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Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 1 Isis Rabelo Med103 Patologias embrionárias Atresia esofágica A obstrução (atresia) da luz do esôfago ocorre com uma incidência de um em cada 3.000 a 4.500 recém nascidos.Aproximadamente um terço das crianças afetadas nasce prematuramente. Esse defeito está associado à fístula traqueoesofágica em mais de 90% dos casos . A atresia esofágica ocorre em decorrência do desvio do septo traqueoesofágico para uma direção posterior ; e, da separação incompleta do esôfago do tubo laringotraqueal. A atresia isolada (5% a 7% dos casos)resulta de uma falha na recanalização esofágica durante a oitava semana de desenvolvimento.Um feto com atresia esofágica é incapaz de deglutir o líquido amniótico; consequentemente, o líquido não consegue passar para o intestino para absorção e nem transferir-se através da placenta para o sangue materno para ser eliminado. Isto resulta em polidrâmnio, o acúmulo de uma quantidade excessiva de líquido amniótico. Geralmente, recém-nascidos com atresia esofágica parecem saudáveis inicialmente. Contudo, a salivação excessiva pode ser notada logo após o nascimento, e o diagnóstico de atresia esofágica deve ser considerado se o bebê rejeitar a alimentação oral com regurgitação imediata e tosse. A incapacidade de se passar um cateter através do esôfago para o estômago sugere fortemente atresia esofágica. Estenose esofágica O estreitamento da luz do esôfago (estenose) pode ocorrer em qualquer lugar ao longo do esôfago, mas, geralmente, ocorre no seu terço distal, como uma rede ou como um longo segmento, com a luz estreita como um fio. A estenose resulta da recanalização incompleta do esôfago durante a oitava semana, ou de uma falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos esofágicos na área afetada. Estenose hipertrófica do piloro Anomalias do estômago são pouco frequentes, com exceção da estenose hipertrófica do piloro. Esse defeito afeta um em cada 150 homens e uma em cada mulheres. Em bebês há um espessamento muscular marcante do piloro, a região do esfíncter distal do estômago . Os músculos circulares e, em menor grau, os músculos longitudinais da região pilórica são hipertrofiados (aumentados em volume). Isto resulta em grave estenose do canal pilórico e obstrução da passagem dos alimentos. Como resultado, o estômago se torna muito distendido e o bebê expele o conteúdo do estômago com uma força considerável (vômitos em jato). O alívio cirúrgico da obstrução pilórica por piloromiotomia, na qual é feita uma incisão longitudinal através da parede anterior do canal pilórico, é o tratamento habitual. A causa da estenose pilórica congênita é desconhecida, mas a elevada taxa de concordância em gêmeos monozigóticos sugere que fatores genéticos podem estar envolvidos. A, Ultrassonografia abdominal transversal demonstrando a espessura da parede do músculo pilórico maior que 4 mm (distância entre as cruzes). B, Imagem horizontal demonstrando o comprimento de um canal pilórico maior que 14 mm em um bebê com estenose pilórica hipertrófica. C, Radiografia com contraste do estômago em um bebê do sexo masculino com 1 mês de idade com estenose pilórica. Observe a extremidade pilórica estreita (seta) e a região fúndica (F) do estômago distendida, preenchida com material de contraste. Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 2 Isis Rabelo Med103 Estenose duodenal A oclusão parcial da luz duodenal, ou estenose duodenal , geralmente resulta da recanalização incompleta do duodeno, resultando de vacuolização defeituosa . A maioria das estenoses envolve a porção horizontal (terceira) e/ou a porção ascendente (quarta) do duodeno. Devido à estenose, o conteúdo do estômago (geralmente contendo bile) é, frequentemente, vomitado. Atresia duodenal A oclusão completa da luz do duodeno ou atresia duodenal não é comum. Durante o desenvolvimento duodenal inicial, a luz duodenal