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resumo nutrição funcional

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Resumo
Aula 1 – Modulo 1
TRATAMENTO CENTRADO NO PACIENTE
Uma importante abordagem do tratamento nutricional funcional é que o foco não é centrado na doença, e sim, no paciente. Isso só acontece porque, a inter-relação entre sistemas orgânicos, ambiente, cultura e fatores emocionais é considerada, assim como os antecedentes familiares e individuais, e o estilo de vida. Isso permite o olhar individualizado para o paciente, indicando as particularidades dos sinais e sintomas apresentados por ele.
O sistema ATMs (Antecedents, Triggers, and Mediators, traduzido como Antecedentes, Gatilhos e Mediadores) deve ser sempre utilizado para que os desequilíbrios nutricionais, citados anteriormente, sejam identificados. Nesse sistema:
· Os antecedentes incluem o histórico de vida e familiar.
· Os gatilhos englobam fatores que podem se originar a partir de estresse mental, físico e/ou oxidativo, radiação, lipopolissacarídeos bacterianos (LPS) e ainda por alguns micro-organismos.
· Já os mediadores podem estar associados às diferentes disfunções do organismo e são conhecidos como: mediadores químicos (hormonais, neurotransmissores, radicais livres e citocinas), cognitivos e/ou emocionais (crenças), culturais e sociais.
EQUILÍBRIO EMOCIONAL E BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES
A ação dos nutrientes e sua absorção no âmbito celular são dependentes da adequação na ingestão, mas também do equilíbrio entre esses componentes, levando em consideração a matriz alimentar, forma de preparo e competição desses nutrientes no organismo, além da capacidade de absorção do indivíduo.
INDIVIDUALIDADE BIOQUÍMICA
É um dos princípios básicos da terapia nutricional funcional, definidos pelo conjunto de fatores genéticos, fisiológicos e bioquímicos individuais que participam do funcionamento do organismo com as respectivas necessidades nutricionais.
Sendo assim, cada indivíduo apresenta um perfil de necessidade e/ou deficiência nutricional, que pode ser determinado por avaliação detalhada de sinais e sintomas apresentados e ainda pelo ambiente ao qual está exposto.
SAÚDE COMO VITALIDADE POSITIVA
A saúde refere-se ao perfeito estado de bem-estar físico, mental e social, de acordo com a definição da OMS. O tratamento deve ter o objetivo de modular os possíveis desequilíbrios ocorridos. Dessa forma, a saúde plena pode ser atingida.
Programação metabólica
Já está descrito na literatura que o período em torno da concepção é crucial para os processos de mediação das influências dos pais na saúde da próxima geração. Fatores ambientais dos pais, incluindo dieta, composição corporal, metabolismo e estresse, afetam o risco de saúde e doenças crônicas nas pessoas ao longo de suas vidas, frequentemente, denominadas programação de desenvolvimento/programação metabólica.
Surgiu, dessa forma, o conceito de “origens do desenvolvimento da saúde e doenças” (DOHaD), propondo que a experiência de desenvolvimento pobre pode provocar aumento do risco de doenças não transmissíveis na vida adulta, particularmente, comorbidades cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2, condições atópicas e algumas formas de câncer, bem como comprometimento neurológico.
Os estudos na área do DOHaD iniciaram-se com as observações epidemiológicas de Barker e colaboradores, que associaram o baixo peso ao nascer com maior risco cardiovascular na vida adulta (BARKER, 1998).
Estas observações levaram a uma hipótese de que a desnutrição durante a gestação foi uma importante origem de doenças cardíacas e metabólicas em adultos, devido à programação fetal que modifica estrutura, função e metabolismo do organismo e contribuiu para o surgimento de doença na vida adulta (WADHWA et al., 2009).
O período pré concepcional foi definido de várias maneiras, mas, para os processos DOHaD, os eventos-chave abrangem amplamente a conclusão da maturação meiótica dos oócitos, diferenciação dos espermatozoides, fertilização e retomada dos ciclos das células mitóticas no zigoto, marcando a transição do genoma parental para o embrionário e o início da morfogênese até a implantação
Os estudos na área do DOHaD iniciaram-se com as observações epidemiológicas de Barker e colaboradores, que associaram o baixo peso ao nascer com maior risco cardiovascular na vida adulta (BARKER, 1998).
Estas observações levaram a uma hipótese de que a desnutrição durante a gestação foi uma importante origem de doenças cardíacas e metabólicas em adultos, devido à programação fetal que modifica estrutura, função e metabolismo do organismo e contribuiu para o surgimento de doença na vida adulta (WADHWA et al., 2009).
O período pré concepcional foi definido de várias maneiras, mas, para os processos DOHaD, os eventos-chave abrangem amplamente a conclusão da maturação meiótica dos oócitos, diferenciação dos espermatozoides, fertilização e retomada dos ciclos das células mitóticas no zigoto, marcando a transição do genoma parental para o embrionário e o início da morfogênese até a implantação
Importante lembrar que já é reconhecido que as influências em todos os estágios, desde a primeira infância, podem moldar a saúde pré-concepção e, dessa forma, influenciar os resultados finais da gravidez e do nascimento.
O período periconcepcional é de grande mudança celular, compreendendo a conclusão da maturação meiótica dos oócitos, diferenciação dos espermatozoides, fertilização e retomada dos ciclos celulares mitóticos no zigoto, marcando a transição dos genomas parentais para embrionários e o início da morfogênese.
As modificações morfológicas e celulares que ocorrem durante a mudança das gerações parentais para as embrionárias, que levam à formação de blastocisto, são impulsionadas por processos subcelulares e moleculares pronunciados. Estes incluem a reestruturação global do epigenoma (principalmente, metilação do DNA e modificações de histonas que controlam a expressão do gene), de modo que a expressão do novo genoma embrionário seja distinta dos genomas parentais.
A reorganização epigenética permite que o embrião exiba primeiro totipotência, um estado celular ingênuo que confere a capacidade de construir linhagens de células embrionárias verdadeiras (fetais futuras) e linhagens extraembrionárias (placentárias) que se tornam evidentes no blastocisto.
Posteriormente, as modificações epigenéticas sustentam a pluripotência do embrião: a capacidade de gerar todas as três camadas germinativas (ectoderme, mesoderme e endoderme), uma vez que a gastrulação tenha ocorrido.
A morfogênese do blastocisto é seguida pela eclosão do embrião a partir da camada da zona pelúcida e implantação mediada pela adesão da camada trofectoderme externa do blastocisto ao endométrio uterino e subsequente invasão e decidualização. A ativação do novo genoma embrionário antes da implantação não só permite a expressão gênica novamente distinta dos genomas parentais, mas também envolve o estabelecimento do metabolismo do embrião que amadurece ao longo do tempo.
Criticamente, as etapas essenciais da reprodução nesse período ocorrem quando as poucas células envolvidas estão totalmente expostas às condições ambientais, tornando-as vulneráveis à perturbação dos mecanismos epigenéticos e a um perfil alterado da expressão do gene embrionário, que persiste durante os ciclos celulares subsequentes e conduz a um programa de desenvolvimento alterado.
As características homeostáticas metabólicas e celulares do embrião, incluindo a atividade mitocondrial, também podem mudar em resposta à disponibilidade de nutrientes. Por outro lado, a sensibilidade periconcepcional submetida a diferentes condições ambientais, também levanta a possibilidade de que esta janela possa ser uma oportunidade, permitindo ao embrião a capacidade de resposta a condições diversas e de otimizar o desenvolvimento para melhor se adequar à sobrevivência e aptidão.
Processos adversos de desenvolvimento na época da concepção foram demonstrados em modelos humanos e animais em resposta a diversas situações ambientais. In vivo, a qualidade da dieta da mãe (tanto a supernutriçãoquanto a obesidade ou subnutrição), e/ou outros aspectos de seu estado fisiológico (incluindo hiperglicemia/lipidemia) podem afetar o potencial embrionário com consequências para o risco de doença na prole ao longo da vida.
O estilo de vida e o fenótipo paternos podem influenciar de forma semelhante a saúde da prole em longo prazo, mediada pelo esperma ou plasma seminal, e ainda, a exposição ambiental, muitas vezes, inadequada dos embriões na reprodução assistida, podendo afetar o fenótipo da prole.
Condicionamento do desenvolvimento periconcepcional por meio da supernutrição materna e obesidade
A mudança de perfil nutricional da população em geral está relacionada a muitas doenças e isso também ocorre na fertilidade. Nesse cenário, o fator estilo de vida da família também será importante para mudar tal desfecho.
A obesidade materna está associada à redução da fertilidade feminina e ao aumento do risco de obesidade na prole. O alto índice de massa corporal materna (IMC) pode promover na prole aumento do peso ao nascer e na infância. Concentrações elevadas de glicose e insulina materna, por exemplo, impulsionam o crescimento fetal e a adiposidade.
O metabolismo prejudicado da prole também pode estar associado ao aumento do risco de doenças alérgicas e atópicas, revelando a complexidade do fenótipo. Em modelos animais de obesidade materna, confirmou-se a ligação com o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas da prole.
Mulheres obesas têm maiores concentrações circulantes de citocinas inflamatórias e de hormônios e metabólitos que se acumulam no fluido folicular ovariano, podendo afetar a maturação e o potencial do oócito de maneira adversa. Assim, o IMC materno está positivamente associado ao aumento do fluido folicular, insulina, lactato, triglicerídeos, leptina e outros reguladores metabólicos, considerando então que o período periconcepcional pode ser causal para o condicionamento relacionado à obesidade.
