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10AGENDA Joana D’Arc absolvida depois de morta 6Nativo repatriado HISTÓRIA HOJE HISTÓRIAS ÍNTIMAS O prazer carnal no matrimônio 56 LANÇAMENTOS História da Itália 52 CULTURA A última guilhotina em Paris 58 FOTO-HISTÓRIA 18LISTATumbas intactas 24ARQUEOLOGIA DO FUTUROSérie japonesa visionária 25HISTÓRIA MALUCAUm soldado peludo 26CRÔNICAO irmão de Zico 20VIAGEM COM HISTÓRIA Havana colonial 28HISTÓRIA ILUSTRADAA cidade ideal de Da Vinci 14ARTE As Cruzadas em Constantinopla 16BANDEIRASCódigo Internacional de Sinais 12COMO FAZÍAMOS SEM...Cartório ALMANAQUE PERSONAGEM O imperador do reino de Gaza 46 ARGENTINA 200 anos de independência 40 CAPA Os jesuítas no Brasil 30 REPORTAGENS CAPA 30 Padre Antonio Vieira, discípulo de Inácio de Loyola Sumário FO TO G ET TY IM AG ES | C AP A LE EM AG E / A FP AH156_SUMARIO.indd 3 6/6/16 8:59 AM 4 | AVENTURAS NA HISTÓRIA enho certeza de que você vai gostar desta edição, que – como sempre – foi feita com muito cuidado e carinho. Para a matéria de capa, tivemos o privilégio de con- tar com um delicioso texto de Tiago Cordeiro sobre a história da Companhia de Jesus no Brasil, instituição religiosa fundada pelo espanhol Inácio de Loyola, cujos seguidores ganharam o mundo para pregar os ensinamentos de Cristo. Eles chegaram ao Brasil ainda no século 16, pouco depois de Cabral apor- tar por aqui, e se instalaram, desbravando terras, chegando aos mais remotos lugares, onde só havia nativos. Descobriram muito mais que Cabral, ao conquistar o interior do Brasil, moldando em diversos aspectos a sociedade em que vivemos hoje. O autor do texto lançou recentemente o livro A Grande Aventura dos Jesuítas no Brasil, da Edi- tora Planeta. Vale conferir a partir da página 30. Outra reportagem surpreendente é sobre a independência da Ar- gentina, que completa este mês 200 anos. A matéria, escrita pelo jor- nalista Juan Luis González, conta os bastidores do Congresso de Tu- cumán, que culminou com a publicação da ata de independência, depois dos movimentos que começaram com a Revolução de Maio, em 1810. Você vai conhecer também a história de um polêmico imperador africano do Reino de Gaza; vai viajar conosco para Havana (linda, incrível, permanente...); vai conhecer a cidade que Da Vinci idealizou, mas que nunca foi além de um projeto; e muito mais. Aproveito para convidá-lo, leitor, a estar sempre conosco. Curta nossa página no Facebook, navegue no nosso site, veja nossas fotos no Instagram. Mande críticas, elogios, sugestões. AVENTURAS NA HIS- TÓRIA é feita para você. E, em breve, estaremos também em outros canais. Aguarde. Um grande abraço EDITORIAL T Bia Mendes EDITORA DIRETOR-SUPERINTENDENTE Edgardo Martolio DIRETORES CORPORATIVOS Marketing: Luis Fernando Maluf Editorial: Claudio Gurmindo (Núcleo Celebridades) e Pablo de la Fuente (Núcleos Novos Leitores e Mensais) Publicidade: Luciana Jordão Circulação: Marciliano Silva Jr. Internet e Mídia Digital: Alan Fontevecchia Operações: Osmar Lara Financeiro: Alfredo Teixeira Jurídico e RH: Wardi Awada DIRETORES EXECUTIVOS TI: Cícero Brandão Arte: André Luiz Pereira da Silva DIRETORES Publicidade: Maria Rosária Pires (Núcleo Novos Leitores) Escritório Rio de Janeiro: Claudio Uchoa (Editorial ) Arte: Juliana Cuttin (Núcleos Negócios, Bem-Estar, Casa & Mulher ) e Kika Gianesi (Núcleo Novos Leitores) GERÊNCIAS Circulação: Luciana Romano (Assinaturas) e Maria Helena Couto (Avulsas) Marketing Publicitário e Eventos: Mariana Kotait Eventos: Walacy Prado Administração, Finanças e Controle: Marina Bonagura Tecnologia Digital: Nicholas Serrano EDITOR DE IMAGEM Fotografi a: César Alves (RJ ) (Lançada em 2003) ÁREAS COMPARTILHADAS FOTOGRAFIA: Priscilla Vaccari (Editora), Rogério Pallatta (SP), Cadu Pilotto e Fabrizia Granatieri (RJ); Amanda Loureiro, Mariana Sardinha, Ramiro Pereira, Samantha Ribeiro e Tainara Passos (Assistentes); CIRCULAÇÃO: Pablo Barreto; MARKETING PUBLICITÁRIO E EVENTOS: Adriana Trujillo (Editora Assistente) e Murilo Bosi (Analista de Marketing); MARKETING: Caroline Ryna, Fernando Almeida, Nilton Vieira, Natalie Fonzar (Apoio) e Gustavo Mendes (Editor de Arte); TI: Carlos Almeida, Dirceu Bueno, Ricardo Jota e Victor Fontes (Assistentes); LOGÍSTICA: Anicley Lima, Daniel Ferreira e Ivo Santos; RECURSOS HUMANOS: Renê Santos (Consultor); ADMINISTRAÇÃO, FINANÇAS E CONTROLE: Alessandro Silva e Arthur Matsuzaki (Analistas) e Manoel Leandro (Consultor); PROCESSOS: Henrique Pereira; DEDOC: Marco Vianna; PRE-PRESS: Alexandre de Sousa, André Uva, Claudio Costa, Dorival Coelho, Emerson Luis Cação, Rodrigo Figuerola e Rogerio Veiga INTERNET E MÍDIA DIGITAL EDITOR: Ademir Correa; PUBLICIDADE VIRTUAL: Fernanda Neves (Gerente), Bruna Oliveira, Deborah Burmeister e Thays Panar (Executivas); PLANEJAMENTO: Roberta Covre (Gerente) e Anne Muriel (Analista); MARKETING DIGITAL: Victor Calazans (Analista) REDAÇÃO E CORRESPONDÊNCIA SÃO PAULO: Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1400, 13º andar, conjs. 131/132, Jardim Paulista, CEP 04543-000, SP, Brasil, tel.: (11) 2197-2000, fax: (11) 3086-4738; RIO DE JANEIRO: Torre Rio-Sul, Rua Lauro Müller, 116, conjunto 3105, 31º andar, CEP 22290-160, RJ, Brasil, tel.: (21) 2113-2200, fax: (21) 2543-1657. ESCRITÓRIO COMERCIAL BRASÍLIA: Edifício Le Quartier Bureau, SHN Quadra 1 Bloco A, S/N, 12ª andar - Sala 1209, Cep: 70701-010, Brasília, DF, Brasil, Tel: (61) 3536-5138 / (61) 3536-5139, e-mail: carasbrasilia@caras.com.br AVENTURAS NA HISTÓRIA 156 ISSN (1806-2415), ano 13, nº 7, é uma publicação mensal da Editora Caras. Edições anteriores: Ligue para 0800-777 3022 ou solicite ao seu jornaleiro pelo preço da última edição em bancas mais despesa de remessa; sujeito a disponibilidade de estoque. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. AVENTURAS NA HISTÓRIA não admite publicidade redacional SERVIÇO AO ASSINANTE Grande São Paulo: (11) 5087-2112 - Demais localidades: 0800-775 2112 www.abrilsac.com PARA ASSINAR Grande São Paulo: (11) 3347-2121 - Demais localidades: 0800-775 2828 www.assineabril.com.br IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL: Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, CEP: 02909-900, Freguesia do Ó, São Paulo, SP REVISTAS DA EDITORA CARAS ANAMARIA (SEMANAL - UNIVERSO FEMININO) | ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO (MENSAL - CASA & MATERIAIS) | AVENTURAS NA HISTÓRIA (MENSAL - CONHECIMENTO & MEMÓRIA) | BONS FLUIDOS (MENSAL - BEM-ESTAR & SUSTENTABILIDADE) | CARAS (SEMANAL - ESTILO DE VIDA & SOCIEDADE) | CONTIGO! (SEMANAL - CELEBRIDADES & ENTRETENIMENTO) | MANEQUIM (MENSAL - MODA) | MÁXIMA (MENSAL - MULHER MODERNA) | MINHA CASA (MENSAL - LAR & DECORAÇÃO) | MINHA NOVELA (SEMANAL - TELEVISÃO) | PLACAR (MENSAL - ESPORTES) | RECREIO (SEMANAL - INFANTIL) | SOU MAIS EU (SEMANAL - DEPOIMENTOS & SUPERAÇÃO) | TITITI (SEMANAL - FAMA & TV ) | VIDA SIMPLES (MENSAL - AUTOCONHECIMENTO) | VIVA MAIS (SEMANAL - FAMÍLIA) | VOCÊ S/A (MENSAL - PROFISSÃO & FINANÇAS) | VOCÊ RH (BIMESTRAL - CARREIRA PROFISSIONAL) PRINCIPAIS PRÊMIOS & EVENTOS DA EDITORA CARAS ILHA DE CARAS | MELHORES EMPRESAS PARA VOCÊ TRABALHAR | PRÊMIO CONTIGO! 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E ele foi assassinado dia 26 de julho de 1930, e não em 26 de junho de 1930. MANUEL DA SILVA Ao falar em crueldade e se desejamos personificar o que há de mais perverso, não há melhor imagem que represente o que existe de pior na humanidade que a de Adolf Hitler. Jamais espera-se que uma pessoa assassine o próximo para defender seus ideais, como ele fez com o povo judeu. Mas a História possui verdades ainda incompletas ou distorcidas, por isso, centralizar todas as atrocidades cometidas na Segunda Guerra em uma única liderança, um único povo, um único regime, é minimizar os crimes de todos os envolvidos. Podemos citar entre as atrocidades cometidas pelas nações vencedoras do conflito os bombardeios dos Aliados sobre a Alemanha, principalmente à cidade de Dresden, quando despejaram milhares de bombas sobre a população civil; a destruição de Nagasaki e Hiroshima; a Invasão Soviética a Berlim; os estupros das mulheres alemãs pelo Exército Vermelho (Exército do Povo); e os campos de concentração nos países Aliados. VALDOMIRO NENEVÊ A Princesa Isabel tinha planos de indenizar os ex-escravos, promover o sufrágio feminino e uma reforma agrária em seu eventual reinado, contudo, apenas 18 meses após a abolição, há o golpe republicano. Todas essas ideias caem por completo. Havia, sim, uma pressão externa pela abolição da escravatura, todavia, a família imperial brasileira, que já não contava com escravos, não media esforços para sancionar leis que emancipassem os cativos. O principal empecilho era a área conservadora da Câmara, composta pela elite agrária, que desaprovava tal ideia. DANIEL VILELA, VIA FACEBOOK, SOBRE A ASSINATURA DA LEI ÁUREA Muito interessante conhecer um pouco a infância e a juventude de Adolf Hitler, um jovem comum buscando espaço na sociedade. Apenas o poder pelo poder pode explicar as ações do Hitler do futuro. O Ocidente foi pródigo em