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As teorias científicas surgem influenciadas pelas condições da vida social - ERIK RIOS

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INTRODUÇÃO
As teorias científicas surgem influenciadas pelas condições da vida social, nos seus aspectos econômicos, políticos, culturais etc. São produtos históricos criados por homens concretos, que vivem o seu tempo e contribuem ou alteram, radicalmente, o desenvolvimento do conhecimento. Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Sua contribuição é comparável à de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e sociais. Freud ousou colocar os “processos misteriosos” do psiquismo, suas “regiões obscuras”, isto é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos.
O livro pretendia explicar porque os judeus foram perseguidos ao longo da história. Freud encontra a razão na forma de viver a religião judaica, ainda próxima da forma psicológica que, na visão de Freud, explicava a origem das religiões, a morte do macho alfa do grupo pelos irmãos seus filhos e, posteriormente, a incorporação de sua imagem e interdições de caráter moral na psicologia do grupo. Esse processo foi trabalhado a partir do esquema neurótico e da observação freudiana de que a doença vinha do retorno simbólico dos fatos esquecidos à força ou reprimidos. Para isso, Freud reconta a história de Moisés ligada à formação do povo judaico, afastando-se do texto bíblico para justificar a existência de dois Moisés, fundidos em um, e duas religiões de origem, uma trazida o Egito e outra vivida na região do Sinai. 
Os elementos delas foram fundidos, mas a maior parte da religião egípcia, do deus Aton, foi esquecida e, mais tarde, recuperada no movimento profético. As explicações de Freud foram muito contestadas pela intelectualidade judaica e por filósofos como Martin Buber. A maior dificuldade dessa obra está em que ela emprega categorias elaboradas por Freud para entender o mundo mental na análise de questões sociológicas, históricas, antropológicas e religiosas. Isso significou o uso inadequado dessas categorias não ajustadas aos objetos analisados, dando ao trabalho a aparência de superficialidade. No entanto Freud ao estudar o funcionamento e a organização mental (aparelho psíquico) do homem percebeu que existem três elementos funcionais que atuam de diferentes formas. Aos elementos, nomeou Id, Ego e Superego.
O Aparelho Psíquico é um esquema teórico da mente humana postulado
por Sigmund Freud. Sigmund Freud é o fundador da Psicanalise, datada na década de 1887 – 1897, tendo inicialmente dentre seus métodos a Hipnose, e a posteriori, a Associação Livre e análise das Par apraxias.
Durante a sua vida produziu diversas teorias sobre o desenvolvimento e processos da psique humana, tais como a Teoria do Desenvolvimento Psicossexual e a Teoria dos Instintos. É o autor de obras famosas, como, “Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana” e “A Interpretação dos Sonhos” na qual introduziu o pressuposto da divisão da mente e o seu funcionamento — a 1º Tópica da Estrutura da Personalidade, que anos mais tarde foi remodelado e deu origem a 2º Tópica da Estrutura da Personalidade. Teorias que ainda hoje são alvo de estudos, adoração e críticas.
Freud, através do caso Anna O. lhe apresentado pelo médico Breuer, descobre que a mente humana era dividida em 2 instancias: Estado Mental Normal (Consciência) X Estado Mental Hipnoide (Inconsciente), porém após várias observações, verificou que a psique era mais complexa, e os processos mentais não ocorriam ao acaso, que para tudo há uma causa e um efeito. Com isso introduziu a ideia que a mente é dividida em territórios, e cada um é orientado por diferentes processos.
A 1º Tópica ou Teoria Topográfica é originaria da obra “A Interpretação dos Sonhos” (1900), na qual apresenta o aparelho psíquico dividido em três sistemas interligados entre si, o Consciente (Cs), o Pré Consciente (Pcs) e o
Inconsciente (Ics).
Ele expressa no capitulo VII de seu livro citado acima, que o sonho é a estrada real para o inconsciente, trazendo uma analogia ao modelo óptico para os processos das transformações de energia.
· Consciente
Estrutura localizada na periferia da psique e é área das ideias, na qual
recebe informações externas e internas simultaneamente. Relaciona-se com o aqui e agora. É responsável pelas percepções, juízos e pensamentos de forma momentânea. E recepciona todas as informações advindas do exterior e do interior, mas não armazenará as informações como em um “arquivo”.
· Pré Consciente
O Pré Consciente trabalha em conjunto com a Consciência, está localizada próxima à mesma, e é separada do Inconsciente pela barreira da Censura, barreira essa que se caracteriza pela rigidez que impede que conteúdos recalcados (nome empregado devido à força que o reprime, chamada de Recalque) retornem a consciência, pois o mesmo traria um sofrimento psíquico.
O Pcs caracteriza-se por ser um diminuto “arquivo”, e seus conteúdos podem ser recuperados por vontade voluntária do indivíduo, e com isso
denominamos a força que recolher essa lembrança é a Repressão. Esses conteúdos podem retornar devido uma “representação da palavra”, componente que deixou indícios em sua passagem. Podemos dizer que é a área das lembranças.
· Inconsciente
É a estrutura mais antiga do aparelho psíquico, e entende-se que tudo aquilo que não está no Cs está presente nele ou no Pcs. Uma parte é herança genética, na qual denominamos de “Núcleo do Inconsciente” que se vincula a outra hipótese apresentada por Freud que são as protofantasias (fantasias inatas).
Os conteúdos ali presentes não podem advir ao Cs, nem ao Pcs devido
a barreira da Censura (ou do Recalque), evitando uma grande angústia.
O Ics é formado por energia pulsional, e opera como um arquivo sensorial no qual estão armazenados acontecimentos ocorridos até os 5/6 anos
de idade. Nos estudos do livro “A Interpretação dos Sonhos”, Freud afirma que os conteúdos recalcados podem adentrar ao Cs durante o estado de sono, através da elaboração onírica, na qual consiste em uma “alegoria” do conteúdo recalcado, trazendo uma realização do desejo. Daí a sua citação de que os sonhos são um caminho real para o inconsciente.
Em1920, após o lançamento do artigo “Além do Princípio do Prazer”, Freud postula sua 2° Tópica, reformulando a 1° teoria, na qual não á elimina, mas sim agrega, trazendo um caráter mais dinâmico e efetivo para os processos do aparelho psíquico, na qual a sua localização topográfica não tem mais relevância.
Enquanto na 1° teoria o que prevalecia atributos físicos (representações, catéxias, etc.), na segunda ele traz qualidades e semelhante ao homem, e a
busca de um equilíbrio dinâmico que potencializa o prazer e reduz o desprazer.
A teoria topográfica não era mais suficiente, pois suas pesquisas começaram a focalizar na resistência (ego) que se acreditava que operava entre o Cs e o Pcs. Freud denominou essa nova divisão de Ego, Id e Superego.