está completamente ocluída por células epiteliais. Se não ocorre a recanalização completa da luz , um curto segmento do duodeno fica ocluído.O bloqueio ocorre quase sempre na junção dos ductos biliar e pancreático, ou na ampola hepatopancreática, uma área dilatada dentro da papila duodenal maior que recebe o ducto biliar e o ducto pancreático principal; ocasionalmente, o bloqueio envolve a porção horizontal (terceira) do duodeno. A investigação de famílias com atresia duodenal familiar sugere um padrão de herança recessiva autossômica.Em recém-nascidos com atresia duodenal, os episódios de vômito começam poucas horas após o nascimento. Os vômitos quase sempre contêm bile; em geral, há distensão do epigástrio, a área central do abdome, em razão de o estômago e a parte superior do duodeno estarem demasiadamente cheios. A atresia está associada à êmese biliar (vômitos de bile) porque o bloqueio ocorre distal à abertura do ducto biliar. A atresia pode ocorrer como uma anomalia isolada, mas outros defeitos congênitos estão frequentemente associados a ela, como o pâncreas anular.Anomalias cardiovasculares, anomalias anorretais em rotação do intestino . A presença de êmese não biliar não exclui a atresia duodenal como um diagnóstico, porque algumas crianças terão obstrução proximal à ampola. É importante mencionar que aproximadamente um terço das crianças afetadas tem síndrome de Down e, além disso, 20% são prematuras. Polidrâmnio (excesso de líquido amniótico) também ocorre porque a atresia duodenal impede a absorção normal pelos intestinos de líquido amniótico ingerido. O diagnóstico de atresia duodenal é sugerido pela presença do “sinal da dupla bolha” em radiografias ou em ultrassonografias .. Essa aparência é causada pelo estômago e pelo duodeno proximal distendidos. Anomalias do fígado Pequenas variações na lobulação do fígado são comuns; entretanto, as anomalias congênitas do fígado são raras. Variações nos ductos hepáticos, no ducto biliar e no ducto cístico são comuns e clinicamente significativas. Ductos hepáticos acessórios podem estar presentes em aproximadamente 5% da população, e a percepção de sua possível presença é de importância cirúrgica (p. ex., no transplante de fígado). Os ductos acessórios são canais estreitos que passam do lobo direito do fígado para dentro da superfície anterior do corpo da vesícula biliar. Em alguns casos, o ducto cístico se abre para um ducto hepático acessório e não para o ducto hepático comum. Atresia biliar extra-hepática Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 3 Isis Rabelo Med103 Esta é a anomalia congênita mais grave do sistema biliar extra-hepático, e ocorre em um a cada 5.000 a 20.000 nascidos vivos. A forma mais comum de atresia biliar extra-hepática (presente em 85% dos casos) é a obliteração dos ductos biliares na ou sobre a porta hepática, uma profunda fissura transversal na superfície visceral do fígado. Especulações anteriores de que existe uma falha da canalização dos ductos biliares pode não ser verdade. A atresia biliar (ausência de uma abertura normal) dos ductos biliares principais pode resultar de uma falha do processo de remodelação no hilo hepático ou de infecções ou reações imunológicas durante o desenvolvimento fetal tardio. A icterícia ocorre logo após o nascimento e as fezes são acólicas (cor de argila), e a urina de cor escura. A atresia biliar pode ser atenuada cirurgicamente na maioria dos pacientes, mas em mais de 70% dos indivíduos tratados, a doença continua a progredir. A agenesia da vesícula biliar raramente ocorre e geralmente está associada à ausência do ducto cístico. Pâncreas ectópico O pâncreas ectópico (tecido pancreático ectópico) está localizado separado do pâncreas. O tecido pode se localizar na mucosa do estômago, no duodeno proximal,no jejuno, no antro pilórico e no divertículo ileal (de Meckel). Esse defeito geralmente é assintomático e é descoberto incidentalmente (p. ex., por tomografia