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MARKETING PÚBLICO, ATENDIMENTO E COMUNICAÇÃO COM A SOCIEDADE W B A 01 08 _v 2. 0 2 Darly Prado Gonçalves Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 MARKETING PÚBLICO, ATENDIMENTO E COMUNICAÇÃO COM A SOCIEDADE 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Otávio Daros Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Gonçalves, Darly Prado G635m Marketing público, atendimento e comunicação com a sociedade/ Darly Prado Gonçalves, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 41 p. ISBN 978-65-5903-067-5 1. Democracia. 2. Opinião pública. 3. Marketing político. I. Título. CDD 658.8 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Democracia e Comunicação Social: Conceitos e Desafios Contemporâneos ___________________________________________________ 05 Aspectos Legais da Comunicação no Setor Público: opinião pública ______________________________________________________________________ 22 Atendimento ao cidadão e Comunicação com a Sociedade: ouvidoria e transparência _______________________________________________________ 38 Estratégias de Marketing Público e suas Variáveis: tecnologias a serviço da Comunicação ____________________________________________________ 55 MARKETING PÚBLICO, ATENDIMENTO E COMUNICAÇÃO COM A SOCIEDADE 5 Democracia e Comunicação Social: Conceitos e Desafios Contemporâneos Autoria: Darly Prado Gonçalves Leitura crítica: Otávio Daros Objetivos • Analisar os variados conceitos de democracia e de comunicação, bem como a interligação entre eles. • Conhecer os principais mecanismos de comunicação para com a sociedade contemporânea. • Refletir sobre a importância de a gestão pública estabelecer uma comunicação eficiente com a população. 6 1. Democracia e Comunicação: parceiras de longa data Um dos regimes políticos mais adotados no mundo é a democracia, cuja premissa consiste em dar poder, voz e direito de escolha ao povo. Para tanto, são disponibilizadas à população de determinada localidade algumas ferramentas mais ou menos dinâmicas, na tentativa de consolidar essa estrutura que valoriza as decisões de cada cidadão. Um dos instrumentos mais conhecidos nesse cenário é o voto, que pode ocorrer de maneiras distintas em cada país, mas sempre estabelecendo como meta a participação efetiva das pessoas perante assuntos importantes para os rumos da nação e tendo como momento decisivo as eleições municipais, estaduais ou federais. Nesse contexto, a comunicação é um instrumento fundamental, tanto no sentido de possibilitar o acesso à informação pública de qualidade às pessoas (tornar públicas e demarcadas datas significativas, como as eleições, votações de projetos de interesse coletivo e até mesmo feitos da administração que beneficiem a população como um todo) quanto como instrumento para estabelecer diálogo com a população, sendo possível registrarem suas demandas e receberem respostas do poder público às suas necessidades. A seguir, abordaremos mais a fundo os conceitos de democracia e comunicação, a fim de instigar a reflexão e a maior compreensão sobre eles. 1.1 O que é democracia? A palavra democracia tem origem grega e é formada por duas palavras demos (povo) e kratein (reinar), ou seja, em uma tradução literal, trata- se de um reinado do povo ou popular. Nesse sentido, percebemos sua oposição aos regimes autoritários, como a monarquia, na qual quem 7 governa é o rei ou o imperador, em geral hereditário; a aristocracia, cuja governança pertence aos nobres; e a ditadura, quando o poder é tomado por uma figura tirânica que concentra as decisões e interfere no funcionamento das instituições conforme suas vontades, intenções e ideologias. Apesar de assumir características e diretrizes variadas conforme cada país que adota o regime democrático, suas bases funcionam de forma similar, visto que procuram estabelecer a estrutura na qual a população exerce a soberania, seja de forma direta ou indireta. Sendo assim, o poder de certa forma surge do povo, é exercido por ele e em prol de seus próprios interesses. É entendida como um modelo de funcionamento institucional que possibilita dar voz política a diferentes grupos sociais, os quais compartilham direitos e deveres e têm a possibilidade de exigir dos entes públicos sua concretização. A democracia é amplamente discutida entre diversos pensadores, desde os clássicos até os mais contemporâneos, dando margem para linhas de pensamento variadas, mas, no sentido geral, permanece com seu significado descritivo inalterado durante os séculos que se seguem, apesar de usos e interpretações diferentes. Entre as inúmeras possibilidades de compreensão do termo, sob as perspectivas e os arcabouços teóricos amplos, o que segue inalterado em sua essência é o conceito de representação ou titularidade do poder concedido pelo voto. O direito político, exercido ao escolher os governantes que mais se alinham a suas crenças e inclinações, bem como o engajamento e a participação em debates ou o envolvimento em causas nas quais acredita e defende, está totalmente vinculado aos acordos sociais preestabelecidos, que visam ao bem comum e deixam de lado os interesses extremamente individualistas de cada cidadão. Esse exercício coletivo é importante para a construção de diretrizes que atendam aos anseios de todos, e não apenas de um determinado grupo que venha a assumir o poder. 8 A soberania da vontade popular é uma das tônicas do conceito democrático e é intransferível, já que pertence à população e não pode ser dividida ou transferida. Algumas nações legitimam esse poder absoluto do povo em suas constituições federais, a fim de garantir a manutenção desse regime político, que determina e afirma que o homem, sendo um cidadão, corresponde à população em si e detém todos os direitos civis. Portanto, os representantes eleitos democraticamente devem reconhecer seus papéis e promover a construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária. É importante ressaltar que o engajamento político das pessoas precisa ser incentivado pela gestão pública, disponibilizando aos cidadãos o acesso aos debates e às informações de interesse da coletividade. Essa motivação possibilita uma maior participação das pessoas nas decisões plurais, despertando as consciências individuais e coletivas para o fato de que, muitas vezes, os rumos de uma determinada comunidade, município ou nação dependem de uma certa corresponsabilidade entre a sociedade civil, as entidadese a administração pública. Um exemplo bastante significativo de envolvimento da sociedade com seus representantes são os conselhos consultivos, que debatem temas pertinentes àquela pauta e orientam ações do poder público, ou deliberativos, que decidem e agem de acordo com a decisão de seus membros, pois são um instrumento capaz de articular a participação da sociedade na máquina pública. Em geral, as cidades são obrigadas a compor conselhos sobre pastas diversas (saúde, educação, cultural etc.) e convocar a população para fazer parte, seja ocupando cadeiras ou mesmo participando das reuniões que são abertas ao público. Ao refletir sobre esse modelo de participação da população no debate público, faz-se necessário identificar também as lacunas e brechas que podem vir a impactar esses processos, como o uso desses mesmos conselhos, principalmente os que são apenas de cunho consultivo, para manipular o efetivo envolvimento da sociedade civil na tomada 9 de decisões, visto que em algumas circunstâncias a população pode ser consultada sobre determinada política pública que, na verdade, já foi definida e até mesmo aprovada em trâmites internos. Ou seja, a administração pública está iludindo os cidadãos com uma falsa promessa de integração popular nos processos de debate sobre questões de interesse coletivo. De todo modo, a participação ampla e indiscriminada dos variados entes da sociedade civil é o que define e garante o funcionamento do próprio regime democrático, no qual o povo (e não as elites políticas) é parte integrante das discussões. Para tanto, os gestores públicos têm papel fundamental no compartilhamento dos processos decisórios com a sociedade, abrindo espaço para o debate a respeito dos problemas coletivos, a fim de reunir e orquestrar reivindicações variadas e pontos de vista diversos. Essa articulação exige cuidados e considerações sérias, principalmente no que tange à comunicação e à divulgação dos processos decisórios. Uma sociedade democrática deve assegurar o princípio da isegoria (direito de elaborar e expor suas opiniões e argumentos em público e que eles possam compor o debate político) e o da isonomia (que trata da igualdade entre as pessoas perante a lei), visto que todos são iguais e têm os mesmos direitos, pois são livres e respeitam as mesmas leis, das quais podem ser autores diretos, quando fazem parte de uma democracia participativa, ou indiretos, pertencentes a uma democracia representativa, tal qual a vigente no Brasil. 