Buscar

TCC- Versão Final para entrega

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 
DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS- CAMPUS III 
COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO EM MULTIMEIOS 
 
 
 
RAFHAEL NOBRE DA SILVA RODRIGUES 
 
 
 
 
 
JORNAL RIVALE: DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O 
PROGRESSO NO TEMPO DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM 
DE SOBRADINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juazeiro - BA 
Março de 2020 
 
 
 
 
RAFHAEL NOBRE DA SILVA RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JORNAL RIVALE: DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O 
PROGRESSO NO TEMPO DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM 
DE SOBRADINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Universidade do Estado da Bahia como parte dos 
requisitos necessários para a obtenção do Grau de 
Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo em 
Multimeios. Sob a orientação da Professora 
Edonilce da Rocha Barros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juazeiro, BA 
Março de 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
R696j Rodrigues, Rafhael Nobre da Silva 
 
 Jornal Rivale: discurso jornalístico sobre o progresso no tempo da 
 construção da Barragem de Sobradinho / Rafhael Nobre da Silva Rodrigues. 
 Juazeiro-BA, 2020. 
 73 fls.: il. 
 
 Orientador(a): Profª. Drª. Edonilce da Rocha Barros. 
 Inclui Referências 
 TCC (Graduação - Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios) – 
 Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. 
 Campus III. 2020. 
 
 1. Jornalismo. 2. Barragem de Sobradinho. 3. Análise do discurso. 
 4. Progresso. 5. Jornal Rivale. I. Rocha, Edonilce da Rocha. II. Universidade 
 do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. III. Título. 
 
 CDD: 070.4 
 
 
 
 
 
 
 
 
RAFHAEL NOBRE DA SILVA RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
JORNAL RIVALE: DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O 
PROGRESSO NO TEMPO DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM 
DE SOBRADINHO 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Universidade do Estado da Bahia como parte dos 
requisitos necessários para a obtenção do Grau de 
Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo em 
Multimeios. Sob a orientação da Professora 
Edonilce da Rocha Barros. 
 
 
 
 
 
 
Professora Dr.ª Edonilce da Rocha Barros 
Presidente da Banca – Orientadora 
 
 
 
Professora Dr.ª Maria Rita do Amaral Assy 
Membro 
 
 
 
Professora M.ª Teresa de Jesus Leonel 
Membro 
 
 
 
 
 
 
Juazeiro, BA 
Março de 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 À servidora Valdecy Gonçalves Sales (em 
memória) pelo carinho prestado no início da 
graduação e conversas regadas a bons cafezinhos 
na sede do Núcleo de Pesquisa e Extensão da UNEB 
– Campus III Juazeiro. 
 
Aos filhos e filhas das antigas cidades inundadas 
(Casa Nova, Sento-Sé, Remanso e Pilão Arcado), 
que por força do Estado, foram obrigados a se 
retirarem dos seus espaços de referência e 
identidade para dar lugar ao grande lago de 
Sobradinho. 
 
A todos que contribuíram direta ou indiretamente 
em minha formação acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, em especial: 
A Deus, pelo dom da vida e por se fazer presente nela. 
A minha família, em especial, a minha mãe Sueli Nobre, ao meu pai Adaltro 
José Rodrigues e ao meu irmão Rodrigo Nobre, pelo empenho e dedicação prestados a 
mim durante a graduação e em toda minha trajetória até aqui. 
A minha tia Nildete Nobre, pelas ligações afáveis diretamente de Salvador/BA. 
A professora e amiga Andrea Cristiana Santos pelos conselhos e incentivo nos 
caminhos da pesquisa. 
A minha orientadora Prof. Edonilce da Rocha Barros e seu papel fundamental na 
elaboração deste trabalho. 
Aos meus amigos, Charles Gleydson, Adriana Rezende e Victor Gledson pelos 
conselhos e auxílio prestados. 
Aos amigos que a UNEB me presentou, Camila Santana, Fernando Alves, 
Thiago Santos, e especialmente a Vagner Gonçalves, pelo companheirismo no percurso 
acadêmico e nas relações de vida. 
A Mayane Santos, Renilson da Silva e demais colegas, o meu agradecimento 
pelo período que estivemos juntos na produção deste TCC. Passamos tardes 
empolgantes no laboratório de informática do Campus III, que tornaram a elaboração 
deste trabalho mais leve, tranquila, com boas doses de sorrisos. 
Aos funcionários da UNEB, em especial a Cirilo e Lucílio, que indiretamente 
contribuíram na produção deste material. Enfim, a todos que de alguma forma 
contribuíram para a realização deste sonho... 
 
Muito obrigado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho teve como objetivo geral analisar o discurso jornalístico promovido pelo 
jornal Rivale no tempo da construção da Barragem de Sobradinho na década de 1970. O 
lócus da pesquisa foi o Arquivo Maria Franca Pires, localizado no Departamento de 
Ciências Humanas, UNEB, Campus III, tomando como documento base o referido 
jornal. O Rivale foi considerado como fragmento para entender sua relação com o 
passado numa perspectiva de micro história da comunicação. Para isso, foi realizada 
uma pesquisa documental a fim de se investigar como as práticas jornalísticas mediadas 
por rituais de imparcialidade colaboraram na divulgação da ideia de progresso e no 
silenciamento das questões sociais e econômicas. Assim, o jornal Rivale foi pensado a 
partir da definição de rastro, o que permite, que, as mensagens do passado cheguem ao 
presente e sejam interpretadas pelo pesquisador em sua dimensão narrativa. Para 
interpretação dos dados, utilizou-se da análise do discurso, pensando o jornal, os 
indivíduos e a exterioridade social como fatores fundamentais para as formações 
discursivas. Essa perspectiva foi importante para perceber como este veículo de 
imprensa, que circulou no município baiano de Juazeiro no período de 1972 a 1980, 
contribuiu na divulgação dos impactos sociais e econômicos relacionados à obra de 
construção da barragem. A pesquisa demonstrou que o jornal foi um veículo que 
funcionou como aparelho ideológico do Estado. O jornal utilizava-se de uma retórica 
discursiva que representava os interesses das elites locais e do poder do Estado, apesar 
da ambivalência do discurso jornalístico promovido pelo jornal Rivale, representado 
pelas vozes de alguns colunistas articuladores e cronistas como Walter Dourado, Ermi 
Ferrari e o Bispo Dom José Rodrigues. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo. Barragem de Sobradinho. Análise do Discurso; 
Progresso; Rivale. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................7 
1.1 O CONTEXTO DO SURGIMENTO DO RIVALE ..................................................7 
1.2 O RIVALE E O PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DA IMPRENSA LOCAL ......8 
1.3 O RIVALE COMO PORTA VOZ DO PROGRESSO.............................................10 
1.4 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DAPESQUISA.......................................12 
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO..............................................................................15 
 
2 O DESENVOLVIMENTISMO NO RIVALE.........................................................16 
2.1 O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO..........................................................16 
2.2 O DESENVOLVIMENTISMO E O JORNAL RIVALE ........................................19 
2.3 O RIVALEE O DISCURSO DA OBJETIVIDADE................................................24 
 
3 O DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O PROGRESSO NO JORNAL 
RIVALE..........................................................................................................................27 
3.1 RIVALE E A DEFESA DA BARRAGEM ..............................................................27 
3.2 WALTER DOURADO E A RETÓRICA DO PROGRESSO..................................28 
 
4 ERMI FERRARI – O CRONISTA DA ESPERANÇA...........................................39 
4.1 ENTRE A DEFESA DA NAVEGAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DA 
BARRAGEM...................................................................................................................39 
4.2 ERMI FERRARI E A NAVEGAÇÃO NO SÃO FRANCISCO..............................42 
4.3 ERMI ESTAVA CERTO SOBRE A NAVEGAÇÃO?............................................53 
 
5 DOM JOSÉ RODRIGUES NA CONTRAMÃO DA RETÓRICA DO 
“PROGRESSO” ............................................................................................................54 
5.1 O BISPO CRONISTA EM DEFESA DOS POBRES...............................................54 
5.2 RESPOSTA À CARTA DE 04 DE MAIO DE 1979................................................61 
5.3 RESPOSTA À CARTA DE 13 DE JUNHO DE 1979..............................................61 
5. 4 O BISPO E O RIVALE............................................................................................64 
 
 
 
 
 
 
 
6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .............................................................................66 
 
 REFERÊNCIAS .........................................................................................................70
7 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
1.1 O CONTEXTO DO SURGIMENTO DO RIVALE. 
 
 
O ano é 1977. Neste ano, a barragem de Sobradinho já estava em fase final de 
conclusão e as cidades de Remanso, Pilão Arcado, Sento-Sé e Casa Nova já tinham sido 
transplantadas para novos espaços, para dar lugar às águas do lago. Nesse mesmo 
período, era lançado o sucesso “Sobradinho”, da dupla Sá e Guarabyra1. A música, que 
fez parte do disco “Pirão de Peixe com Pimenta” retratou em seus versos o adeus do 
povo aos seus lugares, tendo que ir embora para não ser engolido pelas águas do lago a 
ser formado com a construção da barragem: 
 
“Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé. Adeus Pilão Arcado. Vem o 
rio te engolir. Debaixo d'água, lá se vai a vida inteira, por cima da 
cachoeira, o gaiola vai subir. Vai ter barragem no salto do Sobradinho 
e o povo vai-se embora, com medo de se afogar”. (SÁ; 
GUARABYRA; 1977). 
 
Esse foi um dos legados deixados pela construção da barragem de Sobradinho na 
vida de 12 mil famílias que entre os anos de 1975 e 1980, foram obrigadas pelo Estado 
através da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) a se retirarem dos seus 
espaços de convivência, referência e sociabilidade para dar lugar ao grande lago de 
Sobradinho2, que atingiu os quatro municípios baianos, referenciados no refrão da 
música de Sá e Guarabyra acima destacado. 
 Inicialmente criada para regularizar o fluxo de água necessário para gerar 
energia na Usina de Paulo Afonso, a barragem de Sobradinho3 fez parte da política 
desenvolvimentista assumida pelo governo militar na década de 1970, cuja retórica 
discursiva consistia em levar o “progresso” às regiões menos desenvolvidas do país 
(ESTRELA, 2004, p.93). Nesse mesmo período, grandes projetos hidrelétricos foram 
incentivados, dos quais se inserem além de Sobradinho, a construção das usinas de 
Itaipu (central hidrelétrica na fronteira entre o Brasil e o Paraguai) e Itaparica, na Bahia. 
 