computadorizada); entretanto, ele pode se apresentar com sintomas gastrointestinais, obstrução, sangramento ou até mesmo câncer. Pâncreas anular Apesar de o pâncreas anular ser raro, o defeito justifica a descrição porque ele pode causar obstrução duodenal . A parte anular do pâncreas, semelhante a um anel, consiste em uma fina e achatada banda de tecido pancreático que envolve o duodeno descendente ou a sua segunda porção. Um pâncreas anular pode causar obstrução do duodeno. Bebês apresentam sintomas de obstrução intestinal completa ou parcial. A obstrução do duodeno se desenvolve caso ocorra inflamação (pancreatite) no pâncreas anular. O defeito pode estar associado à síndrome de Down, má rotação intestinal e defeitos cardíacos. Mulheres são afetadas com maior frequência do que homens. Um pâncreas anular provavelmente resulta do crescimento de um broto pancreático ventral bífido ao redor do duodeno . As porções do broto ventral bífido então se fundem com o broto dorsal, formando um anel pancreático. A intervenção cirúrgica pode ser necessária para o manejo dessa condição. A e B mostram a provável base embriológica de um pâncreas anular. C, Um pâncreas anular circundando o duodeno. Essa anomalia congênita produz obstrução completa (atresia) ou obstrução parcial (estenose) do duodeno. Baços acessórios Uma ou mais pequenas massas esplênicas (com cerca de 1 cm de diâmetro) de tecido esplênico totalmente funcional podem existir além do corpo principal do baço, em uma das dobras peritoneais, geralmente próximo ao hilo do baço, na cauda do pâncreas ou dentro do ligamento gastroesplênico . Em poliesplenia, vários pequenos baços acessórios podem estar presentes em uma criança sem o corpo principal do baço. Embora os vários baços sejam de tecido funcional, a função imune da criança ainda pode estar comprometida, resultando em uma suscetibilidade aumentada à infecção. O baço acessório ocorre em aproximadamente 10% das pessoas. Onfalocele congÊnita A onfalocele congênita é uma anomalia congênita que resulta na persistência da herniação do conteúdo abdominal na parte proximal do cordão umbilical . A herniação do intestino no cordão ocorre em aproximadamente um em 5.000 nascimentos, e a herniação do fígado e dos intestinos ocorre em aproximadamente um em 10.000 nascimentos. Até 50% dos casos estão associados a anormalidades cromossômicas. A cavidade abdominal é proporcionalmente pequena quando uma onfalocele está presenteporque faltou o estímulo para o seu crescimento. Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 4 Isis Rabelo Med103 É necessário o reparo cirúrgico da onfalocele. Onfaloceles menores podem ser tratadas com o fechamento primário. Uma redução estadiada com frequência é planejada se a desproporção víscero- abdominal for grande. Crianças com grandes onfaloceles também podem sofrer de hipoplasia pulmonar e torácica(subdesenvolvimento). A cobertura do saco hernial é o peritônio e o âmnio. A onfalocele resulta do crescimento prejudicado dos componentes mesodérmico (músculo) e ectodérmico (pele) da parede abdominal. Como a formação do compartimento abdominal ocorre durante a gastrulação, uma falha crítica de crescimento, neste momento, está muitas vezes associada a outras anomalias congênitas envolvendo os sistemas cardiovascular e urogenital. Hérnia umbilical Quando os intestinos retornam à cavidade abdominal durante a 10ª semana e posteriormente se herniam novamente através de um umbigo fechado de maneira imperfeita, forma-se uma hérnia umbilical. Esse tipo comum de hérnia difere de uma onfalocele. Em hérnias umbilicais, a massa protrusa (que geralmente consiste em uma parte do grande omento e do intestino delgado) é coberta por tecido subcutâneo e pele. Geralmente, a hérnia não atinge o seu tamanho máximo até o final do período neonatal (28 dias). Em geral, varia de 1 a 5 cm de diâmetro. O defeito por meio do qual a hérnia ocorre está na linha alba (uma banda fibrosa na linha média