Além da superexposição de metabólitos, a obesidade materna em camundongos induz defeitos no fenótipo mitocondrial dos ovos, incluindo morfologia anormal e estrutura das cristas, potencial de membrana alterado e distribuição e aumento do conteúdo de DNA mitocondrial, todos marcadores de função mitocondrial e energia perturbada de homeostase. Oócitos de mães obesas, além de serem menores, também apresentam aumento do estresse oxidativo e anormalidades do fuso, sugerindo aumento do risco de aneuploidia.
Esses defeitos mitocondriais nos oócitos podem ser derivados do elevado teor de lipídios e da resistência à insulina inerente causada pela alta adiposidade materna. A hiperlipidemia oocitária, por sua vez, leva à regulação metabólica prejudicada e ao estresse do retículo endoplasmático em camundongos, uma condição em que as proteínas se dobram incorretamente durante a biossíntese e que contribui para doenças metabólicas e cardiovasculares.
Condicionamento do desenvolvimento periconcepcional por meio da desnutrição materna
A má nutrição no útero e o baixo peso ao nascer permanecem altamente prevalentes em países de baixa e média renda e estão associados a maiores riscos de doenças crônicas na vida adulta em diversas populações humanas, particularmente se seguidos por ganho de peso acelerado durante a infância.
Consequências cardiometabólicas e neurológicas humanas semelhantes surgem da exposição materna à fome, como, por exemplo, o inverno da fome holandesa de 1944/1945. Em estudos com humanos, é difícil identificar janelas gestacionais quando ocorre aumento da sensibilidade à desnutrição materna, mas as análises holandesas da fome sugerem um prognóstico pior para os filhos concebidos durante a fome.
Da mesma forma, indivíduos expostos in utero, particularmente, durante o primeiro trimestre à Grande Fome Chinesa (1959-1961) têm risco aumentado de hipertensão na idade adulta.
Origem paterna da programação de desenvolvimento
Atualmente, surgem ligações entre o estilo de vida paterno, a qualidade do esperma e a saúde prejudicada da prole. Os mecanismos paternos diretos (qualidade do esperma, estado epigenético, integridade do DNA) e indiretos (composição do fluido seminal) foram identificados com o potencial de afetar o desenvolvimento da prole de camundongos em várias gerações.
Assim como na reprodução feminina, a fertilidade masculina está intimamente ligada à nutrição e à composição corporal. Em humanos e roedores, o IMC elevado está associado à redução da motilidade espermática, aumento da anormalidade espermática, aumento dos níveis de espécies reativas de oxigênio aos espermatozoides, redução da testosterona sérica e aumento das concentrações de estradiol.
Em homens submetidos a tratamento de fertilização in vitro, a obesidade está associada ao desenvolvimento de blastocisto reduzido e às taxas de nascidos vivos. Em roedores, a obesidade paterna induzida por dieta rica em gordura aumenta os danos ao DNA do esperma, reduz o desenvolvimento de blastocisto e as taxas de implantação e causa subfertilidade em filhos de machos e fêmeas por até duas gerações.
Curiosamente, esses efeitos negativos no desenvolvimento da prole podem ser evitados por meio da dieta paterna e intervenções de exercícios em camundongos, indicando que os efeitos mediados pelos espermatozoides podem ser transitórios e até reversíveis.
Além dos mecanismos de programação de desenvolvimento específicos do esperma, a composição do plasma seminal (por exemplo, fator estimulador de colônia de granulócitos-macrófagos) influencia o desenvolvimento embrionário, placentário e da prole de camundongos e inicia respostas imunológicas do trato reprodutivo materno, essenciais no estabelecimento e manutenção da gravidez humana.
Em camundongos, o fluido seminal paterno tem impacto sobre o ambiente uterino materno, alterando o desenvolvimento de blastocistos, o tamanho da placenta e a tolerância à glicose da prole adulta, adiposidade e pressão arterial.
As influências compartilhadas da dieta materna e paterna e de outros estilos de vida podem se combinar para um maior impacto no desenvolvimento periconcepcional. No entanto, a maioria dos modelos de pesquisa até agora são uniparentais em design e os efeitos combinados de ambos os pais são desconhecidos. Também não se sabe se o impacto da dieta paterna inadequada no desenvolvimento e bem-estar da prole é de significância equivalente ao da dieta materna inadequada.
O período periconcepcional é uma janela-chave durante a qual a fisiologia materna e paterna, a composição corporal, o metabolismo e a dieta inadequados podem induzir aumento do risco de doenças crônicas na prole, um legado ao longo da vida e um fator determinante da carga de saúde das próximas gerações.
A evidência de que consequências semelhantes podem resultar de práticas de reprodução assistida aumentam o foco nesta janela. Fatores ambientais podem perturbar gametas ou embriões iniciais, afetando os mecanismos homeostáticos, ou podem induzir adaptações e sinais ambientais de desenvolvimento com consequências que persistem na idade adulta.
Mudulo 2 
O equilíbrio entre saúde e doença pode ser influenciado por componentes químicos da dieta. Na verdade, dieta e estilo de vida representam fatores de risco importantes para vários tipos de doenças, como já discutido anteriormente.
Vários compostos bioativos em alimentos têm, por exemplo:
EFEITOS ANTI-HIPERTENSIVOS
ANTIOXIDANTES
ANTITROMBÓTICOS
HIPOCOLESTEROLÊMICOS
HIPOTRIGLICERIDÊMICOS
ANTI-OBESIDADE
Demonstrou-se que um estilo de vida correto, principalmente, baseado na ingestão adequada de nutrientes e alimentos bioativos, está correlacionado a um baixo risco de morbidade/mortalidade e uma expectativa de vida mais longa. Em particular, a escolha correta de alimentos está associada a um retardo no envelhecimento e redução de citocinas inflamatórias associadas a várias doenças, como as cardiovasculares (DCV).
Uma dieta rica em frutas e vegetais demonstrou ter efeitos cardioprotetores em vários estudos epidemiológicos. As DCV representam importante causa de mortalidade e morbidade em todoo mundo. Além disso, alguns estudos prospectivos mostram uma correlação inversa entre consumo de frutas e vegetais e o desenvolvimento de DCVs (como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral). Isso acontece pelo perfil nutricional desses alimentos, como os antioxidantes, fibras, vitaminas, potássio e compostos bioativos, dentre outros nutrientes.
O papel dos ácidos graxos também é de fundamental importância no equilíbrio do organismo. A redução de ácidos graxos saturados, aumento de ácidos graxos monoinsaturados e uma relação ótima entre o consumo de n-6:n-3 deve estar presente no desenvolvimento de uma estratégia nutricional.
Demonstrou-se que a ingestão diária de ácidos graxos ω6 e ω3 diminui a biossíntese de ácidos graxos e a produção de triglicerídeos. Além disso, eles reduzem os níveis de oxidação de ácidos graxos no fígado e nos músculos esqueléticos.
Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) n-3 podem regular o metabolismo lipídico, melhorar a sensibilidade à insulina e aumentar o metabolismo da glicose não oxidativa, mas esses efeitos benéficos dependem diretamente da quantidade de PUFA consumida na dieta.
Modelos de dietas
As diferentes dietas vêm sendo estudadas como importantes modelos a serem seguidos para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças.
O consumo de frutas e vegetais é estimulado no modelo de dieta do mediterrâneo (DM), assim como o consumo de azeite, que é rico em ácidos graxos monoinsaturados e fitoquímicos, vinho tinto e plantas específicas (Thymus piperella, Berberis vulgaris, Scandix australis, Vitis vinifera, Foeniculm volgaris, Borago officinalis, Lactuga viminea etc.), que também possuem diversos fitoquímicos, como os polifenóis e importante capacidade antioxidante.
Diversos estudos epidemiológicos investigaram o impacto de vários elementos da DM na longevidade e na saúde, prevenindo doenças crônicas e relacionadas à idade.
Farmacologicamente, os polifenóis podem atuar direta ou indiretamente na nossa saúde, incluindo eliminação direta de radicais livres, enquanto sua atividade antioxidante indireta envolve a inibição enzimática. Os polifenóis também podem apresentar ações anti-inflamatórias, antiproliferativas, antidiabéticas e modificadoras de expressão gênica.
O estudo da modulação do estado inflamatório por meio de alguns nutrientes, como PUFA n-3, fibras e compostos bioativos, vem crescendo e permitindo que a estratégia nutricional se torne mais específica e eficaz para as diferentes necessidades dos indivíduos, sendo ainda fator preventivo de diversas doenças, como DCV (doença cardiovascular), obesidade, câncer, dentre outras. Esse fato ocorre pela possível alteração na expressão de mediadores químicos do estado inflamatório.
O curso de algumas crônicas parece ser influenciado por genes que codificam citocinas como IL-1, IL-6 e TNFα, que, por sua vez, são capazes de modular a expressão gênica de mediadores inflamatórios.
Os produtos nutricionais poderiam ser usados como agentes preventivos eficazes nas variações genéticas que causam um estado inflamatório alterado. Uma vez que o mecanismo por trás dessas interações seja compreendido, os nutrientes podem ser aplicados a grandes segmentos da população.
Existe uma infinidade de substâncias bioativas em plantas e também em plantas alimentícias não convencionais (PANCs) já conhecidas, como flavonoides, carotenoides, álcoois monofenólicos, monoterpenos, ácidos fenólicos, taninos e outros com propriedades anti-inflamatórias.
A capacidade dos extratos de plantas de inibir a estimulação de citocinas inflamatórias, como TNF-α, IL-8, IL-1 e IL-6, quimiocinas, moléculas de adesão celular e síntese de óxido nítrico dependente de iNOS, explica os efeitos anti-inflamatórios deste estilo de alimentação.
Os carboidratos complexos, especificamente, as fibras, podem influenciar o estado inflamatório. Um estudo recente mostrou que o conteúdo de fibra na refeição pode afetar os níveis circulantes de IL-18 tanto em indivíduos saudáveis quanto em pacientes com diabetes mellitus tipo 2.
Dado o efeito anti-inflamatório da fibra alimentar, é possível considerar a hipótese de que o estresse oxidativo transitório pode ser influenciado pela fibra presente na dieta. Além do papel anti-inflamatório dado pela fibra alimentar, os ácidos graxos poli-insaturados n-3 também têm sido sugeridos como desempenhando um papel positivo no estado inflamatório, como já dito anteriormente.
