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Rebeka Freitas INTRODUÇÃO - O cálculo renal é uma massa cristalina que se forma nos rins e tem tamanho suficiente para ser clinicamente detectável, seja pelos sintomas que provoca ou por poder ser visualizado através de técnicas de diagnóstico por imagem. - Sua composição é determinante na avaliação clínica, no tratamento e no prognóstico da doença. - O componente mais comum desses cálculos é o oxalato de cálcio, mas estruturas de fosfato de cálcio, ácido úrico, estruvita e cistina também são encontradas. FATORES DE RISCO - Diversos fatores alimentares parecem aumentar o risco de desenvolvimento de nefrolitíase, incluindo a proteína de origem - animal, o oxalato, o sódio, a sacarose e a vitamina C. - Dietas com baixa ingestão de cálcio aumentam o risco de formação de cálculos. - Em contraste, os suplementos de cálcio parecem aumentar o risco de formação de cálculos. - A maior ingestão de proteína de origem animal pode aumentar a concentração urinária de cálcio e a excreção de ácido úrico e diminuir os níveis de citrato na urina, elevando o risco de formação de cálculos. - Maiores consumos de sódio ou de sacarose aumentam a excreção urinária de cálcio; essa excreção é diminuída com o uso de suplementos de potássio. - O volume diário de urina é um fator crucial para a formação de cálculos. - Doenças sistêmicas associadas a risco aumentado de formação de cálculos: doença de Crohn; hiperparatireoidismo primário; gota; diabetes melito; obesidade; procedimentos de derivação gástrica; acidose tubular renal. - Os indivíduos que apresentam histórico familiar de nefrolitíase são duas vezes mais suscetíveis à formação de cálculos. PATOGÊNESE -A formação de cálculos é resultante de um complexo processo físico-químico que leva à cristalização. - A formação de cristais na urina é principalmente uma função de sobressaturação, uma concentração acima da solubilidade do material em água. - Evidências sugerem que cálculos iniciais de oxalato de cálcio se formam no interstício medular e são compostos por fosfato de cálcio. - Os cristais de fosfato de cálcio então erodem junto às papilas agem como nichos para a deposição do oxalato de cálcio. - A cristalização do ácido úrico e do fosfato de cálcio é fortemente influenciada pelo pH urinário, mas este, por sua vez, exerce pouco efeito sobre a formação de cálculos de oxalato de cálcio. • Cálculos de Ácido Úrico: - O maior determinante da supersaturação e subsequente formação de cálculos de ácido úrico é o pH urinário. - Muitos pacientes que formam cálculos de ácido úrico não têm elevada excreção urinária de ácido úrico, mas apresentam urina persistentemente ácida com o pH urinário geralmente abaixo de 5,5 durante todo o dia. - Fatores que contribuem para diminuir o pH urinário incluem obesidade, diabetes melito tipo 2 e alto consumo de proteínas animais. • Cálculos de Estruvita: - Os cálculos de estruvita, também conhecidos como cálculos de infecção ou de fosfato triplo, formam-se apenas quando a porção superior do trato urinário é infectada por bactérias produtoras de uréase. - A hidrólise da ureia pela urease leva à instalação de um pH urinário suprafisiológico, maior que 8,0, e à formação da estruvita - Se a infecção não for adequadamente tratada, os cristais de estruvita podem crescer rapidamente, preencher todo o sistema coletor renal e originar um cálculo coraliforme. • Cálculos de Cistina: - Os cálculos de cistina se formam em indivíduos que possuem uma rara doença autossômica recessiva em que a reabsorção Rebeka Freitas renal tubular proximal dos aminoácidos dibásicos filtrados é deficiente. - Os cálculos de cistina são visualizados em radiografias simples, e frequentemente se manifestam como cálculos coraliformes ou bilaterais múltiplos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Um cálculo renal leva de semanas a meses para crescer até atingir um tamanho clinicamente detectável. Embora