da parede abdominal anterior entre os músculos retos). A hérnia se protrai durante o choro, esforço ou tosse e pode ser facilmente reduzida através do anel fibroso do umbigo. Normalmente, acirurgia não é realizada, a menos que a hérnia persista até os 3 a 5 anos de idade. Gastrosquise A gastrosquise, um defeito congênito da parede abdominal (prevalência de um em 2.000) ,de um defeito lateral ao plano mediano da parede abdominal. O defeito linear permite a extrusão das vísceras abdominal sem envolver o cordão umbilical. As vísceras se protraem na cavidade amniótica e são banhadas pelo líquido amniótico. O termo gastrosquise, que significa, literalmente, “ estômago dividido ou aberto”, é um equívoco, pois é a parede abdominal anterior, não o estômago, que está dividida. Esse defeito ocorre geralmente no lado direito, lateral ao umbigo; é mais comum em homens do que em mulheres. A causa exata da gastrosquise é incerta, mas foram propostas várias sugestões, como a lesão isquêmica da parede abdominal anterior; a ausência da artéria onfalomesentérica direita; a ruptura da parede abdominal; a debilidade da parede causada por involução anormal da veia umbilical direita; e, talvez, a ruptura de uma onfalocele (herniação de vísceras dentro da base do cordão umbilical) antes que os lados da parede abdominal anterior tenham se fechado. Anomalias do intestino médio Defeitos congênitos dos intestinos são comuns; a maioria deles é composta de defeitos de rotação do intestino ou má rotação do intestino, que resulta da rotação e/ou fixação incompleta do intestino. A não rotação do intestino médio ocorre quando o intestino não gira à medida que ele volta à cavidade abdominal. Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 5 Isis Rabelo Med103 Como resultado, a porção caudal da alça do intestino médio retorna para o abdome primeiro, o intestino delgado encontra-se no lado direito do abdome e todo o intestino grosso se encontra do lado esquerdo. A rotação usual de 270° em sentido anti- horário não é completada, e o ceco e o apêndice ficam imediatamente inferiores ao piloro do estômago, uma condição conhecida como ceco e apêndice subhepáticos. O ceco encontra-se fixado à parede abdominal posterolateral por bandas peritoneais que passam sobre o duodeno .Essas bandas peritoneais e o vólvulo (torção) do intestino causam atresia intestinal (obstrução duodenal). Esse tipo de má rotação resulta de falha da alça do intestino médio em completar os 90° finais de rotação .Apenas duas porções do intestino estão ligadas à parede abdominal posterior, o duodeno e o colo proximal. Esse intestino inadequadamente posicionado e incompletamente fixado pode levar a uma torção do intestino médio ou vólvulo do intestino médio .O intestino delgado fica suspenso por um pedúnculo estreito que contém a artéria e a veia mesentéricas superiores. Quando o vólvulo do intestino médio ocorre, a artéria mesentérica superior pode ser obstruída, resultando em infarto e gangrena do intestino suprido por ela.Crianças com má rotação intestinal sãopropensas ao vólvulo e apresentam êmese biliar (vômitos de bile). Um exame radiográfico com contraste pode determinar a presença de anormalidade rotacional. Rotação invertida Em casos raros, a alça do intestino médio gira no sentido horário, em vez de girar no sentido anti- horário.Como resultado, o duodeno fica localizado anterior à artéria mesentérica superior, e não posteriormente a ela, e o colo transverso fica posterior à artéria mesentérica superior em vez de anterior a ela. Nessas crianças,o colo transverso pode ser obstruído pela pressão da artéria mesentérica superior. Em casos mais raros, o intestino delgado se localiza no lado esquerdo do abdome e o intestino grosso encontra-se no lado direito com o ceco no centro. Essa situação inusitada resulta da má rotação do intestino médio, seguida de falha de fixação dos intestinos. Ceco e apêndice sub-hepáticos Se o ceco adere à superfície