforços de P&D, sugerindo um modelo de inovação apoiado na experimentação (tipicamente em laboratórios), formalização e codificação do conhecimento identificado. No entanto, o modo STI constitui somente um dos pilares da aprendizagem e processo de inovação. | 10 No caso de a aprendizagem envolver conhecimento tácito e localizado, tem-se outro modo, o modo DUI (Doing, Using, Interacting), que é mais amplo. O modo DUI tem seu foco na aprendizagem interativa, através de relações com o ambiente externo. A abordagem ampla de SNI considera a presença de instituições sociais, regulação macroeconômica, a integração com o sistema financeiro, o desenvolvimento de um sistema educativo e de treinamento, e requer também a existência de infraestrutura e condições de mercado Lundvall,1992). Seja qual for a abordagem, é importante notar a importância, implícita, da construção de competências para a promoção do processo de inovação. Entende-se como crucial para os processos de aprendizagem, a criação de capacidades nas empresas e a formação de competências de pessoal. Em outros termos, pode-se afirmar que a inovação e a aprendizagem são o resultado de esforços que combinam instituições com uma estrutura socioeconômica. 3. Sistema Setorial de Inovação Apesar de o foco inicial dos estudos sobre SNI terem uma abordagem em nível nacional, tem-se também uma vertente setorial. Há um entendimento de que o sistema de inovação pode ser interpretado em nível setorial e não só nacional. Esta justificativa apoia-se no preceito de que o conhecimento é localizado e que a aproximação geográfica facilita a interação e é fundamental para a promoção do aprendizado e de um ambiente favorável aos processos de inovação (Lundvall et al.,2009) Os fundamentos do conceito de Sistema Setorial de Inovação (SSI) estão nas diferenças entre os setores nas formas de aprendizado e de mudança técnica, associadas à definição de regime tecnológico. Um sistema setorial de inovação (e produção) é composto por um conjunto de agentes heterogêneos que desenvolvem interações de caráter mercadológico ou não-mercadológico para a geração, adoção e uso de novas (ou já estabelecidas) tecnologias específicas e para a criação, produção e uso de novos produtos pertinentes a um setor (produtos setoriais). Os agentes que compõem um sistema setorial | 11 podem ser organizações (clientes, fornecedores, fabricantes, universidades, instituições financeiras, agentes governamentais, etc.) e indivíduos. Para os países em desenvolvimento, como o Brasil, abordagem setorial ganha muita importância, pois possibilita o entendimento de como as capacidades são desenvolvidas pelas empresas e setores no sentido de inovar e competir. O desenvolvimento de setores, a partir de escolhas acertadas, é fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Sendo assim, o SSI pode contribuir substancialmente para o desenvolvimento econômico, já que através desse modelo é possível identificar os elos faltantes, os gargalos na circulação do conhecimento e as causas de falhas no sistema. Deste modo, a especialização do SSI em setores mais dinâmicos tecnologicamente pode ser um fator determinante para o dinamismo econômico. Essa potencialidade do SSI tem justificado, cada vez mais a adoção desse modelo por países em desenvolvimento. Mas é importante enfatizar que para que isso ocorra, é também necessário a criação de instituições adequadas, uma coordenação do sistema e a existência de uma infraestrutura capaz de apoiar e promover os processos. A definição de SSI difere do conceito tradicional de setor, e é simples de se entender. Ao contrário da abordagem tradicional de setor, o sistema setorial de inovação analisa outros agentes além das firmas. Dentre os principais pontos, dessa diferenciação podemos destacar: • O sistema setorial privilegia o conhecimento e sua estrutura como elemento- chave. A base de conhecimento pode muito diferenciar-se através dos setores e afetar as atividades inovativas, organização e comportamento das firmas dentro de um setor; • São enfatizados aspectos-chave da empresa, tais como processo de aprendizagem, competências, comportamento e organização. • Importância do papel de organizações, tais como universidades, agentes financeiros, governo, e de regulações, padrões e mercado de trabalho. Estas | 12 