· Id
Parte originária e antecedente da personalidade, é formado por pulsões,
desejos inconsciente e instintos — de vida, morte, autopreservação e sexuais. Assemelha-se ao Inconsciente, nele lidera o princípio do prazer, ou seja, a busca da realização de um desejo a qualquer custo. Para o id não existe a consequência, o que lhe importa, é a satisfação de seus desejos de forma completa o mais rápido possível. Podemos exemplifica-lo, fazendo uma analogia a um bebê recém-nascido, o mesmo sente fome, com isso, ele chora para que a mãe o amamente, o desejo é a fome, e por pulsão de autopreservação ele se expressa pelo choro que só sessa após seu desejo ser satisfeito.
· Ego
O Ego advém da interação do indivíduo com a realidade. Trabalha como mediador das exigências do id, do superego e do mundo exterior.
É ele que avalia o desejo do id, através das exigências do superego, em
conjunto com o contexto nele inserido, com base no princípio da realidade. E defende o Cs, acionando seus mecanismos de defesa, que impedem que conteúdos recalcados retornem e causem um sofrimento psíquico.
· Superego
O Superego é a última instancia psíquica a ser formada,ditada pelos valores e morais culturais do sujeito, é o que nos diz o que é certo e errado, e nos orienta á um senso de julgamento. É o antônimo do id, e se forma através de aspectos e proibições proferidos por seus pais. Surge aos 5/6 anos de idade, quando o Complexo de Édipo estrutura seus princípios, e a partir daí ele começa a atuar no aparelho psíquico. Sua meta consiste em reprimir os impulsos do id, que para ele são inaceitáveis mediante a sociedade. Se expressa através das linguagens prescritiva e valorativa, na qual determinam como devemos agir e o que devemos desejar, dentro dos padrões estabelecidos pela história do sujeito. É concebido por Freud como a fusão da proibição e do ideal, trazendo duas funções: a proibitiva ou também identificada “voz da consciência”, na qual dita regras pelas quais comportamentos são avaliados como ruins, e o ideal de ego que é composto pelas nossas regras de bom comportamento.
Freud trouxe uma grande contribuição para a psicanalise com suas
teorias na qual foi alvo de inúmeras críticas.
Ele nos traz uma divisão psíquica em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente, e a posteriori, agregou as instancias Id, Ego e Superego, com
qualidades e processos integrados, na qual deve haver um equilíbrio a fim de
evitar transtornos e neuroses.
Esse equilíbrio se dá através do funcionamento correto nos processamentos que ocorrem entre Ics, Pcs e Cs. Não sendo diferente nas instancias, ou seja, durante a interação entre id, superego, ego e mundo exterior não deve haver um lado dominante, e sim uma relação proporcional.
Podemos então concluir que o aparelho psíquico é um sistema complexo
que trabalha em sincronia, visando um equilíbrio psicológico, e que quando não há êxito nesse processo os resultados são as neuroses psíquicas.
O poder do id expressa o verdadeiro propósito da vida do organismo do indivíduo. Isto consiste na satisfação de suas necessidades inatas. Nenhum intuito tal como o de manter-se vivo ou de proteger-se dos perigos por meio da ansiedade pode ser atribuído ao id. Essa é a tarefa do ego, cuja missão é também descobrir o método mais favorável e menos perigoso de obter a satisfação, levando em conta o mundo externo. O superego pode colocar novas necessidades em evidência, mas sua função principal permanece sendo a limitação das satisfações. As forças que presumimos existir por trás das tensões causadas pelas necessidades do id são chamadas de instintos. Representam as exigências somáticas que são feitas à mente. Embora sejam a suprema causa de toda atividade, elas são de natureza conservadora; o estado, seja qual for, que um organismo atingiu dá origem a uma tendência a restabelecer esse estado assim que ele é abandonado. É assim possível distinguir um número determinado de instintos, e, na prática comum, isto é realmente feito. Para nós, contudo, surge a importante questão de saber se não será possível fazer remontar todos esses numerosos instintos a uns poucos básicos. Descobrimos que os instintos podem mudar de objetivo (através do deslocamento) e também que podem substituir-se mutuamente, a energia de um instinto transferindo-se para outro. Este último processo é ainda insuficientemente compreendido. Depois de muito hesitar e vacilar, decidimos presumir a existência de apenas dois instintos básicos, Eros e o instinto destrutivo. (O contraste entre os instintos de autopreservação e a preservação da espécie, assim como o contraste entre o amor do ego e o amor objetal, incidem dentro de Eros.) O objetivo do primeiro desses instintos básicos é estabelecer unidades cada vez maiores e assim preservá-las - em resumo, unir; o objetivo do segundo, pelo contrário, é desfazer conexões e, assim, destruir coisas. No caso do instinto destrutivo, podemos supor que seu objetivo final é levar o que é vivo a um estado inorgânico.
Freud não parecia ver grandes problemas em atribuir-lhe uma significação e uma fundamentação biológica. Sua primeira dualidade instintual era explicitamente baseada na distinção entre o conjunto de funções biológicas que servem à conservação da existência do indivíduo (para os instintos de auto conservação) e o conjunto de funções biológicas que servem à conservação da espécie (para os instintos sexuais) (cf. Freud, 1998 [1910]).
Como se vê, a palavra-chave nessa primeira teoria freudiana dos instintos era “conservação”. Freud parecia, nesse momento, entender o instinto como uma espécie de conatus orgânico, a saber, um esforço, inerente ao ser vivo, para continuar existindo, quer individualmente, quer como espécie. O conflito – inclusive no plano psíquico, isto é, no plano do funcionamento mental impulsionado pelas motivações instintivas – resultaria da impossibilidade de conciliar perfeitamente as metas dessas duas classes de instintos. Às vezes, a sobrevivência do indivíduo só poderia ser alcançada à custa do sacrifício da sobrevivência da espécie (basicamente, da renúncia àquelas atividades relacionadas com a reprodução) ou vice-versa. Como se sabe, Freud (1998 [1920]; 1998 [1933]) revisou amplamente essa sua teoria inicial na virada dos anos 1920, introduzindo a célebre “segunda dualidade instintual” que opunha os instintos de vida (ou eros) aos instintos de morte (que outros autores, mas não Freud, designaram globalmente como tanathos). 
Uma das principais características dessa segunda dualidade era restringir o alcance quase universal que a primeira concedia à meta da conservação. Há várias razões para isso. Por exemplo, a teoria freudiana da sexualidade mostrara que as metas sexuais podiam divergir imensamente daquilo que tivesse a ver com a conservação da espécie, isto é, da função biológica da reprodução. Além disso, para dar outro exemplo, a agressividade era explicada pelo seu pertencimento ao grupo dos instintos de auto conservação, o que só conseguiria dar conta dos aspectos adaptativos da agressividade, mas não de suas formas patologicamente excessivas ou, muito menos, da agressividade autodirigida, a não ser mediante malabarismos teóricos pouco convincentes, tais como a postulação de um destino instintual de transformação no contrário (amor em ódio, tipicamente) ou de volta contra si mesmo (transformação de agressão alo direcionada em auto direcionada) ou, ainda, propondo a erotização dessa forma de agressão auto direcionada como masoquismo (cf. Freud, 1998 [1915]). Na nova teoria, por um lado, uma categoria – o eros ou os instintos de vida – passou a agrupar os instintos sexuais e de auto conservação da primeira dualidade, embora haja hesitações significativas de Freud em incluir a auto conservação nessa categoria. Na verdade, há, por vezes, até mesmo uma hesitação em subsumir integralmente a sexualidade na categoria dos instintos de vida (cf. Freud, 1998 [1923]).
