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Taenia spp: Características e Ciclo de Vida

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Julia Barcelos Braglia
Medicina – FURG – ATM 2024
Cestoda
Geral:
· Corpo achatado (formato de fita) e segmentado (proglotes ou aneis)
· Tamanhos variados
· Órgãos de fixação: escólex com ventosas
· Ausência de tubo digestivo (toda a absorção de nutrientes e excreção de metabólitos se dá através do tegumento)
· Hermafroditas (apresentam órgãos reprodutivos feminino e masculino)
· Teníase e cisticercose são doenças distintas causadas pelo mesmo agente etiológico
· Forma adulta: teníase (Intestino)
· Larva: cisticercose (SNC, corpo)
Teníase:
Infecção do homem pelas formas adultas presentes no intestino
Taenia spp: 
· Sinônimo: solitária
· Maior helminto que parasita o homem
· Taenia solium: até 3m, tem de 800 a mil proglotes
· Taenia saginata: até 8m, tem mais de mil proglotes
· Morfologia: o parasito adulto tem o corpo dividido em escólex (“cabeça”, tem 4 ventosas, porção mais delgada e anterior, fica fixada por ele no intestino delgado), colo (está em constante atividade metabólica, fica crescendo) e o estróbilo (formado pela união das proglotes)
· Taenia solium: no escólix globoso, tem 4 ventosas, tem um rostelo com acúleos (“coroa com ganchos”) 
· Taenia saginata: escólex quadrangular, tem 4 ventosas, não tem rostelo com acúleos
Proglotes: 1cm
1. Imaturas: jovens, mais próximas do colo, mais delgadas, largura > comprimento, estão no início do desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos, ainda não estão aptas para a reprodução 
2. Maduras: órgãos femininos e masculinos bem desenvolvidos, aptas a fecundação
3. Gravida: onde já ocorreu fecundação, tem milhares de ovos no interior
· Cada proglote tem órgãos genitais masculinos e femininos (individualidade na reprodução) – hermafrodita
· Através da análise das proglotes grávidas (somente grávidas) podemos fazer a diferenciação das espécies 
· T. solium: formato quadrangular, menos ramificações (12), ramificações sem simetria chamadas de ramificações dendríticas, tem eliminação passiva (eliminada com o bolo fecal)
· T. saginata: formato retangular, maior, ramificações dicotômicas, simétricas, com mais ramificações (26), libera o dobro de ovos (160 mil), tem eliminação ativa (tem musculatura mais desenvolvida, consegue se exteriorizar do corpo do paciente)
Ovos:
· Não dá para diferenciar as espécies de tênia através dos ovos (morfologicamente indistinguíveis)
· Eliminados nas fezes do hospedeiro definitivo (homem)
· EPF para achar os ovos
· Ovos pequenos (20 a 40 micromeros)
· Cor marrom
· Camada externa: embrióforo (“casca do ovo”)
· Camada interna: embrião hexacanto ou oncosfera
Cisticerto (larva):
· De poucos milímetros até 12 mm
· Chamada popularmente de canjiquinha, devido ao aspecto
· Hospedeiro intermediário
· Musculatura, coração, outros órgãos
· Composto por uma vesícula translúcida (bolsa transparente contendo líquido claro), lá no interior dá pra visualizar o escólix invaginado
Hospedeiro:
· Hospedeiro definitivo: homem intestino delgado
· Hospedeiros intermediários: suínos (taenia solium) e bovinos (taenia saginata) musculatura, SNC
· O homem é o único hospedeiro que libera ovos para o ambiente
Transmissão:
· Ingestão de carnes cruas ou mal cozidas contendo cisticercos (larvas)
· Taenia solium: carne de porco
· Taenia saginata: carne de boi
Ciclo: 
· O ser humano libera os ovos infectantes para o meio ambiente pelas suas fezes. A falta de saneamento básico faz com que o meio ambiente fique contaminado. Quando os animais vão pastar, se contaminam com os ovos ingerindo-os. Os ovos passam pelo trato digestivo desses animais, perdem a casca e ocorre liberação do embrião. O embrião atravessa a mucosa do intestino delgado, ganha circulação e migra para vários órgãos, de preferência órgãos moles e bastante vascularizados (subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral, olhos). Ao chegar nesses locais, o cisticerco vai se desenvolver. O homem, ao consumir a carne desses animais contaminados, vai estar ingerindo a forma infectante para o homem. No momento que ele ingere, a bolsa translúcida com escólex invaginado chega ao intestino delgado, e sobre a ação de sais biliares ocorre a liberação do escólex. A larva se fixa na mucosa do intestino delgado e após 2 ou 3 meses já tem um parasito adulto, desenvolvido, liberando ovos para o meio ambiente (de 3 a 6 proglotes por dia).