características diferem fortemente entre os setores e afetam as atividades inovativas e produtivas das firmas; • Mecanismos de interações internas e externas à firma. Relações entre os agentes, sejam elas de mercado ou não. Em síntese, a noção de sistema setorial põe ênfase na estrutura do sistema, em termos de produto, agentes, conhecimento e tecnologia, e em sua dinâmica e transformação. Com igual ênfase, Oyeleran-oyeyinka e Rasiah (2009) apontam como elementos chave de um sistema setorial de inovação os agentes econômicos (atores) e as instituições (incluindo instrumentos e organizações), e identificam quatro pilares, conforme apresentados abaixo, necessários para direcionar a sinergia entre aprendizagem e inovação e dar sustentação ao processo de catching-up (aproximação da fronteira tecnológica). a) Estabilidade e eficiência: referem-se à infraestrutura básica eficiente, estabilidade macroeconômica e eficiência burocrática e segurança. Este pilar é essencial para os agentes operarem em qualquer setor. O foco neste pilar é também importante para a condução da aprendizagem e inovação. Implica em fornecer menores custos de transação para que seus agentes econômicos sejam mais competitivos. A instabilidade política e ineficiência burocrática podem enfraquecer severamente a capacidade das empresas a buscarem participação em atividades de alto valor agregado. b) Coesão: refere-se à conectividade entre os agentes econômicos e instituições, a interatividade e interdependência no fluxo de conhecimento entre pessoas, empresas e instituições. Para tal, é requerido o fornecimento de serviços tais como energia, serviços de telecomunicação, educação, instituições de capacitação, laboratórios de P&D, entre outros. c) Aprendizado e inovação: envolve a participação de agentes econômicos (indivíduos, empresas e instituições) que aprendem e inovam. A infraestrutura de alta tecnologia fornece o ambiente que estimula a aquisição de tecnologia seja através da aprendizagem, licenciamentos, adaptação e treinamento. O sistema de inovação reconhece que o | 13 aprendizado em suas mais diversas formas (por imitação, por busca, por interação, por treinamento, etc.). Embora todas essas formas sejam importantes, o sucesso no sistema de inovação é caracterizado pelo alto grau de aprendizagem interativa. Logo, a presença de instituições de alta tecnologia, incentivos (incluindo subsídios), empresas de capital de risco e organizações de normalização, é vital para a mudança de patamar de economia subdesenvolvida para uma economia madura. d) Integração global: refere-se à integração global através dos mercados e de cadeias produtivas globais. Mercados globais fornecem economias de escala e escopo e a pressão competitiva para inovar. Enquanto que a acumulação da aprendizagem e inovação abrem o caminho para posterior aprendizagem e conhecimento (acumulação criativa), a exposição em mercados globais conduz a uma substituição de tecnologias obsoletas e empresas, por novas. Nesse processo as empresas transnacionais podem contribuir substancialmente ao aprendizado. As considerações apresentadas acima nos levam a entender que a os sistemas nacionais de inovação esuas vertentes regionais e setoriais podem contribuir para o crescimento econômico em países em desenvolvimento. É importante salientar, embora não seja o foco desta aula, que o SNI deve ser visto, não apenas como um conceito, mas como uma ferramenta para formulação de políticas. Outro aspecto importante é que devemos considerar que, como essas abordagens são construídas a partir de experiências e análises em países desenvolvidos, sua aplicação em contextos mais críticos como os de países periféricos, devem superar barreiras e desafios de adaptação, já que a difusão de progresso técnico é desigual entre os países e regiões. A estratégia para um bom desempenho de aplicação de um SNI, passa por escolhas setoriais acertadas e por um conjunto de ações que promovam a capacidade de inovar. É relevante o papel ativo do Estado, a criação de uma cultura nacional de inovação (com seu entendimento sistêmico), e de igual importância, o fortalecimento de uma estrutura social e educacional. | 14 Atividades 1. O que é um sistema de inovação? Fale sobre os elementos que o constitui. 