1 Conhecidos pelo “rock rural”, estilo que incorporou influências do rock e da música country anglo-
saxônicas, com uma linguagem poética que retratava os problemas do campo. 
2 Segundo Costa (1990), o lago artificial de Sobradinho tem 4.214 Km², 350 km de extensão e 10 a 40 km 
de largura e capacidade de armazenar 34 bilhões de metros cúbicos de água. 
3 Localizada no Submédio do São Francisco, na cidade de Sobradinho, na Bahia, a 556 Km de 
Salvador/BA e a 50 km de Juazeiro, também no estado baiano. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Folk-rock
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_country
https://pt.wikipedia.org/wiki/Anglo-sax%C3%B4nico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Anglo-sax%C3%B4nico
8 
 
 
 
De acordo com Estrela (2004), o Governo Federal por meio do Ministério de 
Minas e Energia avaliava que a região apresentava desenvolvimento econômico 
inexpressivo, devido aos períodos prolongados de estiagem e pela existência de terras 
áridas. Contudo, além da perspectiva da obra de promover o progresso econômico, as 
ações do Estado, segundo Rabelo4 (2014), almejavam conectar o país à economia 
internacional, à custa de empréstimos, reforçando o discurso nacionalista e mantendo o 
controle político em negociação com as elites locais. 
É nesse contexto de transformações socioespaciais na região que surgiu o jornal 
Renovação e Integração do Vale - Rivale. Criado em março de 1972 por membros da 
sociedade juazeirense como o economista Flávio Luiz Ribeiro Silva, o agrônomo Jorge 
Khouri Hedaye e o médico Paganini Nobre Mota, o jornal se consolidou entre a 
comunidade local como o percursor da “nova etapa da imprensa interiorana” 
(RABELO, 2014). 
No contexto da imprensa de Juazeiro, Bahia, o Rivale era o único jornal que 
circulava na cidade após a interrupção da Tribuna do Povo, em 1964, e o Esporte 
(1967), periódico editado por José Diamantino Assis (SANTOS, 2016). Ao ser criado, o 
jornal RIVALE se destacou como o único periódico criado no contexto da ditadura 
militar, de modernização da imprensa local, o que o colocou no rumo da 
profissionalização. 
 
1.2 O RIVALE E O PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DA IMPRENSA LOCAL. 
 
Nos dez anos que esteve em circulação, o Rivale se tornou um dos principais 
veículos de comunicação do Vale do São Francisco, especialmente no polo Juazeiro-
BA/Petrolina-PE, sendo o principal jornal a dar visibilidade às questões relacionadas à 
construção da barragem de Sobradinho. 
O periódico surgiu em meio às transformações tecnológicas que mudaram o 
modus operandi das redações, com características de uma qualidade técnica mais 
elaborada se comparado aos jornais locais como o Pharol (1915-1989) e o Tribuna do 
Povo (1957-1964), que circularam nas cidades de Petrolina-PE e Juazeiro-BA. 
 
4 Elson de Assis Rabelo é pesquisador colaborador do Museu Afro-Brasileiro, da Universidade Federal da 
Bahia. Professor Adjunto 3 do Colegiado de Artes Visuais e do Curso de Licenciatura em História - 
Convênio PRONERA, da Universidade Federal do Vale do São Francisco. Coordenador Institucional do 
DINTER em Artes Visuais UFRJ/UNIVASF. Graduado em História pela Universidade Federal do Piauí, 
Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Doutor em História pela 
Universidade Federal de Pernambuco. 
9 
 
 
 
Tais transformações são decorrentes de um processo que começou na década de 
1950, quando iniciou um processo de modernização da imprensa com mudanças que 
perpassaram o campo social, político e cultural (RIBEIRO, 2007). Dessa maneira, as 
transformações que aconteceram na sociedade brasileira também deixaram marcas que 
transformaram a mídia, cujos processos tecnológicos e editoriais, segundo a autora, 
colocaram-na no rumo da profissionalização. Assim, o jornalismo brasileiro passou a 
assumir um caráter empresarial depois da ascensão do capitalismo e do modelo de 
desenvolvimento nacional adotado pelo Estado. 
A busca pela modernização do jornal pode ser verificada na utilização de 
recursos gráficos, produção de cadernos especiais, além do uso de imagens ilustrativas e 
de uma melhor organização na forma como eram dispostas as notícias. Desde a 
cobertura da política aos aspectos cotidianos dos juazeirenses e petrolinenses, ao 
predomínio de notíciaseconômicas, diversos assuntos ganharam destaque nos dez anos 
que o jornal esteve em circulação. Mas a temática ligada à construção da barragem de 
Sobradinho foi predominante. 
A linha editorial do Rivale fazia referência à defesa do progresso e das políticas 
públicas desenvolvimentistas para as cidades de médio porte5, como se observa no 
exemplo abaixo, publicado na décima edição do jornal de 15 de julho de 1972, em 
comemoração aos 94 anos de emancipação política da cidade de Juazeiro. 
 
O surto de desenvolvimento que Juazeiro vem atravessando nos 
últimos anos, consolidando sua posição de município líder da região 
do São Francisco, foi a principal razão para o surgimento do RIVALE. 
É lógico que precisávamos de um órgão capaz de levantar a bandeira 
do nosso progresso, porta-voz dos anseios da população da região, 
levando a todos os recantos da Pátria a mensagem de um povo 
empenhado na construção do futuro” (RIVALE, 1972, ed. 10, p.1). 
 
Dessa forma, foi possível verificar que o Rivale demonstrou ser fortemente 
ligado aos interesses das elites políticas desde a sua criação. Contudo, tal discurso 
adotado pelo veículo procurava incorporar processos de modernização e 
profissionalização do campo jornalístico, que buscou construir sua autonomização em 
 
5 No ano de 1970, a cidade de Juazeiro tinha poucos mais de 61 mil habitantes. Dados do Anuário 
Estatístico do Brasil a respeito da população juazeirense- Disponível em 
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=720 
 
10 
 
 
 
relação ao discurso literário e político predominante na fase inicial da imprensa 
brasileira, como analisado por Ana Paula Goulart Ribeiro (2010). 
Nesse sentido, os jornais começaram a ser pensados como um lugar neutro, 
sendo reconhecido como um “gênero de estabelecimento de verdades”, como defende 
Ribeiro (2010), não circunscrito ao literário e ao artigo de fundo, gênero opinativo 
predominante no início do século XX. O jornalismo adotou práticas discursivas 
advindas, sobretudo, do jornalismo norte-americano como os paradigmas da 
objetividade e imparcialidade que foram incorporados pelos jornais brasileiros a partir 
dos anos 1950. As técnicas jornalísticas norte-americanas estimularam a adoção de 
restrições formais, como o estilo sintético no formato das notícias, a incorporação do 
lead; o que fez aumentar a comunicabilidade das mensagens, e as colunas assinadas por 
influentes colunistas e cronistas. 
 
1.3 O RIVALE COMO PORTA VOZ DO PROGRESSO 
 
Com base nas investigações realizadas no projeto de iniciação científica “A 
construção da Barragem de Sobradinho e o debate público no Jornal Rivale (1972-
1980)”, constatou-se que na maioria dos conteúdos veiculados pelo periódico, há um 
alinhamento à defesa da construção da Barragem de Sobradinho. Em contrapartida, 
constatou-se também a presença de um interdiscurso interpelado por alguns cronistas 
como Walter Dourado, Ermi Ferrari e o bispo da diocese de Juazeiro, Dom José 
Rodrigues, que trazem questionamentos sobre as questões sociais e econômicas 
circunscritos à obra. 
Apesar de o jornal veicular nas vozes destes colaboradores as discussões voltadas às 
questões socioeconômicas, são evidentes as tentativas de silenciamento ou supressão 
das questões mais urgentes. Nesse sentido, infere-se que o jornal tenha atuado como 
aparelho simbólico, como define Bourdieu (2003, p. 15), ao mencionar que o “poder 
simbólico” é um tipo de poder, invisível, irreconhecível, transfigurado e legitimado, 
capaz de produzir efeitos reais na vida das pessoas e que só é exercido por aqueles que 
dominam os sistemas simbólicos (a arte, a cultura, a religião, a língua, o discurso). 
Esses sistemas, na visão do autor, podem ser estruturantes e estruturados. 
Os sistemas simbólicos como estruturas estruturantes tratam os universos 
simbólicos como instrumentos de conhecimento e de construção do mundo dos objetos, 
ou seja, na designação nos modos de agir, de operar ou de executar na vida dos 
11 
 
 
 
indivíduos (BOURDIEU, 2003, p.8). Já os sistemas simbólicos como instrumentos 
estruturados se constituem como a base efetiva para a ação dos instrumentos 
estruturantes. Bourdieu ainda considera que estes “sistemas simbólicos só podem 
exercer um poder estruturante porque são estruturados” (2003, p.9). 
Assim, o poder simbólico se reverbera por meio desses sistemas simbólicos que 
se constituem como elementos de construção da realidade, que tendem a estabelecer 
uma ordem, um sentido sobre o mundo. 
De acordo com Bordieau (2003), as relações de comunicação são sempre 
relacionadas às relações de poder, pois elas “cumprem sua função política de 
instrumento de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para 
assegurar a dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica)” (p.11). 
Assim, como o jornal estava alinhado à defesa da construção da barragem, é de 
se considerar que o periódico atuou como aparelho ideológico do Estado para dar 
legitimidade social à construção da Barragem de Sobradinho, tendo como base a 
narrativa do progresso (o discurso). Identificou-se formas de silenciamento ou 
naturalização das questões sociais e econômicas circunscritas à obra como no destaque 
abaixo, divulgado no Caderno Especial que o jornal produziu no ano de 1973, intitulado 
“Sobradinho em debate”. O jornal declarou: 
 
É verdade que algumas cidades irão desaparecer para dar lugar a um 
grande lago formado pelas águas represadas. Mas a coisa não é tão 
drástica como se anuncia. As providências cabíveis e humanas estão 
sendo tomadas para que ninguém fique desabrigado ou prejudicado 
(RIVALE, 1973, ed.30, p.1). 
 
