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Teorias da Aprendizagem Gláucia do Carmo Xavier Pós-graduação em Docência Gláucia do Carmo Xavier Teorias da Aprendizagem Edição Arcos Instituto Federal de Minas Gerais 2019 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Índice para catálogo sistemático: 1. Ensino: Aprendizagem: Teorias Presidente do CEAD Arcos Coordenador do curso Revisora Arte gráfica Diagramação Jefferson Rodrigues da Silva Niltom Vieira Junior Cláudia Maria Soares Rossi Ângela Bacon Eduardo Oliveira 2019 Direitos exclusivos cedidos à Instituto Federal de Minas Gerais Campus Arcos, Avenida Juscelino Kubitschek, 485, CEP 35588-000- Bairro Brasília, Arcos - MG - Brasil, Telefone: (37) 3351-5173 © 2019 by Instituto Federal de Minas Gerais Campus Arcos Todos os direitos autorais reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico. Incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito do Instituto Federal de Minas Gerais Campus Arcos. Palavra da professora-autora Sejam bem-vindas e bem-vindos em nosso curso sobre Teorias da Aprendizagem! Trabalharemos com esta apostila por um período de um mês. Dessa forma, ela está dividida em quatro módulos, referente às quatro semanas de estudo. Para cada módulo, há vídeos de apoio objetivando promover um diálogo, professor(a) e alunos/as. O material inicia-se com uma provocação, como um ponto de partida para os estudos, levando ao interesse pelos pressupostos de Piaget e Vygotsky, dois autores muito reconhecidos na área das teorias de aprendizagem. Piaget é conhecido por sua teoria cognitivista e Vygotsky por sua abordagem sociocultural. Vamos nos ater a esses pesquisadores, considerados clássicos e indispensáveis ao curso, por dois módulos, ou seja, duas semanas. Em seguida, passaremos pelas teorias de Bruner e Ausubel. Esses são autores cognitivistas e que irão contribuir bastante para nossos conhecimentos sobre teorias da aprendizagem e o papel da educação. Na última semana do curso, vamos abordar o pesquisador Paulo Freire, o único autor brasileiro do nosso programa. Como o objetivo desta disciplina é construir uma base teórica para o planejamento e novas metodologias sobre a aprendizagem de nossas alunas e alunos, este autor consagrado e considerado como um dos 3 pensadores mais citados em trabalhos acadêmicos, no mundo, na área de humanas, não poderia ficar de fora de nossos estudos. Desejo, a nós, um caminhar repleto de ricas aprendizagens, Gláucia do Carmo Xavier. Apresentação da disciplina Esta disciplina está dividida em quatro semanas, cujos objetivos são apresentados, sucintamente, a seguir. Semana 1 Identificar os conceitos e processos da teoria de Jean Piaget, assim como os estágios de desenvolvimento psíquico. Semana 2 Conhecer os pressupostos básicos do desenvolvimento intelectual segundo Lev Vygotsky. Semana 3 Compreender como as crianças aprendem, conforme Jerome Bruner defendeu em suas pesquisas; Descrever a teoria clássica da aprendizagem significativa, proposta por David Ausubel. Semana 4 Ser capaz de apresentar o método de conscientização de Paulo Freire, elencando suas características. Carga horária: 40 horas. Estudo proposto: 2h por dia em 5 dias por semana (10 horas semanais). Apresentação dos Ícones Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado: Atenção: indica pontos de maior importância no texto. Dica do professor: novas informações ou curiosidades relacionadas ao tema em estudo. Atividades: sugestão de tarefas e atividades para o desenvolvimento da aprendizagem. Mídias digitais: sugestão de recursos audiovisuais para enriquecer a aprendizagem. Sumário 1.1. Início de conversa ................................................................................................... 1 1.2. Jean Piaget (1896-1980) ......................................................................................... 2 1.3. Estágios de Desenvolvimento Psíquico ................................................................... 5 2.1. Vygotsky (1896-1934) – caminhos percorridos ......................................................11 2.2. Zona de Desenvolvimento Proximal .......................................................................14 3.1. Bruner (1915-2016) e a Teoria do Crescimento .....................................................19 3.2. Bruner: caminhos para uma Teoria da Educação ..................................................22 3.3. Bruner: Lidar e Defesa ...........................................................................................23 3.4. Ausubel (1918-2008) e a Aprendizagem Significativa ............................................25 4.1. Paulo Freire (1921-1997): uma breve apresentação ..............................................34 4.2. Método de conscientização de Paulo Freire ...........................................................36 4.3. Desafios para a educação integral .........................................................................42 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................45 CURRÍCULO DO AUTOR ...................................................................................................47 Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 1 Mídias digitais: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala virtual e assista a apresentação da professora formadora no Vídeo 1.1. 1.1. Início de conversa Para um início de conversa, serão apresentadas quatro perguntas: 1- Como você define a relação entre aprendizagem e desenvolvimento? Em sua opinião, é pela aprendizagem que o sujeito se desenvolve intelectualmente ou é pelo desenvolvimento cognitivo que a aprendizagem se torna possível? Ou nenhuma das duas? O que você saberia dizer sobre a relação aprendizagem/desenvolvimento? 2- Qual o papel do conhecimento prévio das alunas e alunos? De que forma a ação de recorrer ao conhecimento prévio pode potencializar a aprendizagem? 3- Se fosse para você escolher apenas uma forma eficaz de avaliar suas alunas e alunos, que avaliação você sugeriria? Um texto? Perguntas e respostas? Questões de múltipla escolha? Seminário? Enfim, das avaliações que você conhece, cite uma que você considera como mais completa. Em seguida, informe se você utiliza essa avaliação em sua prática e com qual frequência. 4- Defina, em até quatro linhas, o que você conhece sobre a proposta educacional de Paulo Freire. Não se preocupe em apresentar uma resposta, a cada pergunta, como sendo a única resposta correta ou possível. Essa atividade é apenas um ponto de partida para nossos estudos, ok? Portanto, fique à vontade para responder, de acordo com seu conhecimento prévio. Atividade 1.1: na sala virtual, clique na Atividade 1.1 e responda as questões propostas. Objetivos Nesta semana você irá identificar os conceitos e processos da teoria de Jean Piaget, assim como os estágios de desenvolvimento psíquico. Semana 1 – Jean Piaget https://www.youtube.com/watch?v=zmwHjyiEtz8 Teorias da AprendizagemIFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 2 1.2. Jean Piaget (1896-1980) Mídias digitais: Para começar nossos estudos, sugerimos que você vá até a sala virtual e assista ao Vídeo 1.2: “Jean Piaget – a educação”. Observe o quadro abaixo e as palavras-chave sobre experiências desenvolvidas por Piaget. Figura 1.1 – Palavras-chave para o estudo de Piaget. Fonte: a própria autora. Piaget foi um importante filósofo e psicólogo suíço. Ele desenvolveu pesquisas por quase 60 anos, ao longo de sua carreira. Piaget tem uma sólida formação em Biologia, além de conhecimento aprofundado em Filosofia e Sociologia. Tornou-se doutor aos 22 anos e, a partir de 1929, iniciou seu trabalho como professor de História do pensamento científico, na Universidade de Genebra. Lá, tornou-se diretor do laboratório de Psicologia Experimental. Com tantos trabalhos importantes, Piaget trouxe uma das maiores contribuições para a área da pedagogia e psicologia, até hoje. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 3 Figura 1.2 – Retrato de Piaget. Fonte: internet. A questão principal apresentada por Piaget foi “Como o conhecimento se origina e evolui?” Para obter uma resposta a essa pergunta, ele se dedicou ao estudo sobre os fundamentos e princípios do conhecimento, ou seja, ele dedicou-se ao estudo epistemológico do conhecimento e criou uma nova perspectiva para essa área: Epistemologia Genética. Assim, Piaget buscou entender como o conhecimento se dá, desde o nascimento, até o momento em que pensamentos complexos ocorrem. Vale dizer que, Piaget não tinha como objeto de estudo o desenvolvimento, mas sim o conhecimento, sua gênese e processos evolutivos. Por isso, diz-se que ele estudou o desenvolvimento do conhecimento humano ou o desenvolvimento cognitivo humano. O pesquisador estava interessado em sujeitos considerados universais, ou seja, sem diagnósticos de condições específicas. Ele acreditava que o conhecimento não só se originava após estímulos externos, como também havia uma estrutura interna indissociável por uma maneira particular de responder a esses estímulos externos. Por isso, ele é considerado um pesquisador interacionista, uma vez que postula que o conhecimento se desenvolve por meio de uma relação entre estruturas mentais do sujeito e o ambiente externo, através de estímulos e vivências. Nosso próximo teórico a ser estudado, na próxima semana, Vygotsky, também era um interacionista. Como se viu, o interacionismo leva em consideração a relação entre o sujeito e o ambiente. Há outras linhas de trabalho que pensam diferentemente. Como exemplo, podemos citar Chomsky (1928-) que, ao contrário de Piaget, é um pesquisador inatista. Ele acredita que nossa mente apresenta uma estrutura completa capaz de adquirir uma língua natural. Para isso, basta que a criança seja exposta a uma língua, um idioma. Já Skinner (1904-1990), postulou que o conhecimento era aprendido devido a estímulos externos, nesse caso, chamamos Skinner de pesquisador empirista. Para ele, as ações humanas poderiam ser controladas por estímulo e resposta. