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ESTÁCIO-LINGUA PORTUGUESA-Todos os temas 99 paginas

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LINGUAGEM E LÍNGUA 
CONCEITOS 
 
DEFINIÇÃO 
Neste tema, são abordadas a distinção entre linguagem verbal e linguagem não 
verbal, as principais concepções de linguagem e as implicações dessas 
concepções no uso da língua. Esses elementos são fundamentais para 
compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da Língua Portuguesa. 
 
PROPÓSITO 
Este tema tem como propósito a compreensão da diferença entre linguagem verbal 
e não verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos, e as 
consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua. 
 
OBJETIVOS 
 
● MÓDULO	1: Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal; 
● MÓDULO	2: Reconhecer as três principais concepções de linguagem; 
● MÓDULO	3: Identificar implicações de diferentes concepções de 
linguagem no uso do português. 
 
MÓDULO 1 
OBJETiVO: Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal 
 
INTRODUÇÃO 
Você já parou para pensar em quantos anos estudou a Língua Portuguesa na 
escola? Sabe a quantidade de regras gramaticais que tentou decorar ou de páginas 
que escreveu nas aulas de redação? 
Para muita gente, estudar Português é algo chato, relacionado à decoreba de regras 
gramaticais ou à produção de textos com pouca conexão com o mundo real da 
comunicação. 
Se essa foi a sua experiência, já adiantamos que você é convidado a olhar a Língua 
Portuguesa de outra forma. Caso sua relação com o idioma ao longo de vários anos 
na escola tenha contribuído para melhorar o uso da nossa língua, aqui você vai 
aprender ainda mais. 
Vamos, então, começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre 
nossa experiência com a Língua Portuguesa. O título do poema é Aula de Português 
e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade. 
 
Aula de Português 
Carlos Drummond de Andrade 
A linguagem 
na ponta da língua, 
tão fácil de falar 
e de entender 
 
A linguagem 
 
na superfície estrelada de letras, 
sabe lá o que ela quer dizer? 
 
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, 
e vai desmatando 
o amazonas de minha ignorância. 
Figuras de gramática, esquipáticas, 
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. 
 
Já esqueci a língua em que comia, 
em que pedia para ir lá fora, 
em que levava e dava pontapé, 
a língua, breve língua entrecortada 
do namoro com a prima. 
O português são dois; o outro, mistério. 
 
 
O PORTUGUÊS QUE VOCÊ APRENDEU NA ESCOLA AiNDA É UM 
MiSTÉRiO, ALGO DiSTANTE? 
 
Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e do 
cotidiano), precisamos entender que há diversos tipos de linguagem. Vamos 
REFLEXÃO 
O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do dia a dia, 
que não precisa ser aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou 
dos livros, aprendida na sala de aula. No último verso, isso é resumido na frase 
“O português são dois”. 
 
conhecê-los para compreender por que uma língua como o português é uma das 
linguagens que dispomos para a comunicação. 
 
LiNGUAGEM VERBAL E LiNGUAGEM NÃO VERBAL 
O ser humano utiliza diversos tipos de linguagem para se comunicar. A linguagem 
constitui todos os sistemas de sinais ou signos convencionais que nos permite a 
comunicação. 
 
 
 
 
 
MAS O QUE SÃO SiGNOS? 
Os signos são os sinais que os seres humanos produzem quando se 
comunicam. Ao falarmos ou escrevermos, usamos o signo linguístico. Ao 
desenharmos um objeto, usamos um signo imagético. Assim, “ao produzir 
signos, os seres humanos estão produzindo a própria vida, como eles 
representam seus pensamentos, exercem seu poder, elaboram sua cultura e sua 
identidade etc.” (ORLANDI, 2009). 
O signo representa algo que não está presente. A palavra mesa ou a imagem de 
uma mesa não são propriamente o objeto que designamos como mesa. Os 
signos são usados para designar ou significar alguma coisa. 
Ficou complexo? Veja um exemplo. 
 
 
Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes 
tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não 
verbal. 
● A linguagem verbal se vale da palavra, seja escrita ou falada, como ocorre 
com o texto de um livro ou em um bate-papo; 
● A linguagem não verbal é aquela que utiliza um tipo de código diferente 
da palavra. Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. 
O semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal. 
 
O pintor belga René Magritte tem um famoso quadro, que faz parte da série A 
traição das imagens, em que sugere o caráter representativo dos signos. O 
quadro Isto não é um cachimbo (Ceci n'est pas une pipe) nos ajuda a 
compreender que a linguagem representa o que percebemos da realidade, ou 
seja, a imagem de um cachimbo não é o próprio cachimbo. Por razões óbvias, 
não dá para usar o cachimbo que foi pintado. 
 
 
 
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que 
utiliza a palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única 
linguagem de que dispomos. 
Assim, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra. Língua e 
linguagem verbal são termos correspondentes. 
Por outro lado, a música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que 
pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como 
linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como 
linguagem da música, linguagem corporal, linguagem pictórica etc. 
A distinção entre linguagem verbal e não verbal não deve levar você a concluir que 
a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de 
linguagem. 
 
QUE OUTRO SER TEM GESTOS SiGNiFiCATiVOS, PiNTA, 
FOTOGRAFA, FAZ CiNEMA? COMPREENDE-SE, ASSiM, QUE O 
HOMEM E A LiNGUAGEM SE RELACiONAM DE FORMA A NÃO SE 
CONCEBEREM UM SEM O OUTRO E QUE A LiNGUAGEM ESTÁ 
iNDiSSOLUVELMENTE ASSOCiADA COM A ATiViDADE MENTAL 
HUMANA, A QUAL, ABSOLUTAMENTE, NÃO SE MANiFESTA SÓ 
PELO VERBAL. 
(PALOMO, 2001) 
 
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem 
verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.). 
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração de linguagem verbal e não 
verbal. 
 
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA 
Com as tecnologias digitais e a Internet, essa integração entre linguagem verbal e 
não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons 
e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum 
trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons. 
A versão original deste conteúdo didático é um exemplo da integração entre 
diferentes tipos de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast, 
imagens e símbolos. Tudo isso é possível por causa de outra integração: 
convergência entre diferentes mídias formando o que tem sido chamado de 
hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador 
estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, se 
fala de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de 
linguagem verbal e não verbal. 
É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de 
comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal está 
associada intimamente a nossas atividades e possui também sua relevância. 
Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto escrito também 
dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos. 
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca 
os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas e balança pernas e pés num 
movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está 
calma. 
ASSiM, AO FAZERMOS A DiSTiNÇÃO ENTRE LiNGUAGEM VERBAL E 
NÃO VERBAL NÃO QUEREMOS SUGERiR QUE APENAS UMA DELAS 
SEJA iMPORTANTE E PRECiSE SER CUiDADA. 
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinaisou signos, que 
permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na 
palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos 
 
de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal, 
como é o caso da pintura e dos gestos. 
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se 
intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática. 
 
 
 
MÓDULO 2 
OBJETiVO: Reconhecer as três principais concepções de linguagem 
 
Depois de fazer a distinção entre linguagem verbal e não verbal, é hora de 
prosseguir e apresentar as três principais concepções de linguagem. Veja quais são 
elas a seguir. 
 
LiNGUAGEM COMO EXPRESSÃO 
DO PENSAMENTO 
 
Nesta forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um 
ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como 
nos expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da 
linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas 
quais a enunciação acontece. 
 
O USO DA LÍNGUA É ViSTO COMO ALGO QUE SE LiMiTA A QUEM 
FALA OU ESCREVE. NÃO HÁ PREOCUPAÇÃO SOBRE COMO O OUTRO 
VAi LER OU OUViR NOSSA MENSAGEM. 
 
De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão 
que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma 
tradução. A linguagem é entendida como uma forma de expressar 
pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc. 
 
 
 
Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e 
organizada” depende da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo 
pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21). 
Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem 
conforme a gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento 
lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou 
não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão pensando 
corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está 
pensando seria a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso. 
 
MAS HÁ UM PROBLEMA. 
esta concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem 
funciona, pois há outros aspectos envolvidos na linguagem além da intenção de 
exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está 
errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de 
compreender a linguagem. 
 
