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Objetivos 1. Rever a anatomia renal e a fisiologia da filtração glomerular 2. Identificar a etiologia e os fatores de risco da nefrolítiase 3. Compreender a fisiopatologia, as manifestações clinicas e as complicações da nefrolítiase 4. Discorrer sobre o diagnostico e a condita terapeuta da nefrolítiase Anatomia Aspectos macroscópicos → Diâmetro longitudinal 11-12cm e com um peso de 150 gramas; → Cápsula renal (membrana de tecido conjuntivo); → Gordura perirrenal → fáscia de Gerota; → Tecido renal Região cortical (mais externa) → glomérulos → responsável pela depuração do sangue que chega aos rins dando início a formação do filtrado. Região medular (mais interna) → pirâmide de Malpighi → parte lateral dessas pirâmides fazem contato com extensões de tecido cortical para a medula (colinas de Bertin). → Hilo renal Pelve renal: formada pela confluência de dois ou três cálices maiores → formados pela confluência de 3 ou 4 cálices menores → papila renal (cada papila menor se abre em um cálice menor). Aspecto microscópico O néfron → unidade funcional do rim → Os rins possuem cerca de 0,5-6,4 milhões de néfrons. Estrutura microscópica → corpúsculo de Malpighi (tufo glomerular + cápsula de Bowman) + sistema tubular composto por: * Túbulo contorcido proximal; * Alça de Henle; * Túbulos contorcido distal; * Túbulo coletor; O corpúsculo de Malpighi, os túbulos contorcidos proximal e distal e a parte inicial do túbulo coletor são elementos corticais, enquanto a alça de Henle e a maior parte dos túbulos coletores mergulham na zona medular. Glomérulo Artéria renal (entra no parênquima renal através do hilo renal) → ramificação para região cortical → arteríolas aferentes → alças enoveladas formando uma estrutura arredondada denominadas glomérulos (ou capilares glomerulares) → arteríola eferente que deixa o glomérulo. Os glomérulos são envolvidos pela Renal litíase cápsula de Bowman que são formados por dois folhetos: 1. Folheto visceral → mais interno → aderido as alças glomerulares → não é formado por uma camada celular uniforme, mas sim por poucos corpos celulares (PODÓCITOS) e seus prolongamentos. 2. Folheto parietal → mais externo (delimita o corpúsculo glomerular como uma “parede externa”) → endotélio simples pavimentoso + membrana basal. 3. Espaço de Bowman → espaço capsular que recebe o filtrado glomerular. Membrana glomérulo-capilar Local por onde o plasma é filtrado → mais espessa, porém mais porosa que outras membranas do corpo → endotélio + membrana basal + fendas de filtração dos podócitos (epitélio visceral). Membrana bastante seletiva → leva em consideração o peso molecular e a carga elétrica da substância que percorre o capilar glomerular. É constituída por: 1. Endotélio → fenestrações (delimitando o tamanho das substancias capazes de atravessar a membrana glomérulo-capilar) + cargas fixas negativas (impedem a passagem de proteínas plasmáticas); 2. Membrana basal → trama de colágeno e fibrilas proteoglicanas com grandes espaços → cargas negativas que impedem a passagem de proteínas; 3. Podócitos → fendas de filtração; Tecido conjuntivo de sustentação (mesângio) formado pelas células mesangiais → função de sustentação e eliminação de resíduos aprisionados no processo de filtração glomerular. * Determinante da intensidade de excreção urinária = FILTRAÇÃO GLOMERULAR – Taxa de reabsorção + Taxa de secreção. Filtração glomerular ⇢ Definição: É o processo de filtração do plasma sanguíneo dos capilares glomerulares para dentro do espaço de Bowman → formação do filtrado glomerular (possui concentrações semelhantes ao plasma, exceto a concentração de proteínas). ⇢ Taxa de filtração glomerular (TFG): Volume de liquido filtrado dos glomérulos para dentro do espaço de Bowman por unidade de tempo. Em