Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/295813265 Obra coletiva Mediação de conflitos - 2a. edição - versão digital Data · July 2015 CITATIONS 0 READS 3,680 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Financial System and Sustainable Development View project Luciane Moessa de Souza Banco Central do Brasil 13 PUBLICATIONS 8 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Luciane Moessa de Souza on 24 February 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/295813265_Obra_coletiva_Mediacao_de_conflitos_-_2a_edicao_-_versao_digital?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/295813265_Obra_coletiva_Mediacao_de_conflitos_-_2a_edicao_-_versao_digital?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Financial-System-and-Sustainable-Development?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luciane_Moessa_De_Souza?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luciane_Moessa_De_Souza?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Banco_Central_do_Brasil?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luciane_Moessa_De_Souza?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luciane_Moessa_De_Souza?enrichId=rgreq-0459d9cac0082a5b411156f1e5e391c3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTgxMzI2NTtBUzozMzI2MzYwNzA0MDAwMDVAMTQ1NjMxODAyODMzNg%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf 1 1 Mediação de conflitos Novo paradigma de acesso à justiça Luciane Moessa de Souza (Coordenadora) De acordo com o novo CPC (Lei 13.105/2015) e a nova Lei de Mediação e Conflitos (Lei 13.140/2015) 2ª edição 2 3 2015 Santa Cruz do Sul 2ª edição Mediação de conflitos Novo paradigma de acesso à justiça Luciane Moessa de Souza (Coordenadora) De acordo com o novo CPC (Lei 13.105/2015) e a nova Lei de Mediação e Conflitos (Lei 13.140/2015) 2 3 Prof. Dr. Alexandre Morais da Rosa – Direito – UFSC e UNIVALI/Brasil Prof. Dr. Alvaro Sanchez Bravo – Direito – Universidad de Sevilla/Espanha Profª. Drª. Angela Condello – Direito - Roma Tre/Itália Prof. Dr. Carlos M. Carcova – Direito – UBA/Argentina Prof. Dr. Demétrio de Azeredo Soster – Ciências da Comunicação – UNISC/Brasil Prof. Dr. Doglas César Lucas – Direito – UNIJUI/Brasil Prof. Dr. Eduardo Devés – Direito e Filosofia – USACH/Chile Prof. Dr. Eligio Resta – Direito – Roma Tre/Itália Profª. Drª. Gabriela Maia Rebouças – Direito – UNIT/SE/Brasil Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin – Direito – UNIJUI/Brasil Prof. Dr. Giuseppe Ricotta – Sociologia – SAPIENZA Università di Roma/Itália Prof. Dr. Gustavo Raposo Pereira Feitosa – Direito – UNIFOR/UFC/Brasil Prof. Dr. Humberto Dalla Bernardina de Pinho – Direito – UERJ/UNESA/Brasil Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – Direito – PUCRS/Brasil Prof.ª Drª. Jane Lúcia Berwanger – Direito – UNISC/Brasil Prof. Dr. João Pedro Schmidt – Ciência Política – UNISC/Brasil Prof. Dr. Jose Luis Bolzan de Morais – Direito – UNISINOS/Brasil Profª. Drª. Kathrin Lerrer Rosenfield – Filosofia, Literatura e Artes – UFRGS/Brasil Profª. Drª. Katia Ballacchino – Antropologia Cultural – Università del Molise/Itália Profª. Drª. Lilia Maia de Morais Sales – Direito – UNIFOR/Brasil Prof. Dr. Luís Manuel Teles de Menezes Leitão – Direito – Universidade de Lisboa/Portugal Prof. Dr. Luiz Rodrigues Wambier – Direito – UNIPAR/Brasil Profª. Drª. Nuria Belloso Martín – Direito – Universidade de Burgos/Espanha Prof. Dr. Sidney César Silva Guerra – Direito – UFRJ/Brasil Profª. Drª. Silvia Virginia Coutinho Areosa – Psicologia Social – UNISC/Brasil Prof. Dr. Ulises Cano-Castillo – Energia e Materiais Avançados – IIE/México Profª. Drª. Virgínia Appleyard – Biomedicina – University of Dundee/ Escócia Profª. Drª. Virgínia Elizabeta Etges – Geografia – UNISC/Brasil CONSELHO EDITORIAL Profª. Drª. Fabiana Marion Spengler – Direito – UNISC e UNIJUI/Brasil Prof. Me. Theobaldo Spengler Neto – Direito – UNISC/Brasil COMITÊ EDITORIAL 4 5 Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406 Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406 Correção ortográfica: pelos autores Diagramação: Daiana Stockey Carpes Essere nel Mondo Rua Borges de Medeiros, 76 Cep: 96810-034 - Santa Cruz do Sul Fones: (51) 3711.3958 e 9994. 7269 www.esserenelmondo.com.br www.facebook.com/esserenelmondo Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e ex- presso consentimento da Editora. A utilização de citações do texto deverá obedecer as regras editadas pela ABNT. As ideias, conceitos e/ou comentários expressos na presen- te obra são criação e elaboração exclusiva do(s) autor(es), não cabendo nenhuma responsabilidade à Editora. Prefixo Editorial: 67722 Número ISBN: 978-85-67722-42-9 M489 Mediação de conflitos: novo paradigma de acesso à justiça [recurso Eletrônico] / coordenadora: Luciane Moessa de Souza – Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2015. 345 p. Texto eletrônico Modo de acesso: World Wide Web. 1. Mediação. 2. Acesso à justiça. 3. Resolução de disputa (Direito). 4. Conciliação (Processo civil). 5. Justiça restaurativa. 6. Direito comparado. I. Souza, Luciane Moessa. CDD-Dir: 341.4625 Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406 Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates Revisão gramatical: Luciane Moessa de Souza Diagramação: Daiana Stockey Carpes 4 5 Sumário Apresentação PARTE I Noções Gerais Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas: uma análise sob a perspectiva construtivista André Gomma de Azevedo 1 Introdução 2 Processos construtivos de resolução de disputas e fatores de efetividade de processos de resoluçãode disputas 3 Constatações empíricas referentes à efetividade processual 4 A perspectiva construtivista da resolução de disputas como forma de assegurar maior efetividade processual 5 Conclusão Referências Mediação, acesso à justiça e desenvolvimento institucional: análise histórico-crítica da legislação brasileira sobre mediação Luciane Moessa de Souza 1 Introdução 2 Desenvolvimento institucional e crescimento econômico 2.1 Conceito de desenvolvimento e interdependência entre os diversos aspectos 2.2 Correlaçãoentre desenvolvimento institucional e atividade econômica 3 Obstáculos para o acesso à justiça no Brasil 3.1 Conceito de acesso à justiça 3.2 Os principais obstáculos para o acesso à justiça 3.3 Meios alternativos de resolução de controvérsias: incremento na celeridade e na qualidade dos serviços jurisdicionais 4 A legislação brasileira sobre mediação 4.1 Conflitos a que se aplica a mediação 4.2 Espécies de mediação 4.3 Quem pode ser mediador 4.4 Fiscalização das atividades de mediação 4.5 Prazo para realização da mediação e tutela de urgência 4.6 Incompatibilidades com a função de mediador 4.7 A figura do co-mediador 4.8 A participação do advogado na mediação 4.9 O conteúdo do acordo 4.10 Eficácia do acordo 12 16 17 17 18 21 25 26 30 34 34 35 35 37 42 42 42 48 51 54 55 60 62 63 64 64 64 65 66 6 7 4.11 Suspensão da prescrição 5 Medidas necessárias para viabilizar a mediação no Brasil 5.1 As mudanças na cultura dos operadores jurídicos 5.2 Pontos a serem regulamentados 5.2.1 Capacitação dos mediadores 5.2.2 Definição dos valores a serem cobrados e da responsabilidade pelo pagamento dos mediadores nas causas de justiça gratuita 6 Importante inovação: mediação on-line ou a distância 7 Considerações finais: o potencial da mediação Referências Sustentabilidade do Poder Judiciário e a mediação na sociedade brasileira Roberto Portugal Bacellar 1 Introdução 2 Um serviço judiciário com qualidades interdisciplinares 3 O poder jurisdicional típico e o dos métodos complementares 4 Conclusão Referências Mediação e conciliação: dois paradigmas distintos, duas práticas diversas Tania Almeida 1 Considerações iniciais 2 A construção de acordos proposta pela conciliação e o privilégio da desconstrução de conflitos pretendida pela mediação 3 A busca da satisfação individual pretendida na conciliação e a procura da satisfação mútua demandada pela mediação 4 A repercussão das soluções sobre si mesmos cuidada pela conciliação e a repercussão das soluções sobre terceiros, investigada pela mediação 5 A coautoria de soluções construídas pelas partes com o conciliador e a privilegiada autoria das partes perseguida pelo mediador 6 A ótica monodisciplinar utilizada pela conciliação e a abordagem multidisciplinar proposta pela mediação 7 O presente e a culpa focados na conciliação; o futuro e a responsabilidade social objetivados pela mediação 8 A pauta objetiva destacada pela conciliação e a pauta subjetiva privilegiada pela mediação 9 A publicidade que caracteriza a conciliação e a confidencialidade proposta pela mediação 10 Os pareceres técnicos na conciliação e na mediação 11 Os advogados das partes na conciliação e na mediação 12 Considerações finais Referências 67 67 67 68 68 70 71 71 72 74 74 76 77 78 78 80 80 81 81 82 83 83 84 84 85 85 86 87 87 6 7 Ser um mestre em mediação? Gladys Stella Álvarez 1 Conceito de maestria 2 Os estágios da profissão 3 Alguns indicadores de qualidade 4 Da teoria à prática e da prática à teoria 5 Conclusão Referências A ética na mediação Tânia Lobo Muniz 1 Apresentação 2 A ética 3 A eticidade 4 Código de Ética 5 Valores a serem positivados 6 A atuação do mediador, a questão ética, o comprometimento de sua atuação e os reflexos na aceitação e permanência do instituto 7 Conclusão Referências Diretrizes éticas, capacitação, credenciamento e supervisão da atuação de mediadores e conciliadores: contribuições preliminares Luciane Moessa de Souza 1 Introdução 2 Diretrizes éticas 2.1 