mostrar o lado monstruoso do ditador, que pode se explicar pelo poder econômico alcançado pelos judeus após a Segunda Guerra Mundial, onde passaram a ser proprietários de jornais, editoras, redes de televisão espalhadas pelo mundo, contando assim apenas o lado sombrio de Hitler. Porém existe o outro lado da história, que poucos procuram saber ou se esforçam para que se mantenha apenas a versão única que vemos nos livros escolares. CARLOS FABIAN SEIXAS DE OLIVEIRA CARTAS AH156_Cartas.indd 5 6/6/16 8:57 AM Históriahoje As novidades da arqueologia e dos estudos históricos TE XT O FA BI O M AR TO N FO TO S GE TT Y IM AG ES , S H UT TE RS TO CK E B RI TT N EY T AT CH EL L, SM IT H SO N IA N IN ST IT UT IO N /D IV UL G AÇ ÃO | I LU ST R AÇ Õ ES B RU N O AL G AR VE O ancestral dos indígenas americanos terá seu funeral digno ACHADO ARQUEOLÓGICO SERÁ ENTERRADO RITUALMENTE POR ÍNDIOS AMERICANOS DE VOLTA PARA A FAMÍLIA Desenterrado das margens do Rio Colúmbia em 1996, o chamado Homem de Ken- newick é uma das descobertas mais importantes e bem preservadas do passado distante da América. O esqueleto tem 9 mil anos, e suas ca- racterísticas físicas mostram uma semelhança notável com os asiáti- cos orientais que colonizaram o continente através da Sibéria. Por todo esse tempo, o corpo moveu uma imensa controvérsia. Índios de diversas tribos senti- ram que um ancestral direto deles estava sendo violado ao se tornar um artefato científico exibido em museus. Eles pediram a repatriação – o que está previsto na lei dos Es- tados Unidos – para ser reenterrado de maneira adequada. O cabo de guerra entre índios e cientistas se estendeu por esse tempo todo base- ado em afirmações de que o corpo era antigo demais para ser ancestral dos índios, e não se parecia morfo- logicamente com eles. A questão acabou resolvida pela própria ciência: testes de DNA no ano passado provaram conclusivamente que o Homem de Kennewick é mais aparentado dos índios modernos que de qualquer outro grupo humano. As cinco tribos que moveram o processo devem receber os res- tos, mas ainda não decidiram como vão dividir entre si a res- ponsabilidade pelo funeral. O Homem de Kennewick é parente próximo do índio moderno 6 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_HISTORIA HOJE.indd 6 6/6/16 8:56 AM ESCOLA MALDITA Reformas de uma escola em Edimburgo, na Escócia, não param de encontrar surpresas macabras. No começo do ano, foi um esqueleto. Agora foram nove caixões. Acredita-se que a escola foi construída sobre um cemitério, ativo entre os séculos 15 e 17. MÚSICA ARCAICA Billy Ó Foghlú, um pesquisador australiano, concluiu que as kompus, cornetas usadas no sul da Índia até hoje, são idênticas às tocadas na Europa durante a Idade do Ferro. Segundo ele, os instrumentos eram usados para ritmo, não para harmonia como hoje. CARTA DE VOLTA Os Estados Unidos acabam de devolver uma carta de Cristóvão Colombo à coroa espanhola, datada de 1493. A carta havia sido roubada da Biblioteca Riccardina, em Florença, e doada à Biblioteca do Congresso. TE XT O FA BI O M AR TO N FO TO S GE TT Y IM AG ES , S H UT TE RS TO CK E B RI TT N EY T AT CH EL L, SM IT H SO N IA N IN ST IT UT IO N /D IV UL G AÇ ÃO | I LU ST R AÇ Õ ES B RU N O AL G AR VE PANO DE ALTAR PODE SER DA SAIA DA RAINHA ELIZABETH I Parece só um pedaço de tecido, mas é tão precioso que é mantido numa redoma de vidro na Igreja da Sagrada Fé, em Bacton, um vilarejo em Herefordshire, Inglaterra. Um grupo de especialistas do Historic Royal Palaces decidiu estudá-lo e se deparou com três coisas: ele data do século 16, é feito por fios de prata e se parece suspeitamente com parte de uma vestimenta feminina típica da época. Como apenas a realeza podia usar fios de prata, e um retrato da rainha Elizabeth I parece mostrá-la exatamente com o mesmo detalhe, os historiadores acreditam que se trata de um pedaço da saia da rainha, dado à igreja e transformado em pano de altar. Susan Crook, diretora dos Amigos da Conservação de Terras Nacionais no Sudoeste de Utah, sobre vândalos que escrevem sobre petroglifos (pinturas ancestrais indígenas) na região. Ela está criando uma patrulha para parar os pichadores. “Uma mãe chegou dizendo: ‘Os índios escreveram nessas rochas, por que as crianças não podem?’” O Massacre de Bear River, em 1863, aconteceuem meio à Guerra Civil Americana. Centenas de índios shoeshone, que haviam se revoltado contra a colonização de suas terras, foram exterminados por um destacamento de soldados unionistas (isto é, do norte, os “mocinhos” contra a escravidão). Usando mapas da época e tecnologia de geolocalização moderna, arqueólogos da Universidade Estadual do Idaho conseguiram encontrar o local do massacre, a 700 metros de onde o Riacho Battle encontra o Rio Bear hoje em dia. A confluência ficava em outra posição na época. ENCONTRADO LOCAL DE MASSACRE INDÍGENA O precioso tecido é bordado com fios de prata AVENTURAS NA HISTÓRIA | 7 AH156_HISTORIA HOJE.indd 7 6/6/16 8:56 AM HISTÓRIA HOJE REVISANDO OS NÚMEROS DA PESTE NEGRA – PARA PIOR Não se sabe exatamente quantas pessoas morreram na Europa pela Peste Negra (1347-1353). Fala-se de despovoamento massivo, mas a falta de evidências faz com que alguns historiadores duvidem que tenha sido tão dramático assim. A arqueóloga Carenza Lewis, da Universidade de Lincoln (Inglaterra) fez outros testes, por meio dos restos de cerâmica encontrados em sítios arqueológicos. A cerâmica indica a presença e atividade humana. Usando o trabalho de centenas de voluntários, que cavaram numa vasta região do leste da Inglaterra, ela concluiu que a região como um todo perdeu 45% de sua população, e alguns locais chegaram a perder 85%. A CEVADA CHEGOU À CHINA ANTES DO QUE SE PENSAVA Estudando funis e vasos de ce-râmica de 5 mil anos, encon-trados na província de Sha- anxi, arqueólogos descobriram restos de oxalato, um resíduo da fabricação de cerveja. Não apenas isso, como também restos de vegetais, que indi- cam que a cerveja foi feita com lágri- mas de Jó, um cereal asiático seme- lhante ao sorgo, raízes e cevada. Esta última foi uma grande sur- presa – até agora, a evidência mais antiga do cereal na China datava de mil anos depois. A rqueólogos acham que a cevada não veio sozi- nha. “É possível que, quando a ce- vada foi introduzida da Eurásia ocidental na planície central da Chi- na, ela tenha vindo com o conheci- mento de que o grão era um bom ingrediente para fazer cerveja”, afir- ma Jiajing Wang, o condutor do es- tudo, da Universidade da Califórnia. “Então não foi apenas a introdução de uma nova plantação mas também o conhecimento associado a ela.” Em regiões da Inglaterra, a peste chegou a dizimar 85% da população UM TERCO_VOCE RH_GENERICO_67x266_30MAI.indd 1 30/05/2016 14:50:20 CERVEJA ANCESTRAL AH156_HISTORIA HOJE.indd 8 6/6/16 8:56 AM De moedas romanas foram encontrados em Tomares, na Espanha, por trabalhadores instalando canos em um parque. As moedas estavam em ânforas e provavelmente serviriam para pagar soldados. quilosquilos 600600 DNA CARTAGINENSE SE PARECE COM PORTUGUÊS “Rapaz de Byrsa” foi o nome dado a um esqueleto de 2 500 anos encontrado nas ruínas de Cartago, atual Tunísia. Após 22 anos de sua descoberta e reconstruções da face, ele teve seu DNA sequenciado. Os cientistas encontraram um haplogrupo de DNA mitocondrial raríssimo no rapaz – que apareceu em populações europeias no Paleolítico. Em geral, sua composição genética estava mais para a de um português moderno que para a de grupos semitas ou norte-africanos, como os cartaginenses. Os pesquisadores especulam se sua mãe não seria ibérica – o que não é difícil de explicar, porque os cartaginenses tinham colônias por lá e eram aliados dos celtas nativos. Antes de se apresentar no famoso teatro Globe, construído por sua própria companhia, William Shakespeare começou a carreira no The Curtain. Uma investigação arqueológica no local, onde aconteceram as primeiras apresentações de Romeu e Julieta, trouxe algumas revelações interessantes. O teatro tinha espaço para até mil espectadores e foi construído num cortiço – e depois tornado cortiço novamente, quando Shakespeare se mudou para o Globe. Também foi achado um fragmento do que parece ter sido uma ocarina, usada para fazer efeitos especiais durante as peças, como o canto de passarinhos. O PRIMEIRO TEATRO DE SHAKESPEARE DOENÇA CANINA SEGUIU O RUMO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES Cachorros são vítimas de uma doença estranhíssima: um câncer transmissível. O tumor venéreo transmissível é literalmente um câncer – e não um micro-organismo – que passa por meio do contato sexual, e daí infecta o resto do organismo como um câncer comum. Acredita-se que a doença tenha surgido 11 mil anos atrás em um único cachorro. Um grupo da Universidade de Cambridge estudou o DNA desses cânceres pelo mundo. Descobriram que as diferentes linhagens atuais seguem basicamente o caminho das grandes navegações: isto é, um cão infectado na África, Índia e Cabo Verde tem características semelhantes aos do Brasil e sul da Europa. Basicamente, a doença seguiu o rumo dos totós contaminados nas caravelas. FO TO S GE TT Y IM AG ES , S H UT TE RS TO CK E D IV UL G AÇ ÃO Shakespeare se apresentava num cortiço Simulação do rosto do Rapaz de Byrsa AVENTURAS NA HISTÓRIA | 9 AH156_HISTORIA HOJE.indd 9 6/6/16 8:56 AM 1º 1867 Províncias do Alto e Baixo Canadá, Novo Brunswick, marítimas da Nova Escócia, e da Ilha do Príncipe Eduardo unem-se na confederação do DOMÍNIO DO CANADÁ. 