 
LiNGUAGEM COMO iNSTRUMENTO 
DE COMUNiCAÇÃO 
 
Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo, 
como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem 
comunicadas. 
A língua, então, é tomada predominantemente como um código, que deve ser 
utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer 
comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao objetivo da 
comunicação. 
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro, 
precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a 
comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social, 
envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário 
que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada 
para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22). 
A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma 
limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente 
para o funcionamento interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando 
de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto social e histórico. 
Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem, que permite 
avançar na compreensão da linguagem e seus usos. 
A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que 
pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou 
seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou mais pessoas. 
 
LiNGUAGEM COMO LUGAR OU 
EXPERiÊNCiA DE iNTERAÇÃO HUMANA 
 
A linguagem é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela 
produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de 
comunicação e em um contexto socio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 
23). 
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente 
alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores 
“interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ 
desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a 
sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). 
Para ilustrar melhor, veja um exemplo: 
Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem 
oral entre dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. 
No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito 
maior. Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos 
uma mãe e uma filha interagindo, em que a primeira faz referência ao 
comportamento da segunda, com uma ordem direta. A reação da filha cria em nós, 
observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos 
remetem à própria relação familiar. 
 
Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do 
pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da 
comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua sobre o 
interlocutor. 
 
Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças, 
despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e ações. Quando 
consideramos as palavras de um juiz ao proferir a célebre frase “eu vos declaro 
marido e mulher”, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que 
expressão do pensamento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala 
da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. Se um agente da lei, 
dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está 
simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não 
é mesmo? 
O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, 
constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da língua. Para estar inserido 
na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura 
ao diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou 
seja, o que falamos e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao 
longo da vida. 
Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para 
além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagem verbal e não 
verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como 
instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação 
humana. 
 
 
As três concepções da linguagem estão resumidas no quadro a seguir: 
EXPRESSÃO DO 
PENSAMENTO 
COMUNICAÇÃO INTERAÇÃO HUMANA 
Exteriorização do 
pensamento 
Meio objetivo para a 
comunicação 
Experiência de interação 
humana 
A expressão se constrói 
no interior da mente 
A expressão nasce da 
necessidade de se 
comunicar 
A expressão é também 
ação 
Ato monológico, 
individual 
Troca de mensagens 
entre emissor e receptor 
Privilegia o diálogo e a 
interatividade 
Regras para a 
organização lógica do 
pensamento: gramática 
normativa 
Existência de códigos 
para a eficiência da 
comunicação 
Valorização do contexto 
dos usuários da língua e 
adequação no uso da 
língua 
Para quem se fala, em 
que situação e para que 
se fala não são 
preocupações no uso da 
língua 
Preocupaçãocom o 
meio, o destinatário, a 
mensagem e a utilização 
eficiente do código 
Preocupação com as 
dimensões afetivas e 
sociais 
 
 
 
MÓDULO 3 
OBJETiVO: Identificar implicações de diferentes concepções de 
linguagem no uso do português 
 
AS CONCEPÇÕES DE LiNGUAGEM 
E SUAS iMPLiCAÇÕES NO USO DO PORTUGUÊS 
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como 
estas linguagens possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma, 
passamos a perceber como a concepção da linguagem como interação pode nos 
auxiliar nesta construção. 
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e 
nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro. 
Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch em seu livro A interação pela 
linguagem sobre esse aspecto: 
 
DURANTE SÉCULOS, A LiNGUAGEM FOi CONSiDERADA UM 
iNSTRUMENTO PASSiVO DE COMUNiCAÇÃO, QUE PERMiTiA AO 
SER HUMANO APENAS DESCREVER O QUE PERCEBiA, SENTiA OU 
PENSAVA. HOJE SE RECONHECE QUE, AO FALAR, O iNDiVÍDUO 
NÃO SÓ DESCREVE O QUE OBSERVA, MAS ATUA NO MUNDO E 
FAZ COM QUE CERTAS COiSAS ACONTEÇAM. POR MEiO DA 
LiNGUAGEM, ELE TAMBÉM PODE MODiFiCAR SUAS RELAÇÕES 
COM OS DEMAiS E DESENVOLVER SUA PRÓPRiA iDENTiDADE. 
[...] 
É PRECiSO PENSAR A LiNGUAGEM HUMANA COMO LUGAR DE 
iNTERAÇÃO, DE CONSTiTUiÇÃO DAS iDENTiDADES, DE 
REPRESENTAÇÃO DE PAPÉiS, DE NEGOCiAÇÃO DE SENTiDOS, 
POR PALAVRAS, É PRECiSO ENCARAR A LiNGUAGEM NÃO 
APENAS COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO E DO 
PENSAMENTO OU COMO iNSTRUMENTO DE COMUNiCAÇÃO, 
MAS SiM, ACiMA DE TUDO, COMO FORMA DE iNTERAÇÃO 
SOCiAL. 
(KOCH, 2003) 
 
QUAL É A iMPLiCAÇÃO DiSSO NO USO DA LÍNGUA 
PORTUGUESA? 
Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do 
pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar 
nossas intenções na produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou 
ler nossas palavras. Também devemos dar atenção ao contexto em que a 
mensagem é produzida e às possíveis situações em que será recebida. 
 
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos 
podem ser desejáveis no seu uso: 
 
Veja mais um exemplo: 
No meio de uma discussão, alguém diz o seguinte para outra pessoa: “Sua opinião 
está completamente errada e só vai piorar as coisas”. 
Se o autor dessa fala, além de expressar o que pensa e de comunicar sua 
mensagem, estiver preocupado com as reações que pode produzir, poderia refazer 
sua afirmação. Uma opção seria: Sua opinião provavelmente está equivocada e 
pode trazer alguns problemas. Ou ainda: Tenho dificuldade de concordar com sua 
opinião porque ela não parece ajudar a melhorar as coisas. 
Caso o objetivo seja advertir ou chamar a atenção de alguém que recorrentemente 
deixa de seguir alguma norma ou ordem de seu superior, as palavras serão mais 
assertivas e o tom de voz mais firme, já que objetivo da mensagem ou o resultado 
que se deseja produzir na outra pessoa é uma mudança de atitude e 
comportamento. 
CLAREZA E PRECiSÃO 
NO QUE QUEREMOS 
COMUNiCAR
CORTESiA, OU SEJA, 
POLiDEZ E TOM 
CORDiAL NA 
LiNGUAGEM
ABERTURA AO 
DiÁLOGO
SUSTENTAÇÃO DE UM 
POSiCiONAMENTO 
SEM DESMERECER A 
OPiNiÃO DO OUTRO
USO DE RECURSOS 
PERSUASiVOS
 
SE QUEREMOS MANTER O DiÁLOGO E CONSTRUiR PONTES, 
DEVEMOS CUiDAR DA MANEiRA COMO FALAMOS, ESCOLHENDO AS 
PALAVRAS E O TOM MAiS APROPRiADO. 
Por isso, ao estudar sobre a linguagem é preciso compreender que não basta 
escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas 
qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a 
interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante 
lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser 
desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou 
usando linguagem antissocial e inadequada. 
 
CONSiDERAÇÕES FiNAiS 
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a Língua 
Portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e 
nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os 
recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde vivenciar parte desse conhecimento. 
Use o que você aprendeu para novas experiências com a Língua Portuguesa. 
 
 
AUTOR 
Luís Cláudio Dallier Saldanha 
 
REFERÊNCiAS 
DA SILVA. Filosofia da linguagem (1) - Da Torre de Babel a Chomsky. Disponível 
em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-da-linguagem-1-
da-torre-de-babel-a-chomsky.htm. Acesso em: 08 dez. 2019. 
KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003. 
ORLANDI, Eni P. O que é Linguística. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009. 
PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São 
Paulo, UNINOVE, vol. 3, nº 2, dez. 2001. 
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, José L. (org.). 
Introdução à Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003. 
TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de 
gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2003. 
TRIGUEIRO, Osvaldo. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e 
metodológicos ensejados pela escola latino-americana. Pensamento 
Comunicacional Latino Americano, v. 2, n. 2, jan.–mar., 2001. 
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 
São Paulo: Martins Fontes, 1987. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Variação linguística: o que é? 
A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço geográfico, a estrutura 
social e a situação ou o contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está 
sujeita a passar por modificações no tempo e no espaço a fim de satisfazer às 
necessidades de expressão e de comunicação, individuais ou coletivas, de seus 
usuários. 
 