Imparcialidade 2.2 Dever de respeitar a autonomia das partes 2.3 Deveres de competência e diligência 2.4 Dever de alertar as partes sobre a necessidade de perícia técnica ou assessoramento de terceiros 2.5 Dever de zelar pelo equilíbrio de poder entre as partes 2.6 Confidencialidade 2.7 Transparência na condução do processo 2.8 Dever de zelar pela viabilidade do cumprimento do acordo 2.9 Dever de zelar pelos interesses de terceiros afetados 2.10 Remuneração do mediador 3 As qualidades necessárias para um bom mediador 4 Sobre a regulamentação (ou não) da atividade 4.1 Cadastro, registro ou certificação de mediadores – critérios apropriados 4.2 A capacitação de mediadores 5. Supervisão e aplicação de penalidades por desvio ético 6 Conclusões Referências 89 89 89 90 92 94 95 96 96 96 97 97 98 100 105 105 107 107 108 110 114 115 116 118 118 121 122 122 124 125 126 127 130 136 141 142 8 9 PARTE II Aplicação da Mediação A mediação de conflitos no contexto empresarial Adolfo Braga Neto 1 Introdução 2 Mediação comercial 3 Mediação organizacional 4 Mediação ambiental 5 Mediação trabalhista 6 Aspectos gerais e legais 7 Conclusão Referências Mediação e Estatuto da Criança e do Adolescente: práticas e possibilidades Alexandre Morais da Rosa 1 Introdução 2 Quando se fala de criança e adolescente, de quem se fala? 3 O ato infracional 4 A Justiça Restaurativa Referências O componente de mediação vítima-ofensor na Justiça Restaurativa: uma breve apresentação de uma inovação epistemológica na autocomposição penal André Gomma de Azevedo 1 Introdução 2 Justiça Restaurativa e mediação vítima-ofensor: conceitos 3 Características procedimentais da mediação vítima-ofensor 3.1 Pré-seleção de casos 3.2 Preparação para a mediação 3.3 Mediação vítima-ofensor 4 Conclusão Referências Mediação em relações de trabalho no Brasil Antônio Rodrigues de Freitas Jr. 1 O papel da mediação na solução de conflitos de justiça 2 Conceituação de conflito 3 Conflitos aos quais se aplica a mediação 3.1 Relações entre sujeitos constitutivamente desiguais não comportam mediação? 4 Considerações finais Referências 144 145 145 146 149 150 151 153 154 155 157 157 157 159 162 163 166 166 172 176 176 176 177 180 181 184 184 185 189 190 195 195 8 9 Programa de mediação de Conflitos: uma experiência comunitária como política pública em Minas GeraisAriane Gontijo Lopes Leandro, Giselle Fernandes Corrêa da Cruz 1 Apresentação 2 Pressupostos conceituais: a base teórica da metodologia 3 O mediador 4 Mediação atendimento 5 Eixo Atendimento Coletivo 6 Organização da prática do Programa Mediação de Conflitos 7 Resultados alcançados pelo Programa Mediação de Conflitos 8 Conclusão Referências A Defensoria como agente na mediação de conflitos Eduardo Antônio de Andrade Villaça, Michele Cândido Camelo 1 Introdução 2 Mediação de conflitos 3 A Defensoria Pública 4 A Defensoria Pública tutelando a mediação comunitária 5 A Defensoria Pública atuando como mediadora em conflitos coletivos 6 Considerações finais Referências Conflitos societários e empresariais: a conveniência da adoção da cláusula de mediação e arbitragem (“med-arb”) Henrique Gomm Neto 1 Apresentação 2 Origem da cláusula “med-arb” 3 Conflitos societários: ênfase na empresa familiar 4 Inconveniência do recurso ao procedimento judicial 5 Aspectos positivos do processo de mediação para os conflitos societários 6 Objetivos que se pretendem alcançar com a aplicação da técnica de mediação 6.1 Construir um novo espaço adequado para uma negociação produtiva 6.2 Despersonalizar o conflito 6.3 Transformar uma negociação baseada em “posições” em uma negociação baseada em interesses 6.4 Adotar uma orientação com vistas ao futuro 7 Conclusão: a importância do “design” da cláusula med-arb. Referências 197 197 199 205 205 210 213 215 222 222 224 224 226 229 230 236 241 242 244 244 244 245 246 247 248 248 249 250 250 251 254 10 11 A mediação no direito de família e o acesso à justiça Ivan Aparecido Ruiz 1 Introdução 2 Evolução histórica dos meios consensuais de resolução de conflitos 3 Notas introdutórias sobre a mediação 4 Processo judicial (ganha/perde) versus mediação (ganha/ganha) 5 Conceito de mediação 6 Mediação nas questões de família 6.1 Mediação e ações de estado 6.2 A separação consensual extrajudicial e o divórcio consensual extrajudicial 7 A contribuição dos meiosconsensuais de resolução de conflitos no acesso à justiça 8 Conclusões Referências Agir contra si – acrasia – e a mediação de conflitos Célia Regina Zapparolli 1 Introdução 2 Akrasia ou acrasia 3 Caso em estudo no. 1 4 Caso em estudo no. 2 4.1 Reflexões técnicas preliminares 4.2 Seguimento do relato do caso em estudo no. 2 e outras considerações técnicas 5 Análise dos casos concretos 1 e 2 à luz da Teoria da Acrasia em Elster 6 Instrumentos propostos para superação da Acrasia Referências Mediação de conflitos envolvendo entes públicos Luciane Moessa de Souza 1 Introdução 2 Fundamentos para a adoção de métodos consensuais de resolução de conflitos na esfera pública 2.1 Fundamentos constitucionais 2.2 Fundamentos infraconstitucionais 3 Os princípios constitucionais que regem a atuação do Poder Público e suas consequências na resolução consensual de conflitos 4 As medidas necessárias para a viabilização da resolução consensual de conflitos individuais envolvendo o Poder Público 5 As medidas necessárias para a viabilização da resolução consensual de conflitos coletivos envolvendo o Poder Público 6 O capítulo dos conflitos que envolvem o Poder Público na nova Lei sobre Mediação de Conflitos 6.1 Seção I - Disposições comuns às três esferas federativas 6.2 Seção II - Conflitos envolvendo entes públicos federais 7 Conclusões 256 256 256 260 262 264 269 270 278 279 281 282 288 288 288 290 291 292 292 293 295 299 300 300 301 301 302 304 306 307 309 310 312 316 10 11 PARTE III Direito Comparado Mediação: estudo comparativo Déborah Lídia Lobo Muniz 1 Introdução 2 A mediação no direito alienígena 2.1 A mediação na União Européia 2.2 A mediação na América Latina 3 Estruturas selecionadas e variáveis de comparação 3.1 A legislação da França 3.2 A legislação de Portugal 3.3 A legislação da Costa Rica 4 Elementos passíveis de recepção pelo projeto de lei brasileiro 5 O projeto de lei 4827/1998 6 Resultados práticos da mediação 7 Conclusão Referências Mediação na China: passado, presente e futuro Wei Dan 1 Apresentação 2 Evolução histórica da mediação na China tradicional 3 Mediação na República Popular da China: classificação e fontes 4 Regime legal da mediação popular 4.1 Histórico e desenvolvimento 4.2 Princípios básicos 4.3 Âmbito de aplicação 4.4 Procedimentos e características 4.5 Efeitos jurídicos do acordo obtido na mediação 5. Da mediação judicial 5.1 Vários ajustamentos da legislação e de políticas judiciais 5.2 Princípios básicos 5.3 Âmbito de aplicação 5.4 Procedimentos e características 5.5 Efeitos jurídicos 6 Problemas existentes nas diversas espécies de mediação 7 Futuro da mediação na China Referências Síntese curricular dos autores 317 318 318 318 320 320 321 321 326 328 329 331 333 336 338 340 340 340 342 344 344 346 346 348 348 350 350 351 351 352 353 354 355 356 357 12 13 Apresentação A mediação se inscreve em diversas culturas e tradições legais como expediente ao mesmo tempo singelo e eficaz de resolução pacífica de conflitos. Sua regulação por meio de instrumentos legais formais pode ou não ser considerada apropriada. No Brasil, na esteira da bem sucedida regulação da arbitragem, por meio da Lei nº 9.307/96 1, bem como da jurisprudência e da prática subsequentes, entendeu-se que seria oportuna equivalente ordenação da mediação. Diante de tantas iniciativas de mediação já existentes tanto na seara judicial quanto no âmbito extrajudicial, durante muito tempo a comunidade que trabalha com o tema debateu se seria de fato necessária uma lei específica para fomentar a institucionalização da mediação no Brasil, sendo que o primeiro projeto de lei a respeito foi apresentado nos idos de 1998, pela deputada federal paulista Zulaiê Cobra (PL 4827/1998). A ele se seguiram diversos outros2 e agora, com a edição da Lei 13.140, de 26 de junho de 2015, esta questão resta prejudicada. Vale ressaltar que também o novo Código de Processo Civil contém um capítulo tratando da mediação e da conciliação de conflitos na esfera judicial. Resta-nos agora, além de continuar a estudar e divulgar o instituto, sua importância e modo de funcionamento, analisar de forma crítica o conteúdo da lei que veio a disciplinar o tema, além das bases culturais que permitem melhor compreender e aplicar este instituto. A ideia dessa obra coletiva, nos idos de 2006, partiu do Professor Paulo Borba Casella, um dos coordenadores de sua primeira edição, que por este motivo merece um agradecimento especial3. A mediação deve ser compreendida no que concerne aos tipos de 1 Recentemente, foi aprovada legislação atualizando a lei de arbitragem – por sinal recheada de polêmicas, tal como ocorreu quando a Lei 9.307 foi promulgada em 1996. A nova lei veio a so- lucionar algumas dúvidas quanto à abrangência da arbitragem, mas faltou maior diálogo com a comunidade afetada no que concerne aos conflitos de natureza trabalhista e consumerista, para se chegar a um consenso quanto a uma solução viável e aceitável para todos. Também perdeu-se a oportunidade de avançar em alguns temas necessários, ensejando possivelmente nova reforma para breve. 