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Nutrição Funcional na Modulação da Imunidade e Inflamação Professora Nutricionista Anize Von Frankenberg MÓDULO I: Imunidade e intestino: GALT, microbiota e hiperpermeabilidade intestinal. Qual o papel da nutrição na barreira intestinal e diversidade da microbiota? Imunidade e intestino A microbiota intestinal é importante para manter o fisiologia normal e produção de energia ao longo da vida. A perturbação da microbiota intestinal (disbiose) pode levar a uma variedade de doenças diferentes, incluindo a doença inflamatória do intestino, câncer de cólon e síndrome do intestino irritável, úlceras gástricas, doença hepática gordurosa não alcoólica e obesidade e síndromes metabólicas, asma, atopia e hipertensão, e humor e comportamento através da sinalização hormonal (por exemplo, GLP-1). (1) As proteínas antimicrobianas (sigla AMPs em inglês), conhecidas como antibióticos naturais, protegem as células intestinais contra a invasão dos patógenos e contra o contato com as bactérias intestinais. As células de Paneth presentes no intestino delgado produzem diversas AMPs, dentre elas, destacam-se α-defensis, ANG4 e REG3γ (2). As AMPs atuam de três formas: proteção contra patógenos, no controle a microbiota e limitando o contato entre bactéria e célula epitelial (pela camada interna e externa de muco). Em conjunto, o muco, as bactérias benéficas e as proteínas antimicrobianas conferem proteção para as nossas células intestinais. Há evidências de que as bactérias intestinais têm um papel importante na maturação do sistema imunológico. Estudos de camundongos livres de germes observaram diversas imunodeficiências, incluindo menos células T CD4 + esplênicas, desorganização estrutural esplênica, menos linfócitos intraepiteliais, diminuição da conversão do epitélio folicular associado às células M, diminuição da IgA secretora e diminuição da capacidade de induzir tolerância oral. As bactérias desempenham um papel importante na expansão dos tecidos linfóides intestinais. Quando animais livres de germes são colonizados com flora intestinal, o GALT se expande significativamente (3). O estilo de vida parece ser o principal modificador ambiental da microbiota. Vale ressaltar que embora intervenções dietéticas de curto prazo tenham influência rápida na composição microbiana no intestino, apenas dietas de longo prazo estão associadas a modificações dos enterótipos microbianos (4). Papel da nutrição como barreira intestinal A nutrição possui um papel importante na diversidade microbiana, pois quanto maior for a diversidade de nutrientes ofertados pela alimentação derivados de frutas e vegetais, maior será a diversidade de bactérias benéficas no intestino. Isso acontece pois o gênero da bactéria não depende da idade, do sexo ou da etnia do hospedeiro e sim da dieta do indivíduo. Por exemplo, dietas ricas em proteína e gordura animal favorecem Bacteroides, enquanto ricas em carboidratos parecem favorecer Prevotella 2 (4). A modificação da estrutura da microbiota interfere na produção de citocinas (pró e anti- inflamatórias). O tipo de dieta têm relação com essa alteração. Com isso, surgiu a hipótese de que a redução ou retirada de glúten na alimentação poderia interferir significativamente na microbiota. Um estudo que buscou avaliar os efeitos de uma dieta sem glúten na microbiota intestinal e na função imunológica em indivíduos adultos saudáveis constatou que, com exceção dos indivíduos que possuem a doença celíaca e obrigatoriamente terão que excluir alimentos que contêm glúten, para o restante da população os benefícios da retirada do glúten ainda são contraditórios, pois isso reduzirá a quantidade e variedade da microbiota, como a redução de Bifidobacterium, Clostridium lituseburense e Faecallbacterium prausnitzi (5). Na situação de doença, pode-se observar a desregulação da interação microbioma- imunidade (6). Sob a influência de certos fatores ambientais e a suscetibilidade genética do hospedeiro, como por exemplo, o uso de antibióticos ou mudanças na dieta, na presença de suscetibilidade genética (por exemplo, NOD2 mutação), pode levar a alterações na configuração do microbioma intestinal, incluindo diversidade diminuída e alteração na composição de metabólitos. Essas alterações do microbioma estão fortemente associadas a respostas imunológicas da mucosa, incluindo respostas do tipo Th17, Th1 e Th2 reguladas positivamente, células T reguladoras reguladas negativamente e imunidade humoral desregulada. Como consequência, pode resultar na inflamação intestinal crônica, disbiose e na lesão do tecido clinicamente evidente. (6) O microbioma intestinal e metabólitos associados ao microbioma podem translocar do lúmen intestinal para vários órgãos (por exemplo, fígado, cérebro ou pulmão) através do sistema circulatório e, subsequentemente, induzem respostas imunes locais específicas do tecido. Doenças inflamatórias autoimunes e doenças crônicas A composição da microbiota intestinal está envolvida na regulação da homeostase imunológica. Sinais de diferentes componentes da microbiota (na imagem abaixo, ilustrado pelas setas de cores diferentes) regulam diferentes ramos da resposta das células T da mucosa (cor rosa correspondente às células imunes) na lâmina própria. Na imagem ao lado, observa-se as mudanças na composição das bactérias comensais como por exemplo, a introdução de bactérias filamentosas segmentadas (SFB), que afetam a homeostase imunológica, aumentando os sinais mediadores da indução de células Th17 (setas e flechas roxas). O aumento consecutivo na produção de peptídeos antimicrobianos pelas células epiteliais (círculos vermelhos) aumenta a capacidade do hospedeiro de combater infecções intestinais. No entanto, este aumento nas citocinas pró-inflamatórias também pode tornar o hospedeiro mais suscetível à inflamação autoimune crônica (5). Em relação às bactérias comensais, elas induzem diferenciação de células T CD4 +. As células T CD4 + (naive) podem se diferenciar em quatro tipos principais de células: Th1, Th2, Tregs e Th17. A diferenciação de cada linhagem requer a indução de um fator de transcrição que é único para cada linhagem. Uma vez diferenciadas, cada linhagem secreta um conjunto especial de citocinas. As células Th1 desempenham um papel importante na eliminação de patógenos intracelulares, enquanto Th2 função para controlar a infecção parasitária. O papel principal do Th17 é controlar a infecção, enquanto o das Tregs é regular a resposta imunológica. Todas alterações relacionadas a essas bactérias, podem favorecer o desenvolvimento de doenças autoimunes e doenças crônicas (5). MÓDULO II: Imunidade nas diferentes fases da vida. Imunonutrientes: micro/macronutrientes, padrões de dieta e a importância da nutrição no fortalecimento do sistema imunológico. SISTEMA IMUNE INATO E ADAPTATIVO O sistema imunológico, que está integrado em todos os sistemas fisiológicos, protege o corpo contra infecções e outros insultos externos e internos, utilizando três camadas distintas, dependendo da natureza da ameaça: física (por exemplo, pele, revestimento epitelial dos tratos gastrointestinal e respiratório), barreiras bioquímicas (por exemplo, secreções, muco e ácido gástrico), numerosas células imunológicas diferentes (por exemplo, granulócitos, células T e B CD4 ou CD8) e anticorpos (ou seja, imunoglobulinas). A primeira linha de defesa é a imunidade inata, que combina barreiras físicas e bioquímicas com um não específico, e sua resposta celular é mediada por leucócitos para defesa contra patógenos. Se o patógeno conseguir evitar essas defesas