2 1494 O TRATADO DE TORDESILHAS, celebrado entre Portugal e Espanha e que dividia as terras “descobertas e por descobrir” entre os dois reinos, é ratificado na Espanha. 6 776 A.C. Como forma de homenagem aos deuses, em especial a Zeus, tem início a era das OLIMPÍADAS entre os gregos. Os jogos eram realizados de quatro em quatro anos, em Olímpia. 7 1456 O papa Calisto III absolve JOANA D’ARC após 25 anos de sua morte. O processo que a condenou é considerado inválido e em 1920 ela seria canonizada pelo papa Bento XV. 8 1709 O Exército russo de PEDRO I derrota a armada de Carlos XII, pondo fim à hegemonia sueca no Mar Báltico. A Rússia conquistava então uma fronteira marítima na Europa. 3 987 É coroado rei da França HUGO CAPETO, que governou até a morte, em 996. Ele foi o primeiro monarca da Casa de Capeto e sucedeu Luís V, o último rei carolíngio. 4 1776 Grupo liderado por THOMAS JEFFERSON elabora e aprova a Declaração de Independência das colônias britânicas, que origina os Estados Unidos da América. 5 1984 Dissidentes da Frente Liberal saem do Partido Democrático Social, rompem com o governo militar e negociam a candidatura de TANCREDO NEVES (PMDB) à presidência da República. na História Julho O que foi notícia a cada dia FO TO S GE TT Y IM AG ES , SH UT TE RS TO CK , D IV UL G AÇ ÃO E R EP RO D UÇ ÃO 18 1821 O URUGUAI é anexado ao Brasil com o nome de Província Cisplatina. A situação mudou em 1825, quando líderes separatistas invadiram a região e proclamaram sua independência. 17 1793 Quatro dias depois de entrar no quarto de Jean-Paul Marat, líder jacobino durante a Revolução Francesa, e assassiná-lo, a jovem monarquista CHARLOTTE CORDAY é guilhotinada. 16 1054 O representante do PAPA LEÃO IX entrega a bula de excomunhão do patriarca de Constantinopla. É a oficialização da ruptura entre as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa. 23 1840 Aos 14 anos de idade, PEDRO II aceita assumir o governo brasileiro e presta juramento diante da Assembleia Geral. O chamado “golpe da maioridade” dava início ao Segundo Reinado. 25 1261 CONSTANTINOPLA é retomada pelas forças do Império de Niceia, sob o comando de Alexios Strategopoulos, o que permitiu a restauração do ImpérioBizantino. 24 1911 O americano Hiram Bingham acha MACHU PICCHU, a cidade perdida dos incas, no Peru. Um dos pontos mais visitados do país, a cidade é considerada Patrimônio Cultural pela Unesco. 15 1542 Guiado por índios guaranis, o navegador espanhol Alvar Nuñes Cabeza de Vaca descobre a FOZ DO RIO IGUAÇU. Ele ia para o Paraguai quando encontrou as cataratas. 14 1899 O espanhol LUIZ GALVEZ transforma o território que pertencia à Bolívia na República do Acre e se torna seu presidente. Em 1903, o Acre seria incorporado pelo Brasil. 26 796 Morre o REI OFFA da Mércia, líder anglo-saxão. Cristão, unificou o território inglês, difundiu a religião e introduziu a moeda de prata para pagamentos. REI OFFA da Mércia, líder 10 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_AGENDA.indd 10 6/6/16 8:51 AM 28 1945 Um bombardeiro tipo B-25 se choca contra o EMPIRE STATE BUILDING, em Nova York. O acidente causou 14 mortes e um incêndio, controlado em 40 minutos. 27 1953 Fim da GUERRA DA COREIA, com a assinatura de um armistício e a fixação de fronteiras: os coreanos do Norte e os do Sul ficam divididos pelo paralelo 38. 29 1890 VINCENT VAN GOGH morre nos braços do irmão Theo dois dias depois de dar um tiro no peito. Segundo Theo, as últimas palavras do pintor foram: “A tristeza durará para sempre”. 31 711 Árabes vencem os visigodos na BATALHA DE GUADALETE, na Andaluzia, o que marca o fim do reino visigótico e início do domínio muçulmano na Península Ibérica. 30 1792 Na marcha de Marselha para Paris, tropas cantam a MARSELHESA, música de Claude Joseph Rouget de Lisle. A canção se torna símbolo da revolução e o hino nacional da França. DIA 27 Avó foge com neto de ataque aéreo durante a Guerra da Coreia FO TO S GE TT Y IM AG ES , SH UT TE RS TO CK , D IV UL G AÇ ÃO E R EP RO D UÇ ÃO 20 356 A.C Data provável em que ALEXANDRE, O GRANDE, nasceu, na Macedônia. Ele assumiu o poder em 336 a.C., reinou por 13 anos e conquistou boa parte do mundo conhecido da época. 19 586 A.C. Jerusalém é invadida e destruída pelo exército de NABUCODONOSOR, o todo-poderoso da Babilônia, atual Iraque. Os judeus partem para o chamado Exílio Babilônico. 22 1839 Durante a Guerra dos Farrapos, GIUSEPPE GARIBALDI toma Laguna, em Santa Catarina. Quatro meses depois, o local foi retomado e os farroupilhas iniciaram a retirada por terra. 21 1674 Com 40 paulistas e 200 índios, a bandeira de FERNÃO DIAS parte em busca de esmeraldas pelo interior do país. O bandeirante só encontraria as pedras em 1681. 12 100 A.C. Nasce JÚLIO CÉSAR, que se tornaria general e ditador romano. Segundo a mitologia, sua ascendência chegava a Julius, filho do príncipe troiano Eneias e neto da deusa Vênus. 13 1945 Realizado pelos Estados Unidos o primeiro teste nuclear da História, codinome TRINITY, no Deserto de Alamogordo, México. É considerado o início da Era Atômica. 10 1825 Em homenagem a SIMON BOLÍVAR, que lutou pela independência do país em maio daquele ano, a Bolívia recebe seu atual nome. Antes, era conhecida como Alto Peru. 11 1405 O chinês ZHENG HE faz a primeira viagem marítima para explorar o mundo. Ele comandou expedições ao sudeste asiático e Oceano Índico, chegando até a Moçambique. 9 1816 No Congresso de Tucumán é proclamada a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata da Espanha, que passam a se chamar ARGENTINA. AVENTURAS NA HISTÓRIA | 11 AH156_AGENDA.indd 11 6/6/16 8:51 AM almanaque Vida Privada • História Ilustrada • Retrotech • Arte & História • Linha do Tempo TE XT O N AT H AL IA B US TA M AN TE | IM AG EN S FI N E AR T IM AG ES /H ER IT AG E IM AG ES /G ET TY IM AG ES ) E T H E BR IT IS H LI BR AR Y/ D IV UL G AÇ ÃO CARTÓRIO ALMANAQUE Como Fazíamos Sem... A prática de registrar docu-mentos em cartórios surgiu como uma forma de simpli- ficar a vida das pessoas, dando fé pública a acordos e acontecimentos e reduzindo a necessidade da mediação de um juiz ou da presença de teste- munhas. O registro de documentos tem origem com a própria invenção da escrita. Na Pré-História, a forma- lização de negociações – incluindo casamentos e divisões de heranças – era feita com uma festa que celebra- va o “contrato”. O evento funcionava como um anúncio público do que fora acordado, e tinha por testemunhas os convidados. Os sumérios eterniza- ram esses acordos em registros es- critos. Os mais antigos documentos, forjados em tabuletas de argila e com um selo de assinatura do escriba, fo- ram encontrados na Mesopotâmia e A EVOLUÇÃO DOS REGISTROS DE DOCUMENTOS Certidões têm origem com a escrita são anteriores ao próprio Código de Hamurabi, que data de 1700 a.C. Ainda na Mesopotâmia, durante o reinado de Nabucodonosor (626 a 587 a.C.), o profeta Jeremias registrou no Velho Testamento detalhes sobre o processo de transmissão de imóveis da época: “Toma estes documentos, este contrato de compra, o exemplar selado e a cópia aberta e coloca-os em um lugar seguro, para que se conser- vem por muito tempo”. No Egito antigo, cartas, contratos, comunicados diplomáticos, testamen- tos, informações sobre impostos e todos os documentos administrativos, econômicos e religiosos passavam pelas mãos dos escribas. Indicados almanaquealmanaque Vida Privada almanaque Vida Privada almanaquealmanaque • almanaque História Ilustrada almanaque História Ilustrada almanaquealmanaque • almanaque Retrotech almanaque Retrotech almanaquealmanaque • almanaque Arte & História almanaque Arte & História almanaque 12 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_CFS.indd 12 6/7/16 2:15 PM TE XT O N AT H AL IA B US TA M AN TE | IM AG EN S FI N E AR T IM AG ES /H ER IT AG E IM AG ES /G ET TY IM AG ES ) E T H E BR IT IS H LI BR AR Y/ D IV UL G AÇ ÃO OS CARTÓRIOS PELA LEI DOS COMUNS Na Idade Média, havia diversos cartórios ativos na Inglaterra – especialmente durante os reinados de Eduardo I e II (1043-1066 e 1307-1307). Henrique VIII, ao romper com o Vaticano, em 1534, assumiu o direito de nomear notários, por meio do Arcebispo de Canterbury – uma prática que, de forma simbólica, permanece até hoje. Por essa reviravolta histórica, e também pelo caráter do sistema legal anglo-saxão, baseado em jurisprudência, os países que adotaram a Lei dos Comuns – Reino Unido, Estados Unidos e demais membros da Commonwealth – não desenvolveram os cartórios de registros de notas na mesma medida que os países que adotaram o Sistema de Direito Civil, de origem romana. Naqueles países, a principal ocupação dos cartórios é a validação de documentação para o