2 No Senado, merece destaque o projeto de lei de autoria do Senador capixaba Ricardo Ferraço (PLS 517/2011), que contou com a assessoria de alguns especialistas no assunto na sua elabora- ção (Prof. Humberto Dalla Bernardina de Pinho, mediadora Gabriela Asmar e Juíza Trícia Navarro). Esse projeto foi aproveitado em parte na redação final da nova lei. Existe também na Câmara um projeto de lei (PLC 4891/2005) que cria as profissões de mediador e árbitro, com parecer do relator favorável à sua aprovação, com exceção de alguns dispositivos eivados de inconstituciona- lidade formal. Além destes, há diversos outros projetos de lei propondo a utilização da mediação para conflitos específicos. 3 Agradeço também de modo especial aos autores que, como eu, atualizaram seus artigos para esta edição: Tania Almeida, Roberto Bacellar, Adolfo Braga Neto, Wei Dan, Henrique Gomm Neto, Ariane Gontijo e Giselle Cruz e Ivan Ruiz. Já a mediadora Célia Zapparolli passou a integrar o gru- po de coautores desta obra a partir desta segunda edição. Apresentação 12 13 conflitos que por meio desta possam ser solucionados, assim como no que diz respeito à adequação da obrigatoriedade de realização da mediação em diversas situações, ou, ainda, no que tange a participação de advogados no processo — para mencionar apenas algumas das questões mais controvertidas e necessárias para que se compreenda a natureza da mediação e a suas possíveis aplicações. As vicissitudes por que passaram os diferentes projetos de lei a respeito da matéria em nada mudam o interesse e a relevância do tema. De fato, proliferam há muitos anos no Brasil, muitas vezes com grandes limitações, programas patrocinados por entidades, públicas e privadas, dispostos a trabalhar com a mediação, a qual acarreta grande mudança na compreensão do acesso à justiça, bem assim multiplicam-se as pesquisas acadêmicas que têm se dedicado ao estudo do instituto. Afinal, os problemas que afligem os brasileiros carentes de meios eficazes de solução de “conflitos de justiça”, como os denomina o Professor Antônio Rodrigues de Freitas Jr. (USP), continuam presentes. O Judiciário se vê acuado por demanda crescente, ante a evidente impossibilidade do sistema contencioso tradicional sustentar, a longo prazo, tal volume de expectativas e necessidades sociais, como ressalta o Professor Roberto Portugal Bacellar (PUC/PR) em seu artigo. O dado mais grave da situação, imperativo salientar, é que os problemas da solução judicial de conflitos não se restringem ao aspecto da morosidade, pois, muitas vezes, ao final do processo tradicional, não se obtém nenhuma pacificação social, não se resolve o problema que levou os envolvidos ao Judiciário, os quais são apenas substituídos e, algumas vezes, agravados, como mostra o ProfessorAndré Gomma de Azevedo (UnB) em seu trabalho, ao confrontar a perspectiva destrutiva dos métodos contenciosos tradicionais com a perspectiva construtiva dos métodos consensuais de resolução de conflitos. Todavia, como também demonstra este mesmo autor, se não adequadamente manejados, também os novos meios podem falhar em sanear o déficit de justiça que acomete os envolvidos em conflitos de natureza jurídica. Meu primeiro artigo nesta obra busca mostrar como a mediação pode contribuir para sanear os diversos obstáculos para acesso à justiça em sentido pleno e como contribuição determinante para o desenvolvimento institucional – aspecto indispensável para qualquer país cujo desenvolvimento se entenda como criação de oportunidades para que as pessoas realizem o seu potencial. Nele, realizo ainda uma descrição crítica dos projetos de lei que tramitaram perante o Poder Legislativo no Brasil tratando da institucionalização da mediação, confrontando-os com a legislação argentina sobre o assunto, bem assim com a legislação colombiana sobre conciliação. Nesta nova edição, abordo, além do primeiro projeto de lei sobre o tema (PLC 4827/1998), os dois projetos que foram apresentados no Senado Federal bem mais tarde (PLC 517/2011 e 405/2013), assim comoo anteprojeto elaborado por Comissão de Especialistas criada pelo Ministério da Justiça também em 2013 – culminando pela análise da redação final que constou na nova Lei de Mediação de Conflitos. Além disso, abordo os dispositivos do novo Código de Processo Civil que versam sobre o tema e, ainda, a Resolução 125, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça, ressaltando que estes dois últimos diplomas normativos dispõem tanto sobre Apresentação 14 15 mediação quanto sobre conciliação de conflitos. Também é importantíssimo distinguir, como faz muito bem o trabalho da mediadora Tania Almeida (Mediare), a mera obtenção do acordo, objetivo principal da conciliação, da pacificação do conflito, objetivada pela mediação. Não se trata de tarefa fácil, dada a relevância da formação ética e do desenvolvimento de habilidades, necessárias no mediador, que a experiência na atividade pode vir a proporcionar, como se pode concluir da leitura dos capítulos da Professora Tânia Lobo Muniz (Universidade Estadual de Londrina), e da Professora Gladys Stella Álvarez (Universidade de Buenos Aires), uma de nossas convidadas internacionais da obra, ambas autoras de teses de doutoramento sobre mediação. O tema das diretrizes éticas e da capacitação de mediadores e conciliadores é também enfrentado ainda por mim em artigo acrescentado a esta segunda edição, que também enfoca os controversos assuntos do credenciamento e da supervisão da atuação destes profissionais, à luz sobretudo da farta experiência estadunidense. É imprescindível analisar, ainda, a aplicabilidade da mediação a diferentes tipos de conflitos, como fazem os autores na Parte II da obra, dentre os quais o Professor Antônio Rodrigues de Freitas Jr., ao comprovar esta possibilidade na esfera trabalhista, o Professor Alexandre Morais da Rosa, ao enfocar a adequação da mediação aos conflitos envolvendo atos infracionais praticados por adolescentes, numa interessante abordagem que implica também a ótica psicanalítica, o Professor Ivan Aparecido Ruiz (Universidade Estadual de Maringá), que é autor de Tese de Doutorado sobre o tema e aqui explora o potencial da mediação nos conflitos que envolvem o direito de família, o Professor André Gomma de Azevedo, ao enfocar a mediação na área penal, e os mediadores Adolfo Braga Neto (CONIMA) e Henrique Gomm Neto (ARBITAC), os quais, sob diferentes prismas, mostram a ampla possibilidade de utilização da mediação no âmbito empresarial. Eu não poderia deixar de incluir também, ao final desta Parte, um artigo por mim escrito sobre a utilização da mediação no que se refere aos numerosos conflitos envolvendo o Poder Público, já que esse tema é recheado de controvérsias e, além de ter sido objeto de minha pesquisa de Doutorado, foi tratado em capítulo próprio pela nova Lei de Mediação de Conflitos. Do ponto de vista da aplicação prática da mediação, convidei para apresentar à comunidade jurídica o seu trabalho duas mediadoras que integraram por muitos anos o Programa Mediação de Conflitos, desenvolvido no âmbito da Secretaria de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, Ariane Gontijo Lopes Leandro e Giselle Fernandes Corrêa da Cruz, que descrevem aqui as diretrizes e a metodologia adotada numa experiência de inegável sucesso, como demonstra pesquisa de campo realizada por entidade externa contratada para este fim. Da mesma forma, os Defensores Públicos do Estado do Ceará Eduardo Antônio de Andrade Villaça e Michele Cândido Camelo narram a experiência pioneira de sua instituição na mediação comunitária e também os primeiros passos na mediação de conflitos coletivos. Também a experiente mediadora Célia Zapparolli apresenta em seu artigo suas recentes reflexões acerca da complexidade inerente à mediação de conflitos em situações de violência de gênero. Por fim, contamos também com dois artigos que descrevem experiências de mediação em outros países: um de autoria da Professora Déborah Lídia Lobo Muniz, que estudou os sistemas de mediação de Portugal, França e Costa Rica, Apresentação 14 15 comparando os sistemas ali existentes com o primeiro projeto de lei brasileiro que propôs a institucionalização da mediação (PLC 4827/1998), e outro da Professora Wei Dan (Universidade de Macau), outra convidada internacional, no qual descreve a secular utilização da mediação para solução de conflitos na China. Esperamos, assim, contribuir para difundir maior conhecimento e mais adequada implementação deste singelo mas revolucionário instrumento de realização do acesso à justiça que é a mediação, que se caracteriza sobretudo por seu caráter democrático (por buscar uma solução criada pelas próprias partes em conflito), pedagógico (por possibilitar às partes aprenderem a se comunicar e administrar os problemas em comum) e preventivo (ao evitar o surgimento de novos conflitos, em situações similares, por meio do aprendizado obtido pelas partes). Fica cada vez mais evidente que a solução contenciosa deve ser evitada ao máximo: o processo judicial tradicional está para a realização de direitos como a cirurgia está para a conservação da saúde — trata-se de caminho caro, arriscado e ao qual somente se recorre quando falhou a prevenção e o diagnóstico do problema chegou muito tarde, não havendo mais condições de trabalhar nas causas. Aprender a exercer direitos de forma pacífica seria, assim, um pouco como aprender a cuidar da própria saúde: algo que se aprende um pouco mais a cada problema, e exige monitoramento constante, mas consiste em condição fundamental para o desenvolvimento pessoal, ao qual todos os seres humanos estão destinados — afinal, sem saúde e paz, é impossível alcançar a felicidade. Brasília, julho de 2015. A