média é filtrado 140L/dia pelos néfrons → 80 a 120mL/min, sendo essa a TFG normal. Os cálices renais recebem apenas 1- 3L/dia de urina → ou seja, quase 99% de todo volume filtrado é reabsorvido no sistema tubular Qualquer variação pressórica, tanto para mais, quanto para menos, são sempre prejudiciais aos rins. Um rim sadio dispõe de mecanismos de defesa que mantem a pressão constantes nas alças glomerulares → “autorregulação da taxa de filtração glomerular” e “autorregulação do fluxo sanguíneo renal”: 1. Vasoconstrição da arteríola eferente: as artérias eferentes possuem mais células musculares do que a arteríola aferente → sofre maior vasoconstrição; A. Responde à angiotensina II em condições de baixo fluxo renal (p.ex. hipotensão) → leva a um aumento da Pressão intraglomerular; B. Além disso, o baixo fluxo renal estimula as células justaglomerulares a produzirem o hormônio Renina: 2. Vasodilatação da arteríola aferente: Prostaglandinas (p.ex., PGE2), Cininas e Óxido nítrico → vasodilatação → aumento do fluxo sanguíneo renal e da pressão intraglomerular. Feedback Tubuloglomerular Aparelho justaglomerular → comunica o túbulo contorcido distal à arteríola Aferente → é uma estrutura capaz de ajustas a filtração glomerular de acordo com o fluxo de fluido tubular → depende de uma reabsorção reduzida de Cl- (consequentemente da redução da filtração de NaCl) → estimula a secreção de renina → gera vasodilatação arteriolar aferente. O contrário também é verdadeiro. Retenção hidrossalina e natriurese A angiotensina II contribui para liberação de aldosterona pelas suprarrenais → hormônio que estimula a retenção de sódio e água pelos túbulos renais. ✓ Retenção volêmica contribui para a restauração do fluxo renal e TFG. ✓ Condições de alto fluxo renal (hipervolemia) → inativação do sistema reninaangiotensina- aldosterona ✓ Peptídeo Natriurético Atrial (PNA) nos estados hipervolêmicos, induzem um efeito natriurético → reduz a volemia e retorna a TFG para o normal. Definição O calculo renal é uma massa cristalina que se forma nos rins e tem tamanho suficiente para ser clinicamente detectável, seja pelos sintomas que provoca ou por poder ser visualizado através de técnicas de diagnostico por imagem. Etiologia – Medicamentos • Hipercalciúria, com ou sem hipercalcemia; • Hiperoxalúria (associada à doença inflamatória intestinal e/ou malabsorção intestinal ou hiperoxalúria primária); • Hipocitratúria, que pode ser importante em pacientes com acidose metabólica. No entanto, hipocitratúria leve ocorre numa proporção significativa de formadores de cálculo na ausência de acidemia aparente. Citrato é um importante inibidor da formação de cálculos de oxalato e fostato de cálcio; • pH urinário persistentemente alcalino, como ocorre na acidose tubular renal distal (tipo I). Urina alcalina está associada com a formação de cálculos de fosfato de cálcio; • baixo volume urinário, que aumenta a concentração dos fatores litogênicos. Certas condições predisponentes estão associadas à formação de cálculos de cálcio: • hiperparatireoidismo primário, que é suspeitado na presença de hipercalcemia (usualmente leve e intermitente); • anormalidades anatômicas do trato urinário (rins em ferradura, obstrução da junção ureteropélvica, divertículos calicinais e rim esponja medular) que aumentam o risco de litíase por determinar obstrução e estase urinária. • Acidose tubular renal distal (tipo I), em que o pH urinário é persistentemente alto e leva à acidose metabólica na maioria dos pacientes. Etiologia medicamentosa: • Formação de cálculos de cálcio - Diuréticos de alça (furosemida) - Vitamina D - Corticoides - Suplemento de cálcio - Antiácido - Teofilina - Acetazolamida - Anfotericina B • Formação de cálculos de acido úrico - Salicilatos - Probenicida - Losaratna ⇢ aumenta a excreção