comércio internacional, e a autenticação de documentos é desnecessária, pois, pela lei, as cópias possuem o mesmo valor dos originais. pelo imperador, eles faziam parte de um complexo sistema burocrático com acesso a todos os eventos relevan- tes do Império e cobravam taxas pelo registro de documentos privados – para cadastro de uma transmissão imobiliária de 185 a.C. foi cobrado um vigésimo do valor da escritura. Foi com os romanos, porém, que o ofício se estruturou e se aproximou do que é praticado até hoje. O impera- dor Cícero (106 a 43 a.C.) determinou a separação entre os registros públi- cos– ligados às cortes e produzidos pelos “notarii” – dos privados, mais comumente de testamentos e acordos consensuais produzidos pelos “ta- belliones”. Os notários da antiga Re- O “tabellione” registrado em obra do século 14 pública romana não só asseguravam a veracidade de documentos como conferiam um ar mais formal às ins- crições – cunhando um estilo de es- crita peculiar que viria a ser associa- da posteriormente ao direito romano. Com a queda do Império Romano e a ascensão do poder da Igreja Ca- tólica, esta assumiu a responsabili- dade pelos registros públicos e pela indicação dos notários. Assim, cabia ao Vaticano apontar os guardiões dos documentos nos territórios que an- teriormente compunham o Império Romano – com especial influência na França e na Península Ibérica. Entre 1100 e 1200, no período em que se formou o Estado português, documentos reais e particulares eram lavrados por notários para atestar a prática de atos em conformidade com os interesses da coroa e da Igreja. Tal prática foi estendida às colônias e, entre 1500 e 1800, o papel dos cartó- rios no Brasil era formalizar transa- ções de caráter particular, como do- ações, dotes, procurações e alforrias. Dada sua importância, sempre que uma cidade era fundada, um cartório local também era criado. A França foi o primeiro país a re- tornar a função de registros civis e jurídicos para o Estado – pelo Código Napoleônico, no início do século 19. No Brasil, apenas na década de 1870 a Igreja perdeu para os municípios o privilégio de conduzir tais registros. Os cartórios eram instituição pública no Brasil durante parte do século 20, mas hoje são órgãos privados que fun- cionam por concessão do governo. AVENTURAS NA HISTÓRIA | 13 AH156_CFS.indd 13 6/7/16 2:15 PM TE XT O FA BI O M AR TO N | IM AG EM G ET TY IM AG ES ALMANAQUE Arte & História Em 2004, o papa João Paulo II recebeu o patriarca ortodoxo Bartolomeu I no Vaticano. O anfitrião aproveitou a oportunidade para pedir desculpas: “Vamos compartilhar, numa distância de 800 anos, o sentimento de dor e desgosto”. Ele se referia ao saque de Constantinopla na Quarta Cruzada, em 1204, um evento tão infame que, quase um milênio depois, ainda podia ser motivo para retratações (que foram aceitas). A Quarta Cruzada foi lançada para tentar reconquis- tar Jerusalém, (re)tomada pelas forças de Saladino em 1187. Liderando as forças, estavam os francos, que entra- ram num acordo com a República de Veneza para prover o transporte a eles. Antes mesmo de saírem, receberam uma proposta do príncipe Alexios Angelos para fazerem um desvio para a capital do Império Bizantino. Ele que- ria que eles o ajudassem a instalar no trono seu pai, Ale- xios III, deposto por uma revolta. Em troca, receberiam suprimentos e financiamento para o resto da missão. Com a ajuda dos cruzados e seus aliados venezianos, Alexios, o filho, seria feito imperador em 1203. No ano seguinte, outra revolta o levou do trono para a masmorra. Quando os cruzados souberam que Alexios havia sido executado, decidiram tomar Constantinopla – o saque seria a forma de receberem o pagamento prometido. No final, acabaram dividindo o Império Bizantino e instalan- do seu próprio Império Latino, que duraria até a restau- ração bizantina em 1261. Jerusalém ficou na promessa. Em 1838, o rei Luís Filipe I pediu a Eugène Delacroix um quadro retratando o evento. O pintor era o autor de A Liberdade Guiando o Povo, sobre a revolução que havia posto o próprio Luís Filipe no poder. O resultado não foi, talvez, o que o monarca tinha em mente. Em vez de celebrar a conquista dos francos, ancestrais dos franceses, o autor liberal preferiu mostrar um massacre, numa imagem convoluta e violenta, que lembra as atrocidades de outro “cruzado” na memória recente, Napoleão Bonaparte. A GRANDE INFÂMIA ETERNIZADA A ENTRADA DOS CRUZADOS EM CONSTANTINOPLA HABITANTES O Império Bizantino falava grego, mas era o que havia restado do Império Romano – eles chamavam a si próprios de “romanos” e nada mais. Gente de todo o mundo morava na cidade – inclusive nórdicos. A guarda varangiana, formada por mercenários do norte, existia desde os tempos vikings e tentou, em vão, repelir os invasores. O SAQUE Constantinopla era o entreposto final de uma das duas rotas de especiarias que proviam a Europa com caríssimos temperos e seda – a outra era controlada pela própria Veneza. Por três dias, cruzados e venezianos roubaram casas e igrejas, destruíram construções insubstituíveis, como a Grande Biblioteca, e estupraram até freiras. MARINHA DECADENTE A locação estratégica já era ocupada desde a Grécia antiga. O Estreito de Bósforo separa o Mar Negro do Mediterrâneo e a Ásia da Europa, permitindo controlar o acesso naval a uma imensa região. A Marinha bizantina foi uma força temida em séculos anteriores, sendo a única portadora do chamado fogo grego, lança-chamas medieval. Mas então era praticamente inexistente – tinha 20 navios contra 200 dos cruzados. 14 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_ARTE.indd 14 6/6/16 8:49 AM TE XT O FA BI O M AR TO N | IM AG EM G ET TY IM AG ES RAIO X NOME: A Entrada dos Cruzados em Constantinopla AUTOR: Eugène Delacroix DATA: 1840 TAMANHO: 498 x 410 cm TÉCNICA: Óleo sobre tela LOCAL: Museu do Louvre CONQUISTADOR INDECISO Balduíno IX, conde de Flandres, havia herdado uma vasta região nas atuais Holanda e Bélgica. O artista desenhou-o liderando as tropas e com uma expressão consternada, como se já começasse a se arrepender. Dupla licença poética: o líder dos cruzados era na verdade o francês Bonifácio de Monteferrato, mas, por razões políticas, seria Balduíno a ser eleito imperador, cargo que aceitou sem restrições. Governaria por apenas um ano, até morrer em batalha. TORTUOSIDADE A expressão do próprio cavalo faz parte da tortuosidade geral do quadro, indicando por seus elementos gráficos a natureza vil da conquista. Delacroix decidiu mostrar o evento como o que era: não uma vitória dos francos, mas um massacre infame, a manchar a memória de seu país por toda a História. DEFESA INSUFICIENTE A capital era a maior cidade da Europa, com 250 mil habitantes, igualando-se às grandes metrópoles islâmicas de Bagdá e Alexandria. Também era a cidade mais protegida do mundo – seu complexo de muros era considerado impenetrável, mas os cruzados e venezianos tiveram sorte com o clima e puderam atacar pelo mar, tomando as torres. não uma vitória dos francos, mas um massacre infame, a manchar a memória de seu país por toda a História.a manchar a memória de seu país por toda a História. AVENTURAS NA HISTÓRIA | 15 AH156_ARTE.indd 15 6/6/16 8:49 AM Bandeiras & Brasões TE XT O BA N D EI R AS E B R AS Õ ES F AB IO M AR TO N | F O TO S SH UT TE RS TO CK E W IK IM ED IA C O M M O N S ALMANAQUE CÓDIGO INTERNACIONAL DE SINAIS a) Forno móvel b) Carrinho de bebê blindado c) Carrinho de compras de supermercado fortificado d) Máquina de briquete de carvão e) Armazenamento de bomba a gás DESCUBRA O QUE É O ESTRANHO OBJETO DA FOTO RESPOSTA: b) A ideia foi concebida para proteger bebês de ataques a bomba de gás, comuns na Segunda Guerra Mundial. A foto foi tirada em Hextable, na Inglaterra, em 1938. A invenção foi de um morador da cidade. O carrinho tinha uma janela de observação, e uma máscara filtrava o ar, que era trocado por um mais fresco por meio de um compartimento de borracha na parte de trás. O Que É Isto?ALMANAQUE Talvez você já tenha notado as bandeirinhas coloridas nos mastros dosnavios. Elas não estão lá de enfeite: são um sistema de mensagens internacional, criado em 1857 pela Comissão do Comércio britânica, pelo qual navios trocam informações visualmente. O código contém o alfabeto completo, algarismos e quatro sinais especiais. Até 1887, não tinha vogais, por um peculiar medo da era vitoriana: queriam evitar que os marinheiros escrevessem palavrões. A introdução do rádio não tornou os símbolos obsoletos: eles continuam sendo usados e inclusive servem para avisar que o rádio está quebrado. Durante a Primeira Guerra, notou-se que escrever palavras completas mais atrapalhava que ajudava – afinal, quem estava em outro barco poderia falar outra língua. A partir daí, passou-se a usar combinações de letras e números para transmitir mensagens. BANDEIRAS NACIONAIS Após a Segunda Guerra, durante a ocupação aliada, as bandeiras da Alemanha e do Japão foram banidas. Como navios eram obrigados a portar bandeiras, os cargueiros alemães passaram a usar a letra C com duas pontas. O Japão usava um E. LETRA V Indica um pedido de ajuda. PRECISÃO A combinação AN2 quer dizer “preciso de um médico para tratar vítima de acidente nuclear”. ALFABETO As bandeiras para as letras A, B e C PRECISÃO A combinação AN2 quer dizer “preciso de um médico para tratar vítima de acidente nuclear”. 