coordenadora Apresentação 16 17 PARTE I Noções Gerais 16 17 Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas: uma análise sob a perspectiva construtivista4 André Gomma de Azevedo Sumário: 1 Introdução - 2 Processos construtivos de resolução de disputas e fatores de efetividade de processos de resolução de disputas - 3 Constatações empíricas referentes à efetividade processual - 4 A perspectiva construtivista da resolução de disputas como forma de assegurar maior efetividade processual - 5 Conclusão - Referências 1 Introdução Refletindo característica de um moderno ordenamento jurídico (CARREIRA ALVIM, 1993, p. 14; CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2002, p. 20; COUTURE, 1958, p. 10), o direito processual brasileiro, na sua vocação preponderante de servir como instrumento para a efetiva realização de direitos materiais (GRINOVER, 1990, p. 7) e a pacificação social, tem gradativamente se aproximado de novos instrumentos de composição de disputas, inserindo-osnas tradicionais formas de resolução de conflitos: autocomposição (e.g., mediação) e heterocomposição (e.g., arbitragem). Todavia, como reflexo do amadurecimento no Brasil desses novos mecanismos de resolução de disputas, há crescente preocupação com a efetividade desses processos. Em alguns casos, há arbitragens cujos custos excederam aqueles projetados para a eventualidade da disputa ser conduzida no processo judicial, em outros as arbitragens são conduzidas por pessoas que se apresentam como “juízes arbitrais” conduzindo procedimentos de arbitragem travestidos de processos judiciais e há casos em que o desenvolvimento da arbitragem se elastece excessivamente.5 Há também alguns artigos doutrinários (FISS, 1984; HENSLER, 1994; KAKALIK, 1996; ASHWORTH, 2002; CARVER; 4 Texto elaborado a partir de palestras proferidas no Curso de pós-graduação lato sensu em Arbi- tragem e Mediação da Fundação Getúlio Vargas/SP (GVLaw), em 7.7.2004, e no 2º Congresso do Instituto Brasileiro de Estudos do Direito da Energia, em 9.11.2004, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), bem como em artigos publicados na Revista dos Juizados Espe- ciais, do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, e na obra Estudos em arbitragem, mediação e negociação, v. 3. Meus agradecimentos especiais ao Professor Ivan Machado Barbosa pelas críticas e comentários, bem como pelo trabalho de revisão de texto. 5 Recentemente, a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras) firmou termo de conciliação encerrando uma arbitragem, conduzida pela Corte de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI), movida em desfavor de país do continente africano e que durava quase uma década. Os termos dessa conciliação não podem ser reproduzidos em razão da política de confidencialidade da CCI. 18 19 VONDRA, 1994) que começam a surgir em crítica à arbitragem e à mediação. De outro lado, há diversos programas de soluções “alternativas”6 de disputas que, mesmo ligados a tribunais estaduais e federais (AZEVEDO, 2004, p. 137), têm apresentado notáveis índices de satisfação de usuários.7 Neste contexto, mostra- se necessária breve análise de alguns dos fatores que conduzem à efetividade de processos de resolução de disputas. Referindo-se ao processo judicial, o mexicano Niceto Alcalá-Zamora Y Castillo (1991, p. 238) sustentava que este processo rende, com frequência, muito menos do que deveria, pois, em “função dos defeitos procedimentais, resulta muitas vezes lento e custoso, fazendo com que as partes, quando possível, o abandonem”. Cabe acrescentar a esses “defeitos procedimentais” o fato de que, em muitos casos, o processo, ao tratar exclusivamente daqueles interesses juridicamente tutelados, exclui aspectos do conflito que são possivelmente tão importantes quanto ou até mais relevantes do que aqueles juridicamente tutelados. 2 Processos construtivos de resolução de disputas e fatores de efetividade de processos de resolução de disputas Quanto a interesses que não são necessariamente juridicamente tutelados, mas ainda assim permanecem relevantes no conflito, Morton Deutsch (1973), em sua obra The Resolution of Conflict: Constructive and Destructive Processes,8 apresentou importante classificação de processos de resolução de disputas, ao indicar que esses podem ser construtivos ou destrutivos. Para Deutsch (1973, p. 351), um processo destrutivo se caracteriza pelo enfraquecimento ou rompimento da relação social preexistente à disputa em razão da forma pela qual esta é conduzida. Em processos destrutivos, há a tendência de o conflito se expandir ou se tornar mais acentuado no desenvolvimento da relação processual. Como resultado, tal conflito frequentemente torna-se “independente de suas causas iniciais”, assumindo feições competitivas nas quais cada parte busca “vencer” a disputa e decorre da percepção, na mais das vezes errônea, de que os interesses das partes não podem coexistir. Em outras palavras, quando as partes estão em processos destrutivos de resolução de disputas, concluem tal relação processual com esmaecimento da relação social preexistente à disputa e acentuação da animosidade decorrente da ineficiente forma de conduzir o conflito. Por sua vez, processos construtivos, segundo Deutsch (1973), seriam 6 Cabe registrar que, segundo uma perspectiva tradicional de direito processual, a jurisdição é considerada como uma “atividade secundária”, sendo definida, portanto, como poder estatal atri- buído a uma determinada autoridade para aplicar a norma ao fato concreto, visando à composição de lides em razão da inexistência dessa resolução de controvérsia ter sido alcançada espontanea- mente pelas partes. Assim, o dever principal ou primário de resolução de conflito é considerado como sendo das próprias partes — devendo o Estado intervir tão somente quanto as partes não são bem sucedidas nesta atividade. Sob esta ótica da “substitutividade da jurisdição” (CHIOVEN- DA, 2000, p. 17), pode-se afirmar que a principal forma de resolução de disputas é a negociação entre as partes e a forma “alternativa” seria a intervenção estatal por meio da jurisdição. 7 Cf. relatório de atividades do Programa de Estímulo à Mediação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Disponível em: <http://www.tjdf.gov.br>. 8 Cabe destacar que três capítulos desse trabalho foram traduzidos, e podem ser encontrados em: Azevedo (2003, v. 3). Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 18 19 aqueles em razão dos quais as partes concluiriam a relação processual com um fortalecimento da relação social preexistente à disputa. Para esse professor, processos construtivos caracterizam-se: a) pela capacidade de estimular as partes a desenvolverem soluções criativas que permitam a compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos; b) pela capacidade das partes ou do condutor do processo (e.g. magistrado, árbitro ou mediador) de motivar todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição de culpa ou ao menos sem a percepção da existência de um vencido e um vencedor; c) pelo desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses; (DEUTSCH, 1973, p. 360) e d) pela disposição das partes ou do condutor do processo para abordar, além das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que estejam influenciando a relação (social) das partes.9 Em outros termos, as partes, quando em processos construtivos de resolução de disputas, concluem tal relação processual com fortalecimento da relação social preexistente à disputa e, em regra, robustecimento do conhecimento mútuo e empatia. Exemplificativamente, mesmo um casal em via de separação pode ser orientado por meio de um processo construtivo, na medida em que o condutor desse procedimento estiver apto a motivar as partes para que, diante da inevitável ruptura do vínculo conjugal, estas possam desenvolver a melhor relação possível na fase posterior à separação — presumindo-se, no exemplo, que as partes manterão algum vínculo em razão da existência de filhos. Assim, retornando ao conceito apresentado no início do século XX por Alcalá-Zamora Y Castillo (1991), o processo, de fato, rende com frequência menos do que poderia, em parte porque se desenvolve, quanto ao seu escopo social (DINAMARCO, 2000) (a pacificação), fazendo uso, em grande parte, de mecanismos destrutivos de resolução de disputas, a que esse autor mexicano denominou “defeitos procedimentais”. Diante disso, pode- se afirmar que há patente necessidade de que os novos mecanismos de resolução de disputas, como a arbitragem, permitam que as partes possam, por intermédio de um procedimento participativo, resolver suas disputas construtivamente, ao fortalecer relações sociais, identificar interesses subjacentes ao conflito, promover relacionamentos cooperativos, explorar estratégias que venham a prevenir ou resolver futuras controvérsias (RHODE, 2000, p. 132)e educar as partes para uma melhor compreensão recíproca (BARUCH BUSH; FOLGER, 1994). A discussão acerca da introdução de mecanismos que permitam que os 9 Por esse motivo, muitas instituições de arbitragem recomendam que, antes de iniciado o pro- cedimento heterocompositivo propriamente dito, as partes sejam direcionadas a uma breve fase autocompositiva ou a um mediador para que estas possam dirimir eventuais questões que não sejam juridicamente tuteladas (e.g., falha de comunicação) ou especificamente objeto da arbitra- gem, mas que tenham contribuído para o agravamento do conflito ou — na melhor das hipóteses — as próprias partes possam dirimir sua disputa, prescindindo do regular