de acido úrico • Medicações que podem se precipitar e formar cálculos - Triantereno - Aciclovir (infusão rápida) - Indinavir - NelfinavirFatores de risco • Fatores alimentares: Diversos fatores alimentares parecem aumentar o risco de desenvolvimento de nefrolitíase, incluindo a proteína de origem animal, o oxalato, o sódio, a sacarose e a vitamina C. Por outro lado, a maior ingestão de cálcio e de potássio reduz o risco. Dietas com baixa ingestão de cálcio aumentam o risco de formação de cálculos. Embora o mecanismo desse efeito seja desconhecido, sabe-se que a baixa ingestão de cálcio aumenta a absorção e a excreção urinária de oxalato. A maior ingestão de proteína de origem animal pode aumentar a concentração urinária de cálcio e a excreção de ácido úrico e diminuir os níveis de citrato na urina, elevando o risco de formação de cálculos. Maiores consumos de sódio ou de sacarose aumentam a excreção urinária de cálcio; essa excreção é diminuída com o uso de suplementos de potássio. • Ingestão de liquido: o volume diário de urina é um fator crucial para a formação de cálculos. As concentrações, e não apenas os valores totais, de relevantes fatores urinários são as principais determinantes da formação de cálculos, tornando críticos a ingestão de líquidos e o volume urinário subsequente. • Doenças sistêmicas: as doenças sistêmicas que aumentam o risco de formação dos cálculos constituídos por cálcio incluem o hiperparatireoidismo primário e a acidose renal tubular. O hiperparatireoidismo primário pode ser encontrado em 5% dos indivíduos que possuem cálculos. Obesidade, gota e diabetes melito estão independentemente associados à formação de cálculos, assim como a doença de Crohn e os tratamentos cirúrgicos para a obesidade, como a cirurgia de bypass gástrico. • História pessoal ou familiar de nefrolitiase • Urina ácida • HAS • Uso prolongado de alguns medicamentos • Infecção urinaria crônica ou recorrente Tipos de cálculo • Oxalato e fosfato de cálcio (calculo misto) ⇢ 37% • Oxalato de cálcio ⇢ 26% • Estruvita ⇢ 22% (cálculos associados a infecção urinaria) • Fosfato de cálcio ⇢ 7% • Acido úrico ⇢ 5% • Cistina ⇢ 2% Epidemiologia • Incidência alta ⇢ 1 cada 1.000 pessoas • Pico de incidência ⇢ na 3ª e na 4ª década de vida • Homem • Branco • A prevalência aumenta com a idade (70 anos em homens e 60 nas mulheres) • Recorrência ⇢ 50% em 7 anos Patogenia Na urina, existem vários elementos químicos que, ao se combinarem, podem produzir sais insolúveis, levando a formação de cristais (microlitos). Os cálculos renais se originam do crescimento e agregação desses cristais. Condições que favorecem a supersaturação da urina, favorecem também a formação de cálculos, como a hiperexcreção de solutos, o volume urinário reduzido, alterações do pH e deficiência de inibidores da cristalização. Algumas alterações anatômicas também facilitam a formação de cálculos ao produzirem estase urinária, como a duplicidade pielocalicial, rim esponjoso medular, rim em ferradura, ureterocele, entre outros. Diz-se que a urna está supersaturada quando o produto da concentração dos seus componentes está acima de um determinado valor (*produto de solubilidade"). Este produto sofre influência do pH urinário. Por exemplo, pH > 7 favorece a supersaturação de fosfato de cálcio e fosfato de amônio magnesiano, enquanto pH < 5 reduz a solubilidade do ácido úrico e da cistina. Já a solubilidade do oxalato de cálcio não é afetada pelo pH urinário. O processo de formação dos cristais chama-se nucleação e pode ser de dois tipos: homogênea ou heterogénea. • Nucleação homogênea: ocorre quando o cristal é puro. Exige concentrações urinárias muito elevadas dos elementos envolvidos, bem acima do seu produto de solubilidade. É necessário que estejam acima do produto de formação de cristais". • Nucleação