2. Qual é a importância do sistema nacional de inovação 3. Qual é o papel do Estado na promoção do sistema nacional de inovação? 4. Faça uma pesquisa em fontes que podem ser obtidas pela internet e analise como está constituído o sistema de inovação brasileiro. 5. Por que as experiências e análises de sistemas nacionais de inovação em países desenvolvidos não podem ser aplicados em países em desenvolvimento, como o Brasil? Conclusão Após a presente aula podemos concluir que o sistema de inovação representa uma importante variável externa à empresa, que influencia fortemente nos processos internos de aprendizagem e capacidade tecnológica, ou seja, nos resultados do processo de inovação. O desempenho das empresas inovadoras vai depender da intensidade e dos tipos de interações geradas no sistema nacional de inovação. Isto faz com que os sistemas de inovação sejam diferentes em termos de conectividade, ou seja, de eficácia na criação e transferência de conhecimento e das competências relevantes, e portanto, na promoção das atividades inovativas das empresas. Resumo Nesta aula pudemos mostrar que a inovação não é um processo isolado, é resultado de um processo interativo, que compreende diversos tipos de atores, em um conceito de sistemas de inovação. Os sistemas de inovação ganharam sua importância no estudo da inovação por auxiliarem na compreensão de como as inovações tecnológicas se relacionam com o crescimento e o desenvolvimento econômico. | 15 O conceito de SI nos permitiu entender que empresa não inova de maneira isolada, e que, portanto, a análise do comportamento isolado de uma empresa não será suficiente para o entendimento da dinâmica do processo de inovação. A estratégia de inovação adotada pela firma é influenciada por instituições, políticas governamentais, comportamentos culturais, regras sociais e normas técnicas. Vimos também que a análise de um sistema de inovação deve considerar o grau de interação e seus tipos, sua dinâmica, aprendizagem, e sua trajetória tecnológica em uma perspectiva histórica. Em seguida, pudemos ver que o sistema de inovação possui uma abordagem em nível nacional e setorial. Em ambas as abordagens é importante o papel do Estado, dos processos de aprendizagem e das instituições. Próxima aula Na próxima aula vamos falar sobre como deve se estruturar uma empresa para desenvolvimento das atividades inovativas. Quais características culturais e técnicas uma empresa precisa apresentar para desenvolver seus processos internos para inovar. Vamos identificar qual é o padrão de comportamento de uma empresa para inovação. Leitura recomendada PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Gulf Professional Publishing, 2005. PROENÇA, A. et al. Gestão da inovação e competitividade no Brasil: da teoria para a prática. Bookman editora, 2015. TIDD J, BESSANT J, PAVITT K. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2008. CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. São Paulo: Makron Books, 2011. | 16 Referências Bibliográficas FREEMAN, C. Technology policy and economic performance: lesson from Japan. London: Frances Pinter; 1987. FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Editora da UNICAMP, 2008. LUNDVALL, B. National systems of innovation: towards a theorem of innovation and interactive learning. London: Pinter; 1992. LUNDVALL, B.A., VANG, J., JOSEPH, K.J. e CHAMINADE, C. (2009), Innovation system research and developing countries, in LUNDVALL, A.B., JOSEPH, K.J., CHAMINADE, C. and VANG, J. (eds.) Handbook of Innovation Systems and Developing Countries. Building Domestic Capabilities in a Global Setting. Edward Elgar, Cheltenham, UK and Northampton, MA, USA. NELSON R.R. National innovation systems: a comparative analysis. New York: Oxford University Press; 1993. OYELERAN-OYEYINKA, B. & RASIIAH, R. (2009) Uneven Paths of Development. Innovation and Learning in Asia and Africa. Edward Elgar, Cheltenham, UK, Northampton, MA, USA. SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e inovação. Escolar Editora, 2014. SBICCA, A.; PELAEZ, V. Sistemas de inovação. Pelaez,V.; Szmrecsányi, T. Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Hucitec, p. 415-448, 2006. TEECE, D. Firm capabilities, resources and the concept of strategy. Economic analysis and policy, 1990.
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