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Samara Pires- MED25 Bioquímica Médica II Metabolismo de triacilgliceróis e de corpos cetônicos 1. Revisão e introdução ● Triacilglicerol : três ácidos graxos ligados a um glicerol (álcool); ● Os ácidos graxos entram no tecido adiposo por transporte proteico ou por transporte passivo (difusão); ● Triacilglicerol é produzido quando os ácidos graxos estão em excesso; ● No jejum, o fígado e os músculos esquelético e cardíaco utilizam ácidos graxos como fonte de energia provenientes do triacilglicerol armazenado. O fígado só usa a glicose como fonte de energia no período pós-prandial (quando a glicose está em grande quantidade); ● Inicialmente no músculo → fosfocreatina é utilizada (pouco tempo) → depois, o glicogênio é degradado para produzir glicose ; ● 60% da energia do tecido cardíaco é proveniente dos ácidos graxos; ● No período pós-prandial, os triacilgliceróis são transportados nos quilomícrons, mas logo são distribuídos no organismo. No período que não inclui o pós-prandial, os triacilgliceróis estão nas VLDL (maior fonte de triacilgliceróis). - As VLDLs são produzidas no tecido hepático e levam os triacilgliceróis para todos os tecidos (transporte que vai do fígado aos tecidos extra-hepáticos). As formações remanescentes de VLDL são também denominadas lipoproteínas de densidade intermediária (IDL); - Triacilgliceróis são digeridos → ácidos graxos + glicerol → formam triacilgliceróis novamente (juntam-se aos quilomícrons) → no tecido adiposo, a lipase lipoproteica cliva os triacilgliceróis para que os ácidos graxos + glicerol entrem nas células → pode ser armazenado conforme a necessidade na forma de triacilglicerol; - O quilomícron é formado a partir da junção dos triacilgliceróis com outras proteínas, como a ApoC, a ApoB e a ApoE. Esse quilomícron vai da corrente linfática para a sistêmica e distribui os ácidos graxos + glicerol aos tecidos. Posteriormente, o quilomícron retorna ao fígado pobre em ácidos graxos; - Os quilomícrons são provenientes da absorção intestinal de triacilgliceróis e de outros lipídios. Posteriormente, retornam ao fígado na forma de remanescentes de quilomícrons, os quais são enriquecidos com colesterol e com ésteres de colesteril devido à perda dos triacilgliceróis. 2. Metabolismo de triacilgliceróis ● Fontes: dieta e triacilglicerol armazenado; Samara Pires- MED25 ● O fígado também armazena triacilgliceróis, os quais são transportados nas VLDL e liberados no plasma; ● Glicerol → liberado na via glicolítica e na degradação dos triacilgliceróis. Somente o fígado e os rins metabolizam o glicerol; ● Formação dos triacilgliceróis - A partir da glicerol-3-fosfato-desidrogenase: di-hidroxiacetona fosfato → glicerol-3-fosfato (com oxidação do NADH); - Para que o ácido graxo seja adicionado ao glicerol, ele precisa ser ativado pela acil-CoA-sintetase (com gasto de 1 ATP); - O ácido graxo é introduzido ao glicerol-3-fosfato pela acil-transferase; - Após a adição de duas moléculas de ácidos graxos, temos o ácido fosfatídico; - Ao ácido fosfatídico, podem ser adicionados substituintes, como etanolamina, serina, colina, etc; - Para formar o triacilglicerol, a acil-transferase adiciona o terceiro ácido graxo ao 1,2-diacilglicerol; Samara Pires- MED25 - Triacilglicerol formado → incorporado ao VLDL no fígado e armazenado no tecido adiposo. ● Lipólise - Ocorre por meio da lipase-hormônio sensível: hormônio liga-se ao receptor → adenilato-ciclase converte o ATP em cAMP → ativa a fosfoquinase A → ativa a lipase-hormônio sensível por meio da fosforilação e promove a abertura da perilipina também por fosforilação (capa proteica que reveste a gotícula de gordura repleta de triacilgliceróis); - A atuação da lipase hormônio-sensível resulta na formação de ácidos graxos livres e de glicerol. Este álcool, por sua vez, não é utilizado no tecido adiposo para a lipogênese, pois ele não tem a glicerol-cinase, por isso só utiliza o glicerol-3-fosfato como precursor. Já no caso de outros tecidos que possuem glicerol-cinase ativa, o glicerol é útil, como no fígado e no rim. - A lipase sensível a hormônio é ativada por ACTH, TSH, glucagon, epinefrina, norepinefrina e vasopressina; e inibida por insulina, prostaglandina E1 e ácido nicotínico. Obs.: no tecido adiposo, há um ciclo contínuo de lipólise e de reesterificação. ● Regulação do metabolismo de triacilglicerol - Insulina: estimula a conversão de carboidratos e de proteínas da dieta a lipídios (excesso de nutrientes) → lipogênese. É um hormônio que aumenta a captação da glicose nas células adiposas, o que influencia a síntese de ácidos graxos e de acilglicerol; Obs.: a insulina estimula a acetil-CoA-carboxilase (faz a conversão de acetil-CoA em malonil-CoA para a posterior produção de ácidos graxos). - Carboidrato → glicose → piruvato → acetil → síntese de ácidos graxos → incorporados na produção do triacilglicerol; - Diabetes mellitus → diminuição da lipogênese devido à falta de insulina ou à resistência ao hormônio e, portanto, gera um excesso de acetil-CoA, o qual é convertido em corpos cetônicos. A deficiência de insulina causa mobilização excessiva de ácidos graxos livres como fonte de energia e utilização deficiente de quilomícrons e de VLDL, com consequente desenvolvimento de hipertriacilglicerolemia; Obs.: todo o acetil-CoA que não puder ser utilizado para a produção de energia ou para a síntese de ácidos graxos é desviado para a produção de corpos cetônicos. - Glucagon e epinefrina: estimulam a lipólise e diminuem a lipogênese. - Glicocorticoides (liberados em um período de jejum de 8h): estimulam a gliconeogênese hepática, inibem a síntese de ácidos graxos no tecido adiposo (lipogênese). O glicerol liberado pela lipólise no tecido adiposo é transportado até o fígado para ser utilizado na Samara Pires- MED25 gliconeogênese. Além disso, os glicocorticoides promovem a lipólise pela síntese de nova proteína lipase por via independente de cAMP, que pode ser inibida pela insulina; - Etanol: seu valor calórico é superior ao dos glicídios e ao das proteínas, mas é menor que o dos lipídios. Quando está no organismo, poupa os ácidos graxos (diminui a lipólise) e a glicose (diminui a gliconeogênese hepática) por meio do acetato plasmático (produto da degradação do etanol). Em alcoólicos, o etanol pode levar ao acúmulo de triacilgliceróis nos hepatócitos, causando esteatose hepática ou fígado gorduroso alcoólico, podendo evoluir para hepatite e cirrose. Ocorre aumento da lipogênese devido a alterações no potencial redox [NADH]/[NAD⁺] resultantes da oxidaçãodo etanol pela álcool-desidrogenase, que produz muito NADH e compete com equivalentes redutores de outros substratos, incluindo ácidos graxos, pela cadeia respiratória, inibindo a oxidação deles e estimulando a sua esterificação para formar triacilglicerol. Obs.: existe uma forma de acúmulo de lipídios no fígado não relacionada ao álcool: é a esteato-hepatite não alcoólica (EHNA). Nesse caso, a produção de VLDL não acompanha o influxo e a esterificação crescentes de ácidos graxos livres, permitindo o acúmulo de triacilglicerol, o que resulta em fígado gorduroso, já que as VLDL transportam os triacilgliceróis. Os fatores que aumentam a síntese de triacilglicerol e a secreção de VLDL pelo fígado são: - Estado alimentado; - Ingestão de dietas ricas em carboidratos, principalmente quando têm sacarose ou frutose → lipogênese e esterificação dos ácidos graxos; - Ingestão de etanol; - Altas concentrações de insulina e baixa concentração de glucagon, aumentando a síntese e esterificação de ácidos graxos e inibindo a oxidação. 3. Corpos cetônicos ● Acetoacetato, 𝛽-hidroxibutirato e acetona. São solúveis em água e são sintetizados no fígado (mitocôndria) a partir do acetil-CoA (precursor); ● Podem ser utilizados como combustível para o coração, para o músculo esquelético e para o cérebro na inanição e nos desvios metabólicos (como diabetes mellitus). No metabolismo normal, estão presentes em pequenas concentrações; ● A acetona é volátil e eliminada geralmente pelos pulmões (hálito cetônico); ● O acetoacetato e o 𝛽-hidroxibutirato são ácidos fortes; ● Síntese dos corpos cetônicos : - 2 moléculas de acetil-CoA → acetoacetil-CoA (catálise da tiolase); Samara Pires- MED25 - Adição de mais um acetil → 𝛽-hidroxi- 𝛽- metilglutaril-CoA (HMG-CoA) - é um precursor do colesterol e dos corpos cetônicos; - HMG-CoA perde um acetil-CoA e forma o acetoacetato; - Acetoacetato → produz acetona (reação irreversível) ou 𝛽-hidroxibutirato (oxidação de um NADH). ● Cetose diabética → odor de acetona no hálito, cetoacidose (são ácidos fortes, então diminuem o pH), cetonemia, cetonúria (podendo ocasionar desidratação), coma e morte. A diabetes apresenta três sinais característicos: polifagia (muita fome, devido à falta de glicose no interior da célula por falta de receptor), poliúria (excreção aumentada de urina) e polidipsia (sede extrema). - Os corpos cetônicos são excretados pela urina (com exceção da acetona, que é volátil), então, por serem ácidos fortes, aumentam a excreção de sódio e de água (risco de desidratação); - Excreção urinária normal de corpos cetônicos é menor ou igual a 125 mg por 24 horas. No caso da cetose extrema, a excreção é de 5000 mg/24 horas. ● Degradação dos corpos cetônicos - 𝛽-hidroxibutirato → acetoacetato; - Acetoacetato → acetoacetil-CoA (succinil-CoA é convertida em succinato); - Acetoacetil-CoA → 2 acetil-CoA (catálise da tiolase). Todos os tecidos podem utilizar os corpos cetônicos como fonte de energia, com exceção do fígado, que não tem tiolase.
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