heterogênea: quando o cristal é formado sobre a superfície de outro cristal de composição diferente. O primeiro serve como "nicho" para a aposição de novos complexos. Por exemplo, cristais de oxalato de cálcio podem se formar sobre cristais de fosfato de cálcio ou ácido úrico. Podem ocorrer em concentrações levemente acima do "produto de solubilidade" Depois que os cristais são formados, eles podem ou não se transformar em cálculos macroscópicos. O fluxo urinário pode eliminar os cristais antes que eles cresçam e se tornem cálculos renais verdadeiros. Formado o cristal, dois processos adicionais sobrevêm: crescimento e agregação. Alguns cristais se formam aderidos à superfície do epitélio urinário (papilas renais). Uma matriz proteica contida nos cálculos pode servir como âncora para fixação dessas estruturas. Inibidores fisiológicos O principal inibidor fisiológico da formação de cálculos urinários é a água. Uma urina diluída reduz a concentração de todos os seus elementos químicos, diminuindo a chance de nucleação, pois a concentração iônica torna-se inferior ao "produto de formação de cristais" e ao "produto de solubilidade". A diluição urinária aumenta também o fluxo de urina, facilitando a eliminação dos cristais recém-formados. Ou seja, o aumento da ingesta hídrica inibe todas as fases de formação de um cálculo renal (nucleação, crescimento e agregação). Além disso, o citrato, o magnésio e o pirofosfato são inibidores fisiológicos da nucleação e as proteínas Tamm-Horsfall, a nefrocalcina e a uropontina inibem o crescimento e a agregação. Manifestações clinicas Não necessariamente o crescimento de cálculos nas papilas renais ou sistema coletor provoca sintomas - cálculos assintomáticos podem ser revelados em exames de imagem solicitados por outros motivos. A dor típica dos cálculos urinários é decorrente de sua mobilização, o que produz graus variáveis de obstrução ao fluxo de urina. Sendo assim, cálculos grandes, porém imóveis, podem cursar de modo assintomático até crescerem a ponto de causar obstrução. Os cálculos renais costumam obstruir o sistema coletor em três pontos principais, conhecidos como pontos de constrição fisiológica do ureter: 1. Junção ureteropélvica - mais comum 2. Terço médio do ureter (cruzamento com os vasos ilíacos internos) 3. Junção vesicureteral. Felizmente, na maioria das vezes, os cálculos (por serem pequenos) impactam apenas de forma transitória, migrando para a bexiga e sendo eliminados na urina. • Cólica Nefrética (Ureterolitíase Sintomática): Quando um cálculo migra da pelve renal para o ureter, o paciente experimenta uma dor variavelmente intensa, ocasionada pela impactação do cálculo nos pontos de constrição fisiológica do ureter. Na tentativa de forçar a passagem do cálculo o ureter se contrai de maneira espasmódica e repetitiva, justificando as típicas crises de dor em "cólica" que costumam durar entre 20 a 60 minutos. Se essa impactação provocar obstrução importante ocorre um grande aumento na pressão do trato urinário, gerando distensão aguda da cápsula renal. Isso justifica a presença de punho-percussão lombar positiva, ou "sinal de Giordano", ao exame físico. Em tais casos a dor é geralmente insuportável, necessitando de analgesia opioide parenteral... Manifestações neurovegetativas como náuseas, vômitos, sudorese fria e sincope costumam acompanhar a dor, sendo igualmente comum o encontro de taquicardia e hipertensão arterial. A localização da dor se relaciona com a topografia do cálculo impactado. Um cálculo na junção ureteropélvica provoca dor em flanco e sinal de Giordano precocemente positivo. Já um cálculo próximo à porção média do ureter provoca dor abdominal com irradiação para o ligamento inguinal e/ou testículo/grande lábio ipsilateral. Cálculos impactados na junção vesicureteral podem ser confundidos com cistite bacteriana, cursando com disúria, polaciúria, urgência e dor uretral (no homem: dor peniana). Pode ou não haver sinal de Giordano nos cálculos presentes na junção vesicureteral. A dor pode mudar suas características no decorrer do tempo, o que denota a movimentação do cálculo ao longo do ureter.