1.2 Democracia no Brasil O Estado democrático possibilita aos cidadãos comuns alguns direitos fundamentais, entre eles a livre associação partidária, a participação na vida política e o direito ao voto direto e secreto. As eleições firmam os pilares da democracia representativa, no caso brasileiro, exercida 10 pelo sufrágio universal que está assegurado na Constituição Federal de 1988, no Capítulo IV, sobre Direitos Políticos, e no capítulo seguinte, que trata da “criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos” (BRASIL, 1988, art. 17). Na República Federativa do Brasil, dentro do que regulamenta a constituição, o direito de sufrágio é organizado da seguinte maneira: o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios aos maiores de 18 anos e facultado aos analfabetos, aos maiores de 70 anos e aos que têm idade entre 16 e 18 anos completos. Há condições específicas para a elegibilidade; entretanto, vamos nos deter à análise mais aprofundada sobre o sistema de eleição com base na representação democrática. As eleições devem ser livres, iguais, públicas e sigilosas, nas quais qualquer cidadão pode escolher, sem restrições, em quem deseja votar entre vários candidatos ou partidos políticos, ou até mesmo candidatar- se, e cada voto tem o mesmo valor, sendo secreto e indetectável. Também é assegurado a todos o direito de abster-se. A apuração dos resultados deve ser pública, transparente e amplamente divulgada, para que todos tenham acesso à contagem dos votos. Para tanto, é importante que todo o processo de votação, desde o voto depositado na urna até o cálculo das somas parciais e totais, seja totalmente compreensível a qualquer cidadão, independentemente de seu nível instrucional. No livro O que é democracia?, Becker e Raveloson (2011) explanam sobre os conceitos do termo e de suas origens. Também abordam quais são os elementos-chave de estados governados democraticamente, entre os quais estão as eleições. Ambos argumentam que a eleição é uma ferramenta fundamental para o livre exercício dos direitos e da cidadania e justificam a importância de elas serem realizadas periodicamente: 11 Cada um sabe quando se realizam as próximas eleições, para se poder preparar atempadamente. Deste modo é assegurado que se trata sempre de um “reinado” a tempo determinado e que a população tem a possibilidade de eleger um governo. O eleitorado devia representar a população inteira, isto é, para além dos menores, nenhum grupo devia ser excluído. Por fim, os votos do eleitorado deviam ser definitivos. Entendemos com isto que os resultados das eleições também devem realmente ser implementados. Isto pressupõe, que os resultados das eleições sejam aceites por todos como legítimos. (BECKER; RAVELOSON, 2011, p. 8) O atual sistema de votação brasileiro, regido pelo Código Eleitoral (BRASIL, 1965) e supervisionado pelo Tribunal Superior e/ou Regional Eleitoral, é um dos mais elogiados e conhecidos no mundo, dada a confiabilidade do sistema eletrônico de votação e de totalização dos votos, além da organização de toda uma estrutura nos dias de votação, assegurando o acompanhamento e a fiscalização por parte de agentes capacitados. A urna eletrônica, como é popularmente conhecida, também denominada como coletor eletrônico de voto, passou a ser usada no Brasil a partir de 1997 e, basicamente, possui um programa de computador instalado e uma memória interna que registra todas as informações. 12 Figura 1 – Urna eletrônica brasileira Fonte: thiagomelo/iStock.com. Apesar dessa significativa contribuição do Brasil para as demais nações, visto que adota e sustenta há décadas um sistema eficiente de votação eletrônica, enquanto poucos países aderiram completamente ao modelo e a maioria deles ainda concentra os votos em cédulas de papel, existem alguns analistas políticos e profissionais da tecnologia da informação que fazem severas críticas às urnas eleitorais. Entretanto, além da 13 robustez dos aparelhos, invioláveis e resistentes a ações humanas, variações climáticas, possíveis danos no armazenamento e transporte das máquinas, são utilizados diversos dispositivos e mecanismos para amenizar falhas e inconsistências na contabilização dos votos, como os testes de segurança que previnem a invasão de hackers. Assim como o sistema eletrônico de votação pode ser considerado por alguns especialistas como recente e ainda não completamente consolidado, o regime democrático no Brasil, de certa forma, também não alcançou sua maturidade plena, já que ocorreram interrupções significativas durante vários momentos da história nacional, entre eles o Estado Novo (de 1937 a 1945) e a Ditadura Militar (de 1964 a 1985). As origens da democracia no país remontam ao período chamado de “Primeira República”, também conhecido como “República Velha”, que perdurou por cerca de 40 anos (de 1889 a 1930), e teve ao todo 13 presidentes eleitos e outros dois que ficaram impossibilitados de assumir o posto. No entanto, os arranjos políticos das oligarquias eram totalmente voltados aos interesses particulares dos coronéis, que intimidavam seus subordinados a votarem nos candidatos aliados a eles. Nessa época, o voto era restrito aos homens, os quais limitavam suas escolhas às ordenadas pelos patrões. Essa manipulação eleitoral é o famoso “voto de cabresto”. Já na Era Vargas, quando Getúlio Vargas assume o poder após a Revolução de 1930, vemos a democracia brasileira sofrersérios danos, com a suspensão das eleições e dos partidos políticos. Inicia-se, então, o Estado Novo, período no qual as garantias democráticas foram interrompidas. Em 1946, o regime democrático foi retomado, com a eleição do general Eurico Gaspar Dutra, que ficou no poder por cinco anos e entregou a faixa presidencial a Vargas, eleito em 1951. O segundo mandato dele incita a reflexão sobre a forte influência da comunicação no cenário político, vide o caso do jornalista Carlos Lacerda. 14 Lacerda era declaradamente inimigo de Getúlio Vargas e coordenou grande oposição a ele, publicando severas críticas e denúncias em seu jornal, Tribuna da Imprensa. O jornalista sofreu um atentado em 1954, em frente ao prédio onde morava no Rio de Janeiro, o que culminou em uma forte pressão midiática que vinculava o então presidente e seus aliados ao ataque, causando uma enorme crise para o governo. Vargas foi pressionado pelos opositores, incluindo as Forças Armadas nacionais, a renunciar e acabou cometendo suicídio, nesse mesmo ano. Esse lamentável episódio reverteu a opinião pública e causou uma grande comoção nacional, forçando Lacerda a deixar o país. Em 1955, o jornalista protagonizou mais uma manobra de manipulação das informações públicas, no episódio intitulado Carta Brandi, quando uma notícia falsa foi publicada em seu jornal, vinculando o então candidato à vice-presidente, João Goulart, a um suposto contrabando de armas. Sua tentativa de influenciar os votos na eleição que se aproximava foi em vão e Juscelino Kubitschek foi empossado com seu vice, Goulart. Lacerda foi eleito deputado federal e exerceu forte oposição ao governo e, posteriormente, ao sucessor da presidência, Jânio Quadros. Este renunciou ao cargo, menos de um ano após assumi-lo, motivado principalmente pelo fato de o jornalista ter feito um discurso em cadeia nacional de rádio e televisão atacando o então presidente. Lacerda ainda foi um dos articuladores do golpe militar de 1964, período em que o regime democrático brasileiro foi suspenso novamente. A Ditadura Militar perdurou por mais de 20 anos no Brasil e promoveu a extinção de partidos políticos tradicionais e severas modificações no funcionamento das instituições públicas, como o Congresso Nacional, que foi até fechado, demonstrando o total desinteresse da ala militar pela democracia em si. Muitos brasileiros foram perseguidos e exilados nesse período pelo simples fato de serem contrários ideologicamente 15 ao regime militar, entre eles vários artistas, intelectuais e jornalistas, inclusive Carlos Lacerda. Em 1968, foi decretado o AI-5, Ato Institucional n. 5, iniciando o estágio mais crítico da ditadura. Ações arbitrárias, como a tortura e a censura aos meios de comunicação, foram regulamentadas. Nesse momento já havia uma grande mobilização popular pelo fim do regime, encabeçada pelo movimento estudantil, que organizou várias manifestações públicas, mesmo sendo proibidas. O decreto foi revogado em 1979 pelo então presidente Ernesto Geisel, sinalizando o início de um processo de abertura democrática e culminando no retorno de alguns exilados políticos ao Brasil. Essa lenta retomada da democracia possibilitou a criação de novos partidos e o movimento das “diretas já”, que, embora não tenha conquistado a reivindicação de eleições populares em um primeiro momento, inseriu essa pauta no debate público. Em 1985, Tancredo Neves foi eleito indiretamente, mas faleceu antes de assumir, então José Sarney, o vice, governou o país por cinco anos. O fator político mais marcante do governo de Sarney foi a consolidação da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), que rege o país até hoje. Ela regulamenta o regime democrático no Brasil, garante liberdades e direitos e assegura eleições periódicas com voto popular. Só em 1989 os cidadãos brasileiros puderam eleger os representantes da nação, que passaram a assumir mandatos de quatro anos, com possibilidade de apenas uma reeleição sequencial. Essa mesma Constituição, no Capítulo V (BRASIL, 1988), define como a Comunicação Social é entendida e organizada no âmbito nacional, da qual trataremos posteriormente. Faz-se necessário destacar que, mesmo com uma legislação consistente como essa, a democracia no Brasil ainda apresenta problemas que impossibilitam o acesso aos direitos fundamentais que constam nesse documento. Isso fica evidente no resultado da pesquisa realizada desde 16 2006 pela revista norte-americana The Economist (2019), que analisa o Índice de Democracia nos 167 países considerados democráticos. Na pesquisa de 2019 (THE ECONOMIST, 2019), o Brasil somou apenas 6,8 pontos, em uma escala de 0 a 10, ocupando a 52ª posição no ranking mundial e a 10ª entre os países da América Latina (em 2006, por exemplo, a pontuação alcançada foi de 7,3 e ocupou a 42ª colocação no mundo). Essa pontuação classifica a democracia brasileira como “falha ou imperfeita”, apesar de reconhecer que as eleições no país são livres e justas. A pesquisa aponta que existem inconsistências na gestão de governo e a participação popular na política é insuficiente, além de outros fatores do cenário nacional que podem contribuir para esse rebaixamento, como a baixa capacidade do poder público de fazer cumprir os valores democráticos, como a liberdade de expressão e de imprensa. 