Além disso, os ácidos graxos n-3 podem reduzir o risco de doença cardíaca coronária, diminuindo os níveis de triglicerídeos séricos e melhorando a disfunção endotelial. O ácido α-linoléico (ALA), um ácido graxo n-3 presente nos óleos de linhaça e chia, pode ser convertido em ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), prevenindo assim a DCV por diminuir a tendência trombótica.
Tanto a dieta DASH (abordagens dietéticas para parar a hipertensão) quanto a dieta OmniHeart (ingestão ideal de macronutrientes para prevenir doenças cardíacas) com base na ingestão reduzida de gorduras saturadas e aumento no fornecimento de frutas e vegetais frescos, com outras características específicas de cada, mostraram melhora na pressão arterial e no nível de lipídios, reduzindo o risco de DCV.
Peptídeos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ACE) de peixes, soja, ovo, carne e vitaminas, polifenóis, carotenoides de frutas e vegetais, peptídeos antioxidantes de caseína do leite, proteína de soro de leite e proteína de soja, peptídeos antitrombóticos de K-caseína bovina, proteínas hipocolesterolêmicas de soro de leite, compõem outro grupo que pode reduzir o risco de DCV.
Doenças neurodegenerativas
Modificações dietéticas podem ser particularmente úteis em indivíduos predispostos a doenças neurodegenerativas com altos níveis de homocisteína e alelo δ4 da apolipoproteína E, por meio do fornecimento de antioxidantes, gordura monoinsaturada, PUFA n-3 e agentes anti-inflamatórios, fornecimento de vitamina B6, B12, ácido fólico e redução de gorduras saturadas e colesterol.
As doenças de Alzheimer e Parkinson são caracterizadas por estresse oxidativo, comprometimento metabólico e agregação anormal de proteínas, o que significa uma necessidade de antioxidantes e agentes que preservem a função mitocondrial, além de um sistema desintoxicante mais eficiente do que em indivíduos normais sem uma predisposição genética.
Embora nenhuma evidência mostre qualquer benefício claro de distúrbios neurodegenerativos pelo uso de ácido fólico e pela redução da ingestão de determinados alimentos, pode ser interessante realizar este tipo de intervenção antes do início da doença ou em estágios pré-clínicos iniciais, como uma intervenção de prevenção.
A nutrição tem importante papel na gênese das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), consideradas um dos mais importantes problemas de saúde pública da atualidade em nosso país e no mundo. Além da quantidade, a qualidade dos alimentos que consumimos (em particular aqueles que são fonte de gorduras) participa tanto na patogênese das doenças cardiovasculares (DCV) quanto na sua prevenção.
Ingestão dietética na infância e adolescência
Diversos problemas de saúde se iniciam na infância, quando não vêm desde a concepção, como já discutido anteriormente. Sendo assim, o olhar do nutricionista para a adequação nutricional, nos diversos ciclos de vida, deve ser aprofundado. Neste tópico, faremos uma apresentação geral sobre alguns nutrientes importantes na infância e adolescência.
Como já é sabido, a infância é um período crítico de rápido crescimento físico e desenvolvimento cognitivo. Nessa fase da vida, as crianças têm grandes necessidades de nutrientes. Consequentemente, a quantidade certa de ingestão de energia na dieta e o consumo de alimentos ricos em nutrientes são fundamentais. É muito importante fornecer uma boa variedade e diversidade de alimentos para cada fase de idade, garantindo o desenvolvimento infantil.
O procedimento de obtenção da ingestão habitual torna-se mais complexo em crianças pequenas, para as quais os métodosde recordação alimentar são conduzidos por cuidadores. Portanto, a identificação do instrumento correto e a habilidade do profissional em interpretar esta análise de consumo é fundamental para a obtenção de resultados que representem a ingestão usual e que sejam fisiologicamente plausíveis, podendo partir como apoio para o desenvolvimento da estratégia nutricional.
Diante do exposto, é essencial entender a ingestão de nutrientes na dieta e as fontes de alimentos nutritivos em crianças, devido ao fato de que a nutrição na primeira infância determina o tipo de preferências alimentares futuras, hábitos alimentares e influencia os resultados futuros de saúde.
Especificamente, a ingestão inadequada de energia e nutrientes (como alto consumo de proteína ou gordura saturada) pode ter um efeito adverso na saúde de crianças e adolescentes e predispô-los ao risco de desenvolvimento de doenças não transmissíveis, incluindo sobrepeso, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo
Segundo dados da pesquisa do orçamento familiar (POF) 2017-2018, mais da metade (53,4%) do valor energético consumido vem de alimentos in natura ou minimamente processados, sendo 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Esses últimos fornecem, em média, cerca de 27% do total de calorias diárias dos adolescentes, enquanto para a população com 60 ou mais de idade é de 15,1% (BRASIL, 2020).
Esses dados nos mostram o quanto as escolhas nutricionais estão inadequadas no Brasil e sinalizam para uma expressiva contribuição do nutricionista. Porém, para isso, é necessário conectar os dados de consumo do paciente com as necessidades e recomendações, além de ainda aplicá-los ao olhar integrativo da nutrição funcional. Essa forma de trabalho é a garantia de um tratamento nutricional individualizado e global do indivíduo. Destaca-se, ainda, a importância de se associar a esta discussão as necessidades específicas de cada fase da vida.
Modulo 3 
A população brasileira está envelhecendo em ritmo acelerado. Isso se deve ao aumento da proporção dos idosos na população. Isso vem ocorrendo por dois motivos básicos: o primeiro é a diminuição da mortalidade, que leva a um aumento da expectativa de vida, e o segundo é a queda de fecundidade.
Dessa forma, o cuidado com a população deve ser maior, principalmente, no que corresponde à atenção dos órgãos públicos e da sociedade, enfatizando suas características sociais, econômicas e de saúde, em cada região do território nacional.
O envelhecimento normal (senescência) já leva a várias modificações fisiológicas que podem diminuir a função e atividade de vários órgãos e sistemas; alterações mais graves podem ocorrer caso o processo de envelhecimento seja patológico (senilidade), ou seja, quando associado a uma ou mais doenças crônicas.
Independentemente do processo de envelhecimento, é muito comum o paciente idoso fazer uso de uma ou mais medicações e com todas essas modificações fisiológicas acabam mais suscetíveis às reações de interações medicamentosas adversas, pois essas mudanças podem influenciar a farmacocinética e farmacodinâmica dos remédios, principalmente na biotransformação hepática e excreção renal, podendo aumentar a toxicidade e acelerar ainda mais o processo de envelhecimento.
A interação medicamentosa é um evento clínico em que os efeitos de um fármaco ficam alterados pela presença de outro medicamento, fitoterápico, alimento, bebida alcoólica ou agente químico ambiental.
Quando se administra um fármaco por via oral, sua absorção pelo tubo gastrointestinal e, consequentemente, sua concentração sanguínea são dependentes de vários fatores conforme o Quadro 1:
	Aspectos relacionados aos fármacos
	Variações individuais
	Solubilidade
	Idade
	Tamanho da partícula
	Ingestão de fluidos
	Forma farmacêutica
	Ingestão de alimentos
	Efeitos dos fluidos gastrointestinais
	Tempo de trânsito intestinal
	Metabolismo pré-sistêmico
	Microflora intestinal
	Concentração do fármaco
	Metabolismo intestinal e hepático
	Natureza química
	Doenças gastrintestinais
	Liberação imediata ou lenta
	PH gastrointestinal
A administração de medicamentos em conjunto com alimentos (no horário de refeições) pode ter efeito positivo ou negativo em relação à absorção da droga e dos nutrientes sobre o trato gastrointestinal. Essa oferta simultânea ocorre por três razões fundamentais:
Possibilidade de aumento da sua absorção da droga.
Redução no efeito irritante de alguns fármacos sobre a mucosa gastrointestinal.
Auxílio no cumprimento da terapia, associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições.
Uma vez afetando a biodisponibilidade, por modificação dos processos farmacocinéticos, ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica. Sendo assim, é fundamental conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela presença de nutrientes.
As interações medicamentosas podem diminuir ou anular o potencial terapêutico ou aumentar seu efeito tóxico quando:
· Nutrientes influenciam no processo de absorção de fármacos.
· Nutrientes alteram o processo de biotransformação de algumas substâncias.
· Ocorrem alterações na excreção de fármacos por influência de nutrientes.
· Alguns fármacos alteram o estado nutricional.
· O estado nutricional interfere sobre o metabolismo de certos fármacos.
Nesse contexto, o estado nutricional também tem importantes implicações, visto que o controle de grande parte das doenças crônicas ou infecciosas, além da prevenção de complicações decorrentes das mesmas, dependem do bom estado nutricional do idoso. Sendo assim, as interações entre nutrientes e o uso de medicamentos em idosos, provocam grande impacto farmacológico devido às alterações fisiológicas e efeitos deletérios de drogas no estado nutricional.
Essa interação pode acontecer por meio de:
· Modificação do pH do conteúdo gastrointestinal;
· Esvaziamento gástrico
· Aumento do trânsito intestinal
· Competição por sítios de absorção
· Fluxo sanguíneo esplâncnico e/ou ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos.
Esses fatores podem aumentar ou diminuir a absorção de um fármaco ou retardar o processo de
Esses fatores podem aumentar ou diminuir a absorção de um fármaco ou retardar o processo de absorção, tornando-o mais lento (Quadro 2).
	Fármacos
	Alimentos/Nutrientes
	Mecanismos/Efeitos
	Recomendações
	Referências
	Antimicrobianos
Rifampicina
	Refeição regular
	Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; ↓ absorção
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
	Zent & Smith (1995)
	Eritromicina -base e estearato