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 4 Curiosidade: Chomsky é um dos linguistas mais importantes do mundo. Ele criou a Teoria Gerativa que explica como as sentenças que falamos, ouvimos e construímos em nossas mentes são geradas. Atualmente, Chomsky é um cientista político e conhecido por seus posicionamentos bem definidos. É casado com a brasileira Valéria Chomsky e há notícias de que eles vivem no Brasil. Figura 1.3 – Retratos de Noam Chomsky e Burrhus Skinener. Fonte: internet. Voltando ao nosso interacionista Piaget, ele acredita que a criança constrói conhecimentos, daí o nome construtivista. Para ele, a criança constrói o “seu próprio modelo de mundo” (GOULART, 2009, p. 17). Isso ocorre por meio do controle que a criança exerce nas coisas do mundo a sua volta, começando desde um olhar, do cheiro, do movimento de levar um objeto à boca até a operações mentais complexas de raciocínio. Para Piaget, os padrões de comportamentos simples, como a sucção no seio da mãe, se interagem e se organizam com outros padrões, até se desenvolver e formar esquemas complexos (esquema pode ser entendido como um comportamento, uma ação estruturada). (GOULART, 2017). Ao contrário do que muita gente acredita, o construtivismo não é deixar uma criança sozinha por acreditar que ela construirá conhecimentos por si só. Piaget cita o construtivismo no sentido em que existe uma relação entre sujeito e objeto (tema/assunto/ideia). À medida que há essa relação entre os dois, o sujeito ressignifica o objeto. Daí, surgem os conceitos de assimilação, acomodação e adaptação. A assimilação pode ser entendida como uma incorporação de um objeto a um esquema já existente na criança. Já a acomodação, seria a transformação dos esquemas para se adaptar a uma nova situação. E a adaptação pode ser entendida como o equilíbrio entre as duas anteriores e, por meio da adaptação, o desenvolvimento cognitivo organiza-se de forma progressiva. Os três termos são considerados, aqui, ações mentais. Um exemplo Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 5 seria um sujeito assistir a um filme. À medida que assiste ao filme, ele assimila e compreende o assunto, o contexto e as situações expostas. Simultaneamente a isso, as informações novas integram-se às outras, modificando esquemas e pensamentos e construindo novos saberes. Nesse sentido mental é que Piaget postula que a criança constrói seu próprio conhecimento. Mas, em nenhum momento, Piaget afirma que a criança não precisa de estímulos de outras pessoas ou da convivência delas. 1.3. Estágios de Desenvolvimento Psíquico De acordo com o que vimos na seção anterior, Piaget é um pesquisador interacionista, pois acredita que o conhecimento se desenvolve na interação entre a estrutura mental existente no sujeito e os estímulos do ambiente, ou seja, do mundo, das pessoas, incluindo aí, o professor. Como ele tinha a proposta de investigar como o conhecimento se desenvolvia, ele começou a investigar as crianças e a cognição delas. Assim, ele pesquisou também seus três filhos, duas meninas e um menino. Suas pesquisas tiveram a contribuição de sua esposa Valentine Chatenay, através de protocolos de observação que ela desenvolvia. Figura 1.4 – Retrato de Piaget, Valentine Chatenay e seus filhos. Fonte: internet. Conforme Piaget se dedicava exclusivamente à cognição humana, ele distinguiu três aspectos marcados por períodos bem definidos para, posteriormente, dedicar-se a um deles. São eles, 1) Funções de conhecimento- seria a organização do pensamento lógico; Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 6 2) Funções de representação- a maneira como representamos um significado, por meio de um significante (palavra, gesto, imagem); 3) Funções afetivas- para ele a relação com o outro era um ponto chave no desenvolvimento cognitivo. (GOULART, 2017). Dentre esses três aspectos, Piaget elencou as funções de conhecimento como seu objeto de estudo. Inseridos nas funções de conhecimento, Piaget delimitou o conhecimento por estágios pré-determinados. São eles: estágio sensório motor, pré-operatório, operacional concreto e estágio das operações formais. Esses períodos ocorrem sempre na mesma ordem e, apesar de a cronologia poder sofrer alterações, Piaget indica idades em que geralmente esses estágios acontecem. De acordo com Piaget, para que cada período se realize, é necessário que haja comportamentoshumanos específicos anteriormente. São esses comportamentos que indicam uma espécie de preparação para que o conhecimento se desenvolva e passe para o estágio seguinte. Seria como uma subida de uma escada, o sujeito necessita do suporte de um degrau abaixo para passar para o degrau acima e assim por diante. O primeiro estágio ou período é conhecido como sensório-motor. As características desse período são: Quadro 1.1 – Estágio sensório-motor. Fonte: a própria autora. Ocorre entre 0 e 24 meses; A criança não apresenta uma forma de pensamento definida; A criança não apresenta uma forma de afetividade delimitada; O desenvolvimento está ligado ao próprio corpo da criança, ou seja, ela acredita que os objetos estão ligados a ela; Falta a linguagem; Não há um esquema de estímulo-resposta; Repetem-se comportamentos que o próprio corpo apresenta, não tendo domínio sobre ele. Exemplo: a criança com quatro meses faz movimentos repetidos com a mão, como se não conseguisse pará-lo; O bebê começa a acompanhar objetos com o olhar; A sucção na hora de mamar se aperfeiçoa com ritmo equilibrado; O bebê passa a manipular objetos; A criança acredita que a mesma ação pode resolver qualquer problema. Exemplo: o movimento que se faz com as mãos ao agarrar uma fralda é repetido para puxar objetos ou acender a luz, como se o efeito positivo de uma ação pudesse, pela repetição, causar novos resultados positivos; Por volta de 18 meses, a criança tenta novos métodos para alcançar os objetivos como acender a luz, buscar um brinquedo etc; Os movimentos são centrados no corpo da criança; O afeto é por imitação. Exemplo: o sorriso; É a fase da imitação. Imitação de sons, movimentos, modelos. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 7 O segundo estágio ou período é chamado de pré-operatório ou objetivo simbólico. Foi o estágio em que Piaget mais se dedicou em suas investigações. As noções básicas desse período são: Quadro 1.2 – Estágio pré-operatório. Fonte: a própria autora. Ocorre entre 2 e 7 anos, aproximadamente; O período é marcado pela aquisição da linguagem, chamada por Piaget de “simbólico” ou “função simbólica”; Amplia-se a relação com outras pessoas e outros ambientes; A criança começa a socializar-se com outras pessoas; Surge a afetividade em forma de sentimentos como respeito, empatia, antipatia etc; Ocorre o egocentrismo infantil, ou seja, a criança conversa e brinca no mesmo ambiente que outras crianças, mas sua fala é para si mesma; A linguagem socializada é um monólogo. Cada um fala para e por si; A criança relata suas ações, conta fatos do passado e remete a pessoas ou objetos que não estão presentes no momento; Há incapacidade de descentralizar pensamentos e ações; Em fatos específicos, a criança dedica-se a pensar em apenas um traço do ocorrido. Exemplo: ao encher um copo de líquido, a criança prestará atenção ou na altura ou na largura do copo, mas dificilmente estará atenta, ao mesmo tempo, nas duas especificidades do objeto; Esta fase é marcada pela irreversibilidade. Exemplo: se alguém transformar uma bolinha de massinha, de volume igual uma da outra, em salsicha, acredita-se não ser possível a salsicha virar bolinha novamente, mesmo fazendo a ação diante da criança, pois ela se apega ao resultado, quer dizer, no momento final da ação e não no processo. Após os 5 anos de idade, em média, a reversibilidade surge; É a fase dos porquês e de entendimentos das coisas do mundo; Há necessidade de se ter segurança das ações. Exemplos, preferências por histórias com repetição, como Três porquinhos. Os mesmos filmes são assistidos muitas vezes, pois a segurança de se saber o que vai acontecer é valorizada. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 8 O terceiro estágio ou período é chamado de operacional concreto. Ele pode ser caracterizado como: Quadro 1.3 – Estágio operacional concreto. Fonte: a própria autora. Inicia-se com 6 ou 7 anos, indo até os 11 ou 12, em média; Nesta fase, as operações mentais são diferentes das ações. Por exemplo, a criança consegue planejar uma ação futura ou se recorrer a uma ação do passado para compreender algo, exemplificar, organizar o pensamento etc; Mesmo diferenciando as ações das operações, as crianças ainda dependem de objetos concretos como referência; Começam a surgir pensamentos matemáticos como seriação, probabilidade, classificação, reversibilidade entre outros; O desenvolvimento cognitivo está relacionado ao desenvolvimento afetivo- social; É comum partir dos objetos para fazer agrupamentos, para ordenar, classificar, agrupar, multiplicar, conservar quantidades etc. Exemplo: se um líquido em uma taça fina e comprida for virado em uma taça baixa e larga, a criança dirá que é o mesmo líquido e que não foi tirado ou acrescido nenhuma substância a essa experiência; Se houver alteração na forma de objetos, como o caso das bolas e salsichas, a criança perceberá o processo; Inicia-se o questionamento de regras, sentimento de justiça e respeito mútuo; É a fase da valorização das normas e regras. Os jogos são exercícios da convivência social. Em um jogo de cartas, todas as crianças ficam atentas às normas; Admite-se uma regra única para uma competição; Neste período, a fala é para o outro e não mais para si, apenas; A criança não fala para ela e, sim, na visão dela. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 9 O quarto estágio ou período é chamado de operações formais ou abstratas. Ele pode ser entendido a partir das seguintes características: Quadro 1.4 – Estágio operações formais. Fonte: a própria autora. Inicia-se por volta de 11- 12 anos; É capaz de diferenciar o real do possível; Frente à alguma situação, o adolescente é capaz de prever possibilidades de ações e analisar se elas são viáveis; Não se aceita qualquer situação apenas por existir, questiona-se quais possibilidades seriam possíveis naquele contexto; O pensamento é independente de objetos concretos; É o momento de grandes utopias, ideias, pois o passado e o presente são reais, mas o futuro pode ser repensado; É possível planejar o que está por vir; O pensamento formal tem como base os enunciados e não mais objetos concretos; A capacidade de raciocínio alcança poderes dedutivos; O adolescente faz combinações exaustivas para obter uma possibilidade real, seja em uma experiência física com substâncias, seja na resolução de um problema abstrato; É a fase da descoberta científica; Surge o domínio da operação de compensação por reciprocidade. Exemplo: um caracol que anda em uma prancha a qual se move para trás é visto como um corpo que permanece no mesmo lugar. Em outros estágios, a criança se deteria ao caracol andando para frente ou à prancha se movendo para trás, isto é, as conclusões em outros períodos seriam: o caracol está avançando ou está voltando; Incluem-se variáveis e analisa-se a implicação de uma delas em um contexto. Exemplo: calcula-se velocidade em determinadas distâncias; O uso preciso da linguagem é utilizado para resolução de problemas e ações como argumentação; Acontecem identificações sucessivas. Admira-se muito um modelo ideal: parente, amigo, herói, artista etc; O adolescente é capaz de se projetar no futuro e pensar em profissões, por exemplo, mesmo que seja de forma superficial; É comum a rotatividade de parceiros amorosos, pois se idealiza no outro a versão de si mesmo. Como a versão de sinão é algo consolidado ainda, a troca da identificação pelo outro pode ocorrer com mais frequência; Nessa fase, constitui-se a estrutura do pensamento do sujeito adulto. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 10 Por meio das pesquisas de Piaget, os estágios acima nos fornecem informações importantes sobre o desenvolvimento do conhecimento de crianças e adolescentes. Essa teoria nos remete a questão de que um conteúdo mais complexo necessita de uma base anterior para que possa ocorrer a assimilação, a acomodação e a adaptação. Pois bem, para esta primeira semana, propõe-se a atividade anexa ao link. Faça o download da questão proposta e tente responder utilizando seus conhecimentos prévios, sua prática profissional e os conhecimentos sobre a teoria piagetiana. Mídias digitais: para revisar os conceitos apresentados até aqui, assista ao Vídeo 1.2, preparado pela professora autora, disponível na sala virtual. Atividade 1.2: na sala virtual, clique na Atividade 1.2 e realize a tarefa conforme orientações do seu professor formador. Nos vemos na próxima semana! Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 11 2.1. Vygotsky (1896-1934) – caminhos percorridos Olá! Esperamos que estejam bem! Iniciaremos, agora, nossos estudos da segunda semana de nossa disciplina. O tema central desse segundo módulo é o desenvolvimento intelectual das crianças em função das interações sociais e suas vivências. O pesquisador que iremos abordar nesse módulo é Vygotsky. Observe o quadro abaixo e as palavras-chave sobre experiências desenvolvidas por Vytotsky. Figura 2.1 – Palavras-chave para o estudo do Vygotsky. Fonte: a própria autora. Objetivos Nesta semana, você irá conhecer os pressupostos básicos do desenvolvimento intelectual segundo Lev Vygotsky. Semana 2 – Vygotsky Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 12 Figura 2.2 – Retrato de Lev Vygotsky. Fonte: internet. Como se pode observar pela imagem, os registros que se têm de Vygotsky são todos de um pesquisador muito jovem. Isso porque ele faleceu aos 38 anos de idade. Ele nasceu na Bielo-Russia, um país no leste da Europa, vizinho da Polônia. Vygotsky formou-se em Direito e Filologia (estudo científico para interpretar textos antigos). Foi professor de Literatura e Psicologia e desenvolveu várias pesquisas sobre Psicologia do Desenvolvimento, Educação e Psicopatologia. Ele morreu jovem devido à tuberculose. Por meio dos estudos de Vygotsky, a educação ganhou muito, pois passou a valorizar, de forma sistemática, como as questões sociais afetam a cognição, o pensamento, a aprendizagem, enfim, o desenvolvimento intelectual da criança. Nesse sentido, para iniciarmos a trajetória de pesquisa desenvolvida por ele, será necessário nos remeter aos textos do próprio autor, em especial da obra intitulada “A formação social da mente”. Vygotsky relata que a psicologia moderna progrediu, a partir dos estudos científicos com macacos no intuito de compreender o desenvolvimento infantil. Kohler (1925) apud Vygotsky (2003) empreendeu um trabalho muito relevante durante a Primeira Guerra Mundial. Ele comparou o comportamento de chipanzés com o de crianças. Esse foi o primeiro trabalho experimental nessa área. Outra pesquisa experimental, muito importante sobre essa temática, foi de Buhler (1924) apud Vygotsky (2003). Buhler investigou a apreensão manual de objetos por crianças e macacos. E, depois de seus experimentos, constatou que o início da inteligência na criança e no chipanzé é após a fala. Constatou também que a fala é precedida pelo raciocínio técnico. Nessa fase, para Buhler, iniciar-se-ia o desenvolvimento cognitivo de crianças e macacos. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 13 Já Shapiro e Gerke (1928) apud Vygotsky (2003) basearam-se nos experimentos anteriores para comparar o processo de imitação da criança, em relação ao adulto. Eles acreditavam que o processo de imitação atingia o verdadeiro domínio em alguma atividade específica. Assim, à medida que uma criança se tornava mais experiente em uma ação, ela passaria a ter um número maior de esquemas e modelos a seguir e a realizar no futuro. Posteriormente, surgiram os registros das pesquisas de Guilhaume e Meyerson. O interessante sobre a descoberta deles é que macacos antropoides realizavam tarefas utilizando os mesmos instrumentos que pessoas afásicas, ou seja, privadas da linguagem. Os resultados mostravam que a fala teria um papel essencial no desenvolvimento intelectual do sujeito. Esses estudos caminhavam em direção a uma relação entre o início da atividade cognitiva prática da criança e a aquisição da linguagem. Por meio dessa revisão da literatura, Vygotsky postula que, O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a afala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem. (VYGOTSKY, 2003, p. 33). Nessa perspectiva, Vygotsky acredita que logo havendo a incorporação da fala e de uso de signos, realiza-se o uso de instrumentos exclusivamente humanos. Assim, a linguagem humana é compreendida como uma atividade limitada, mesmo para animais tidos como superiores, tal como os chipanzés. Para Vygotsky, a linguagem é então o instrumento e a ferramenta