16 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_BB_OQUE.indd 16 6/6/16 8:47 AM 1 T UMBA DE TUTANCÂMON, EGITO SÉCULO 14 A.C. • DESCOBERTA EM 1922 Encontrado no Vale dos Reis de Tebas pelo americano Howard Carter, o túmulo do jovem faraó Tutancâmon fascinou o mundo. Dentro de quatro câmaras subterrâneas, além dos sarcófagos que guardavam sua múmia, centenas de artefatos se destacavam pela riqueza e pela preservação. Entre eles, um trono, uma carruagem, armas, joias e a famosa máscara mortuária dourada. Descobertas recentes levam os arqueólogos a acreditar que por trás de suas paredes possam existir outras duas câmaras ocultas. Há a hipótese de que nelas teria sido enterrada a lendária Nefertiti. 3 TUMBAS REAIS DO SENHOR DE SIPÁN, PERU SÉCULO 3 D.C. • DESCOBERTAS EM 1987 Ao investigar saqueadores de relíquias, o peruano Walter Alva encontrou a tumba do Senhor de Sipán, um governante mochica, descoberta em uma grande plataforma de adobe. A cultura peruana mochica se destacou pela produção de cerâmica realista e metalurgia refinada de ouro e prata. Junto ao Senhor de Sipán foram encontrados 600 artefatos, entre ornamentos de ouro e cerâmicas, e outros oito corpos, duas lhamas e um cachorro. Restaurados na Alemanha, os artefatos estão em um museu especialmente construído para abrigá-los na cidade de Lambayeque. 4 TUMBAS REAIS DE MICENAS, GRÉCIA 16 A.C. • DESCOBERTAS EM 1876 O alemão Heinrich Schiliemann, obcecado pela Ilíada e a Odisseia, de Homero, foi à Grécia e à Turquia atrás de vestígios das obras. Achou as ruínas que seriam das míticas Troia e Micenas. Nesta encontrou túmulos circulares enormes dos antigos governantes da cidade. Em um deles, cinco corpos continham máscaras mortuárias de ouro, ornamentos e vasos de prata e ouro, além de armas de bronze. A famosa máscara supostamente de Agamenon e outros objetos de Micenas estão no Museu Arqueológico Nacional de Atenas. 2 MAUSOLÉU DO IMPERADOR QIN, CHINA SÉCULO 3 A.C. • DESCOBERTO EM 1974 O mausoléu de Qin Shi Huangdi, o primeiro imperador que unificou a China e iniciou a construção da muralha, é conhecido pelo exército de mais de 8 000 soldados esculpidos em terracota. A tumba foi encontrada em Xi’an, região central do país, por camponeses que perfuravam poços de água. Sua construção teria sido ordenada pelo próprio imperador e contado com o trabalho de milhares de homens. A necrópole é tão grande que boa parte ainda não foi escavada. ListaALMANAQUE PELO MUNDO, TESOUROS BEM PRESERVADOS QUE CONTAM A HISTÓRIA DO HOMEM TUMBAS ENCONTRADAS INTACTAS TUMBAS REAIS DE 16 A.C. • DESCOBERTAS EM 1876 , de Homero, foi à Grécia e à Turquia atrás de vestígios das obras. Achou as ruínas que seriam das míticas Troia e Micenas. Nesta encontrou túmulos circulares enormes dos antigos governantes da cidade. Em um deles, cinco corpos continham máscaras mortuárias que boa parte ainda não foi escavada. 1 SÉCULO 14 A.C. • DESCOBERTA EM 1922 Encontrado no Vale dos Reis de Tebas pelo americano Howard Carter, o túmulo do jovem faraó Tutancâmon fascinou o mundo. Dentro de quatro câmaras subterrâneas, além dos sarcófagos que guardavam sua múmia, centenas de artefatos se destacavam pela riqueza e pela preservação. Entre eles, um trono, uma carruagem, armas, joias e a famosa máscara mortuária dourada. Descobertas recentes levam os arqueólogos a acreditar que por trás de suas paredes possam existir outras duas câmaras ocultas. 18 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_LISTA.indd 18 6/6/16 8:37 AM 9 MAUSOLÉU DE FELIPE II, GRÉCIA SÉCULO 4 A.C. • DESCOBERTO EM 1977 Felipe II, pai de Alexandre Magno, foi enterrado em uma necrópole próxima da atual cidade de Vérgina, no norte da Grécia. O grande mausoléu de mais de 100 metros de largura por 12 de altura contém outros três túmulos. Os restos mortais incinerados do monarca se encontravam dentro de uma pequena caixa de ouro, decorada com um desenho de um sol, símbolo dos reis da Macedônia. Uma coroa de ouro representando folhas e flores cobria a caixa. Entre outros objetos, havia vasos de prata e bronze, armas e armaduras e objetos de marfim. 5 BARCO FUNERÁRIO DE SUTTON HOO, INGLATERRA SÉCULOS 6 E 7 D.C. • DESCOBERTO EM 1939 A descoberta de um barco funerário em Sutton Hoo, costa leste da Inglaterra, revelou um tesouro da época do período posterior à saída dos romanos, entre os séculos 5 e 10 d.C. O achado revela detalhes da Alta Idade Média na Inglaterra. O funeral deve ter sido de uma figura proeminente do reino. Entre os objetos encontrados estão um capacete, um escudo, adereços, como uma fivela de ouro e broches, e louças. A maioria das peças está exposta no Museu Britânico de Londres. 8 TUMBA DE PAKAL EM PALENQUE, MÉXICO SÉCULO 7 D.C. • DESCOBERTA EM 1952 Por mais de mil anos a tumba de Pakal esteve escondida abaixo do chamado templo das inscrições. Foi o arqueólogo Alberto Ruz Lhuillier que, após descobrir um túnel e retirar toneladas de escombros do caminho, chegou a uma ampla câmara mortuária que continha um enorme sarcófago de pedra decorado com inscrições. Junto ao túmulo, além de uma série de objetos, os mais impressionantes de jade, como a máscara mortuária, estavam outros seis corpos, que se acredita serem de pessoas sacrificadas. Atualmente os achados estão no Museu de Antropologia do México, na capital do país. 7 TUMBA 43 DE VARNA, BULGÁRIA 4500 A.C. • DESCOBERTA EM 1972 Necrópole da Idade do Cobre encontrada na cidade búlgara da Varna, no Mar Negro, revelou, entre quase 300 enterros, uma riquíssima tumba, provavelmente de um chefe local. A nomeada Tumba 43 continha 990 objetos de ouro. Essas seriam algumas das mais antigas peças trabalhadas do metal precioso já descobertas. Entre os artefatos estão braceletes, colares, amuletos, cetros e até um falo. O túmulo também revelou armas e ferramentas de cobre, cerâmicas e belas conchas marinhas. 6 TUMBAS REAIS DE UR, IRAQUESÉCULO 26 A.C. • DESCOBERTAS EM 1928 Foi escavada em Ur uma série de tumbas reais que revelaram ao mundo alguns dos mais espetaculares artefatos arqueológicos, boa parte de ouro e pedras preciosas. Entre as relíquias estão o famoso estandarte de Ur – que acredita-se ser uma caixa de som; uma rica diadema; e uma lira adornada com a imagem de um boi barbudo. Em uma das mais impressionantes tumbas, arainha possuía roupas luxuosas e estava acompanhada por outros 74 corpos. As escavações foram realizadas pelo inglês Leonard Woolley e muitos dos artefatos se encontram no Museu Britânico de Londres. 10 SENHORA DO CAO, PERUSÉCULO 4 D.C. • DESCOBERTA EM 2004 Três plataformas de adobe formam o sítio arqueológico de El Brujo, na costa norte do Peru. Uma das estruturas, a Huaca Cao Viejo, escondia a tumba intacta de uma governante mochica. A chamada Senhora do Cao revelou um dos maiores tesouros arqueológicos do país. Chama a atenção no corpo sua pele tatuada. Além de objetos de ouro e cobre, havia importantes símbolos de poder, como cetros e coroas. O mais significativo foi mostrar indícios de que as mulheres também governavam na sociedade mochica. O moderno museu El Brujo exibe o corpo da governante e seus tesouros.encontravam dentro de uma pequena caixa de ouro, decorada com um desenho de um sol, símbolo dos reis da TE XT O RO D RI GO V AL EN TE E J UL IA N A SA D A | F O TO S GE TT Y IM AG ES , S H UT TE RS TO CK E D IV UL G AÇ ÃO adereços, como uma fivela de ouro e broches, e louças. A maioria das peças está exposta no Museu Britânico de Londres. 7 TUMBA 43 DE 7 TUMBA 43 DE 7 TUMBAS REAIS DE UR, IRAQUE SÉCULO 26 A.C. • DESCOBERTAS EM 1928 Foi escavada em Ur uma série de tumbas reais que revelaram ao mundo alguns dos mais espetaculares artefatos arqueológicos, boa parte de ouro e pedras preciosas. Entre as relíquias estão o famoso estandarte de Ur – que acredita-se ser uma caixa de som; uma rica diadema; e uma lira adornada com a imagem de um boi barbudo. Em uma das mais impressionantes tumbas, a rainha possuía roupas luxuosas e estava acompanhada por outros 74 corpos. Junto ao túmulo, além de uma série de objetos, os mais impressionantes de jade, como a máscara mortuária, estavam outros seis corpos, que se acredita serem de pessoas sacrificadas. Atualmente os achados estão no Museu de Antropologia do México, SENHORA DO CAO, PERU SÉCULO 4 D.C. • DESCOBERTA EM 2004 AVENTURAS NA HISTÓRIA | 19 AH156_LISTA.indd 19 6/6/16 8:37 AM ALMANAQUE Viagem com História Cuba tem uma das mais ricas e dra-máticas histórias da América (capa de AVENTURAS NA HIS- TÓRIA de novembro). Toda a conquista espanhola começa por lá – basta lembrar que Cristóvão Colombo nem chegou ao continente em 1492, se limitando a desco- brir o Caribe. E Cuba, fruto dessa primei- ra exploração, seria a base de onde eles lançariam sua violenta campanha de con- quista contra todos os povos da América. Fundada em 1515, Havana também