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A crise da literatura comparada - René Wellek

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A crise da literatura comparada - René Wellek 1
A crise da literatura comparada 
- René Wellek
WELLEK, René. A crise da literatura comparada. In: COUTINHO, Eduardo F.; 
CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura comparada: textos fundadores. Rio de 
Janeiro: Rocco, 1994. p. 120131.
Os estudos literários, em suas formas menos violentas e silenciosas, estão 
divididos por conflitos metodológicos desde 1914.
No século XIX, acreditava-se no acúmulo de fatos, na esperança de que cada 
um deles seja usado na construção da grande pirâmide do conhecimento e 
havia fé na explicação causal segundo o modelo das ciências naturais.
Ainda não se foi capaz de estabelecer um objeto de estudo distinto e uma 
metodologia específica.
Literatura comparada: combate o falso isolamento das histórias literárias 
nacionais - Concebe uma tradição literária ocidental composta de uma rede de 
inúmeras inter-relações.
Literatura comparada x literatura geral
Segundo Van Tieghem: 
Literatura comparada= estudo das inter-relações entre duas literaturas;
Literatura geral= se preocupa com os movimentos e estilos que abrangem 
várias literaturas.
Ou seja, a literatura comparada seria, em seu objeto de estudo, um conjunto 
incoerente de fragmentos não relacionados: uma rede de relações 
constantemente interrompidas e separadas dos conjuntos significativos.
A história literária e as pesquisas literárias têm um único objeto de 
estudo: a literatura.
Restringir a literatura comparada ao estudo do comércio exterior entre 
duas literaturas torna-a uma mera subdisciplina que investiga dados acerca 
A crise da literatura comparada - René Wellek 2
de fontes estrangeiras e reputações de escritores.
Van Tieghem estabelece que a literatura comparada interessa-se pelos 
mitos e lendas que cercam os poetas e está preocupada com autores 
secundários e menores.
Carré e Guyard: ampliar repentinamente o espectro da literatura comparada a 
fim de incluir o estudo das ilusões nacionais, das ideias fixas que as nações tem 
umas das outras.
Esta ampliação é considerada um estudo de opinião pública e implica 
reconhecimento da esterilidade de seu objeto de estudo habitual - à 
custa, no entanto, da dissolução do estudo literário em psicologia social e 
história cultural.
Van Tieghem e seus precursores e seguidores concebem o estudo literário 
em termos do factualismo positivista do século XIX como um estudo de fontes 
e influências.
Acreditam em explicações causais, na informação obtida a partir da 
investigação dos motivos, temas, personagens, situações, enredos etc., 
que são tributários de algum outro trabalho cronologicamente anterior.
No entanto, obras de arte são conjuntos em que a matéria-prima vinda de 
outro lugar deixa de ser matéria inerte e passa a ser assimilada numa nova 
estrutura. Ou seja, são concebidos na imaginação livre que, ao serem 
fragmentados em fontes e influências, têm sua integridade e significado 
violados. A explicação causal leva apenas a um regressus ad infinitum.
Conceito de fontes e influências - literatura comparada
Louis Cazamian comenta sobre o livro de Carré "Goethe en Angleterre" 
que não há "nenhuma evidência de que uma ação específica leve a uma 
diferença determinada".
Baldensperger em sua introdução ao primeiro número da Révue de 
littérature comparée 1921, assinala a dificuldade dos estudos literários 
em traçar a história dos temas literários. Ele admite que tais estudos não 
podem nunca estabelecer sequências claras e completas. O autor rejeita 
também o evolucionismo rígido proposto por Brunetière. Ele sugeriu que 
A crise da literatura comparada - René Wellek 3
os estudos literários fossem ampliados, para incluir também escritores 
secundários, e que prestassem atenção a avaliações contemporâneas e 
antigas modas do gosto literário.
Relativismo histórico: estudar padrões do passado a fim de escrever uma 
história literária "objetiva". 