que as crianças utilizam para controlar o ambiente e as relações, estabelecendo, assim, uma nova relação com o mundo exterior. Segundo o autor, essas formas são características humanas e a linguagem ajuda a estabelecer o intelecto. Na infância, Vygotsky observou que a criança precisa falar enquanto age. Seria como se a fala auxiliasse a organização do pensamento da ação e sua própria realização, de forma concreta. Dessa forma, a fala teria maior importância nas ações mais complexas e/ou abstratas. Além da fala, o autor postula que a ajuda dos olhos e das mãos são também importantes. (VYGOTSKY, 2003). Após o período da fala egocêntrica, aquela em que a criança fala para ela mesma, há a fala socializada. Nesse estágio mais avançado, a fala precede a ação, em vez de ocorrer simultaneamente. A linguagem funciona, então, como um instrumento planejador da ação. Vygotsky exemplifica com o fato de as crianças pequenas darem nome a seus desenhos após desenhá-los, já as mais velhas informam antes o que vão desenhar, sem ter a necessidade de ver a tarefa pronta para nomeá-la. Nesse período, a linguagem determina a ação. Nesse momento, a estrutura intelectual da mente muda de forma determinante. Com base nisso, Vygotsky destaca que a “amálgama de fala e ação tem uma função muito específica na história do desenvolvimento da criança; demonstra, também, a lógica da sua própria gênese.” (VYGOTSKY, 2003, p. 40). Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 14 Dica do professor: Antes de passarmos para a próxima seção, será apresentado um quadro elaborado por Chomsky. Lembram-se dele, no capítulo, da semana passada? Pois bem, Chomsky, Hauser e Fitch, em 2005, publicaram um artigo constatando que a diferença entre a linguagem humana e a linguagem animal é a recursão. Depois de estudos feitos sobre a comunicação dos animais e a comunicação humana, concluiu-se que só os humanos podem ser capazes de executar a recursividade. Segue abaixo a figura famosa dos três pesquisadores sobrea linguagem humana. Figura 2.3 – Faculdade da linguagem e a recursividade segundo Hauser, Chomsky e Fitch. Fonte: internet. 2.2. Zona de Desenvolvimento Proximal Na continuidade dos estudos sobre Vygotsky, tem-se a memorização como uma operação puramente interna. Ele chama a atenção para o fato de a criança mais velha parecer memorizar mais e melhor que uma criança mais nova, como se ela tivesse aperfeiçoado a habilidade de memorizar. No entanto, ele destaca que esse “achismo” é falso. Vygotsky atribui a capacidade de memorizar e aprender mais ao fato de o desenvolvimento intelectual se manifestar num estilo espiral e não em círculo. Com a ideia de que o Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 15 desenvolvimento passa por mudança e movimento, acreditava-se em um movimento circular de representação do conhecimento. Porém, em seguida, evidenciou-se a representação do espiral como a noção de um movimento em que a aprendizagem passa por um mesmo ponto, mas, simultaneamente, avança para um nível superior. (VYGOTSKY, 2003) Figura 2.4 – Imagem espiral. Fonte: internet. A imagem acima demonstra bem o que Vygotsky anuncia: a ocorrência da aprendizagem em uma representação espiral. Ele denomina esse processo de internalização. “Chamamos de internalização a reconstrução interna de uma operação externa”. (VYGOTSKY, 2003, p. 74). Para exemplificar, o autor cita o desenvolvimento do gesto “apontar”. Se, inicialmente esse gesto parece querer tocar algo, pode ser uma tentativa sem sucesso. Todavia, à medida em que a mãe observa o ato da criança e a ajuda, o gesto torna-se uma comunicação com o outro. Mais tarde, a criança compreende a complexidade do gesto quando associa o seu movimento ao contexto e como entendimento do outro no processo. O processo de internalização apresenta algumas fases: 1) A atividade externa começa a acontecer internamente, por meio de operações mentais; 2) Um processo interpessoal (entre as pessoas) começa a ocorrer de forma intrapessoal (no interior da criança); 3) O processo transformado continua a existir e a sofrer mudanças, pois o processo ocorrido na relação com o outro, externamente, influencia no próprio sujeito internamente. Por meio dos signos, ou seja, da linguagem, a internalização de formas culturais torna-se a base para o processo intrapessoal. Esse esquema pode ser compreendido pela Figura 2.5. Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 16 Figura 2.5 – Processo de internalização. Fonte: a própria autora. Por conseguinte, ao processo de internalização, Vygotsky questiona a interação entre aprendizado e desenvolvimento. Ele acredita que essa interação pode ser entendida de três maneiras: 1) O processo de desenvolvimento da criança é dissociado do processo de aprendizagem. Isto é, o desenvolvimento ocorre antes do aprendizado. Precisa- se estar em um estágio X para se aprender Y. Enquanto a criança não atingir esse estágio X a compreensão de Y não se dará. 2) Aprendizagem é desenvolvimento. Quer dizer, os dois processos ocorrem simultaneamente. 3) O processo de aprendizagem é que estimula os estágios do desenvolvimento. Por meio dos estímulos externos (escola, família etc), o processo de maturação avança. Nesse viés, um treino de habilidades afetaria o desenvolvimento global. Exemplo: se uma criança melhora a capacidade de se concentrar para tocar um instrumento, ela melhoraria a capacidade de concentração para cumprir qualquer outra tarefa. É como se houvesse uma fórmula: uma vez que se aprende uma habilidade, isso proporcionaria aprender outras habilidades, de forma automática. Quadro 2.1 – Aprendizado e desenvolvimento não coincidem. Fonte: a própria autora. 1 X APRENDIZADO = 2 X DESENVOLVIMENTO Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 17 A hipótese de Vygotsky vai de encontro às três perspectivas, ou seja, ele rejeita todas. Por meio dessa análise, o teórico cria uma noção que, segundo ele, é mais adequada em relação à interação aprendizagem/desenvolvimento. Uma vez que ele julga essa formulação adequada como sendo complexa, ele cita dois passos para se chegar ao entendimento do desenvolvimento intelectual. a) Relação geral entre aprendizado e desenvolvimento b) Aspectos específicos dessa relação quando a criança chega à escola Alguns pressupostos são listados: 1) O aprendizado das crianças inicia-se antes de se chegar à escola; 2) Há sempre uma história prévia, antes da escolarização; 3) Aprendizado e conhecimento estão inter-relacionados desde o nascimento do sujeito; 4) O aprendizado precisa estar interligado com o nível de desenvolvimento da criança; Após esses passos e esses pressupostos, Vygotsky apresenta-nos uma dimensão do aprendizado escolar chamado por ele de zona de desenvolvimento proximal. Apresenta- nos também os dois níveis de desenvolvimento da criança: a) Nível de desenvolvimento real - nível de desenvolvimento da criança baseando-se no que ela já consegue fazer, as funções que já amadureceram. b) Nível de desenvolvimento potencial - nível de desenvolvimento da criança, baseando-se naquilo que ela faz apenas com a ajuda de alguém. Por zona de desenvolvimento proximal, Vygotsky conceitua como a distância entre o nível desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração de companheiros capazes. (VYGOTSKY, 2003, p. 112). Portanto, a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) é formada de funções que ainda não amadureceram, pois estão no estado de “brotos”, elas estão em um estágio de amadurecimento. Por meio da ZDP, é possível indicar qual o próximo passo do desenvolvimento de uma criança. Dessa forma, pode-se determinar o estado do desenvolvimento de um sujeito, quando se determina os dois níveis de desenvolvimento, o real e o potencial. Assim, o que é ZDP hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã, pois o que ela faz com ajuda hoje, fará sozinha e de forma independente no futuro. (VYGOTSKY, 2003). Para Vygotsky, o aprendizado por meio da interação com outras pessoas desperta o desenvolvimento. Ele adverte que aprendizado não é desenvolvimento. No entanto, para ele, um aprendizado organizado e bem orientado é um aspecto necessário no processo de desenvolvimento das funções cognitivas. Portanto, podemos entender que o processo de Teorias da Aprendizagem IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 18 desenvolvimento é um pouco mais lento que a aprendizagem e é essa lacuna que se denomina ZDP. Figura 2.6 – Desenvolvimento intelectual da criança. Fonte: a própria autora. Então, quando se diz que a criança aprende pelo fato do estágio de desenvolvimento estar completo e pronto, é uma noção incorreta. Para Vygotsky, é no momento do aprendizado que o desenvolvimento se inicia. A grande contribuição do autor para a área da educação é mostrar que um “domínio inicial fornece a base para o desenvolvimento subsequente de vários processos internos altamente complexos no pensamento das crianças”. (VYGOTSKY, 2003, p. 118). Mídias digitais: para revisar os