se- ria o centro de outro episódio na memória popular: a era dos piratas, que ainda é viva nos vários fortes que tentavam pro- tegê-la de incursões dos bandidos. Cuba era tão preciosa que foi dos últi- mos países a serem mantidos sob ferre- nho domínio espanhol. Ganhou sua in- dependência apenas em 1898, com uma ajuda meio suspeita dos Estados Unidos, que manteve o país como refém durante as décadas seguintes. Com o dinheiro americano, seria um dos países mais prósperos da América Latina, mas tam- bém um dos mais humilhados em seu senso de patriotismo. A revolução de 1959 expulsou os ame- ricanos e os cassinos e trouxe uma expe- riência social que ainda divide seriamen- te opiniões. O país pode ter sido refunda- do, mas não é apenas o período castrista que pode ser visto em Havana. Na arqui- tetura, em algumas seletas atrações e até mesmo nos carros, ainda há algo da his- tória antiga a ser reconhecido. O LOCAL DE NASCIMENTO DA AMÉRICA HAVANA MUSEU NACIONAL DA MÚSICA OBRAPÍA 509, E/ BERNAZA Y VILLEGAS Depois da Revolução, a segunda coisa pela qual Cuba é mais conhecida é sua música. Situado num opulento sobrado de 1905, o museu faz exibições temáticas periódicas e tem uma grande coleção de instrumentos raros, além de uma loja onde é possível comprar CDs e revistas sobre a música cubana. MUSEU DA REVOLUÇÃO AVENIDA BÉLGICA, S/N O antigo palácio presidencial, de onde Fulgêncio Batista governou até ser derrubado, em 1959, hoje é um museu que celebra – e, obviamente, propaga – a revolução. Seus objetos incluem o iate Granma, que levou Che e Fidel a Cuba, o traje do cosmonauta cubano Arnaldo Tamayo Mendez e a turbina de um avião espião americano derrubado em 1962. TE XT O FA BI O M AR TO N | I LU ST R AÇ ÃO B RU N O AL G AR VE 20 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_VIAGEM.indd 20 6/7/16 2:30 PM CATEDRAL DE HAVANA 156 EMPEDRADO Concluída pelos jesuítas em 1777, foi construída com coral tirado do Golfo do México – alguns fósseis marinhos ainda são visíveis nas paredes. É um dos mais belos exemplos de arquitetura barroca nas Américas e também um pedaço inalterado da Cuba pré-revolucionária. Abrigou o corpo de Cristóvão Colombo até a independência cubana. CASTELO DA FORÇA REAL O’REILLY S/N A fortaleza, que fi cou pronta em 1577, é a mais antiga ainda em pé nas Américas. Criada para defender a cidade de ataques piratas, nunca foi muito bem nessa função, porque está muito para dentro no estuário. Hoje abriga um museu naval, que cobre a era dos piratas e inclui uma réplica do navio de linha Santíssima Trindade, construído em Cuba, que lutou nas guerras napoleônicas e era o maior do mundo. AVENTURAS NA HISTÓRIA | 21 AH156_VIAGEM.indd 21 6/7/16 2:30 PM CEMITÉRIO CRISTÓVÃO COLOMBO CALLE 12, S/N Com 1 milhão de “habitantes”, é considerado o cemitério mais arquitetonicamente importante da América Latina. Entre os notáveis estão o cantor Ibrahim Ferrer, que alçou fama internacional após o documentário Buena Vista Social Club. PRAÇA DA REVOLUÇÃO PLAZA DE LA REVOLUCIÓN O centro cívico de Cuba, de onde o presidente Fidel Castro fazia seus famosos (e intermináveis) discursos. Lá está a icônica imagem de Che Guevara, no Ministério do Interior, e o monumento a José Marti. Com 109 metros de altura, é o ponto mais alto de Havana, com um mirante que pode ser acessado. EMBAIXADA DOS EUA CALÇADA ENTRE AS RUAS L E M O prédio data de 1953. Entre 1961 e 2015, no período em que os países não mantiveram relações diplomáticas, serviu como “Seção dos Interesses dos Estados Unidos na Embaixada da Suíça”. Costumava exibir mensagens de propaganda anticomunista na fachada – Fidel então ordenou a construção da praça em frente, com bandeiras pretas para ocultá-la. GRAN TEATRO 458 PASEO DE MARTÍ O prédio foi construído em 1905, em volta de outro teatro, que hoje é seu interior. Por ele passaram nomes legendários, como Enrico Caruso e Sarah Bernhardt. Hoje abriga espetáculos do Balé Nacional de Cuba e o Festival Internacional de Balé, além de vários eventos sazonais. CAPITÓLIO PASEO DE MARTÍ, S/N A construção colossal foi inaugurada em 1929, sob o controverso governo do caudilho Gerardo Machado, imitando o edifício de Washington – seu domo é 4 metros mais alto. Era a sede do governo até a revolução, hoje abriga a Academia Cubana de Ciências. 22 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_VIAGEM.indd 22 6/7/16 2:30 PM EL FLORIDITA OBISPO, S/N O que um bar faz numa lista de atrações históricas? O La Floridita não é qualquer bar. Ele é uma relíquia da Havana do tempo dos cassinos e turistas americanos, frequentado por Ernest Hemingway, Ezra Pound e Graham Greene. Também foi lá que o Daiquiri, o drinque nacional, foi inventado. CASTILLOS DE LA CABANA, 3 REYES DEL MORRO E SAN SALVADOR DE LA PUNTA LA CABANA E 3 REYES: LA HABANA DEL ESTE; SAN SALVADOR: MALECÓN Entreposto entre a América e a Espanha, por onde passavam os navioslevando o ouro dos Astecas e Incas, Havana sempre foi visada por piratas. Isso explica todos os fortes. La Cabana foi conquistada pelos rebeldes em 1959 e ainda hoje tem o disparo cerimonial de canhões às 21h. Em tempos coloniais, isso sinalizava o fechamento dos portões da cidade. FINCA VIGIA FINCA VIGIA, KM 12,5 O antiamericanismo cubano abre uma grande exceção a Hemingway, o autor americano que viveu e escreveu boa parte de sua obra no país e apoiou a revolução. Inclusive morava em Havana quando recebeu o Prêmio Nobel, em 1954. Sua casa, que ele deixou em 1960, hoje abriga um museu em sua homenagem. AVENTURAS NA HISTÓRIA | 23 AH156_VIAGEM.indd 23 6/7/16 2:30 PM ALMANAQUE Arqueologia do Futuro GHOST IN THE SHELL SÉRIE JAPONESA FOI VISIONÁRIA – AINDA QUE TALVEZ UM POUCO APRESSADA TE XT O FA BI O M AR TO N | FO TO D IV UL G AÇ ÃO Se você é do tipo que fica com urticária ao ouvir as palavras mangá e animê, essa é uma oportunidade para rever seus concei- tos. A série de ficção científica inicia- da em 1989 por Masamune Shirow não pode ser definida como nada me- nos que visionária. Ghost in the Shell quer dizer, literalmente, “fantasma na casca” – uma tradução melhor seria “na carcaça”. O título se refere à ideia, presente na série, de que pessoas têm um espírito (o fantasma), e mesmo se 99% de seu corpo e cérebro (a carcaça) forem substituídos por máquinas, continuam a ser pessoas. A protago- nista, a agente de crimes cibernéticos Motoko Kusanagi, teve o corpo quase inteiro substituído por tecnologia, e ainda é considerada humana. A história se passa em 2030 – mas não vai ser tão cedo que teremos uma singularidade tecnológica como na ficção. Isto é, o conceito de humani- dade, a diferença entre gente e má- quina, começa a deixar de fazer sen- tido, com a diferença se agarrando num conceito místico como espírito. Como quase toda ficção científica, Ghost in the Shell não fala sobre o celu- lar, um aparelho que faz tudo o que os implantes cerebrais do gênero cyber- punk prometiam, sem precisar se ar- riscar em uma cirurgia. Internet, como era comum nas previsões dos anos 1980, é pura realidade virtual – hoje usada só para videogames. E, por ser série japonesa, não poderiam fal- tar os mechas, os robôs com pernas. Essa foi na trave: o Big Dog da Boston Dynamics, robô de carga militar de- senvolvido na década passada, fun- ciona perfeitamente, mas foi vetado pelo Pentágono por ser barulhento. Agora, em acertos, temos várias coisas que ainda são protótipos, mas até 2030 podem estar por aí. Os mem- bros de Kusanagi não são movidos por motores elétricos, mas músculos artificiais – uma das mais promisso- ras tecnologias emergentes. A equipe de Kusanagi é capaz de se tornar in- visível, o que também está sendo de- senvolvido – no Japão, inclusive. Por enquanto, depende de projetores ex- ternos. Ciborgues já são reais, até com a capacidade de próteses transmiti- rem sensações aos nervos – ainda que, por ora, não seja coisa que dê pra comprar na loja de material ortopédi- co da esquina e nada indica que al- guém irá trocar o próprio braço por uma prótese. Inteligências artificiais capazes de ser confundidas com hu- manos já estão à porta: ano passado, um robô de chat (isto é, só um progra- ma) passou no Teste de Turing, fazen- do com que o tomassem por uma pes- soa. E androides, robôs humanoides, ainda são feiosos, mas, se depender do Japão, devem estar à venda em lo- jas de eletrodomésticos até 2030. Na série, as próteses transmitem sensações aos nervos – o que já é real 24 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH154_ARQUE.indd 24 6/7/16 2:30 PM IL US TR AÇ ÃO B RU N O AL G AR VE ALMANAQUE História Maluca O SOLDADO MAIS PELUDO DA GUERRA Em seu tempo livre, Voytek ti-nha o hábito de fumar para aliviar a tensão, e gostava de dividir uma cerveja com os compa- nheiros da 22a Companhia de Supri- mentos de Artilharia do Exército da Polônia. Era um soldado como outro qualquer, exceto pelo fato de ter nas- cido urso. O bichinho foi adotado pelas tropas polonesas ainda filhote. A pequena bola de pelo foi avistada pelos soldados aliados ao Exército britânico vagando pelas montanhas do Irã em 1942. Não demorou muito para que