inferior do fígado quando ele retorna ao abdome, ele é puxado para cima à medida que o fígado diminui de tamanho; como resultado, o ceco e o apêndice permanecem em suas posições fetais . O ceco e o apêndice sub- hepáticos são mais comuns no sexo masculino e ocorrem em aproximadamente 6% dos fetos. O ceco sub-hepático e o apêndice que o acompanha podem ser vistos em adultos. Quando essa situação ocorre, pode criar problemas no diagnóstico de apendicite e durante a remoção cirúrgica do apêndice (apendicectomia). Ceco móvel Em aproximadamente 10% das pessoas, o ceco possui uma mobilidade anormal. Em casos muitos raros, ele pode herniar para dentro do canal inguinal direito. Um ceco móvel resulta da fixação incompleta do colo ascendente .Essa condição é clinicamente significativa devido às possíveis variações na posição do apêndice e porque pode ocorrer a torção, ou vólvulo, do ceco . Hérnia interna Na hérnia interna, um raro defeito congênito, o intestino delgado passa pelo mesentério da alça do intestino médio durante o retorno dos intestinos ao abdome .Como resultado, forma-se uma bolsa semelhante a uma hérnia. Geralmente, essa condição não produz sintomas, e, frequentemente, só é detectada na autópsia. Estenose e atresia do intestino A oclusão parcial e a oclusão completa (atresia) da luz intestinal respondem por aproximadamente um terço dos casos de obstrução intestinal . A lesão obstrutiva ocorre mais frequentemente no duodeno (25%) e no íleo (50%). A extensão da área afetada varia. Essas anomalias resultam da não formação de um número adequado de vacúolos durante a recanalização do intestino (restauração da luz Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 6 Isis Rabelo Med103 intestinal). Em alguns casos, forma-se um septo transverso ou uma rede, produzindo o bloqueio . Outra causa possível de estenoses e atresias é a interrupção do suprimento sanguíneo para uma alça do intestino fetal, resultante de um acidente vascular fetal causado por um comprometimento da microcirculação associado ao sofrimento fetal, exposição a drogas ou vólvulo. A perda de suprimento sanguíneo leva à necrose do intestino e ao desenvolvimento de um cordão fibroso conectando as extremidades proximal e distal do intestino normal. A má fixação do intestino ocorre mais provavelmente durante a 10ª semana; ela predispõe o intestino ao vólvulo, estrangulamento e prejuízo do seu suprimento sanguíneo. Divertículo ileal e outros remanescentes onfaloentéricos A evaginação de parte do íleo é um defeito comum do trato digestório . Um divertículo ileal congênito (divertículo de Meckel) ocorre em 2% a 4% das pessoas, e é de três a cinco vezes mais prevalente no sexo masculino do que no feminino. Um divertículo ileal é de significância clínica porque ele pode se inflamar e causar sintomas que simulam apendicite. A parede do divertículo contém todas as camadas do íleo e pode conter pequenos fragmentos de tecidos gástrico e pancreático. Essa mucosa gástrica ectópica frequentemente secreta ácido, produzindo ulceração (úlcera) e sangramento . O divertículo ileal é um remanescente da porção proximal do ducto onfaloentérico. Tipicamente, parece uma bolsa digitiforme de aproximadamente 3 a 6 cm de comprimento que surge da margem antimesentérica do íleo , localizada 40 a 50 cm da junção ileocecal. Um divertículo ileal pode estar conectado ao umbigo por um cordão fibroso. Isto pode predispor a pessoa à obstrução intestinal porque o intestino pode se enrolar em torno desse cordão ou pode formar uma fístula onfaloentérica. Similarmente, cistos podem se formar dentro de um remanescente do ducto e podem ser encontrados dentro da cavidade abdominal ou na parede abdominal anterior . Duplicação do intestino A maioria das duplicações intestinais são císticas ou tubulares. As duplicações císticas são mais comuns do que as duplicações tubulares .As duplicações tubulares geralmente se comunicam com a luz intestinal . Quase todas as duplicações são causadas por falha da recanalização normal do intestino delgado; como resultado, são formadas duas luzes .segmento duplicado se localiza no lado mesentérico do intestino. O segmento duplicado frequentemente contém mucosa gástrica ectópica, que pode resultar em ulceração péptica local e sangramento gastrointestinal. Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 7 Isis Rabelo Med103 Megacolo congênito O megacolo congênito é uma doença hereditária multigênica dominante com penetrância incompleta e expressividade variável. Dos genes identificados até o momento, o proto-oncogene RET é o principal gene de suscetibilidade e responde pela maioria dos casos. Essa doença afeta um em cada 5.000 recém-nascidos e é definida como a ausência de células ganglionares (aganglionose) em uma extensão variável do intestino distal. Crianças com megacolo congênito (doença de Hirschsprung) carecem de células ganglionares autônomas no plexo mioentérico distal ao segmento dilatado do colo . O colo aumentado, ou megacolo, possui o número normal de células ganglionares. A dilatação resulta da falha de relaxamento do segmento aganglionar, que impede o movimento do conteúdo intestinal, resultando em dilatação. Na maioria dos casos, apenas o reto e o colo sigmoide estão envolvidos; ocasionalmente, os gânglios também estão ausentes nas porções mais proximais do colo. O megacolo é a causa mais comum de obstrução neonatal do colo e responde por 33% de todos os casos de obstrução neonatal; o sexo masculino é mais afetado do que o feminino (4 para 1). O megacolo resulta da falha das células da crista neural em migrar para dentro da parede do colo durante a quinta e a sétima semanas de desenvolvimento. Isso resulta em falha das células ganglionares parassimpáticas em se desenvolver nos plexos de Auerbach e Meissner. Anomalias anorretais A maioria das anomalias anorretais resulta do desenvolvimento anormal do septo urorretal, resultando na separação incompleta da cloaca nas porções urogenitais e anorretais . A sinalização Shh e FGF-10,bem como a ruptura da via de sinalização da β-catenina, foram implicados em defeitos congênitos do intestino posterior. Normalmente, existe uma comunicação temporária entre o reto e o canal anal dorsalmente à bexiga e ventralmente à uretra . As lesões são classificadas como baixas ou altas, dependendo se o reto termina superior ou inferior ao músculo puborretal, que mantém a continência fecal e relaxa para permitir a evacuação. Defeitos congênitos baixos da região anorretal O ânus imperfurado ocorre em um a cada 5.000 recém-nascidos, e é mais comum no sexo masculino do que no feminino . O canal anal pode terminar em fundo cego ou pode haver um ânus ectópico ou uma fístula anoperineal (passagem anormal) que se abre para o períneo .No entanto, o canal anormal pode abrir para a vagina, nas meninas, ou para a uretra, nos meninos . Mais de 90% dos defeitos congênitos baixos da região anorretal estão associados a uma fístula (p. ex., uma passagem ligando o reto e a uretra). Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 8 Isis Rabelo Med103 Na estenose anal, o ânus está em uma posição normal, mas o ânus e o canal anal são estreitos. Esse defeito provavelmente é causado por um ligeiro desvio dorsal do septourorretal à medida que ele cresce caudalmente. Na atresia membranosa, o ânus está em uma posição normal, mas uma fina camada de tecido separa o canal anal do exterior . O remanescente do tampão anal epitelial é fino o suficiente para projetar-se ao esforço e parece azul pela presença de mecônio (fezes de recém-nascido) superior a ele. Esse defeito resulta da falha do tampão epitelial em ser perfurado no final da oitava semana. Defeitos Congênitos Altos da Região Anorretal Na agenesia anorretal, uma anomalia alta da região anorretal, o reto termina superior ao músculo puborretal. Este é o tipo mais comum de defeito anorretal. Embora o reto termine em fundo cego, geralmente há uma