 
Percebe-se que o periódico reconhece a questão das inundações, mas trata a 
problemática com naturalidade, como um problema de pequena importância. O Estado, 
na concepção do periódico, ao mesmo tempo em que causava os danos à população 
ribeirinha, buscava tomar as “providências cabíveis”, para minimizar os impactos na 
vida da população. 
 Este movimento de supressão e invisibilidade das populações ribeirinhas e das 
questões ligadas à obra podem ser observados na produção retórica do jornal em outros 
momentos. Por isso importa construir uma análise que aborde os processos micro e 
macrossociais relacionados às práticas jornalísticas (SANTOS, 2016), abordando a 
trajetória do Rivale na divulgação das temáticas relacionadas à construção da barragem. 
12 
 
 
 
Nesse sentido, os textos não podem ser interpretados sem pensar a relação 
contextual dos sujeitos políticos e da população, inclusive os impactos socioeconômicos 
que possivelmente foram invisibilizados na retórica discursiva do Rivale. 
 Por isso, se justifica a escolha da análise do discurso como método para o 
entendimento dos “ditos e não ditos”, como ressalta a pesquisadora Marialva Barbosa 
(2010) ao abordar os procedimentos metodológicos no estudo da história dos meios de 
comunicação. Para ela, é necessário compreender a história como um processo 
complexo, no qual estão engendradas relações sociais, culturais, falas e não ditos, 
silêncios que dizem mais do que qualquer forma de expressão. Neste sentido, a questão 
posta para esta pesquisa foi: De que forma o discurso jornalístico no Rivale pode ter 
provocado o silenciamento das questões socioeconômicas envolvidas na construção da 
barragem de Sobradinho? 
Assim, para dar conta da questão posta, delineou-se como objetivo geral analisar 
o discurso jornalístico promovido pelo jornal Rivale no período da construção da 
Barragem de Sobradinho. Assim sendo, nos propomos a: 1) analisar a contribuição dos 
dois cronistas e um articulista na promoção do debate público; 2) investigar como as 
produções jornalísticas abordavam as questões circunscritas à obra; e 3) identificar as 
formas de silenciamento das questões sociais e econômicas na narrativa jornalística. 
 
1.4BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA. 
 
As bases teórico-metodológicas deste estudo ancoram-se nas pesquisas do tipo 
quali-quatitativa. Ela é quantitativa, “porque constitui suas raízes no pensamento 
positivista lógico, enfatizando o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos 
mensuráveis da experiência humana” (SILVEIRA; CORDONA, 2009, p.33) e 
qualitativa porque se preocupa com os aspectos da realidade que não podem ser 
quantificados, centrando-se na compreensão e na explicação da dinâmica das relações 
sociais (BARBOSA, 2005, p.32)”. 
Num primeiro momento, foram realizados um levantamento sistemático acerca do 
veículo de comunicação e suas principais características, de acordo com o que 
recomendam Marialva Barbosa e Marcos Morel (2005). Esse levantamento foi realizado 
a partir da produção de inventários, onde foram identificados o nome dos profissionais 
que trabalhavam ou colaboraram com o periódico; número de páginas, editorias; 
13 
 
 
 
identificação de imagens; existência de anúncios publicitários; tipificação das 
mensagens conforme o conteúdo; leitores, distribuição e vendagem. 
Essas investigações se centraram em analisar as edições correspondentes aos 
anos de 1973, 1975, 1976 e 1979. A escolha pelo ano de 1973 representa o marco inicial 
da construção da barragem de Sobradinho, com a chegada do maquinário e dos 
trabalhadores de todo Brasil à região. 1975 e 1976 representam o período intermediário 
e é marcado por visitas de autoridades e marcos importante na construção como a festa 
de despedida realizada em Remanso, que seria inundada pelas águas do São Francisco e 
a abertura das comportas para a passagem do rio em julho de 1976. Já 1979 representa o 
marco final da construção e início das operações com o acionamento da primeira turbina 
geradora de energia no mês setembro deste mesmo ano. 
É importante ponderar a enorme quantidade de jornais avaliados. Dos anos 
delimitados, foram 139 periódicos que passaram por um processo minucioso de análise. 
Se não tivéssemos delimitado os anos, a concretização deste trabalho seria impossível, 
já que o número de edições do Rivale disponíveis no Acervo Maria Franca Pires supera 
com facilidade trezentas edições. 
Diante disso, este trabalho seguiu orientações metodológicas que compreendeu a 
abordagem qualitativa a partir da dimensão dos rastros e dos fragmentos no contexto de 
uma microhistória da comunicação (SANTOS, 2016). Nesta perspectiva, os produtos 
comunicativos estabelecem uma intrínseca relação do texto com o seu referente, como 
afirma Marialva (2010a;2010b). Para a autora, essa relação produz rastro, o que permite 
que as mensagens do passado possam chegar até o presente, podendo ser interpretados 
pelo pesquisador em sua dimensão narrativa como ações de comunicação. 
Michel de Certeau (2008) também aborda essa questão ao considerar que os 
rastros também podem ser compreendidos dentro de um quadro conceitual de uma 
escrita da história. Para o historiador, o conhecimento histórico é um fazer-se, uma 
operação, que organiza procedimentos próprios ao objeto analisado e seus métodos de 
pertinência. 
Conforme orienta Lowenthal (1998), os fragmentos são artefatos que nos 
chegam ao presente pelo conjunto de materiais produzidos em um passado e em 
determinadas condições. Estes fragmentos do passado trazem um discurso ideológico 
por isso nesse estudo, utilizamos a Análise do Discurso a partir das obras de Fiorin 
14 
 
 
 
(1988), Brandão (1994) e Carvalho (2012), tomando como base a exterioridade social6 
como marca fundamental para o entendimento das formações discursivas e ideológicas. 
Nesse sentido, a análise do discurso, segundo Brandão (1994), deve ser pensada 
considerando as dimensões apontadas por (MAINGUENEAU, 1987 apud BRANDÃO, 
1994, p. 17). 
 
O quadro das instituições em que o discurso é produzido, as quais 
delimitam fortemente a enunciação; 
Os embates históricos, sociais, etc. que se cristalizam no discurso; 
O espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo no 
interior de um interdiscurso. 
 
 
Assim, as formações discursivas são compreendidas como o espaço no qual os 
“enunciados são formados e reformulados para reforçar uma ideia” (BRANDÃO, 1994, 
p.46). Entende-se ainda que se faz necessário uma reflexão mais ampla da linguagem, 
que leva em consideração o fato de que ela é uma instituição social que compartilha 
ideologias e serve como mediação entre os homens. 
Vale salientar que alguns estudos foram desenvolvidos por pesquisadores na 
região de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, como os de Amaral (2019), Magalhães (2018), 
Rabelo (2014), Santos (2016) e Santos (2018). Tais estudos tematizam a questão da 
Barragem de Sobradinho nas diversas linhas de análise, desde a história à comunicação. 
Por isso, a importância em ressaltá-los. 
Tais investigações, realizadas no projeto de pesquisa, precisavam ser ampliadas 
para um trabalho de conclusão de curso, justamente por sua importância no campo de 
estudos da história da Imprensa no vale do São Francisco. O tema da construção da 
barragem de Sobradinho já foi utilizado como temática norteadora em outras produções 
acadêmicas, mas o que se pretende investigar está no campo do jornalismo e, portanto, 
tem seu caráter de ineditismo. 
Nesse sentido, pesquisar o debate público promovido por um jornal juazeirense 
no contexto da construção da barragem de Sobradinho, investigando como as produções 
jornalísticas baseadas nos princípios de imparcialidade e na retórica do “progresso” 
pode ter gerado silenciamento das questões sociais e econômicas, constitui-se numa 
produção inédita na região. Por essas razões, julga-se crucial dar continuidade a esta 
 
6 Na perspectiva francesa, segundo Brandão, a linguagem passar a ser um fenômeno que deve ser 
estudado não só em relação ao seu sistema interno, como também enquanto formação ideológica, que se 
manifesta através de uma competência socioideológica (BRANDÃO, 1994. P.17). 
15 
 
 
 
pesquisa iniciada no projeto de iniciação científica, produzindo um material que 
contribua para o campo de estudos da história da imprensa no Vale do São Francisco. 
 