 
 
 
 
 
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a situação 
ou com o contexto, conforme o falante e as pessoas que ouvem (interlocutores), o 
assunto tratado ou a intenção da mensagem. Perceba que a variação 
linguística corresponde a diferentes ocorrências de uma mesma língua. 
 
Tipos de variações linguísticas 
Sem nos preocuparmos muito com classificações técnicas e exaustivas, próprias 
da Sociolinguística, podemos dizer que a variação linguística pode ser de, pelo 
menos, três tipos: 
 
 
 
Abordaremos cada um desses tipos a seguir. 
 
Regional 
Variações da língua numa perspectiva geográfica, originando os regionalismos. Manifestam-se, 
principalmente, pelo sotaque e por palavras ou expressões utilizadas pelos falantes de 
determinada região. Um exemplo desse tipo de variação são os falares ou dialetos. 
Veja a diferença entre alguns falares no Brasil: 
Cearense: 
Êta que esse curso é bem arretado! 
Carioca: 
Caraca! Esse curso é muito maneiro! 
Mineiro: 
Nossinhora! Esse curso é bom demais da conta, sô! 
Gaúcho: 
Bah, esse curso é tri! 
As diferentes designações no Brasil para um mesmo referente ou aspecto da realidade é outro 
exemplo de variação linguística na dimensão geográfica: macaxeira no nordeste, mandioca em 
São Paulo e aipim no Rio de Janeiro correspondem à mesma raiz utilizada na culinária 
nacional. 
 
 
 
Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em diferentes continentes, é 
interessante lembrar que a língua também varia de um país para outro, tanto na fala quanto 
na escrita. Ainda que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a 
grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares em Portugal e outros no 
Brasil. 
 
 
De registro 
Variações relacionadas com modalidades expressivas adotadas por um mesmo falante ou 
segmento social em função do contexto, do interlocutor e das expectativas sociais.De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou estilos, são diferentes 
porque as situações e os interlocutores diferem muito, bem como as expectativas sociais, 
influenciadas pela cultura. Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, há 
aqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou biológicos (homens, mulheres, 
jovens, crianças). 
Os registros ou estilos se classificam em pelo menos três tipos: 
 
Grau de formalismo 
Representa uma escala de formalidade no uso dos recursos da língua. Podemos ir de um estilo 
muito informal e popular (troca despretensiosa de mensagens no WhatsApp, por exemplo) até 
um excessivo grau de formalidade no uso da língua (redação de um ofício, por exemplo). 
Simplificando, podemos afirmar que há pelo menos dois registros alusivos à 
formalidade: formal e informal. Logo, os diferentes estilos corresponderão ao grau de 
formalismo do contexto comunicativo, determinando as diferentes maneiras de usar a língua. 
 
Modo 
Representa as duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A língua falada pode usar 
recursos como entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos sons, velocidade em que 
se dizem as sequências linguísticas etc. Além disso, a oralidade se caracteriza pelas hesitações, 
repetições, retomadas, correções e outras marcas que não são comuns à escrita. A escrita 
tende a ser mais formal e a fala mais informal, embora existam exceções; há textos altamente 
formais na língua falada e outros extremamente informais na língua escrita. 
 
Sintonia 
Representa o ajustamento na estruturação das mensagens do falante, com base em 
informações específicas acerca do ouvinte ou leitor (status do interlocutor, tecnicidade do 
conteúdo da mensagem, necessidade de cortesia no trato com o outro, norma a ser seguida 
etc.). 
 
Imagine que um profissional da saúde, ao preparar ou orientar uma criança para determinado 
procedimento, usará um registro ou estilo de linguagem distinto da linguagem usada com um 
paciente adulto. Com a criança, por exemplo, o vocabulário será mais simples, com algumas 
palavras no diminutivo, e o tom de voz mais afetivo. 
 
Pense em outra situação: você precisa recusar dois convites que recebeu, um da pessoa que 
você namora e outro do diretor da empresa em que trabalha. Faz sentido usar as mesmas 
expressões ou estilo ao responder a pessoas com as quais você tem diferentes graus de 
intimidade? Certamente vamos usar estilos ou registros diferentes. 
 
 
Social 
As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo, a faixa etária de 
determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém falando “percurá” (no lugar de procurar), 
“iorgute” (em vez de iogurte), “os hôme” (e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar 
de para eu fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com baixa ou 
nenhuma escolaridade. 
A falta de domínio da língua padrão, prestigiada socialmente, é um indicador de 
pertencimento a determinado grupo social. 
As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo social e à qual faixa etária 
ele pertence. Do mesmo modo, os jargões técnicos podem indicar a atividade profissional de 
quem os utiliza. 
 
*Juridiquês é uma palavra criada para designar o uso rebuscado e exagerado de jargão e termos 
técnicos da área jurídica. 
**Economês designa os termos técnicos ou jargões utilizados pelos economistas. 
 
Aula de Português 
(Oswald de Andrade)
 
Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mió 
Para pior pió 
Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados 
 
Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são típicas de falantes de 
classes sociais menos escolarizadas, revelando pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja, 
distintas do que a norma gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no 
entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos telhados. 
Embora se trate de uma variedade linguística desprestigiada socialmente, o poema não 
estigmatiza essa variante linguística, pois sugere uma valorização do trabalho das pessoas mais 
simples com o verso final: “E vão fazendo telhados”. 
 
 
A linguagem da Internet 
Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também é importante prestar 
atenção às alterações que a língua portuguesa apresenta nos meios digitais. 
Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um computador ou celular, 
surge uma variedade linguística que recebeu o nome de Internetês. 
Algumas características da variedade linguística na Internet são: 
 
 
 
A informalidade e a irreverência da linguagem na Internet acabam se distanciando da 
formalidade da língua que utilizamos nos documentos, nos livros, na escola ou nas relações 
mais formais no trabalho. Por isso mesmo, haverá inadequação no uso da língua quando 
escrevermos um trabalho acadêmico ou redigirmos um e-mail na empresa em que 
trabalhamos com a informalidade ou alguma característica do Internetês. 
Para o gramático Evanildo Bechara (2000), a Internet não se constitui em uma inevitável 
ameaça à língua. Na verdade, a Internet coloca a necessidade de um uso adequado da língua 
portuguesa: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na diversidade de espaços e 
situações comunicativas, deve nos levar a reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens 
e evitar o preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer variedade 
linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a língua aprendida na escola 
constitui a norma para comunicação e convívio no ambiente acadêmico e profissional, além 
daqueles espaços e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada. 
 
No próximo módulo, você conhecerá algumas características da língua padrão, também 
chamada norma culta, além de refletir sobre seu uso nas situações em que ela é necessária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Contextualização 
Quando constatamos que a língua portuguesa varia em função da diversidade dos falantes, do 
espaço, do tempo, da situação de comunicação e de outros fatores, podemos nos perguntar se 
toda forma de usar a língua é válida, desde que as pessoas se entendam; ou indagar se esses 
diferentes usos da língua não seriam desvios e incorreções da língua padrão, da norma culta. 
Tais questionamentos são importantes porque todos nós aprendemos na escola a chamada 
língua culta, mas convivemos boa parte do tempo com usos da língua distantes ou diferentes 
da norma padrão, que estudamos nos livros de gramática. 
É preciso entender o que é a norma culta e qual o objetivo da gramática no aprendizado da 
língua para, então, respondermos sobre que tipo de língua usar nas diversas situações de 
comunicação do dia a dia. 
 