Nada há de surpreendente, portanto, em que Freud (cf. 1998 [1920] e outros textos posteriores) tenha recorrido ainda mais intensamente a considerações de ordem biológica – ainda que fortemente especulativas – no tratamento dos problemas envolvidos na teorização sobre os instintos e sobre sua participação na vida mental. Ele afirmou claramente que a fundamentação da teoria só poderia ser biológica e que a psicanálise não poderia, por si só, alcançar uma definição de instinto plenamente satisfatória. É notável como, nesse período final de sua produção teórica, Freud tenha tornado a enfatizar o elemento constitucional na determinação dos processos mentais normais e patológicos e, consequentemente, privilegiado os fatores filogenéticos, formados ao longo da história evolutiva da espécie, em detrimento dos fatores ontogenéticos, referentes à história de vida dos indivíduos. Com isso, considerações de ordem biológica vêm mais ou menos naturalmente para o primeiro plano. Assim, por exemplo, ao refletir sobre as causas da angústia e das neuroses, ele afirma que:
As considerações que fizemos mostram-nos que são as relações quantitativas, não passíveis de serem investigadas de forma direta, mas apenas por meio da inferência retrospectiva, aquelas que decidem se as antigassituações de perigo serão retidas, se as repressões do eu serão conservadas, se as neuroses da infância terão ou não continuação. Entre os fatores que participaram da causação das neuroses, que criaram as condições sob as quais se batem entre si as forças psíquicas, há três que ganham destaque para nosso entendimento: um biológico, um filogenético e um puramente psicológico (Freud, 1998 [1926], p. 145, grifos meus).
Dos três fatores explicativos mencionados, o fator biológico é identificado como a prematuração do recém-nascido e seu consequente desamparo (um tema familiar à biologia da evolução humana e à antropologia biológica; cf. Gould, 1977). O fator aqui identificado como filogenético – no sentido de que relaciona o desenvolvimento individual (ontogênese) à história evolutiva da espécie – é definido como o desenvolvimento em dois tempos da sexualidade humana, com seu período infantil e adulto separados por um período de relativo declínio da intensidade do impulso sexual, chamado de fase de latência. Mas mesmo o fator considerado como psicológico – a saber, a diferenciação do eu a partir de um id instintivo originário – está longe de ser independente de determinações biológicas e evolutivas. Veja-se, por exemplo, o tipo de considerações que Freud elabora quando discute a relação entre a herança filogenética do id e a formação do ideal do eu.
O que a biologia e os destinos da espécie humana realizaram no id e lhe deixaram como sequela é o que o eu assumo através da formação do ideal e o que é revivido nele individualmente. O ideal do eu, como consequência de sua história de formação, tem as maiores relações com as aquisições filogenéticas, essa herança arcaica do indivíduo (Freud, 1998 [1923], p. 38).
Com relação ao instinto sexual, a distância entre Freud e as concepções biológicas pode parecer evidente. Afinal, Freud (1998 [1905]) mostrou que a sexualidade humana podia divergir indefinidamente da meta biológica da reprodução. O que se observa nos Três ensaios é, de fato, uma ampla redefinição da sexualidade. Freud partiu de uma crítica extremamente minuciosa de certo conceito de sexualidade que a vincularia exclusivamente àquelas ações que estivessem diretamente relacionadas, de alguma maneira, à reprodução humana e, no limite, somente ao coito heterossexual. Essa definição estaria, supostamente, amparada em bases biológicas. Ele demonstrou, de modo extremamente convincente, que este é um conceito excessivamente restrito de sexualidade, incapaz de incluir, em sua extensão, uma imensa gama de comportamentos que os próprios autores que utilizam esse conceito consideram como sexual, antes de tudo, as assim chamadas perversões ou aberrações (Abirrungen) sexuais.
 De fato, se existe um denominador comum para toda a variedade de manifestações do que o século XIX considerava como patologias sexuais, é que nenhuma dessas formas de organização da vida sexual (inversões, fetichismo, sadomasoquismo etc.) permite o cumprimento da meta reprodutiva. Por que então chamá-las de sexuais – como se perguntou Freud – se a sexualidade estaria, por definição, restrita à reprodução? O que Freud detectou aqui, primeiramente, foi uma incongruência interna entre a intensão e a extensão do conceito de sexualidade, tal como empregado pela ciência e pela medicina de sua época. Um argumento complementar era fornecido pelas práticas do prazer preliminar (ou pré-prazer, Vorlust), que evidenciavam como nem mesmo a mais “normal” e conservadora vida sexual podia consistir exclusivamente no coito (ou teríamos que, por uma espécie de reductio ad absurdum, admitir que um beijo ou uma carícia nada tivessem que ver com a sexualidade). Na verdade, pode-se dizer que o argumento freudiano sustentava, em última instância, que reduzir a vida sexual à reprodução seria algo mais grave do que formular uma definição ruim ou limitada da sexualidade.
No limite, sua crítica pode ser reconstruída de forma tal a apontar que essa extrema insuficiência do conceito sugeriria que essa redução sequer fosse uma definição no sentido estrito da palavra. Tratar-se-ia, antes, de uma norma sexual travestida de definição, uma prescrição daquilo que seria aceitável como conduta sexual em certo contexto sócio histórico, e não uma descrição daquilo em que a sexualidade consiste. A crítica desenvolvida por Freud no primeiro dos Três ensaios pode, assim, ser entendida como um esforço para separar, no tratamento da sexualidade, as questões de fato (o que a sexualidade é) das questões normativas que se imiscuem em sua investigação (o que a sexualidade pode ou deve ser). Uma evidência disto é que o único argumento da psicopatologia da época para considerar as perversões como sexuais, muito embora elas se afastem por definição da meta reprodutiva, é que estaríamos aí diante de formas anormais da sexualidade (em geral, constitucionalmente anormais: taras hereditárias, degenerações etc.).
Nas entrelinhas de sua crítica, Freud foi elaborando um conceito utilizável de sexualidade, uma verdadeira definição, capaz de cobrir a totalidade das manifestações daquilo que ordinariamente se considera como sendo de natureza sexual. O exame das perversões mostrou-lhe que a restrição da meta sexual ao coito e do objeto à escolha heterossexual era extremamente insuficiente. O exame dos pares sadismo/masoquismo e voyeurismo/exibicionismo evidenciara como a meta podia divergir do coito (infligir ou sofrer dor, ver ou ser visto etc.). O exame da homossexualidade, da zoofilia, da pedofilia etc. – mas, sobretudo, do fetichismo – mostrara, por sua vez, que praticamente qualquer coisa poderia servir como objeto da sexualidade. Ora, dizer que a sexualidade pode ter virtualmente qualquer objeto é o mesmo que dizer que ela não possui nenhum objeto em especial, ou que não é possível defini-la pelo lado do objeto. Daí que Freud concluísse que a sexualidade fosse primordialmente auto erótica e que o problema da escolha do objeto apenas se colocasse secundariamente no processo de seu desenvolvimento. Restava-lhe tentar definir a sexualidade pela meta.