fístula (passagem anormal) para a bexiga (fístula retovesical) ou para a uretra (fístula retouretral) em meninos, ou para a vagina (fístula retovaginal) ou o vestíbulo da vagina (fístula retovestibular) nas meninas. A agenesia anorretal com uma fístula é o resultado da separação incompleta da cloaca do seio urogenital pelo septo urorretal .Em recém-nascidos do sexo masculino com esta condição, o mecônio pode ser observado na urina, enquanto fístulas nas meninas resultam na presença de mecônio no vestíbulo da vagina. Na atresia retal, o canal anal e o reto estão presentes, mas são separados .segmentos do intestino estão ligados por um cordão fibroso, o remanescente da porção atrésica do reto. A causa da atresia retal pode ser a recanalização anormal do colo ou, mais provavelmente, um suprimento sanguíneo defeituoso. Ânus Imperfurado Problemas de orientação clínica Caso 11–1 Uma criança do sexo feminino nasceu prematuramente com 32 semanas de gestação de uma mulher de 39 anos de idade cuja gravidez foi complicada por polidrâmnios. A amniocentese às 16 semanas mostrou que o feto tinha trissomia do 21. O bebê começou a vomitar após algumas horas do nascimento. Foi observada a dilatação acentuada do epigástrio. Radiografias do abdome mostraram gás no estômago e na porção superior do duodeno, mas nenhum outro gás intestinal foi observado. Foi feito um diagnóstico de atresia duodenal. ✹ Onde ocorre normalmente a obstrução do duodeno? ✹ Qual é a base embriológica dessa anomalia congênita? ✹ O que causou a distensão do epigástrio do bebê? ✹ A atresia duodenal está comumente associada a outras anomalias como a síndrome de Down? ✹ Qual é a base embriológica do polidrâmnio neste caso? R: A ausência completa de lúmen (atresia duodenal) pode envolver a segunda (descendente) e terceira (horizontal) partes do duodeno. A obstrução resulta geralmente da vacuolização incompleta do lúmen do duodeno durante a oitava semana. A obstrução provoca a distensão do estômago e do duodeno proximal, pois o feto engole líquido amniótico. O recém-nascido engole ar, muco e leite. A atresia duodenal é comum em crianças com síndrome de Down, assim como em outros defeitos congênitos graves, como o pâncreas anular, as anomalias cardiovasculares, a má rotação do intestino médio e as anomalias anorretais. O polidrâmnio ocorre, pois a atresia duodenal impede a absorção normal do líquido amniótico pelo intestino fetal distal até a obstrução. O feto engole líquido amniótico antes do nascimento; no entanto, Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 9 Isis Rabelo Med103 por causa de atresia duodenal, este líquido pode não passar ao longo do intestino, ser absorvido para a circulação do feto e transferido através da membrana da placenta para a circulação da mãe, a partir da qual iria entrar em sua urina. Caso 11–2 O umbigo de um recém-nascido não cicatrizou normalmente. Estava inchado e havia uma secreção persistente a partir do coto umbilical. Uma fístula foi delineada com meio de contraste durante uma fluoroscopia. Essa fístula foi ressecada no nono dia após o nascimento, e verificou-se que a sua extremidade distal terminava em um divertículo do íleo. ✹ Qual é a base embriológica do trato sinusal? ✹ Qual é o nome clínico usual dado a este tipo de divertículo ileal? ✹ Este defeito congênito é comum? R: O ducto onfaloentérico normalmente sofre involução completa até a 10ª semana do desenvolvimento, momento em que o intestino volta ao abdome. Em 2% a 4% das pessoas, um remanescente do ducto persiste como um divertículo ileal (divertículo de Meckel); contudo, apenas um pequeno número desses defeitos um dia se torna sintomático. No presente caso, o ducto inteiro persistiu, de modo que o divertículo estava ligado à parede abdominal anterior e ao umbigo por uma fístula. Esse defeito é raro, e sua abertura externa pode ser confundida com um granuloma (lesão inflamatória) do coto do cordão umbilical. Caso 11–3 Um bebê do sexo