1.3 O que é Comunicação Social? O conceito de comunicação é amplo e abrangente, sendo objeto de estudo de muitos pensadores, mas, quando voltada à sociedade, podemos considerar a comunicação como um bem social, servindo de suporte para a manutenção e até mesmo para a transformação da vida em coletividade. É tida como um direito dos cidadãos, no caso específico do Brasil, assegurada e regulamentada pela Constituição Federal (BRASIL, 1988), e um elemento imprescindível na formação social brasileira, visto que implica dimensões valorativas e simbólicas, sendo um instrumento capaz de influenciar as opiniões das pessoas. Uma certa confusão acaba acontecendo, talvez propositalmente, entre a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. A primeira refere-se às garantias que qualquer pessoa tem para buscar informações, acessar conteúdos informativos e até mesmo divulgá-los, emitindo livremente suas opiniões. Já a segunda refere-se a uma conceituação histórica, pois, 17 na época em que a imprensa (ou seja, os veículos de comunicação que necessitavam de maquinário específico para reprodução em papel) era o único modo de propagação de informações de interesse público, o ato de proibir a impressão de jornais e revistas, por exemplo, simbolizava a ausência de liberdade de imprensa. No que se refere à disseminação de conteúdos, opiniões e até posicionamentos políticos, vemos que os meios de comunicação assumem um papel central na sociedade de hoje, já que a maior parte das trocas de informação não pode ser feita apenas por conversas diretas, pelo fato de as populações serem muito numerosas. Até partidos políticos dependem desses canais para levar suas propostas e projetos à população, o que prova, portanto, que a democracia necessita desse tipo de suporte para transportar informações de interesse público. É nesse contexto que a Comunicação Social recebe a designação de “Quarto Poder”, o que expressa a influência e o controle exercidos por ela na sociedade. Se por um lado o Estado pode restringir suas ações e anular o direito à liberdade de imprensa, por outro podemos observar a construção de monopólios da informação, visto que várias emissoras de rádio e televisão, por exemplo, são administradas por uma mesma empresa. O risco iminente é de monopolização de opinião, não permitindo o acesso a conteúdos plurais e isentos, fator básico na estruturação de uma democracia. Em uma sociedade pluralista, existem variadas posições ideológicas e todo cidadão tem direito de recolher informações de seu interesse, expressar sua opinião e associar-se aos que pensam de forma similar, a fim de contribuircom a formação de uma opinião pública compartilhada com os quais convive. No que se refere à propagação de opiniões, não só as mídias tradicionais, como televisão e rádio, desempenham um importante papel, mas cada vez mais a internet tem oferecido uma possível abertura no debate público. 18 A dimensão política da internet ainda é um tema muito caro aos pesquisadores da atualidade. Uns têm pontos de vista mais positivos, apostando na capacidade interativa da rede, fato que possibilita à comunicação pública maior contato com a sociedade, mas outros têm uma visão mais pessimista, alinhados aos dados revelados pela pesquisa a seguir. A Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015 (BRASIL, 2015), realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística e publicada no site da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República (SECOM), entrevistou mais de 18 mil pessoas em todos os estados do país. O relatório final aponta que a internet está presente na vida dos brasileiros com muita frequência, sendo utilizada por 66% para entretenimento, busca de informações ou fonte de notícias. As mídias sociais assumem papel central na permanência na rede, sendo o Facebook citado por dois terços das pessoas. Entretanto, é notória a baixa adesão dos usuários aos sites geridos pelos poderes públicos das três esferas (Federal, Estadual e Municipal) e ainda é pouco comum o contato com instituições públicas por esse meio. Os que afirmaram utilizar a internet para atividades relacionadas ao serviço público, em sua maioria, foram em plataformas do Governo Federal. Quadro 1 – Uso da internet como ferramenta para participação política Somente para quem costuma usar a internet (resposta com base nos últimos 12 meses) Sim Não Não sabe Acessou sites oficiais de governo ou instituições públicas 19% 78% 4% Entrou em contato com governo ou instituições públicas por meio de formulário eletrônico, bate-papo ou chat 8% 89% 3% 19 Entrou em contato com governo ou instituições públicas por e-mail 8% 89% 3% Entrou em contato com governo ou instituições públicas pelos perfis oficiais em redes sociais, como Facebook ou Twitter 6% 91% 4% Escreveu sugestões ou opiniões em fóruns ou consultas públicas de sites de governo 5% 92% 3% Participou de votações ou enquetes em sites de governo 5% 91% 3% Participou de consultas públicas em sites de governo 6% 91% 4% Fonte: adaptado de Brasil (2015). Após analisarmos o quadro, chegamos à seguinte reflexão: como articular e incentivar o debate entre contextos institucionais (ou seja, da gestão pública) e informais (do cotidiano das pessoas comuns)? A resposta mais coerente dialoga com a abertura de espaço para a inserção da população no cenário político, compartilhando o poder entre os administradores do bem público e os cidadãos que são diretamente impactados por determinadas decisões, das quais muitas vezes nem sequer tomam conhecimento. Nesse sentido, essa reconfiguração comunicativa será capaz de assegurar e fomentar a capacidade de cada indivíduo de assumir sua própria identidade e seu papel de cidadão na sociedade em que vive. O poder gerado comunicativamente por meio dessa partilha pode criar fluxos potentes e dialógicos entre o governo, especialistas e instâncias da comunidade, que terão a possibilidade de expor e justificar suas necessidades e seus anseios de forma pública, bem como defender suas posições e seus pontos de vista diante de assuntos que interessam o coletivo. Obviamente, faz-se importante a investigação não só sobre estratégias eficientes e sobre os caminhos para adotá-las, mas também como se dará essa aproximação discursiva entre o poder público e os cidadãos. 20 A adoção desse tipo de medida deve ser muito bem organizada, para garantir que a população seja realmente incluída nos processos de deliberação sobre as políticas públicas. Na maior parte das vezes, o que ocorre é uma falsa promessa de participação popular, mobilizando os cidadãos a contribuírem com um cenário propenso de mudanças positivas, mas, no fim das contas, acabam sendo colocados apenas como coadjuvantes. Esse processo de fundo democrático pode se mostrar como autoritário e gerar desconfiança e apatia por parte da população, causando assim um afastamento ainda maior das pessoas do debate público e político. O processo de partilha do poder, impulsionado e fortalecido pela Comunicação Social, é fundamental para a manutenção da democracia, visto que esse regime é considerado um dos mais benéficos para as sociedades nas quais foi adotado. Tanto os governantes quanto os cidadãos precisam compreender a importância de estabelecer esse vínculo de colaboração recíproca, pois, por meio dele, ambos assumem suas responsabilidades e atuam em conjunto em prol do bem comum. Referências Bibliográficas BECKER, Paula; RAVELOSON, Jean-Aimé A. O que é democracia? Luanda: Universidade de Trier, 2011. BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Brasília, DF: Presidência da República, [1965]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/l4737.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Pesquisa Brasileira de Mídia: relatório final. 2015. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas- e-qualitativas-de-contratos-atuais/relatorio-final-pesquisa-brasileira-de-midia- pbm-2015/view. Acesso em: 27 out. 2020. 21 THE ECONOMIST. Índice de Democracia 2019 (em inglês). 2019. Disponível em: https://www.eiu.com/topic/democracy-index. Acesso em: 14 ago. 2020. https://www.eiu.com/topic/democracy-index 22 Aspectos Legais da Comunicação no Setor Público: opinião pública Autoria: Darly Prado Gonçalves Leitura crítica: Otávio Daros Objetivos • Conhecer os principais aspectos legais que norteiam a comunicação no setor público. • Refletir sobre as leis nacionais e suas contribuições para a regulamentação da Comunicação Social. • Compreender o termo opinião pública e suas variações históricas e conceituais. 