• Hematúria: Depois da infecção urinária, nefrolitíase é a segunda causa de hematúria, que pode ser macro ou microscópica. A hematúria é detectada em 90% dos pacientes que apresentam cálculo renal. Algumas vezes, pode ser o único sinal da nefrolitiase. • Infecção: A infecção renal (pielonefrite) é a complicação mais temível da litíase com cálculo impactado no ureter. Estes pacientes evoluem com febre alta, calafrios e leucocitose com desvio à esquerda, achados não esperados na ureterolitiase per se. Por ser uma pielonefrite complicada ("infecção fechada"), a sepse costuma ser intensa e de rápida instalação, cursando com bacteremia. Se o rim infectado não for logo desobstruído existe grande chance daquele rim ser rapidamente destruído (em questão de dias) num processo conhecido como pionefrose • Obstrução: Quando o cálculo impacta no ureter, geralmente causa uma obstrução apenas parcial. Eventualmente, contudo, a obstrução pode ser total, acarretando hidronefrose progressiva e perda do parênquima renal (semanas a meses se não houver infecção), caso a obstrução não seja desfeita. • Nefrocalcinose: Uma forma de apresentação da litíase por fosfato de cálcio (apatita) é a nefrocalcinose, definida como uma calcificação do parênquima renal - os cristais se depositam difusamente sobre as papilas renais. Pode ser assintomática, se exteriorizando como múltiplas calcificações encontradas num RX simples, ou então determinar cólica pelo seu desprendimento para a pelve renal. • Cálculos coraliformes: São cálculos geralmente assintomáticos que crescem de modo a ocupar quase toda a pelve e cálices renais. São mais comumente formados por estruvita (fosfato de amônio magnesiano), mas também podem ser de cistina ou ácido úrico. Se associam a um mau prognóstico do rim acometido (degeneração parenquimatosa) e sempre indicam terapia intervencionista, mesmo quando não produzem sintomas. Complicações Os cálculos podem permanecer ao longo do trajeto ureteral, causando obstrução, ou alcançar a bexiga, onde favorecem infecções; com menor frequência, podem estacionar na uretra. Pode acontecer inflamação por irritação mecânica da mucosa em contato com o cálculo, em geral associada a infecção bacteriana (favorecida pela própria estase urinaria). Com isso surge infecção urinária, inclusive pielonefrite. Obstrução prolongada das vias urinárias causa hidronefrose. Podem ocorrer ainda hipotrofia da mucosa. isquemia, necrose e úlceras de decúbito por compressão exercida pelo cálculo. Infecção do trato urinário (itu) Ao favorecer obstrução e a estase no trato urinário, Nefrolitiase representa causa importante de ITU no adulto. Porém, nem sempre a ITU é consequência da nefrolitiase. No caso dos cálculos coraliformes, presentes em cerca de 10% dos pacientes com nefrolitiase, repetidas infecções favorecem o crescimento do calculo. Neste caso, a ITU se apresenta como causa (e não como consequência) de nefrolitiase. Pielonefrite aguda É a inflamação purulenta que compromete túbulos, interstício, pelve renal e ureter – no rim. O rim aumenta de peso e se mostra edemaciado. Os achados mais característicos são: • Pequenos abscessos com halo hemorrágico, às vezes confluentes, na superfície externa e na superfície de corte, principalmente na cortical. A mucosa da pelve e dos cálices apresenta-se hiperêmica e, eventualmente, hemorrágica. Como complicações podem surgir: • Abscessos perirrenais por propagação da infecção; • Necrose das papilas (especialmente em