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) está dividido em seis partes. Na 
primeira é apresentada a temática da pesquisa, expondo uma breve contextualização, 
a problemática, os caminhos metodológicos, assim como os objetivos geral e 
específicos. 
Na segunda parte é analisado o contexto social no qual o jornal Rivale estava 
inserido, compreendendo a exterioridade social, que influi na compreensão das 
formações discursivas e ideológica, a partir da ideia de que elas são produzidas por 
alguém, num determinado lugar. 
A terceira parte analisa o discurso ambivalente referente à construção da 
Barragem de Sobradinho e como eles são apresentados nas páginas do Jornal Rivale, 
principalmente a partir da visão de articulistas. Nesta parte, em especial, debruça-se 
na análise do discurso de Walter Dourado para compreender como o debate público 
promovido pelo jornal, a partir dele, foi dimensionado. 
A quarta parte analisa a retórica discursiva interpelada por outro cronista, Ermi 
Ferrari, no intuito de compreender seu posicionamento ambivalente a respeito da 
obra. 
A quinta parte debruça-se na análise do discurso interpelado pelo bispo da 
diocese de Juazeiro, Dom José Rodrigues. Sem dúvida, a participação do bispo na 
divulgação dos impactos promovidos pela obra foi fundamental. 
 A sexta e última parte traz a trajetória do jornal na divulgação da temática 
ligada à construção da Barragem de Sobradinho, a partir da retórica do progresso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
2. O DESENVOLVIMENTISMO E O JORNAL RIVALE 
 
2.1 O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTISMO 
 
Terminada a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento econômico tornou-se 
ideia central no cenário internacional e o estadode “subdesenvolvimentismo” de parte 
dos países era algo que precisava ser superado. Nesse sentido, “as sociedades deveriam 
crescer economicamente e entrar na “modernidade” ou fracassar” (OLIVEIRA, 2018, p. 
317). Nesse contexto, explorar os recursos naturais disponíveis e utilizá-los para projeto 
de desenvolvimento se tornou o foco dos países subdesenvolvidos como o Brasil. Por 
isso a exploração hidrelétrica foi fortemente promovida pelo Estado Brasileiro a partir 
da década de 1940. 
Como destaca Oliveira (2018, p. 318) “o desenvolvimentismo foi a ideologia 
econômica que criou a base para o projeto de industrialização no Brasil desde os anos 
1940, com o objetivo de superar o atraso e a pobreza no país” Esse projeto era baseado 
na ideia de industrializar o país com a participação direta do Estado, através de 
financiamentos em setores estratégicos, como o setor elétrico. 
Esse pensamento surgiu desde o período do governo de Getúlio Vargas, se 
estendendo-se ao período do governo de Juscelino Kubitscheck e se perpetuando até 
meados dos anos 1980, período final da ditadura militar brasileira. 
Ainda de acordo com Oliveira (2018), a ditadura militar consolidou o modelo 
estatal de geração hidrelétrica a partir de reformas institucionais e da autonomia dada a 
Eletrobrás. Assim, esse tipo de política desenvolvimentista, pautado na construção de 
barragens e no impulsionamento do setor elétrico brasileiro, constituía em práticas 
“essenciais ao projeto econômico do regime e sua consequente legitimação, como assim 
ressalta Oliveira (2018, p.334): 
. 
Durante a ditadura, houve a construção de 61 grandes barragens 
hidrelétricas que aumentaram a capacidade instalada de 4.894 MW a 
37.437 MW entre 1964 e 1985, e a eletrificação residencial, que 
chegou a 75% em 1985 contra somente 45% em 1970. 
 
O chamado milagre econômico (1969-1973) influenciou no aumento da 
demanda energética, influenciado pelo aumento rápido do Produto Interno Brasileiro 
(PIB). Nesse contexto, o governo militar aproveitando-se do percurso favorável da 
17 
 
 
 
economia brasileira, colocando-se na posição de financiador de grandes projetos 
faraônicos, com o intuito de garantir sua legitimidade nas esferas do poder. Como 
define Oliveira (2018, p. 335): 
 
Nesse período, e particularmente durante a presidência de Emílio 
Médici (1969-1974), o regime não se absteve de usar o crescimento 
econômico e os grandes projetos para se legitimar no comando do 
país. Na imprensa e na televisão, as palavras de ordem ‘Brasil 
Potência’ e ‘Para frente Brasil’ eram repetidas em um frenesi 
nacionalista como forma de promover o projeto político do governo 
militar. 
 
 
Conforme Rabelo (2014), em fevereiro de 1972, o presidente Emilio Garrastazu 
Médici lançou o Projeto para o Vale do São Francisco, o Provale. Mas a base desse 
projeto vem desde a década de 1940, quando se criou duas instituições na região que são 
bases para o desenvolvimentismo que o Estado queria implantar no Nordeste brasileiro. 
O primeiro projeto foi a criação da Comissão do Vale do São Francisco (CVASF), com 
fundo permanente de 1% das receitas do país, e atribuição de cuidar da educação, 
transportes, agricultura e regularização do Rio para a navegação; o segundo projeto foi a 
criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), responsável pelos 
investimentos em eletrificação na região. É nesse período que se iniciam as obras da 
barragem de Paulo Afonso. 
A CVSF foi sucedida pela Superintendência do Vale do São Francisco (Suvale), 
criada pelo decreto-lei 292, de 28 de fevereiro de 1967, numa reestruturação 
institucional que mudou as bases de sua política, afirmando que 
 
Era também um redirecionamento das práticas de intervenção, que iria 
focar muito mais na agricultura irrigada, e descurar, por exemplo, da 
navegação, dada a predominância dos transportes rodoviários no país 
desde o final dos anos 1950 (RABELO, 2014, p. 108). 
 
 
A Suvale foi sucedida pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São 
Francisco (Codevasf), criada em 16 de julho de 1974 pela Lei 6.088. A Codevasf 
procurou fomentar e executar, no âmbito de sua influência, o objetivo do Governo 
Federal, na linha do “progresso” da região, utilizando-se dos recursos hídricos com a 
criação dos chamados Projetos de Irrigação - zonas agrícolas doadas ou compradas por 
agricultores, chamados colonos. Em 06 de janeiro de 2000, a Codevasf teve sua área de 
https://pt.wikipedia.org/wiki/16_de_julho
https://pt.wikipedia.org/wiki/1974
18 
 
 
 
atuação ampliada para a bacia do rio Parnaíba, incorporando à sua sigla o vale do 
Parnaíba, sendo denominada a partir de então de Companhia do Desenvolvimento dos 
Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). 
Assim, o Provale, o grande Projeto para o progresso regional, surgiu com a 
finalidade de reunir e materializar os projetos das diferentes instituições, com vistas ao 
desenvolvimento efetivo, que foram abandonados antes do regime militar. É nesse 
contexto que surgiu o projeto de construção da barragem de Sobradinho. 
 Mas, de acordo com o jornal Rivale, a ideia de construir Sobradinho é antiga e 
vem desde o governo Jânio Quadros. Na edição de número 207, do ano de 1976, o 
periódico destaca na coluna “Sobradinho é notícia” um bilhete escrito por Jânio 
Quadros, na época em que era presidente da república. O Rivale o define como “homem 
de vassouras” e informa que ele desejava transferir os equipamentos de Três Marias 
para Sobradinho. O jornal transcreve o seguinte: 
 
Recomendar ao Superintendente da CVSF conceder prioridade 
absoluta a conclusão do projeto técnico da Barragem de Sobradinho, 
ao recondicionamento das máquinas necessárias, para início da obra 
em começo d e1962”. 
2º- Recomendar, logo orçada a obra, igualmente o entendimento do 
Superintendente, com o Diretor Executivo da Sudene e Sr. Ministro da 
Viação ou diretor geral do DNOCS, para elaboração com o Sr. 
Ministro da Fazenda do esquema financeiro de empreendimento. 
3º- Determinar aos mesmos órgãos disciplinares no Orçamento de 
1962, a parte dos recursos que caberá a cada contribuir, ou seja 50% 
para a CVSF e 25% para a SUDENE, das despesas. 
4º- Decidir logo concluído e orçado o projeto, se sua construção será 
feira administrativamente ou se em regime de concorrência pública 
como ocorreu em Três Marias (RIVALE, 1976, ed. 207, p. 3). 
 
 
 Constata-se que o projeto Sobradinho era pensando desde o período de Jânio, ou 
seja, antes mesmo da tomada de poder por parte dos militares em 1964. O jornal ainda 
ressaltou nesta edição, que a barragem, antes da sua construção, passou por uma série de 
“desvantagens e bruscas paradas decorrentes de mudanças da política governamental”, 
não mencionado em hipótese nenhuma, a mudança na conjuntura política depois da 
“Revolução”, como era encarada pelo Rivale, as comemorações do 31 de março. O 
jornal, em seguida questiona: “Será que se ele não tivesse renunciado, Sobradinho teria 
sido construído 10 anos antes?” Deixou assim, a critério dos seus leitores a análise e 
resposta da questão. 
19 
 
 
 
O projeto Sobradinho foi criado para regularizar o fluxo de água necessário para 
gerar energia na Usina de Paulo Afonso, e fez parte do projeto desenvolvimentista 
assumido pelo governo militar na década de 1970. De acordo com De Souza (2007) a 
obra 
 
 
[...] foi decidida, junto com tantas outras grandes obras de 
infraestrutura, nos gabinetes do governo militar, sem consultar o povo, 
sem maiores preocupações com o meio ambiente ou com os impactos 
negativos que o represamento do Rio São Francisco poderia produzir 
no futuro. Sobrava dinheiro no mercado internacional para 
empréstimos para os países em desenvolvimento e os planejadores 
oficiais da pátria tinham centenas de projetos faraônicos prontos para 
serem colocados em prática. Alguma autoridade com o peito cheio de 
medalhas tomou a decisãoe disse ‘faça-se’. Ninguém questionava 
uma ordem dessas naquela época (DE SOUZA, 2007, p.1). 
 
 
Como ninguém questionava, é importante ressaltar o papel da imprensa nas 
divulgações dos projetos desenvolvimentistas, o que fez gerar forte legitimidade social. 
Em Juazeiro, norte da Bahia, apreende-se a importante participação do Rivale nesse 
processo. Tendo como base a retórica do progresso, o periódico foi indispensável nas 
divulgações relacionadas à construção da barragem, principalmente a partir da coluna 
“Sobradinho é notícia”, que abordaremos posteriormente. 
 
2.2 O DESENVOLVIMENTISMO E O JORNAL RIVALE 
 
Desde que iniciou suas atividades no ano de 1972, o Rivale se posicionava 
atento às questões sociais consideradas mais urgentes, se lançando como o porta-voz 
dos anseios da população. Nesse mesmo período, o jornal já justificava que seu 
surgimento só foi possível, em razão do surto de desenvolvimento que Juazeiro 
atravessava nos últimos anos e que por causa disso, se fazia necessário ter um veículo 
capaz de ser o porta-voz do “progresso”, fato que pode ser observado na décima edição 
do periódico de 15 de julho de 1972, em comemoração aos 94 anos de emancipação 
política da cidade de Juazeiro: 
 
O surto de desenvolvimento que Juazeiro vem atravessando nos 
últimos anos, consolidando sua posição de município líder da região 
do São Francisco, foi a principal razão para o surgimento do RIVALE. 
É lógico que precisávamos de um órgão capaz de levantar a bandeira 
do nosso progresso, porta-voz dos anseios da população da região, 
20 
 
 
 
levando a todos os recantos da Pátria a mensagem de um povo 
empenhado na construção do futuro (RIVALE, 1972, ed.10, p.1). 
 