23 1. A Comunicação Social na legislação brasileira O Brasil é um dos 165 países do mundo que adota o regime político da democracia; portanto, sua população tem poder de voto e de voz diante das questões de interesse coletivo. Cada país adota suas próprias diretrizes para a elaboração das normas e leis que regem sua conjuntura social, havendo no Brasil a Constituição Federal de 1988, que regulamenta diversos aspectos referentes à organização da gestão pública, que vão desde os direitos e deveres fundamentais até instruções sobre o funcionamento das instituições. Um dos aspectos abordados pela Constituição (BRASIL, 1988) é a Comunicação Social, apresentada no Capítulo V, havendo citações do termo “comunicação” em outras partes do documento. Os art. 220 a 224 (BRASIL, 1988) contemplam, de forma mais direta e concentrada, o exercício dos veículos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, tratando as concessões e cassações deles, da propriedade desses canais, bem como sobre o funcionamento e a produção de conteúdo. O acesso à informação também está presente na Constituição (BRASIL, 1988) e é por meio dele que se estrutura a opinião pública. A comunicação é um mecanismo essencial para a sociedade, tanto a que é praticada por meio desses veículos quanto a que o próprio poder público oferece aos cidadãos. Portanto, faz-se importante compreendermos os instrumentos legais que envolvem essas questões. 1.1 Da censura à liberdade de imprensa A Democracia no Brasil sofreu sérios impactos em momentos específicos de sua história.Apesar de o regime ter sido instaurado no país no fim do século XIX, até hoje há pensadores, como Norberto Bobbio (BOBBIO, 1986), que afirmam não estar consolidado por aqui. Exemplos 24 disso são os períodos nos quais a censura imperou, cerceando toda e qualquer atividade dos veículos de comunicação nacionais, sendo, por consequência, os direitos civis suspensos, como o acesso à informação. Dois momentos históricos realizaram ações que interromperam as eleições livres e, concomitantemente, o funcionamento dos meios de comunicação, sendo eles o Estado Novo (1937 a 1945) e a Ditadura Militar (1964 a 1985). Nesta, as decisões, centralizadas em figuras tirânicas da ala militar do governo, interferiram no funcionamento das instituições e da imprensa, além de impor severas restrições aos direitos individuais dos cidadãos. Durante o Estado Novo, especificamente 27 de dezembro de 1939, o Governo Federal criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (D.I.P.), que substituiu o Departamento Nacional de Propaganda. Sua principal função era supervisionar e administrar todos os conteúdos comunicativos e artísticos que tivessem alguma ligação ou citassem o Governo, os quais passariam pelo crivo dos avaliadores, que poderiam liberar ou proibir sua circulação. O D.I.P. tinha cinco divisões de trabalho, entre elas as de Divulgação, Radiodifusão e Imprensa. A primeira tinha a competência de agir contra a perturbação da “unidade nacional”, ou seja, censurar ideias contrárias ao regime antes que fossem divulgadas por qualquer meio; a segunda administrava os conteúdos radiofônicos que seriam disponibilizados aos cidadãos; e, por fim, a terceira cuidava das atividades da imprensa. Dada a importância do Quarto Poder, principalmente por sua capacidade de alcance e de exercer influência sobre a sociedade, ainda em 1939, foi aprovado o Decreto-Lei n. 1.949, que regulamentava o exercício das atividades da imprensa. O D.I.P. era responsável por fiscalizar e aplicar penalidades para os veículos de comunicação que descumprissem as instruções oficiais, as quais regulavam não só o conteúdo, mas a extensão das publicações periódicas. Obviamente, a 25 relação entre imprensa e Governo naquela época ficou marcada por muitos atritos. O D.I.P. chegou a ser expandido para os Estados, a fim de ampliar a fiscalização às artes e comunicações em cada localidade. Porém, com o fim da Segunda Guerra Mundial e com o impacto dela sobre todo o mundo, os objetivos do departamento já não tinham tanta relevância para o governo. Além disso, a população passou a pressionar pelo fim dos órgãos cerceadores das liberdades, sendo o departamento extinto em 1945. Uma nova versão desse departamento foi criada durante a Ditadura Militar. Porém, antes de abordar esse assunto, vamos tratar da “Liberdade de Imprensa”, cuja primeira regulamentação data de 1953, criada justamente no período entre o Estado Novo e a Ditadura Militar, enquanto o país usufruía de alguns anos de retomada do regime democrático. Em 12 de novembro de 1953, a Lei n. 2.083 (BRASIL, 1953), que regulamenta a Liberdade de Imprensa, foi aprovada, visando assegurar a livre publicação e circulação de jornais e outros periódicos em todo o território nacional. A legislação era voltada exclusivamente ao exercício de veículos de comunicação impressos e instruía sobre as obrigações dos meios para com a sociedade, bem como as punições legais que poderiam incidir aos que descumprissem tais normas. Estava garantido o direito de resposta àqueles que se sentissem ofendidos por conteúdos publicados. A censura aos veículos só era permitida em caso de estado de sítio, ou seja, durante uma situação de emergência nacional, como atentados, ameaças de conflito com outros países ou em casos de calamidade pública. Essa lei foi revogada e substituída pela Lei de Imprensa de 1967 (BRASIL, 1967), visto que a antecessora estava restrita aos jornais e periódicos, não contemplando outros tipos de impressos, como 26 revistas. A lei posterior incluiu os serviços de radiodifusão e as agências de notícias, ampliando o conceito de imprensa, que na atualidade abrange todos os tipos de meios de divulgação de informações à sociedade, desde os de menor alcance, como jornais de bairro, até os de comunicação massiva, como a própria televisão. Apesar desse significativo apoio para a livre publicação de conteúdo informativo por parte dos veículos e, ao mesmo tempo, da possibilidade de os cidadãos terem acesso à informação, essa lei não foi capaz de deter o avanço do autoritarismo em curso no Brasil. No ano seguinte, em 1968, o General Costa e Silva baixou o Ato Institucional n. 5, que vigorou no país por dez anos. O intuito principal dessa medida era declarar uma espécie de guerra aos que eram contrários ao Regime Militar, com apoio legal para intimidar, punir ou censurar. As restrições aos veículos de comunicação foram, então, institucionalizadas, o que obrigou a imprensa brasileira a passar por profundas transformações. Muitos jornalistas foram presos por elaborarem conteúdos que desagradassem os censores, pois a legislação permitia a presença deles nas redações. Esses funcionários do governo avaliavam criteriosamente as matérias, a fim de questionar os editores e os autores mais críticos ao regime, e, caso algum jornalista se recusasse a alterar ou suprimir partes do texto, poderiam ser aplicadas severas punições. Assim, só depois da análise dos censores é que as informações poderiam ser publicadas. A proibição de notícias, ou seja, um controle rigoroso da informação de interesse público, é um dos marcos da história brasileira, não só para a imprensa nacional, mas também para a população, cujos direitos democráticos foram suprimidos durante muitos anos. A propósito, a liberdade de imprensa também pode ser um dos termómetros da democracia, já que ela é um dos sustentáculos do jogo democrático e é responsável pela disseminação de conteúdos relevantes aos cidadãos. É por meio dela que as pessoas buscam informações sobre assuntos 27 que dizem respeito aos seus interesses e é também um meio pelo qual o poder público pode divulgar aquilo que tange à coletividade. Nas próximas páginas, vamos analisar algumas leis que tratam da importância do direito à informação. 1.2 Legislação Federal sobre o acesso à informação pública Em 1988, após o período restritivo da Ditadura Militar, o país havia voltado a ser um Estado Democrático e a Constituição Federal foi então sancionada. Nela, além dos direitos fundamentais, como a livre escolha dos representantes políticos em eleições periódicas e o acesso à informação, também há, como já mencionado, Capítulo V, dedicado à Comunicação Social. Ele regulamenta que “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social” (BRASIL, 1988). Estão vedadas, inclusive, as censuras de natureza política, ideológica e artística. Uma atualização desse capítulo inseriu, em 2002, os meios eletrônicos de comunicação, já que o documento contemplava principalmente rádio e televisão, bem como suas concessões ou permissões para funcionamento. A Emenda Constitucional n. 36, de 28 de maio de 2002 (BRASIL, 2002), define que, independentemente de qual tecnologia utilizada para a disseminação de conteúdos informativos, é preciso observar os princípios do art. 221, que contempla a produção e a programação dos veículos comunicativos: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; 28 III –regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. (BRASIL, 1988) Em 2008, o Governo Federal publicou um decreto (BRASIL, 2008) sobre as ações de comunicaçãoentre imprensa e poder público, a fim de coordenar o atendimento da demanda por informações jornalísticas e estabelecer um relacionamento profissional e eficiente com o universo midiático. Dois anos depois, esse documento passou por uma atualização (BRASIL, 2010), que alterou substancialmente o art. 3, o qual define as áreas nas quais a Comunicação Pública atua, inserindo a Comunicação Digital entre elas. Como muitos pesquisadores se debruçam sobre a Comunicação Pública, há significações possíveis diversas e abrangentes, que vão desde aspectos mercadológicos e científicos até os que tratam do termo conforme nosso interesse de estudo aqui: a comunicação que a sociedade civil busca, uma vez que no regime democrático as