desenvolvimento da arbitragem. André Gomma de Azevedo 20 21 processos de resolução de disputas tornem-se progressivamente construtivos necessariamente deve ultrapassar a simplificada e equivocada conclusão de que, abstratamente, um processo de resolução de disputas é melhor do que outro. Devem ser desconsideradas também soluções generalistas, como se a mediação ou a arbitragem fossem panacéias para um sistema em crise.10 Da mesma forma, conclui-se que não há como impor um único procedimento de mediação ou arbitragem, ante patentes diferenças nas realidades fáticas (fattispecie) (CARNELUTTI apud DINAMARCO, 2003, p. 21) do público alvo de cada centro. Vale ressaltar que frequentemente se encontram centros com diversos procedimentos distintos, que variam de acordo com o objeto da demanda ou a matéria central a ser debatida. A experiência, aliada a pesquisas metodologicamente adequadas (RHODE, 2000, p. 132), tem demonstrado que o que torna um procedimento efetivo depende das necessidades das partes em conflito, dos valores sociais ligados às questões em debate e, principalmente da qualidade dos programas ou das instituições. Um recente trabalho do instituto de pesquisa RAND constatou que não houve vantagens significativas para a mediação quando comparada ao processo heterocompositivo judicial e concluiu que esses resultados insatisfatórios decorreram de programas que não foram adequadamente desenvolvidos para atender os objetivos específicos que os usuários de tal processo buscavam. Esses projetos examinados pelo Instituto RAND tiveram, como conclui essa pesquisa, insuficiente treinamento de mediadores e oportunidades inadequadas para a participação dos envolvidos (HENSLER, 1997, p. 9).11 Segundo a professora Deborah Rhode (2000, p. 135), a maioria dos estudos existentes indica que a satisfação dos usuários com o devido processo legal depende fortemente da percepção de que o procedimento foi justo. Outra importante conclusão foi no sentido de que alguma participação do jurisdicionado na seleção dos processos a serem utilizados para dirimir suas questões aumenta significativamente essa percepção de justiça. Da mesma forma, a incorporação pelo Estado de mecanismos independentes e paralelos de resolução de disputas aumenta a percepção de confiabilidade (accountability) no sistema (LIND; TYLER, 1988, p. 64-67; STEMPEL apud RHODE, 2000, p. 135). No Brasil, os resultados colhidos em alguns projetos-piloto de mediação forense demonstram que, após serem submetidas a esse processo autocompositivo, a maioria das partes acredita que a mediação as auxiliará a melhor dirimir conflitos futuros. Exemplificativamente, na pesquisa realizada no Programa de Mediação Forense do TJDFT com partes que não alcançaram acordo na mediação forense, constatou-se que mais de 85% dos entrevistados12 acreditam que o processo do qual participaram os ajudará a melhor resolver questões semelhantes no futuro.13 Programas similares 10 De fato, há diversas situações em que a mediação ou a arbitragem podem não ser recomen- dadas, como demandas que versem sobre interesses coletivos ou que requeiram elevado grau de publicização (e.g. Ações Civis Públicas ou ações de indenização decorrentes de danos à saúde causados pelo uso do amianto como isolante térmico). 11 No mesmo sentido, cf. Hensler (2003); Hensler (1999). 12 Na pesquisa realizada com partes que conseguiram transacionar, todos responderam acreditar que o processo do qual participaram os ajudará a melhor resolver questões semelhantes no futuro. 13 Para maiores detalhes quanto a esses resultados, vide relatório do Projeto Piloto em Mediação Fo- rense do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br>. Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 20 21 em outros países (PLAPINGER, 1992; RHODE, 2000) também apresentam resultados semelhantes — dos quais se pode concluir marcante tendência nos ordenamentos jurídico-processuais de direcionar procedimentos para que tratem do futuro da relação social das partes em disputa (i.e., para que sejam prospectivos na forma de abordagem de questões) e para que sejam mais do que conjuntos de atos coordenados lógica e cronologicamente segundo brilhantes modelos teóricos que lamentavelmente se projetam na prática como morosos, ineficientes e, em relação à classificação de Deutsch, em regra, destrutivos. 3 Constatações empíricas referentes à efetividade processual Em relevante artigo publicado na Harvard Business Review de maio/junho de 1994, os autores Todd B. Carver e Albert A. Vondra (1994)14 apresentam interessante perspectiva empírica quanto à efetividade dos novos mecanismos de resolução de disputas. Os autores indicam que a arbitragem e a mediação podem apresentar significativa probabilidade de fracasso quando: a) as partes em conflito e respectivos advogados não tiverem adequada compreensão de como os processos de arbitragem ou mediação são distintos do processo judicial; b) as partes em conflito adotarem RADs como uma alternativa secundária para tratar de questões de menor importância; c) as partes considerarem uma vitória sobre a outra como a única opção adequada; e d) as partes constituírem advogados excessivamente litigiosos. a) As partes em conflito e respectivos advogados não têm adequada compreensão de como os processos de arbitragem ou mediação são distintos do processo judicial. No que concerne à adequada compreensão das partes e advogados quanto às características intrínsecas de cada um dos mecanismos de resolução de disputas, cumpre registrar que há uma prática profissional específica para cada um desses processos. Exemplificativamente, no processo judicial há o princípio da eventualidade,15 segundo o qual às partes compete alegar tudo o que pretendem no primeiro momento possível, sob pena de exaurirem-se suas oportunidades em razão da preclusão temporal. Como corolário lógico do princípio da eventualidade, há uma prática recorrente de advogados de apresentarem pedidos que excedem o que realmente acreditam que podem (e devem) receber. Da mesma forma, são suscitados incidentes que, segundo alguns causídicos, se mostrariam necessários tão somente em razão do dever de exaurir todas as possibilidades de defesa (e.g., falsidade documental). A adoção dessa conduta em uma arbitragem provoca uma elevação acentuada dos custos (e.g., honorários do árbitro e eventuais peritos) desse processo. A compreensão de que a arbitragem seria um processo judicial privatizado ou 14 Este artigo encontra-se traduzido para o português em: Azevedo (2005, v. 4). 15 Também conhecido como Princípio da Imutabilidade ou Princípio da Concentração ou ainda Princípio da Preclusão. Sobre esse tema, cf. Carreira Alvim (1993); e Cintra, Grinover e Dinamarco (2002). André Gomma de Azevedo 22 23 “disfarçado” (litigation in disguise) (CARVER; VONDRA, 1994, p. 123) somente contribui para a imprópria condução da arbitragem e, por conseguinte, elevados custos, excessiva litigiosidade e, naturalmente, insatisfação das partes com seu desenvolvimento. Cabe ressaltar que, além de cursos de capacitação em advocacia na arbitragem e na mediação, há substancial doutrina (BARBADO, 2003; COOLEY, 2001; COOLEY; LUBET, 2001; AZEVEDO;SILVA, 2003) acerca da adequada técnica e conduta profissional do advogado nesses citados mecanismos de resolução de disputas. b) As partes em conflito adotam RADs como uma alternativa secundária para tratar de questões de menor importância. A experiência dos últimos 20 anos tem mostrado que o comprometimento com a forma de resolução de disputa adotada (com respectivas características) influi significativamente para o adequado desenvolvimento do processo e, por conseguinte, para a satisfação das partes com a solução alcançada. Empresas e escritórios de advocacia que tratam arbitragem ou mediação como uma “forma secundária” de resolução de disputas tendem a não investir em treinamento de seus advogados e administradores. Como consequência, há o exercício intuitivo desses processos, que, em regra, se resume a aplicar a conduta profissional característica do processo judicial à mediação ou à arbitragem. Naturalmente, como visto acima, essa prática intuitiva em regra leva ao desvirtuamento da arbitragem e consequentes custos mais elevados (ou redução dos níveis de satisfação dos usuários). No que concerne à mediação, como registrado em outra oportunidade (AZEVEDO, 2003, p. 160), quando a autocomposição é desenvolvida intuitivamente, em razão da falta de técnica adequada, em regra, há por parte do mediador ou conciliador a imposição de um juízo de valor. Como consequência, há perda de legitimidade nessa “autocomposição intuitiva”, pois as partes muitas vezes não se sentem estimuladas a comporem seus conflitos e sim coagidas a tanto. Destarte, mostra-se necessário o efetivo engajamento tanto por parte do departamento jurídico da empresa quanto por parte de advogados externos com a arbitragem e a mediação. Nesse intuito, algumas organizações têm desenvolvido projetos notáveis de conscientização quanto às novas formas de resoluções de disputas e seus resultados. O Centro de Recursos Públicos (Center for Public Resources), uma instituição sem fins lucrativos sediada em Nova Iorque, tem reunido, desde 1979, diretores de departamentos jurídicos de empresas, sócios de escritórios de advocacia, juízes, professores universitários e outras autoridades para identificarem, desenvolverem e aplicarem formas apropriadas de resolução de disputas que alcancem resultados melhores do que aqueles atingidos no processo judicial. Um dos principais projetos do Centro de