Em princípio, portanto, não há impedimento para que a reprodução mamífera e humana ocorresse assexuadamente, de forma neutra quanto ao gênero, ou seja, independentemente da separação dos indivíduos em dois ou mais sexos. Assim, mesmo de um ponto de vista estritamente biológico, a sexualidade não teria na reprodução sua meta principal, e sua relação com a perpetuação das espécies não explicaria integralmente seu surgimento no curso da evolução. Consequentemente, desvincular sexo e reprodução não é, por si só, razão para abandonar uma visão biológica da sexualidade. Se o conceito de “instinto” representa o conjunto dos determinantes biológicos do comportamento – aquilo que cada indivíduo herda da sucessão de gerações que constituiu a evolução de sua linhagem (sua filogênese, termo que Freud não hesita em empregar, aliás, frequentemente) – não haveria razão para deixar de falar de um instinto sexual humano e de atribuir essa significação ao Trieb sexual de que fala Freud. É claro que o comportamento sexual humano apresenta algumas características que lhe são próprias, mas, em primeiro lugar, isso pode ser afirmado de qualquer outra espécie.
Cada espécie é, em certo sentido, única, e é isso que faz de uma dada população de organismos uma espécie e não parte de alguma outra.6 Em segundo lugar, essas características distintivas não deixam de ser de natureza biológica ou de estarem relacionada com as características biológicas específicas da espécie humana, a saber, a disseminação da receptividade sexual ao longo de todo o ciclo menstrual da mulher, a ocultação da ovulação, a longa dependência dos cuidados parentais, o retardo da puberdade e do amadurecimento sexual, a intensificação do convívio social etc. 
A própria teoria psicanalítica do complexo de Édipo, por exemplo, poderia ser pensada como o modo freudiano de descrever como os efeitos de certas condições biológicas do desenvolvimento humano atuam na determinação da escolha de parceiros. O temafreudiano da “escolha de objeto” é amplamente estudado na biologia sob a forma do problema da escolha de parceiros (mating). Essas condições incluiriam a prematuração ao nascer e o desamparo originário do recém-nascido, que foram apontados por Freud, na parte final de sua obra, como os fatores biológicos em ação na determinação da angústia e das diversas patologias (Caro preso, 2010b). Isso e mais a lentidão do desenvolvimento, o retardo do amadurecimento sexual e a consequente dependência prolongada dos pais interferem decisivamente na solução do problema fundamental da escolha dos parceiros sexuais no caso específico da espécie humana (cf. Diamond, 2006 [1993], cap. 5). A dependência prolongada exige a formação de vínculos intensos entre pais e filhos, e poucos vínculos são mais intensos do que aqueles criados pela atração sexual. Por outro lado, se pensarmos que a evolução depende da propagação de certos conjuntos de genes, a seleção natural deveria favorecer o acasalamento com parentes próximos, com os quais os parceiros potenciais possuem mais semelhança genética e, com isso, maior probabilidade de ter os seus genes representados na prole e nas gerações posteriores. 
O limite para essa estratégia é o aumento da probabilidade de danos genéticos decorrentes de alelos que, na sua forma híbrida podem ser benéficos ou neutros, mas na forma dupla recessiva são prejudiciais ou letais. Isso porque o acasalamento com parceiros geneticamente semelhantes aumenta a probabilidade de a forma dupla recessiva ocorrer. Haveria assim uma tensão entre uma tendência a acasalar com parentes próximos e geneticamente semelhantes e a tendência a evitar uma proximidade excessiva, que viria a ser prejudicial. A atração incestuosa e os mecanismos que a inibem seriam, assim, expressão psicológica dessas tendências biológicas conflitantes, e instituições sociais como a exogamia e os tabus do incesto seriam agenciamentos culturais para a administração dessas tendências. A teoria freudiana do Édipo poderia ser interpretada, então, como a análise das consequências psíquicas desse sistema de tendências biológicas que se traduzem em instituições culturais. Mas não seria contraditória com a maneira como a biologia vê o processo de escolha dos parceiros sexuais, de modo geral e não apenas na espécie humana.
Embora evidentemente não se incline por uma desnaturalização do instinto sexual, a sociobiologia não fica atrás da psicanálise em reconhecer a centralidade do prazer e a importância da sexualidade no estabelecimento dos vínculos sociais. 
Os seres humanos são connoisseurs do prazer sexual. Deleitam-se com a inspeção casual dos parceiros em potencial, com fantasias, com a poesia e com a canção, e com todas as nuanças deliciosas do flerte que conduzem às carícias amorosas e ao coito. Tudo isso tem pouco ou nada a ver com a reprodução; mas tem muito a ver com a união. Se a inseminação fosse a única função biológica do sexo, poderia ser realizada muito mais economicamente em alguns segundos de cobertura e penetração. Com efeito, os mamíferos menos sociais acasalam-se com uma cerimônia muito pouco mais elaborada do que isso. As espécies que desenvolveram vínculos duradouros também são, de modo geral, aquelas que dependem de elaborados rituais de corte. É coerente com essa tendência o fato de a maioria dos prazeres sexuais da espécie humana constituir reforçadores primários que facilitam a união. O amor e o sexo sem dúvida caminham juntos (Wilson, 1978, p. 141, grifos meus).
 Não parece haver, assim, um obstáculo incontornável que impeça a abordagem das propriedades que a psicanálise atribui à sexualidade humana desde um ponto de vista biológico e, portanto, de conceber o Trieb sexual de que falou Freud como um operador conceitual para teorizar sobre as formas específicas de manifestação do instinto sexual na espécie humana.
Até aqui estivemos principalmente interessados no sentido secreto dos sonhos e no método para descobri-lo, bem como nos meios empregados pelo trabalho do sonho para ocultá-lo. Os problemas da interpretação dos sonhos ocuparam até aqui o centro da descrição. Agora trabalharemos com a psicologia dos sonhos.
Encontramos nosso caminho para a compreensão (“interpretação”) de um sonho presumindo que o que lembramos como sendo o sonho depois de termos acordado não é o verdadeiro processo onírico, mas apenas uma faça de por trás da qual esse processo jaz escondido. Aqui temos a nossa distinção entre o conteúdo manifesto de um sonho e os pensamentos oníricos latentes. O processo que produz aquele a partir desse é descrito como elaboração onírica. O estudo da elaboração onírica nos ensina, através de um exemplo excelente, a maneira como o material inconsciente oriundo do id (originalmente inconsciente e da mesma maneira inconsciente reprimido) força seu caminho até o ego, torna-se pré-consciente e, em consequência da oposição do ego, experimenta as modificações que conhecemos como deformação onírica. Não existem aspectos de um sonho que não possam ser explicados desta maneira. (FREUD, p 105, [1937-1939]).