 
Norma culta 
A norma culta é aquela formada por um conjunto de estruturas concebidas como corretas, que 
podem ser usadas tanto para falar quanto para escrever. Trata-se da chamada variante padrão 
ou norma padrão. Ela é tão valorizada socialmente que, quando estão em um ambiente mais 
formal, os indivíduos com alto nível de escolaridade procuram monitorar sua fala. 
Como você pôde perceber, os registros informais e distintos da norma culta caracterizam o 
papel social do falante da língua. Se o falante tem baixa escolaridade e pertence a uma 
comunidade linguística que se comunica dessa forma, o uso que ele faz da língua evidencia 
exatamente o grupo social ao qual pertence. Nesse caso, não deve haver uma expectativa de 
uso da língua padrão. 
Por outro lado, se o falante teve acesso à educação formal e possui alto grau de escolaridade, 
a expectativa é de que ele utilize a norma culta como a opção mais adequada para se 
expressar em situações formais de comunicação. Caso isso não aconteça, ele frustrará a 
expectativa em função da classe social e comunidade linguística às quais pertence. 
Imagine um professor universitárioem uma videoaula dizendo o seguinte: 
 
Embora o uso do pronome ELA como objeto direto seja comum na fala de muitas pessoas – 
mesmo escolarizadas –, não é prescrito pela gramática. 
 
Logo, a forma adequada conforme a norma culta é: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa imagem ou comparação da língua com o guarda-roupa nos ajuda a compreender o conceito 
de adequação no uso da língua. 
 
É adequado usar a norma culta quando essa é a expectativa da sociedade ou da comunidade 
linguística em função do nosso status, classe social, formação acadêmica ou atividade 
profissional. Também é adequado o seu uso nas situações de comunicação formais, oficiais, nas 
atividades escolares e acadêmicas, na atividade profissional etc. 
Em situações mais informais ou quando a expectativa da comunidade linguística em que 
interagimos for de uma comunicação coloquial, então usaremos a língua num registro menos 
formal, ainda que não inteiramente distante da norma culta. 
É preciso cuidado com as escolhas linguísticas que fazemos para que nosso interlocutor não as 
interprete como erro ou grosseria. Também devemos atentar para a escrita, pois algumas 
liberdades ou licenças numa fala mais informal podem ser inadequadas na escrita. Por exemplo, 
não fica bem escrever nas redes sociais ou num e-mail expressões ou incorreções gramaticais 
muito comuns na fala coloquial ou descuidada. 
 
O que define a norma culta da língua? 
De acordo com o professor e linguista Luiz Travaglia (2001, p. 25-26), os argumentos ou as 
justificativas para o estabelecimento da norma culta são os seguintes: 
Estéticos 
Uso de critérios como elegância, colorido, beleza, finura, expressividade. Rejeição de vícios 
como a cacofonia, colisão, eco, pleonasmo etc. 
Elitistas ou aristocráticos 
Opção pelo uso da língua pertencente à classe de prestígio em detrimento do uso das classes 
populares. 
Políticos 
Critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de estrangeirismo ou qualquer aspecto que 
“ameace” a identidade ou soberania da nação ou da cultura nacional. 
Comunicacionais 
Critérios relacionados com a facilidade de comunicação e compreensão. As construções e o 
léxico devem resultar na “expressão do pensamento”. 
Históricos 
Recorre-se à tradição para critérios de exclusão e permanência de usos da língua. 
 
A norma culta ou língua padrão é dependente da observância e uso das regras estabelecidas 
pela gramática normativa. Por isso, vale entender um pouco melhor o que é e como ela funciona. 
 
 
 
Gramática normativa 
A gramática normativa é a gramática da escola, por meio da qual você aprendeu as principais 
regras ou normas da língua padrão, principalmente da modalidade escrita. Ela prescreve o que 
é considerado correto e reprova o que é errado de acordo com a norma culta, a única 
considerada como válida. Por isso mesmo, a gramática normativa também é denominada 
“gramática prescritiva”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oswald de Andrade (1890-1954), no poema Pronominais, publicado em 1925, já retratava de 
forma irreverente e provocativa a imposição das regras da gramática normativa e a dificuldade 
de seu uso na fala das pessoas despreocupadas com a norma culta ou mesmo sem o seu 
domínio. Vamos ler o poema a seguir: 
 
Pronominais 
(Oswald de Andrade) 
 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro 
 
O poema é um interessante registro literário da variação linguística em função de diferentes 
modalidades (escrita e oralidade) e diferentes grupos ou classes sociais (letrados e não 
letrados). 
 
O poema opõe os usos do pronome “me”: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*Ênclise: Quando o pronome é colocado após o verbo. 
*Próclise: Quando o pronome é colocado antes do verbo. 
 
Segundo Travaglia (2001, p. 24), a gramática normativa pode ser entendida, também, como 
“um manual com regras de uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se 
expressar adequadamente”. Assim, somente é abonado ou aceito pela gramática o que 
obedece às normas do bom uso da língua, configurando o falar e o escrever corretamente. Por 
isso, todas as outras formas de uso da língua são consideradas desvios, erros, deformações ou 
degenerações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como temos visto, a gramática normativa está mais voltada para a variedade escrita da língua 
e se ocupa com a manutenção de regras consideradas próprias da língua culta ou de prestígio. 
Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita. Possivelmente por ter 
características mais conservadoras, transformar-se mais lentamente e estar sob a proteção da 
ortografia. 
A escrita manifesta-se sempre em descompasso com as transformações da fala, cuja dinâmica 
do uso lhe traz alterações contínuas, naturais e bem mais velozes. Mas, como você aprendeu 
aqui, tanto a escrita quanto a fala de uma língua apresentam variações e mudam com o tempo 
e com os inúmeros estímulos que recebem. 
Estudar a língua portuguesa levando em conta o fenômeno da variação linguística e o 
entendimento do que vêm a ser a norma culta e a gramática normativa ajudará, certamente, 
você a se apropriar cada vez mais dos recursos da língua para um uso adequado às diversas 
situações comunicativas. 
 
 
Conteudista 
Luís Cláudio Dalier 
 
Referências bibliográficas 
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2005. 
BECHARA, E. 3 questões sobre língua portuguesa. In: Folha de S. Paulo. São Paulo, 2 jul. 2000. 
Mais!, p. 3 
COSERIU, E. Lições de linguística geral. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1980. 
SALDANHA, L. C. D. Bibliotecas imaginárias e o livro eletrônico: possiblidades do texto no 
ciberespaço. In: Revista Philologus, Rio de Janeiro, v. 21, p. 26-37, 2001. 
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed. rev. 
São Paulo: Cortez, 2003. 
 
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• Veja a charge de Roberto Kroll e reflita sobre o uso da língua. 
 
 
 
Definição 
Este tema aborda o conceito de texto e discurso, bem como a distinção e a complementaridade 
entre eles, além de apresentar uma caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados 
necessários na produção e leitura de textos. 
 
Propósito 
Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e 
cuidados necessários à elaboração e à leitura de um texto. 
 
Módulo 1 
Distinguir os conceitos de texto e de discurso. 
 
Módulo 2 
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual. 
 
Módulo 3 
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre 
uma intenção ao falar ou ao escrever. 
 
 
 
 
Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação, haverá 
maneiras diferentes de construir sua fala e sua escrita, ou seja, você acabará 
usando modos específicos para se expressar ou interagir por meio da língua. 
 
 
 
Vejamos a seguinte situação: 
Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no 
trabalho, uma situação ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido. 
 
Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato 
de comunicação a partir delas, por isso devemos concluir que há diversas formas 
de organizar o discurso. Isso também implica dizer que existem diversos gêneros 
textuais, além daquelas modalidades que você deve ter aprendido na escola, 
como narração, descrição e dissertação. 
 
No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o 
fato ocorrido? 
 
Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele 
utilizou aspectos característicos da narração, que é um tipo específico de se 
organizar o discurso, assim como nós tambémfazemos comumente no dia a dia. 
Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos 
típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc. 
Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua, 
você aprenderá os conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o 
conhecimento dos diferentes gêneros textuais o ajudará a escrever e a ler melhor. 
 
