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Mecanismos Microbianos de Patogenicidade PROF. DR. PAULO HENRIQUE R. MARTINS BRASÍLIA 2021 Introdução Agora que você tem um conhecimento básico de como os microrganismos causam as doenças, discutiremos algumas das propriedades específicas que contribuem para a PATOGENICIDADE, ou seja, a capacidade de causar doenças superando as defesas do hospedeiro, e a VIRULÊNCIA, ou seja, o grau ou a extensão da patogenicidade. Os micróbios não têm a intenção de causar doença; as células microbianas estão apenas se alimentando e se defendendo. Como os microrganismos infectam o hospedeiro Para causar doença, a maioria dos patógenos deve obter acesso ao hospedeiro, se aderir aos tecidos, penetrar ou evitar as defesas e danificar os tecidos do hospedeiro. Entretanto, alguns micróbios não causam doença pelo dano direto aos tecidos do hospedeiro. Em vez disso, a doença ocorre como resultado do acúmulo de excretas microbianas. Os patógenos podem infectar o corpo humano ou outros hospedeiros por várias vias, denominadas PORTAS DE ENTRADA. Portas de entrada Membranas mucosas Muitas bactérias e vírus têm acesso ao corpo entrando pelas membranas mucosas que revestem os tratos respiratório, gastrintestinal, geniturinário e a conjuntiva, a membrana delicada que recobre o globo ocular e reveste as pálpebras. O TRATO RESPIRATÓRIO é a porta de entrada mais fácil e utilizada com mais frequência pelos microrganismos. Micróbios são inalados para dentro da cavidade nasal ou boca em gotículas de umidade ou partículas de pó. As doenças comumente adquiridas através do trato respiratório incluem o resfriado comum, a gripe, a pneumonia, a tuberculose, o sarampo e a varíola. Portas de entrada Membranas mucosas – trato respiratório Portas de entrada Membranas mucosas Os microrganismos podem ter acesso ao trato gastrintestinal através de água, alimentos ou dedos contaminados. A maioria dos micróbios que entra no corpo por essa via é destruída pelo ácido clorídrico (HCl) e pelas enzimas presentes no estômago, ou pela bile e enzimas no intestino delgado. Aqueles que sobrevivem podem causar doença. Podem causar poliomielite, hepatite A, febre tifoide, disenteria amebiana, giardíase, shigelose (disenteria bacteriana) e cólera. São então eliminados nas fezes e podem ser transmitidos a outros hospedeiros pela água e por alimentos ou dedos contaminados. Portas de entrada Membranas mucosas – trato gastrointestinal Portas de entrada Membranas mucosas O trato geniturinário é a porta de entrada de patógenos que são sexualmente transmitidos. Alguns micróbios que causam infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) podem entrar no organismo através de membranas mucosas íntegras. Outros requerem a presença de cortes ou abrasões de algum tipo. Exemplos de ISTs incluem infecção pelo HIV, verrugas genitais, clamídia, herpes, sífilis e gonorreia. Portas de entrada Pele A pele é o maior órgão do corpo humano em termos de área de superfície e peso, sendo uma importante barreira defensiva contra doenças. A pele íntegra é impenetrável para a maioria dos microrganismos. Alguns micróbios podem ter acesso ao corpo através de aberturas na pele, como folículos pilosos e ductos sudoríparos. Além disso, as larvas de ancilóstomo podem perfurar a pele intacta, e alguns fungos podem crescer na queratina da pele ou infectar a pele em si. Portas de entrada preferenciais Muitos patógenos possuem uma porta de entrada preferencial que é um pré-requisito para serem capazes de causar doença. Se eles entram no organismo por alguma outra porta de entrada, a doença pode não ocorrer. Por exemplo, a bactéria que causa a febre tifoide, Salmonella typhi, produz todos os sinais e sintomas da doença quando engolida (via preferencial), mas se a mesma bactéria é esfregada na pele, não ocorre reação (talvez apenas uma leve inflamação). Portas de entrada preferenciais Portas de entrada preferenciais Números de microrganismos invasores Se apenas alguns micróbios penetrarem o corpo, eles provavelmente serão eliminados pelas defesas do hospedeiro. Entretanto, se um grande número de micróbios obtiver acesso ao organismo, o cenário está pronto para o desenvolvimento de doença. Assim, a possibilidade da ocorrência de doença aumenta à medida que o número de patógenos