inatas, uma resposta mais complexa, adaptativa e específica do antígeno é desencadeada, mediada porlinfócitos T e B, que produzem anticorpos para direcionar e destruir o patógeno. Ambos os sistemas também protegem contra células nativas que podem ser prejudiciais, como cancerígenas ou células pré-cancerosas. (7) MATURAÇÃO DO SISTEMA IMUNE Os eventos mais críticos no “treinamento da imunidade” ocorrem durante os primeiros anos de vida, nos quais a composição da microbiota exibe a maior variabilidade intra e interindividual antes de atingir uma configuração semelhante a um adulto mais estável aos 3 anos de idade (5). O início da vida, a microbiota intestinal e o desenvolvimento imunológico é impulsionado por sinais ambientais e de desenvolvimento, especialmente no início da vida, influenciando profundamente a saúde ao longo da vida. O desenvolvimento intestinal do recém-nascido depende principalmente do genótipo e de fatores maternos, incluindo nutrição e estado de saúde da mãe, além da amamentação. Os tecidos linfóides (linfonodos mesentéricos e placas de Peyer) com células dendríticas, T e B se desenvolvem em preparação para a exposição ao mundo extrauterino. Em relação a mãe, durante a gestação, há redução natural da imunidade para não produzir anticorpos que rejeitem a placenta e o feto. Durante o processo gestacional, o sistema imunológico materno é ativo e funcional, e necessita reconhecer os tecidos feto-placentários, além de disparar uma complexa resposta imunorreguladora que, pode ser vista no organismo humano apenas nessa fase. Mecanismos envolvendo uma intrincada rede de comunicação permitem a implantação e a gestação bem- sucedida. A expressão de moléculas de HLA-G nas células do trofoblasto, o controle da atividade citolíticados linfócitos NK através de receptores inibitórios, a supressão de linfócitos Th1 na decídua, além da ação hormonal, principalmente da progesterona liberada pelo sinciciotrofoblasto parecem ser constituintes essenciais do fenômeno de tolerância imunológica que ocorre entre o feto e a mãe durante a gestação. Respostas imunes inadequadas podem estar envolvidas com falhas no processo de implantação embrionária, causa de abortamentos espontâneos de repetição e outras patologias, assim, na atualidade, a imunologia da reprodução constitui um capítulo essencial para a compreensão, diagnóstico e resolução de casos obstétricos complexos (9). Os anticorpos maternos que são passados para o feto ocorrem via placenta e via aleitamento materno, o qual a partir dos 4 a 5 meses do bebê, reduz-se progressiva a oferta de anticorpos pelo leite, período de maior probabilidade de infecções para o bebê (8). A maturação do sistema imunológico ocorre conforme os anticorpos, como o IgM, que é a primeira imunoglobulina produzida pelo feto e atinge níveis “de adulto” aos 4 anos. Já a IgG, é a imunoglobulina mais prevalente no soro e atinge níveis “de adulto” aos 11-12 anos. E por último a IgA, a segunda imunoglobulina mais prevalente, que aumenta progressivamente até a vida adulta (8). Com a idade há perda de tecido linfóide, o que resulta na redução da capacidade de responder a patógenos e antígenos. O desenvolvimento da memória imune a longo prazo também é prejudicado, com uma diminuição resposta à vacinação em idosos, por exemplo. A imunossenescência, que é a deterioração natural do sistema imune decorrente do envelhecimento, geralmente parece afetar a imunidade adaptativa, mas também o sistema imunológico inato em menor grau (8). Função dos micronutrientes no sistema imunológico inato e adaptativo Os micronutrientes desempenham papéis fundamentais no sistema imunológico como podemos conferir a seguir (8): - Vitamina C: Na imunidade inata possui ação antioxidante eficaz que protege contra espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio produzidos quando os patógenos são mortos por células imunes. Além de regenerar outros antioxidantes importantes, como glutationa e vitamina E ao seu estado ativo. Também promove a síntese de colágeno, apoiando assim a integridade de barreiras epiteliais, estimula a produção, função e movimento de leucócitos (por exemplo, neutrófilos, linfócitos, fagócitos), aumenta os níveis séricos de proteínas do complemento, tem funções em atividades antimicrobianas e de células NK e quimiotaxia, além de estar envolvida na apoptose e depuração de neutrófilos de locais e infecção por macrófagos. Já no sistema imune adaptativo, pode aumentar os níveis séricos de anticorpos e ter papéis na diferenciação e proliferação de linfócitos - Vitamina D: Atua como receptor de vitamina D expresso em células imunes inatas (por exemplo, monócitos, macrófagos, células dendríticas), além de otimizar a diferenciação de monócitos em macrófagos, estimular a proliferação de células imunes e a produção de citocinas e ajuda a proteger contra infecções causadas por patógenos. A forma ativa da vitamina D, 1,25-dihidroxivitamina D3, regula proteínas antimicrobianas catelicidina e defensina, que podem matar diretamente os patógenos, especialmente bactérias. Já na imunidade adaptativa, a vitamina D possui principalmente efeito inibitório, por exemplo, a 1,25- dihidroxivitamina D3 que suprime a produção de anticorpos pelas células B e inibe a proliferação de células T. - Vitamina A: Ajuda a manter a integridade estrutural e funcional das células da mucosa em barreiras inatas (por exemplo, pele, trato respiratório, etc.), além de ser importante para o funcionamento normal das células imunes inatas (por exemplo, NK células, macrófagos, neutrófilos). Na imunidade adaptativa é necessária para o funcionamento adequado dos linfócitos T e B e, portanto, para a geração de respostas de anticorpos ao antígeno. Além disso está envolvida no desenvolvimento e diferenciação de células Th1 e Th2 e suporta a resposta anti-inflamatória de Th2. - Vitamina E: é um importante antioxidante solúvel em gordura, que na imunidade inata protege a integridade das membranas celulares de danos causados por radicais e aumenta a produção de IL- 2 e a atividade citotóxica das células NK. Já na imunidade adaptativa, aumenta as funções mediadas por células T e linfócitos proliferação, além de otimizar e aprimorar Th1 e suprimir a resposta Th2. - Vitamina B6: na imunidade inata ajuda a regular a inflamação e tem papéis na produção de citocinas e na atividade das células NK. Já na imunidade adaptativa, possui papel na síntese endógena e metabolismo de aminoácidos, na construção de citocinas e produção de anticorpos, além de ter papéis na proliferação de linfócitos, diferenciação e maturação e manter a resposta imune Th1. - Vitamina B12: na imunidade inata tem papel nas funções das células NK. Já na imunidade adaptativa pode atuar como um imunomodulador da imunidade celular, especialmente com efeitos em células citotóxicas (células NK, células T CD8 +). Além disso, facilita a produção de linfócitos T, está envolvida na imunidade humoral e celular e no metabolismo do carbono (e suas interações com folato). - Folato: o folato mantém a imunidade inata (células NK). Na imunidade adaptativa, tem papéis na imunidade mediada por células, é importante para uma resposta de anticorpos suficiente aos antígenos e suporta resposta imune mediada por Th 1. - Zinco: na imunidade inata os efeitos antioxidantes protegem contra espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio, além de ajudar a modular a liberação de citocinas e induz a proliferação de CD8 + Células T. Também ajuda a manter a integridade da pele e da membrana mucosa. Na imunidade adaptativa possui papel central no crescimento celular e diferenciação