responsabilidades públicas não são exclusivas dos governos, e sim compartilhadas com os cidadãos; e a comunicação governamental, que estabelece um diálogo frequente com a sociedade, com o propósito de informar e prestar contas, mas também de promover a cidadania. A Lei de Acesso à Informação, conhecida como LAI (BRASIL, 2011), foi aprovada em novembro de 2011 e entrou em vigor em maio de 2012. Essa norma visa assegurar o direito à informação pública, conforme estabelecido na Constituição Federal de 1988. Todos os órgãos e as entidades dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), em todas as esferas, estão subordinados a essa lei e devem cumprir os preceitos básicos da cultura da transparência. Nesse sentido, a administração pública é responsável por criar e manter os fluxos de informação e 29 estabelecer uma interação frequente com a sociedade, fomentando, assim, um relacionamento mais estreito entre cidadãos e governantes. Figura 1 – Logomarca da Lei de Acesso à Informação (LAI) Fonte: https://www.gov.br/acessoainformacao/pt-br. Acesso em: 21 out. 2020. Um dos objetivos da LAI é possibilitar um maior controle social da gestão pública. Para isso, estabelece a publicidade das informações públicas como regra e o sigilo como exceção, como em caso de pedidos de informação referentes a pesquisas sigilosas sobre o desenvolvimento de projetos científicos ou tecnológicos, cuja confidencialidade é imprescindível à segurança do país. Se o acesso à informação solicitada for negado e a justificativa não estiver fundamentada de forma consistente e em consonância com a legislação, o solicitante tem direito de entrar com recurso e o responsável poderá sofrer medidas disciplinares pelo atendimento prestado de forma ineficiente. Um importante aspecto da LAI é a Transparência, que pode ser Ativa, quando a administração pública divulga informações de interesse geral, independentemente de solicitação por parte dos cidadãos, ou seja, de forma espontânea, caso do site oficial intitulado Portal da Transparência; https://www.gov.br/acessoainformacao/pt-br 30 ou então Passiva, criando, assim, mecanismos efetivos para a sociedade apresentar demandas de interesse coletivo ao Governo. Atendendo a uma das exigências da LAI, o Governo Federal criou o sistema eletrônico do serviço de informação ao cidadão, o e-SIC, que possibilita que qualquer pessoa, física ou jurídica, encaminhe pedidos de acesso à informação ao poder público. Por meio desse sistema, é possível acompanhar o prazo das solicitações e receber respostas às demandas, além de entrar com recursos e fazer reclamações, quando necessário. Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2020c), pasta responsável por coordenar as operações do sistema, de maio de 2012 a maio de 2020, foram recebidos 10.900 pedidos de acesso à informação, uma média mensal de 112 solicitações, dos quais foram respondidas 99% das demandas. Pessoas físicas representam 95% dos solicitantes, sendo a maior parte do sexo feminino (56%), e cerca de 70% possuem grau superior de instrução, entre Ensino Superior, Pós-graduação e Mestrado. O quadro a seguir traz os principais assuntos consultados no e-SIC durante os oito anos em que a LAI está em vigor no país. Quadro 1 – Listagem dos temas mais solicitados no e-SIC Categoria e assunto Quantidade % dos pedidos Governo e Política – Administração Pública 5.871 53,86% Relações Internacionais – Estrangeiro 1.531 14,10% Defesa e Segurança – Segurança Pública 782 7,17% Pessoa, família e sociedade – Pessoa 541 4,96% Justiça e Legislação – Justiça 479 4,39% Pessoa, família e sociedade – Sociedade Civil – Organização e Participação 440 4,04% 31 Governo e Política – Política 152 1,39% Fonte: adaptado de Brasil (2020c). O quadro anterior nos apresenta um panorama relevante sobre a busca ativa de informações por parte dos cidadãos, visto que os dados relevam uma procura relativamente baixa desses conteúdos. Se compararmos a totalidade de pedidos que o e-SIC recebeu durante os oito anos em que está disponível para a população brasileira com a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (BRASIL, 2020a) para a quantidade de habitantes do país em 2020, veremos uma distância muito grande entre esses números. Ou seja, o Brasil possui uma população de cerca de 211 milhões de pessoas e foram quase 11 mil solicitações de informação, quantidade essa que não consegue sequer totalizar 0,01% dos brasileiros. Outro elemento importante a ser observado é o nível de instrução dos cidadãos que acessam o sistema, pois há uma nítida proeminência de pessoas que cursaram o ensino superior (cerca de 70% dos solicitantes), sendo 17% pós-graduados e 11% com mestrado completo. Podemos destacar, então, que o uso dessa ferramenta pode estar concentrado em pesquisas acadêmicas que envolvam dados informados pelo poder público e o acesso das pessoas com menor grau de escolaridade é ainda, consideravelmente, escasso. Esse fato pode ser compreendido de diversas formas, entre elas: a ausência de conexão com a internet; a falta de incentivo ou de divulgação ampla sobre a existência desse sistema; e o atendimento adaptado ao público com necessidades especiais de acessibilidade – só para citar alguns exemplos. Já em uma perspectiva mais otimista, vale ressaltar que o assunto mais abordado nos pedidos de informação é a própria administração pública, contabilizando mais de 50% das solicitações, o que demonstra, apesar dos apontamentos levantados anteriormente, um significativo interesse dos membros da sociedade civil por questões que envolvem Governo e Política. Esse dado aponta para a importância de fornecer os subsídios 32 para que a população conheça os atos do poder público, tanto por meio da Transparência Ativa quanto Passiva de informações, garantindo livre acesso aos cidadãos, inclusive aos que são portadores de algum tipo de deficiência. A acessibilidade na divulgação dos atos da administração pública está definida na Instrução Normativa n. 1, publicada pelo Governo Federal no dia 20 de maio de 2020 (BRASIL, 2020b). O documento orienta que algumas ações de comunicação da Presidência da República atendam aos critérios expostos, visando “promover a redução de barreiras na comunicação”. A utilização de mecanismos e de recursos de acessibilidade, como legenda, janela de libras e autodescrição, é sugerida pela norma, principalmente em materiais de publicidade elaborados pelo poder público e nos pronunciamentos e discursos oficiais. Apesar de se tratar de uma iniciativa importante, capaz de possibilitar uma comunicação pública mais ampla e acessível, sua limitação aos conteúdos citados não contempla a adaptação das ferramentas tecnológicas, tampouco os canais de transparência utilizados pelo poder público, ambos instrumentos potentes para a interação com a sociedade e para a construção de um fluxo comunicacional dos assuntos relevantes à população. Manter uma comunicação de mão dupla com os cidadãos é fundamental para a democracia. 1.3 O que é a opinião pública? Nas sociedades contemporâneas, dadas suas complexidades e particularidades, a informação é um dos bens mais preciosos e valorosos, tantodo ponto de vista econômico quanto político. A Comunicação é capaz de penetrar também na vida social das pessoas e transformar a organização da sociedade civil, os modos de vida e 33 até impactar no que entendemos como valores da liberdade e da democracia, por exemplo. É importante levantarmos uma questão um tanto quanto polêmica sobre a Comunicação Social praticada por veículos de comunicação de massa, visto que, sendo administrados por empresas, de certa forma visam obter lucro com os conteúdos que são publicados. Entretanto, há uma tensão nesse ponto, pois, se a informação é tida como “mercadoria”, como pode, ao mesmo tempo, prestar um serviço público? Se por um lado é um produto, por outro também pode ser uma atividade que fornece as ferramentas fundamentais para o debate livre de opiniões? É certo que os meios de comunicação assumem um papel determinante na sociedade atual e, por isso, devem respeitar legislações específicas, e não apenas os preceitos básicos do Capítulo V da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Há uma série de regulamentos que visam organizar os deveres e as obrigações da mídia, sendo o Código de Ética do Jornalismo Brasileiro e o Código Internacional de Ética Jornalística, da Unesco, documentos essenciais à profissão. Apesar de o exercício do Quarto Poder nos interessar, e muito, vamos nos deter na importância da Comunicação Social, vista como serviço público, para a formação da opinião pública. Assim como outros conceitos, a definição de opinião pública não é uma tarefa fácil, visto que há muitos caminhos possíveis para a sua significação e uma imensa capacidade para criar discussões e polêmicas, como apontam os autores de O que é opinião pública, Sílvia Cervellini e Rubens Figueiredo: De início existem duas dificuldades de conceitualizar o que é opinião pública. A primeira é que essa expressão faz parte da família dos conceitos de teoria política, que dificilmente tem uma aceitação generalizada. Se colocarmos cinco especialistas para discutir o que é democracia, partido político ou separação de poderes, por exemplo, podemos apostar que eles 34 divergirão a respeito desses assuntos. (CERVELLINI; FIGUEIREDO, 1996, p. 13) A segunda dificuldade de conceitualização do termo, segundo os autores, é o fato de a expressão estar muito popularizada ultimamente. É habitual a utilização cotidiana de “opinião pública” por