Recursos Públicos consiste em reunir aproximadamente 4.000 empresas e escritórios de advocacia para subscreverem o “Pacto de RADs” (ADR Pledge), um acordo interinstitucional que moralmente obriga (e formalmente estimula) tais signatários a explorarem o uso de mediação, arbitragem e outros processos de resolução de disputas quando em conflito com outros Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 22 23 signatários.16 c) As partes consideram uma vitória sobre a outra como a única opção adequada. Segundo John Von Neumann, que primeiramente introduziu com adequada cientificidade o conceito de teoria dos jogos (ALMEIDA, 2003; 2009), dentre as várias classificações das diversas dinâmicas, relações ou jogos nos quais partes em conflito podem se encontrar, há uma que merece especial atenção: aquela que divide as relações (ou jogos) em “jogos de soma zero” e “jogos de soma não-zero”. Jogos de soma zero são aqueles em que há dois jogadores cujos interesses são absolutamente antagônicos (RAPOPORT apud ALMEIDA, 2003). Estas relações são aquelas nas quais o ganho de uma parte acarreta necessariamente a derrota da outra — não pode haver, por exemplo, em um jogo de xadrez, a vitória por parte dos dois lados. Em campeonatos, um empate equivale a uma meia derrota (ou meia vitória). Segundo Almeida (2003, p. 186): [...] uma característica importante destes jogos é que eles são, necessariamente, jogos não-cooperativos — isto é, um jogador não agregará valor algum de utilidade se cooperar com o outro. Aliás, uma eventual cooperação é impossível, já que significa que o jogador cooperativo está colaborando para a vitória do outro, tendo em vista a impossibilidade de ambos ganharem. Segundo esse mesmo autor, “Jogos de soma não-zero, por sua vez, representam a maior parte dos conflitos reais [...]”. Nestes jogos, os participantes têm interesses comuns e, concomitantemente, interesses antagônicos. O contrato de compra e venda pode ser apresentado como um exemplo de relação de soma não-zero — pois o comprador e o vendedor têm, em parte, interesses antagônicos, haja vista que o comprador quer adquirir o bem a um preço reduzido e o vendedor alienar a um preço elevado. Todavia, há um interesse comum: ambos querem concluir o negócio jurídico para com isso auferir seus ganhos 16 O Centro de Recursos Públicos apresenta o Pleito de RADs por meio da seguinte proposta de política interna para empresas: “Nós reconhecemos que para muitas disputas há um método mais eficiente e menos oneroso do que o processo judicial tradicional. Procedimentos de Resoluções Alternativas de Disputas (RADs) envolvem técnicas colaborativas que podem frequentemente proporcionar significativas economias para as empresas. Em reconhecimento ao que segue acima, nós subscrevemos a seguinte declara- ção de princípios em nome de nossa empresa e suas subsidiárias domésticas: No caso de haver uma disputa comercial entre nossa e outra empresa que fez ou fará semelhante declaração, estamos preparados para explorar com a outra parte a resolução da disputa por intermédio da negociação ou alguma outra técnica de RAD antes de buscar a tutela estatal tradicional. Se alguma das partes acreditar que determinada disputa não se mostra adequada para RAD ou se tal mecanismo não produzir resultado satisfatório, qualquer parte poderá proceder com o processo judicial”. De forma semelhante, essa mesma instituição promoveu semelhante pleito de RADs para escritó- rios de advocacia: “Nós reconhecemos que para muitas disputas há um método mais eficiente e menos oneroso do que o processo judicial tradicional. Procedimentos de Resoluções Alternativas de Disputas (RADs) — usados em conjunto com o processo judicial ou independentemente — podem reduzir signifi- cativamente os custos e perdas decorrentes do processo judicial, bem como podem resultar em soluções não disponíveis em juízo estatal. Em reconhecimento ao que segue acima, nós subscre- vemos a seguinte declaração de princípios em nome de nosso escritório de advocacia: Inicialmen- te, adequados advogados de nosso escritório serão capacitados acerca de RADs. Ainda, quando apropriado, o advogado responsável discutirá com o cliente a disponibilidade de procedimentos de RADs para que o cliente possa tomar uma decisão informada referente à resolução da disputa” (Disponível em: <http://www.cpradr.org>). André Gomma de Azevedo 24 25 individuais. Uma característica deste tipo de relação consiste na possibilidade de comunicação e cooperação, que, se desenvolvida adequadamente, proporciona ganhos mútuos. Ao tratar o conflito como um jogo de soma zero, frequentemente as partes em conflito inadvertidamente abdicam de diversos interesses que possuem, como a manutenção do relacionamento social pré-existente com a outra parte ou a resolução dos pontos controvertidos como objetivamente apresentados no início do conflito e não em razão de um acirramento do conflito que se expandiu, tornando-se “independente de suas causas iniciais” (DEUTSCH, 1973, p. 351). A percepção de que se faz necessário em um determinado conflito que uma parte “vença a outra” (jogo de soma zero) — e não “objetivamente resolva os pontos em relação aos quais as partes divergem” — faz com que as partes envidem esforços para prejudicar uma à outra e não necessariamente apenas para resolver os pontos controvertidos. Em processos privados, como a mediação e a arbitragem, que envolvem profissionais liberais que, em regra, estipulam honorários por hora trabalhada (ou considerando uma projeção de horas a serem trabalhadas),a abordagem pelas partes desses processos como se fossem relações de soma zero produz, em regra, dispêndio de tempo e, por consequência, elevação desnecessária de custos. d) Os advogados adotam postura excessivamente litigiosa e adversarial. Muitos advogados, ao ponderarem sobre suas práticas profissionais, concluem que o efetivo “empenho” previsto no preâmbulo do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil17 requer que desenvolvam o maior número de atividades dentro de suas relações processuais em curso, desde que estas não sejam expressamente proibidas em lei. Essa conduta estimula advogados a litigar de forma enfática, buscando auferir todas as formas possíveis de ganhos para seus clientes. Em regra, esta relação ocorre sob forma de jogo de soma zero — isto é, busca-se vencer determinada lide, derrotando a parte contrária. Todavia, sob a ótica do próprio Código de Ética e Disciplina, constata- se que a advocacia zelosa resume-se a buscar os meios mais eficientes para atender da melhor forma possível aos interesses da parte que está a representar (MNOOKIN; PEPPET; TULUMELLO, 2000, p. 292). A presunção de que este meio mais eficiente equivale ao exercício profissional por intermédio de litigiosidade excessiva contraria esse próprio Código de Ética e Disciplina que, em seu artigo 2º, parágrafo único, VI, estabelece o dever de “estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios”. Percebe-se, assim, que os advogados detêm bastante flexibilidade ao definir qual conduta reflete a “advocacia zelosa”, podendo estes optar tanto por uma que reflita uma “litigiosidade eficiente” quanto por uma que apresente uma litigiosidade excessiva (e ideofrênica). Os interesses do cliente (tanto aqueles juridicamente tutelados como aqueles outros que não o são) podem ser melhor atendidos por uma perspectiva mais racional e planejada sobre a forma de resolução do conflito. Segundo William Ury (1991), trata-se de “atacar” as questões controvertidas e não a pessoa com quem se interage. 17 Publicado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil no Diário da Justiça, Seção I, 1º.3.1995, p. 4.000-4.001. Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 24 25 4 A perspectiva construtivista da resolução de disputas como forma de assegurar maior efetividade processual Possivelmente uma das mais importantes atribuições de qualquer terceiro imparcial atuante em processos de resolução de disputas (juiz de direito, mediador ou árbitro) consiste precisamente em contribuir para que um processo destrutivo de resolução de conflitos se transforme em um processo construtivo. Para tanto, mostra-se fundamental a adequada preparação quanto às técnicas de resolução de disputas necessárias para estimular as partes a desenvolverem soluções criativas que permitam a compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos e para motivar todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição de culpa. Da mesma forma, mostra-se necessário o desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses (DEUTSCH, 1973, p. 360) e a abordagem de, além das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que estejam influenciando a relação (social) das partes. Como exemplo de uma dessas técnicas construtivistas, tanto no processo de mediação como no de arbitragem (quando desenvolvidos adequadamente), recomenda-se a identificação de questões controvertidas e o estabelecimento de meios de prova a serem utilizados para dirimi-las. Desta forma, o mediador ou árbitro deve estimular as partes a abordarem os pontos em relação aos quais há real controvérsia. Assim se evita que as partes ataquem umas às outras ou estabeleçam como causa do conflito a personalidade, a etnia, a religião, a raça, o gênero, a conduta social ou qualquer outro fator personalíssimo na outra parte. Cumpre registrar que, no nosso ordenamento jurídico processual, há previsão dessa técnica específica no artigo 331, §2º, do Código de Processo Civil, segundo o qual “se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário”. Todavia, cabe