Patogenia
· O parasito adulto tem ação espoliativa: compete por alimentos, retirando nutrientes do hospedeiro
· Ação tóxica: libera alguns metabólitos que podem ser tóxicos e promover processos inflamatórios
· Ação mecânica e irritativa
· Alguns podem ser assintomáticos, outros tem sintomas
· Sintomas: dor epigástrica com caráter de fome. Apetite aumentado. Come bastante mas perde peso (competição alimentar). Dilatação abdominal. Diarreia. Perda de peso.
· Hemograma: leucocitose com eosinofilia
· Raramente, pode encontrar proglotes de Taenia saginata que se despreendem ativamente em localizações ectópicas, como o apêndice (causa apendicite)
Diagnóstico:
· Clínico: difícil, pois é muito semelhante a outras infecções parasitoses intestinais
· Anamnese: hábitos alimentares, hábitos de higiene, vive no meio rural
· Diagnóstico laboratorial: EPF pesquisa na procura de formas adultas ou de ovos de proglotes (técnica da tamisação – material fecal passado num tamis, que parece uma peneira). Técnica de concentração: técnica de Graham (fita gomada)
· Podem ser encontradas formas adultas em exames como endoscopia (achado, não é uma técnica indicada pro diagnóstico)
Tratamento:
· Niclosamida (4 comprimidos – 500mg)
· Praziquantel (5 a 10 mg/kg, via oral)
Cisticercose
Infecção do homem pelas formas larvadas da Taenia solium (Cysticercus cellulosae)
Principais órgãos acometidos: SNC e globo ocular (acontecem com maior frequência e com maior gravidade)
Também pode acometer: coração, musculatura esquelética, subcutâneo, língua, mamas
Hospedeiros definitivos: suínos, homem (principais), cães, gatos, macacos	
O ser humano infectado com tênia no intestino, libera os ovos nas fezes, contamina o meio ambiente. Outros seres humanos podem se infectar, ou o próprio paciente por falta de higiene acaba levando os ovos à boca, ingerindo os ovos e desenvolvendo cisticercose
Forma infectante: ovos (ingestão)
Teníase por T. solium não tratada é um problema!
Fases de desenvolvimento do cisticerco (larva)
1. Estágio vesicular: larvas viáveis, membrana delgada e transparente líquido vesicular incolor, escólex normal
2. Estágio coloidal: escólex em degeneração (onde aparecem os primeiros sintomas) – em torno de 1 ano e meio a 2 anos após a infecção. O líquido que era translúcido começa a ficar turvo (gel)
3. Estágio granular: membrana espessa, gel com deposição de cálcio e escólex mineralizada
4. Estágio granular calcificado: cisticerco calcificado e com tamanho reduzido (não estimula mais o sistema imunológico)
Localização no SNC:
· Mais comum: parênquima 
· Poucos cisticercos: bom prognóstico, geralmente assintomáticos, podem ocorrer crises epilépticas
· Infecção maciça: grande número de cisticercos, hipertensão intracraniana, déficit cognitivo
· Ventrículos:
· Mais incomum
· Mais grave, mau prognóstico
· Obstrução do líquor = hidrocefalia = hipertensão intracraniana = óbito
Quadro clínico da neurocisticercose:
· Alguns serão assintomáticos (região parenquimatosa, poucos cisticercos)
· Cefaleia intensa
· Náuseas e vômitos 
· Convulsões (50% dos casos) medicamentos antiepiléticos
- Após a degeneração do cisticerto
· Em áreas endêmicas, convulsão que inicia na vida adulta é sugestiva de neurocisticercose
· Casos mais graves: bradicardia, distúrbios respiratórios, vertigens, sonolência, epilepsia generalizada, perturbações mentais
Forma racemosa:
· Neurocisticercose mais rara
· Forma anômala do cisticerco
· Aspecto irregular
· Geralmente se desenvolve na região intraventricular
· Tamanho bastante aumentado
· Váriaas membranas aderidas umas às outras, lembram cachos de uva
· Perda do escólex
· Intensa resposta inflamatória, fibrose, espessamento das leptomeninges, obstrução do líquor (óbito), hidrocefalia,hipertensão intracraniana
Quadro clínico:
· Localização (parênquima, intraventricular)
· Tipo morfológico (simples ou racemosa)
· Número de larvas (cisticercos)
· Fase de desenvolvimento (fase ativa ou fase de degeneração)
· Sistema imune do hospedeiro
· Ocorrência de hidrocefalia
Neurocisticercose tem mortalidade baixa
Pode ser fatal:
· Cisticercose não tratada com hidrocefalia
· Hipertensão intracraniana
· Grande número de cisticercos
Cisticercose ocular
· Desenvolvimento do cisticerco na retina
· Pode causar deslocamento ou perfuração da retina opacificação do humor vítreo
· Pode ocorrer perda de visão, dor, desvio ocular ou exoftalmia
Cisticercose muscular ou subcutânea
· Geralmente assintomárica
· Fadiga, dor muscular, cãibras
· Tecido subcutâneo: palpável, indolor, confundido com cisto sebáceo
Diagnóstico:
· Anamnese: hábitos alimentares, hábitos de higiene, vive no meio rural? Já teve teníase?