governantes, empresários, veículos de comunicação, estudantes e pessoas comuns, mas cada um à sua maneira. Qualquer definição que restrinja a amplitude do uso diário pode parecer radical demais. A associação mais frequente do tema consiste em vincular opinião pública aos resultados de pesquisas sobre as eleições, podendo ser compreendida essa aproximação com a ideia de igualdade democrática, bastante motivada em períodos de disputas eleitorais. Essa lógica, que ao longo dos anos vem sendo criticada por muitos pesquisadores, é simples: se cada voto tem igual importância, a junção deles na somatória final de uma eleição simboliza a opinião pública; assim como a resposta que cada indivíduo fornece às pesquisas eleitorais, que, somada às dos demais cidadãos respondentes, também tem o mesmo potencial de correspondência. Uma das maneiras mais modernas e atualizadas de conceber a opinião pública está em relacionar o termo à pluralidade. Assim, podemos perceber que não há só uma, mas diversas maneiras de compreender os fenômenos que envolvem o conceito. Nesse sentido, a opinião pública pode ser expressa por diferentes grupos, já que a coletividade é formada e se apresenta de variadas formas, seja por meio dos coletivos organizados (como sindicatos de profissões específicas, que podem manifestar os interesses daquele determinado grupo diante de situações pontuais), pelas manifestações públicas (que podem, inclusive, ser motivadas por acontecimentos mais ou menos banais, até as de cunho político e civil, de interesse coletivo, como a perda de direitos fundamentais), bem como pela participação em pesquisas de opinião e pelo exercício da cidadania no ato de votar. 35 Certamente, o mundo no qual estamos inseridos e tudo o que está relacionado a ele e a nós é absolutamente complicado, por isso seria praticamente impossível compreendermos essas questões de forma independente. Nas sociedades antigas, as informações circulavam de maneira oral e as opiniões eram formadas conforme as pessoas tinham contato com esses conhecimentos por meio de suas próprias comunidades. Atualmente, para além das transformações econômicas, políticas, sociais e culturais, os conteúdos que chegam até nós são divulgados, prioritariamente, pelos meios de comunicação e, em menor proporção, pelo poder público das três esferas. Dentro dessa perspectiva, podemos compreender que o debate público é o que origina a opinião pública, já que dificilmente um indivíduo formará suas opiniões de maneira isolada. Nesse processo de construção intelectual, cada um pode atribuir maior ou menor peso às influências externas, como a opinião de familiares ou de um formador de opinião que conheceu pela mídia. Vale ressaltar que essa análise individualizada não significa que a pessoa em questão conduzirá suas ações no sentido em que melhor lhe parecer, tampouco que suas convicções particulares representem a opinião pública em si. O modo de pensar dos indivíduos a respeito de assuntos de interesse comum começa a se conectar com outros cidadãos pela necessidade de expressão pública das opiniões. E é nesse ponto que voltamos a falar das pesquisas, pois elas são capazes de elucidar aspectos importantes do pensamento individual e, por consequência, que diz respeito ao coletivo. Podemos concluir que a ideia da opinião pública deve presumir que determinados assuntos sejam relevantes a ponto de instigarem o debate público e que o cidadão possa se informar e ser informado p de uma mídia plural, a fim de construir seus argumentos de forma democrática e livre. Ou seja, a formação das opiniões deve estar exposta às informações sobre as coisas tidas como públicas para que sejam 36 consideras politicamente relevantes e reconhecidas como objeto de expressão da atitude crítica e racional. É esse universo ideal que fortalece o debate, no qual todos podem e devem participar, como forma de engajamento social. Nesse ponto, a gestão pública assume os compromissos de regulamentar o funcionamento dos veículos de comunicação, por meio dos quais os cidadãos buscam informações, e de fornecer os conteúdos de interesse público em seus canais de transparência e de diálogo com a sociedade. As garantias ao direito à informação são fortes aliadas da participação da sociedade na construção de uma nação mais justa e plural, na qual a população, as instituições e a administração pública compartilham todas as responsabilidades. A manutenção da democracia está interligada à opinião pública qualificada, pois é imprescindível ao combate à censura e aos atos secretos dos governantes, já que ambas demandam completa publicidade das ações e decisões públicas de interesse coletivo. Só existe regime democrático se os cidadãos tiverem assegurado o direito de acesso às informações públicas, e somente uma sociedade bem informada é capaz de participar ativamente da vida política. Referências Bibliográficas BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Decreto n. 6.555, de 8 de setembro de 2008. Dispõe sobre as ações de comunicação do Poder Executivo Federal e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2008]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6555.htm. Acesso em:27 out. 2020. BRASIL. Decreto n. 7.379, de 1º de dezembro de 2010. Dá nova redação e acresce dispositivos ao Decreto n. 6.555 [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [2010]. 37 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/ d7379.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Emenda Constitucional n. 36, de 28 de maio de 2002. Dá nova redação ao art. 222 da Constituição Federal [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [2002]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc36.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. IBGE divulga estimativa da população dos municípios para 2020. 2020a. Disponível em: https://cutt.ly/RgRyDBu. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Instrução normativa n. 1, de 20 de maio de 2020. Disciplina a utilização de recursos de acessibilidade na publicidade [...]. Brasília, DF: Câmara dos Deputados [2020b]. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao- normativa-n-1-de-20-de-maio-de-2020-257819019. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Lei de Acesso à Informação: a informação é direito de todos. 2020c. Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/lei-de-acesso-a- informacao-a-informacao-e-direito-de-todos. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º [...]. Brasília, DF: Câmara dos Deputados [2011]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527. htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Lei n. 2.083, de 12 de novembro de 1953. Regula a Liberdade de Imprensa. Brasília, DF: Presidência da República, [1953]. Disponível em: https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l2083.htm. Acesso em: 27 out. 2020. BRASIL. Lei n. 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. Brasília, DF: Presidência da República, [1967]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250. htm. Acesso em: 27 out. 2020. CERVELLINI, Silvia; FIGUEIREDO, Rubens. O que é opinião pública? São Paulo: Brasiliense, 1996. [Coleção Primeiros Passos, n. 305]. 38 Atendimento ao cidadão e Comunicação com a Sociedade: ouvidoria e transparência Autoria: Darly Prado Gonçalves Leitura crítica: Otávio Daros Objetivos • Conhecer os princípios legais do serviço de atendimento aos cidadãos e a aplicabilidade deste pelo poder público. • Analisar algumas das iniciativas de órgãos públicos que visam estabelecer diálogo com a população. • Compreender o termo ouvidoria e sua viabilização pelas instâncias públicas das esferas federal, estadual e municipal. 39 1. Comunicação Pública e Sociedade: Atendimento ao Cidadão A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), lei fundamental e suprema do Brasil, regulamenta diversos aspectos da administração pública e dos direitos civis, entre eles o acesso à informação e a obrigação dos representantes eleitos em servir e atender à população em suas demandas. No que se refere à transparência e divulgação dos atos e das contas públicas, além desse documento, outras legislações versam sobre o tema, instruindo também a implementação de sistemas pelos quais os cidadãos podem acessar tais conteúdos e estabelecer contato com órgãos responsáveis, a fim de esclarecer dúvidas ou solicitar informações extras. A Comunicação Social praticada pela imprensa também está contemplada na Constituição, no Capítulo V, arts. 220 a 224 (BRASIL, 1988). Nesse ponto, entendemos as informações divulgadas pelos veículos de comunicação de massa como serviço de utilidade pública, e não como produto, como define boa parte dos especialistas no assunto. Para além da delimitação das atividades desses meios e de seus deveres para com a sociedade, adotaremos ao longo desta aula o termo Comunicação Pública, a fim de distingui-lo da definição anterior, já que por ora nos debruçaremos sobre o exercício da comunicação direta do poder público para com a sociedade. 