 
 
CONCEITO DE TEXTO E DISCURSO 
Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los, além de 
identificar a utilidade dessa distinção. Mas, em vez de começar logo com uma 
definição, vamos pensar um pouco sobre a prática, ou seja, vamos considerar uma 
situação concreta de uso da língua. Imagine que alguém diga a um colega o 
seguinte: 
 
 
 
A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o 
estranhamento diante de tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta 
não é obter uma informação sobre o conhecimento ou não do horário, mas pedir 
um dado que traga sentido, referência e clareza. 
A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim 
como a forma com que o texto é recebido pelo enunciatário. 
Enunciação - O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que 
a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou 
escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se 
escreve). 
O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da 
linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros, apresenta 
variações na forma como é definido, conforme a abordagem teórica em que seja 
tomado. 
A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética 
situação de comunicação, pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação 
do seguinte modo: 
 
 
 
É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, 
a enunciação pode estar implícita. Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto, 
entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então, uma decodificação 
desse texto. 
Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da 
linguagem, temos sujeitos que interagem em determinado tempo ou contexto a 
partir de um texto ou mensagem. 
Os aspectos relacionados com a pessoa (quem fala/ouve ou quem escreve/lê) 
e com o tempo (em que momento ou contexto a comunicação se dá) também 
fazem parte da enunciação. 
 
 
 
Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a 
produção textual envolve os seguintes elementos da enunciação: 
 
 
 
 
A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira 
caracterização de texto e de discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que: 
 
 
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com 
algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo. 
 
 
O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo 
de codificação e só termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de 
decodificá-lo. Por isso, também se afirma que o discurso é histórico. 
 
Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo 
acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início juntamente com o 
texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido por seus 
leitores. Por isso, Abreu (2004) nos diz que o discurso é sempre dinâmico e 
pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do 
repertório de seus leitores. 
 
As concepções de texto e de discurso nos permitem, então, mais do 
que fazer uma distinção, perceber que eles são complementares. 
 
Por isso, podemos afirmar: Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo 
a público e se realizando. É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, 
embora enfatizemos na maioria das vezes o texto escrito. O discurso também 
pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto oral. 
 
 
 
Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos 
temos um texto que se realiza como discurso. Isso acontece porque quem fala 
e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na mensagem e até na forma 
de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar (compreender) a mensagem e 
a sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e, claro, do próprio 
texto. 
Mas, você pode se perguntar: 
Para que serve definir texto e discurso, além de fazer a distinção 
entre eles? 
Qual a utilidade desses conceitos? 
 
Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade 
deste tema. Mas antes, verifique se você de fato aprendeu o que é um texto e um 
discurso realizando a atividade a seguir. 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. A enunciação é um conceito importante para compreender o que é um discurso, 
além da distinção e complementaridade entre texto e discurso. Sobre a 
enunciação, é correto afirmar que: 
 
a) Refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em 
funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um 
enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve), produzindo um enunciado. 
b) A intenção tem pouca importância na produção do texto e, consequentemente, 
na forma como ele será lido. 
c) A intenção é um de seus elementos, estando sempre presente no texto de forma 
explícita. 
d) O produto da enunciação é chamado enunciatário. 
e) No campo dos estudos da linguagem, assim como tantas outras noções, a de 
enunciação apresenta uma única forma de ser apresentada, sendo resumida a dois 
elementos: enunciador e enunciatário. 
A alternativa A está correta. 
A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim 
como a forma com que o texto é recebido pelo enunciatário. O termo enunciação 
refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em 
funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um 
enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve). O produto da enunciação é 
chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o conceito de 
enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma como é 
definido, conforme a abordagem teórica em que seja tomado. 
 
2. Texto e discurso são conceitos que devem ser compreendidos como distintos e 
ao mesmo tempo complementares porque: 
a) O texto é a parte abstrata e o discurso é a parte concreta. 
b) O texto é escrito e o discurso é oral. 
c) O discurso é o texto em atividade comunicativa, vindo a público e se realizando. 
d) O texto é dinâmico e indefinido enquanto o discurso é estático e definitivo. 
e) O texto pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, 
dependendo da bagagem cultural de seus leitores, já o discurso pode ser 
considerado algo acabado e estático. 
A alternativa C está correta. 
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo. O discurso, por sua vez, é 
dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só 
termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. O discurso é 
histórico. Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser 
considerado algo acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início 
juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido 
por seus leitores. Por isso, o discurso “é sempre dinâmico e pode ser repetido 
infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do repertório de seus 
leitores”. 
 
 
 
CUIDADOS NA ELABORAÇÃO DO TEXTO 
Compreender a relação entre texto e discurso deve levá-lo a determinados 
cuidados na produção do texto e na sua leitura. 
Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado 
com as intenções presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros 
elementos da comunicação como: 
• Quem escreve; 
•Quem lê; 
• Em que contexto o texto foi produzido; 
• O momento em que o texto é lido. 
 
Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém, 
com determinada intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor. 
 
 
Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a 
relevância de refletir sobre ele. Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos 
agora da elaboração do texto. 
ELABORAÇÃO DO TEXTO 
Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo, 
pois seu texto é produzido para que outros o leiam, ele se transformará em 
discurso. Por isso, deve haver cuidado na elaboração, na forma pela qual suas 
intenções estarão marcadas ou presentes na mensagem. 
Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam 
aos objetivos de nossa comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além 
da simples expressão do que temos em mente. Isso tem a ver com um 
importante mecanismo da comunicação, que foi resumido pelo professor 
Blikstein (1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita, da seguinte 
forma. 
Os princípios do mecanismo da comunicação seriam: 
 
 
Veja o exemplo: 
 
 
 
É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas 
situações de comunicação. 
Vejamos três deles: 
 
1. Vocabulário 
 
 
Preferir palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o 
leitor ou ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras 
pouco conhecidas ou rebuscadas, termos técnicos e vocabulário restrito a uma 
área diferente da do nosso interlocutor podem oferecer alguma dificuldade. 
 
 
 
 
 
 
 
O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos 
nossa mensagem e ao nosso interlocutor. Se precisarmos usar alguma palavra 
difícil ou pouco conhecida, é recomendável que ela venha acompanhada de 
alguma explicação, evitando deixar o texto pedante ou pretencioso. Não é um 
vocabulário excessivamente formal ou com preciosismos que vai demonstrar 
nosso domínio da língua. 
 
 
 
 
 
 
 
2. Adequação da linguagem às situações e aos leitores que temos em 
vista 
 
O estilo e o nível de linguagem que usamos em nossa escrita ou fala devem 
estar adequados ao contexto da comunicação, ao objetivo ou à intenção da 
nossa mensagem e ao interlocutor (o receptor, a pessoa com quem nos 
comunicamos): 
 
 
Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e 
orientações para o uso de um celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a 
língua culta, mas que será simples, objetivo e claro, com predomínio de verbos no 
imperativo ou infinitivo, além de descrições e outras características desse gênero 
textual. 
 
 
 
Se escrevermos um bilhete ou enviarmos um recado por um aplicativo de 
mensagens, usaremos uma linguagem mais coloquial, um tom pessoal e talvez 
algumas abreviaturas, entre outras características. 
Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na 
elaboração do texto em função de seu gênero. 
 
3. Construção das frases e correção gramatical 
 
Organizar cada parágrafo do texto, os períodos e as frases que o compõem é uma 
forma de deixar o texto claro, coeso e coerente. 
 
 
 
Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhor 
entendimento da mensagem, além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu 
domínio da língua padrão. Há outros cuidados na elaboração do texto que 
destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São aspectos que o ajudarão a 
perceber características que devem estar presentes em todos os textos e, além 
disso, a aprender uma outra forma de definir o que é um texto. 
Vamos, então, conhecer quatro importantes recomendações que você precisa 
considerar ao escrever e ao ler um texto: 
 
 
 
 
 
 
Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o 
que é um texto. Por isso, é hora de apresentar a seguinte definição: O texto é um 
todo orgânico gerador de sentido. Essa definição nos ajuda a perceber que um 
texto tem que fazer sentido e possui princípio e fim, mesmo que ele seja um texto 
muito pequeno. 
 
