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UNIVERSIDADE TUITUI DO PARANÁ ARTHUR VECCHI ZARPELLON THIAGO DOMINGOS NODARI LIMA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E A REFORMA TRABALHISTA CURITIBA 2021 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO Historicamente a analise econômica do direito é de origem norte- americana, se baseou na Commom Law norte-americana, a doutrina majoritária afirma que ela tem quatro momentos históricos, o primeiro foi o do seu lançamento, que foi de 1957 à 1972, o segundo momento foi o da aceitação de seu paradigma, de seus preceitos, suas ideias, de 1972 à 1980, o terceiro momento foi o debate a cerca de seus fundamentos, de 1980 à 1982, e o quarto momento foi a sua ampliação, quando seus fundamentos se espalharam pelo mundo, então de 1982 em diante temos o seu desenvolvimento, à sua ampliação chegando até mesmo no Brasil. Para muitos o ponto inicial da analise econômica do direito foi um artigo sobre os custos sociais escrito pelo professor Ronald Coase, que foi publicado em 1960. Analise econômica do direito revê institutos e normas jurídicas, ou seja, reanalisa com visão de economista o nosso direito. Ela analisa os institutos jurídicos utilizando-se de preceitos econômicos, principalmente preceitos da microeconomia, como conceito de mercado, conceito de preço, mercado concorrente perfeito, mercado concorrente imperfeito, falha de mercado, falha de governo, teoria dos jogos. A análise econômica do direito também analisa as normas jurídicas sob a perspectiva dos estímulos, ou seja, dos custos de transação. É uma visão mais pragmática, mais realista do direito. Ela trabalha com um conceito de racionalidade econômica, ou seja, ela leva em conta que os indivíduos são agentes econômicos racionais e com isso ela consegue prever o que vai acontecer, ainda que essa racionalidade seja limitada. Conforme a Teoria Matemática do Caos, nós sabemos que é impossível prever o futuro, pelo menos de forma exata, mas a análise econômica do direito pelo menos nos incita, ela traz esse conceito para o agente econômico racional, ela leva em conta que os sujeitos, os indivíduos são pessoas que visam satisfazer interesses particulares, com base nesse conceito de racionalidade. Com base nisso, entendemos que a analise econômica do direito avalia as normas jurídicas tentando prever comportamentos, pegando o direito brasileiro e analisando seus projetos de lei na perspectiva dos quais efeitos e estímulos esse lei geraria. O direito e a economia têm três missões fundamentais destacadas pela doutrina. Ela analisa os efeitos das normas jurídicas, analisa a coerência das normas jurídicas, e analisa também se as soluções previstas vão atingir seus objetivos. Analisando e se preocupando com as consequências comportamentais, com as consequências das leis, das normas, das reformas, do comportamento do Estado. Ou seja, analisando as normas com base nos seus efeitos e estímulos no mundo da realidade. Esta é a visão consequencialista que fundamenta a analise econômica do direito, e que é muito útil para o direito brasileiro. Mas quando a analise econômica do direito e a economia se preocupa com essa visão consequencialista e realista acaba se distanciando de discursos morais, e então entra em rota de colisão com o direito brasileiro, que é o direito da Civil Law, o direito valorativo, que fala muito em dignidade da pessoa humana. No Brasil, a analise econômica do direito se aplica a todos os ramos do direito, hoje temos no Novo Código de Processo Civil o estudo da litigância eficiente, onde se analisa os custos e benefícios de um recurso para ver se vale a pena transacionar, reconhecer o pedido ou recorrer. É a litigância eficiente, uma litigância eficaz. Podemos fazer uma analise econômica da Constituição Federal, do direito administrativo, do processo penal, do principio da razoabilidade do processo civil dentre outros, até mesmo no direito internacional. Agora vamos analisar a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017) no escopo do fim da contribuição sindical obrigatória sob o prisma da analise econômica do direito. Veremos a confirmação do que foi dito anteriormente, onde quando o direito se entrelaça com a economia e prevê suas consequências, acaba gerando uma tensão quando deste direito versa sobre áreas sociais, e com o fim da contribuição sindical obrigatória, surgiu uma tensão entre os sindicatos e a Reforma Trabalhista. Dentre as profundas alterações trazidas pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), uma das mais sensíveis foi o término da contribuição sindical obrigatória. A principal fonte de receita das entidades sindicais sempre foi o chamado “imposto sindical”, ou seja, a contribuição sindical obrigatória. Para os trabalhadores, essa contribuição corresponde a um dia de salário por ano (art. 580, I da CLT), já para as empresas, o valor varia de acordo com o seu capital social, aplicando-se a tabela progressiva constante do art. 580, III da CLT. A mudança ocorreu unicamente no caput do art. 545 da CLT. Onde constava ressalva de desconto de contribuição sindical independentemente de autorização, foi escrito um texto sem menção à referida exceção. A partir da vigência da Lei nº 13.467/2017, o art. 545 da CLT passou a referir que “os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por este notificados.” Para alcançar seus propósitos, as associações sindicais precisam, obviamente, de arrimo financeiro e, para tanto, estão legalmente autorizadas a se valer de algumas fontes de custeio, assim identificadas pelo art. 548 da CLT: a) Contribuições devidas aos sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades, sob a denominação de contribuição sindical; b) Contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas assembleias gerais, sob as