feminino nasceu com uma pequena covinha onde deveria ser o ânus. O exame de sua vagina revelou mecônio e uma abertura de um trato sinusal na parede posterior da vagina. O exame radiográfico utilizando meio de contraste injetado através de um pequeno cateter inserido na abertura revelou uma fístula. ✹ Com qual parte do intestino grosso esta fístula provavelmente estaria conectada? ✹ Cite o nome desse defeito congênito. ✹ Qual é a base embriológica dessa condição? R: A fístula estava provavelmente ligada à extremidade cega do reto. O defeito, ânus imperfurado com uma fístula retovaginal, resulta da falha da formação de uma separação completa das partes anterior e posterior do seio urogenital pelo septo urorretal. Uma vez que o terço inferior da vagina se forma a partir da parte anterior do seio urogenital, ele se junta ao reto, que se forma a partir da parte posterior do seio. Caso 11–4 Um recém-nascido nasceu com uma massa brilhante, cinza-clara, medindo o tamanho de uma laranja que protraiu da região umbilical. A massa estava coberta por uma fina membrana transparente. ✹ Como esse defeito congênito é chamado? ✹ Qual é a origem da membrana que recobre a massa? ✹ Qual seria a composição da massa? ✹ Qual é a base embriológica dessa protrusão? R: Este defeito é uma onfalocele. Uma onfalocele pequena, como a descrita aqui, é por vezes erroneamente chamada de hérnia do cordão umbilical; no entanto, não deve ser confundida com uma hérnia umbilical, que ocorre após o nascimento e está coberta pela pele. A fina membrana que cobre a massa no presente caso seria composta pelo peritônio e o âmnio. A hérnia seria composta de pequenas alças intestinais. A onfalocele ocorre quando as alças intestinais não retornam para a cavidade abdominal, a partir do cordão umbilical durante a 10a semana. No presente caso, como a hérnia é relativamente pequena, o intestino pode ter entrado na cavidade abdominal e, então, herniado mais tarde, quando os músculos retos não se aproximam um do outro perto o suficiente para ocluir o defeito circular na parede abdominal anterior Caso 11–5 Um recém-nascido parecia normal ao nascimento; no entanto, vômitos excessivos e distensão abdominal se desenvolveram após algumas horas. O vômito continha bile e um pouco de mecônio havia sido eliminado. O exame radiográfico mostrou um estômago preenchido por gás e dilatado, alças do intestino delgado preenchidas por gás, mas não havia ar presente no intestino grosso. Isso indicou uma obstrução congênita do intestino delgado. ✹ Que parte do intestino delgado provavelmente estava obstruída? ✹ Como essa condição é chamada? Embriologia Clínica – Moore | Capítulo 11 – Patologias embrionárias do S. Digestório 10 Isis Rabelo Med103 ✹ Por que somente um pouco de mecônio foi defecado? ✹ O que provavelmente seria observado em uma cirurgia? ✹ Qual é a base embriológica provável dessa condição? R: O íleo estava provavelmente obstruído (atresia ileal). A atresia congênita do intestino delgado envolve o íleo com mais frequência; a próxima região mais acometida é o duodeno. O jejunoestá envolvido de forma menos frequente. Algum mecônio (fezes fetais) é formado a partir do epitélio fetal esfoliado e muco no lúmen intestinal. Ele está localizado distalmente em relação à área obstruída (segmento atrésico). Durante a cirurgia, o íleo atrésico provavelmente apareceria como um segmento estreito que liga os segmentos proximal e distal do intestino. A atresia ileal poderia ter resultado da falha de recanalização do lúmen; no entanto, é mais provável que a atresia tenha ocorrido devido a uma interrupção pré-natal do fornecimento de sangue para o íleo. Às vezes, uma alça do intestino delgado torna-se torcida, interrompendo seu fornecimento de sangue e causando necrose do segmento afetado. O segmento atrésico do intestino geralmente torna-se um cordão fibroso conectando os segmentos proximal e distal do intestino.
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