 
A bandeira do progresso é latente e era o conceito associado pelo periódico ao 
desenvolvimento dos municípios de médio porte. A própria linha editorial fazia 
referência à defesa do progresso e das políticas públicas desenvolvimentistas, assumidas 
pelo Governo Militar durante a década de 1970. 
 
 Figura 1 - Caderno especial “Sobradinho em debate” (30ª edição do Rivale) 
 
Fonte: Arquivo Maria Franca Pires – UNEB/DCH III. 
21 
 
 
 
 
A produção de cadernos especiais dava enfoque a estas políticas 
desenvolvimentistas, ao progresso e à construção da barragem de Sobradinho, tida pelo 
Rivale como “a redentora do Nordeste”. Para exemplificar, o caderno especial 
“Sobradinho em Destaque”, com 10 páginas, foi distribuído na 30ª edição, de 15 de 
abril do ano de 1973. 
No texto de abertura, o jornal destaca que o caderno especial está circulando 
para tratar do tema ligado à barragem de Sobradinho. Observa-se que o jornal recorre à 
narrativa do progresso para dar ênfase à obra, naturalizando e invisibilizando a situação 
dos ribeirinhos, como no exposto abaixo: 
 
É verdade que algumas cidades irão desaparecer para dar lugar a um 
grande lago formado pelas águas represadas. Mas a coisa não é tão 
drástica como se anuncia. As providências cabíveis e humanas estão 
sendo tomadas para que ninguém fique desabrigado ou prejudicado 
(RIVALE, 1973, ed. 30, p1). 
 
 
Este movimento de supressão e invisibilidade das populações ribeirinhas pode 
ser observado na produção retórica do jornal em outros momentos. Voltando a análise 
do caderno especial, observa-se que esta intenção de invisibilizar o modo de vida 
ribeirinho e também esteve presente no relatório enviado em 14 de junho de 1972 pelo 
engenheiro responsável da construção da barragem, Eunápio Peltier de Queiroz, ao 
Presidente das Centrais Elétricas Brasileiras S/A, Mário Penna Bhering. 
Tal relatório de teor “confidencial” ganhou os destaques Rivale depois de ter 
sido lido na integra pelo Deputado Estadual Jayro Sento-Sé na Assembleia Legislativa 
da Bahia em 5 de abril de 1973. No relatório são analisados os aspectos gerais da obra, 
além das características geográficas e sociais da região de Juazeiro. Ao se referir à 
população ribeirinha, o engenheiro argumenta que o habitante da região, 
especificamente o rural, é “extremamente pobre e subdesenvolvido”, condicionado ao 
rio: 
 
 O ‘barranqueiro’ é o homem totalmente condicionado ao rio que tudo 
lhe dá. Vive isolado e auto-suficiente. Analfabeto, sem usufruir 
qualquer benefício de comunicações de massas, seus contatos 
humanos restritos ao seu próprio nível, com os vizinhos e nas feiras, - 
sua mentalidade não pode evoluir, considerando-se primitivo, sem 
poder aquisitivo, sem aspirações, conformado e dominado pelo pavor 
22 
 
 
 
ao desconhecido. Assim, agarram-se ao rio que lhe assegura a 
sobrevivência e às crenças que o confortam. – Além de tudo, com 
justa razão, profundamente sentimental para com o seu rio, por 
afeição, - O VELHO CHICO. Socialmente é, pois, um ser 
desvinculado, cultural e economicamente, do resto país”. (RIVALE, 
1973, ed. 30, p5). 
 
 
De fato, o discurso de Peltier de desqualificação do barranqueiro e de seu modo 
de vida tradicional, foi constituído na tentativa retórica de dar legitimidade a outro 
discurso: ao do capitalismo e suas transformações. Negar a existência do ribeirinho, 
atrelando-lhe a figura de um ser quase “desprezível”, é dar legitimidade a ideia de 
progresso, suscitada pelo Estado a partir da construção da barragem de Sobradinho. 
Na concepção de Dupas (2007, p. 5), “a legitimação econômica permite ao 
sistema de dominação adaptar-se às novas exigências de racionalidade”. Para isso, se 
faz necessário uma despolitização da grande massa: “Com a opinião pública perdendo 
sua função política, surge a ideologia do progresso técnico, no qual ciência e técnicas 
assumem o papel de garantidores da inevitável redenção” (DUPAS, 2007, p. 5). 
Nesse sentido, é possível verificar que Peltier ao desqualificar o ribeirinho e seu 
modo de vida, em seu discurso, estava constituindo a estratégia de fazer a opinião 
pública se render ao discurso do Estado, como garantidor do “progresso” e das “boas 
novas”. O ideário de progresso, defendido pelos agentes desse Estado, políticos e 
suscitado no Rivale, também pode ter promovido a despolitização da grande massa, o 
que gerou uma forte tendência de legitimação social, coadunada com as falas do poder 
local, via suas representações políticas. 
Como Peltier representava a figura do Estado, era socialmente compreendido 
como um técnico (entra aí o conceito técnico x científico supracitado anteriormente) de 
vasto conhecimento sobre o assunto, sendo lhe atribuído à figura de alguém que sabe o 
que faz garantidor da “inevitável redenção” supracitada por Dupas (2007). 
O pensamento do engenheiro Peltier de Queiroz foi reproduzido por 
representantes das elites locais em outras ocasiões. Em artigo assinado na edição 52, de 
15 e 16 de setembro de 1973, por Hailton Alves da Silva, o ribeirinho foi representado 
como alguém que tinha medo da obra e não estava preparado para receber os impactos 
favoráveis do “progresso” decorrente da magnitude do empreendimento, como 
observado no trecho em destaque 
 
23 
 
 
 
De há muito tem sido um dos motivos que vem se constituindo um 
bicho de sete cabeças, mormente para os ribeirinhos que choram, 
pranteiam, quando pensam em abandonar seus velhos berços que os 
viram nascer e iriam para lugares outros por se determinar. Com 
efeito, Sobradinho nos trará ciclópicos benefícios, entretanto, muitos 
obscurecem isso, particularmente, os habitantes das margens 
sanfranciscanas, dizem inclusive que esta ‘barragem desgraçada’ vem 
nos matar, e não só a nós, como aos nossos bichinhos. Dou-lhe razões, 
pois não estão preparados para receber este benefício, e por que não 
esta dádiva (RIVALE, 1973, ed. 52, p.11). 
 
 
No trecho em destaque, apreende-se que o autor estava ciente do temor da 
população com os impactos da obra e o possível deslocamento da população para outras 
regiões, como a Serra do Ramalho, próximo a Bom Jesus da Lapa, 700 km distante da 
barragem. ConformeCosta (1990), o trabalho de convencimento das famílias a serem 
realocadas iniciou em 1974, mas até maio de 1977 apenas 1013 famílias das 4.000 
tinham aceitado sair dos seus espaços territoriais de referência. 
Ao se fazer a leitura do texto, fica evidente o menosprezo à cultura ribeirinha e a 
relação da população com seu espaço territorial e de referência social, com os seus 
costumes e tradições. A intenção do autor foi demonstrar um alinhamento com o 
discurso das Forças do Estado e da ideia de progresso, representado no discurso do 
engenheiro Eunápio e na retórica discursiva do jornal, para valorizar aspectos como a 
captação de recursos para região, como pode ser observado no trecho em destaque: 
 
Nós, no entanto, já temos um certo grau de conhecimento, 
reconhecemos categoricamente que os frutos do progresso hão de 
brotar deste empreendimento que está convulsionando e atraindo a 
atenção nacional. Comprová-lo-emos mais tarde (RIVALE, 1973, ed. 
52, p.11). 
 
 
Neste sentido, é preciso compreender a função do jornal como aparelho 
ideológico do Estado para reforçar os interesses políticos e consolidar a política 
desenvolvimentista propagada pelo governo militar a partir da ideia de “progresso” que 
na definição de Dupas (2007), não passa de um discurso hegemônico de parte 
dominante das elites e se constitui em 
 
[...] um mito renovado por um aparelho ideológico interessando em 
nos convencer que a história tem um destino certo e glorioso - que 
dependeria mais da omissão embevecida das multidões do que da sua 
vigorosa ação e da crítica de seus intelectuais (DUPAS, 2007, p. 77). 
 
24 
 
 
 
 
Analisando a conjuntura política da época verifica-se que o Rivale colaborou 
para reproduzir as políticas desenvolvimentistas propagadas pelo regime militar, cuja 
retórica do “progresso” se constituiu como uma estratégia enunciativa para defender ou 
justificar o modelo de governo vigente. Essa estratégia enunciativa se constituía na 
naturalização dos impactos circunscritos à obra, bem como na tentativa retórica de 
deslegitimar o modo de vida tradicional do ribeirinho. 
Enfim, o discurso interpelado pelo Rivale o caracteriza como responsável por 
gerar silenciamento ou naturalização das questões mais urgentes. Justamente por isso é 
que os textos não podem ser interpretados sem pensar a relação contextual dos sujeitos 
políticos. 
 