Em primeiro lugar, o que nos lembramos de um sonho, aquilo que exercemos nossa arte interpretativa, já foi mutilado pela infidelidade de nossa memória, que parece singularmente incapaz de reter um sonho e bem pode ter perdido exatamente as partes mais importantes de seu conteúdo. Em geral, lembramos apenas de fragmentos.
Em segundo lugar, nossa lembrança dos sonhos é não apenas fragmentada, mas também inexata e falseada. Spitta afirma que se um sonho apresenta ordem e coerência é porque o tornamos assim ao tentar evocá-lo. Para Freud é verdade que distorcemos os sonhos ao tentar reproduzi-los (ele chama essa tentativa de reprodução de elaboração secundária) pelo pensamento normal. Mas essa distorção, podemos não perceber, é influenciado pelo pensamento onírico. O esquecimento dos sonhos são, em grande parte, produto da resistência do próprio sonhador ao sonho.
 
Resumindo tudo o que vimos até aqui: os sonhos são atos psíquicos tão importantes quanto quaisquer outros. Sua força propulsora é um desejo que busca realizar-se. O fato dos sonhos não serem reconhecidos como desejos tem relação com a censura psíquica a que foram submetidos durante sua formação. Para fugir dessa censura o sonho recorre a condensação e deslocamento. Este processo dá as energias psíquicas depositadas no inconsciente novas formações substitutas que emergem como imagens sensoriais, uma imagem objetivada e vivenciada no sonho como no estado de vigília. Dando a estrutura uma fachada racional e inteligível.
Mas qual o lugar psíquico do sonho? Para respondermos a esta pergunta devemos observar dois aspectos importantes.
O pensamento é representado como uma situação imediata, omitindo o talvez. A situação representada existe como realidade psíquica. Há supressão do condicional e utilização do presente do indicativo. Os desejos nos sonhos representam-se como realizados.
Segundo, o pensamento se transforma em imagens visuais e fala. Os sonos operam como “alucinações”. E a pessoa que os sonha, em geral do crédito aos conteúdos de seu sonho, que parecem vivenciados. Freud acredita que o sonho tem uma localização dentro do aparelho psíquico. É nesse local em que se produz um estágio preliminar da imagem. Compara a formação dessas imagens com os reflexos, ou como imagens impressas numa fotografia. Essas imagens são traços mnêmicos gerados pela experiência. Esses traços são a matéria-prima, por assim dizer, do psiquismo e são captados pelo aparelho psíquico e registrados com “deformações”. Tudo o que temos são percepções.
Freud concede o aparelho psíquico como possuidor de diversas instâncias e qualquer excitação neural atravessa o aparelho numa ordem estabelecida, ou seja numa sequência temporal. O fluo no aparelho psíquico possui um sentido e direção: inicia-se na percepção (estímulos externos ou internos) e termina nas inervações (funções motoras). Reflete o modelo de arco-reflexo = percepção > ação.
 A percepção gera traços mnêmicos e a função a eles associadaé a memória. Os traços mnêmicos geram uma modificação permanente do aparelho psíquico. Freud aponta para o fato de que seria impossível que o mesmo sistema registrar modificações de seus elementos de maneira absolutamente fiel e ainda assim permanecer aberto a receber novas oportunidades de modificação. Às duas funções são atribuídos dois sistemas diferentes: um sistema totalmente aberto que não registra nenhum traço mnêmico, apenas percebe imagens e um segundo sistema que transforma as imagens em memórias.
No entanto, Freud cria uma hipótese: o ser humano retém mais do que os conteúdos advindos do sistema de percepção. Nossas percepções estão mutuamente ligadas no sistema que retém os traços mnêmicos. São percepções associadas. A evidência de que o sistema de percepção não possui memória está na sua possibilidade de gerar novas percepções. Caso houvesse o remanescente de uma ligação anterior nesse sistema, seria impossível absorver novas experiências.
A associação mnêmica é tanto mais facilitada quanto haja menos resistência na passagem de uma excitação pelos diferentes elementos mnêmicos até chegar ao aparelho motor. Assim, uma nova percepção gerará um novo traço mnêmico e serão verificados vários registros diferentes em cada traço mnêmico presente no aparelho psíquico. As associações não serão realizadas por critérios temporais, mas por uma série de outros processos, como similaridade (oposição também?) dentre outros.
Se as percepções são conscientes, os traços mnêmicos são inconscientes. Podem se tornar conscientes, mas causam seus maiores efeitos quando estão atuando de maneira inconsciente no nosso psiquismo. O caráter baseia-se nos traços mnêmicos que nos causaram as maiores impressões.
 “Haveria um esclarecimento promissor a se fazer sobre as condições que regem a excitação dos neurônios, caso fosse possível demonstrar que a memória e a qualidade que caracteriza a consciência são mutuamente exclusivas. ”
Voltando à proposição inicial: só é possível existir uma formação onírica se existirem, pelo menos, duas instâncias psíquicas, uma submetendo a atividade da outra a uma crítica que envolveria a exclusão da consciência.  Essa instância crítica se liga mais à consciência do que ao inconsciente e atua como uma tela entre o ICs e o Cs. Esse sistema crítico se situaria no pré-consciente que é o arquivo de memórias latentes ou “deformadas” pela integração com outros traços mnêmicos e é acessível ao consciente. O inconsciente só tem acesso à consciência através do pré-consciente. As moções do inconsciente só se tornam acessíveis ao pré-consciente se tiverem uma dada intensidade e que a atenção esteja distribuída de uma certa maneira.
A força propulsora dos sonhos está no sistema inconsciente (embora Freud já alerte para o fato de que é preciso considerar que as imagens inconscientes devem se ligar a imagens pré-conscientes para poderem emergir). Freud demonstra que todas as estruturas do pensamento tendem a caminhar para o sistema PCs e daí emergir como pensamento consciente. Os pensamentos inconscientes não são diferentes. “Os processos reflexos continuam a ser o modelo de todas as funções psíquicas”.
No estado de vigília essa via que parte do inconsciente para chegar ao PCs e ao Cs é barrada pela censura / resistência. Durante a noite, eles conseguem ter acesso à consciência (no esquema de Freud formado pela Percepção numa extremidade e pela parte motora noutra extremidade). Como? Se a energia passasse diretamente pelos sistemas para alcançar o pré-consciente, esses sonhos apareceriam como ideais e não como imagens alucinatórias. Parece haver, a noite, um movimento contrário ao fluxo normal da energia psíquica. Há um movimento retrocedente, ou uma regressão. Ao invés da excitação se propagar para a parte motora, retrocede ao sistema de percepção e emerge como uma “alucinação”.
Esse processo ocorre também no estado de vigília, mas não a ponto de produzir alucinações. Podem produzir lembranças com características alucinatórias, ou seja, o movimento retrocedente nunca ultrapassa as imagens mnêmicas. Por que isso é diferente nos sonhos? Pelo trabalho de condensação no sonho, há intensidades que podem ser transferidas de uma representação para outra e essa alteração permite uma acatexia no sistema perceptivo.