diabéticos ou com obstrução do trato urinário, que se apresenta como áreas amareladas nas porções terminais das pirâmides) • Hidropionefrose (dilatação do sistema pileocaliceal por acúmulo de material purulento). Insuficiência renal aguda (ira) Obstruções unilaterais costumam não resultar em IRA. Porém, determinadas situações são fatores de rico para o desenvolvimento de IRA nas obstruções unilaterais. Situações como: • Rim único (inclusive rim transplantado); • Doença renal crônica prévia; • Concomitância de outros fatores agravantes, como pielonefrite aguda e síndrome séptica. Em casos de anúria, a etiologia obstrutiva deve sempre ser descartada por exame de imagem. Em nefrolitíase, a anúria pode se associar a: • Obstruções baixas: uretrais, por exemplo; • Obstruções bilaterais: incomuns ou mesmo a • Obstruções unilaterais, quando o rim não obstruído já apresenta doença parenquimatosa. Outra causa de anúria em obstrução ureteral unilateral é a "anúria reflexa" cuja fisiopatologia se relaciona ao espasmo reflexo do ureter contralateral durante a passagem traumática do calculo no lado afetado. Caso o fator obstrutivo permaneça, haverá dano tubular e necrose tubular aguda. Doença renal crônica (DRC) A hidronefrose (acúmulo de líquido no rim devido ao acúmulo de urina), a atrofia do parênquima renal e o desenvolvimento de doença renal crônica são complicações graves e cada vez mais diagnosticadas. Estima-se que cerca de 5 a 13% dos pacientes com DRC em terapia renal substitutiva (TRS) tenham a nefropatia obstrutiva secundária à nefrolitiase como doença de base. Hidronefrose A hidronefrose é a dilatação da pelve e dos cálices provocada por aumento da pressão urinária por obstrução mecânica ou funcional no trato urinário. É uma complicação da nefrolitíase, visto que há estase urinária. Em consequência, surge hipotrofia progressiva do parênquima, transformando o rim em um órgão cístico. Quando se associa a pielonefrite aguda, com acúmulo de material purulento, fala-se em hidropionefrose. Diagnóstico Existem três objetivos básicos na avaliação diagnostica da nefrolitiase: confirmação da nefrolitiase, composição do calculo, quais fatores predispuseram a formação daquele calculo. Avaliação da História Clínica • História prévia de cálculos desse paciente: ⇢ Quantas vezes ele já teve? ⇢ Com que frequência isso ocorre (todo ano/mês ele tem episódio sintomático de litíase?) ⇢ Com que idade teve início? ⇢ Qual o tamanho dos cálculos? ⇢ Se ainda há presença de cálculos ⇢ Qual rim foi acometido (um lado só ou os dois) -> se tem cálculo de um lado só e são grandes, relacionados a alguma infecção urinária, pode-se ter alguma alteração no trato urinário desse lado acometido, como uma estenose de junção ureteropiélica ou ureterovesical unilateral. ⇢ Qual o tipo de pedra › são poucos os laboratórios que fazem ⇢ Se houve necessidade de intervenção cirúrgica para remoção do cálculo > é importante, pois para ter indicação de cirurgia significa que era um cálculo grande, e cálculo grandes não se formam em qualquer pessoa (tem que haver alguma condição que favoreça essa formação de cálculo) ⇢ Se são associadas a infecção urinária • História médica • Medicações que o paciente faz uso • Histórico familiar -> há doenças genéticas que causam litíase • Qual a ocupação do paciente • Qual a dieta e quantidade de líquido que ingere por dia -> se come muito sal, muita comida industrializada • Exame físico: ⇢ Presença de tofo, obesidade, síndrome metabólica - > pensa-se em cálculo de ácido úrico • Dados laboratoriais: ⇢ Análise urinária ⇢ Cultura de urina ⇢ Análise da pedra • Análise sanguínea: ⇢ lonograma (eletrólitos) > sódio, potássio, cloreto, bicarbonato. ⇢ Bicarbonato -> acidose tubular renal tem relação com calciúria ⇢ Creatinina > se há alteração da função renal ⇢ Hormônio da paratireoide -> avaliar hipercalciúria ⇢ Ácido úrico • Avaliação radiológica: ⇢ Raio x de abdômen simples ⇢ lomogramia ⇢ Ultrassonografia Achados laboratoriais Sumário de urina ⇢ pH: - Elevado -› Estruvita e fosfato de cálcio - Diminuído-> Acido úrico e cistina ⇢ Densidade -> relação com a ingesta de água (quanto mais densa a urina, menos água o paciente está ingerindo) ⇢ Hematúria -> passagem de cálculos ⇢ Bacteriúria + pH aumentado -> podem falar a favor de cálculos de Estruvita Avaliação otimizada• Faz-se uma análise metabólica da urina de 24h • Na urina de 24h deve-se descartar a primeira urina do dia • Em pacientes que se suspeita de alguma alteração na urina que favoreça a formação de cálculos Indicações: • Pessoas com formação de cálculos em uma idade jovem • Crianças • Pessoas com cálculos que vem crescendo em tamanho e em número a cada ano • Formadores de cálculos que não sejam de cálcio • Grupos em que não se vê tipicamente a formação de cálculos • Paciente com um episódio, mas que precisou de cirurgia porque o cálculo era grande • Se uma pessoa vem ao consultório com o primeiro episódio de litíase, não é preciso fazer a análise metabólica, pois a grande maioria se deve à uma dieta hipersódica e com pouca ingestão de líquidas e frutas. Assim, orienta-se o paciente a mudar esses hábitos e, a cada ano, faz-se um ultrassom. Se estão aparecendo novos cálculos, o cálculo está crescendo ou o paciente continua tendo novos episódios apesar das mudanças no estilo de vida, faz-se necessária uma avaliação otimizada O que se avalia na urina de 24h ⇢ Volume tem total relação com a quantidade de água ingerida ⇢ Cálcio ⇢ Oxalato ⇢ Ácido úrico ⇢ Citrato: tem que estar alto, pois ele é protetor contra a formação de cálculos. Quando se tem uma deficiência de citrato (hipocitratúria) o paciente pode formar cálculo ⇢ Sódio: não há cálculo de sódio, mas o sódio tem total relação com o cálcio. Quanto mais sódio de ingere, mais cálcio se excreta (se há um sódio urinário muito alto significa que o paciente está fazendo uma dieta inadequada e pode justificar uma hipercalciúria) ⇢ Fosforo ⇢ Creatinina: serve para saber se o paciente coletou a urina de 24h de maneira adequada • Espera-se que seja um valor de 10mg/Kg em mulheres e 15mg/Kg em homens. Se estiver abaixo disso, provavelmente, essa pessoa coletou errado, tendo-se que repetir o exame. Diagnostico de Imagem Tomografia helicoidal sem contraste (Padrão ouro): ⇢ A tomografia é de abdômen total (superior e inferior): pois deve-se olhar tanto o rim quanto os ureteres e a bexiga ⇢ Sensibilidade (98%) e Especificidade (100%) ⇢ Vantagens: - Não utiliza contraste iodado - Evidencia os cálculos de ácido úrico - Possível diagnóstico de outras causas de dor abdominal Radiografia simples de abdome: ⇢ Sensibilidade (62%) e Especificidade (67%) ⇢ É capaz de identificar a posição anatômica dos cálculos radiopacos (cálculo de cálcio que seja grande) Ultrassonografia: ⇢ Sensibilidade total (85%) ⇢ Método examinador dependente ⇢ Maior facilidade para cálculos localizados na pelve (hidronefrose - dilatação da pelve causada pela obstrução do cálculo) e cálices renais *Não é tão bom para cálculo ureteral, pois nem sempre dá para ver. Tratamento agudo Cólica nefrética A consequência imediata da impactação de um cálculo no ureter é a contratura espasmódica da musculatura lisa ureteral, na tentativa de expulsar o cálculo. A pressão intrapélvica pode chegar a 50 mmHg, o que justifica a intensa dor em flanco/abdome. • Analgesia: Os AINEs devem ser prescritos como primeira opção, de preferência pela via oral. Em casos de dor severa ou vômitos, a parenteral deve ser recomendada. Essas drogas tem bom efeito analgésico e previnem o espasmo da musculatura lisa do ureter. Os opioides são usados somente em casos refratários