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Resumo - Sistema complemento O sistema complemento é um dos principais mecanismos efetores da imunidade humoral e é também um importante mecanismo efetor da imunidade inata. Possui esse nome pois “complementa” a habilidade de anticorpos e células fagocíticas para destruírem microrganismos (como descoberto no experimento de Jules Bordet). Esse sistema é composto de proteínas séricas e de superfície celular que interagem umas com as outras e com outras moléculas do sistema imune de maneira altamente regulada para gerar produtos que funcionam para eliminar os microrganismos. Essas proteínas são sintetizadas principalmente pelo fígado (C3, C6, C8 e Fator B), macrófagos (C2, C3, C4, C5, Fator B, Fator D e properdina) e neutrófilos (C6 e C7). Aqui coloco algumas características importantes desse sistema, que serão detalhadas durante esse resumo. - As proteínas do complemento são proteínas plasmáticas normalmente inativas, podendo ser ativadas por microorganismos e por anticorpos que estão ligados aos microorganismos e outros antígenos; - A ativação do complemento envolve a proteólise sequencial de proteínas para gerar complexos de enzimas com atividade proteolítica; - Os produtos de ativação do complemento tornam-se ligados covalentemente a superfícies de células microbianas, anticorpos ligados aos microrganismos e outros antígenos e também aos corpos apoptóticos; - A ativação do complemento é inibida por proteínas reguladoras que estão presentes em células normais do hospedeiro e ausentes nos microrganismos Funções do Complemento As principais funções efetoras do sistema do complemento na imunidade inata e na imunidade adaptativa humoral são promover a fagocitose de microrganismos sobre os quais o complemento é ativado, estimular a inflamação e induzir a lise desses microrganismos. - Opsonização e Fagocitose: os microrganismos sobre os quais o complemento é ativado pela via clássica ou pela via alternativa tornam-se revestidos com C3b, iC3b ou C4b e são fagocitados pela ligação dessas proteínas aos receptores específicos em macrófagos e neutrófilos - Estimulação das Respostas Inflamatórias: os fragmentos proteolíticos dos complementos C5a, C4a e C3a induzem inflamação aguda, ativando mastócitos, neutrófilos e células endoteliais - Citólise Mediada por Complemento: a lise mediada pelo complemento de organismos estranhos é mediada pelo MAC - Outras funções: remoção de imunocomplexos e aumento das respostas imunes humorais Vias de Ativação do Complemento Existem três vias principais de ativação do complemento: via clássica, via alternativa e via das lectinas. A via clássica é ativada por determinados isotipos de anticorpos ligados a antígenos; a via alternativa é ativada na superfície das células microbianas na ausência de anticorpo e a via das lectinas é ativada por uma lectina plasmática que se liga a resíduos de manose em microrganismos. Obs: apesar do nome “via clássica”, a via alternativa é filogeneticamente mais antiga; e, embora as vias de ativação do complemento difiram na forma como são iniciadas, todas elas resultam na geração de complexos de enzimas que são capazes de clivar a proteína C3. O evento central na ativação do complemento, independente da via, é a proteólise do complemento C3 e subsequente formação de C3b e C5-convertase. Via Clássica A via clássica é iniciada pela ligação da proteína C1 do complemento aos domínios localizados na porção Fc de IgG ou IgM que estão ligadas ao antígeno. C1 é um complexo de proteína grande e multimérico, composto por C1q, C1r e C1s; C1q liga-se à porção Fc do anticorpo, e C1r e C1s são proteases. Somente anticorpos ligados a antígenos, e não anticorpos livres circulantes, podem iniciar a ativação da via clássica. Isso se deve ao fato de que C1q deve se ligar a, pelo menos, duas cadeias pesadas de Ig e ser ativada (e cada Ig isolada possui apenas uma cadeia pesada). Ainda que IgM seja pentamérica, ela não se liga a C1q porque as regiões Fc estão em uma configuração que as torna inacessíveis a C1q. Agora, vamos à sequência de ativação da via clássica: - A ligação de duas ou mais das cabeças globulares de C1q a regiões Fc de IgG ou de IgM leva à ativação enzimática do C1r associado, que cliva e ativa C1s; - C1s ativado cliva a proteína seguinte na cascata, C4, para gerar C4b; - A proteína seguinte do complemento, C2, forma então um complexo com o C4b ligado à superfície celular e é clivada por uma molécula de C1s próxima para gerar um fragmento solúvel de C2b e um fragmento C2a que permanece fisicamente associado a C4b na superfície da célula; - O complexo resultante, C4b2a, é a C3-convertase da via clássica; ela tem a capacidade de se ligar e clivar proteoliticamente C3; - A ligação deste complexo enzimático a C3 é mediada pelo componente C4b, e a proteólise é catalisada pelo componente C2a; - A clivagem de C3 resulta na remoção do fragmento pequeno C3a; e C3b pode formar ligações covalentes com as superfícies das células ou com o anticorpo em que está ocorrendo a ativação do complemento; - Algumas das moléculas de C3b geradas pela C3-convertase da via clássica ligam- se à convertase (como na via alternativa, adiante) e formam um complexo C4b2a3b. Este complexo funciona como a