	Refeição regular; dieta hiperlipídica
	Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; ↓ absorção
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições ou usar preparações que não são afetadas pelos alimentos
	Welling (1984) Randinitis et al. (1989)
	Ampicilina
	Refeição regular
	Retarda o esvaziamento gástrico; ↓ absorção
	Administrar 1h antes ou 2h após as refeições
	Kirk (1995)
Welling (1984)
	Ciprofloxacina
	Leite, iogurte, alimentos ricos em Fe, Mg, Zn, Ca
	↓ absorção por complexação com cátions
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
	Neuvonen et al. (1991)
	Tetraciclina
	Refeição regular
Leite, iogurte, alimentos ricos em Fe, Mg, Ca
	Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; cria barreira física;
↓ absorção
↓ absorção por complexação com cátions divalentes
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
	Roe (1984)
Welling (1977; 1984)
	Griseofulvina
	Dieta hiperlipídica
	↑ excreção de sais biliares;
↑ solubilidade; ↑absorção
	Administrar com as refeições
	Kirk (1995)
Thomas (1995)
	Isoniazida
	Refeição regular
	Retarda o esvaziamento gástrico; ↑ pH gástrico;
↓ a solubilidade e a absorção.
	Administrar com estômago vazio, se tolerado
	Self et al. (1999)
	Cefalosporinas
	Refeição regular
	Altera a motilidade e o tempode trânsito no trato GI, reduzindo e retardando o nível sérico do antibiótico
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
	McCraken et al. (1978)
	Fármacos
	Alimentos/Nutrientes
	Mecanismos/Efeitos
	Recomendações
	Referências
	Cardiovasculares/diuréticos
	Digoxina
	Refeição regular
	Altera o tempo de trânsito gastrintestinal e a motilidade; ↓ velocidade de absorção
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições ↓ os efeitos colaterais (náuseas, vômitos)
	Welling (1977)
Johnson et al. (1978)
	Captopril
	Refeição regular
	↓ absorção; ↓ efeito terapêutico
	Administrar 2h ou 3h após as refeições
	Ohman et al. (1985)
	Nifedipina
	Dieta hiperlipídica
	↑ a velocidade e a extensão da absorção;
↑ incidência de efeitos colaterais (dor de cabeça, tonteira, etc.).
	Administrar fora das refeições ↓ incidência dos efeitos colaterais
	Qato & Mohammed (1998)
	Propranolol
	Dieta hiperprotéica
	↓ fase I da biotransformação hepática;
↑ fluxo sangüineo esplâncnico;
↑ absorção
	Administrar 2h ou 3h após as refeições
	Liedholm et al. (1990)
	Hidralazina
	Refeição regular
	↓ 1º passo do metabolismo; bloqueia a biotransformação enzimática no trato GI;
↑absorção
	Administrar 2h ou 3h após as refeições
	Melander et al. (1977)
Melander et al. (1985)
	Broncodilatadores
	Teofilina
	Dietas hiperprotéicas e hipoglicídicas
	↑ atividade do citocromo P450;
↓ meia-vida plasmática do medicamento;
↓ tempo de efeito
	Ingerir dieta equilibrada
	Anderson et al. (1979)
	Teofilina
	Café, chá, outras bebidas contendo cafeína
	Parte da cafeína é convertida em teofilina com ↑ da sua concentração, ocorrendo saturação enzimática e prejudicando etapas de biotransformação e eliminação
	Ingestão moderada de cafeína
	Sato et al. (1993)
	Antiparkinsonianos
	Levodopa
	Dieta hiperprotéica
	Há competição entre o fármaco e aminoácidos pela absorção através da mucosa intestinal e do cérebro.
	Monitorar a resposta clínica e evitar dietas hiperprotéicas se oportuno.
	Kempster & Wahlqvist (1994)
	Imunossupressores
	Metotrexato (MTX)
	Desjejum
	↓ a velocidade e a extensão da absorção.
	Administrar com estômago vazio
	Dupuis et al. (1995)
	Fármacos
	Alimentos/Nutrientes
	Mecanismos/Efeitos
	Recomendações
	Referências
	Antipiréticos, analgésicos e sicos e anti-inflamat inflamatórios
	Ac. acetilsalicílico
	Refeição regular; leite; vegetais
	Modifica pH gástrico; ↓solubilidade; ↓ a velocidade e a extensão da absorção
	Apesar da diminuição da absorção, a recomendação clínica é de administrar com alimentos para ↓ irritação gástrica
	Harrison et al. (1992)
	Ibuprofeno
	Refeição regular
	Retarda a absorção.
	Administrar com alimentos para ↓irritação gástrica
	Halsas et al. (1999)
	Paracetamol
	Dietas hiperlipídicas
	↓ a liberação e a dissolução;
↓ a velocidade e a extensão da absorção
	Administrar 2h antes ou 3h após as refeições
	Wessel et al. (1992)
Quando o uso de medicamentos é prolongado, este pode provocar alteração na absorção de nutrientes, sendo, muitas vezes, necessário o uso de suplementos nutricionais para restabelecer a saúde do paciente.
As alterações causadas pelas substâncias ativas na absorção de nutrientes podem ser:
Primárias: consequências dos efeitos diretos dos agentes farmacológicos sobre a mucosa ou sobre o processo intraluminal.
Secundárias: causadas pelo estado fisiológico deficiente ou pela interferência do fármaco sobre o metabolismo de um nutriente que, por sua deficiência, poderá ocasionar a má absorção de outros.
Veja exemplos de modificações fisiológicas do processo de envelhecimento que podem interferir no estado nutricional do indivíduo e proporcionar interações medicamentosas:
· Diminuição da reserva muscular
· Aumento da reserva adiposa
· Alterações na atividade enzimática e nos componentes das secreções gástricas (diminuição da amilase salivar, de enzimas de atividade proteolítica e de amilase e lipase pancreáticas)
· Hipocloridria e acloridria
· Redução da tolerância à glicose
· Diminuição do fluxo sanguíneo renal e da velocidade de filtração glomerular (mesmo na ausência de doença renal)
	Fármacos
	Perda de nutrientes
	Mecanismos/efeitos
	Referências
	Antiácidos
	Hidróxido de alumínio
Carbonato de cálcio
Bicarbonato de sódio
Trisilicato de magnési
	Lipídeos, folacina, K, Ca, P
	↑ pH, modifica a solubilidade; forma complexos; ↓ absorção
	Roe (1985)
	Laxativos
	Óleo mineral
	Caroteno, vitaminas A, D, K, lipídeos
	Cria barreira física para absorção; solubiliza nutrientes; ↑ trânsito intestinal
	Clark et al. (1987)
	Fenolftaleína
	Vitaminas A, E, K, D, lipídeos e cálcio
	↑ trânsito intestinal; ↓ tempo de permanência;
↓ vilosidades intestinais; ↓ absorção
	Roe (1978)
	Bisacodil
	Lipídeos, Na, K, Ca
	Estimula diretamente a motilidade intestinal;
↓ tempo de permanência; ↓ absorção no cólon
	Kirk (1995)
	Antibióticos
	Neomicina Isoniazida
	Lipídeos, Na, K, Ca, Fe, Vitaminas B12, B6
	Danifica a mucosa; ↓ vilosidades intestinais; precipita sais biliares; provoca esteatorréia; ↓ atividade da lipase pancreática
	Melander et al. (1976);
Pellock et al. (1985)
	Tetraciclinas
	Cálcio e ferro
	↓ absorção por ligações com íons cálcio ou sais de ferro (forma quelatos)
	Roe (1984b); Neuvonen & Turakka (1974)
	Agente Hipocolesterolêmico
	Colestiramina, colestipol clofibrato
	Lipídeos, Fe, vitaminas A, K, D, B12
	Provoca perda de apetite; liga-se com ácidos biliares e nutrientes; ↓ absorção
	Roe (1985)
Aula 2 – modulo 1
ANTECEDENTES
Os dados coletados na anamnese para identificar os antecedentes são: hábitos de vida e de alimentação desde o nascimento, tipo de parto, atividade física, uso de medicamentos e/ou suplementos, histórico de doenças pessoais e familiares, entre outros. Pode incluir, inclusive, a saúde da mãe no momento da gestação (SOUZA et al., 2018).
O estilo de vida, principalmente no que se refere aos hábitos alimentares, pode influenciar de forma direta o desenvolvimento de doenças crônicas ou desencadear sinais e sintomas. O alto consumo de gorduras saturadas ou trans, alta ingestão de sal ou açúcar, uma alimentação pobre em fibras e desequilibrada em macro e micronutrientes são considerados fatores de risco para diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade, notadamente quando associados a um estilo de vida sedentário.
Na epigenética, acredita-se que os fatores ambientais possam se sobrepor aos fatores genéticos, uma vez que a alimentação saudável pode, inclusive, silenciar ou ativar genes associados às doenças.
Contudo, segundo Hanley et al. (2010), dependendo das escolhas alimentares, alguns nutrientes podem ser capazes de reverter os padrões epigenéticos anormais, e podem induzir melhoria da saúde por meio da intervenção dietética em pontos específicos de desenvolvimento, principalmente na infância.
GATILHOS – “TRIGGERS”
Os gatilhos são ativados por fatores que induzem à inflamação e ao estresse oxidativo.
Radiação
Traumas
Estresse emocional
Xenobióticos
Lipopolissacarídeos bacterianos (LPS)
Vírus e parasitas
O intestino é a principal barreira. Qualquer alteração intestinal, segundo Souza et al. (2016), que curse com atrofia celular, diminuição de barreira intestinal e acréscimo da permeabilidade, aumenta a translocação de substâncias que funcionam como gatilho para desencadear uma cascata inflamatória e/ou de estresse oxidativo, alterando a atividade celular, podendo ser o principal fator para o desenvolvimento de algumas doenças crônicas.
A disbiose intestinal, estado no qual há alteração na qualidade e quantidade das bactérias intestinais (microbiota intestinal), além de proporcionar mudanças na sua atividade metabólica e também em sua distribuição no TGI (trato gastrointestinal), pode ser gatilho para doenças crônicas que cursam com inflamação e estresse oxidativo. Isso porque o intestino contém o maior reservatório de células imunocompetentes do organismo, sendo o seu desenvolvimento diretamente dependente de microrganismos intestinais. Uma microbiota saudável promove um desenvolvimento normal do sistema imune.
A disbiose intestinal pode ser avaliada de acordo com o padrão alimentar:Dietas com baixo teor de fibra e excesso de carboidratos de alto índice glicêmico, principalmente açúcares, caracterizam o padrão “por fermentação”.
Já uma dieta rica em produtos industrializados, considerados xenobióticos, pode caracterizar uma disbiose “por inflamação”.
O alto consumo de carnes, principalmente vermelha, e embutidos, caracterizam um padrão “por putrefação”, que também está associado com inflamação.
O formato das fezes se modifica em várias doenças intestinais, por exemplo, as diarreias infecciosas, colites, constipação intestinal, incontinência anal, doença inflamatória intestinal, entre outras. A investigação desses parâmetros durante a avaliação do paciente pode ser determinante no diagnóstico e acompanhamento dessas doenças. Além disso, a EBCF pode ser usada como método para investigar a evolução ou não do paciente, facilitando para o profissional a abordagem e a elaboração da melhor conduta nutricional.
	Tipo 1
	