se afeiçoassem ao urso, o qual passaram a alimentar com leite condensado em uma mamadeira im- provisada com uma garrafa. Batiza- ram- no “Wojtek”, que, em polonês, significa “guerreiro sorridente”. Com o regimento aquartelado no Iraque por quase um ano, Voytek se tornou um importante companheiro para os soldados – com os quais o animal (...) adorava brincar de lutinha – e ajudou a elevar o ânimo das tropas. Fácil enten- der o porquê: além de sua pre- dileção por esportes corpo a corpo, o amigo urso tinha ado- ráveis excentricidades, como uma curiosa fascinação por banhos, o que o motivou a aprender a ligar sozinho o chu- veiro do acampamento. Com seu posto de mascote favorito da turma assegurado, provou também suas habilidades mi- litares. Em uma ocasião, percebeu a porta do banheiro entreaberta e, ao aproveitar a oportunidade para se banhar, acabou farejando um espião árabe que havia se infiltrado no acam- pamento. O intruso confessou os de- talhes de sua missão e a tropa conse- guiu recolher informações para cercar os soldados inimigos. Salvador do dia, o ursinho ganhou duas garrafas de cerveja e permissão para ficar a ma- nhã inteira relaxando na banheira. Mas ele também colocava a mão na massa: treinado por seus companhei- ros humanos, ajudava as tropas car- regando munição pesada e se tornou peça-chave da unidade militar. Voytek era tão importante para o ba- talhão que, quando a companhia foi convocada para a região de Monte Cassino (Itália), ele acabou sendo ofi- cialmente alistado: o Exército polonês registrou nome, posto e núme- ro do soldado peludo. Com o fim da guerra, a companhia foi alocada em u ma v i la loca l i zad a em Berwickshire, na Escócia, e Voytek se tornou uma lenda local. Após a desmobilização das tropas em 1947, o urso foi levado para o zoológico de Edimburgo, onde continuou sendo um dos animais mais adorados pelo público até sua morte, em 1963. O URSO QUE VIROU PEÇA-CHAVE DO BATALHÃO LIVRO História Bizarra da Segunda Guerra Mundial, Otavio Cohen, Editora Planeta SAIBA MAIS O texto desta reportagem foi extraído do livro História Bizarra da Segunda Guerra Mundial AVENTURAS NA HISTÓRIA | 25 AH155_HM.indd 25 6/6/16 8:25 AM A PERSEGUIÇÃO DO IRMÃO DE ZICO PELO GOVERNO MILITAR NO BRASIL E EM PORTUGAL TEXTO José Renato Santiago NANDO E A DITADURA ALMANAQUE Crônica FO TO S SE BA ST IÃ O M AR IN H O E ZE K A AR AU JO / RE PR O D UÇ ÃO E m janeiro de 1964, o presiden-te João Goulart instituiu ofi-cialmente o Programa Nacio- nal de Alfabetização, PNA. Ao usar o método para alfabetização de adul- to desenvolvido por Paulo Freire, o Ministério da Educação e Cultura buscava a erradicação do analfabe- tismo no país. A seleção e o treina- mento dos profissionais para o pro- grama aconteceram entre o final de 1963 e os primeiros meses de 1964. Os irmãos Maria José e Nando e a prima Cecília passaram três meses em treinamento para ministrar as aulas que aconteceriam em colégios públicos do Rio de Janeiro. Além do amor pelos estudos, o futebol era ou- tra paixão daquela família de origem portuguesa, que já contava com o próprio Nando atuando nas catego- rias de base do Fluminense, e seus irmãos, Antunes, também no tricolor carioca, e Edu, no América. O irmão mais novo, que ainda não tinha 10 anos, se chamava Arthur,o Zico, que viria a ser o maior jogador da história do Flamengo. O presidente Ranieri Mazzilli re- vogou o decreto de João Goulart. Em 13 de maio o Ministério da Educação divulgou pela imprensa que o mate- rial utilizado na campanha de alfa- betização tinha caráter subversivo. Os coordenadores e professores que tiveram ligação com o PNA foram considerados subversivos e eram acompanhados de perto pelo regime militar. Zezé voltou a ser professora primária. Nando se concentrou no- vamente no futebol. Ainda como ju- venil do Fluminense, em 1966, rece- beu o convite para atuar no Santos de Vitória. Após algumas partidas como titular, com a chegada de um novo técnico na equipe, um oficial do Exér- cito, foi afastado do time. Voltou ao Família Coimbra completa: os pais, José Antunes e dona Matilde, e os filhos, Tonico, Edu, Antunes, Zico e Nando 26 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_CRONICA.indd 26 6/7/16 2:22 PM Rio de Janeiro e atuou com os irmãos Antunes e Edu no América. Três ir- mãos na mesma equipe pareceu não ser do agrado do técnico Evaristo de Macedo, que autorizou seu emprés- timo ao Madureira. O começo no tri- color suburbano foi promissor, até que o presidente do clube, Carlinho Maracanã, o afastou sem explicações. Sabedor da perseguição política que se aventava, Nando achou necessário “mudar de ares”, para seguir a car- reira. Em 1968, foi contratado pelo Ceará, e fez boas atuações. Seu fute- bol chamou a atenção da equipe por- tuguesa do Belenenses. Com a pro- messa de receber o dobro do salário da equipe cearense, Nando partiu para Lisboa. Ao chegar, descobriu que fora enganado e que o clube lhe pagaria menos da metade do combi- nado. Cabe lembrar que Portugal vivia a ditadura de Salazar, desde 1932 chefe de Estado, e o presidente do país, o Almirante Américo Tomás, era torcedor fanático do Belenenses, clube que presidira em 1944. Dias depois, Nando recebeu no seu hotel a visita de duas pessoas que se identificaram como membros da Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a Pide, organismo autônomo da Polícia Judiciária do governo local. Após ser interrogado e infor- mado sobre a necessidade de entre- gar os seus documentos, os visitantes o alertaram que tinham conhecimen- to sobre sua atuação no PNA em 1964. No dia seguinte, recebeu mais uma ameaça, desta vez do diretor da equipe portuguesa. Caso ele não acei- tasse assinar o contrato, por ser filho de português poderia ser obrigado a se alistar no Exército do país, e en- viado para as frentes militares que combatiam em Angola e outras colô- nias africanas. Nando conseguiu ajuda e retornou ao Brasil. Com o susto deixou o fute- bol meio de lado. Também ficou em silêncio, para não atrapalhar a carrei- ra do irmão Edu, que fora artilheiro do torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1969 (o campeonato nacional daquela época), e que deveria ser convocado para a Copa do Mundo de 1970, e do irmão caçula, Zico, que, ainda nas ca- tegorias de base do Flamengo, encan- tava a todos com seu futebol. A não convocação de Edu para a Copa do México foi recebida com grande tristeza por toda a família, mas nada comparável ao choque com a prisão da prima, Cecília, e de seu marido, José Novaes. Nando e um primo médico foram visitar a tia, que passara mal ao saber da prisão da fi- lha. Todos, com exceção da tia, foram presos por agentes da Delegacia de Ordem Política e Social, Dops, que os levaram ao DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), ór- gão de inteligência e repressão subor- dinado ao Exército brasileiro. Foram encapuzados para interrogatório e sofreram ameaças. Foram liberados, mas fichados como subversivos, o que dificultou a volta de Nando ao futebol. Em 1971, o jogador foi convidado a atuar na equipe portuguesa do Gil Vicente, mas não podia sair do país. Seu pai teve a oportunidade de falar com o então presidente do Conselho Nacional de Desportos, o general Si- zeno Sarmento, que se sensibilizou. Graças ao militar, sua ficha voltou a ser limpa, e ele atuou no Gil Vicente. Porém, lesões sucessivas acabaram por antecipar o fim da sua carreira, aos 26 anos. Em dezembro de 2010, a Comissão de Anistia, instalada pelo Ministério da Justiça, reconheceu que Nando foi um perseguido políti- co da ditadura brasileira, e se tornou o primeiro jogador de futebol a ser anistiado no país. Os irmãos Zico, Edu, Tonico, Nando e Antunes AVENTURAS NA HISTÓRIA | 27 AH156_CRONICA.indd 27 6/6/16 8:22 AM ALMANAQUE História Ilustrada VENTILAÇÃO Áreas amplas em palácios seriam belas, mas também serviriam para que o ar circulasse livremente. O objetivo era atingir um nível adequado de salubridade, já que Milão enfrentava constantes pestes, que mataram mais de 10 mil pessoas até a época em que Da Vinci viveu, o século 16. ESTÁBULOS A localização dos cavalos também foi planejada por Da Vinci nos mínimos detalhes: sulcos na terra dentro dos espaços formariam uma pequena rede de canais para onde a sujeira deveria escoar e manteriam o local limpo. OS CANAIS Vias fl uviais eram importantes, como as ruas para a comunicação e a agricultura. Canais artifi ciais eram conectados a um canal principal. A proposta era um sistema independente do sistema de ruas. A regulagem do fl uxo seria feita por meio de comportas. PARA NOBRES As vias em nível alto, mais amplas e com parques, seriam para uso da nobreza. DA VINCI A CIDADE IDEAL DE IL US TR AÇ ÃO H AF AE LL SEPARAÇÃO ENTRE RICOS E POBRES ERA REALÇADA 28 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_HIST_ILUST.indd 28 6/6/16 8:19 AM R enascimento, final do século 15. Em Mi-lão, o artista, cientista e engenheiro Le-onardo da Vinci desenhava partes da cidade que desejava construir. A “utopia urbanís- tica” era tema central de debates. Ricas famílias comandavam as cidades-estado