de células imunes que têm uma rápida diferenciação e rotatividade. É essencial para a ligação intracelular de tirosina quinase à receptores da célula T, necessários para o desenvolvimento de linfócitos T e ativação, também suporta resposta Th1. - Ferro: na imunidade inata está envolvido na regulação da produçãoe ação de citocinas. Além de formar radicais hidroxila altamente tóxicos, portanto, envolvidos no processo de matar bactérias por neutrófilos. Também é importante na geração de espécies reativas de oxigênio que matam patógenos. Na imunidade adaptativa, possui papel importante na diferenciação e proliferação de linfócitos T. É essencial para a diferenciação e crescimento celular, componente de enzimas críticas para o funcionamento das células imunes (por exemplo, ribonucleotídeo redutase envolvida na síntese de DNA). - Cobre: no sistema imune inato, o cobre atua como eliminador de radicais livres e possui propriedades antimicrobianas. Além disso, acumula-se nos locais de inflamação, importante para a produção de IL-2 e resposta contra a inflamação. Pode desempenhar um papel na resposta imune inata a infecções por bactérias. Na imunidade adaptativa, tem papel na proliferação de células e na produção de anticorpos e imunidade celular. - Selênio: na imunidade inata é essencial para a função de enzimas dependentes de selênio (selenoproteínas) que podem atuar como reguladores redox e celulares antioxidantes, potencialmente neutralizando espécies reativas de oxigênio. As selenoproteínas são importantes para o sistema de defesa antioxidante do hospedeiro afetando leucócitos e função das células NK. Já na imunidade adaptativa está envolvido na proliferação de linfócitos T e possui papéis no sistema humoral (por exemplo, imunoglobulina produção). Imunidade e micronutrientes em diferentes fases da vida Diferentes ciclos da vida possuem necessidades e demandas nutricionais diferentes. Durante a amamentação, as concentrações de certos micronutrientes no leite materno (por exemplo, cálcio, magnésio e cobre) são regulados por mecanismos homeostáticos maternos (ou seja, independentes da estado nutricional e dieta materna) para garantir que sejam suficientes para atender às necessidades do bebê e protegê-los contra deficiências ou excesso. Por outro lado, a excreção de outros micronutrientes (por exemplo, vitamina A, e vitaminas B1, B2, B6, B12 e C) no leite materno depende da ingestão materna e varia em todo o mundo. Além disso, o teor de vitamina D do leite humano é baixo e geralmente insuficiente para atender aos requisitos de bebês amamentados exclusivamente se a exposição solar da criança for limitada. O leite humano é uma fonte pobre de ferro e zinco e as necessidades da criança não são atendidas apenas pelo leite materno a partir dos seis meses de vida. Além disso, durante o desmame e nos primeiros anos de vida, a vitamina A e o zinco desempenham papéis importantes em imunidade a doenças infecciosas (8). Durante o nascimento, os bebês são inoculados com micróbios maternos e ambientais, e o tipo e os padrões dependem fortemente do modo de nascimento e da idade gestacional. O desenvolvimento microbiano intestinal no período neonatal é influenciado por vários fatores do início da vida e, especialmente, a dieta (tipo, composição e momento) leva a uma maior diversificação em direção a uma complexidade adulta, que é atingida por volta dos 3 anos de idade. Este processo de colonização pós-natal fornece vários sinais, conhecidos como padrões moleculares associados a micróbios (MAMPs), que afetam a maturação do sistema imunológico e a barreira mucosa, acompanhados de secreção aumentada de muco. Esses sinais também resultam na proliferação de células epiteliais intestinais em criptas e as células de Paneth, resultando em sua profundidade aumentada e na produção de peptídeos antimicrobianos (defensinas), respectivamente. Células epiteliais especializadas (células M) residem acima das placas de Peyer e facilitam a interação direta do conteúdo luminal com as células linfóides subjacentes para estimular a imunidade da mucosa. SIgA é a imunoglobulina mais abundante nas superfícies mucosas, e SIgA materna é fornecida pelo leite humano durante o período pós-natal inicial junto com a iniciação dos próprios bebês SIgA (10). • As deficiências de micronutrientes têm conseqüências imunológicas em bebês e crianças pequenas e podem aumentar a morbi-mortalidade por muitas doenças, incluindo pneumonia, diarréia e sarampo. Crianças com menos de um ano experimentam uma média de seis resfriados por ano e com o passar dos anos a frequência diminui para cerca de três resfriados por ano em crianças mais velhas (10-14 anos). Os meninos são mais freqüentemente afetados que as meninas antes dos três anos de idade, enquanto os reverso é verdadeiro em crianças mais velhas. Como por exemplo, as infecções, especialmente pelo vírus da influenza sazonal, causado por por um tipo diferente de influenza a cada ano, também é mais comum em crianças menores de cinco anos. A infecção e a desnutrição têm uma relação sinérgica, pois deficiências de micronutrientes causam comprometimento imunológico que afeta o sistema imunológico inato e adaptativo. Além disso, há comprometimento da atividade de fagócitos e linfócitos se há deficiência de zinco ou desenvolvimento comprometido de neutrófilos, macrófagos e células NK com deficiência de vitamina A (8). Em outras fases da vida, como a adolescência, constatou que a ingestão de micronutrientes é insuficiente, principalmente de vitamina C (homens 15-18 anos), vitamina D, vitamina A (homens 15-18 anos; mulheres 10-18 anos), vitamina E, folato, zinco (10-18 anos), ferro e selênio. Em pesquisas com esse público, apenas a recomendação de vitaminas B6, B12 e cobre foi suficientemente atingida. Já nos adultos, houve ingestão insuficiente de todos os micronutrientes citados, além de vitamina B6 e cobre. Especialmente em mulheres adultas a ingestão foi baixa para folato, ferro e selênio (8). Imunidade e micronutrientes na população idosa • Quando falamos em idosos, deve-se considerar especificidades do sistema imune. Embora certas infecções sejam menos prováveis em pessoas mais velhas como, por exemplo, a incidência de resfriado comum que é mais baixa entre os maiores de 60 anos, o risco de muitas outras, como infecções do trato urinário, infecções do trato respiratório, infecções da pele, são mais frequentes. Ainda, nessa população as deficiências de micronutrientes são muito comuns, na europa, EUA e Canadá foi estimado que 35% das pessoas com 50 anos ou mais têm uma deficiência de um ou mais micronutrientes. Além disso, muitos idosos têm condições crônicas de saúde que exigem hospitalização, precisam morar em casas de repouso ou tendem a comer menos e fazer escolhas alimentares diferentes (como por exemplo, escolher baixa densidade de nutrientes devido ao custo dos alimentos), o que acentua a redução da oferta de nutrientes de alto valor nutricional (8). • Na população idosa, a ingestão insuficiente de micronutrientes foi relatado tanto na comunidade (vitaminas A, B12, D e zinco) quanto em maior prevalência em instituições de longa permanência (vitaminas A, D e E). Menor ingestão de alimentos foi associado a uma menor ingestão de cálcio, ferro, zinco, vitaminas B e vitamina E em idosos. No geral, os dados da Europa sugerem que há uma ingestão insuficiente da maioria micronutrientes em idosos, além de vitamina B12, ferro e cobre, em particular, a ingestão era baixa em vitamina D (mulheres), vitamina E (ambos) e folato (ambos). • As mulheres mais velhas, que geralmente têm uma expectativa