denominações contribuição confederativa, contribuição assistencial e mensalidades sindicais; c) Rendas produzidas por bens ou valores adquiridos, por exemplo, alugueis e rendimentos decorrentes de investimentos; d) Doação e legados; e) Multas e outras rendas eventuais. A contribuição Sindical era um suporte financeiro compulsório, de caráter parafiscal, previsto na parte final do art. 8°, IV, do Texto Constitucional e nos arts. 578 a 610 da CLT, e imposto a todos os trabalhadores e empregadores pelo simples fato de integrarem a categoria profissional ou econômica. A despeito do princípio da liberdade de sindicalização, previsto no Texto Constitucional (vide art. 8º, VII), a contribuição sindical foi exigida de associados e de não associados até o advento da reforma trabalhista de 2017. O STF, apesar de reconhecer que a manutenção dessa base de custeio sindical era um resquício do modelo corporativista que teimava em permanecer, manteve firme posicionamento no sentido de que ela foi recepcionada pela ordem constitucional. O argumento sempre foi o mesmo: o inciso IV do art. 8º da Constituição ressalvou a existência da contribuição sindical quando, ao mencionar a contribuição confederativa, resguardou a modalidade de custeio prevista em lei. É importante anotar que a persistência da contribuição sindical decorre do fato de ser ela uma importante fonte de custeio que independeu de qualquer esforço das entidades sindicais até a vigência da Lei 13.467/2017, que apenas retirou a sua compulsoriedade, mas não a eliminou. Assim dizia a CLT, antes da reforma: Art. 578. As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação do “imposto sindical”, pagas,recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo. Art. 579. A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591. Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar, da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano, a contribuição sindical por estes devida aos respectivos sindicatos. Com a reforma trabalhista, a redação passou a ser: Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas. Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação. Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017). O objetivo da reforma foi modernizar as relações de trabalho, a extinção da obrigatoriedade da contribuição, que permanece em vigor para aqueles que queiram contribuir, certamente fragilizou os sindicatos de fachada e também o cartorialismo sindical que mantem vivos os sindicatos que não representam a categoria, mas apenas o interesse de “dirigentes” que se perpetuam no poder. De outra parte não se pode admitir a exorbitante existência de mais de dezessete mil sindicatos, entre patronais e de empregados. Os empregadores assim ficaram obrigados a descontar em folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por esse notificados. Nota-se, com extrema clareza, que a contribuição sindical deixou de ser obrigatória tanto para as empresas como para os empregados, o que causou uma drástica perda de receita para as entidades sindicais. Alguns estudos apontam que houve uma perda de cerca de 90% da contribuição sindical no primeiro ano de vigência da reforma trabalhista. Assim, dois pontos ficaram suficientemente claros: A contribuição sindical não é mais obrigatória e depende, no caso da empresa, da sua exclusiva vontade de contribuir para o seu sindicato (categoria econômica). No caso do empregado, também depende de sua vontade, e, se quiser contribuir, deverá conceder autorização prévia e expressa à empresa para que esta realize o desconto e o repasse do valor ao Sindicato representativo da categoria profissional; A autorização deve ser individual, e não coletiva (para esta tese, repita- se, a análise se deu em medida liminar, dependendo ainda de confirmação quando do julgamento do mérito pelo STF). Para finalizar, cabe ressaltar que a situação das entidades sindicais poderia ter ficado ainda pior, caso tivesse sido voltada e aprovada a MP 873/2019, o que acabou não acontecendo. CONCLUSÃO Podemos notar com a aplicação da Análise Econômica do Direito, que se quisermos obter o fim desejado, devemos deixar de lado alguns aspectos morais e sociais, ela se limita tão somente a previsão econômica de determinada medida legal. Com a Reforma Trabalhista, ao passar pela análise econômica, alguns direitos acabam tendo que ser afetados, ou seja, ela cumpre o trabalho dela, mas não é verdade que todos os interessados venham a ficar contentes com isso. Foi isso que aconteceu com os Sindicatos, o que era até então, contribuição sindical compulsória. O mundo progride e as relações de trabalho devem progredir junto. O Sindicato não perdeu a sua contribuição, apenas ficou facultativo ao trabalhador pagar ou não. Os Sindicatos, por sua vez, devem encontrar alternativas para que o trabalhador continue pagando sua filiação, questão esta que deve ser resolvida exclusivamente pelos sindicatos, ora, esse é trabalho deles. Conforme vem se empregando cada vez mais a Análise Econômica do Direito, essas questões controversas tendem a aumentar, mas isso não é culpa da análise, ela cumpre o papel dela, que é de analisar economicamente o direito e prever seus resultados. REFERÊNCIAS BARBA FILHO, Roberto Dala. Reforma Trabalhista & Direito Material do Trabalho. Curitiba: Juruá, 2018. MARTINEZ, Luciano. Reforma Trabalhista - entenda o que mudou: CLT comparada e comentada. São Paulo: Saraiva, 2018 FINCATO, Denise; STURMER, Gilberto – A Reforma Trabalhista Simplificada: Comentários à Lei nº 13.467/2017 COASE, Ronald. O Problema do Custo Social. The Latin American And Caribbean Journal Of Legal Studies: 2013. SILVA, Homero Batista Mateus da. Comentários à Reforma Trabalhista – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
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