· Exame físico: nódulos cutâneos, exame de fundo de olho
· Diagnóstico laboratorial: Análise do líquor (aumento de leucócitos, linfócitos e eosinófilos e aumento das proteínas totais e globulinas), exames de imagem e dosagem de anticorpos (técnica imunoblot)
· Os testes de detecção de anticorpos não distinguem entre infecções ativas e inativas, não são úteis pra dar prognóstico
· Exames de imagem: tomografia computadorizada (mais usado), ressonância magnética, raio X
Tratamento
· Paciente sintomático, com cisticercos viáveis (sem ser calcificado)
· Albendazol ou praziquantel, associado a corticois
· Cirurgia (tem que avaliar caso a caso)
Epidemiologia:
· Abate clandestino
· Consumo de carnes cruas/mal passadas
· Condições de higiene
· Nível socioeconômico
· Ovos resistentes
Profilaxia
· Cozinhar bem as carnes
· Congelamento
· Impedir acesso de suínos aos excrementos humanoa
· Construção de fossas sépticas, 
· Inspeção de carnes em frigorícos
· Tratamento dos parasitas
Diagnóstico laboratorial da Tenia
Pesquisa de proglotes e ovos
Pesquisa de proglotes: tamisação passagem do material fecal pelo tamis (“peneira”) 
Pesquisa de ovos: indistinguíveis morfologicamente, não dá pra dizer qual é a espécie
· EPF (Ritchie)
· Fita gomada (Graham)
Hidatidose ou Equinococose humana:
Agente etiológico: Echinococcus
· Echinococcus granulosus Hidatidose cística (cisto primitivo unicavitário)
· Echinococcus vogeli Hidatidose neotropical (cistos múltiplos)
· Echinococcus oligarthrus Hidatidose neotropical (cistos múltiplos)
· Echinococcus multilocularis Hidatidose alveolar (cisto multivesicular, infiltrante)
É causada pela forma cística (larvária) do echinococcus cisto hidático ou hidátide
Hospedeiro definitivo: cães e carnívoros silvestres (formas adultas no intestino delgado)
Hospedeiros intermediários: ovinos, bovinos, suínos, caprinos, cervídeos (cisto hidático)
Hospedeiros acidentais: humanos (cisto hidático)
Echinococcus granulosus: Hidatidose Cística
Principais formas evolutivas:
· Adulto:
- Tênia de 3 a 4 proglotes, de 4 a 6 mm, no intestino delgado dos cães
- Escólex com 4 ventosas e acúleos
- Colo: unidade produtora de proglotes (conjunto de proglotes: estróbilo)
- Proglotes jovens, maduras e grávidas
· Ovo: embrióforo (envoltório) 
· Cisto hidático: 
- Hospedeiros intermediários: fígado, pulmões
- Hospedeiro acidental (homem): fígado, pulmões, encéfalo, ossos, baço, músculos, rins, olhos
Cisto primário:
- Cisto com uma cavidade (unilocular)
- Esférico, arredondado, com dimensões variadas (poucos mm a vários cm), depende do tempo de infecção
- Membrana adventícia: camada de tecido fibroso produzida pelo hospedeiro
- Membrana anista
- Membrana germinativa ou prolígera: elemento fundamental da hidátide, a partir dela que é formada a membrana anista
- Vesícula prolígera
- Protoescólex
- Líquido hidático e areia hidática
Somente o cisto fértil (com protoescóleces) pode dar continuidade ao ciclo se for ingerido pelo cão
Cisto hidático filho, produzido pelo protoescóleces (envelhecimento, perda de líquido hidático, alterações bioquímicas do líquido, infecção bacteriana secundária)
Cisto hidático anormal: multivesicular quando vários vistos endógenos vão ocupando o espaço do cisto primério, dificultando o tratamento
Os humanos se infectam pela ingestão de ovos presentes em alimentos contaminados, água contaminada, ou quando as pessoas brincam com os cães. Após a ingesta do ovo, no estômago, o suco gástrico semidigere o embrióforo do ovo. No duodeno as enzimas pancreáticas finalizam a digestão do embrióforo, liberando a oncosfera ou embrião exacanto. A oncosfera, livre na luz intestinal, é ativada em contato com a bile, invade a mucosa intestinal com o auxílio dos acúleos, e migra pela circulação linfática e venosa, chegando ao fígado e aos pulmões.