conceitos apresentados até aqui, vá até a sala virtual e assista ao Vídeo 2.1, preparado pela professora formadora. Atividade 2.1: para aprimorar seu entendimento sobre esses processos do desenvolvimento, tanto na visão de Piaget, quanto na de Vygotsky, como tarefa desta lição, crie um mapa conceitualde uma das duas Teorias apresentadas até o momento. Na sala virtual, clique na Atividade 2.1 e envie um texto debatendo os estudos de Piaget ou Vygotsky, com base no seu mapa conceitual (anexe no mesmo arquivo a figura do seu mapa). Obs.: veja os modelos como exemplo (download). Mídias digitais: para realizar facilitar a construção do seu mapa conceitual, vá até a sala virtual e assista ao Vídeo 2.2, preparado pela professora autora. Nos vemos na próxima semana! http://drive.google.com/file/d/1a7FdzppHx5SZjFMZDd_hQNvdGIH-AEmn/view?usp=sharing IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 19 3.1. Bruner (1915-2016) e a Teoria do Crescimento Oi, tudo bem? Como está o fôlego para os estudos? Nesta semana, teremos os pressupostos básicos de dois pesquisadores considerados cognitivistas e que dedicaram suas investigações para as questões de aprendizagem relacionadas às questões escolares. Pois bem, vamos ao trabalho! Observe o nosso tradicional quadro com palavras-chave sobre os estudos do autor em foco. Figura 3.1 – Palavras-chave sobre a pesquisa de Bruner. Fonte: a própria autora. Objetivos Nesta semana, você irá compreender como as crianças aprendem, conforme Jerome Bruner defendeu em suas pesquisas e irá descrever a teoria clássica da aprendizagem significativa, proposta por David Ausubel. Semana 3 – Bruner e Ausubel IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 20 Bruner fala em teoria do crescimento. Por crescimento, ele caracteriza a independência que cresce, por meio da reação a estímulos externos. A expressão crescimento, aqui, pode ser substituída por desenvolvimento intelectual. Para isso, o autor lista elementos sobre o crescimento intelectual, são eles: 1) É necessária uma psicologia que der conta dos processos mediadores do crescimento; 2) O crescimento depende de um “sistema de armazenamento” para interiorizar acontecimentos do meio externo; 3) O crescimento requer a capacidade de dizer a si e aos outros o que se fez ou o que se vai fazer; 4) Para que haja crescimento, é necessário a interação sistemática entre educador (professor, família, figuras de identificação pessoas, heróis) e educando; 5) A linguagem é o instrumento do educando utilizado como facilitador tanto no processo do ensino, como também nas relações entre o educando e o meio; 6) O crescimento é marcado pela capacidade progressiva de dispensar tempo e atenção a várias exigências do mundo, acarretando em uma distância tanto de uma mente unidirecional de uma criança pequena, quanto de uma mente multidirecional, no início da adolescência. O autor acredita que se hoje é possível elencar elementos sobre o crescimento intelectual, é preciso reconhecer o trabalho de Piaget e o ciclo criado por ele, entre adaptação ao meio e a assimilação do meio a um esquema mental. Dessa forma, Bruner dedica-se ao estudo de como ocorre a representação, ou seja, de que forma a criança consegue ser capaz de armazenar uma experiência passada, já sem os estímulos no presente para essa experiência, além de a criança criar um modelo mental a partir isso. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 21 Figura 3.2 – Retrato de Seymour Bruner. Fonte: internet. Mídias digitais: Jerome Bruner é um psicólogo estadunidense e, ao contrário de Vygotsky, viveu bastante, já que Bruner faleceu aos 101 anos de idade. Para conhecer a história de Bruner e como ele se tornou uma das maiores referências nos Estados Unidos, na década de 60, em relação à aprendizagem dos alunos, vá até a sala virtual e assista ao Vídeo 3.1. Conforme foi visto no vídeo e de acordo com o texto com o qual iniciamos esta semana, Bruner preocupava-se com os processos pelos quais os alunos aprendem. Ele tinha como objetivo compreender quais seriam as regras que regem o armazenamento de experiências e saberes e as regras que regem a reobtenção de conhecimentos desse modelo mental. Para ele, era importante saber como a criança remete a esse armazenamento toda vez que fosse preciso.( BRUNER, 1999). A sugestão de Bruner é que existem três formas de os seres humanos traduzirem as experiências em modelos mentais, as quais seriam: 1) Por meio da ação – ensinar fazendo, sem uso apenas de palavras, diagramas ou esquemas; 2) Por meio da representação – seria a organização do que se viu ou sentiu na imagem de um resumo de tudo; 3) Representação por palavras – por meio da linguagem, quer dizer, observamos uma situação e transformamos o acontecimento em código, em palavras. (BRUNER, 1999). Para o autor, o sujeito percorre os três sistemas até conseguir dominar todos eles. Isso porque Bruner acredita que, na primeira infância, a aprendizagem dá-se pela ação. A criança consegue, por exemplo, imitar e copiar, mas não consegue transpor as instruções para um outro momento. Mais tarde, ela atinge o estágio da linguagem, no sentido de que ela seja suficiente para lidar com categorias como possibilidade, condicionalidade, obtendo um domínio mental em que as palavras são suficientes e não há mais necessidade de se ter um referente da experiência. Nessa perspectiva, “a linguagem se torna cada vez mais importante como veículo do pensamento.” (BRUNER, 1999, p. 47). O autor acredita ainda que o crescimento mental não é um amontoando de associações ou estímulos-respostas. Para ele, o desenvolvimento humano parece-se mais com uma escada em que cada degrau é desencadeado à medida que as capacidades se desenvolvem. Pensar o crescimento mental para Bruner é pensar também no processo educativo. Para tal, é necessário dedicar-se à reflexão do currículo, das compensações no processo ensino-aprendizagem, da avaliação e, por fim, refletir sobre a necessidade de uma teoria da educação. Ele defende uma teoria prescritiva com instruções “sobre como IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 22 proceder por forma a atingir diversos resultados, uma teoria que seja neutra relativamente aos fins, mas exaustiva quanto aos meios” (BRUNER, 1999, p. 50-51). 3.2. Bruner: caminhos para uma Teoria da Educação O aumento das tecnologias e suas complexidades fez aumentar a importância da escola, uma vez que os processos formais de educação seriam mais capazes de fornecer aos alunos os saberes complexos. Para refletir sobre os meios de se chegar ao fim de um crescimento intelectual, por meio dos processos educativos, Bruner elenca quatro políticas gerais: 1) O que é ensinado; 2) O currículo, como o trajeto a ser percorrido; 3) A mudança, como a capacidade de desenvolver sistemas de armazenamento e reconstituição de informações, a partir de novas experiências; 4) A redução do tempo de resposta do sistema educativo, ou seja, fazer uso de recursos para responder à mudança acelerada do mundo. Essas políticas gerais listadas, na opinião do autor, devem ser pensadas pela Psicologia, pois, segundo Bruner, “É a Psicologia, mais do que qualquer outra disciplina, que possui as ferramentas para explorar os limites da perfectibilidade humana.” (BRUNER, 1999, p. 58). No interior da Psicologia, aspira-se a uma teoria da educação que se preocupe com o preparo dos ambientes para otimizar a aprendizagem, entendida aqui como a transferência ou reconstituição da informação. Fazendo jus ao discurso de uma teoria da educação prescritiva e normativa, no sentido de estabelecer critérios e condições a serem respeitados, o autor faz novamente o uso de uma lista e traços principais que uma teoria da educação deve ter: 1) Especificar experiências mais eficazes que implantem no sujeito uma predisposição para aprender; 2) Especificarcomo os conteúdos devem ser estruturados para serem prontamente entendidos pelo aluno; 3) Especificar uma sequência eficaz de apresentar os conteúdos; 4) Especificar a natureza e o ritmo das recompensas e punições no processo de ensino aprendizagem. Isso quer dizer que as recompensas extrínsecas, como elogios do professor, precisam se transformar em recompensas intrínsecas, entendidas como a consciência da relevância do aprendizado por ele mesmo. (BRUNER, 1999, p. 62). Em relação às recompensas intrínsecas, ele cita a (1) curiosidade como um estímulo natural, a (2) busca por competência, uma vez que há atividades que temos mais facilidade do que outras e, para essas, nossa atenção se volta mais e (3) reciprocidade, como sendo o espirito de cooperação entre os pares na execução de tarefas. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 23 Já em relação ao currículo, Bruner defende que ele deve ser preparado juntamente com o professor, o psicólogo e o especialista da matéria e que a revisão desse currículo deve ocorrer enquanto o processo acontece, sempre valorizando as especificidades de cada aluno. “As diferenças individuais são um argumento a favor do pluralismo e de um oportunismo esclarecido nos conteúdos e métodos educativos.” (BRUNER, 1999, p. 95). Essa preocupação de Bruner frente ao currículo e ao conteúdo a ser ensinado se assemelha à preocupação de Shulman, um pesquisador que defende o conhecimento pedagógico do conteúdo, ou seja, o professor, além de dominar o conteúdo de sua disciplina, precisa saber ensinar, ter conhecimentos pedagógicos, estar atento quando o aluno erra para compreender o raciocínio que teve na ocorrência do erro e não apenas “zerar” a questão errada ou mesmo achar que o aluno não aprendeu o conteúdo. Dica do professor: como sugestão de leitura complementar, segue o texto “Conhecimento do conteúdo para ensinar” (download). Após a leitura, para reforçar a aprendizagem responda ao estudo dirigido (download). Bruner finaliza a questão do currículo dizendo que não se tem muitas certezas sobre os procedimentos a serem adotados para uma teoria da educação, mas reconhece que o meio acadêmico não está desprovido de hipóteses razoáveis a serem adotadas. 3.3. Bruner: Lidar e Defesa “Lidar e Defesa”, este é um nome de um dos capítulos de uma obra de Bruner. O nome parece um pouco estranho, pois se tem um verbo no infinitivo somado a uma palavra substantiva. Em um primeiro momento, não vemos um paralelismo nessa dupla de palavras, mas com o desenvolvimento dessa temática, é possível reconhecer a proposta do autor. O que Bruner evidencia com “lidar e defesa” tem a ver com o comportamento do aluno frente a uma nova aprendizagem. Lidar com as coisas é diferente de se defender delas. Vejamos, Lidar com é respeitar os requisitos dos problemas com que nos deparamos, mantendo o respeito pela nossa integridade. A defesa é uma estratégia que tem por objetivo evitar ou fugir dos problemas para os quais acreditamos não existir solução que não viole a nossa integridade de funcionamento. (BRUNER, 1999, p. 161). Bruner nos atenta para o fato de que há um esforço significativo quando se defende de uma aprendizagem. Nesses casos, a criança, ao se defender de uma atividade da aprendizagem, distancia-se e afasta-se do processo, tendo dificuldades em “lidar” com as http://drive.google.com/file/d/1Zku55TlEuXMCl3NR8tEPJfm4pOkIkkC3/view http://drive.google.com/file/d/1Y2i9-7RvJox-1K21f9ycUibDlibQXuQL/view IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 24 exigências escolares. Para que isso não ocorra, o autor sugere a ocorrência uma efetiva aprendizagem. Para isso, é necessário um “processo desnaturante”. Apesar de ele achar essa expressão “desnaturante” singular, acredita ser a ideal para propor três aspectos: 1) Pensar em uma organização escolar que separe, no currículo, os conceitos das ações; 2) Desenvolver uma capacidade para separar os conceitos dos contextos afetivos; 3) Adiar a gratificação para que os resultados sejam tratados como informação apenas. Ao longo das propostas de Bruner, é possível observar que, de fato, são bem prescritivas, mas nem sempre são explicativas o bastante para que o leitor possa exemplificar e reconhecer as situações da sala de aula como experiências do que ele prescreve. Por fim, o autor traz o tema da avaliação como uma preocupação do processo educativo. Ele acredita que precisamos estimular o pensamento na sala de aula e que a aprendizagem precisa ser orientada por descobertas. Outra observação importante é o fato de os professores avaliarem os alunos após o termino do percurso. Ora, “se é suposto a avaliação ser uma ajuda, terá que ser efetuada de modo a fornecer retroalimentação, no momento oportuno e sob uma forma útil à concepção de materiais e exercícios” (BRUNER, 1999, p. 198). Dessa forma, não se deve deixar a avaliação apenas para o final do processo. Caso o professor precise rever alguma parte do processo, não será mais possível agindo apenas dessa maneira. Relacionando novamente Bruner com Shulman, os dois assumem que conteúdo não pode ser separado da pedagogia, quer dizer, não é o suficientemente bastante o professore dominar o conteúdo, sabendo muito a matéria específica, também é necessário saber ensinar o conteúdo. No texto sugerido desta semana, é possível perceber como Shulman afirma que não é fácil avaliar o conhecimento pedagógico do conteúdo de um professor, porém ele aponta caminhos. Mídias digitais: para complementar nossos estudos sobre Bruner, vá até a sala virtual e assista ao Vídeo 3.2, sobre os Estágios da Aprendizagem. Mídias digitais: para revisar seus conhecimentos, assista também ao Vídeo 3.3, elaborado pela professora formadora. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 25 Atividade 3.1: vá até a sala virtual e realize a tarefa conforme orientações do seu professor formador.. 3.4. Ausubel (1918-2008) e a Aprendizagem Significativa O nome Ausubel não deve ser estranho a vocês, pois ele já deve ter sido citado em uma das disciplinas sobre aprendizagem que vocês já cursaram. Eis o momento de conhecer um pouco mais sobre a teoria de Ausubel. Vamos iniciar com o nosso estudo, já familiar, sobre o quadro de palavras-chave. Figura 3.3 – Palavras-chave para o estudo de Ausubel. Fonte: a própria autora. Antes de iniciarmos nossa costumeira apresentação dos pesquisadores, com foto e um pouco da biografia, serão apresentadas, a seguir, questões norteadoras. A proposta é que você inicie essa parte de nossa apostila com perguntas a serem respondidas no final desta semana. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 26 Dica do professor: o Quadro 3.1 apresenta reflexões e questionamentos. Faça uso das informações apresentadas até hoje, em nossa disciplina e não se hesite em abordar outras noções para respondê-las. Aqui, o debate é livre. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 27 Quadro 3.1 – Reflexões e questionamentos. Fonte: a própria autora. A atualidade tem nos indicado um caminho para a educação ancorada em um novo modelo de vida, em que as principais decisões sobre educação e políticas públicas educacionais são baseadas em uma ordem mundial voltada para a economia, para o lucro acima de tudo e para o mundo do trabalho com o fim em si mesmo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio são alguns dos exemplos de decisões que definem rumos para a educação e, consequentemente, para a aprendizagem. Até o momento, vimos,nessas três semanas, como a aprendizagem pode ocorrer e qual sua relação com o desenvolvimento cognitivo, sob diferentes perspectivas. Porém, não podemos nos esquecer de que o que é experimentado no mundo externo pode influenciar no desenvolvimento intelectual humano. A proposta aqui é refletir como os novos modelos de globalização e de economia, em alguma medida, reduzem-nos a algoritmos, principalmente frente às novas tecnologias da informação, aprisionando-nos a um discurso de liberdade. Muitas vezes, não nos damos conta de que a liberdade experimentada pode ser apenas uma forma de ser escravizado. Quando discursos que valorizam a noção de empreendedorismo, pedagogias das competências, resiliência para o mundo do trabalho, investimento a habilidades emocionais dos alunos, entre outros, passam a ser únicas referências em muitas matrizes educacionais, o processo educativo pode sofrer um retrocesso em relação a uma educação crítica, ativa, solidária, reflexiva e democrática. Para exemplificar, poderíamos citar o “home office”, tão adotado por empresas atualmente. Nele, ao mesmo tempo em que nos sentimos livres para fazer nosso horário de trabalho, em casa, não nos damos conta de que não temos horário para o término do trabalho. Podemos citar da mesma forma quando um empregado possui um aparelho celular da empresa e precisa atendê-lo a qualquer hora. Há também como a noção do “vencer na vida” é sempre acoplada a uma noção do sucesso financeiro. Nessa medida, a lógica do individual se sobressai à lógica do coletivo. E, sem perceber, vamos justificando os fatos da vida a uma causa sempre individual. Exemplo: se você ficou desempregado, a culpa será sempre sua que não soube se manter no emprego. Não se questiona se há emprego para todos, nem mesmo se questiona qual o verdadeiro valor do “trabalho” e como ele deve ser compreendido, principalmente num momento em que o órgão maior do trabalho no país, Ministério do Trabalho, tem seu apagamento. Em uma ordem do individual, o sucesso se dá pelo esforço solitário e pessoal, assim como o insucesso se dá também pelo fracasso individual. Mais uma vez nos silenciamos sobre as condições de oportunidades oferecidas para que o “sucesso” aconteça, como, por exemplo, uma educação pública de qualidade. Lutas coletivas, interesse pela política e momentos de reflexão para a ação são mais difíceis pela falta de tempo e exigências do mundo do trabalho. A quem interessa uma sociedade ocupada pelos seus interesses individuais? Como pensar em uma teoria do aprender, da educação, do ensino, do desenvolvimento quando há uma força para o “não pensar”, de maneira global? Como fazer uso da reciprocidade, da