de vida mais longa do que os homens, correm maior risco de deficiência, especialmente para as vitaminas B12, A, C e D, ferro e zinco. Somado a isso, a menopausa afeta a utilização de micronutrientes; por exemplo, a vitamina C, que diminui gradualmente à medida que a menopausa avança, e correlacionou-se negativamente com o índice de massa corporal. Já outros aspectos como a pele dos idosos é menos capaz de sintetizar vitamina D, e a síntese é cerca de 75% mais lenta em pessoas com 65 anos do que em adultos maisjovens (8). Além de todos esses fatores nutricionais que influenciam na imunidade, a influência da microbiota intestinal na saúde humana é contínua desde o nascimento até a velhice. A microbiota materna pode influenciar tanto o ambiente intrauterino quanto o saúde pós-natal do feto. Ao nascer, cerca de 100 espécies microbianas povoam o cólon. Fatores ambientais iniciais (por exemplo, método do parto), fatores nutricionais (por exemplo, amamentação ou mamadeira) e fatores epigenéticos foram implicados no desenvolvimento de um intestino saudável e seus simbiontes microbianos. Mudanças na composição microbiana intestinal em no início da vida pode influenciar o risco de desenvolver doenças mais tarde na vida. Durante a sucção, a comunidade microbiana se desenvolve rapidamente; mudanças na diversidade microbiana ocorrem durante a infância e a vida adulta; e na velhice, há uma diminuição no número dos Bacteroidetes e um aumento nas espécies de Firmicutes. A microbiota intestinal é importante para manter o normal fisiologia e produção de energia ao longo da vida. A regulação da temperatura corporal, a reprodução e o crescimento dos tecidos são processos dependentes de energia que podem depender em parte da produção de energia microbiana intestinal. Fatores ambientais extrínsecos (como o uso de antibióticos, tamanho das família, vida urbana, dieta, estresse, doenças e lesões) e o genoma do hospedeiro mamífero influenciam continuamente o diversidade e função da microbiota intestinal com implicações para a saúde humana. A microbiota intestinal também é importante para o metabolismo de drogas e para prevenir o estabelecimento de micróbios patogênicos (1). Composição da dieta e relação com a imunidade A composição de carboidratos, gorduras, proteínas, componentes antioxidantes nos padrões de alimentação impactam a microbiota do indivíduo (antígenos, LPS, ácidos graxos de cadeia curta), e possuem efeito no sistema imunológico. Esses efeitos envolvem a maturação e desenvolvimento do sistema imunológico inato e adaptativo, manutenção da tolerância imunológica, integridade da barreira intestinal, secreção de peptídeos antimicrobianos (4). Compostos como polifenóis são antioxidantes e ricos em anti-inflamatórios naturais, podendo ser aliados para o fortalecimento do sistema imunológico. Dentre eles existem os ácidos fenólicos, as lignanas, os estilbenos e os flavonoides, e podem ser encontrados no café, nas sementes de linhaça e chia, na uva e no chá verde respectivamente (11). Além desses, outros compostos como os carotenóides possuem potenciais papéis antivirais devido às concentrações plasmáticas de luteína, zeaxantina e caroteno. Um risco maior de mortalidade tem sido associado a baixas concentrações de carotenóides plasmáticos em pacientes que contraíram uma infecção pelo HIV. E também, os carotenóides podem afetar a função imunológica, regulando a fluidez da membrana e alguns carotenóides servem como precursores da vitamina A e podem, assim, exercer funções imunomoduladoras atribuídas diretamente ao status da vitamina A (12). Macronutrientes e imunidade Com relação aos macronutrientes, especialmente a proteína, o baixo consumo proteico (<0,8g/kg de peso) está associado ao maior risco e infecção. Isso devido a ocorrência de quantidade reduzida de imunoglobulinas funcionais ativas e tecido linfóide associado ao intestino (GALT), que desempenham um papel na defesa da mucosa intestinal contra infecções. Uma ingestão muito baixa de proteínas (2% de energia) aumentou a gravidade da infecção por influenza em camundongos, por exemplo, através de uma baixa resposta de anticorpos e maior persistência de vírus nos pulmões, relacionados à hiper-inflamação e mortalidade associada. Em humanos, a desnutrição proteica e o aumento da suscetibilidade ao vírus Zika e influenza estão relacionados à imunidade mediada por células e à diminuição da função bactericida dos neutrófilos, do sistema complemento e da IgA, bem como à resposta de anticorpos. Na alimentação, foram reconhecidos os aspectos bastante pró-inflamatórios das proteínas de origem animal e as propriedades anti-inflamatórias das proteínas derivadas de plantas. Por exemplo, dietas ricas em proteínas da carne aumentam os monócitos do cólon, embora se possa supor os outros componentes da matriz, como gorduras saturadas, assim como a ausência de fibras e outros fitoquímicos, estejam relacionados a esse efeito (12). Os lipídios podem alterar significativamente as respostas imunes, incluindo alterações na organização dos lipídios celulares e interações com os receptores nucleares. Demonstrou-se que os ácidos graxos (AG) afetam a homeostase e o funcionamento das células imunológicas em camundongos, por exemplo, células epiteliais, macrófagos, células dendríticas, células linfóides inatas, neutrófilos e células T e B. Em geral, fibrinogênio aumentado e proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-us), uma proteína de fase aguda de origem hepática, foram associados ao consumo de AGs saturados, enquanto níveis mais baixos de PCR-us foram vinculados a AG poliinsaturada. A ingestão de ácidos graxos trans, especialmente de alimentos processados, como batatas fritas e batatas fritas, foi descrita como pró-inflamatória, estando associada ao aumento dos níveis de TNF-α, IL-6 e hs-CRP. Essa atividade pró ou anti-inflamatória é definida pelo tipo de ácido graxo, como é o caso dos ácidos graxos ômega-3 que possuem capacidade anti-inflamatória mais potente, especialmente os encontrados em peixes e frutos do mar, que desencadeiam reações anti-inflamatórias, e em contrapartida, os ácidos graxos ômega-6 são principalmente pró-inflamatórios, constituindo precursores de vários mediadores pró-inflamatórios. Um desequilíbrio de AGs, como AGs saturados e insaturados e AG ômega-6 e ômega-3, tem implicações importantes para a homeostase do sistema imunológico, o que pode promover o aparecimento de condições alérgicas, auto imunes e metabólicas (12). Priorizar carboidratos complexos, de baixo índice glicêmico e rico em fibras tem sido uma resposta para melhorar a ação do sistema imunológico. A hiperglicemia aguda induzida por carboidratos de alto índice glicêmico e a resposta aguda à insulina, devido ao alto consumo de carboidratos processados (farinha branca, açúcar refinado), levam a uma sobrecarga da capacidade mitocondrial e a um aumento da produção de radicais livres, resultando em um aumento de citocinas inflamatórias e proteína C-reativa. Por outro lado, a qualidade nutricional do carboidrato reduz a glicemia pós-prandial e diminui as respostas inflamatórias, mesmo em refeições isocalóricas. Concomitante a isso, o consumo adequado de fibras alimentares (25g mulheres e 38g para homens) está associado a um microbioma intestinal mais favorável e fortalecimento da integridade da mucosa intestinal, que reduz a inflamação intestinal e sistêmica, e até mesmo pequenos aumentos de apenas 5g de fibras pode ser benéfica. Esse aumento na ingestão principalmente de carboidratos complexos e grão integrais foi associado a diminuição de fatores pró-inflamatórios