Imagine que alguém, diante de um princípio de incêndio, grite: 
 
 
 
 
 
 
Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta, 
escreva numa lousa a palavra: 
 
 
 
Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura. 
Isso acontece porque nessas situações de comunicação existe uma 
unidade linguística delimitada e que produz sentido a partir da intenção de quem 
fala ou escreve. 
Linguística – Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização 
deste termo depende das perspectivas metodológicas, das teorias e das 
disciplinas que estudam os diferentes 
fenômenos. http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=terminology 
 
 
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=terminology
Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz 
como desdobramento estabelecer correspondência e articulação entre suas 
partes. As frases não podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa 
sequência sem sentido e sem unidade. 
 
 
 
O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é 
chamado de encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a 
textualidade ou a “trama semântica”. A coesão, segundo Abreu (1999), é 
exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade, que cuida 
da estruturação da sequência superficial do texto. 
Conforme nos ensinam Platão e Fiorin (2003), podemos também dizer que a 
coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou 
frases do texto, por meio de “elementos formais que assinalam o vínculo entre os 
componentes do texto”. Quando um conteúdo escrito apresenta repetições 
desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia sempre com o mesmo termo, 
temos um caso de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado do livro Curso de 
redação, do professor Antônio Suarez Abreu, é uma boa oportunidade para 
verificar a falta de coesão num texto. 
 
 
 
 
Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser 
substituído por agência, concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser 
substituído por carros, veículos, produto ou mercadoria, é possível reescrever o 
texto estabelecendo a coesão. Veja: 
 
 
 
 
Perceba que, além de evitar a repetição de “revendedoras de automóveis” e da 
palavra “automóveis”, substituindo esses termos por sinônimos, foram 
utilizados mecanismos de coesão como a elipse, ou seja, omissão de um 
termo. 
Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o 
complemento da forma verbal “desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto. 
Também se substituiu o termo “os automóveis” na frase para vender os 
automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono junto ao verbo vender: “para 
vendê-los mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a retomada do 
termo “revendedora de automóveis” valendo-se de um advérbio, no caso, o 
advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas de articular 
as partes de um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou 
parágrafo, garantindo a coesão textual. 
 
 
 
Veja o exemplo a seguir: 
 
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos 
para uma reunião ontem à tarde, porém poucos compareceram, já que 
uma forte chuva inundou os principais acessos ao colégio. 
 
Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição: 
a convocação e o não comparecimento de quem foi convocado. Em seguida, 
apresenta-se a causa para o não comparecimento: a forte chuva. A coesão 
também se manifesta ao se evitar a repetição desnecessária da expressão “os 
pais e os responsáveis” na oração: porém poucos compareceram, além de se 
retomar o termo “escola” pelo sinônimo “colégio”na última oração. 
 
 
 
 
Agora é hora de verificar o que você aprendeu sobre os aspectos da distinção 
entre texto e discurso na produção e leitura textuais. 
 
 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
 
3. Compreender que o texto é um todo organizado que produz sentido implica 
afirmar que, na leitura e na produção textual, é recomendável: 
a) Basear a leitura em fragmentos e partes isoladas do texto, sem levar em conta o 
contexto. 
b) Não identificar como texto aquelas produções muito curtas, de apenas uma 
única palavra, como no exemplo em que alguém grita “Fogo!”, diante de um 
princípio de incêndio. 
c) Estabelecer correspondência e articulação entre as partes do texto, pois as 
frases não podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem 
sentido e sem unidade. 
d) Dar pouca ou mesmo nenhuma importância à forma com que o leitor vai receber 
o texto. 
e) Não delimitar o texto escrito num determinado espaço, pois a organização 
textual pouco importa. 
 
 
 
A alternativa C está correta. 
 
A opção A está incorreta porque a leitura do texto não deve se basear em 
fragmentos ou partes isoladas, sem levar em conta o contexto. As 
alternativas B e E estão incorretas porque textos não se definem por serem 
grandes ou pequenos, mas por serem delimitados em algum espaço e 
produzirem sentido. A opção D está incorreta porque a forma pela qual o leitor 
recebe o texto tem sua importância na produção textual. A resposta correta é 
a C por primar pela coesão textual. 
 
4. O texto bem escrito deve ter suas partes articuladas adequadamente, ou seja, 
deve ter a marca da coesão textual. No texto abaixo, há graves problemas de 
coesão textual. 
A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola 
para uma reunião de pais e responsáveis dos alunos ontem à tarde, por isso 
poucos compareceram, porém, uma forte chuva inundou os principais acessos 
ao colégio. 
Assinale a alternativa que apresenta o restabelecimento da coesão textual. 
 
a) A diretora convocou para uma reunião ontem à tarde, pois uma forte chuva 
inundou os acessos à escola, uma vez que poucos compareceram. 
b) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da 
escola para uma reunião ontem à tarde na escola, mas poucos pais e 
responsáveis dos alunos da escola compareceram, porque uma forte chuva 
inundou os principais acessos à escola. 
c) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para 
uma reunião ontem à tarde, porque poucos compareceram, mas uma forte 
chuva inundou os principais acessos ao colégio. 
d) Uma vez que a diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos 
alunos para uma reunião ontem à tarde, poucos compareceram, porém, uma 
forte chuva inundou os principais acessos ao colégio. 
e) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para 
uma reunião ontem à tarde, mas poucos compareceram devido a uma forte 
chuva que inundou os principais acessos ao colégio. 
 
A alternativa E está correta. 
A alternativa correta é a única que apresenta uma versão do texto em que as 
repetições desnecessárias são evitadas, o sentido de oposição entre a primeira 
e a segunda parte é estabelecido e a articulação com sentido de causa e efeito 
é recuperada entre o último e o segundo período. 
 
 
 
GÊNEROS TEXTUAIS 
Você já aprendeu que, ao falar ou escrever, a intenção e outros aspectos se fazem 
presentes no ato comunicativo, cor­respondendo a um modo característico de 
construção do discurso. Esse modo específico de organizar o discurso se constitui 
num conjunto de características relativamente estáveis, configurando diferentes 
textos ou gêneros textuais. 
 
A noção de gêneros textuais foi desenvolvida por um pensador russo, Bakhtin 
(1895-1975), no começo do século XX. Ele usou a palavra gêneros para se refe­rir 
aos textos orais ou escritos que elaboramos nas diversas situações de 
comu­nicação. 
 
EXEMPLOS 
Um bilhete que alguém deixa para sua mãe, uma piada que se conta na mesa de 
um bar, uma ata redigida durante uma reunião ou um artigo de opinião publicado 
nas redes sociais são exemplos de gêneros textuais, pois apresentam um conjunto 
de caracte­rísticas sociocomunicativas e uma estrutura específica. 
Sociocomunicativas 
Diz-se daquilo que está inserido em um contexto social e tem função 
comunicativa. 
Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos 
típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc. 
Há gêneros textuais que são típicos da vida acadêmica. Se você tiver que 
apresentar os resultados de um trabalho acadêmico ou de uma pesquisa realizada 
ao final do curso, provavelmente terá de escrever uma monografia ou um artigo 
acadêmico, que constituem também exemplos de gêneros textuais. Caso queira 
apresentar os resultados de uma visita técnica ou de uma inspeção que tenha rea-
lizado, poderá elaborar um relatório, outro exemplo de gênero textual. O e-
mail enviado a um colega também faz parte de um gênero textual. A lista de 
exemplos poderia se estender bastante. 
 
 
 
Conforme conceituado por Marcuschi (2002), os gêneros textuais são os textos 
materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam 
características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades 
funcionais, estilo e composição característica. 
Agora que você já sabe o que é um gênero textual, tenha cuidado para não cair 
numa confusão muito comum que alguns estudantes fazem entre gêneros e tipos 
textuais. Para ajudá-lo a compreender a diferença entre eles, veja o quadro a 
seguir: 
 
(Fonte: Marcuschi, 2002) 
De certo modo, nossa experiência de estudo da língua portuguesa na escola está 
mais relacionada com os tipos de textos, também denominados tipos textuais. 
Mas precisamos ter cuidado para não achar que escrever ou ler um texto se 
resume a compreender os aspectos gramaticais e linguísticos relacionados com 
um número limitado de tipos textuais. 
 