curiosidade, de uma aprendizagem por descobertas se o que interessa ao mundo econômico é um conhecimento limitado, superficial e rasteiro sempre com o fim no “ofício”, pelo próprio ofício, e não na criação, na arte, na reflexão, nas tecnologias como um todo? De que forma um conhecimento pode ser espiral para além dos muros da escola, não se preocupando apenas em ler, escrever e contar, mas a formar um cidadão questionador, ampliando o entendimento de “educação”? IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 28 Esperamos que os questionamentos norteadores nos façam sair de um lugar de receptor de teorias prontas para um lugar de pensador de teorias. Afinal, estamos em uma pós- graduação e estar nesse lugar, além de ser um privilégio frente à maioria da população brasileira, que não tem formação superior, é um convite à reflexão e à criação de novas metodologias educacionais. Mídias digitais: Voltando ao nosso autor Ausubel, ele é hoje uma importante referência na educação, pois propôs a teoria da aprendizagem significativa. Para nos ajudar no entendimento do que seja aprendizagem significativa, convidamos vocês a assistir ao Vídeo 3.4, disponível na sala virtual. Figura 3.4 – Retrato de David Aubusel. Fonte: internet. O que seria a aprendizagem significativa? Ela é a aprendizagem em que ideias expressas simbolicamente (por meio de palavras, ícones, símbolos, desenhos, operações) interagem de forma plena e coerentemente com o conhecimento prévio do aluno. No caso do conhecimento prévio, ele pode ser um conceito, uma imagem, um modelo mental, um símbolo. Porém, Ausubel chamava o conhecimento prévio de subsunçor ou ideia âncora. Em vários momentos, Ausubel denomina o conhecimento prévio de "conhecimento especificamente relevante já existente”. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 29 Qual o pré-requisito para ocorrer uma aprendizagem significativa? Aprender, para Ausubel, é atribuir significados a novos conhecimentos e, para ele, isso só ocorre a partir da existência de conhecimentos especificamente relevantes, ou seja, o conhecimento prévio. É relevante ratificar que a aprendizagem significativa tem como característica principal a interação dos conhecimentos prévios (conhecimento especificamente relevante) com conhecimentos novos. Um tipo de aprendizagem que Ausubel cita em sua pesquisa é a aprendizagem mecânica. Essa pode ser entendida como um armazenamento de conhecimentos arbitrários, sem conexão com as situações já conhecidas, sem significado, feita sem a participação dos subsunçores, isto é, a aprendizagem mecânica seria um exemplo do que conhecemos como “decoreba”. É apenas um armazenamento no seu sentido literal e que facilmente poderá haver esquecimento, caso não haja conexões relevantes a essa aprendizagem. Quais palavras e expressões podem ter o mesmo sentido de subsunçor na teoria de Ausubel? Podemos citar: conhecimento estabelecido na estrutura cognitiva do sujeito que aprende, conhecimento estabelecido que, por meio da interação, dá significado a novos conhecimentos; conhecimento prévio, conceito determinado ou conhecimento especificamente relevante. É importante ressaltar que um subsunçor não utilizado, com frequência, pode sofrer uma obliteração, ou seja, ficar pequeno, esquecido, distante. Assim, quando um conhecimento novo necessita de resgatar um subsunçor esquecido, podemos chamar de assimilação obliteradora, quer dizer “uma continuidade natural da aprendizagem significativa” (MOREIRA, 2011, p. 18) Moreira (2011) utiliza um vocabulário simples e afirma “nossa cabeça está cheia de subsunçores, uns já firmes e outros frágeis” (p. 18). Porém, na linguagem de Ausubel, podemos substituir cabeça por qual expressão? Estrutura cognitiva ou conjunto hierárquico de subsunçores dinamicamente inter- relacionados ou, mesmo, estrutura de subsunçores inter-relacionados e hierarquicamente organizados. A estrutura cognitiva se caracteriza por dois processos fundamentais: a diferenciação progressiva e a reconciliação integradora. O que seria isso? De forma bem sucinta, diferenciação progressiva seria uma ampliação da aprendizagem, isto é, a ampliação dos conhecimentos prévios que são, na verdade, conhecimentos especificamente relevantes. Isso acontece quando damos novos significados a um subsunçor. Já a reconciliação integradora seria uma reconfiguração da aprendizagem, uma aprendizagem remodelada, reconstruída, em um nível avançado. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 30 Exemplo: em uma aula de língua portuguesa, o professor poderia tomar o subsunçor “sujeito”. Essa expressão poderia ser entendida como sinônimo de “alguém, pessoa, indivíduo”. Por conseguinte, o conhecimento novo de que em uma sentença o sujeito é aquele que pratica a ação, o aluno conseguiria identificar o sujeito de uma frase como “Antônio nada muito bem”. Mas, esse mesmo aluno poderia ficar confuso se Antônio fosse o sujeito de frases como “Antônio nasceu”, “Antônio estápensando sobre a festa”, “Antônio dorme”, “Antônio foi assaltado”, “Antônio apanhou na escola” ou mesmo “Antônio quebrou a perna”. Nesse sentido, uma nova informação de que o sujeito de uma sentença nem sempre é o que pratica uma ação, uma nova informação de que sujeito é o que concorda com o verbo da sentença poderá ser aprendida. Nesse caso, podemos dizer que houve uma diferenciação progressiva. No entanto, para diferenciar o sentido de “sujeito” de forma progressiva, o aluno precisou reconciliar diferentes sentidos para a expressão “sujeito”, integrando, ao mesmo tempo, novos significados e excluindo conhecimentos que não fazem muito sentido mais, na nova fase da aprendizagem de um novo conhecimento. Esse processo de reconciliação integradora é simultâneo ao de diferenciação progressiva. Aprendizagem significativa é a mesma coisa que aprendizagem certa? Não. Pode haver um processo de aprendizagem significativa, em que o aluno aprende de forma eficaz e eficiente algo que seja incorreto. Exemplo: um aluno pode ter uma aprendizagem significativa, ou seja, plena e sólida de que o uso da vírgula está vinculado às pausas no momento da leitura de um texto ou de que o acento agudo deve ocorrer toda vez que houver uma sílaba forte. Em uma situação como essa, o aluno poderia usar a vírgula na seguinte sentença: “A inocência de uma criança com menos de cinco anos, pode levá-la a cometer enganos com estranhos.” O aluno poderia colocar a vírgula entre o sujeito e o verbo, apenas porque há uma pausa na leitura. Outro exemplo seria como o aluno escrever a palavra “angu” com acento (angú), pelo fato de a sílaba ser tônica, forte. Portanto, quando “o sujeito atribui significados a um dado conhecimento prévio, a aprendizagem é significativa”. (MOREIRA, 2011, p. 24). O que fazer para que haja aprendizagem significativa? 1) O material de aprendizagem precisa ser potencialmente significativo. Isso implica que as aulas, o material, o livro, as experiências escolares devem ser coerentes aos conhecimentos prévios dos alunos. 2) O aprendiz deve apresentar uma predisposição para aprender. Isso não tema ver com a boa vontade de o aluno ir para a escola, por exemplo. Predisposição para aprender representa a estrutura cognitiva possuir subsunçores nos quais o material possa se interagir e relacionar com novas aprendizagens. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 31 Ausubel acredita que um organizador prévio seja um recurso para preceder outras aprendizagens. Seria uma aula que antecede outras, pode ser uma pergunta, uma experiência, um debate, um filme etc. O organizador comparativo é um material com conteúdo conhecido e colabora na integração de novos conhecimentos aos prévios. É interessante reconhecer que as sequencias didáticas se encaixam nos conceitos de Ausubel. Dica do professor: para uma leitura complementar sobre aprendizagem significativa, sequência didática e avaliação, sugere-se o livro “A prática educativa: como ensinar” de Antoni Zabala. O livro não está disponível de forma gratuita, mas é possível fazer a leitura de uma resenha da obra (download). A aprendizagem significativa é o contrário da aprendizagem mecânica? Não. Uma aprendizagem inicialmente mecânica pode se tornar uma aprendizagem significativa. Assim como uma aprendizagem por descoberta (aquela em que o aluno inicialmente descobre o que vai aprender) não é o contrário de aprendizagem receptiva (ocorre quando o aluno recebe a informação pronta). Figura 3.5 – Relações entre aprendizagens. Fonte: a própria autora. http://drive.google.com/file/d/1Z-UFgbiZLE9KrkNfzZEE1O4ZzOEnQOJQ/view IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 32 Atividade 3.2: com base nesta semana de estudo, vá até a sala virtual e, no fórum obrigatório da semana, responda, ao menos, uma pergunta feita no Quadro 3.1. Aproveite para comentar as publicações de seus colegas. Nos vemos na próxima semana! IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 33 IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 34 Mídias digitais: antes de iniciar os estudos, vá até a sala virtual e assista o Vídeo 4.1, preparado pela professora formadora. 