	Pequenas bolinhas duras, separadas como coquinhos, difíceis para sair.
	Tipo 2
	
	Formato de linguiça encaroçada, com pequenas bolinhas grudadas.
	Tipo 3
	
	Formato de linguiça com rachadura na superfície.
	Tipo 4
	
	Alongada, no formato de salsicha ou cobra. Lisa e macia.
	Tipo 5
	
	Pedaços macios e separados com bordas bem definidas (fáceis de sair).
	Tipo 6
	
	Massa pastosa e fofa com bordas irregulares.
	Tipo 7
	
	Totalmente líquida, sem pedaços sólidos.
O formato das fezes se modifica em várias doenças intestinais, por exemplo, as diarreias infecciosas, colites, constipação intestinal, incontinência anal, doença inflamatória intestinal, entre outras. A investigação desses parâmetros durante a avaliação do paciente pode ser determinante no diagnóstico e acompanhamento dessas doenças. Além disso, a EBCF pode ser usada como método para investigar a evolução ou não do paciente, facilitando para o profissional a abordagem e a elaboração da melhor conduta nutricional.
	Tipo 1
	
	Pequenas bolinhas duras, separadas como coquinhos, difíceis para sair.
	Tipo 2
	
	Formato de linguiça encaroçada, com pequenas bolinhas grudadas.
	Tipo 3
	
	Formato de linguiça com rachadura na superfície.
	Tipo 4
	
	Alongada, no formato de salsicha ou cobra. Lisa e macia.
	Tipo 5
	
	Pedaços macios e separados com bordas bem definidas (fáceis de sair).
	Tipo 6
	
	Massa pastosa e fofa com bordas irregulares.
	Tipo 7
	
	Totalmente líquida, sem pedaços sólidos.
Para a estratégia de “remover” são necessários patógenos, xenobióticos e alérgenos alimentares. Em xenobióticos, estão incluídos: antibióticos, fármacos, moléculas bioativas e poluentes. Dessa forma, deve ser orientado o consumo de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e aditivos químicos, tais como glutamato, sulfitos e nitratos que são adicionados a muitos produtos industrializados (SARTOR, 2012).
Para “reinocular” é necessário modular a microbiota intestinal. Nesse ponto, é importante investigar a ingestão de fibras e, se for necessário, fazer a suplementação com frutanos (inulina e frutooligossacarídeo – FOS), que são fibras 100% fermentáveis, além de verificar também a necessidade de suplementar probiótico. Os Lactobacillus são importantes para colonizar principalmente o intestino delgado e o gênero Bifidubacterium, para albergar o intestino grosso. A legislação brasileira, determina que a quantidade mínima viável de cepas deve estar na faixa de 108 a 109 UFC (unidades formadoras de colônia) na porção diária (BRASIL, 2007).
Para “reparar” as células intestinais é necessário fornecer o substrato energético principal, ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que são produzidos quando há fermentação de fibras pelas bactérias. Além disso, a suplementação de glutamina, em torno de 5g/dia, também tem sido associada, já que esse aminoácido tem a função de favorecer a replicação celular. Outros nutrientes como zinco, ácido fólico, vitamina A (DAVIDSON; KRITAS; BUTLER, 2007) e os polifenóis (TOMÁS-BARBERÁN; SELMA; ESPÍN, 2016) também são necessários para o reparo da mucosa intestinal, além do aumento da ingestão hídrica.
É fundamental que seja feita a reavaliação, após todas as etapas, para verificar a eficácia do tratamento e se haverá necessidade de recomeçar.
MEDIADORES
Como o nome já diz, os mediadores são substâncias que mediam os sintomas, ou seja, que desencadeiam as manifestações clínicas sintomatológicas. Segundo Souza et al. (2016), os principais mediadores estudados são:
Hormônios
Neurotransmissores
Neuropeptídeos
Citocinas
Radicais livres
Os mediadores hormonais podem ser modulados por meio da nutrição.
O Cortisol, hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, cuja função é controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e favorecer a homeostase da glicose, pode ser modulado por:
Beta-sitosterol
Aparentemente este fitoesterol modula os efeitos do cortisol, em especial após o exercício.
Fosfatidilserina
Fosfolipídios encontrados nos peixes, vegetais folhosos escuros, na soja e no arroz. É fundamental para o adequado funcionamento dos neurônios. Sua suplementação por 3 semanas reduziu os níveis de ACTH (hormônio corticotrófico ou corticotrofina) e cortisol plasmático.
Theanine
É um aminoácido encontrado no chá-verde que atravessa a barreira hipotalâmica, exercendo propriedades psicoativas e reduzindo estresse físico e mental pelo controle dos níveis de cortisol. Além disso, aumenta a produção de GABA (ácido gama-aminobutírico).
Já a insulina, ou melhor, a resistência à insulina, é uma alteração comum do paciente que apresenta alteração dos mediadores hormonais, principalmente em pacientes que apresentam inflamação ou alguma doença crônica. Sua modulação pode ser feita por meio de nutrientes como:
Ácido alfa-lipóico
Previne o estresse oxidativo, prevenindo a resistência à insulina e disfunção das células beta.
Ácidos graxos W-3
Melhoram a fluidez da membrana celular, aumentando a atividade do receptor de insulina e, com isso, a sensibilidade ao hormônio.
Cromo e vanádio
Melhora a sensibilidade à insulina por meio do aumento do número de receptores de insulina e da maior translocação de GLUT4, auxiliando no controle glicêmico.
Magnésio
O magnésio melhora a atividade dos receptores de insulina
Zinco
É cofator na síntese e utilização da insulina. Além disso, por ser antioxidante, protege a insulina da degradação
Vitamina D
Promove uma ativação geral da síntese proteica das células beta pancreáticas, estimulando a conversão da pró-insulina e insulina.
Sendo assim, o sistema ATMS (imagem a seguir) interage entre si, desencadeando alterações funcionais que estão interligadas e conectam-se de tal forma que, para o tratamento adequado, o cuidado deve ser multidisciplinar, pensando na funcionalidade das células e melhoria das conexões entre órgãos e sistemas.
Modulo 2 
Na teia, é possível identificar as alterações que envolvem: assimilação, energia, integridade estrutural, comunicação, transporte, defesa e reparo, biotransformação e eliminação (imagem abaixo), sendo possível, então, interagir com o sistema ATMS.
Mental, emocional e espiritual
Esta ferramenta considera que o controle das emoções, a saúde mental e a crença espiritual estão no centro do indivíduo, norteiam tudo que ele acredita e também como lida com as situações. Sendo assim, modificações nesses três pontos interferem em todos os outros ou todos os outros aspectos podem alterar essas condições.
É necessário destacar que a qualidade de vida de um indivíduo é baseada em vários aspectos e que saber como lidar com situações estressantes da vida, além de saber como conduzir essas situações, a fim de alcançar um melhor relacionamento consigo e com os outros, é fundamental. Identificar crenças negativas que sabotam pensamentos, atitudes e até mesmo a forma de viver é importante para conduzir um tratamento efetivo, pois alterações emocionais levam à desarmonia e podem somatizar doenças.
A forma positiva como um indivíduo lida com o estresse emocional e alterações de humor tem sido considerado potencialmente benéficopara a reintegração de sua saúde (SILVA; MÜLLER, 2007).
Assimilação
Este ponto compreende a função do trato gastrointestinal (TGI) desde a mastigação até a formação e eliminação das fezes. Inclui aspectos que envolvem a digestão, absorção e saúde intestinal.
Defesa e reparo
O ponto defesa e reparo está relacionado com o sistema imunológico, que é alvo de diversos fatores exógenos e endógenos a que o indivíduo se expõe desde a vida intrauterina.
Esse aspecto leva em consideração os desequilíbrios funcionais sistêmicos e ambientais que podem levar a um estado de hiperinflamação, contribuindo com o desenvolvimento de doenças crônicas. Além disso, aqui também são identificadas as doenças autoimunes e seus fatores de risco.
Energia
Avalia o metabolismo energético e a atividade da mitocôndria, além de toda a geração de espécies reativas de oxigênio, gerada durante o metabolismo energético, que pode induzir o estresse oxidativo.
s fatores que devem ser levados em consideração nesse ponto envolvem principalmente o estilo de vida e hábitos alimentares. O estresse emocional, o alto consumo de gorduras trans, frituras, bebidas alcoólicas, alimentos ultraprocessados e ricos em xenobióticos, associados à inatividade física ou exercício físico extenuante podem contribuir com o estresse oxidativo. Condições ambientais como poluição, toxinas e metais tóxicos também podem induzir maior geração de espécies oxidativas.
Biotransformação e eliminação
Compreende a destoxificação hepática. Nesse ponto, deve ser considerada a exposição a diferentes fontes de xenobióticos e compostos tóxicos (principalmente poluentes, toxinas ambientais, metais tóxicos, álcool, medicamentos e substâncias químicas presentes em alimentos como aditivos e corantes), os mesmos que também alteram a geração de energia eficiente.
A destoxificação ocorre principalmente nos hepatócitos (60% das enzimas de biotransformação) e nos enterócitos (20% das enzimas de biotransformação) e sua capacidade é influenciada por vários fatores como: genéticos (polimorfismos), estado nutricional, sexo, idade, atividade física, carga tóxica recebida do meio ambiente, uso de medicamentos e doenças, em especial, as hepáticas. O jejum, a deficiência de proteínas e o uso de álcool são fatores que reduzem drasticamente o nível de glutationa hepática. E é dividida em fases:
Fase I
Esta etapa acontece por atividade do citocromo P450, que é uma das proteínas responsáveis por oxidar substâncias tóxicas para torná-las mais polares e hidrossolúveis.
Fase II
Metabólitos sofrem reações de conjugação (sulfatação, acetilação, metilação, glutationa e glicuronidação). As toxinas (formadas na fase I ou como foram recebidas) são transformadas em moléculas passíveis de excreção, hidrossolúveis, além de neutralizar sua possível reatividade.