como IL-6 e TNF-α, diminuindo o risco de doença mediada por inflamação, como DCV, câncer e obesidade (12). Padrões alimentares e imunidade Os padrões alimentares (compostos por alimentos, nutrientes e compostos bioativos não nutritivos) variam de população para população e afetam o funcionamento do sistema imunológico. Esse impacto pode ocorrer no nível de barreiras físicas (por exemplo, pele, mucosas intestinais), microbioma, sistema imunológico inato (por exemplo, função e polarização de macrófagos) e sistema imunológico adaptativo (por exemplo, função de células T e B) (13). O padrão alimentar da dieta mediterrânea, composta majoritariamente por azeite de oliva, frutas e vegetais e peixe, possui benefíciosrelacionados a esse padrão de alimentos consumidos. O azeite de oliva, que é rico em ácidos graxos monoinsaturados, o qual reduz citocinas pró- inflamatórias e modula expressão de genes, além de ser fonte de polifenóis com atividade antioxidante e participa da modulação da expressão de genes. Além disso, as frutas e vegetais, que são ricos em fibras, ácidos graxos de cadeia curta, propionato, acetato e butirato, também possuem ação na redução de citocinas pró-inflamatórias além de modular as células imunes. Outro componente chave na dieta mediterrânea é o peixe, rico em ômega-3, que além de modular as células imunes, aumenta moléculas anti-inflamatórias (14). O padrão da dieta vegetariana, que exclui em diferentes níveis carne e/ou todos os produtos de origem animal e é tipicamente rica em frutas, vegetais, legumes, grãos integrais e azeite como principal fonte de lipídios têm sido associados a biomarcadores favoráveis de inflamação de baixo grau, pois possui proporções substanciais de energia de fontes vegetais (15). Os prebióticos têm papel na diversidade bacteriana, pois estimulam seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas no intestino, melhorando a saúde e imunidade do hospedeiro. Além disso, outros benefícios dos prebióticos estão ligados mudança na composição e população da microflora intestinal, o aumento da produção de produtos de fermentação pela microbiota, o que simula a função de barreira intestinal, com melhora direta no sistema imunológico, além de melhorar a absorção de nutrientes (16). Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, o amido resistente e o frutoligossacarídeos (FOS), ambos naturalmente presentes em grande número de frutas e vegetais: bananas, chicória, alcachofras, cebola, alho, alho poró e trigo. Outros alimentos que são fontes de frutoligossacarídeos (FOS) são: mel (0,75%), centeio, banana, açúcar mascavo, cevada e tomate. O alimento que mais possui amido resistente juntamente com FOS na sua composição é a banana verde (nanica), em torno de 10,3% de FOS e 0,9% de amido resistente. As doses recomendadas para consumo de prebióticos ao dia são de 4 a 20g, acima disso poderá ocorrer desconforto intestinal. (17-19). Além desses, os alimentos fermentados como o iogurte, Kefir e kombuchá, podem propiciar benefícios para a saúde intestinal por ser fonte de probióticos. Com o crescente interesse pelas terapias naturais, a popularidade dos probióticos está crescendo. Dois estudos recentes de pesquisadores em Israel, no entanto, estão levantando questões sobre o uso generalizado de probióticos para proporcionar bem-estar geral e restaurar a flora intestinal após o uso de antibióticos. Em um deles, as bactérias de um suplemento probiótico não conseguiu colonizar o intestino dos participantes de modo efetivo, sugerindo que os probióticos podem variar seu efeito conforme os indivíduos. No outro estudo, a mesma bactéria fixou-se nos intestinos. O que levanta o questionamento sobre quais seriam as doses recomendadas capazes de surtir efeito na saúde intestinal da população, e ao relacionar com os produtos manipulados que possuem formulações padronizadas para o uso, vemos que as doses ainda não são um consenso na literatura (20). MÓDULO III: Doenças crônicas versus imunidade. O papel da nutrição funcional na redução da inflamação e resposta imunológica. Na primeira exposição a patógenos, uma forte resposta do sistema imunológico inato ocorre no início da fase de infecção. Como tal, um certo nível de inflamação é fisiológico e necessário para o acionamento ideal da resposta imune. No entanto, inflamação sistêmica de baixo grau é comum em várias condições, incluindo doença cardiovascular (DCV), doenças inflamatórias intestinais (DII), diabetes tipo 2 (DM2), artrite, câncer e obesidade (22). Indivíduos obesos ou com doenças crônicas, que apresentam inflamação crônica de baixo grau, possuem uma desregulação do sistema imune inato, resultando em um risco aumentado de infecção (8). Exposição tóxica no desenvolvimento de doenças crônicas Além disso, diversos fatores estão associados com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como a exposição tóxica ao estresse, que ativa uma resposta automática rápida para uma atitude de alerta e de energia necessárias para nos desempenharmos da melhor forma possível, mas se ativado por demasiado tempo ou demasiadas vezes, pode danificar partes do organismo, tendendo a uma série de reações pró-inflamatórias. A exposição ambiental pode afetar a nossa imunidade, através de compostos xenobióticos, que não tem nenhum valor nutritivo e são potencialmente tóxicos. Estão presentes nos alimentos ou podem ser introduzidos como aditivos ou no cultivo e/ou processamento. As drogas farmacológicas e recreativas também são substâncias xenobióticas (85). Eles incluem os ftalatos que são utilizados em cosméticos, embalagens de alimentos, brinquedos plásticos e cápsulas e possuem efeitos androgênicos em humanos, e os poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), contidos em pesticidas e tintas (já proibidos nos EUA, EU e AUS), que causam menarca precoce em meninas com exposição intra-uterina e em aleitamento (média de idade de 11,6 anos), além de se acumularem no tecido adiposo (substâncias lipofílicas) e possuírem uma meia-vida de 7-8 anos (22). Além desses compostos, a exposição ambiental envolve a contaminação dos peixes, que atinge principalmente espécies carnívoras como o cação, a pescada branca e o tucunaré, por causa de sua posição trófica, ou seja: são peixes que se alimentam de outros igualmente contaminados e assim vão somando teor mercurial ao longo da vida, uma vez que o material é bioacumulável. Diferentes peixes possuem quantidades diferentes de mercúrio acumulado, sendo maiores nos peixes Tubarão, Peixe espada e Agulha e menores nos peixes chaputa, anchovas, bagre, salmão, sardinha, tilápia, bacalhau, abadejo, e truta, nas ostras, lulas e vieiras e no camarão. A exposição tóxica envolve também os disruptores endócrinos, que são agentes e substâncias químicas que promovem alterações no sistema endócrino e nos hormônios. Eles substituem os hormônios do nosso corpo, ou bloqueiam a sua ação natural, ou ainda, aumentando ou diminuindo a quantidade original de hormônios, alterando as funções endócrinas (23). Os mais conhecidos são os compostos primidinicos (Metirimol, Etirimol e Ciprodinil), que são usados como fungicidas aplicados em frutas e cereais, o Estireno, utilizado na fabricação de plásticos como copos descartáveis e na fabricação de borrachas diversas, o bisfenol A (BPA), que no organismo humano substitui a recepção do estrogênio, diminui a ovulação e aumenta a secreção de prolactina e o Cádmio, que está relacionado ao favorecimento do desenvolvimento de câncer de próstata, além de se concentrar no pâncreas, testículos, tireóide e glândulas salivares, acumula-se também no leite materno (24). Os Ftalatos são substâncias altamente lipofílicas, que se armazenam no tecido adiposo aumentando o volume e a quantidade de adipócitos relacionando-se à obesidade. Dentre esses compostos, existem os agrotóxicos, que segundo o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos da Anvisa (2016), no Brasil, diversos alimentos apresentaram teores maiores do que o recomendado pela legislação como o pimentão, seguido do morango, pepino, alface e cenoura, além de constatarem que diversos alimentos apresentaram tipos de agrotóxicos não permitidos para utilização. Nesse contexto de agrotóxicos e imunidade, um estudo investigou a diferença na quantidade de antioxidantes entre alimentos orgânicos e os convencionais, e constatou que os Alimentos convencionais tiveram ocorrência de resíduos de pesticidas 4 vezes mais elevadas e concentração de cádmio significantementemaior se comparado aos alimentos orgânicos que tiveram uma concentração significativamente maior de antioxidantes (ácidos fenólicos, flavonas, flavonoides, estilbenos, antocianinas, vitamina C e E) (25). Além do estresse, a poluição, a exposição à radiação, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, tabagismo e o alto consumo de alimentos de baixo valor nutricional e alta densidade calórica favorecem o desenvolvimento de doenças. Uma dieta rica em antioxidantes pode ser uma alternativa como proteção a essa exposição tóxica e ao desenvolvimento de doenças crônicas, pois reduz estresse oxidativo causado por radicais livres e possui ação anti-inflamatória reduzindo marcadores pró-inflamatórios. Alimentação, imunidade e desenvolvimento de doenças crônicas Uma dieta antioxidante e anti-inflamatória reduz marcadores pró-inflamatórios, e deve ser rica em frutas e vegetais, preferencialmente orgânicos, fonte de gorduras de boa qualidade e de carboidratos de baixo índice glicêmico. A redução da exposição à dieta com elevada carga glicêmica reduz desenvolvimento de radicais livres e envelhecimento precoce. Além disso, o açúcar pode ser um gatilho tóxico se consumido em excesso, devido a glicotoxicidade, que causa a alta produção de radicais livres com alteração estrutural e funcional das proteínas, lipídios e citocinas, danos ao DNA e lesão celular, além da fermentação por leveduras, que aumenta a infecção fúngica, ocasionando maior susceptibilidade à hipersensibilidades alimentares, carcinogênese e ação como disruptores endócrinos, que juntos geram um gatilho de inflamação e disbiose (26-29). Doenças crônicas e covid-19 A pandemia de Covid-19 se tornou mais grave pois colidiu com outras pandemias que já existiam no mundo, como a de obesidade, diabetes e outras doenças crônicas não transmissíveis. Por isso, não deve-se ver a Covid-19 como uma doença infecciosa somente, e sim tratar as doenças crônicas associadas à má alimentação, é tão importante quanto para ajudar na redução de suas complicações (30,31). A síndrome respiratória causada por SARS-CoV ou SARS-CoV-2 deve-se principalmente a inflamação causada pela replicação viral. A resposta à tempestade de citocinas tem sido associada a um risco aumentado de mortalidade, principalmente devido à insuficiência respiratória causada pela síndrome do desconforto respiratório agudo. No caso da obesidade ocorre o depósito viral do covid em tecido adiposo, que vai sendo liberado aos poucos minando o sistema imunológico, gerando mais inflamação e uma cascata inflamatória agride os tecidos causando danos em múltiplos órgãos e pode gerar respostas mais graves (12). Há um racional por trás: um dos receptores que facilitam o vírus a entrar nas células está presente em grandes quantidades no tecido adiposo e muitas das substâncias produzidas pelo corpo em pacientes graves são amplamente produzidas no tecido adiposo. Torna-se mais claro a importância da obesidade como fator de risco independente de complicações do COVID-19 (32). Um estudo alemão fez exame de tomografia em pessoas com Covid-19, avaliando a gordura abdominal e mostrou que cada cm a mais aumentava em 13% o risco de necessidade de UTI, e 10cm² de área na tomografia aumentava em 32% o risco, independente do peso em si (33). Além disso, houve uma queda pronunciada no número de passos diários, de 27% na média do mundo, e mais de 40% no Brasil, utilizando dados de app (Argus) em mais de 400.000 usuários (34). O lado bom é que sabemos que perdas de peso pequenas (de 5-15%) e exercício físico moderado já reduzem inflamação e a perda de peso deve ser um objetivo central para pessoas com obesidade. Tratamento nutricional na obesidade A perda de peso é o fator que reduz os níveis de inflamação do indivíduo obeso. Para a perda de peso, o indivíduo deve-se ficar em uma restrição calórica de 500-1000 kcal ao dia, com uma alimentação anti-inflamatória que favorece a redução da inflamação crônica (35,36). O tipo de dieta, baixa em gorduras ou baixa em carboidratos, e a distribuição de macronutrientes parece não ter diferença significativamente na perda de peso (37,38). A distribuição de macronutrientes adequada para a perda de peso é aquela que favorece a adesão ao planejamento alimentar pelo indivíduo e que o mesmo consiga seguir por um período maior de tempo, pois a maioria das pessoas só perde peso entre 6 e 9 meses de tratamento com farmacologia e/ou mudança no estilo de vida e apenas 1/6 das pessoas conseguem perder mais do que 10% do peso inicial e manter a perda de peso (39-41). Um fator que dificulta a manutenção da perda de peso é a redução das necessidades energéticas, pois quanto maior a perda de peso, menor são as necessidades energéticas para manutenção desse peso perdido (42,44). Nesse contexto, deve-se aumentar o gasto calórico, aumentando a massa muscular através de exercício físico aliado à alimentação adequada, pois quanto maior a perda de peso, maior será a necessidade de atividade física. Para a manutenção do peso perdido, recomenda-se 60 minutos ou mais de exercício aeróbico ao dia (=300 min/semana) e exercício de força, importante para manter a massa muscular, pois durante o processo de emagrecimento pode ocorrer uma perda de massa muscular em torno de 20-30% considerada aceitável em decorrência do processo de emagrecimento (45-46). A qualidade do sono também afeta o ganho ou a perda de peso, pois está relacionada a modulação hormonal, especialmente a privação de sono pode levar ao aumento da grelina, redução da leptina e peptídeo YY, ocasionando aumento do apetite, fadiga e alteração no metabolismo da glicose, favorecendo o ganho de peso nos indivíduos (47). Um estudo sugeriu que a privação de cerca de 30min/noite de sono foi relacionada com aumento da ingestão alimentar em ~83kcal/dia (especialmente carboidratos e gorduras) (48). MÓDULO IV: Doenças auto-imunes: como tratá-las? Abordagem nutricional funcional em diversas patologias: doença celíaca, esclerose múltipla, psoríase, tireoidite de Hashimoto e doença inflamatória intestinal. Doença celíaca É uma doença autoimune crônica que afeta o intestino de crianças e adultos geneticamente predispostos precipitada pela ingestão de alimentos contendo glúten. É uma reação imunológica adversa, mediada pela imunoglobulina E (IgE) e não-IgE, para diferentes proteínas de trigo. A proteína responsável por desencadear a doença celíaca é o glúten, sendo este uma proteína complexa, composta por albumina, globulinas, glutelinas e prolaminas (cerca de 50%) (49). A resposta de hipersensibilidade às prolaminas, causada pelo sistema imunológico, causa inflamação crônica na mucosa do intestino delgado. Cada fonte de glúten (trigo, centeio, cevada e aveia) tem diferentes gêneros