C5-convertase da via clássica; cliva C5 e inicia as etapas terminais da ativação do complemento. Via Alternativa A via alternativa de ativação do complemento resulta na proteólise de C3 e na fixação estável do produto de degradação de C3b nas superfícies microbianas, sem a necessidade de anticorpo. O C3 possui uma clivagem basal baixa. Quando ele é clivado, formando C3b, expõe uma ligação tioéster. Essa fração, por sua vez, devido à ligação tioéster, se liga covalentemente à superfície celular. Agora, vamos à sequência: - C3b se liga a uma proteína plasmática chamada Fator B na superfície da célula microbiana ou do hospedeiro; - O Fator B é clivado pelo Fator D, gerando Ba e Bb. Esse último se liga ao C3b; - O complexo C3bBb é a C3-convertase da via alternativa Obs: mesmo quando C3b é gerado pelas vias clássica ou das lectinas, ele pode formar um complexo com Bb e esse complexo é capaz de clivar mais C3. Assim, a C3- convertase da via alternativa funciona para amplificar a ativação do complemento iniciado por qualquer uma das vias, alternativa, clássica ou das lectinas. Obs2: A ativação da via alternativa ocorre prontamente nas superfícies de células microbianas e não em células de mamíferos (ver mais detalhes no tópico “Regulação da Atividade do Complemento”). Uma proteína da via alternativa, denominada properdina, pode se ligar e estabilizar o complexo C3bBb. A ligação da properdina é favorecida sobre microrganismos, em oposição às células normais do hospedeiro. A properdina é o único fator de regulação positiva conhecida do complemento. Algumas das moléculas de C3b geradas pela C3-convertase da via alternativa ligam- se à própria convertase. Isso resulta na formação de um complexo contendo uma molécula de Bb e duas moléculas de C3b, que funciona como a C5-convertase da via alternativa, que cliva C5 e inicia as etapas da ativação da via terminal do complemento. Via das Lectinas A via das lectinas de ativação do complemento é desencadeada pela ligação de polissacarídeos microbianos a lectinas circulantes, tais como a lectina ligadora de manose (ou manana) plasmática (MBL) ou as ficolinas, sempre na ausência de anticorpo. Essas lectinas possuem estrutura semelhante ao C1q. MBL, L-ficolina e H-ficolina são proteínas plasmáticas; já a M-ficolina é secretada por macrófagos ativados nos tecidos. A MBL e as ficolinas ligam-se às serino proteases associadas à MBL (MASPs, do inglês MBL - associated serine proteases), incluindo MASP1, MASP2e MASP3. As MASPs são estruturalmente homólogas às proteases C1r e C1s e apresentam função similar: a clivagem de C4 e de C2 para ativar o complemento. Os eventos subsequentes nesta via são idênticos aos que ocorrem na via clássica. Etapas finais da Ativação do Complemento As C5-convertases geradas pelas vias clássica, alternativa ou das lectinas iniciam a ativação dos componentes da via terminal do sistema complemento, o que culmina na formação do complexo de ataque à membrana (MAC). Vamos à sequência: - As C5-convertases clivam C5 em um pequeno fragmento, C5a, que é liberado, e outro fragmento com duas cadeias C5b, que permanece ligado às proteínas do complemento depositadas na superfície da célula; - C6, C7, C8 e C9, são proteínas estruturalmente relacionadas e sem atividade enzimática; - C5b sustenta uma conformação transitória que é capaz de se ligar às proteínas seguintes da cascata, C6 e C7; - O componente C7 do complexo resultante C5b,6,7 é hidrofóbico e se insere na bicamada lipídica das membranas celulares, onde se torna um receptor de alta afinidade para a molécula C8; - Este complexo C5b,6,7,8 (C5b-8) inserido estavelmente tem uma capacidade limitada de lisar as células; - A formação de um MAC completamente ativo é alcançada pela ligação de C9, o componente final da cascata do complemento ao complexo; - Com isso, há a formação de poros na membrana plasmática. Esses poros formam canais que permitem a livre circulação de água e de íons. A entrada de água resulta em aumento osmótico e ruptura das células. Regulação da Atividade do Complemento A ativação da cascata do complemento e sua estabilidade são finamente reguladas para evitar a ativação do complemento em células normais do hospedeiro e para limitar a duração dessa ativação, mesmo em células microbianas e complexos antígeno-anticorpo. Essas proteínas estão listadas na tabela abaixo: A ativação do complemento precisa ser regulada por dois motivos: primeiro, a ativação do complemento ocorre contínua e espontaneamente em um nível baixo e, se for permitido que tal ativação simplesmente prossiga, o resultado pode ser danoso para as células e tecidos normais; segundo, mesmo quando o complemento é ativado onde é realmente necessário, como sobre células microbianas ou complexos antígeno-anticorpo, ele precisa ser controlado porque os produtos da degradação de proteínas do complemento podem se difundir para as células adjacentes e produzir lesões. Os diferentes mecanismos reguladores acontecem de três formas: - Inibição da formação da C3-convertase nas etapas iniciais - Quebra e inativação das convertases C3 e C5 - Inibição da formação do MAC REFERÊNCIAS ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 8ᵃ Edição. Elsevier, 2015 (livro-texto).
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