 
Os gêneros textuais podem ser tanto escritos quanto orais. Há gêneros textuais 
que são bem tradicionais, como os sermões, as cartas e os diários pessoais. 
Por exemplo: 
 
 
Outros gêneros são mais recentes, resultado das tecnologias digitais. O e-mail, por 
exemplo, é um gênero textual digital que nos remete às cartas ou aos bilhetes, 
enquanto o blog se aproxima mais dos diários pessoais ou mesmo das crônicas. 
Um gênero textual pode conter diferentes tipos textuais. 
Vejamos a seguinte situação: 
 
Vamos supor que você tenha uma página e poste um texto sobre uma viagem que 
tenha realizado. Provavelmente haverá um trecho com relato de algum “perrengue” 
pelo qual você tenha passado (narração), outra parte com detalhes dos brinquedos 
de um parque sensacional que você conheceu (descrição) e, ao final, a defesa da 
ideia de que viajar é uma das melhores coisas da vida (argumentação). Nesse 
exemplo, a postagem contém texto narrativo, descritivo e argumentativo. 
 
 
 
Vamos praticar? 
Que tal ir a alguma de suas redes sociais e fazer dois posts? Em um deles, utilize 
os seguintes tipos textuais: narração, descrição e argumentação. No outro, escolha 
apenas uma dessas tipologias. 
Em seguida, avalie qual dos dois posts produziu mais interações, como likes e 
comentários. 
 
 
Todas essas informações e exemplos sobre os gêneros textuais servem para 
deixar muito claro que deveremos ter estratégias de leitura adequadas a cada 
gênero textual, pois eles possuem estrutura, intenções e estilos próprios. 
 
Uma estratégia adequada de leitura passa pela expectativa correta em relação ao 
texto ou seu gênero textual. Um leitor competente deve possuir conhecimentos 
prévios sobre cada gênero textual para identificar no texto características próprias 
de cada gênero. Você não deve ler um e-mail como lê um blog. A prática de leitura 
de um romance é distinta da leitura de uma notícia ou de um artigo no jornal. Não 
se deve ouvir um sermão na Igreja do mesmo modo que se ouve alguém numaconversa ao telefone. 
Quando lemos um texto, precisamos identificar o gênero textual ao qual ele 
pertence. Ninguém deve procurar instruções sobre procedimentos e informações 
precisas num gênero textual como o conto ou o poema, assim como não se deve 
ler uma receita culinária procurando expressões poéticas sobre os sentimentos ou 
mesmo tentando entender algum enredo de uma história. 
Vejamos um exemplo de gênero textual: o anúncio publicitário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse tipo de cuidado em relação ao gênero textual pode ajudar a evitar 
interpretações equivocadas na leitura de um texto. 
 
 
 
Ao ler uma anedota ou piada, nossa expectativa deve ser encontrar algum efeito 
de humor. Ao ler o manual de um celular, devemos esperar descrições objetivas 
das características do aparelho, assim como procedimentos sobre sua 
utilização. 
Alguns textos que pertencem a determinado gênero apresentam uma 
configuração típica de outro gênero textual, ou seja, assumem a forma de outro 
gênero buscando maior impacto sobre o leitor ou efeitos que não são tão 
comuns. O nome que se dá a essa fusão de gêneros textuais 
é intergenericidade ou intertextualidade de gêneros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
5. Os gêneros textuais devem ser corretamente identificados com: 
a) Textos presentes em nosso dia a dia e que apresentam características 
sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e 
composição característica. 
b) Um conjunto limitado de características deter­minadas por propriedades 
linguísticas e gramaticais. 
c) A classificação que tipifica os textos em narração, descrição, argumentação, 
injunção e exposição. 
d) Os textos exclusivamente produzidos por meio da escrita. 
e) Os textos exclusivamente orais. 
 
A alternativa A está correta. 
As opções B e C correspondem a características dos tipos textuais. As 
alternativas D e E estão incorretas porque os gêneros textuais se realizam tanto 
em textos escritos quanto em orais. 
6. (ENEM 2013) 
A diva 
Vamos ao teatro, Maria José? 
Quem me dera, 
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, 
tou podre. Outro dia a gente vamos. 
Falou meio triste, culpada, 
e um pouco alegre por recusar com orgulho. 
TEATRO! Disse no espelho. 
TEATRO! Mais alto, desgrenhada. 
TEATRO! E os cacos voaram 
sem nenhum aplauso. 
Perfeita. 
(PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999) 
 
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, 
reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem 
como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva: 
a) Narra um fato vivido por Maria José. 
b) Surpreende o leitor pelo seu efeito poético. 
c) Relata uma experiência teatral profissional. 
d) Descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora. 
e) Defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral. 
 
A alternativa B está correta. 
A cena descrita no poema narrativo A diva leva o leitor a imaginar a experiência 
teatral através do diálogo expresso no texto. Ao chegar ao final do poema, o 
leitor é surpreendido pela função poética, que transforma a simples Maria José 
em uma diva pela sua atuação dramática espontânea. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Quando temos familiaridade com os diferentes gêneros textuais, as possiblidades 
de leitura se ampliam e se tornam mais aderentes com as características formais 
e sociocomunicativas do texto que estamos lendo. Por isso, quanto mais textos 
diferentes e leituras diversas, mais enriquecido ficará seu repertório e suas novas 
leituras. É o círculo virtuoso da leitura! 
 
CONQUISTAS ADQUIRIDAS 
• Distinguiu os conceitos de texto e de discurso. 
 
• Identificou aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual. 
• Reconheceu o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de 
textos. 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2005. 
ASSIS, J. A. Enunciação, enunciado. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de 
Minas Gerais, s/d. Disponível 
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao-
enunciado. Acesso em: 20 nov. 2019. 
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 
1980. 
BLIKSTEIN, I. Técnicas de comunicação escrita. 8. ed. São Paulo: Ática, 1990. 
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 8. ed. São Paulo: Ática: 1998. 
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 12 ed. São Paulo: Ática, 1996. 
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 
2001. 
MARCUCSHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; 
MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: 
Lucerna, 2002. p. 19-36. 
POSSENTI, S. Discurso. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de Minas Gerais, 
s/d. Disponível 
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/discurso. Acesso 
em: 20 nov. 2019. 
PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999. 
ROJO, R. Gêneros e tipos textuais. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de Minas 
Gerais, s/d. Disponível 
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/generos-e-tipos-
textuais. Acesso em: 20 nov. 2019. 
 
Explore+ 
• Quer se aprofundar na compreensão dos gêneros textuais, conhecer mais 
exemplos e entender como eles se realizam inclusive a partir das tecnologias 
digitais? Então leia o artigo Gêneros textuais: definição e funcionalidade do 
professor e linguista Luiz Antônio Marcuschi. 
• Você pode aprender mais sobre a articulação entre as partes de um texto 
estudando alguns mecanismos de coesão textual. 
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao-enunciado
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao-enunciado
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/discurso.
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/generos-e-tipos-textuais
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/generos-e-tipos-textuais
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
http://redeetec.mec.gov.br/images/stories/pdf/eixo_amb_saude_seguranca/tec_seguranca/portugues/061112_ling_port_a04.pdf
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DEFINIÇÃO 
Descrição das características da linguagem no ambiente profissional: concisão, 
objetividade, clareza, precisão e linguagem formal; exposição de vícios de 
linguagem: barbarismo, cacofonia, gerundismo, tautologias e pleonasmos, 
ambiguidades e chavões. 
PROPÓSITO 
Apresentar as marcas da linguagem no ambiente profissional e os cuidados 
necessários para a boa comunicação. Reconhecer os principais vícios no uso 
da língua e evitá-los. 
 