1.1 Comunicação Pública e Democracia O conceito de Comunicação Pública está interligado à noção das práticas comunicativas governamentais, cuja estruturação compreende os preceitos democráticos somente quando estabelecida de forma eficiente e focada no interesse público. Entretanto, durante os regimes autoritários, que limitam o acesso à informação e os direitos 40 fundamentais dos cidadãos, os governantes disseminaram a falsa promessa de uma organização da comunicação entre a sociedade e a gestão pública. O período histórico conhecido como Estado Novo, que transcorreu entre 1937 a 1945, ficou marcado pela interrupção da jovem democracia brasileira, e a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (D.I.P.), em 1939, reforça essa suposta vigília do poder público quanto à comunicação. Esse órgão instaurou uma rede nacional para supervisionar o que os veículos de comunicação divulgavam sobre o regime político vigente, controlando a imprensa e inibindo qualquer ato contra o governo. Depois de uma temporada de retorno dos valores democráticos, que durou quase 20 anos, outra iniciativa autoritária foi autorizada legalmente. Durante o Regime Militar, de 1964 a 1985, passou a ocorrer uma série de atos arbitrários contra a liberdade de imprensa e de expressão, culminando na aprovação do Ato Institucional n. 5. O propósito dessas ações era impor políticas de controle da informação, alegando uma suposta preocupação com a reputação da nação dentro e fora do país. Entretanto, essas decisões estavam focadas na propaganda e na censura, só que mascaradas de ferramentas de comunicação governamental. Junto com a redemocratização, veio a necessidade de estabelecer garantias e direitos tanto para a imprensa – que na época já era tida como Quarto Poder, em comparação com a influência exercida sobre a sociedade tal qual os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – quanto para os cidadãos. Foi a partir da promulgação da Constituição Federal, em 1988 (BRASIL, 1988), que o panorama do país e, por consequência, da Comunicação Pública mudou significativamente. Além da regulamentação do funcionamento dos veículos de comunicação, as garantias fundamentais de acesso à informação, o voto direto e a livre associação aos movimentos políticos e de interesses sociais, por 41 exemplo, representaram uma importante evolução na conjuntura nacional. Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento de sistemas informativos dos últimos 30 anos também vêm oferecendo possibilidades mais amplas de participação social no debate público, bem como a criação de mecanismos de transparência das informações de interesse coletivo, conforme orienta a Constituição e outras legislações específicas, como a Lei de Acesso à Informação (LAI), de 2011 (BRASIL, 2011). O que está posto, portanto, é a importância do justo do Estado para com o cidadão, seja fornecendo suporte para a divulgação de conteúdos que dizem respeito a todos, ou atendendo às demandas da população por informação pública de qualidade. A Comunicação Pública, nesse sentido, está voltada para o exercício da cidadania, visto que pretende construir um processo comunicativo para com a sociedade, no qual o poder público direciona suas ações à prestação de contas e estimula o engajamento da população no campo político. Assim como a Constituição e as legislações regulamentam, os princípios da transparência devem ser observados e cumpridos pela administração pública, a fim de levar ao conhecimento da opinião pública informações pertinentes sobre os gastos, as ações, os projetos e as políticas adotadas, cumprindo com as exigências legais, mas, principalmente, fomentando o sentimento cívico na população. Essas conquistas legais estipulam cenários ideais a serem atingidos por governantes e governados, pois no regime democrático as responsabilidades devem ser compartilhadas entre eles. O cumprimento dessas regulamentações é dever do Estado, o qual deve fornecer os subsídiosnecessários para comunicar de forma eficaz e transparente, criando fluxos de informação e abrindo canais de contato direto com a população. Entretanto, as leis e a aplicação delas não são capazes de despertar, como em um passe de mágica, o sentimento coletivo de pertencimento no processo político e a valorização da cidadania. 42 O cidadão necessita de incentivos e oportunidades de formação política, e isso precisa ser motivado por iniciativas capitaneadas pela administração pública, com real interesse pelo seu povo. Em geral, boa parte das atividades divulgadas pelos entes públicos utiliza os meios de comunicação para alcançar a sociedade, por meio de veículos locais, regionais ou de circulação nacional, conforme necessidade. Sem sombra de dúvidas, é de suma importância a manutenção de uma relação saudável entre ambos, assim como é dever do poder público assegurar a liberdade de imprensa, como regulamenta a Lei n. 5.250, de 9 de fevereiro de 1967 (BRASIL, 1967). Afinal, o livre exercício da atividade comunicativa é um dos pressupostos essenciais para a manutenção do regime democrático. Para além dessa questão, é importante observar que o advento de recursos tecnológicos vem transformando a própria dinâmica da sociedade. Portanto, faz-se necessário investir fortemente em mecanismos de diálogo e interação com ela. Com a possibilidade de maior acesso à telefonia remota e à internet, novos meios e novas formas de comunicação do Estado com a sociedade têm se mostrado como potentes aliados. Vale ressaltar que esses instrumentos já eram de certa maneira comuns na comunicação corporativa e até mesmo comunitária, o que pode contribuir para o interesse da população por eles. Estamos falando, principalmente, da ouvidoria pública, que pode ser realizada via 0800 ou, mais explorados na segunda década do século XXI, os atendimentos on-line, por meio de centrais digitais de relacionamento com a sociedade. Essa tendência tem aparecido no cenário político brasileiro e é tida como promissora, visando a um envolvimento mais ativo e consciente dos cidadãos (nesse contexto, são chamados de usuários). Há legislações específicas que estabelecem normas básicas para participação, proteção e defesa dos direitos da população que 43 usufrui de serviços públicos prestados de forma direta ou indireta pelo Governo. 1.2 O que é uma Ouvidoria? Reconhecendo a comunicação como de suma importância para a Esfera Pública, desde seu mais regular funcionamento até formas mais rebuscadas e exigentes de mobilização social, compreendemos também a necessidade de estabelecer os meios adequados para concretizar a inclusão democrática dos cidadãos de variadas camadas da sociedade. A mobilização dos indivíduos em torno dos interesses coletivos somente pode ser praticada quando há condições para isso, sendo a ouvidoria pública um dos instrumentos mais eficientes para dar suporte no atendimento à população. A ouvidoria é um canal de comunicação no qual o poder público e a sociedade civil são aproximados de forma simples e prática. De forma estratégica e imparcial, os profissionais que atendem à população são treinados para mediarem a busca por soluções de problemas e conflitos, bem como preparados para registrar as demandas, necessidades e dúvidas, além de orientar os brasileiros sobre seus direitos e deveres, conforme princípios constitucionais e legais. Esse órgão de apoio especializado atua em prol da administração pública e de cada um dos cidadãos, recolhendo as manifestações particulares, passando orientações gerais e específicas e direcionando aos setores responsáveis, quando a solicitação assim demandar. O acompanhamento e o monitoramento do processo de resposta, que deve ocorrer no menor prazo possível, são algumas atribuições do ouvidor, que presta esse serviço às instituições públicas e até mesmo às privadas. Ao considerar o cidadão como sujeito de direito, com poder de voto e de escolha dos representantes públicos por meio das eleições, e ao 44 dar garantias quanto ao acesso a informações de interesse coletivo, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) permite o surgimento de diferentes formas de inclusão da sociedade no debate político. O art. 37 do Capítulo VII (BRASIL, 1988) respalda o trabalho desenvolvido pelas Ouvidorias em todo o território nacional e prevê o direito à participação da população nas decisões de cunho público, com plena capacidade de influenciar as decisões do Estado e com liberdade suficiente para consultar conteúdos e processos governamentais. A administração pública, direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...) § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta especialmente: I – as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviço de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo. (BRASIL, 1988). Na esteira da Constituição, outros mecanismos legais regulamentam os serviços de atendimento aos cidadãos, como a Lei n. 8.490/1992 (BRASIL, 1992), que criou a Ouvidoria-Geral da República, vinculada ao Ministério da Justiça. A função principal da ouvidoria no âmbito federal é ser uma instância de controle e de incentivo à participação social, sendo responsável pelo tratamento das solicitações, das reclamações ou dos elogios, das sugestões e das denúncias relativos ao serviço público e às políticas adotadas, com vistas ao aperfeiçoamento da gestão pública e ao fornecimento de suporte para o exercício da cidadania. A partir das informações passadas pela sociedade, os ouvidores fazem a análise, o tratamento e a apuração das informações, podendo 45 identificar melhorias, propor mudanças e apontar situações irregulares em determinado órgão cuja atuação for questionada. Para isso, é feita uma interlocução entre cidadão e administração pública, entendida aqui como o conjunto de entidades e agentes do poder público em seus diversos setores e esferas de atuação, ou seja, em nível federal, estadual ou municipal. É importante ressaltar que a Ouvidoria não deve ser confundida com