mencionar que esta é uma técnica fortemente recomendada também para processos autocompositivos, não havendo motivo para proceder-se a essa organização de questões a serem debatidas somente após a conciliação mostrar-se frustrada. Ademais, a moderna doutrina (GOLANN, 1995; COOLEY, 2000; SLAIKEU, 2004; MOORE, 1998) recomenda a identificação não somente de questões, mas também de interesses e sentimentos. Essa corrente tem sustentado que a identificação de interesses permite que se explorem aspectos não jurídicos do conflito (e.g., vizinhos que têm o interesse de manter uma adequada ou cordial relação ou um casal que está a se separar e que tem o interesse de proceder a tal rompimento da relação sem prejudicar a imagem que seus filhos terão do casamento enquanto instituição familiar). Da mesma forma, faz-se necessário também identificar quais são as disposições emocionais das partes em conflito, pois frequentemente seus sentimentos alteram suas percepções a ponto de impedi-las de apreciar objetivamente os pontos controvertidos (PERRONI, 2003; BIRKE; FOX, 1999). A partir dos novos desenvolvimentos em arbitragem e mediação e em razão dos resultados das pesquisas de avaliação de qualidade de programas de RADs (e pesquisas de satisfação dos usuários quanto a esses novos processos) André Gomma de Azevedo 26 27 (BARUCH BUSH, 2003-2004; ROLPH; MOLLER, 1995; RESNIK, 1994-1995; AZEVEDO, 1998), pode-se afirmar que há crescente tendência das instituições provedoras de arbitragem e mediação em direcionar seus esforços para capacitar árbitros e mediadores a conduzir seus procedimentos estimulando as partes a transformá-los em processos construtivos. 5 Conclusão Diante da significativa contribuição de Morton Deutsch (1973) ao apresentar a definição de processos construtivos de resolução de disputas, pode-se afirmar que ocorreu uma recontextualização acerca do conceito de conflito, na medida em que se registrou ser este um elemento da vida que inevitavelmente permeia todas as relações humanas e contém potencial de contribuir positivamente nessas relações. Nesse sentido, com base em construções teóricas de caráter multidisciplinar corroboradas por projetos- piloto existentes no Brasil, pode-se afirmar que, se conduzido construtivamente, o conflito pode proporcionar crescimento pessoal, profissional e organizacional (DEUTSCH; COLEMAN; MARCUS, 2000). A abordagem do conflito no sentido de que este pode, se conduzido com técnica adequada, ser um importante meio de conhecimento, amadurecimento e aproximação de seres humanos, impulsiona relevantes alterações quanto à ética e a responsabilidade profissional. Semelhantes alterações ocorreram em meados do século XIX, período no qual muitos médicos ainda vestiam, no exercício de seus ofícios, pesados casacos de pele e roupa preta como sinal de distinção. Nesta época, o médico húngaro Ignaz Semmelweis, ao perceber que muitos profissionais saíam da sala de autópsia para a sala de parto do Hospital Geral da Viena sem trocar de roupa ou sequer lavar as mãos, concluiu que algum desconhecido “material cadavérico” causava a elevadíssima taxa de mortalidade em parturientes de aproximadamente 13% (GILLESPIE, 1980). Ao propor que os médicos lavassem as mãos com uma solução a base de cloro, Semmelweis constatou queda de aproximadamente 85% na taxa de mortalidade, reduzindo esta para 2% dos casos. Posteriormente, quando voltou para a Hungria e conseguiu persuadir colegas médicos a abandonarem os trajes de peles escuras e utilizarem roupas brancas, alcançou nova redução do índice demortalidade de cerca de 60%, chegando a níveis de letalidade de 0,85% dos casos. As ideias acerca da transmissibilidade de microorganismos patogênicos (germes) por intermédio dos médicos foram recebidas com muito cepticismo na Áustria onde Semmelweis desenvolveu tal teoria. Em parte, muitos médicos resistiram à ideia de terem que mudar diversas convenções sociais e utilizarem roupas brancas — vestimentas inusitadas para a época. Por outro lado, muitos não acreditavam que poderiam estar servindo como meio de transmissão de doenças. Semelhantemente à relação de médicos com agentes patológicos, no Direito moderno, em especial diante do conceito apresentado por Morton Deutsch de processos construtivos de resolução de disputas, constata-se que em grande parte o ordenamento jurídico processual, que se dirige predominantemente à pacificação social, organiza-se, em especial na sua feição pública (i.e., processo judicial), em torno de processos destrutivos, lastreados em procedimentos Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 26 27 fundados, em regra, somente no direito positivo. Pode-se afirmar que, mesmo na iniciativa privada (i.e., mediação e arbitragem), em função da falta de preparo técnico e desnecessária judicialização desses processos,18 ainda há com frequência processos destrutivos. As partes, quando buscam, para solução de seus conflitos, auxílio do Poder Judiciário ou de entes privados que servem para resolver litígios “sob os auspícios do Estado”19 frequentemente têm o conflito acentuado ante procedimentos que abstratamente se apresentam como brilhantes modelos de lógica jurídico-processual, mas que na prática acabam por se mostrar ineficientes e enfraquecer os relacionamentos sociais preexistentes entre as parte em conflito. Quando um árbitro sentencia, determinando quem deve indenizar e o quantum a ser indenizado a título de danos materiais, põe fim, sob a perspectiva do direito positivado, a um determinado litígio. Todavia, pode não estar resolvendo a relação conflituosa se, e.g., deixar de suscitar o debate de como eventual falha de comunicação poderia ser evitada para que as partes possam evitar novos problemas no futuro ou deixar de estimular o debate sobre pontos que não sejam juridicamente tutelados. De fato, ainda há com frequência julgadores que, inadvertidamente, acirram o próprio conflito, criando novas dificuldades para as partes em disputa (COSTA, 2004). Torna-se claro que o conflito, em muitos casos, não pode ser completamente resolvido tão somente por abstrata aplicação da técnica de subsunção. Ao considerar que sua função consiste somente em examinar quais fatos encontram-se demonstrados para, em seguida, indicar o direito aplicável à espécie (subsunção), o operador do direito muitas vezes deixa de fora um componente fundamental ao conflito e sua resolução: o ser humano. Com a incorporação de diversos processos ao sistema processual, constata-se que o operador do direito deve passar também a: a) preocupar-se com a litigiosidade remanescente — aquela que pode persistir entre as partes após o término de um processo de composição de conflitos em razão da existência de conflitos de interesses que não foram tratados no processo judicial — seja por não se tratar de matéria juridicamente tutelada (e.g., vizinhos que permanecem em posições antagônicas em razão de comunicação ineficiente entre ambos), seja por não se ter aventado tal matéria juridicamente tutelada no curso do processo; b) voltar-se, em atenção ao princípio do empoderamento (BARUCH BUSH; FOLGER, 1994), a um modelo preventivo de conflitos, na medida em que capacita as partes a melhor comporem seus conflitos educando- as com técnicas de negociação e mediação; e 18 No Brasil, há diversas instituições autodenominadas de “Tribunais Arbitrais” que, compostas por “juízes arbitrais”, insistem em judicializar a arbitragem. De um lado, seguindo a linha de Car- ver e Vondra, essas instituições se encontram desenvolvendo técnica imprópria, por não terem a adequada compreensão de como os processos de arbitragem ou mediação são distintos do pro- cesso judicial. De outro lado, se seus usuários forem induzidos ou mantidos em erro, mediante intimações ou citações obscuras, poderá restar caracterizado o crime de estelionato (artigo 171 do Código Penal). 19 Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988, p. 8), ao conceituarem o “Acesso à Justiça”, apresen- taram “duas finalidades básicas do sistema jurídico — o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado”. André Gomma de Azevedo 28 29 c) atuar como instrumento de pacificação social para que haja uma maior humanização do conflito (i.e., compreensão recíproca), em atenção ao princípio da validação ou princípio do reconhecimento recíproco de sentimentos (BARUCH BUSH; FOLGER, 1994, p. 191). Na medida em que esse novo paradigma de ordenamento jurídico se desenvolve, nota-se a necessidade da adequação do exercício profissional de árbitros, mediadores e magistrados, para que estes assumam cada vez mais uma função de gerenciamento de disputas (ou gestão de processos de resolução de disputas). Naturalmente, a mudança de paradigma decorrente dessa nova sistemática processual atinge, além de magistrados, todos os operadores do direito, já que, quando exercerem suas atividades profissionais, devem se voltar para uma atuação cooperativa enfocada na solução de controvérsias de maneira mais eficiente e construtiva. Criou-se a necessidade de um operador de processos de RADs que aborde questões como um efetivo pacificador ou no mínimo como um solucionador de problemas (ou questões). A análise da efetividade de processo de resolução de disputas reflete uma crescente tendência de se observar o operador de processos de RADs como um pacificador — mesmo em processos heterocompositivos, pois começa a existir a preocupação com o meio mais eficiente de compor certa disputa, na medida em que esta escolha passa a refletir a própria efetividade do trabalho do