Fase III
O metabólito formado na fase II será transportado para a circulação e, então, ao seu destino final, para sua eliminação por meio das fezes, urina, suor ou leite materno.
O suporte nutricional é fundamental para ajudar na destoxificação hepática.
Na fase I, sendo o citocromo P450 uma heme proteína, é necessário um aumento da ingestão de nutrientes do grupo heme para que ele seja sintetizado, por exemplo, cobre, zinco, vitamina A, riboflavina, piridoxina, ácido fólico, vitamina B12 e ferro.
Na fase II, temos várias reações químicas, sendo que a metionina, um aminoácido essencial, está intimamente envolvida com várias reações. Nesta fase, é importante retirar todos os xenobióticos, mas também aumentar a ingestão desse aminoácido.
Transporte
O transporte está relacionado à saúde dos sistemas cardiovascular e linfático. Esse ponto tem o papel de avaliar a eficiência da sinalização e do transporte de nutrientes, hormônios e/ou neurotransmissores, a fim de garantir sua entrada e atividade na célula-alvo, assegurando uma função adequada ao tecido.
Comunicação
Considera que todas as reações bioquímicas endógenas são coordenadas pela ação de hormônios e neurotransmissores, que precisam estar em perfeito equilíbrio para manutenção da homeostase orgânica. Vários fatores alteram a ação desses mensageiros, como a alimentação, estresse físico e emocional e o excessivo contato com toxinas ambientais que atuam como disruptores endócrinos.
Integridade estrutural
A integridade de membranas celulares, saúde óssea e demais aspectos estruturais dos indivíduos são levados em consideração neste ponto.
O termo “funcional” aplica-se às manifestações de alterações nos processos fisiológicos que interferem em toda a vida do indivíduo, desde manifestações de doença a alterações sintomatológicas, podendo inclusive identificar padrões individuais de metabolismo (SOUZA et al., 2016).
Sendo assim, a Nutrição Funcional é uma ciência integrativa que investiga a interação entre todos os sistemas do corpo humano, enfatizando as relações que existem entre a Bioquímica, a Fisiologia, os aspectos emocionais e cognitivos, bem como os nutrientes. É baseada na ciência e sua aplicação prática tem como principal objetivo a prevenção de doenças ou complicações associadas a elas.
INDIVIDUALIDADE BIOQUÍMICA
É base para a terapia nutricional funcional. Tem como princípio de que cada organismo é único e apresenta necessidades nutricionais diferentes, necessitando de condutas baseadas no rastreamento de sinais e sintomas de acordo com as características apresentadas por cada indivíduo.
Fatores como hábitos alimentares, atividade física, utilização de produtos de limpeza e higiene pessoal (xenobióticos), exames laboratoriais, sinais e sintomas, fatores emocionais ou como lida com as emoções, sono, composição corporal, tudo influencia a individualidade bioquímica e deve ser levado em consideração na hora de traçar o diagnóstico.
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Segundo Baptistella et al. (2018), além da individualidade bioquímica, as necessidades nutricionais levam em consideração a teia de interconexão metabólica. Dependendo do(s) ponto (s) da teia que está(ão) alterado(s), o perfil nutricional do indivíduo muda e é necessário atender a essas questões de forma individual.
DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL
Para o diagnóstico nutricional, deve-se levar em consideração todas as alterações da teia, identificando estado nutricional, sinais e sintomas, alterações bioquímicas e identificar as principais deficiências nutricionais, a fim de traçar a conduta adequada e o planejamento individualizado.
Após identificar todos os pontos que precisam ser cuidados, o profissional precisar traçar metas alcançáveis dentro do prazo que determina para a reconsulta.
As metas devem ser traçadas de acordo com o que deseja melhorar dentro do estado clínico do paciente, mas também deve atender às preferências individuais e hábitos do paciente.
Mudanças drásticas na alimentação podem gerar ansiedade, desconforto e frustração, por isso, as metas devem ser criadas de forma a melhorar todos os pontos da teia, mas de forma gradativa e viável para o paciente.
Pontos da teia de interconexão metabólica e principais nutrientes envolvidos
	Assimilação: funcionamento do trato gastrointestinal – da digestão à eliminação das fezes. Principalmente absorção.
Principais nutrientes/compostos ativos: ômega-3, fibras dietéticas, polifenóis, probióticos, prebióticos (FOS, inulina, oligofrutose), vitamina A, vitamina D, zinco, glutamina.
	Biotransformação e eliminação: compreende o processo de destoxificação hepática, considerando a exposição a xenobióticos e compostos tóxicos.
Principais nutrientes/compostos ativos: vitaminas (A, C, D, E, K), cálcio, magnésio, potássio, zinco, cobre, selênio, ferro, manganês, ômega-3, N-acetilcisteína, metionina, BCAA, quercetina, rutina, flavonoides, antocianinas, isoflavonas, polifenóis do café, resveratrol, cúrcuma, isotiocianatos, coenzima Q10, SAME, silimarina.
	Transporte: investiga a saúde dos sistemas cardiovascular e linfático.
Principais nutrientes/compostos ativos: vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio, zinco, cromo, selênio, fibras, ômega-3, ácido lipóico, coenzima Q10, catequinas,resveratrol, antocianinas, cúrcuma longa, Hibiscus sabdariffa, Cynara scolymus, polifenóis do cacau.
	Integridade estrutural: considera a integridade de membranas celulares, saúde óssea e demais aspectos estruturais.
Principais nutrientes/compostos ativos: vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio, silício, boro, zinco, cobre, ferro, manganês, creatina, leucina, whey protein, proteínas vegetais, colágeno e seus peptídeos bioativos, ácidos graxos poli-insaturados, resveratrol, coenzima Q10, Boswellia serrata, cúrcuma longa, Zingiber officinale.
	Comunicação, mente e emoção: o equilíbrio dos fatores emocionais, mentais e espirituais é essencial para a saúde dos sistemas. Considera a importância da modulação de hormônios e neurotransmissores como: dopamina, serotonina, melatonina, ácido gama-aminobutírico, ocitocina, entre outros, que auxiliam na atividade neuroendócrina e regulação de fatores emocionais.
Principais nutrientes/compostos ativos: magnésio, zinco, selênio, cromo, vitaminas (C, D e E), vitaminas (B3, B12, B9 e B6), ômega-3, N-acetilcisteína, ácido lipóico, coenzima Q10, carnitina, triptofano, teanina.
	Defesa e reparo: o ponto defesa e reparo aborda a relação entre alterações imunológicas, estado inflamatório e infecção.
Principais nutrientes /compostos ativos: vitaminas (A, C, D, E e complexo B), zinco, selênio, magnésio, cobre, ferro, ômega-3, glutamina, arginina, taurina, BCAA, nucleotídeos, resveratrol, curcumina, quercetina, epigalocatequina-3-galato, nucleotídeos, mel, própolis, geleia real, pólen, probióticos, prebióticos.
	Energia: o ponto energia avalia o metabolismo energético e a função mitocondrial.
Principais nutrientes/compostos ativos: magnésio, cálcio, zinco, ferro, cromo, vanádio, complexo B, vitamina C, ácido lipóico, coenzima Q10, ômega-3, CLA, polifenóis, Hibiscus sabdariffa, Garcinia mangostana, Eriobotrya japônica, cúrcuma longa, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis, Undaria pinnatifida, Citrus aurantium, Citrus sinensis L. OsbeckCapsicum spp., Cinnamomum spp., Zingiber officinale.
Aula 3:
MICROBIOTA INTESTINAL
Conceitos e características
A microbiota intestinal pode ser vista como um órgão do corpo real que contribui para o bem-estar do organismo hospedeiro. Os trilhões de micro-organismos que colonizam o trato gastrointestinal (GI) influenciam processos locais e sistêmicos, como transformação de nutrientes, fornecimento de vitaminas, maturação da imunidade mucosa, comunicação intestino-cerebral e até progressão de tumor.
Como outros órgãos, o funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma composição celular estável, que, no caso da microbiota humana, consiste principalmente em bactérias dos filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria e, em menor extensão, Proteobacteria.
Grandes mudanças na proporção entre esses filos ou na expansão de novos grupos de bactérias levam a um desequilíbrio conhecido como disbiose. A redução da diversidade microbiana e o crescimento de Proteobacteria são características da disbiose. Um número crescente de doenças está associado à disbiose intestinal, que, em alguns casos, contribui para o desenvolvimento ou a gravidade da doença.
A disbiose é uma característica marcante das doenças inflamatórias intestinais (DII), como colite ulcerativa e doença de Crohn, assim como de distúrbios metabólicos, doenças autoimunes e distúrbios neurológicos. Ela pode desencadear a doença nas primeiras semanas de vida, conforme observado na enterocolite necrosante; durante a idade adulta, por meio da promoção de câncer colorretal; ou em pessoas já idosas, como a diarreia associada a Clostridium difficile.
Ao contrário dos micro-organismos infecciosos, não é possível estabelecer a patogenicidade de bactérias intestinais específicas por meio da aplicação dos postulados de Koch, uma vez que uma grande fração da microbiota não pode ser isolada como cultura pura. A implicação patogênica de micro-organismos específicos em uma doença depende principalmente da identificação de populações bacterianas deslocadas com base no sequenciamento de DNA de alto rendimento de genes 16S rRNA conservados.
A replicação de uma doença por meio do transplante da microbiota intestinal de um animal doente para um saudável é frequentemente usada em uma segunda etapa para confirmar a contribuição da disbiose intestinal para a doença. Esse transplante demonstrou a contribuição de micro-organismos intestinais, entre outros, para a obesidade e a aterosclerose em camundongos.