 
OBJETIVOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Identificar as características da linguagem 
na comunicação profissional e oficial 
Reconhecer os vícios de linguagem 
comuns no ambiente profissional 
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INTRODUÇÃO 
 
O estilo e a linguagem do texto, nesse contexto, devem seguir padrões de 
modernidade, otimizando o uso do tempo e do espaço na troca de mensagens. 
Um texto bem escrito, adequado às normas gramaticais e aos padrões da 
moderna redação empresarial, pode reforçar a credibilidade e a qualidade de 
uma organização. 
O texto comercial ou institucional deve ser caracterizado pela sua eficácia. O 
destinatário desse texto, o cliente ou um parceiro, deve responder à mensagem 
que recebeu da forma que o emissor espera. Quanto mais próxima da intenção 
ou do objetivo estiver a resposta, mais eficaz será o texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*HELLER 
Robert Heller (1932-1912) foi fundador e o primeiro editor 
da revista Management Today, a mais prestigiada 
publicação britânica na área gerencial. Autor de diversos 
livros na área de Gestão, RobertHeller também escreveu 
sobre comunicação no contexto organizacional. (Foto de 
Heller: The Guardian) 
MÓDULO 1 
 
IDENTIFICAR AS CARACTERÍSTICAS DA 
LINGUAGEM NA COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL 
E OFICIAL 
Profissionalmente, você se comunica para fazer com que as coisas aconteçam, 
obter e passar informação, tomar decisões, chegar a consensos e se relacionar 
com as pessoas. 
HELLER*, 2000 
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No ambiente profissional, a linguagem deve estar a serviço da comunicação 
eficiente, a qual consiste em fazer as pessoas entenderem a mensagem e a 
responderem provocando novas trocas – de preferência na direção tencionada. 
A comunicação sempre é uma via de duas mãos. Por isso, a seguir, vamos 
conhecer algumas dicas para uma comunicação eficiente no contexto 
profissional. 
 
 
MARCAS DA LINGUAGEM NA COMUNICAÇÃO 
PROFISSIONAL E OFICIAL 
 
Os textos que cumprem a função de promover e facilitar a comunicação no 
contexto organizacional devem conter qualidades que lhes garantam ter sua 
mensagem decodificada e apreendida sem grandes esforços ou perda de 
tempo. 
De acordo com Gold (2002, p. 6), deve-se evitar a linguagem prolixa e difícil, 
pois tanto o vocabulário sofisticado quanto as frases longas e rebuscadas não 
contribuem para um rápido entendimento da mensagem, levando o leitor a um 
desperdício de tempo, quando não a uma desmotivação progressiva que 
acarretará, inconscientemente, a rejeição da mensagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um texto mal escrito pode até acarretar 
perda de prestígio para uma instituição. Por 
isso, os textos devem ser concisos, claros, 
objetivos e formais. A seguir, vamos 
conhecer essas marcas da linguagem. 
Autor: TierneyMJ | Fonte: Shutterstock 
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Concisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No exemplo anterior, a mesma mensagem foi passada com menos palavras. 
Chamamos isso de concisão: a capacidade de comunicar o máximo de 
informação com o mínimo de palavras, evitando-se subterfúgios e clichês que 
tornam o texto antiquado e rebuscado. Conforme aponta Gold (2002, p. 7), o 
texto conciso se caracteriza, também, como aquele em que todas 
as palavras e informações utilizadas têm uma função significativa. 
As palavras devem estar impregnadas de sentido, dispensando-se os 
elementos que são desnecessários, e a técnica da redução precisa ser aplicada 
eficazmente. Por isso, é importante observar que a concisão do texto está 
relacionada com uma ideia utilitarista da mensagem, mas, ainda assim, não 
deve significar um empobrecimento. De acordo com Gold (2002, p. 51-52), ela 
deve ser entendida como uma forma mais enxuta e condensada, na qual se 
valoriza cada informação. 
 
 
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Como criar textos concisos? 
 
Procure maximizar a informação com um mínimo de palavras. 
 
 
 
 
 
 
Elimine os clichês. 
 
 
 
 
 
 
*Atenciosamente ou Respeitosamente: Você deve usar o “Atenciosamente”, 
quando se dirigir a uma autoridade de mesmo nível hierárquico ou inferior; ou o 
“Respeitosamente”, quando se dirigir a uma autoridade superior. (Fonte: 
Manual de Redação da Presidência da República.) 
Retire as redundâncias e corte ideias ou informações excessivas, identificando 
tudo que não é necessário para a compreensão da mensagem ou que incorre 
em repetições desnecessárias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* 
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 6 / 29 
 
Algumas técnicas de redução podem auxiliar no enxugamento do texto. Vamos 
conhecê-las a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*Queísmo: Termo que designa o exagero no uso do pronome relativo “que”. 
* 
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Objetividade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esse é um exemplo de como podemos transmitir uma informação de forma 
objetiva. Essa marca da linguagem se caracteriza pela centralidade das 
informações que realmente são importantes, não se acrescentando detalhes ou 
palavras que distraiam o leitor ou não contribuam para a finalidade da 
comunicação ou do documento elaborado. Por isso, a objetividade será 
alcançada quando o leitor for conduzido mais diretamente ao assunto que se 
quer tratar. Um texto objetivo não apresenta excesso de palavras ou ideias. A 
seguir, veja algumas dicas para elaborar um texto ou fala objetivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Clareza e precisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Percebeu como a clareza na transmissão das ideias contribui para a correta 
compreensão de um texto? Esse é um fator primordial em toda comunicação. É 
preciso ter clareza sobre o que você quer comunicar e transcrever 
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adequadamente essa organização mental, considerando que outra pessoa lerá 
o que você escrever. Quanto mais clareza no texto, mais chances de um leitor 
não familiarizado com o tema ser capaz de compreender as ideias presentes 
sem grandes problemas. 
Quando escrever um texto ou documento que será lido por pessoas de outras 
áreas, tenha cuidado com o uso de vocabulário técnico, evitando o excesso 
desses termos e oferecendo explicações quando julgar adequado. Evite 
parágrafos muito longos, frases invertidas, ambiguidades e termos que 
careçam de precisão. 
O exemplo anterior é um caso de frases invertidas, ou seja, frases que foram 
colocadas na ordem indireta. Essa forma de escrita pode prejudicar a clareza 
do texto, pois a ordem indireta leva o leitor a um maior esforço para 
compreender a mensagem, tentando mentalmente colocar a frase na ordem 
direta. Quando o texto do nosso exemplo foi colocado na ordem direta, a 
compreensão da mensagem se tornou mais fácil. Lembre-se de que no 
português a ordem direta se caracteriza por: 
 
 
 
Para complementar a clareza de um texto, precisamos estar atentos, também, 
à precisão. Ela pode ser caracterizada pelos seguintes elementos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Articulação da 
linguagem comum ou 
técnica para a perfeita 
compreensão da ideia 
veiculada no texto 
Manifestação do 
pensamento ou da 
ideia com as mesmas 
palavras, evitando o 
emprego de sinonímia 
com propósito 
meramente estilístico 
Escolha de expressão 
ou palavra que não 
confira duplo sentido 
ao texto 
 
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Linguagem formal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diferentemente da linguagem coloquial, a linguagem formal possibilita a 
compreensão dos termos utilizados de modo mais universal. A padronização 
da linguagem harmoniza-se com o caráter mais impessoal dos documentos e 
de parte das relações profissionais, favorecendo a imparcialidade e evitando 
uma linguagem mais emotiva. 
A linguagem formal está mais adequada às normas gramaticais e pode 
fortalecer uma imagem de credibilidade e competência. No entanto, há 
situações e espaços na vida organizacional nos quais a linguagem não precisa 
de tanta formalidade. Observe algumas sugestões: 
 
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Evite palavras rebuscadas, difíceis ou complicadas, tornando o texto pedante. 
 
 
 
 
 
 
Evite, principalmente nas comunicações, chavões ou expressões antiquadas. 
 
 
 
 
 
 
Tenha cuidado com os pleonasmos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO 
 
1. A comunicação eficiente no ambiente profissional deve ser identificada com: 
a) Uso de vocabulário sofisticado e linguagem difícil. 
b) Comunicação de via única, em que o foco está nas informações passadas 
por quem fala ou escreve. 
c) Esforço para que as mensagens sejam compreendidas e as respostas se 
aproximem ao máximo da intenção do emissor. 
d) Foco na compreensão da informação passada, sem preocupação com a 
resposta do receptor ao objetivo da mensagem. 
 
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