Os hospedeiros intermediários (ovinos, suínos, caprinos, bovinos): se infectam ingerindo ovos do parasito
Os hospedeiros definitivos (cães) se infectam ao ingerir vísceras cruas dos hospedeiros intermediários contendo o cisto hidático.
Os ovos são bastante resistentes, permanecem viáveis por vários meses em lugares úmidos e sombreados
Patogenia:
· A gravidade está relacionada com a integridade das membranas do cisto hidático, tamanho, número de cistos e órgãos atingidos
· Principais localizações: fígado, pulmões
· Outras localizações: musculatura, baço, rins, coração, cérebro, vesícula biliar, peritônio, ossos
· Evolução lenta (anos) podem atingir grandes dimensões
· Cistos pequenos, encapsulados e calcificados podem permanecer assintomáticos durante anos ou por toda a vida do hospedeiro
· Principais ações patogênicas: mecânica, irritativa e tóxica
· Pode ocorrer ruptura do cisto, liberando grande quantidade de líquido hidático para cavidades ou órgãos, podendo ocorrer uma reação alérgica, levando a choque anafilático e óbito
Diagnóstico:
· História do paciente
· Dados clínicos 
· Exames complementares
· Presença de massas palpáveis
· Manifestações hepáticas ou pulmonares crônicas
· Áreas endêmicas
Diagnóstico laboratorial:
· Método sorológicos: diagnóstico e controle de cura pós tratamento cirúrgico ou medicamentoso Western blot ou imunoblotting (maior especificidade), elisa ou imuunofluorescência
· Métodos de imagem: ultrassonografia, radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética
· Parasitológico: detecção de protoescóleces em expectoração ou líquido hidático
Tratamento:
· Albendazole: 400mg 2x/dia de 3 a 6 meses (pode associar com praziquantel)
· PAIR: punção, aspiração, injeção e reaspiração do cisto punção do cisto, aspiração do líquido hidático, inoculação de uma substância protoescolicida, reaspiração após 10 minutos (contraindicado em cistos pulmonares e cerebrais)
Profilaxia:
· Evitar a infecção em humanos: Lavagem das mãos, consumir alimentos de procedência conhecida, evitar contato direto com cães não tratados
· Evitar a infecção em cães: não alimentar cães com vísceras cruas de ovinos, bovinos, suínos; incinerar as vísceras com hidátides; cocção das vísceras por 45min, construir matadouro domiciliar sem acesso aos cães
· Evitar a contaminação ambiental: tratar periodicamente todos os cães da propriedade, impedir o acesso de cães em hortas e em reservatórios de água
Echinococcus vogeli: Hidatidose neotropical (policística)
Hospedeiro definitivo: desenvolvimento de forma adulta no intestino (carnívoro silvestre)
Hospedeiro intermediário: desenvolvimento de formas larváticas, cisto hidático (roedores)
Hospedeiros acidentais: cães, humanos
Os cistos filhos são exógenos (cistos múltiplos)
Localização: fígado, pulmões, mesentério, baço
1. Fase inicial: cistos pequenos
2. Fase de agravamento: aumento de volume e/ou do órgão parasitado
3. Fase de resolução ou de extinção espontânea: cistos calcificados
Patogenia: 
· Policistos hepáticos e na cavidade abdominal
· Dor abdominal, febre, perda de peso (diagnóstico diferencial: neoplasia)
· Policistos pulmonares: compressão dispneia, dor torácica, tosse, hemoptise, edema agudo do pulmão
Diagnóstico:
· Dados epidemiológicos, clínicos e exames complementares
· Região endêmica: regiãoamazônica
· Exames de imagem: ressonância magnética, tomografia computadorizada, radiologia
· Diagnóstico sorológico: western blot (detectar anticorpos contra o parasito)
· Histopatológico
Diagnóstico laboratorial:
· Só vai ter ovos nas fezes do hospedeiro definitivo (cães)
· Análise do cisto hidático: cada vesícula prolígera tem de 2 a 60 protoescóleces
· Protoescólex: forma ovoide, 4 ventosas 120micrômetro, 2 fileiras de acúleos
Profilaxia: impedir que os cães se alimentem de vísceras cruas de animais caçados (paca, cutia)
Tratamento: remoção cirúrgica ou albendazol

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