se eleva. Aderência Quase todos os patógenos apresentam algum mecanismo para se aderir aos tecidos do hospedeiro em sua porta de entrada. Para a maioria dos patógenos esse fenômeno, chamado de aderência (ou adesão), é uma etapa necessária para a patogenicidade. A aderência entre o patógeno e o hospedeiro é obtida por moléculas na superfície do patógeno, denominadas adesinas ou ligantes, que se ligam especificamente a receptores complementares de superfície nas células de certos tipos de tecidos do hospedeiro. Aderência Aderência Os microrganismos possuem a habilidade de se agrupar em grandes quantidades, aderir a superfícies e compartilhar os nutrientes disponíveis. Essas comunidades, constituídas por grandes quantidades de micróbios e seus produtos extracelulares que se aderem a superfícies vivas ou inanimadas, são chamadas de BIOFILMES. Exemplos de biofilmes incluem a placa dentária, as algas nas paredes de piscinas e a escuma que eventualmente se acumula em portas de chuveiros ou azulejos. Aderência Aderência Após a aderência, Shigella e E. coli induzem a endocitose como um veículo para penetrarem as células do hospedeiro e então se multiplicam em seu interior. O Treponema pallidum, o agente causador da sífilis, utiliza sua extremidade afilada como um gancho para se fixar às células do hospedeiro. A Listeria monocytogenes, que causa meningite, aborto espontâneo e nascimento de bebês natimortos, produz uma adesina para um receptor específico nas células do hospedeiro. Como os patógenos bacterianos ultrapassam as defesas do hospedeiro Cápsula A cápsula resiste às defesas do hospedeiro por impedir a fagocitose, o processo pelo qual certas células do organismo engolfam e destroem micro- organismos. A natureza química da cápsula parece impedir que a célula fagocítica se ligue à bactéria. Entretanto, o corpo humano pode produzir anticorpos contra a cápsula e, quando estes anticorpos estão presentes na superfície da cápsula, as bactérias encapsuladas são facilmente destruídas por fagocitose. Como os patógenos bacterianos ultrapassam as defesas do hospedeiro Cápsula Como os patógenos bacterianos ultrapassam as defesas do hospedeiro Cápsula Como os patógenos bacterianos ultrapassam as defesas do hospedeiro Componentes da parede celular A parede celular de certas bactérias contém substâncias químicas que contribuem para a virulência. O Streptococcus pyogenes, por exemplo, produz uma proteína resistente ao calor e à acidez denominada proteína M. A Neisseria gonorrhoeae cresce dentro das células epiteliais e dos leucócitos humanos. Essas bactérias usam suas fímbrias e outras proteínas externas, denominadas Opa, para aderir às células do hospedeiro. O ácido micólico que constitui a parede celular de Mycobacterium tuberculosis também aumenta sua virulência por resistir à digestão por fagócitos Como os patógenos bacterianos ultrapassam as defesas do hospedeiro Enzimas Essas substâncias químicas podem digerir o material entre as células e induzir a formação ou a degradação de coágulos sanguíneos, entre outras funções. As coagulases são enzimas bacterianas que coagulam o fibrinogênio no sangue. Cinases (ou quinases) bacterianas são enzimas que degradam a fibrina e assim digerem coágulos formados pelo organismo para isolar a infecção. A hialuronidase é outra enzima secretada por certas bactérias, como os estreptococos. Ela hidrolisa o ácido hialurônico, um tipo de polissacarídeo que une certas células do corpo, particularmente em tecidosconectivos. Como os patógenos bacterianos danificam as células do hospedeiro Utilizando os nutrientes do hospedeiro: sideróforos O ferro é necessário para o crescimento da maioria das bactérias. Entretanto, a concentração de ferro livre no corpo humano é muito pequena, uma vez que a maior parte do ferro está firmemente ligada às proteínas transportadoras de ferro, como a lactoferrina, a transferrina e a ferritina, assim como à hemoglobina. Para obterem ferro livre, alguns patógenos secretam proteínas denominadas sideróforos. Como os patógenos bacterianos danificam as células do hospedeiro Dano direto Uma vez que os patógenos se aderem às células do hospedeiro, eles podem causar danos diretos à medida que usam essas células para a obtenção de nutrientes e geram dejetos. Quando os patógenos metabolizam e se multiplicam