2.3 O RIVALE E O DISCURSO DA OBJETIVIDADE 
Ao seguir a tendência de modernização e profissionalização do jornalismo 
brasileiro, o Rivale passou a se preocupar em atrelar sua imagem a de um jornal neutro, 
preocupado com os fatos e com as verdades, como pode ser observado no texto 
encontrado no caderno especial intitulado “Sobradinho em Destaque”, de 15 de abril do 
ano de 1973: “As explicações que o povo espera, a verdade que merece ser analisada, as 
conclusões que devem ser sacadas, tudo isto em farto material. Você encontra neste 
caderno especial”. (RIVALE, 30 ª edição, 1973, p1). 
 Inferiu-se que havia um interesse da organização de legitimar o periódico como 
um veículo imparcial ou desapaixonado. Na edição de número 35, por exemplo, 
publicada em 20 de maio de 1973, o jornal deu destaque ao requerimento interpelado 
pelo Deputado Luís Prisco Viana. Tal requerimento foi aprovado pela Comissão de 
Minas e Energia e convocou o engenheiro responsável pelas obras de construção da 
Barragem de Sobradinho, Eunápio Peltier de Queiroz para prestar esclarecimentos 
relacionados à construção da barragem. 
 No requerimento, o deputado citou o Rivale como órgão representativo na 
região ao publicar regularmente aspectos da construção da barragem. Em nota, o jornal 
reiterou: “Justifica-se esta referência ao nosso jornal pelo fato, já por todos conhecido, 
de que verdadeiramente fazemos imprensa séria, objetiva e, sobretudo desapaixonada” 
(RIVALE, 35 ª edição, 1973, p1). 
25 
 
 
 
No editorial intitulado “Mais uma etapa vencida”, na última edição do ano de 
1979, o Rivale destacou que o ano representou mais uma etapa vencida de lutas para 
entregar semanalmente (aos sábados), “um jornal com as notícias de interesse da 
comunidade, compromissado com a verdade, com o equilíbrio e com a imparcialidade”. 
Como afirma Rabelo (2014): 
 
Desde os meses iniciais de 1972, RIVALE se relaciona com as 
questões políticas, como o lançamento do Provale, mas, como é 
próprio à definição histórica de regras no discurso da imprensa, 
buscava ajustar sua linguagem, no sentido de procurar demonstrar 
imparcialidade, não demonstrar filiação partidária, mas sem deixar de 
demarcar a mudança que se dizia ser perceptível [...] (RABELO, 
2014, p.109). 
 
 Apesar de identificar um discurso ambivalente, reverberado por alguns 
colaboradores que partem para a defesa das populações ribeirinhas e manutenção da 
navegação, é notório publicações que partem para a defesa do projeto, que incluem a 
regularização do rio e a ampliação da irrigação a partir da criação do lago. Rabelo 
(2014, p. 110) ressalta que faces distintas do problema podem ser encontradas, mas de 
modo geral, os enunciados, a seleção de temas e a forma como eram publicadas as 
colunas e notícias reverberam uma posição favorável à obra, “uma tônica dominante da 
imprensa”. 
Entende-se que a matéria-prima do jornalismo - a notícia – é resultado de 
processos complexos de interação entre os agentes sociais, os jornalistas, as fontes e a 
sociedade. Por isso, é que se considera que os meios de comunicação, particularmente 
os preocupados em divulgar informação jornalística, não podem ser mais entendidos 
como reflexo da realidade ou como veículos detentores de “verdades” e “fatos” 
objetivos, mas como participantes ativos na construção da realidade social, como 
recomendam os estudos estruturalistas e interacionistas (TRAQUINA, 2004, p.28). 
Nesse sentido, é necessário compreender que os paradigmas de objetividade e 
imparcialidade, suscitado pelo jornal Rivale para dar legitimidade social à sua atividade 
jornalística não passa de um mito ainda reverberado por muitas outras organizações de 
imprensa atualmente. Para a jornalista Naíma Saleh (2018, p.2), na verdade, “a 
26 
 
 
 
imparcialidade não existe, mas é falsamente promovida a custo de uma intencionalidade 
velada”. E é essa intencionalidade que será abordada nas partes seguintes deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
3. O DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O PROGRESSO NO RIVALE 
 
3.1 RIVALE E A DEFESA DA BARRAGEM 
 
A tendência de alinhamento do jornal à defesa da construção da barragem de 
Sobradinho, com base na retórica do progresso foi verificada nas 139 edições do Rivale. 
Esse posicionamento editorial é percebido principalmente na coluna " Sobradinho é 
notícia”, que o jornal manteve desde o ano de 1973, com notas informativas sobre o 
andamento das obras, as desocupações, a construção das novas cidades, pagamento das 
indenizações, as visitas dos engenheiros e outras autoridades, bem como os 
investimentos na produção e geração de energia do sistema CHESF. Como afirma 
Rabelo (2014, p. 105): 
 
Em diferentes momentos, mas com ênfase, quando da proximidade 
dos aniversários da obra, a coluna informa com boa dose de disfarce 
dos conflitos, a respeito dos “entendimentos amigáveis para a 
desapropriação e relocação de propriedades e benfeitorias. 
 
 
 Esses “entendimentos amigáveis” suscitados por Rabelo podem ser notados no 
destaque abaixo, retirado da edição de número 143, do ano de 1975 do periódico: 
 
[...] as relocalizações e indenizações marcham gradativamente 
sobretudo no ponto de vista das aceitações, pois existem os 
discordantes que sem dúvida, depois de verificados ‘in totum’ o 
imóvel e mesmo uma melhoria de preço, terminam entregando e 
passando a escritura de venda (RIVALE, 1975, ed. 143, p.4). 
 
 
 Sobre o trabalho realizado peloCIRES/Sobradinho, setor de indenizações da 
CHESF, ainda nesta edição, o jornal destacou que o sistema de indenizações da 
Companhia merece elogios, “pois ninguém que possui posses de terra e deseje 
indenizações, sai de lá contrariado”. O jornal ainda complementou: “É, pois, de grande 
realce, interpretar os desejos de um eficiente projeto, como o que ora estamos 
apreciando em execução” (RIVALE, 1975, Ed. 143, p.4). 
 Percebe-se que a forma como é descrita a questão das indenizações, subtende-se 
que a CHESF em ato de bondade, ofertava um valor maior ao imóvel, muito acima do 
que ele valia de fato. Quanto às adjetivações suscitadas é possível observar um apreço 
pelo projeto considerado “eficiente” e uma tentativa retórica de promover a imagem da 
CHESF, o que nos faz inferir um discurso de naturalização do processo de indenizações, 
28 
 
 
 
como se todo o processo fosse feito de forma pacífica. Mas não foi bem assim. A coluna 
“Diocese em Foco” contesta a propaganda oficial, principalmente neste aspecto. Mais 
isso é algo que será abordado posteriormente no capítulo cinco. 
Em contrapartida, os inventários também revelaram outras vozes discursivas, 
representadas nas colunas de Ermi Ferrari, Walter Dourado e o bispo da Diocese de 
Juazeiro, Dom José Rodrigues Lima, seja para discutir a construção da obra, os 
impactos à navegação, bem como a questão das indenizações. E por que estes 
articulistas são considerados importantes? Porque nos permitem identificar 
ambivalências discursivas presentes no jornal, contrapondo o discurso massificante de 
forte legitimidade social como foi o da construção da Barragem de Sobradinho. 
 
 
3.2 WALTER DOURADO E A RETÓRICA DO PROGRESSO. 
 
 
Desde as primeiras publicações do jornal, Walter Dourado se colocou disponível 
para acompanhar as discussões em torno da obra na coluna “Histórias, Tradições, 
Comentários e Sugestões”. O primeiro texto é intitulado “Celeuma em torno da 
barragem de Sobradinho”, datado do ano de 1972. 
No ano de 1973, nas edições 47 e 48, ele retornou ao tema com o artigo “A bacia 
fluvial do São Francisco e a barragem de Sobradinho”. Para esta pesquisa, foi crucial 
entender como o cronista discutiu os impactos socioeconômicos da obra para a região, 
questionando em determinados momentos se o projeto era o mais recomendado para as 
condições socioespaciais da região. 
Na edição 47 do Rivale, Walter iniciou sua argumentação afirmando que não 
costuma entrar em “seara alheia”, mas “a grande significação social dos problemas que 
envolvem a construção das barragens” - aqui ele não especifica a barragem de 
Sobradinho - dão-lhe o direito de tecer comentários em torno do assunto. Para o autor, o 
uso, a utilização, o tratamento e as transformações a serem feitas nas bases fluviais 
obedeciam a alguns acordos e convenções de âmbito internacional. 
Walter destacou que “o rio São Francisco abrange o envolvimento desta ordem” 
e o decreto número 3.749, de 1867, “faculta franca navegação internacional até Penedo, 
no Baixo Rio”. O cronista afirmou que, o que concerne ao aproveitamento da queda 
d´água, foram estabelecidas algumas normas para conciliar os interesses dos diversos 
29 
 
 
 
“Estados interessados”, sem prejuízos para as atividades particulares ou da comunidade 
em geral. 
Esta determinação foi prevista, em 1965, quando uma comissão de Estudos dos 
Jurisconsultos para o Comitê Jurídico Latino-Americano elaborou um projeto que 
aconselhava a realização de um exame para analisar a questão do aproveitamento dos 
sistemas fluviais, estabelecendo recomendações que envolviam obras de sentido 
agrícola e industrial. Dentre as recomendações, Walter ressaltou o item 4 que afirma 
que: “essa utilização não deve prejudicar a navegação, nem causar prejuízos 
substanciais”. 
Ao trazer essa discussão, Walter Dourado tinha consciência da importância 
econômica da navegação local e os interesses da elite política com a formulação de 
novos projetos para a região como a implantação dos projetos de irrigação que 
utilizariam a água do rio. Segundo Rabelo (2014), grupo de vozes concorrentes ao 
Projeto de Sobradinho eram veiculados no jornal juazeirense, entre eles estão o que 
defendiam as vantagens da obra, incluindo a regularização da vazão do rio; a agricultura 
irrigada a partir da criação do lago artificial, e outros grupos preocupados com a 
manutenção da navegação e a situação da população atingida. Nestes artigos, Walter se 
mostra porta-voz de um desses grupos. 
Ao citar que existem normas e diretrizes internacionais, Walter enviesou por um 
caminho de defesa a um projeto transparente, que não prejudicasse a navegação na 
região. Ele salientou que algumas considerações precisavam ser analisadas, “a fim de 
esclarecer algo obscuro, quanto à execução do Projeto da Barragem de Sobradinho”. O 
articulista julgava que não havia possibilidade de criar um plano unilateral, em 
detrimento de outros fatores e necessidades, e que cabia ao Governo, o exame e estudo 
necessários, como escreveu na 47a edição, de 11 e 12 de agosto de 1973: 
 
Porque cabe ao Governo examinar os projetos e guiar o estudo no 
sentido de que favoreçam todos os setores. No caso da Barragem de 
Sobradinho, os três aspectos: a) Aproveitamento da força hidráulica; 
b) formação de um sistema de irrigação; c) continuidade da 
navegação. É necessário, pois, que haja planejamento coordenado, 
sempre que estiver em jogo os interesses empresariais, das empresas 
públicas ou privadas, no sentido do aproveitamento dos cursos d´água, 
cachoeiras (RIVALE, 1973, ed. 47, p 8). 
 