É importante notar que toda relação lógica no fluxo normal que vai das percepções ao sistema motor não funciona nos sistemas oníricos. Assim, há traços mnêmicos iniciais que vão investindo traços mnêmicos posteriores e se transformando em construções que adquirem estrutura lógica quando passam de um sistema inferior a um superior (do ponto de vista organizacional). No movimento regressivo, “a trama dos pensamentos oníricos decompõe-se em sua matéria prima”. É como se um traço mnêmico, no processo regressivo, fosse se decompondo em unidades fundamentais, cujas intensidades se transferem de uma representação a outra.
Durante o dia, de fato, há uma corrente contínua que parte das percepções e se propaga à parte motora. Durante a noite não há a necessidade de que essa corrente se estabeleça nesse sentido (as funções motoras estando suspensas). Portanto, a corrente pode seguir com maior facilidade em sentido oposto. (Daí pode-se inferior o quão forte são os pensamentos incidentes, os atos falhos, as lembranças encobridoras que, apesar do estado de vigília, conseguem se dirigir contra o fluxo normal do aparelho psíquico).
No entanto, em vigília, os únicos pensamentos que sofrem essa transformação no fluxo são, segundo Freud, os que se ligam a lembranças suprimidas ou inconscientes.
 Freud fornece um exemplo interessante de formação substituta a partir de imagens que foram suprimidas: a do menino que não dormia por sonhar com imagens de um monstro de rosto verde e olhos vermelhos e por isso ia mal na escola (esse menino se auto reprimia por sua masturbação, já que sua mãe lhe dissera anteriormente que este ato deixaria as pessoas com rostos verdes e olhos vermelhos e que os transformaria em idiotas).
Todo pensamento vinculado a uma lembrança e proibido pela censura pode sofrer um processo de regressão. Esses pensamentos ou intensidades ou afetos podem se conectar a representações porque necessitam encontrar expressão por meio de uma formação substitutiva.
Existem três tipos de regressão, embora as três estejam intimamente associadas: A) Regressão tópica (acima descrita). B) Regressão temporal (retorno a estruturas psíquicas mais antigas). C) Regressão formal: métodos primitivos de expressão tomam lugar das expressões habituais.
O sonhar é, em regra, uma revivência da infância, de moções pulsionais e dos métodos de expressão de que se dispunha à época. Ou seja, o sonho pode ser descrito como um substituto de uma cena infantil, modificado por transferir-se para a experiência recente.
 Freud, ao final desse capítulo, também considera a existência de traços filogenéticos em nossa memória – lembranças que conduzem a um conhecimento da herança arcaica da humanidade. Cita Nietsche “acha-se em ação alguma primitiva relíquia da humanidade que agora já mal podemos alcançar por via direta”.
 Todo sonho é a realização de um desejo e devemos dividir esses sonhos em dois grupos: os sonhos que se apresentam abertamente como realizações de desejos e outros em que o desejo fica irreconhecível e disfarçado por todos os meios possíveis. Neste último percebemos claramente a atuação da censura, sendo muito comum o primeiro tipo de sonho em crianças.
Estes desejos realizados nos sonhos surgem do contraste entre a vida diurna consciente e a atividade psíquica do inconsciente quando dormimos.
Existem três possíveis origens dos sonhos: 1) desejos despertos durante o dia e que não tenha sido satisfeito por questões de possibilidade. 2) desejos que surgem durante o dia e que o sujeito reprimiu por questões morais. 3) não ter relação com a vida diurna, mas que emergem da nossa psique e que suprimimos por muito tempo. Freud acrescenta um quarto elemento que origina sonhos: os desejos surgidos durante a noite como fome, sede, etc.Conforme crescemos e amadurecemos o elemento 1 perde importância na formação dos sonhos. E as moções de desejos da vida em vigília devem ser relegadas a uma posição secundária na formação dos sonhos. E os desejos despertados pelo inconsciente durante o sonho, são geralmente desejos infantis.
As excitações diurnas, portanto, funcionam em geral como gatilhos de desejos infantis inconscientes. Os sonhos podem conter satisfações e ser prazerosos, ou extremamente aflitivos e chocantes (o que parece, vai contra a teoria da realização dos desejos).
Os dois são a realização de um desejo, mas no primeiro o inconsciente coincide com o consciente, enquanto que no segundo o desejo do inconsciente é totalmente contrário ao do consciente. O que um dia dominou a vida em vigília, quando a psique era ainda jovem e incompetente, parece agora ter sido banido para a noite. “O sonho é o ressurgimento da vida anímica infantil já suplantada”. O sonho é a realização de um desejo inconsciente.
 Sabemos que durante a noite um dos princípios objetivos do que Freud chama de pré-consciente é concentrar-se no desejo de dormir.
Mas então como é possível que o sonho intervenha no sono e nos faça despertar? Em geral despertamos durante a noite por algum motivo (como para espantar um mosquito) e logo voltamos a dormir. Isso acontece segundo Freud, pois é mais conveniente e econômico deixar que o desejo inconsciente siga seu curso, manter-lhe aberto o caminho da regressão, para que ele possa formar um sonho, depois ligar o sonho e desembaraçar-se dele com um pequeno dispêndio de trabalho do pré-consciente, do que continuar a manter o inconsciente na rédea curta durante todo o período do sono.
O Sonho, que possa ter originalmente surgido sem finalidade útil, granjeou algumas funções para si na interação das forças anímicas. E agora podemos ver qual é a sua função. O sonhar tomou para si a tarefa de recolocar sob o controle do pré-consciente a excitação do inconsciente que ficou livre; ao fazê-lo, ele descarrega a excitação do inconsciente, serve-lhe de válvula de escape e, ao mesmo tempo, preserva o sono do pré-consciente, em troca de um pequeno dispêndio de atividade em vigília.
Já não é novidade para nós que um sonho de angústia possa se originar do desejo. Existem dois tipos fundamentalmente diferentes de processos psíquicos que participam da formação dos sonhos. Um deles produz pensamentos oníricos perfeitamente racionais, com a mesma validade do pensamento normal; já outro trata esses pensamentos de um modo excepcionalmente desconcertante e irracional.
Em consequência do princípio do desprazer, o primeiro sistema é incapaz de introduzir qualquer coisa desagradável no contexto de seus pensamentos. Ele não pode fazer nada senão desejar. Já o segundo tem acesso a todas as lembranças depositadas pela experiência. Para poder se expressar o segundo sistema utiliza-se de artifícios, como a inibição.
Entre os desejos provenientes da infância (que não podem ser destruídos, nem inibidos) existem alguns cuja realização seria uma contradição do pensamento secundário. A realização desse desejo não geraria prazer e sim desprazer. O recalcamento seria um mecanismo de defesa contra esses desejos.
 Para Freud devemos abandonar a supervalorização do estar consciente, pois o inconsciente é a esfera mais ampla, que inclui em si a esfera menor do consciente.
Tudo o que é consciente esteve antes no inconsciente, sendo que o que está no inconsciente lá deve permanecer. Lembrando que Freud divide o inconsciente em dois: o inconsciente que é inadmissível à consciência e o pré-consciente que com suas excitações consegue alcançar a consciência.