profissional. A composição de conflitos “sob os auspícios do Estado”, de um lado, impõe um ônus adicional ao magistrado, que deverá acompanhar e fiscalizar seus auxiliares (e.g., mediadores e árbitros), ainda que somente quando requisitado — como no exemplo da demanda anulatória de arbitragem. Por outro lado, a adequada sistematização e desenvolvimento de mecanismos voltados a aumentar a eficiência desses processos e o estímulo para que estes se tornem processos construtivos é marcante tendência do direito processual, na medida em que “vai ganhando corpo a consciência de que, se o que importa é pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por outros meios, desde que eficientes” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2002, p. 29). Ao se proceder alegoricamente ao conceito de higiene pessoal apresentado por Semmelweis, conclui-se que se de um lado os operadores da área de saúde têm a responsabilidade profissional voltada ao prolongamento da vida, por outro, os operadores da área do direito estão deontologicamente ligados à pacificação social e à preservação e aperfeiçoamento de relações sociais. Ainda, da mesma forma com que muitos médicos, principalmente no passado, a despeito da evidente boa intenção de preservar a vida, infectavam pacientes com agentes patológicos, operadores do direito — na maior parte das vezes muito bem intencionados — têm grandes dificuldades (por falta de treinamento técnico) em auxiliar as partes em disputa a construtivamente resolverem disputas. Como exemplificado em outra oportunidade (COSTA, 2004, p. 161), quando um juiz de direito sentencia determinando com quem ficará a guarda de um filho ou os valores a serem pagos a título de alimentos, encerra, para fins do direito positivado, um determinado litígio. Todavia, além de não resolver a relação conflituosa, muitas vezes acirra o próprio conflito, criando novas dificuldadesentre os divorciandos/separandos, bem como para os filhos. Conclui-se dos resultados em pesquisas de mensuração de qualidade Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 28 29 de programas de mediação e arbitragem (DEUTSCH, 1973) que as instituições provedoras desses serviços com notáveis índices de satisfação dos usuários têm em comum: a) árbitros e mediadores adequadamente formados que exercem suas funções em instituições que planejaram seus procedimentos para a satisfação de todos os seus usuários; b) foram utilizadas, mesmo em arbitragens, algumas técnicas autocompositivas próprias por intermédio de operadores adequadamente treinados;20 c) muitos programas foram desenvolvidos com claras orientações qualitativas (i.e., dirige-se o processo não apenas visando elevado número de sentenças ou transações, mas sim elevada satisfação dos usuários quanto ao processo e ao seu resultado) (DEUTSCH, 1973); d) houve direcionamento para que a satisfação de usuários fosse um dos principais fatores de divulgação da instituição; e e) houve a aproximação de técnica própria para que todos os operadores de processos de resolução de disputas efetivamente atuassem como agentes catalisadores de pacificação social e fossem capazes de resolver lides construtivamente ao fortalecer relações sociais, identificar interesses subjacentes ao conflito, promover relacionamentos cooperativos, explorar estratégias que venham a prevenir ou resolver futuras controvérsias (RHODE, 2000, p. 132), e educar as partes para uma melhor compreensão recíproca (BARUCH BUSH; FOLGER, 1994). No que concerne ao papel de magistrados, árbitros e mediadores diante dessa nova realidade do ordenamento jurídico processual, cabe mencionar que essa nova conduta profissional está tão somente adequando-se à nova concepção de Direito apresentada contemporaneamente por diversos autores, entre eles Boaventura de Sousa Santos (1988, p. 72), segundo o qual: [...] concebe-se o direito como o conjunto de processos regularizados e de princípios normativos, considerados justificáveis num dado grupo, que contribuem para a identificação e prevenção de litígios e para a resolução destes através de um discurso argumentativo, de amplitude variável, apoiado ou não pela força organizada. No atual ordenamento jurídico processual brasileiro e, por conseguinte, nas diversas instituições provedoras de serviços de mediação e arbitragem no Brasil, há amplas oportunidades de melhoria e concretas demonstrações de que processos construtivos são não apenas viáveis, mas determinantes para a efetividade do sistema processual e dessas instituições individualmente. Aos diligentes e engenhosos operadores de tais processos, tal como feito por Semmelweis na área de saúde, compete examinar com muita atenção o quanto suas atuações e técnicas estão produzindo resultados construtivos, ao aproximar as partes em disputa e melhorar a relação social entre estas existentes, ou destrutivos, ao aplicar cruamente as normas processuais a ponto 20 Como indicado acima, sobre as diversas técnicas existentes, cf. o endereço eletrônico do Gru- po de Pesquisa e Trabalho em Resolução Apropriada de Disputas na Faculdade de Direito da Uni- versidade de Brasília (disponível em: <http://www.unb.br/fd/gt>, seção Bibliografia) onde poderá ser encontrada lista detalhada de obras. Destacam-se, contudo, os seguintes trabalhos: Moore (1998); Slaikeu (2004); Cooley (2000); Goldberg et al. (1992); e Golann (1995). André Gomma de Azevedo 30 31 de eventualmente permitir que entre as partes em conflito subsista litigiosidade após a prolação de uma sentença, o que seguramente produz o enfraquecimento da relação social que vincula as partes. Diante da teoria de conflito existente (DEUTSCH, 1973; DEUTSCH; COLEMAN; MARCUS, 2000; BUNKER; RUBIN, 1995; MAYER, 2000; 2004) não cabe mais aos operadores desses processos de resolução de disputas (nem a magistrados, promotores ou advogados) se posicionarem atrás de togas escuras e agir sob um manto de tradição, mas sim permitirem que partes, quando busquem auxílio (do Estado ou de uma instituição que atue sob seus auspícios) para a solução de conflitos, recebam tratamento voltado a estimular maior compreensão recíproca, humanização da disputa, manutenção da relação social e, por consequência, maior realização pessoal, bem como melhores condições de vida. Referências ALCALÁ-ZAMORA Y CASTILLO, Niceto. Proceso, auto composición y autodefensa: contribución al estudio de los fines del proceso. 3. ed. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1991. ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. Democracia e constitucionalismo: perspectivas metodológicas a partir da teoria dos jogos. Instituto Comportamento, Evolução e Direito. [2009]. Disponível em: <http://www.iced.org.br/artigos/democracia_fabio_almeida.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2009. ______. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2003. v. 2. ASHWORTH, Andrew. Responsibilities, rights and restorative justice. The British Journal of Criminology, v. 42, n. 3, p. 578-595, Summer 2002. AZEVEDO, André Gomma de. Autocomposição e processos construtivos: uma breve análise de projetos-piloto de mediação forense e alguns de seus resultados. In: ______ (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2004. v. 3. ______. Basic notions of quality management in mediation. 1998. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Columbia, Nova Iorque, 1998. ______ (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Brasília Jurídica; Grupos de Pesquisa, 2002-2005. 4 v. ______. Perspectivas metodológicas do processo de mediação: apontamentos sobre a autocomposição no direito processual. In: ______. (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2003. v. 2. AZEVEDO, André Gomma de; SILVA, Cyntia Cristina de Carvalho e. Guia sobre a advocacia na mediação: noções preliminares. Brasília: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, 2003. (Cartilha: Programa de Estímulo à Mediação: Projeto-Piloto de Mediação Forense). BARBADO, Michelle Tonon. Um novo perfil para a advocacia: o exercício profissional do advogado no processo de mediação. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Estudos em Fatores de efetividade de processos de resolução de disputas 30 31 arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2003. v. 2. BARUCH BUSH, Robert A. One size does not fit all: a pluralistic approach to mediator performance testing and quality assurance. Ohio State Journal on Dispute Resolution, v. 19, p. 965-1004, 2003-2004. BARUCH BUSH, Robert A.; FOLGER, Joseph P. The promise of mediation: responding to conflict through empowerment and recognition. San Francisco: Jossey-Bass, 1994. BIRKE, Richard; FOX, Craig R. Psychological principles in negotiating civil settlements. Harvard Negotiation Law Review, v. 4, p. 1, 1999. BUNKER, Barbara Benedict; RUBIN, Jeffrey Z. (Eds.). Conflict cooperation and justice: essays inspired by the work of Morton Deutsch. San Francisco: Jossey-Bass, 1995. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: S.A. Fabris, 1988. CARREIRA ALVIM, José Eduardo. Elementos de teoria geral do processo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. CARVER, Todd B.; VONDRA, Albert A. Alternative dispute resolution: why it doesn’t work and why it does. Harvard Business Review, may/jun. 1994. CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 2. ed. Campinas: Bookseller, 2000. v. 2. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2002. COOLEY, John W. A advocacia na mediação. Brasília: Universidade de Brasília, 2001. ______. The Mediator’s handbook: advanced
Compartilhar