o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC), utilizado pela iniciativa privada, tampouco com um órgão de investigação ou prevenção, pois seu papel mais significativo é garantir que as demandas da população sejam registradas, devidamente analisadas, apuradas e, quando preciso, solucionadas pelos responsáveis. Ela, inclusive, tem se mostrado fundamental na promoção de serviços públicos mais eficientes, não só por ser um instrumento potente de participação social, mas também para que melhorias no desempenho dos órgãos sejam aplicadas e falhas em ações ou procedimentos possam ser resolvidas com a maior agilidade possível. O uso das tecnologias tem sido cada vez mais comum na atualidade, e, por conta disso, o poder público deve fornecer suporte para que os cidadãos tenham acesso às ferramentas públicas de informação e de atendimento, como os portais de transparência e os canais de diálogo com a sociedade, todos com o bom funcionamento de suas funcionalidades. A fim de regulamentar o uso da rede pelo Estado, o Governo Federal aprovou o Decreto n. 5.482, de 30 de junho de 2005 (BRASIL, 2005), que trata da divulgação por meio digital de dados e de informações pelos órgãos e pelas entidades da administração pública. Esse decreto abriu o precedente para a LAI (BRASIL, 2011), que norteia a transparência ativa e passiva dos dados de interesse público. Desde 2011, o Brasil integra uma iniciativa internacional chamada OGP, do inglês Open Government Partnership ou Parceria para Governo Aberto (OGP, 2011), junto com outros sete países (Áfricado Sul, Estados Unidos, 46 Filipinas, Indonésia, México, Noruega e Reino Unido). Com O intuito de difundir e incentivar globalmente boas práticas governamentais para transparência, acesso à informação e participação social, em quase dez anos de existência, a OGP conta com mais de 70 países associados. Todos precisam assinar a declaração de Governo Aberto e apresentar seus próprios Planos de Ação, visando avançar mundialmente no fortalecimento dos regimes democráticos. O Brasil já elaborou quatro Planos de Ação, sendo o primeiro de 2011-2013, seguido pelos de 2013-2016, 2016-2018 e 2018-2021, nos quais estão delimitadas as atividades a serem colocadas em prática, com objetivo de alcançar as metas. Cada país participante especifica seus compromissos e define as estratégias que serão adotadas para concretizá-los. Após o período de duração do plano, os Governos precisam publicar um relatório autoavaliativo sobre a execução das metas previstas. A Declaração de Governo Aberto define as diretrizes com as quais os países devem concordar e determina as responsabilidades assumidas por eles ao assinarem o pacto mundial. Entre elas, está a apresentada a seguir, retirada do documento: Defendemos o valor da abertura em nosso compromisso com os cidadãos para aperfeiçoar serviços, gerir os recursos públicos, promover inovação e criar comunidades mais segura; aderindo aos princípios de governo aberto e transparente com a intenção de atingir maior prosperidade, bem-estar, dignidade humana em nossos próprios países e num mundo cada vez mais interconectado. (OGP, 2011, p. 1). Em 2016, foi instituída a Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal, por meio do Decreto n. 8.777 (BRASIL, 2016), cujo texto determina o seguinte objetivo: “fomentar o controle social e o desenvolvimento de novas tecnologias destinadas à construção de ambiente de gestão pública participativa e democrática e à melhor oferta de serviços públicos para o cidadão”. Além disso, determina que a abertura de dados vise primordialmente criar processos de engajamento 47 da população, para que exerça a cidadania e o controle social. Para isso, é dever do Estado publicar, atualizar, manter e corrigir problemas nos sistemas próprios, bem como esclarecer dúvidas sobre a utilização deles. No ano seguinte, foi aprovado o Código de Defesa do Usuário do Serviço Público (BRASIL, 2017), por meio do qual os órgãos e as entidades da administração pública devem estar comprometidos com a transparência e a qualidade do serviço público prestado aos cidadãos. A Carta de Serviços é um dos documentos obrigatórios desse código e nela estão listados as ofertas de atividades disponíveis e os requisitos de atendimento, como tempo de espera, prazos de resposta e de fornecimento de serviços, e orientações sobre os mecanismos de comunicação com a sociedade. Esses critérios de eficiência possibilitam uma avaliação mais direta dos usuários quanto aos serviços prestados, fortalecendo o papel das ouvidorias e abrindo caminhos para a livre manifestação por meio de denúncias, sugestões, elogios ou reclamações. Esse código foi criado em consonância com a Instrução Normativa n. 1, da Ouvidoria-Geral da República, publicada em 5 de novembro de 2014 (BRASIL, 2014), cujo texto trata da importância de assegurar às pessoas o direito de participar da administração pública. Para tanto, recomenda a promoção e o fortalecimento da atuação integrada e sistêmica das ouvidorias brasileiras, a fim de qualificar a prestação de serviços públicos e de atendimento aos cidadãos. 48 Figura 1 – Ouvidorias e o ciclo de evolução dos serviços públicos, mediante a Lei n. 13.460/2017 Fonte: http://governosabertos.com.br/sitev2/lei-13460. Acesso em: 8 set. 2020. Apesar de o Código de Defesa do Usuário do Serviço Público ter sido aprovado em 2017, passou a vigorar somente em 2019, quando foram criados regulamentos específicos embasados na lei. Também nesse ano foi instituída a Política Nacional de Governo Aberto (BRASIL, 2019), baseada nos quatro princípios da OGP: transparência, prestação de http://governosabertos.com.br/sitev2/lei-13460 49 contas, participação cidadã e tecnologia e inovação. A Controladoria- Geral da União (CGU) administra em seu site dados diversos sobre o ministério, mas também disponibiliza um campo sobre Acesso à Informação, Canais de Atendimento e um espaço destinado aos conteúdos do Governo Aberto, tais como marcos legais e informações sobre o Comitê Interministerial, criado conforme o decreto. Por tratar de assuntos relacionados ao Poder Executivo Federal como um todo, a Ouvidoria-Geral da União (OGU) é o órgão que coordena as manifestações recebidas, como denúncias, solicitações, sugestões, reclamações e elogios referentes aos serviços públicos em geral. Na tentativa de simplificar o registro de alguma dessas demandas, foi criado o Fala.BR, um sistema que funciona 24h e permite o preenchimento de formulários, sem necessidade de cadastro do usuário. 1.3 Serviço público de atendimento à população: Fala.BR Com base na LAI, cujo objetivo principal é possibilitar um maior controle social da gestão pública, e visando executar as ações constantes na Instrução Normativa n. 1 da OGU, de 2014 (BRASIL, 2014), foi lançado, pela CGU, um manual para Ouvidores Federais (BRASIL, 2015). Publicado em março de 2015, o documento apresenta princípios, diretrizes, plano de trabalho e vários tópicos com orientações aos funcionários sobre como proceder no atendimento às manifestações dos cidadãos. As instruções elencadas devem ser seguidas pelos funcionários que atuam diretamente no trato com o público, considerando as ações dos agentes conforme especificidades operacionais dos canais de atendimento à sociedade, a fim de fortalecer, uniformizar e integrar as ouvidorias federais e a relação delas com os órgãos parceiros. Entre as diretrizes a serem seguidas estão: I–agir com presteza e imparcialidade; II–colaborar com a integração das ouvidorias; III–zelar pela autonomia das ouvidorias; IV–consolidar 50 a participação social como método de governo; e V–contribuir para a efetividade das políticas e dos serviços públicos. (BRASIL, 2015, p. 7) O manual ainda estabelece a criação e a manutenção de sistemas informatizados e sítios eletrônicos, e, para cumprir com as exigências da IN, foram desenvolvidos o e-Ouv (Sistema Nacional Informatizado de Ouvidorias) e o e-Sic (Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão). A CGU é responsável por administrar toda a estrutura necessária para o funcionamento dos canais, bem como pela gestão das bases de dados, tendo como principais contribuições: - Fornecer um sistema para recepção, tratamento e gerenciamento de manifestações para ouvidorias que não possuem procedimento padronizado e informatizado; - Permitir a obtenção de informações sobre as ouvidorias, facilitando a geração de relatórios e subsidiando as decisões e ações da OGU; - Oferecer um mecanismo que mantém registro das manifestações, arquivos, prazos e acessos, auxiliando as atividades de controle interno do órgão cadastrado no sistema. (BRASIL, 2015, p. 10) Com intuito de concentrar os canais de atendimento e de transparência, conforme recomendado pela LAI, a CGU criou o Fala.BR, uma plataforma integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação, ou seja, reúne as funcionalidades do e-Ouv e do e-Sic. A plataforma é utilizada por diversos órgãos e entidades para receber e tratar manifestações, contemplando sete tipos: acesso à informação; denúncia; elogio; reclamação; simplifique; solicitação; e sugestão. O sistema é totalmente gratuito e funciona, integralmente, em ambiente digital, dispensando a necessidade de instalação de programas ou aplicativos para uso. 51 Figura 2 – Logomarca da plataforma integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação do Governo Federal: Fala.BR Fonte: https://sistema.ouvidorias.gov.br. Acesso em: 12 set. 2020. A OGU disponibiliza aos órgãos
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