Então os sonhos podem nos dar conhecimento do futuro? Não. Mas certo seria dizer que eles nos dão conhecimentos do passado, uma vez que os sonhos se originam do passado em todos os sentidos. Contudo, a crença dos povos antigos não está de toda errada, já que os sonhos retratam nossos desejos como realizados. Mas esse futuro, que o sonhador representa como presente é moldado à imagem e semelhança do passado.
O psicanalista usa várias técnicas como incentivo para o cliente desenvolver insights sobre seu comportamento e os significados dos sintomas, incluindo borrões de tinta, parapraxias, associação livre, interpretação (incluindo análise de sonhos), análise de resistência e análise de transferência.
Teste de Rorschach
Devido à natureza dos mecanismos de defesa e à inacessibilidade das forças determinísticas que operam no inconsciente, a mancha de tinta em si não significa nada. Ela é ambígua e pouco clara. É o que o paciente lê nela que é importante. Pessoas diferentes verão coisas diferentes dependendo de quais conexões inconscientes elas fazem.
O borrão de tinta é conhecido como um teste projetivo, pois o paciente “projeta” informações de sua mente inconsciente para interpretar a mancha de tinta.
No entanto, psicólogos comportamentais como B.F. Skinner criticaram este método como sendo subjetivo e não científico.
2) Deslizamento Freudiano
Os pensamentos e sentimentos inconscientes podem ser transferidos para a mente consciente na forma de parapraxias, popularmente conhecidas como lapsos freudianos ou lapsos de língua. O deslizamento Freudiano acontece quando nós revelamos o que realmente está em nossa mente dizendo algo que não pretendíamos.
Um exemplo disso é quando uma pessoa chama o novo parceiro pelo nome de um anterior. Freud acreditava que os deslizes da língua forneciam uma percepção da mente inconsciente e que não havia acidentes. Todo comportamento (incluindo os deslizes da língua) era significativo (ou seja, todo o comportamento é determinado).
3) Associação Livre
Uma técnica simples de terapia psicodinâmica é a associação livre. Nela, um paciente fala sobre o que quer que venha à mente. Essa técnica envolve um terapeuta lendo uma lista de palavras (por exemplo: mãe, infância, etc.) e o paciente responde imediatamente com a primeira palavra que vem à mente. Espera-se que fragmentos de memórias reprimidas surjam no curso da livre associação.
A associação livre pode não ser útil se o cliente demonstrar resistência e relutar em dizer o que está pensando. Por outro lado, a presença de resistência (por exemplo, uma pausa excessivamente longa) geralmente fornece um forte indício de que o cliente está se aproximando de alguma idéia reprimida importante em seu pensamento, e que uma sondagem adicional do terapeuta é necessária.
Freud relatou que seus pacientes associavam ocasionalmente uma memória emocionalmente intensa e vívida, como se quase revivessem a experiência. Isso é, como um “flashback” de uma guerra ou uma experiência de estupro. Uma lembrança tão estressante, tão real que parece que está acontecendo de novo, é chamada de ab-reação.
Se uma lembrança tão perturbadora ocorresse na terapia ou com um amigo, e a pessoa se sentisse melhor após ela, aliviada ou limpa, isso seria chamado de catarse. Frequentemente, essas experiências emocionais intensas forneceram a Freud uma visão valiosa sobre os problemas do paciente.
4) Análise dos Sonhos
De acordo com Freud, a análise dos sonhos é “a estrada real para o inconsciente”. Ele argumentou que a mente consciente é como um sensor, mas é menos vigilante quando estamos dormindo. Como resultado, as idéias reprimidas vêm à tona, embora o que lembramos possa ter sido alterado durante o processo do sonho.
Como resultado, precisamos distinguir entre o conteúdo do manifesto e o conteúdo latente de um sonho. O primeiro é o que realmente nos lembramos. O último é o que realmente significa. Freud acreditava que, muitas vezes, o significado real de um sonho tinha um significado sexual e, em sua teoria do simbolismo sexual, especulava sobre o significado subjacente dos temas comuns do sonho.
Aplicações clínicas
A psicanálise (juntamente com o aconselhamento humanista rogeriano) é um exemplo de terapia global (Comer, 1995, p. 143). Essas têm como objetivo ajudar os clientes a produzir uma mudança importante em toda a sua perspectiva de vida.
Isso se baseia na suposição deque a atual perspectiva desadaptativa está ligada a fatores de personalidade profundamente arraigados. As terapias globais contrastam com abordagens que se concentram principalmente na redução de sintomas, como abordagens cognitivas e comportamentais, as chamadas terapias baseadas em problemas.
Transtornos de ansiedade, como fobias, ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de estresse pós-traumático, são áreas óbvias em que a psicanálise pode ser considerada como trabalho. O objetivo é ajudar o cliente a chegar a um acordo com seus próprios impulsos id ou reconhecer a origem de sua ansiedade atual nas relações da infância que estão sendo revividas na idade adulta.
A depressão pode ser tratada com uma abordagem psicanalítica até certo ponto. Os psicanalistas relacionam a depressão à perda que toda criança experimenta ao perceber nossa separação de nossos pais no início da infância. A incapacidade de chegar a um acordo com isso pode deixar a pessoa propensa a depressão ou episódios depressivos mais tarde na vida.
O tratamento envolve, então, em encorajar o cliente a lembrar-se dessa experiência inicial e a desvendar as fixações que surgiram em torno dela. Um cuidado especial é tomado com a transferência quando se trabalha com clientes deprimidos, devido à sua grande necessidade de depender dos outros. O objetivo é que os clientes se tornem menos dependentes e desenvolvam uma maneira mais funcional de compreender e aceitar a perda, rejeição ou mudança em suas vidas.
Avaliação crítica da psicanálise
A terapia psicanalítica consome muito tempo e é improvável que forneça respostas rapidamente. Por esse motivo, as pessoas devem estar preparadas para investir muito tempo e dinheiro nesse tipo de abordagem.
Trabalhar com a psicanálise também pode levar as pessoas a descobrir algumas memórias dolorosas e desagradáveis ​​que foram reprimidas, o que lhes causa mais sofrimento. Sendo assim, este tipo de terapia não funciona para todas as pessoas e todos os tipos de transtornos.
Fisher e Greenberg (1977), em uma revisão da literatura, concluem que a teoria psicanalítica não pode ser aceita ou rejeitada como um pacote. É uma estrutura completa consistindo de muitas partes, algumas das quais devem ser aceitas, outras rejeitadas e outras remodeladas para cada caso.
Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer.
O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. 
É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido, a busca do prazer pode ser substituída pelo evita mento do desprazer. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento.
 O superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral, os ideais são funções do superego. O conteúdo do superego refere-se a exigências sociais e culturais. 