a eliminação de um cálculo seja um evento dramático, sua formação e seu crescimento costumam ser silenciosos do ponto de vista clínico. - Os sinais (como a hematúria) e os sintomas podem não se tornar aparentes por anos após a formação dos cálculos. - Assim, é importante lembrar que o aparecimento dos sintomas, classicamente atribuído ao movimento do cálculo pelo ureter, não esclarece exatamente quando ele foi formado. CÓLICA RENAL AGUDA - Quando um cálculo se movimenta da pelve renal para o ureter, uma dor súbita no flanco costuma surgir. - A dor possui intensidade suficiente para que o indivíduo procure atendimento médico, geralmente em uma unidade de pronto-socorro. - Embora o termo cólica seja usado, a dor não regride completamente, mas é intermitente. - A dor, que muitas vezes é acompanhada por náusea e, ocasionalmente, por vômitos, pode se irradiar para diferentes pontos do organismo, dependendo da localização do cálculo. - Se o cálculo estiver alojado na porção superior do ureter, a dor se irradia anteriormente; -Se o cálculo estiver na extremidade inferior do ureter, a dor pode se irradiar para o testículo ipsilateral nos homens ou para o lábio vaginal ipsilateral nas mulheres; por fim. - Se o cálculo estiver alojado na junção ureterovesical, os principais sintomas observados são a frequência e a urgência urinárias. - O paciente também pode apresentar hematúria macroscópica sem dor. - O exame físico, isoladamente, apenas em raras ocasiões leva ao diagnóstico, mas pode revelar indícios que direcionam a avaliação. - Nos casos típicos, o paciente sentirá dor e não será capaz de encontrar uma posição confortável. Sensibilidade costovertebral ipsilateral é comum. - Se o cálculo provoca obstrução urinária, sinais de infecção e sepse podem ser encontrados. - À bioquímica sérica os resultados costumam ser normais, mas ao hemograma pode ser constatada a leucocitose. - A urinálise deve sempre ser realizada em amostras frescas e, classicamente, revelará a presença de eritrócitos e leucócitos e, às vezes, de cristais. - A ausência de hematúria não exclui o diagnóstico de nefrolitíase, já que a urina não fluirá do ureter para a bexiga caso haja uma obstrução ureteral completa. - O diagnóstico é confirmado por um estudo de imagem apropriado. - A modalidade diagnóstica de escolha é a tomografia computadorizada (TC) helicoidal, que possui alta sensibilidade, permite a visualização de cálculos de ácido úrico (tradicionalmente considerados “radioluminescentes”) e dispensa o uso de contrastes. -A TC helicoidal pode revelar um cálculo ureteral ou evidências de sua passagem recente (p. ex., estriações perinefréticas ou hidronefrose), enquanto na radiografia simples de abdome um cálculo ureteral ou renal pode não ser visualizado, mesmo se radiopaco, e dados acerca de obstrução não são fornecidos pela radiografia. - Embora a ultrassonografia abdominal dispense o uso de radiações, permite apenas a visualização dos rins e, eventualmente, do segmento proximal dos ureteres. Desse modo, a maioria dos cálculos ureterais não é observada por meio desse exame de imagem. Rebeka Freitas - A presença de um cálculo na pelve renal, isoladamente, não determina seu diagnóstico em um paciente que apresenta dor aguda no abdome ou no flanco. - Um cálculo alojado na junção ureteropélvica pode provocar sintomatologia semelhante à verificada na cistite aguda, um cálculo no ureter distal direito pode simular apendicite aguda, um cálculo na junção ureterovesical pode mimetizar cistite aguda e um cálculo no ureter distal esquerdo pode mimetizar diverticulite. - Outras doenças que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial incluem dor musculoesquelética, herpes-zóster, úlcera duodenal, aneurisma da aorta abdominal, afecções ginecológicas, estenose ureteral e obstrução ureteral por materiais que não os cálculos, como coágulos desangue ou descamações papilares.
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