 
30 
 
 
 
Na 48ª edição, de 18 e 19 de agosto, Walter continuou a reflexão, salientando 
que todo planejamento é atributo do Governo da União. O cronista defendeu que, em 
princípios econômicos sadios, “deve-se considerar que a melhoria das condições de vida 
é perfeitamente compatível com os conceitos de liberdade política e do direito de 
propriedade”, mas salientou que não se deve aceitar transformações que não coadunem 
com o conceito de “progresso e desenvolvimento com base na solidariedade humana”. 
Para o historiador não haveria progresso se a construção da obra trouxesse 
impactos negativos aos setores sociais, principalmente os vinculados aos interesses da 
manutenção da navegação. Mas, como visto nas edições analisadas, a linha editorial do 
jornal considerava que a obra atendia a lógica do desenvolvimento regional. 
Neste sentido, é preciso compreender a função do jornal como aparelho 
ideológico do Estado para reforçar os interesses políticos e consolidar a política 
desenvolvimentista propagada pelo governo militar a partir da ideia de “progresso” que, 
para Dupas (2007), se constitui como “o mito renovado por um aparato ideológico 
interessado em convencer que a história tem destino certo e glorioso”. 
Analisando a conjuntura política da época é de se apreender que o Rivale 
colaborou para reproduzir as políticas desenvolvimentistas propagadas pelo regime 
militar, cuja retórica do “progresso” se constitui como uma estratégia enunciativa para 
defender ou justificar o modelo de governo vigente. 
Na década de 1970, no contexto da política desenvolvimentista, se opor a 
narrativa do progresso não era uma atitude comum, e muitas vezes difícil. Joseph 
Bandeira, poeta juazeirense, pertencente à classe política intelectualizada local suscitou 
na edição 167, de 15 de novembro de 1975, versos que demonstram os anseios do 
progresso na vida dos ribeirinhos: 
 
Cresce um lamento no seio do povo... cresce um lamento! A ele, junto 
minha voz sentindo-a, neste momento. Acentuada de mágoa, funda e 
remansosa mágoa! 
 
Porque aceito o que está feito. Concordo onimodamente com o que me 
exige o progresso e glorifico o futuro da região sanfranciscana, 
mesmo com o sacrifício das cidades atingidas pelas águas que serão 
represadas na terrível...barragem... de Sobradinho... 
 
Tenhoos olhos no futuro. Vejo as indústrias chegando. Pesados 
investimentos da grande empresa privada. E mais oportunidades de 
trabalho a quem precisa. E a terra se povoando, se cosmopolitizando, 
turistas nos procurando o clima se transformando melhorando nossa 
vida (RIVALE, 1975, ed. 167 p. 5). 
31 
 
 
 
 
Há um reconhecimento da situação desesperadora das populações atingidas que 
é sufocada com a esperança dos desdobramentos que a obra trará para a região. Se opor 
ao projeto da barragem de Sobradinho era delicado naquele momento, principalmente 
pela legitimidade social que o projeto conseguiu graças ao papel da Imprensa. No 
contexto de ditadura militar, então, era mais difícil ainda: Como define Rabelo (2014) 
 
A margem de enunciação de Joseph Bandeira era, portanto, delicada, 
tendo em vista que, tratando-se de um projeto do regime militar, com 
uma ampla legitimidade social construída pelos discursos de 
engenheiros, de políticos e da imprensa, e com pouca possibilidade de 
crítica, a construção era celebrada junto com seus desdobramentos no 
sentido do esperado desenvolvimento do Vale, mesmo que o poeta 
quisesse fazer coro aos lamentos (RABELO, 2014 p. 107). 
 
 
Talvez Walter Dourado tenha passado pela mesma situação. Por isso, 
destacamos sua coluna por evidenciar algumas vozes minoritárias que não tinham 
ganhado visibilidade no discurso jornalístico. Na coluna, Dourado chegou a definir seu 
pensamento como possível “devaneio”, mas com a intenção de ressaltar para os 
executores da obra “pontos nevrálgicos” na questão do aproveitamento do potencial 
energético do Rio São Francisco. 
Walter Dourado trouxe questionamentos inclusive sobre novas possibilidades de 
aproveitamento do curso do rio, preservando a relação do ribeirinho e o pertencimento 
ao território. Em de seus questionamentos ele pergunta: “Não seria possível a formação 
do lago fora do leito do rio?’’ Walter presume que sim, retomando o questionamento: 
“E por que não se preferiu desta forma, menos prejudicial aos interesses dos 
ribeirinhos?”. 
Walter posteriormente estimulou o leitor a refletir o motivo de tantas variações 
no projeto, mudanças e indecisões. Para consolidar sua linha argumentativa, Walter 
parafraseou um comentário do professor Vasconcelos Sobrinho, em entrevista para a 
revista Realidade no ano de 1972, defendendo que com base nas condições ecológicas 
da região, uma superbarragem como a de Sobradinho seria inconveniente, devido aos 
altos índices de evaporação. Ele argumentou ainda que o ideal seria a construção de 
barragens médias, pois assim, não estariam sujeitas a grandes perdas com a evaporação, 
como observado no destaque abaixo: 
 
32 
 
 
 
A solução, então, seria uma série de barragens médias que limitando 
os reservatórios praticamente à calha do rio, não estarão sujeitas à 
grandes perdas por evaporação e manterão a vazão do rio em 
condições ideais durante os meses de estio (RIVALE, 1973, ed. 48, 
p.8). 
 
 
O colunista concluiu que, desde o início, acompanhou as discussões em torno da 
obra, e avaliou que o Programa Especial para o Vale do São Francisco (Provale) poderia 
utilizar o rio para três fins – Navegação, Irrigação e energia. Nestas mesmas edições, 
dois artigos de Ermi Ferrari foram encontrados que demonstravam uma preocupação 
com os modos de vida das populações que viviam às margens do rio São Francisco, 
como os beradeiros e barraqueiros. Assim, o pensamento de Walter Dourado 
representava grupos locais interessados em discutir a construção da Barragem de 
Sobradinho, preservando, principalmente, a navegação do rio São Francisco. 
Walter retomou a questão em 1975, na edição 163, mais uma vez na coluna de 
sua autoria intitulada “História, Tradições, Comentários e Sugestões”. O cronista 
destacou a realização do 1º Seminário da Bacia do S. Francisco, e tratou nesta edição 
sobre o tema da “Energia de Paulo Afonso, os planos de eletrificação e a economia do 
Vale”. Uma tentativa retórica de tratar da problemática do desenvolvimento regional, 
“procurando despertar atenções para nossas prementes necessidades” (RIVALE, 1975, 
Ed. 163, p. 8). Na verdade, Walter demonstrou aqui, um anseio que ele já tinha 
apresentado em 1973, como explicitado anteriormente. 
O “plano de eletrificação do Nordeste” foi apresentado como tese oficial do 
Brasil na reunião internacional realizada em Madri nos dias 5 a 9 de junho do ano de 
1960. Ele destacou que o referido plano ensejou a oportunidade de ampliar os estudos 
sobre o assunto, com providências objetivas de explorar de modo definitivo fontes 
energéticas oriundas da força hidráulica da Cachoeira de Paulo Afonso. Desse modo, 
iniciou-se um planejamento e exploração do setor pela CHESF, que foi criada em 1945 
e organizada de modo definitivo a partir do ano de 1947. 
O plano, segundo o autor, visava suprir as necessidades de consumo das 
populações carentes de força e luz com ênfase na eletrificação rural, para efeito de regar 
terras situadas às margens do rio São Francisco, fomentando assim a industrialização e 
as atividades agropecuárias. 
Walter afirmou ainda que o referido plano foi executado a partir de 1959 por 
etapas sucessivas que compreende o sistema Leste (Salvador e Recife) e os sistemas 
33 
 
 
 
regionais (Cariri, Fortaleza, Rio Grande do Norte, São Francisco, Senhor do Bonfim). 
Interessa a ele o sistema Regional de Senhor do Bonfim e o São Francisco que foram 
destinados a suprir a região Ribeirinha do Rio São Francisco nos estados de 
Pernambuco e Bahia. 
 Previa-se inicialmente a instalação de uma linha de tronco de 132 KV 
(quilovolt), partindo de Cabrobó e também a instalação de redes de distribuição em seis 
cidades. As cidades seriam Cabrobó, Boa Vista, e Petrolina, em Pernambuco, e Casa 
Nova, Remanso e Pilão Arcado, na Bahia. 
Walter Dourado ainda esclareceu que um projeto anterior originado na Câmara 
dos Deputados pretendia trazer a energia de Salvador até a cidade de Senhor do Bonfim, 
onde se implantaria a subestação abaixadora para distribuição a outras cidades 
circunvizinhas como é o caso de Juazeiro. Esse plano foi abandonado, substituído por 
outro, com linhas gerais do primeiro. 
O cronista finalizou afirmando que a região ribeirinha foi prejudicada, 
paralisando a continuidade dos serviços pela margem esquerda do rio, a partir de 
Cabrobó, passando por Petrolina para servir aos três municípios baianos citados. Mais 
tarde, a fim de suprir a necessidade de luz e força em Petrolina, deliberou-se pela 
construção de linha de transmissão atravessando o São Francisco, proveniente da 
estação abaixadora de Juazeiro. O sistema São Francisco, segundo o Walter, ficou 
representando “letra morta”. 
Em seguida, o cronista afirmou que o potencial energético produzido no São 
Francisco através de sua “portentosa” cachoeira, esteve a serviço de outras plagas, ou 
outros interesses – que ele não menciona quais. “Alega-se sempre a pequena 
rentabilidade desta região, que permanece prejudicada por essa espoliação”. 
Ou seja, na concepção de Walter, a região ribeirinha sempre esteve 
“abandonada” nos planos de eletrificação do Estado. Ao citar, “os prejuízos”, há um 
tom de indignação no cronista. 
Sem citar a barragem de Sobradinho, Walter Dourado defendeu que uma nova 
estrutura social e econômica poderia ser criada compatível com a civilização moderna, 
como pode ser verificado no destaque abaixo: 
 