No entanto, apesar das fortes evidências obtidas com o sequenciamento do rRNA 16S e o transplante de microbiota, a responsabilidade de grupos bacterianos específicos enriquecidos em um estado de doença frequentemente permanece circunstancial. Alguns patógenos reais permanecem até abaixo do limite das técnicas de detecção atuais.
Bactérias que produzem uma ampla gama de enzimas digestivas se alimentam com frequência de outras com capacidade limitada de forrageamento. O aumento da liberação de nutrientes pode promover o crescimento paralelo de bactérias inofensivas e prejudiciais.
Além disso, a fronteira entre o bem e o mal é frequentemente confusa, já que algumas bactérias simbióticas podem se tornar patogênicas quando presentes em grande número no intestino. Chamadas de patobiontes, elas podem ser difíceis de se reconhecer quando sua expansão ocorre simultaneamente a outras mudanças na composição microbiana do intestino.
Além da atribuição de responsabilidade por associação, a descoberta dos mecanismos subjacentes às mudanças de grupos microbianos é fundamental para a compreensão dos processos que levam à disbiose. Consequentemente, a identificação de fatores que causam fortes alterações na microbiota intestinal constitui um fator indispensável para o desenvolvimento de estratégias destinadas a prevenir a disbiose intestinal.
Vários fatores exógenos e endógenos afetam a composição microbiana do intestino. Os efeitos resultantes variam de transitórios a duradouros, assim como de inofensivos até prejudiciais.
Frequentemente, um único fator não é suficiente para induzir disbiose, pois a microbiota intestinal tem uma resiliência intrínseca, ou seja, uma capacidade de se adaptar às variações na disponibilidade de nutrientes e às mudanças nas condições ambientais. Em contraste, as ações combinadas de vários fatores podem levar grupos microbianos a um ponto de inflexão que eventualmente acarreta grandes mudanças de significado patológico.
Os principais fatores que influenciam a composição da microbiota intestinal são:
DIETA
VÁRIOS MEDICAMENTOS
MUCOSA INTESTINAL
SISTEMA IMUNOLÓGICO
A PRÓPRIA MICROBIOTA
Mudanças moderadas na composição microbiana podem, portanto, fornecer uma janela de oportunidade para outros fatores agravantes a fim de amplificar mudanças em grupos bacterianos específicos a ponto de causar desequilíbrio. Estresse oxidativo, bacteriófagos e bacteriocinas constituem fatores típicos que exacerbam as mudanças da microbiota a ponto de promover a disbiose.
A microbiota desempenha um papel vital na formação do sistema imunológico do hospedeiro. Pode-se dizer que existe um verdadeiro cruzamento entre ambos, o que permite o desenvolvimento da tolerância do hospedeiro aos antígenos inofensivos da microbiota.
Estudos em animais livres de germes (GF) mostraram que a falta da microbiota intestinal leva a uma deficiência significativa no funcionamento do sistema imunológico.
De todo modo, é apenas no parto que os bebês ficam expostos à maioria dos micro-organismos responsáveis pela colonização intestinal e pelo desenvolvimento da microbiota. Ademais, o tipo de parto é muito importante, pois a microbiota intestinal inicial do bebê pode se assemelhar, em termos de composição, aos micro-organismos com os quais ele entrou em contato durante o parto.
O padrão de colonização inicial é considerado caótico. Vários estudos sugerem que os fatores ambientais e a dieta são responsáveis por grandes mudanças na composição. Em uma criança, durante a primeira fase da colonização intestinal,os micro-organismos presentes são predominantemente aeróbios – muitos deles com potencial patogênico como Enterobactérias, Estafilococos e Estreptococos.
Em uma etapa posterior, os micro-organismos tornam-se predominantemente anaeróbios. A composição da comunidade intestinal continua a mudar durante o primeiro ano de vida e, posteriormente, em resposta a fatores externos, como dieta e uso de antibióticos.
Existe uma diferença significativa na composição da microbiota intestinal do bebê em relação a:
· Tipo de leite que bebe.
· Tipo de desmame que realiza.
· Diferentes tipos de alimentos que consome.
O aleitamento materno (AM) é o alimento idealizado pela natureza para recém-nascidos e lactentes, embora, nas últimas décadas, ele seja muito frequentemente substituído por diversas formulações lácteas (FL). De maneira geral, pode-se dizer que o AM tem se mostrado um fator protetor para muitas doenças inflamatórias intestinais e até para o neurodesenvolvimento, enquanto o uso dos diversos tipos de leite formulado para crianças tem demonstrado um aumento do risco de doenças intestinais por induzir a formação incorreta da microbiota intestinal.
Bebês amamentados têm uma população microbiana intestinal mais uniforme do que aqueles nutridos por FL. Esse aspecto tem implicações muito importantes para o futuro da criança.
O estudo da microbiota intestinal de um recém-nascido amamentado pode fornecer informações fundamentais sobre:
· O correto desenvolvimento do sistema imunitário
· A resposta e a tolerância imunológica
· A tendência ao desenvolvimento
Com esses dados, diminuem-se os riscos de patologias alérgicas, inflamatórias e autoimunes. A composição do leite materno, afinal, inclui:
· Proteínas
· Gorduras
· Carboidratos
· Imunoglobulinas
· Endocanabinóides
· Polissacarídeos indigeríveis
Alguns desses polissacarídeos atuam como verdadeiros prebióticos capazes de estimular seletivamente o crescimento de bactérias benéficas. A maioria deles é formada por bifidobactérias indispensáveis para o fortalecimento da proteção da mucosa intestinal graças à sua atividade específica contra patógenos e ao aumento da imunoglobulina A (relacionada à modulação do sistema imunológico intestinal).
Após o desmame, a composição da microbiota intestinal ainda varia em relação ao tipo de alimentação. Contudo, após os três anos de vida, na ausência de distúrbios, como mudanças alimentares em longo prazo ou o uso repetido de antibióticos e medicamentos, a composição bacteriana da microbiota intestinal permanece relativamente estável até a velhice. Em geral, ao longo da vida, as bifidobactérias diminuem, enquanto Bacteroidetes e Firmicutes aumentam.
Microbiota intestinal e o cérebro
A existência de uma correlação próxima entre a microbiota intestinal e o cérebro tornou-se cada vez mais evidente, embora os mecanismos envolvidos não sejam completamente claros: a existência de um eixo intestino-cérebro tornou-se, assim, o principal foco da neurociência.
A evidência de que a disfunção da microbiota pode desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de certas doenças neurológicas é fornecida pela descoberta de que a intervenção a restaurar a saúde e a integridade da microbiota pode ter uma influência positiva no curso, nos sintomas e nas condições clínicas dessas doenças. Essa é a principal razão pela qual o intestino é chamado de "segundo cérebro".
O limite necessário para desencadear a disbiose depende muito dos grupos bacterianos afetados. Mudanças amplas nos principais filos Bacteroidetes e Firmicutes podem permanecer sem consequências patológicas, ao passo que quantidades aumentadas de grupos marginais têm o potencial de causar grandes alterações na microbiota intestinal e na saúde dos indivíduos.
Enterobacteriaceae normalmente representam uma fração menor da microbiota intestinal.
As bactérias da família das Enterobacteriaceae podem se expandir rápido e consecutivamente em relação às alterações nas condições oxidativas do intestino, como ocorre, por exemplo, durante uma inflamação. Devido à pirogenicidade do lipopolissacarídeo (LPS) de Enterobacteriaceae, o crescimento dessa família de bactérias geralmente intensifica uma resposta inflamatória contínua.
Além dos principais fatores introduzidos acima, parâmetros adicionais, como temperatura, pressão atmosférica e pressão parcial de oxigênio, também influenciam a composição microbiana do intestino.
A abundância relativa de Firmicutes também foi aumentada em seres humanos que vivem em grandes altitudes, embora o impacto da altitude sobre a microbiota possa ser difícil de distinguir dos efeitos advindos de temperaturas ambientes mais baixas e diferentes hábitos alimentares.
Nutrição
A dieta é o principal elemento que afeta a microbiota intestinal. Variações naturais na ingestão de alimentos causam mudanças transitórias na composição microbiana, embora componentes predominantes, como carne, peixe e fibras, tenham efeitos duradouros sobre a microbiota e deixem assinaturas típicas caracterizadas por mudanças em grupos bacterianos específicos.
A alteração da composição dos alimentos, bem como a escassez ou o excesso de oferta, afetam a microbiota intestinal. A ausência de nutrientes no intestino durante a alimentação parenteral aumenta os níveis de Proteobacteria, promovendo uma inflamação na parede da mucosa e eventualmente causando uma quebra da barreira epitelial.
O fornecimento excessivo de nutrientes leva à obesidade, que está associada à disbiose e aos distúrbios metabólicos inflamatórios.
A obesidade é caracterizada pela diminuição da diversidade microbiana e por uma sobrerrepresentação de Firmicutes em seres humanos obesos.
Uma proporção mais baixa de Bacteroidetes para Firmicutes resulta em uma maior liberação de LPS na circulação. Já níveis mais altos de LPS contribuem para um estado de inflamação crônica de baixo grau (o que ocorre na obesidade).
A endotoxemia metabólica ainda é melhorada pelo aumento da permeabilidade da parede intestinal. Ela tem como causa uma dieta rica em gordura/açúcar por meio dos níveis crescentes da Escherichia coli invasiva aderente que se infiltra no epitélio intestinal, diminuindo, assim, a espessura do muco.