de prolaminas. Como por exemplo o trigo possui a gliadina, centeio a secalina, cevada a hordeína, aveia a avenina (50,51). As principais manifestações clínicas são: dor abdominal, constipação, diarréia, flatulência, fadiga, etc. Dentre as complicações estão principalmente a má absorção de nutrientes e permeabilidade intestinal prejudicada, entre outros. (52). Para diagnóstico, na prática, a dosagem de anticorpos IgA séricos para transglutaminase tecidual (anti-tTG) é um excelente procedimento de rastreamento com alta sensibilidade e especificidade e é considerado o primeiro teste de rastreamento que deve ser solicitado em pacientes com suspeita de doença celíaca. A determinação do anticorpo IgA antiendomísio é 98% específica para doença celíaca ativa, mas deve ser usada apenas como teste confirmatório devido ao custo e à interpretação subjetiva, que podem contribuir para a sensibilidade mais variável. Atualmente, a única forma de tratamento ainda é a exclusão do glúten na alimentação. A retirada total do glúten resultana restauração da mucosa dentro de 2 a 3 meses e deve ser mantida para toda a vida. Com a ausência de diagnóstico de doença celíaca e com sintomas de intolerância ao consumir alimentos com glúten, o indivíduo pode ter uma sensibilidade ao glúten não celíaca. Estes são indivíduos que apresentam sinais ou sintomas intestinais e/ou extraintestinais, relacionados à ingestão de glúten, e que obtém melhora quando este é retirado da alimentação. A frequência da sensibilidade ao glúten não celíaco é desconhecida devido à falta de biomarcadores validados, mas acredita-se que seja mais comum do que a doença celíaca (52). Sugere-se que o próprio glúten pode desencadear sintomas intestinais e fadiga em indivíduos que não têm doença celíaca. Em um atendimento clínico, caso surja desconfortos sem confirmação do diagnóstico laboratorial Sugere-se um desafio cego de glúten durante o qual um paciente recebe aproximadamente 8g de glúten (correspondendo a aproximadamente 2 fatias de pão) ou placebo por 1 semana cada, separados por um período de eliminação sem glúten de 1 semana, e seguir avaliando os sintomas durante todo o período do desafio, pois o diagnóstico para sensibilidade ao glúten não celíaca é clínico, com base nos sinais e sintomas. O tratamento da sensibilidade ao glúten não celíaca ainda não é estabelecido, foi sugerido que essa condição pode ser transitória e que a exclusão do glúten na alimentação deve seguir por um período de 12 a 24 meses. Posterior a isso, deve-se testar a tolerância ao glúten novamente (49,52). Esclerose Múltipla A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune caracterizada por desmielinização e neurodegeneração mediada por células T no Sistema Nervoso Central (SNC). Na encefalomielite autoimune experimental (EAE), um modelo animal para esclerose múltipla, ativou TH1 específico de mielina e as células TH17, que cruzam a barreira hematoencefálica e migram para o SNC, onde eles são ativados por células apresentadoras de antígenos locais (APCs) e promovem a inflamação. Este processo inflamatório leva à morte de oligodendrócitos, desmielinização e dano axonal, que eventualmente causa dano neurológico (53). A dieta e estilo de vida ocidentais ricos em gordura animal, carne vermelha, alimentos fritos, bebidas adoçadas e açúcar, alto teor de sal, baixo teor de fibras, álcool, estilo de vida sedentário, alimentos processados ocasionam uma disbiose da microbiota intestinal devido a alta proporção de bactérias da dieta maléficas e baixa biodiversidade, o que desencadeia uma cascata de inflamação e alteração da imunidade intestinal, em decorrência da baixa relação Treg / Th17 na mucosa intestinal, aumento de LPS, ruptura da barreira intestinal, e posterior inflamação sistêmica (translocação de LPS, peptídeos, proteínas, células T ativadas, intestino em circulação / endotoxemia de baixo grau> 200ug / ml LPS) e consequente neuroinflamação decorrente do aumento da permeabilidade e passagem de moléculas e células pró-inflamatórias, a ativação da microglia e astrócitos e os danos à mielina e/ou aos neurônios (53). Esclerose Múltipla e nutrição Os componentes alimentares apontados como pró-inflamatórios em pacientes com esclerose múltipla são os ácidos graxos saturados, predominantemente de origem animal, como manteiga, leite integral, queijo, carne, salsichas, além de óleo de coco e óleo de palma. Os ácidos graxos trans, contidos em margarina, carne, salgadinhos, batata frita e outros alimentos fritos. A carne vermelha, o açúcar, os cereais refinados, bebidas adoçadas com açúcar e ingestão de baixa fibra e o aumento da ingestão de sal na dieta. Em contrapartida, os componentes da dieta considerados anti-inflamatórios são os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (n-3) como o óleo de peixe, os alimentos fontes de vitaminas D, A, B12, C e E, os carotenóides, os oligoelementos como selênio, zinco e magnésio, os compostos tiólicos (ácido lipóico, N-acetil-cisteína), além dos polifenóis, os probióticos e prebióticos. Em relação a dietas de estilo mediterrâneo e EM são poucos os trabalhos encontrados. No entanto, as evidências com relação ao papel de vários componentes da dieta sugerem que esse tipo de dieta pode ser benéfico. As dietas do estilo mediterrâneo são pobres em gorduras saturadas, ricas em gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas (especialmente peixes e azeite), ricas em frutas e vegetais e pobres em alimentos processados, implicando em baixo teor de sal. Suporte adicional para um estudo mais aprofundado deste padrão na EM vem da literatura do envelhecimento, onde o nível de adesão à dieta mediterrânea foi associado a medidas estruturais de neurodegeneração e à presença de doença de Alzheimer ou comprometimento cognitivo leve, como bem como relacionado ao grau de declínio cognitivo longitudinalmente. A vitamina D como fator anti-inflamatório para EM, deve ser suplementada até que sua concentração sérica seja 30–60 ng/m. A dosagem de administração da vitamina D ainda é controversa. A experiência relatada em um estudo indica que a dosagem baixa (cerca de 700 UI/dia) é ineficaz e quantidades maiores (> 3500–5000 UI/dia) são necessárias (54). É apontado na literatura que períodos de jejum ou restrição calórica na EM geram adaptações na resposta celular, diminuição das espécies livres de oxigênio e redução do estresse oxidativo, podendo ser benéfico para o tratamento (59). O novo conceito de Fasting mimicking diet (FMD) surge como um protocolo alternativo que simula ciclos de jejum, mostrou ser eficaz na estimulação na regeneração de oligodendrócitos dependente do precursor e na redução dos níveis de microglia/monócitos e células T contribuindo para a autoimunidade e encefalomielite. O protocolo para FMD em pacientes com EM trata-se de uma dieta com de baixa caloria e baixa proteína no período de uma semana, tendo o primeiro e o último dia para transição calórica e os demais dias ofertando cerca de 30% das recomendações energéticas, distribuídas em 10% de calorias de carboidratos, seguidas de 40% de lipídios e 10% de proteínas (55). Psoríase A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que tem um efeito substancial na qualidade de vida. Além das manifestações cutâneas, a psoríase está associada a muitas comorbidades, incluindo artrite psoriática, doença cardiometabólica, doença gastrointestinal e transtornos do humor. A psoríase está associada a um risco aumentado de várias doenças autoimunes; isso inclui um aumento de mais de 2 vezes na frequência de doença celíaca por exemplo (60). Em relação ao tratamento