4.1. Paulo Freire (1921-1997): uma breve apresentação Oi, tudo bem? Estamos chegando à reta final de nossa disciplina. Como conteúdo básico, tínhamos na ementa nomes como Piaget, Vygotsky, Bruner e Ausubel. Tínhamos também Kelly e Rogers, porém, por questão de tempo e um posicionamento crítico à própria disciplina, na última semana, faremos um percurso alternativo. Como vocês podem observar, todos os teóricos estudados até o momento são estrangeiros. Portanto, para deixar nossa ementa mais próxima de nossas raízes e valorizando uma produção teórica brasileira, vamos estudar um pouco sobre Paulo Freire. Atividade 4.1: Antes de continuarmos, serão apresentadas quatro perguntas. Elas devem ser respondidas no Primeiro Fórum Obrigatório da Semana 4 (FREIRE, 2018, p. 75): - Em favor de que estudo? - Em favor de quem? - Contra que eu estudo? - Contra quem estudo?. É importante ressaltar que Freire não está nessa disciplina apenas porque é brasileiro, mas também porque revolucionou a educação no Brasil e no mundo, de forma especial, a alfabetização de adultos. Paulo Freire é, hoje, o terceiro teórico mais citado no mundo, na área de ciências humanas. Ele recebeu nada menos que 41 títulos de Doutor Honoris Causa, de inúmeras universidades como Harvard, Cambridge e Oxford. E na lista entre os 100 teóricos mais citados no mundo, Freire é o único brasileiro. Devido à sua contribuição para a educação, Freire é considerado o patrono da educação brasileira. Com o intuito de conhecer um pouco sobre a história de Paulo Freire, veremos o Quadro 4.1. Objetivos Ao final desta última semana, você deverá ser capaz de apresentar o método de conscientização de Paulo Freire, elencando suas características. Semana 4 – Paulo Freire IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 35 Quadro 4.1 – História de Paulo Freire. Fonte: a própria autora. • 19/09/1921- Nasceu em Recife - Pernambuco • 1946- é indicado ao cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco e começa a lecionar para analfabetos pobres • Suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos em 1963, quando ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias • A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. • Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilou-se primeiro no Chile, onde, encontrando um clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas teses, desenvolveu, durante 5 anos, trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA) • Em 1967 Paulo Freire publica seu primeiro livro “Educação como prática da liberdade” • Sua principal obra Pedagogia do oprimido foi escrita em 1968 o qual foi traduzido para línguas como o espanhol, o inglês e até o hebraico. Por ocasião da rixa política entre a ditadura militar e o socialista-cristão o livro não foi publicado no Brasil até 1974, quando o general Geisel tomou o controle do país e iniciou um processo de liberalização cultural. • Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard • Em 1970,depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, para trabalhar como consultor educacional para o Conselho Mundial de Igrejas por um período de 10 anos. • Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para "reaprender" seu país. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). • No ano de 1991 é fundado o Instituto Paulo Freire, em São Paulo, para estender e elaborar suas teorias sobre educação popular. • No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado "Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa". • Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 36 Fazendo uma retrospectiva de nossa apostila, na primeira semana, estudamos por meio de quadros as fases em que a teoria de Piaget foram apresentadas. Na segunda semana, estudamos por meio de um texto dissertativo sobre Vygostky. Na terceira semana, além de um texto corrente sobre a teoria de Bruner, o nosso material fez uso de perguntas e respostas sobre a Aprendizagem Significativa de Ausubel. Nessa última semana, não será utilizado texto explicativo ou dissertativo, nem quadro, muito menos perguntas e respostas. Toda a seção seguinte sobre Freire será estruturada por meio de falas contidas em duas principais obras do autor: Pedagogia do Oprimido, publicada em 1968 e Pedagogia da Autonomia, publicada em 1997, há menos de um mês da morte de Paulo Freire. 4.2. Método de conscientização de Paulo Freire Para referenciar as citações de forma objetiva, usaremos o código “PA” para a obra Pedagogia da Autonomia e “PO” para a obra Pedagogia do Oprimido. Isso foi proposto, levando em conta que, nas referências desta apostila, os dois livros estão apresentados na edição de 2018. Para que a diferença na referência, desta seção, possa ajudá-lo na memória visual da obra, sugiro esse formato. A proposta desta seção é que você leia e reflita sobre cada citação apresentada, ok? Falamo-nos, novamente, mais a frente. Figura 4.1 – Retrato de Paulo Freire. Fonte: internet. IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 37 Apontamentos: • Freire não pensa ideias, pensa a existência (PO, prefácio); • Sentido de alfabetização: “aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunha de sua história, isso é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se.” (PO, prefácio); • “Nesse sentido, alfabetizar não é aprender a repetir palavras, mas a dizer a sua palavra.” (PO, prefácio). • “Não é a conscientização que pode levar o povo a “fanatismos destrutivos”. Pelo contrário, a conscientização, que lhe possibilita inserir-se no processo histórico, como sujeito, evita os fanatismos e o inscreve na busca de sua afirmação.” (PO, p, 32). • Parta de quem parta, a sectarização é um obstáculo à emancipação dos homens.” (PO, p. 34). • “Não me venha com justificativas genéticas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar.” (PA, p. 59). • “Não posso proibir que os oprimidos com quem trabalho numa favela votem em candidatos reacionários, mas tenho o dever de adverti-los do erro que cometem, da contradição em que se emaranham. Votar no político reacionário é ajudar a preservação do status quo. Como posso votar, se sou progressista e coerente com minha opção, num candidato em cujo discurso, faiscante de desamor, anuncia seus projetos racistas? (PA, p. 78). • “Daí o meu nenhum interesse de, não importa que ordem, assumir um ar de observador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos.” (PA, p. 16). • “A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social(...)” (PA, p. 21). • O livro (...) é um decisivo não a esta ideologia que nos nega e amesquinha como gente. (PA, p. 21). • “Contra toda a força do discurso fatalista neoliberal, pragmático e reacionário, insisto hoje, sem desvios idealistas, na necessidade da conscientização.” (PA, p.54). • “Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como IFMG Campus Arcos – Pós-graduação em Docência 38 se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.” (PA, p. 96) • “Seria demasiado ingênuo, até angelical de nossa parte, esperar que a “bancada ruralista” aceitasse quieta e concordante a discussão, nas escolas rurais e mesmo urbanas do país, da reforma agrária como projeto econômico, político e ético da maior importância para o próprio desenvolvimento nacional. Isso é tarefa para educadoras e educadores progressistas cumprirem, dentro e fora das escolas.” (PA, p. 97). • “As elites dominadoras, na sua atuação política, são eficientes no uso da concepção “bancária” (em que a conquista é um dos instrumentos) por que, na medida em que esta desenvolve uma ação apassivadora, coincide com o estado de “imersão” da consciência oprimida. Aproveitando esta “imersão” da consciência oprimida, estas elites vão transformando-a naquela “vasilha” de que falamos e pondo nela slogans que a fazem mais temerosa ainda da liberdade.” (PO, p. 118). • “Embora seja meu interesse central considerar neste texto saberes (...) indispensáveis à prática docente de educadoras ou educadores críticos, (...) alguns deles são igualmente necessários a educadores conservadores.” (PA, p. 23). • “Que dizer da professora que, de esquerda ontem, defendia a formação da classe trabalhadora e que, pragmática hoje, se satisfaz, curvada ao fatalismo neoliberal, com o puro treinamento do operário, insistindo, porém, que é progressista?” (PA, p. 36). • “O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.” (PA, p. 84). • “Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade.” (PA, p. 105). • “Por isso, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes.” (PO, p. 109). • “A autodesvalia é outra característica dos oprimidos. Resulta da introjeção que fazem eles da visão que deles têm os opressores. De tanto ouvirem de si mesmo que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber, que são enfermos, IFMG Campus
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