nas células, elas normalmente se rompem. Muitos vírus e algumas bactérias e protozoários intracelulares que se desenvolvem dentro das células do hospedeiro são liberados quando as células se rompem. Como os patógenos bacterianos danificam as células do hospedeiro Produção de Toxinas Como os patógenos bacterianos danificam as células do hospedeiro Produção de Toxinas Como os patógenos bacterianos danificam as células do hospedeiro Produção de Toxinas Propriedades patogênicas dos vírus Mecanismos virais para evasão das defesas do hospedeiro Os vírus apresentam uma variedade de mecanismos que permitem a eles escapar de serem destruídos pela resposta imune do hospedeiro. Como exemplo, os vírus podem penetrar e crescer dentro das células do hospedeiro, onde os componentes do sistema imune não podem alcançá-los. Alguns vírus ganham acesso às células porque seus sítios de ligação mimetizam substâncias úteis a elas. Por exemplo, o sítio de ligação do vírus da raiva mimetiza o neurotransmissor acetilcolina. Como resultado, o vírus pode entrar na célula hospedeira juntamente com o neurotransmissor. Propriedades patogênicas dos vírus Efeitos citopáticos dos vírus A infecção de uma célula hospedeira por um vírus animal normalmente leva a célula à morte. A morte pode ser causada pelo acúmulo de uma grande quantidade de vírus em multiplicação, pelos efeitos de proteínas virais na permeabilidade da membrana plasmática da célula hospedeira, ou pela inibição da síntese de DNA, RNA ou proteínas celulares. Os efeitos visíveis da infecção viral são conhecidos como efeitos citopáticos (ECPs). Propriedades patogênicas dos vírus Efeitos citopáticos dos vírus Aqueles efeitos citopáticos que resultam na morte celular são chamados de efeitos citocidas, e aqueles que resultam em dano celular sem que ocorra morte são chamados de efeitos não citocidas. Os ECPs variam de acordo com os vírus. Uma das diferenças é o ponto no ciclo da infecção viral em que o efeito ocorre. Algumas infecções virais resultam em mudanças precoces na célula hospedeira; em outras infecções, essas mudanças não são visualizadas até estágios bem mais tardios. Propriedades patogênicas dos vírus Um vírus pode produzir um ou mais dos seguintes ECPs: Em algum estágio durante sua multiplicação, os vírus citocidas interrompem a síntese de macromoléculas dentro da célula hospedeira. Alguns vírus, como o Herpes simplex virus, bloqueiam irreversivelmente a mitose. Quando um vírus citocida infecta uma célula, ele faz com que os lisossomos celulares liberem seu conteúdo enzimático, resultando na destruição de componentes intracelulares e na morte da célula. Propriedades patogênicas dos fungos Fungos Alguns fungos possuem produtos metabólicos que são tóxicos ao hospedeiro humano. Nesses casos, entretanto, a toxina é apenas uma causa indireta da doença, uma vez que o fungo já está crescendo no hospedeiro ou sobre ele. Infecções fúngicas crônicas, como o crescimento de mofo em residências, provocam respostas alérgicas no hospedeiro. Propriedades patogênicas dos fungos Fungos Tricotecenos são toxinas fúngicas que inibem a síntese proteica em células eucarióticas. A ingestão dessas toxinas causa dores de cabeça, calafrios, náuseas fortes, vômito e distúrbios visuais. Essas toxinas são produzidas pelos fungos Fusarium e Stachybotrys, que crescem em grãos e em placas de madeira usadas na construção de casas. Propriedades patogênicas dos fungos Fungos Dois fungos que causam infecções de pele, a Candida albicans e o Trichophyton, secretam proteases. Essas enzimas podem modificar as membranas celulares do hospedeiro, permitindo a aderência do fungo. O Cryptococcus neoformans é um fungo que causa um tipo de meningite; ele produz uma cápsula que o auxilia na resistência à fagocitose. Propriedades patogênicas dos fungos Fungos Diversas outras toxinas são produzidas por fungos que crescem em grãos e outras plantas. Produtos originados do amendoim, por exemplo, ocasionalmente são recolhidos devido à presença de quantidades excessivas da aflatoxina, uma toxina que apresenta propriedades carcinogênicas. A aflatoxina é produzida durante o crescimento do fungo Aspergillus flavus. Quando ingerida, ela pode ser alterada no corpo humano em um composto mutagênico.
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