Baldensperger proclama que a literatura comparada é uma preparação 
para um Novo Humanismo e espera que as pesquisas forneçam à nossa 
desarticulada humanidade um "núcleo menos incerto de valores comuns".
Paradoxo na motivação psicológica e social da literatura comparada
A literatura comparada nasceu como uma reação contra o nacionalismo 
limitado de muitos estudos do século XIX, como um protesto contra o 
isolacionismo de muitos historiadores da literatura francesa, alemã...
Foi cultivada por homens que se posicionavam nas fronteiras entre 
nações ou, pelo menos, nos pontos limites de uma nação.
Os autores cultivavam a ideia de que a política possuía poder cultural: 
tudo serve apenas para fortalecer a nação de alguém.
Essa motivação patriótica de muitos estudos de literatura comparada 
levou a um estranho sistema de contabilidade cultural, a um desejo de se 
acumular créditos para o próprio país, provando o maior número de 
influências possível sobre outras nações ou, mais sutilmente, provando 
que sua própria nação assimilou e "compreendeu" um grande escritor 
estrangeiro melhor do que qualquer outra.
Crise da literatura comparada
 Demarcação artificial de seu objeto de estudo e de sua metodologia;
 Conceito mecanicista de fontes e influências;
 Motivação ligada ao nacionalismo cultural.
 Reorientações:
Literatura comparada= termo empregado para qualquer estudo de literatura 
que transcenda os limites de uma literatura nacional.
A crise da literatura comparada - René Wellek 4
O que importa é o conceito de estudos literários como uma disciplina 
unificada não tolhida por restrições linguísticas.
Os estudos literários verdadeiros não estão preocupados com fatos 
neutros, mas sim com valores e qualidades. Esta é a razão pela qual não 
há distinção entre história literária e crítica. Mesmo o mais simples dos 
problemas de história literária requer um ato de julgamento.
Norman Foerster em The American Scholar diz que o pesquisador da 
história literária "deve ser um crítico a fim de ser um historiador".
Nos estudos literários, a teoria, a crítica, e a história colaboram para se 
atingir seu objetivo principal: a descrição, interpretação e avaliação de 
uma obra de arte ou de qualquer conjunto de obras de arte.
O foco dos estudos literários devem afastar-se da história das ideias e de 
sentimentos e conceitos religiosos e políticos que frequentemente se 
apresentam como alternativas. Ou seja, os estudos literários são um 
objeto distinto das outras atividades e produções humanas.
A obra de arte pode ser vista como uma estrutura estratificada de signos e 
significados que é totalmente distinta dos processos mentais do autor no 
momento da criação e, portanto, das influências que podem ter formado em sua 
mente.
 "Lacuna ontológica" entre a psicologia do autor e a obra de arte.
 Vida e a sociedade x objeto estético.
 Estudo da obra de arte = estudo "intrínseco" / estudo de suas relações 
com a mente do autor, com a sociedade etc. = estudo "extrínseco".
O que geralmente é chamado de "conteúdo " ou "ideia" em uma obra de 
arte é incorporado à estrutura dessa obra como parte de seu "mundo" 
de significados projetados.
Os elementos linguísticos formam dois estratos inferiores: o dos sons e o 
das unidades de significado. A partir deles emerge um "mundo" de 
situações, personagens e acontecimentos que não podem ser 
identificados com nenhum dos elementos linguísticos ou, menos ainda, 
com nenhum dos elementos da forma ornamental externa.
A crise da literatura comparada - René Wellek 5
Visão holista- a obra de arte é uma totalidade diversificada como uma 
estrutura de signos que, no entanto, pressupõe e requer significados e 
valores. 
A crítica não pode e não deve ser excluída dos estudos literários.
A literatura deve ser vista como uma confrontação dos objetos em sua 
essência ou seja, uma contemplação imparcial mais intensa que levará à análise 
e, finalmente, a juízos de valores.
Os estudos literários tornar-se-ão um ato da imaginação, como a própria arte 
e, portanto, um preservador e criador dos valores mais elevados dahumanidade.

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