independentes que eram a Itália. Enquanto a cidade ideal seria aquela que celebrasse o governo do príncipe, a cidade real era onde reinava o insalubre. A popu- lação, para a época, era enorme. Em Milão, eram quase 100 mil pessoas. A maioria, pobres. Nas ruas estreitas e escuras, o lixo se espalhava. Não havia encanamento e a água era contaminada. O resultado não poderia ser diferente: as pestes mataram milhares de pessoas. Da Vinci não che- gou a conceber um modelo pronto e acabado da “cidade-solução”, mas seus desenhos foram reu- nidos e resultaram, em 1956, no modelo que você confere agora e é exibido no Museu da Ciência e da Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão. EMPREGADOS O andar de baixo seria para os empregados, a exemplo da cozinha e do armazém. ESCOAMENTO A estrutura da cidade conectaria as elevações e os canais como forma de evitar as enxurradas dos rios, assim a água não fi caria concentrada em lugar nenhum. SERVIÇO As vias em nível baixo serviriam para o fl uxo de mercadorias, pessoas comuns e animais de carga. Segundo o estudioso M.C. Hall, autor do livro Leonardo da Vinci, os pensadores da época não levavam muito em conta os pobres. PRIVILÉGIOS Os palácios teriam uma estrutura aristocrática. No primeiro andar, viveria a família do proprietário, cuja entrada seria pelo andar de cima. IL US TR AÇ ÃO H AF AE LL AVENTURAS NA HISTÓRIA | 29 AH156_HIST_ILUST.indd 29 6/6/16 8:19 AM FO TO C H AT EA U D E VE RS AI LL ES / RM N -G R AN D PA LA IS / AF P O espanhol Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus CAPA 30 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_JESUITA.indd 30 6/6/16 8:03 AM A COMPANHIA DE JESUS FOI FUNDAMENTAL NA FUNDA-ÇÃO DE SALVADOR, RIO E SÃO PAULO. CRIOU NOSSA VERSÃO DO IDIOMA PORTUGUÊS. CATEQUIZOU ÍNDIOS, PARTICIPOU DE BATALHAS, LIDEROU EXPLORAÇÕES EM BUSCA DE OURO. AJUDOU A FORMAR O PAÍS TEXTO Tiago Cordeiro D esde os anos 1960, toda criança sonha em ser astronauta. Viajar para outros planetas, com suas paisagens bizarras, seus ambientes absurdos e – quem sabe? – seus moradores de costumes quase inacreditáveis de tão diferentes. Por volta de 1550, era possível viver esse mesmo sonho: jovens ousados, educados nas melhores escolas católicas, podiam ser convidados para viver entre os algonquins do Canadá, os astecas mexicanos, os indianos de Goa, os moradores do arquipélago japonês, os tupis- guaranis do Brasil. Cada um deles, em todos os sentidos para o ponto de vista de um europeu, vivia, comia e rezava como um verdadeiro alienígena. Os jovens do Velho Continente podiam experimentar esses novos planetas, desde que reunis- sem uma combinação de fé, disciplina, espírito didático e capacidade de geren- ciamento. Havia muitas opções para um missionário cristão abraçar a causa da catequização das terras distantes. Mas a Companhia de Jesus era a mais nova e mais promissora. Surgira poucos anos antes, pelas mãos de um jovem basco, amante das armas e das mulheres, convertido para a fé por uma bala de canhão. no brasil jesuítas aventura dos A grande AVENTURAS NA HISTÓRIA | 31 AH156_JESUITA.indd 31 6/6/16 8:03 AM I ñigo vinha de família bem relacionada de Azpeitia, no noroeste da Espanha. Na juventude, fez estágio como pajem do nobre Juan Velázquez de Cuellar e se acostumou a andar bem-vestido, com cabelos loiros e compridos. Dizia-se encantado por uma moça da elite, que nunca chegou a nomear, mas que, con- fessava, não parava de ocupar seus pensamentos. “Ficava logo embebido a pensar nela duas, três ou quatro horas sem se dar conta, imaginando o que havia de fazer em serviço de uma senhora”, ele escreveria em sua autobiografia. O gosto pelas guerras era bem mais público. Como seguidor do vice-rei de Navarra, António Manrique de Lara, Iñigo participou da batalha de guerra que colocava os reis da França e da Espanha na disputa pelo controle do Sacro Império Romano-Germânico. Lutando a favor dos espanhóis, em 20 de maio de 1531, durante um cerco francês a Pamplona, uma bala de canhão passou entre suas pernas. Milagrosamente, o jovem basco sobreviveu. Foi levado para casa, com a perna destroçada. No cas- telo da família, onde passou por uma recuperação lenta e dolorosa, com direito a uma cirurgia nos joelhos – sem anestesia – que ti- nha por objetivo consertar uma cirurgia anterior – também sem anestesia –, um jovem sofredor e entediado encontrou consolação em livros católicos da biblioteca da família. O guerreiro mulheren- go se recuperou com uma perna mais curta e uma decisão firme: seguir os caminhos de Cristo. Começou tentando ir à Cidade Santa. Conseguiu em 1523, mas ficou por um período muito curto, durante o qual ele se mostrou um risco para os católicos que nego- ciavam cuidadosamente sua per- manência na Jerusalém dominada por muçulmanos. Andando sem seguranças, forçando a entrada em lugares vedados a cristãos, ele foi convidado a voltar para a Eu- ropa o mais rápido possível. Re- tornou a contragosto, sonhando em voltar, sem conseguir. Iñigo dirigiria suas atenções a outro objetivo: fundar uma ordem religiosa guerreira, de forte cará- ter missionário. Para isso, voltaria a estudar, a fim de preencher uma grave lacuna, a falta de formação teológica. Em Paris, encontrou seis religiosos mais novos que se tornaram o núcleo central da Companhia de Jesus: Francisco Xavier, Pedro Fabro, Simão Ro- drigues, Nicolás Bobadilla, Diogo Laínez e Alfonso Salmerón. Em 15 de agosto de 1534, durante um en- contro na Igreja de Saint Denis, no bairro parisiense de Montmar- tre, eles fundaram a Companhia de Jesus. Em 1537, o fundador ado- tou um novo nome, mais amigável para os ouvidos dos espanhóis não bascos: Inácio. Em 1540, o papa Paulo III aprovou a existên- cia do novo grupo. Era um come- ço rápido e promissor. Aventureiro e enamorado •1491• Nascimento de Inácio de Loyola •1534• Inácio funda a Companhia de Jesus •1500• Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil •1540• O PAPA PAULO III formaliza a criação da Companhia de Jesus •1549• Chegada de TOMÉ DE SOUZA e Manoel da Nóbrega a Salvador •1542• Primeira ação missionária dos jesuítas, no Congo •1551• Chegada a Salvador do primeiro bispo do Brasil, Pero Fernandes Sardinha •1553• Chegada de JOSÉ DE ANCHIETA ao Brasil •1554• Missa de fundação da cidade de São Paulo •1565• Fundação da cidade do Rio de Janeiro A TRAJETÓRIA DA ORDEM CAPA 32 | AVENTURAS NA HISTÓRIA AH156_JESUITA.indd 32 6/6/16 8:03 AM •1580• Portugal é anexado ao reino da Espanha e os jesuítas perdem a exclusividade no Brasil •1607• Início das missões jesuíticas •1640• Portugal volta a ser um reino independente, sob o comando do rei dom João IV •1665• O Tribunal da Inquisição manda prender ANTONIO VIEIRA •1773• Extinção da Companhia de Jesus por ordem do papa CLEMENTE XIV •1759• Expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias •1814• O papa PIO VII reabre a Companhia de Jesus •2013• JORGE BERGOGLIO é eleito papa e adota o nome Francisco FO TO G IA N N I D AG LI O RT I / T H E AR T AR CH IV E / T H E PI CT UR E D ES K / A FP E S H UT TE RS TO CK Loyola decidiu seguir o “caminho de Jesus” após grave acidente com canhão AVENTURAS NA HISTÓRIA | 33 AH156_JESUITA.indd 33 6/6/16 8:03 AM I nácio nunca usou o termo “jesuítas”, pelo qual o grupo ficaria conhecido. A expres- são se estabeleceria décadas depois, quando o esforço missioná- rio ajudou a estabelecer o apelido, que fazia referência a “pessoas que citam o nome de Jesus com muita frequência”. Mas o nome oficial, Societas Jesu, ou Sociedade de Jesus, caracterizava com precisão os ob- jetivos do grupo, criado como uma milícia com hierarquia clara, con- duta impecável e o mesmo espírito de conquista que acompanhou o fundador até o fim da vida, em 1556. Inácio ainda sonhou com um retorno a Jerusalém. Depois, se ins- talou em Veneza, à espera de orien- tações papais. Até que aquele grupo de jovens instruídos e disponíveis para a evangelização chamou a atenção das lideranças do Vaticano, que resolveram usar os jesuítas no esforço de reação à reforma protes- tante. Todos os fundadores se en- volveriam na catequização e na publicação de trabalhos que luta- vam pela restauração da fé católica. O sucessor de Inácio, Diogo Laínez, chegaria a se estabelecer como uma importante liderança no Concílio de Trento. Era forte candidato a papa, mas não chegou ao posto. Os jesuítas só formariam um pontífice em 2013, com a eleição do argentino Jorge Bergoglio. Sua vocação, no século 16, era outra: a evangelização em terras estrangeiras. Começou com São Francisco Xavier, possivelmente o jesuíta mais famoso da história. O único fundador da ordem a deixar a Eu- ropa estava em Portugal, onde o rei João III se mostrava interessa- do no esforço missionário daqueles jovens promissores. Em uma dé- cada morando na Ásia, ele conver- teria algo entre 30 mil e 100 mil pessoas, um número espantoso – e obviamente inflado, no sentido de que muitos dos pagãos que aceita- vam o batismo não entendiam o que havia acontecido e não muda- vam nenhum de seus costumes, mesmo
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