ou que não toleram os AINEs. Os opioides não amenizam o espasmo ureteral e provocam mais efeitos adversos, como náuseas e vômitos, e por isso não são tidos como primeira linha. • Bloqueadores alfa-1-adrenérgicos: Esses fármacos relaxam diretamente a musculatura lisa ureteral, conseguem diminuir o espasmo do trato urinário, facilitando a movimentação do cálculo de modo a aumentar a chance de eliminação espontânea. Reduzem a intensidade e as recidivas de cólica nefrética. A combinação AINE + alfabloqueador compõe a chamada Terapia Médica Expulsiva (TME). Pacientes com cálculos ureterais < 10 mm cujos sintomas conseguem ser bem controlados e que não possuem indicações formais para abordagem urológica imediata podem tentar a TME por um período de 4 a 6 semanas. A droga de escolha é o Tamsulosin. Bloqueadores de canais de cálcio, como a nifedipina, também podem ser usados com esse intuito, mas são menos eficazes que os alfabloqueadores e possuem mais efeitos colaterais. A hioscina não possui efeito analgésico comprovado. • Hidratação: Uma hidratação vigorosa não facilita a eliminação espontânea do cálculo, ao contrário do que já se imaginou. Por isso, a hidratação venosa deve ser instituída quando for necessário corrigir um quadro de franca desidratação, como em casos de vômitos importantes, ou quando houver indicação de analgesia parenteral. • Dissolução química do cálculo: O único cálculo comprovadamente passível de ser dissolvido é o de ácido úrico, que só se forma em urinas ácidas, logo, a alcalinização da urina via bicarbonato VO é capaz de dissolvê-lo. Uma dissolução completa e em curto prazo é um desfecho incomum e por isso é pouco utilizada. • Seguimento: A maioria das ureterolitíases sintomáticas pode e deve ser manejada de forma conservadora, já que os cálculos com frequência são pequenos, possuindo grande chance de eliminação espontânea. Na ausência de complicações que indiquem uma abordagem intervencionista imediata, a literatura aceita uma tentativa inicial de manejo conservador (TME) para cálculos menores que 10 mm. Durante a TME o paciente deve ser reavaliado (USG após 7 a 14 dias) a fim de verificar se houve migração do cálculo. Se não houver expulsão em até 6 semanas, uma abordagem intervencionista deve ser programada. Intervenção urológica A maioria dos cálculos ureterais com menos de 5mm é eliminada espontaneamente ainda que o paciente não receba qualquer tipo de tratamento. Contudo, a TME acelera a passagem do cálculo, devendo ser sempre oferecida. Acima de 5mm, a probabilidade de eliminação espontânea diminui de forma progressiva, sendo extremamente baixa com cálculos maiores que 10 mm. A intervenção urológica precoce está indicada nas seguintes circunstâncias: 1. Cálculo > 10 mm; 2. Infecção urinária associada (desobstrução imediata, retirada do cálculo em um segundo momento); 3. Obstrução persistente ou progressiva; 4. Insuficiência renal aguda. Existem 4 modalidades de intervenção urológica para a retirada de cálculos urinários: litotripsia com ondas de choque extracorpórea (LOCE); litotripsia por ureterorrenoscopia (eudourológica); nefrolitotomia percutânea (cirurgia minimamente invasiva) e nefrolitotomia aberta (anatrófica). Referencias HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. CURHAN, Gary C. et al. Kidney stones in adults: Diagnosis and acute management of suspected nephrolithiasis. TASIAN, Gregory E.; COPELOVITCH, Lawrence. Evaluation and medical management of kidney stones in children. The Journal of urology, v. 192, n. 5, p. 1329-1336, 2014. PACHALY, Maria Aparecida; BAENA, Cristina Pellegrino; CARVALHO, Mauricio de. Tratamento da nefrolitíase: onde está a evidência dos ensaios clínicos. Brazilian Journal of Nephrology, v. 38, p. 99-106, 2016.
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