Os nossos barranqueiros desfrutarão certamente dos privilégios 
decorrentes da implantação de nova estrutura social e econômica, 
quando será criada a nova mentalidade e métodos de ação compatíveis 
com a civilização moderna. Pena é que o sacrifício a que se 
34 
 
 
 
submeterão os habitantes da gleba sanfranciscana possa perdurar, 
porquanto, segundo cálculos dos entendidos nos próximos 20 anos, 
recursos da energia hidráulica serão substituídos pela energia nuclear 
(RIVALE, 1975, ed.163, p.4). 
 
 
Percebe-se que Walter Dourado mais uma vez trouxe críticas ao projeto que se 
instalava. Nota-se que há um reconhecimento de que “uma nova estrutura social e 
econômica” seria proporcionada com a obra, bem como do sacrifício a que os 
barranqueiros seriam submetidos. Suspeita-se também que o cronista chega a considerar 
“desnecessário” o sacrifício que se impôs às populações atingidas, já que na concepção 
do cronista, outas fontes de geração de energia, como a nuclear, estava por vir. Por isso 
suspeitamos que Walter Dourado concordava em parte, com os planos de eletrificação 
proporcionados pelo projeto, mas não com a forma como ele estava sendo executado, 
prejudicando os ribeirinhos e principalmente a navegação. 
Na edição seguinte de número 164, baseado ainda no primeiro Seminário da 
Bacia Sanfranciscana que aconteceu no Grande Hotel de Petrolina/PE, o cronista 
afirmou que a realização do evento merecia louvores pela iniciativa interpelada pela 
Comissão da Bacia do São Francisco e pela Câmara Federal. Isso porque na visão dele, 
foram permitidas críticas contundentes ao governo e seus organismos específicos, 
valendo tais manifestações desfavoráveis às providências governamentais, como 
verdadeiros protestos às desigualdades, desajustes, inadaptações de leis e regulamentos 
aplicados no sentido de resolver problemas e dirimir questões ao bem-estar da 
coletividade. 
O cronista ainda destacou que embora possa admitir críticas desfavoráveis a este 
ou àquele processo, não é lícito desencorajar iniciativas como esta (de realização do 
seminário), “útil e oportuna”. Walter ainda reconhece que até agora ninguém foi 
contemplado com os benefícios diretos – aqui ele se refere à barragem, e isso lhe dá, em 
sua concepção, o direito de reclamar “melhor tratamento”. 
Pautando agora suas preocupações com a questão dos ribeirinhos, Walter 
Dourado presume que as novas cidades ofertariam melhor tratamento às populações 
atingidas pela construção da Barragem de Sobradinho. Sua coluna destacou que 
 
[...] A nova estrutura decorrente da criação de novas cidades 
possibilitará melhor tratamento às laboriosas populações que se 
aglomerarão em torno do lago, porquanto habitantes das margens do 
rio da unidade Nacional não deseja se afastar muito dos locais onde 
35 
 
 
 
nasceram, viveram e viram morrer seus antecedentes. (RIVALE, 
1975, ed. 164, p.6). 
 
 
Em seguida, o autor defendeu que “cumpre aos poderes tomarem os anseios, as 
angústias e os justos desejos desta população digna de melhor sorte” e que se tome em 
consideração as proposições apresentadas no Seminário para proveito “do bem-estar do 
homem sofredor do Nordeste”. Ele concluiu com uma frase de efeito: “as providências 
não poderão mais sofrer adiamento. Urge medidas enérgicas, concretas”. 
Walter parece mudar de perspectiva ou de ponto de vista em relação à barragem 
de Sobradinho na edição de número 316 de 1979 depois que chuvas torrenciais 
provocaram inundações na sede e no interior do munícipio de Juazeiro. Na coluna 
“História, tradições, comentários e sugestões,”, o cronista retoma a temática do Rio São 
Francisco e da Barragem de Sobradinho no intuito de esclarecer, segundo ele, sobre as 
enchentes e a situação das cidades ribeirinhas após a construção da barragem de 
Sobradinho, as possíveis consequências e as providências que o poder público precisa 
adotar. 
Justificando que não tem vocação para futurólogo, porém, valendo-se da sua 
experiência e vivências no Vale (o colunista já morou na cidades das margens dos rios 
Pirapora, São Francisco e Januária, no estado de Minas e em Paratinga, Barra do Rio 
Grande, Casa Nova antiga e agora Juazeiro, no estado da Bahia), teceu comentário a 
sobre a problemática do Rio, sem pretensões de apresentar formas técnicas, credencial 
que segundo o próprio autor, ele não possui. 
Walter reconheceu que as enchentes e inundações de cidades ribeirinhas sempre 
foram uma constante na vida do vale e isso só acontecia devido à “imprevidência” dos 
habitantes, que constroem suas cidades à beira do rio, quando existia a possibilidade de 
construí-las equidistante, ou seja, longe do alcance das enchentes. Citando a cidade de 
Juazeiro, Walter informou que as primeiras edificações foram feitas na antiga passagem 
do juazeiro, no antigo Horto Florestal, no intuito de facilitar a realização do intercâmbio 
de mercadorias para outras cidades. 
Já com referência a segurança da Barragem de Sobradinho, Walter declarou: 
 
[...] Somos de opinião que não há perigo de qualquer espécie, visto 
como ela foi feita com técnica e segurança absoluta. Por outro lado, 
corroborando a opinião do Dr. Eunápio, julgamos que, se não fora a 
36 
 
 
 
barragem, a cidade de Juazeiro já estaria em começo de ser inundada 
(RIVALE, 1979, ed. 316, p.5). 
 
 
A coluna “Sobradinho é notícia” destaca nesta mesma edição que a CHESF 
Projeto Sobradinho, atendendo uma solicitação da Prefeitura Municipal de Juazeiro e da 
Comissão de Defesa Civil, fechou as comportas da barragem de Sobradinho para a 
reconstrução da Barragem de São Geraldo, que não suportou a cheia da Lagoa do 
Carmo, no bairro São Geraldo, em Juazeiro. Essa solicitação foi atendida num domingo, 
no dia 11 fevereiro de 1979, a zero hora e constituiu numa medida preventiva para 
impedir que a cidade fosse invadida pelas águas do rio São Francisco em outro 
momento. 
O Rivale destacou que essa medida foi uma demonstração de que a barragem 
não estava com nenhum problema de vazamento ou fissura como “boa parte dos 
maliciosos tem propalado7”. O jornal destaca ainda que 
 
Se houvesse algum problema com a barragem, não haveriam 
condições de serem fechadas as comportas, pois inevitavelmente os 
vazamentos e fissuras propalados seriam aumentados diante da 
pressão do grande volume d´agua que o reservatório começou a deter 
desde o momento de fechamento da barragem (RIVALE, 1979, ed. 
316, p.4). 
 
 
O Rivale mencionou que a imprensa do país ainda continuava divulgando 
informação de que a enchente estava sendo motivada pela Barragem de Sobradinho, 
quando, na verdade, o que estava causando a enchente, segundo o Rivale, eram as 
chuvas torrenciais que caíram nas cabeceiras do São Francisco. 
Quando se compreende que a Imprensa do país suscitava a ideia de que a 
barragem de Sobradinho tinha relação com as enchentes, como descreveu o Rivale na 
coluna “Sobradinho é notícia” na página 4, e logo depois nota-se o posicionamento de 
Walter Dourado quando este declara na página 5 da mesma edição que a barragem nada 
tem a ver com as enchentes, é de se suspeitar que Walter tenha sido interlocutor do 
Rivale para defender um posicionamento que talvez não seja dele, mas da organização 
ao qual fez parte. Como destaca Benetti (2008) o sujeito do discurso é um sujeito 
disperso e desencontrado”, ou seja: 
 
 
7 O mesmo que “divulgado”. 
37 
 
 
 
O indivíduo ao falar, assume uma posição determinada, de onde deve 
falar naquele contexto de produção. Isso quer dizer que o mesmo 
individuo, cindido em diversos sujeitos, move-se entre diversas 
posições de sujeito. A mesma regra vale para o indivíduo que ler 
(BENETTI, 2008, p. 118). 
 
Figura 2 – Edição 316 do Rivale: O Rio São Francisco e a Barragem de Sobradinho. 
(Coluna de Walter Dourado) 
 
 
Fonte: Arquivo Maria Franca Pires – UNEB/DCH III. 
38 
 
 
 
Nesse sentido, é possível presumir que Walter ao assumir esse posicionamento de 
afirmação de que a Barragem nada tinha a ver com as enchentes em Juazeiro, trouxe 
uma posição pré-determinada, ou seja, uma posição editorial do próprio Rivale. Como o 
mesmo mencionou em sua coluna não ser futurólogo, utiliza-se do fato de ter morado 
em outras cidades ribeirinhas do São Francisco, para possivelmente justificar sua 
mudança de posicionamento. 
Mas como o sujeito pode se mover entre diversas posições de outros sujeitos, ou 
discursos,

Continue navegando