nutricional de indivíduos com psoríase, para aqueles com diagnóstico de doença celíaca confirmada, recomenda-se fortemente uma dieta sem glúten. Não se recomenda a triagem universal para marcadores sorológicos de sensibilidade ao glúten entre todos os adultos com psoríase. A redução do peso corporal para adultos com sobrepeso ou obesos com psoríase (IMC ≥25) é recomendada por meio de uma dieta hipocalórica como uma intervenção adjuvante para terapias médicas padrão para psoríase. Além disso, não há evidências suficientes para o tratamento nutricional de psoríase com alimentação ou suplementação (60). Tireoidite de Hashimoto Os hormônios tireoidianos controlam o crescimento, o metabolismo e o desenvolvimento do corpo e participam da produção de proteínas estruturais, enzimas e outros hormônios (61). A maioria dos indivíduos com doenças da tireoide apresenta problemas para manter o peso corporal normal e tem um índice de massa corporal e circunferência da cintura mais elevados do que os indivíduos saudáveis. Herwig et al. mostraram que a taxa metabólica total pode ser reduzida em até 50% em casos graves de hipotireoidismo. A redução da taxa metabólica total apoia o ganho de peso corporal e predispõe os pacientes à obesidade, mesmo quandoa atividade física do paciente e a carga energética da dieta sejam as mesmas de antes do diagnóstico de hipotireoidismo. A conversão incorreta de energia piora o funcionamento da maioria dos tecidos do corpo e perturba o metabolismo, incluindo o metabolismo da glicose (61). Essas alterações metabólicas devem ser consideradas para o tratamento nutricional desses pacientes. Em relação a nutrição e a tireoidite de hashimoto, uma meta análise apontou que a suplementação de selênio reduziu os níveis séricos de TPOAb após 3, 6 e 12 meses em pacientes tratados com Levotiroxina (LT4) (62). Outro estudo que analisou a suplementação de vitamina D em pacientes com tireoidite de Hashimoto, constatou que esses pacientes tinham níveis menores quando comparados ao grupo controle e eram mais propensos a ter uma deficiência. Ensaios clínicos randomizados multicêntricos de grande amostra ajudarão a consolidar se há a associação entre vitamina D e a doença autoimune da tireoide e, consequentemente, darão orientações quanto ao efeito benéfico da suplementação de vitamina D nesses pacientes (63). Doença inflamatória intestinal Doença de Crohn e nutrição A Doença de Crohn (DC) é um processo inflamatório crônico que varia de forma imprevisível entre atividade e remissão no tubo digestivo. A DC é uma das principais formas de apresentação das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) (64-66). Ocorre uma desregulação da resposta inflamatória pelas células do epitélio intestinal/ antígenos: direcionada para as bactérias que normalmente colonizam o TGI e há a estimulação das células T, excesso de citocinas pró- inflamatórias e inflamação persistente. Há predisposição genética para o desenvolvimento, mas também há fatores ambientais e fatores modificáveis envolvidos, como as dietas com baixo teor de fibras e alto conteúdo de açúcar e de gordura animal que possam constituir fatores de risco, além do estresse, dos fatores emocionais e psicossomáticos que podem resultar em momentos de crises (67-69). Tratamento nutricional depende da fase da doença, se está na fase ativa da doença ou fase de remissão. Na fase ativa da doença a alimentação deve auxiliar no controle dos sintomas como diarreia, dor abdominal, distensão e prevenir ou reverter a perda de peso através do uso de suplementos nutricionais adequados. A alimentação deve ser hipercalórica, de 31 – 35Kcal/Kg peso atual, hiperprotéica, de 1,5 a 2,0g/Kg peso atual, hipolipídica (até 20% VET), normoglicídica (restrição de CHO simples), com restrição no consumo de fibras insolúveis e resíduos (ex: lactose) e fracionada de 6-8 refeições de menor volume ao dia. (70). Já na fase de remissão da doença, o valor energético total, deve ser adequado ao estado nutricional do paciente, deve ser hiperprotéica (enquanto necessário), moderado o teor de gordura, normoglicídica, priorizando CHO complexos e podendo ser incluídos os carboidratos simples como a sacarose (em quantidade moderada) e a lactose (progressivamente) e ir introduzindo gradativamente o conteúdo de fibras total e insolúvel na dieta. Na fase de remissão prolongada deve-se avaliar ganho de peso excessivo (relação com inflamação) e a possibilidade de constipação (paciente evitando determinados alimentos por receio de crise) (71). No tratamento das DII a corticoterapia ocasiona má absorção dos nutrientes, que somados a inflamação sistêmica e ao baixo consumo de produtos lácteos, elevam o risco de desenvolver osteopenia e osteoporose. Nesse caso, recomenda-se a suplementação de cálcio (1,5g/dia) + vitamina D. Devido a diarreia nas DII,, o que resulta em baixas concentrações séricas de potássio, magnésio, cálcio e fosfato, deve-se ficar atento aos exames do paciente e avaliar a necessidade de suplementação, assim como os níveis séricos diminuídos de zinco que impactam na cicatrização da mucosa intestinal, devendo ser avaliado individualmente a necessidade de suplementação do mineral (71). Pacientes com DII possuem alterações na microbiota intestinal: alta concentração de bactérias, aumento do número de coliformes e bacteroides e a redução do número de lactobacilus. Com isso, os probióticos podem aferir benefício como o equilíbrio da microbiota intestinal se utilizados em grandes quantidades (geralmente necessitam de bilhões de unidades formadoras de colônias - devido a perda de bactérias no estômago por ação de ácido, e no intestino devido as secreções biliares e pancreáticas). O VSL#3, um coquetel de probióticos (Lactobacillus acidophilus, L. bulgaricus,L. casei, L. plantarum, Streptococcus thermophilus,Bifidobacterium breve, B. infantis and B. longum) mostrou resultados favoráveis tanto na fase ativa (leve a moderada) como na fase de remissão na DII (73-76). Os prebióticos favorecem em maior escala o crescimento de bactérias benéficas e podem ser incluídos como ingredientes de produtos alimentícios ou via suplementação (oligofrutose, inulina, galactooligossacarídeos e lactulose) e podem reestabelecer o balanço da microbiota intestinal e trazer benefícios para a saúde do hospedeiro. Estudos relacionando o consumo de prebióticos observaram efeitos positivos reduzindo a inflamação, geralmente associada a índices de atividade da doença e marcadores (77). Os simbióticos são combinações apropriadas de prebióticos e probióticos, exercem por tanto, os efeitos destes dois componentes dietéticos. A intervenção com simbióticos (B longum de 2x10¹¹ e 12g de oligofrutose e inulina) durante um período de 4 semanas, se mostrou eficaz em pacientes de ambos os sexos com DII em fase ativa (77). Vários estudos usando simbióticos como uma intervenção em pacientes com DII têm mostrado evidências de que esses componentes dietéticos podem ser potencialmente desenvolvidos em terapias para doença aguda ou ativa (79). Com isso, sempre deve-se olhar o paciente como um todo e avaliar individualmente as especificidades de cada doença para com isso encaixar a alimentação como parte da rotina do paciente, que essencialmente necessita de organização e planejamento alimentar. Referências 1. NICHOLSON J.K et al. Review: Host-Gut Microbiota Metabolic Interactions. Science 336, 1262 (2012) 2. Richard L Gallo, Lora V Hooper. Epithelial antimicrobial defence of the skin and intestine. Nat Rev Immunol. 2012 Jun 25;12(7):503-16. 3. Erika Claud MD, W. 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