A dieta geralmente é uma combinação de proteínas, gorduras e carboidratos; portanto, o efeito isolado de cada macronutriente na microbiota in vivo não é facilmente determinado. Contudo, como veremos adiante, as dietas ricas em um ou dois desses tipos de alimentos fornecem pistas valiosas sobre suas respectivas influências.
Proteínas
Em longo prazo, a alta absorção de proteínas animais, aminoácidos e gorduras aumenta as quantidades relativas de Bacteroides, enquanto a baixa ingestão de proteínas e a elevada de carboidratos aumentam os níveis de Prevotella. No entanto, surtos de ingestão de alta proteína em curto prazo não produzem necessariamente os mesmos efeitos.
Enquanto as mudanças microbianas induzidas pelo alto consumo de proteínas são moderadas, as que ocorrem nos produtos de fermentação são mais evidentes. Uma dieta rica em proteínas aumenta a produção de:
· Ácidos graxos de cadeia ramificada
· Substâncias potencialmente tóxicas, como sulfeto, amônia e compostos N-nitrosos
Com uma ingestão alimentar excessiva de proteínas e aminoácidos, também é registrado um aumento da síntese de óxido nítrico (NO). Esse produto antimicrobiano influencia fortemente a microbiota intestinal, enquanto os níveis aumentados de NO medidos em pacientes obesos provavelmente contribuem para o desenvolvimento de uma microbiota associada à obesidade.
Gorduras
Uma alta ingestão de gordura induz mudanças notáveis na composição da microbiota intestinal. A diversidade geral diminui com a abundância relativa de Bacteroidetes, enquanto a relativa de Firmicutes aumenta. Mesmo certas características estruturais, como o grau de saturação de ácidos graxos, marcam a microbiota.
A dieta rica em gordura também exerce indiretamente uma influência na microbiota intestinal, aumentando o pool de ácidos biliares. Após a emulsificação dos lipídios da dieta, a maioria dosácidos biliares é reabsorvida no íleo distal.
Os ácidos biliares não absorvidos influenciam fortemente o crescimento microbiano, criando um ambiente de baixo pH e de forte atividade antimicrobiana. Considerando o efeito estimulador da dieta rica em gordura sobre esses ácidos no intestino grosso em camundongos, pode-se dizer que eles provavelmente contribuem para o impacto da alta ingestão de gordura na disbiose relacionada à obesidade.
Os ácidos biliares são moléculas sinalizadoras de ligação a dois receptores:
Farnesoide X do hormônio nuclear (FXR)
A ligação com o FXR não apenas regula a síntese de ácidos biliares, mas também influencia a homeostase de lipídios, glicose e energia. No fígado, o FXR inibe a indução da proteína de ligação ao elemento regulador de esterol SREBP1c, inibindo, assim, a lipogênese e diminuindo o risco de esteatose.
De ácido biliar acoplado à proteína G (TGR5)
A sinalização de TGR5 induz a produção de peptídeo semelhante ao GLP-1 no intestino, o que melhora a sensibilidade à insulina. Ao aumentar a atividade mitocondrial no tecido adiposo marrom e a fosforilação oxidativa no músculo, a ativação do TGR5 também eleva o gasto de energia.
As bactérias intestinais regulam a sinalização do receptor do ácido biliar, convertendo os ácidos biliares primários em secundários com diferentes afinidades de ligação. As bactérias do filo Firmicutes se destacam pela atividade de 7α-desidroxilação para transformar o ácido cólico e quenodeoxicólico em ácidos desoxicólico e litocólico (ambos têm uma afinidade de ligação inferior para FXR e uma maior para TGR5).
Fibras
As fibras têm efeito direto sobre a microbiota, atingindo o cólon devido à sua indigestibilidade e alimentando a fermentação microbiana. Uma dieta rica em polissacarídeos vegetais promove o crescimento de Bacteroidetes sobre Firmicutes.
Curiosamente, uma microbiota intestinal com uma proporção aumentada de Firmicutes para Bacteroidetes tem uma maior capacidade de extrair energia da dieta. Ao fornecer mais enzimas para a quebra dos polissacarídeos dietéticos, ela aumenta a absorção de monossacarídeos e ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) pela mucosa intestinal. Esse processo maximiza a utilização de nutrientes, mas, no caso de um excesso de fornecimento de alimentos, também faz isso com o armazenamento de energia.
Monossacarídeos liberados por micro-organismos são transferidos para o fígado através da veia porta e ativam a proteína de ligação do elemento de resposta a carboidratos. Isso leva ao aumento da transcrição de vários genes envolvidos na lipogênese hepática de novo e, com isso, da transferência de lipídeos para os depósitos de gordura em tecidos periféricos.
O aumento da absorção intestinal de butirato, acetato e propionato de SCFA fornece energia adicional para diversos tecidos. Usado principalmente pelos colonócitos, o butirato estimula sua proliferação e diferenciação. Já o acetato alimenta a lipogênese nos tecidos periféricos, especialmente nos músculos, enquanto o propionato entra na gliconeogênese pelo fígado.
Uma maior produção de SCFA pela microbiota associada à obesidade pode ser um fator que contribui para a maior deposição de triglicerídeos nos tecidos adiposos, bem como no fígado. Além de sua contribuição calórica, os SCFA ativam as vias metabólicas, agindo como ligantes para os seguintes receptores acoplados à proteína G (GPCRs): GPR41 e GPR43 (também conhecidos como receptores de ácidos graxos livres 3 e 2).
A ativação de GPR41 e GPR43 está associada à expansão do tecido adiposo e aos processos inflamatórios, embora o resultado dessa ativação como protetor ou causador permaneça obscuro. Essa ativação também eleva os níveis de leptina nos adipócitos, o que resulta no aumento da sensibilidade à insulina e em uma maior saciedade.
A sinalização GPR43 nas células L intestinais aumenta a produção de GLP-1, que melhora a tolerância à glicose. Acetato e propionato são os principais ligantes que ativam a GPR43 no tecido adiposo e nas células imunes, pois o butirato serve principalmente como fonte de energia para os colonócitos, enquanto quantidades relativamente pequenas atingem a periferia.
Na disbiose relacionada à obesidade, os perfis de AGCC mudam de forma consecutiva quanto à diminuição da proporção entre Bacteroidetes, produzindo grandes quantidades de acetato e propionato, e Firmicutes, que produz principalmente butirato. Portanto, a diminuição da produção de acetato e propionato pela microbiota provavelmente reduz a sinalização de GPR43.
PREBIÓTICOS
Os prebióticos a modulam diretamente, o que acarreta a redução da permeabilidade intestinal e a endotoxemia, reduzindo, assim, a inflamação.
Essas mudanças estão associadas a níveis mais elevados de GLP-2, o que reduz a permeabilidade intestinal. Uma ingestão da oligofrutose (prebiótico) desloca a composição da flora intestinal para um padrão não obeso, aumentando Bacteroides e reduzindo Firmicutes tanto em ratos ob/ob quanto naqueles geneticamente propensos ao desenvolvimento de obesidade e resistência à insulina.
PROBIÓTICOS
Os probióticos que induzem a secreção ou diminuem a supressão do fator IV semelhante à angiopoietina (ANGPTL4, também conhecido como fator adiposo induzido pelo jejum) têm um efeito benéfico no metabolismo lipídico dos adipócitos. A ANGPTL4 inibe a lipase de lipoproteína (LPL), que é responsável por hidrolisar triglicerídeos de LPLs para a absorção de ácidos graxos na célula.
Camundongos livres de germes deficientes em ANGPTL4 perdem sua proteção contra a obesidade induzida por dieta. A suplementação deles com o probiótico Lactobacillus paracasei aumenta os níveis circulantes de ANGPTL4 e reduz sua gordura corporal.
A Akkermansia muciniphila é outra espécie que provou ser capaz de reduzir a obesidade quando suplementada em camundongos. Embora essa espécie possa causar um aumento da gravidade em modelos de colite, ela tem um efeito protetor em camundongos obesos ao engrossar sua camada de muco, diminuindo, com isso, a permeabilidade intestinal e a endotoxemia, além de prevenir uma inflamação.
Carboidratos
O processamento de polissacarídeos vegetais complexos, como pectinas, xilanos e frutanos, requer uma bateria de endo e exoglicosidases com atividades capazes de liberar monossacarídeos como a Ramnose, ácido galacturônico, arabinose, xilose, frutose e glicose.
Em contraste, a utilização de glicanos da mucina intestinal requer diferentes atividades. Elas consistem em:
Galactosidases
N-acetilglucosaminidases
N-acetilgalactosaminidases
Fucosidases
Sialidases
As diferenças estruturais entre os carboidratos dietéticos e os glicanos intestinais, além da correspondente necessidade de diferentes mecanismos de processamento, levaram as bactérias a se especializarem na utilização de subconjuntos limitados de carboidratos.
O processamento de carboidratos complexos frequentemente depende de ações cooperativas entre táxons bacterianos distintos. Além de permitirem interações mutualísticas, a clivagem desses carboidratos e a liberação de monossacarídeos no lúmen intestinal também geram oportunidades para as bactérias, já que elas carecem de enzimas de processamento de carboidratos.
A E. coli não expressa nenhuma glicosidase capaz de degradar carboidratos complexos, mas é uma consumidora ávida dos monossacarídeos N-acetilglucosamina, ácido N-acetilneuramínico (Neu5Ac) e fucose. Consequentemente, a E. coli intestinal e outras Enterobacteriaceae respondem à presença de monossacarídeos específicos, aumentando a proliferação e alterando a expressão de fatores de virulência.
A capacidade de clivar o ácido siálico, como o Neu5Ac e o ácido N-glicolilneuramínico (Neu5Gc), é restrita a um número limitado de taxa bacteriana. Os agrupamentos de genes NAN codifica sialidases, enquanto os transportadores e as enzimas catabólicas permitem a liberação de ácido siálico de glicanos intestinais e sua utilização como fonte de carbono.
Algumas espécies de Bacteroides, como Bacteroides fragilis, expressam agrupamentos NAN totalmente operacionais. Já outras, como Bacteroides

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