Para compreender a constituição desta instância — o superego — é necessário introduzir a ideia de sentimento de culpa. Neste estado, o indivíduo sente-se culpado por alguma coisa errada que fez — o que parece óbvio — ou que não fez e desejou ter feito, alguma coisa considerada má pelo ego, mas não, necessariamente, perigosa ou prejudicial; pode, pelo contrário, ter sido muito desejada. Por que, então, é considerada má? Porque alguém importante para ele, como o pai, por exemplo, pode puni-lo por isso. E a principal punição é a perda do amor e do cuidado desta figura de autoridade. Portanto, por medo dessa perda, deve-se evitar fazer ou desejar fazer a coisa má; mas, o desejo continua e, por isso, existe a culpa. Uma mudança importante acontece quando esta autoridade externa é internalizada pelo indivíduo. Ninguém mais precisa lhe dizer “não”. É como se ele “ouvisse” esta proibição dentro de si. Agora, não importa mais a ação para sentir-se culpado: o pensamento, os desejos de fazer algo mal se encarregam disso. E não há como esconder de si mesmo esse desejo pelo proibido. Com isso, o mal-estar instala-se definitivamente no interior do indivíduo. A função de autoridade sobre o indivíduo será realizada permanentemente pelo superego. É importante lembrar aqui que, para a Psicanálise, o sentimento de culpa origina-se na passagem pelo Complexo de Édipo. 
O ego e, posteriormente, o superego são diferenciações do id, o que demonstra uma interdependência entre esses três sistemas, retirando a ideia de sistemas separados. O id refere-se ao inconsciente, mas o ego e o superego têm, também, aspectos ou “partes” inconscientes. 
E importante considerar que estes sistemas não existem enquanto uma estrutura vazia, mas são sempre habitados pelo conjunto de experiências pessoais e particulares de cada um, que se constitui como sujeito em sua relação com o outro e em determinadas circunstâncias sociais. Isto significa que, para compreender alguém, é necessário resgatar sua história pessoal, que está ligada à história de seus grupos e da sociedade em que vive.
Não temos maneira de transmitir o conhecimento de um conjunto complicado de acontecimentos simultâneos, a não ser descrevendo-os sucessivamente, e assim acontece que todas as nossas descrições são falhas, em princípio, devido à simplificação unilateral, e têm de esperar até que possam ser suplementadas, elaboradas e corrigidas.
Se o id de um ser humano dá origem a uma exigência instintual de natureza agressiva ou erótica, o mais simples e natural é que o ego, que tem o aparelho de pensamento e o aparelho muscular à sua disposição, satisfaça a exigência através de uma ação. Essa satisfação do instinto é sentida pelo ego como prazer, tal como sua não satisfação indubitavelmente se tornaria fonte de desprazer. Ora, pode surgir um caso em que o ego se abstenha de satisfazer o instinto, por causa de obstáculos externos, a saber, se percebesse que a ação em apreço provocaria um sério perigo ao ego. Uma abstenção da satisfação desse tipo, a renúncia a um instinto por causa de um obstáculo externo — ou, como podemos dizer, em obediência ao princípio da realidade —, não é agradável em caso algum. A renúncia ao instinto conduziria a uma tensão duradoura, devida ao desprazer, se não fosse possível reduzir a intensidade do próprio instinto mediante deslocamentos de energia. A renúncia instintual, contudo, pode também ser imposta por outras razões, as quais corretamente descrevemos como internas. No curso do desenvolvimento de um indivíduo, uma parte das forças inibidoras do mundo externo é internalizada e constrói-se no ego uma instância que confronta o restante do ego num sentido observador, crítico e proibidor. Chamamos essa nova instância de superego. Doravante o ego, antes de colocar em funcionamento as satisfações instintuais exigidas pelo id, tem de levar em conta não simplesmente os perigos do mundo externo, mas também as objeções do superego, e terá ainda mais fundamentos para abster-se de satisfazer o instinto. Mas onde a renúncia instintual, quando se dá por razões externas, é apenas desprazerosa, quando ela se deve a razões internas, em obediência ao superego, ela tem um efeito econômico diferente. Em acréscimo às inevitáveis consequências desprazerosas, ela também traz ao ego um rendimento de prazer — uma satisfação substitutiva, por assim dizer. O ego se sente elevado; orgulha-se da renúncia instintual, como se ela constituísse uma realização de valor. Acreditamos que podemos entender o mecanismodesse rendimento de prazer. O superego é o sucessor e o representante dos pais (e educadores) do indivíduo, que lhe supervisionaram as ações no primeiro período de sua vida; ele continua as funções deles quase sem mudança. Mantém o ego num permanente estado de dependência e exerce pressão constante sobre ele. Tal como na infância, o ego fica apreensivo em pôr em risco o amor de seu senhor supremo; sente sua aprovação como libertação e satisfação, e suas censuras como tormentos de consciência. Quando o ego traz ao superego o sacrifício de uma renúncia instintual, ele espera ser recompensado recebendo mais amor deste último. A consciência de merecer esse amor é sentida por ele como orgulho. Na época em que a autoridade ainda não fora internalizada como superego, poderia ter havido a mesma relação entre a ameaça de perda do amor e as reivindicações do instinto; havia um sentimento de segurança e satisfação quando se conseguia uma renúncia instintual por amor ao país. Mas esse sentimento feliz só poderia assumir o peculiar caráter narcísico de orgulho depois que a própria autoridade se tivesse tornado parte do ego. 
 A religião que começou com a proibição de fabricar uma imagem de Deus transforma-se cada vez mais, no decurso dos séculos, numa religião de renúncias instintuais. Não é que ela exija abstinência sexual; contenta-se com uma acentuada restrição da liberdade sexual. Deus, contudo, afasta-se inteiramente da sexualidade e eleva-se para o ideal de perfeição ética. Mas a ética é uma limitação do instinto. Os profetas nunca se cansaram de asseverar que Deus nada exige de seu povo senão uma conduta de vida justa e virtuosa — isto é, abstenção de toda satisfação instintual, que ainda é condenada como impura também por nossa mortalidade atual. E mesmo a exigência de crença nele parece ficar em segundo lugar, em comparação com a seriedade desses requisitos éticos. Dessa maneira, a renúncia instintual parece desempenhar um papel preeminente na religião, mesmo que não se tivesse salientado nela desde o início. Retornando à ética, podemos dizer, em conclusão, que uma parte de seus preceitos se justifica racionalmente pela necessidade de delimitar os direitos da sociedade contra o indivíduo, os direitos do indivíduo contra a sociedade, e os dos indivíduos uns contra os outros. Mas o que nos parece tão grandioso a respeito da ética, tão misterioso e, de modo místico, tão auto evidente, deve essas características à sua vinculação com a religião, à sua origem na vontade do pai.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
· BRENNER. C. Noções Básicas de Psicanálise: Introdução à Psicologia
Psicanalítica, São Paulo, Universidade de São Paulo, 3a edição.
· FREUD. S. A Interpretação dos Sonhos, Porto Alegre, L&PM POCKET, 2012.
· FREUD, S. (1940 [1938]) Esboço de psicanálise. Edição Standard Brasileira das
Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
· Freud, Sigmund; Moisés e o monoteísmo, esboço de psicanálise e outros trabalhos; Volume XXXIII (1937-1939)
· KUSNETZOFF. Juan Carlos. Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p.220.

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