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Medicina do trabalho - Aula 8 - Documentário carne e osso

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Beatriz Machado de Almeida 
Medicina do trabalho – Aula 8 
Discussão 
O médico também é um trabalhador. Foi-se o tempo 
em que o médico tinha seu consultório, decidia em que 
hospital iria internar o paciente dele. O médico hoje 
trabalha alugando consultório de hospital, tendo que 
obedecer aos horários, pouca autonomia, cobram 
dele produtividade, vai passar enfermaria, e às 
vezes ele é comparado com o colega que conseguiu 
alcançar a meta, mas as custas da ética. Exemplo: o 
médico obstetra chegava a uma enfermaria do SUS, 
na porta, e perguntava quem pariu normal, sendo a 
resposta da paciente levantando a mão e, dali 
mesmo, ele perguntava se estava sentindo dor, sem 
ir até a paciente, entrevistar uma a uma, colocar a 
mão na barriga para ver se o útero estava contraído, 
não ia olhar o absorvente para ver o sangramento, a 
loquiação. E dessa forma, na porta também, 
perguntava quem havia feito cesárea, curetagem, 
sem ir até a paciente. Isso não é medicina. 
Ao olhar o prontuário, tem lá a evolução, prescrição, 
cumpriu a papelada, mas o médico não foi examinar, 
não fez uma história clínica individual. A paciente 
teria que falar na frente de todas suas queixas, sem 
privacidade, intimidade. Porém, o gestor pode gostar 
mais dele do que daquele que não consegue trabalhar 
desta forma, e esse é o problema. 
Diante do filme, de tudo que foi comentado e do que 
o professor comentou também, dá uma ideia de que o 
patrão é o diabo na Terra, dá uma ideia de que todo 
empreendedor, todo chefe é mal-intencionado, age 
de má fé e quer prejudicar o trabalhador. Dá a 
impressão de que você empreender, de se lançar em 
atividade empresarial, é porque você é um crápula. 
É verdade que existem muitos trabalhadores que 
“arrastam chinelo”, e que realmente precisam de 
alguém para impor regras, comando e meta para 
bater. O professor não quer que a gente saia com a 
impressão de que toda linha de produção é ruim, que 
taylorismo, fordismo não tem nenhuma vantagem. 
Charlie Chaplin mostra isso, que taylorismo/fordismo 
é ruim. Isso não é verdade. Isso aumentou 
produtividade, trouxe riqueza. A linha de produção 
de Henry Ford, ele queria que os próprios 
empregados dele ganhassem o suficiente para 
comprar um Ford bigode, um Ford modelo T. Carro 
deixou de ser uma coisa de rico para ser uma coisa de 
classe média. Você trabalha fabricando o carro e você 
vai ser dono de um carro, e você tem um objeto de 
desejo. Ele queria vender, mas para o funcionário era 
bom ter um carro também, era bom ter aquela posse. 
Então não vamos aqui pensar que aquela relação 
patrão-empregado tem que ser de ódio, exploração, 
competição, desconfiança. 
No documentário eles entrevistam algumas pessoas 
conhecidas pelo professor, como por exemplo, a 
doutora japonesinha, Maria Maeno, que é do 
Fundacentro, é médica do trabalho, é da Fundação 
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina 
do Trabalho e é vermelha, petista, cultista e 
demoniza o empregador em geral. Ela é uma pessoa 
extremista, mas aparece no documentário muito 
ponderada. O pernambucano, Paulo Rogério 
Albuquerque de Oliveira, é engenheiro mecânico, 
auditor fiscal do trabalho e também está do 
documentário. 
Uma vez o Fundacentro de Porto Alegre apresentou 
um curso Pré-Congresso. Neste curso, passou um 
filme com uma panificadora automatizada, os 
bolinhos saem do forno na linha de produção e o 
funcionário trabalha em pé, em ortostase, vem a 
esteira com os bolinhos prontos. O funcionário tem 
que pegar nos bolinhos com as mãos, porque tem que 
sentir se está fofinho ou solado, e ele tem que 
visualizar para saber se ficou tostado ou queimado 
e um bolinho que não passa no critério de qualidade, 
ele pega e arremessa em uma cesta porque não vai 
pro lixo e sim para merenda escolar da escola 
pública e para o presídio, vai para os descartáveis 
sociais. Então aquilo que não atingiu o nível de 
qualidade bom, vamos concorrer na licitação pública. 
Agora o que tem o bom nível de qualidade vai para o 
mercado, vai para quem tem dinheiro pra comprar, 
então aí você vai para embalagem. A parte de fazer 
a massa e assar é automatizada, a parte de 
embalar é automatizada, mas essa parte de decidir 
Documentário Carne e Osso 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Medicina do trabalho – Aula 8 
se o bolinho fica ou o bolinho vai para a cesta, é 
humana. 
A primeira cena, você fica com o coração na mão: a 
trabalhadora é uma mulher baixinha, e ela vai 
puxando os bolinhos para a esteira que leva para as 
embalagens, mas na esteira vem muitos bolinhos, 
então ela não consegue fazer mais nada, ela não 
pisca o olho; além dela, tem outro trabalhador, um 
colega que pega o que ela não dá conta de fazer e 
aí vai trazendo os bolinhos. Uma coisa importante é 
que durante todo o filme não muda a velocidade da 
esteira. 
Na segunda cena, observa-se um trabalhador, 
homem, estatura média, que está retirando os 
bolinhos, mas não está sofrendo tanto quanto a 
mulher, e pode-se ter a ideia de que “não é tão ruim 
quanto se pensava”, pois estava-se com uma imagem 
infernal daquele trabalho, mas muda-se de opinião 
quando observa esse trabalhador, pois ele está 
trazendo os bolinhos e quase que não sobra nada 
para o colega fazer. Então pensa-se que um 
trabalhador dá conta sim de fazer este trabalho. 
Em outra cena, tem uma mulher de estatura normal, 
que faz um V com os dedos, e cada movimento que 
ela faz com a mão ela pega dois bolinhos de uma 
vez só, não sobrando nada para o colega, ou seja, 
ela sozinha dá conta da tarefa sem sofrimento. 
Na última cena, observa-se um homem negro muito 
alto com uma mão enorme, onde ele consegue 
facilmente pegar três ou quatro bolinhos de vez 
com uma mão só, passando a impressão de que 
aquele trabalho é fácil, onde qualquer um é capaz 
de fazer aquilo. 
Dessa forma, para explicar o contexto de quando a 
panificadora foi fundada, aquela tarefa (estava 
escrito) era para ser feita com a mão fazendo o V 
com os dedos. O processo de trabalho foi criado 
para pegar de dois em dois, só que não houve gestão 
do conhecimento. À medida em que as pessoas mais 
velhas foram se aposentando, ninguém passou o 
“pulo do gato” e essa cultura se perdeu. As pessoas 
começaram a fazer o mesmo trabalho de forma 
intuitiva, ninguém ensinou os procedimentos. Então o 
trabalho passou a ser extenuante, desumano, 
torturante e lesionador por uma besteira, houve um 
problema de comunicação, de gestão do 
conhecimento. Isso faz com que pensemos que a linha 
de produção que seja rápida demais, quando na 
verdade Charles Chaplin não estava certo, pois o que 
faltava era treinamento, técnica, ter capacitação. 
Pois como dito, estamos demonizando o produtor, 
quem corre risco, quem investe. Quando pensamos 
apenas nos monstros capitalistas esquecemos de 
quantos empresários investiram e perderam tudo. 
Não se deve ter sempre os empresários como vilões, 
de maneira desconfiada. É preciso que o médico e o 
engenheiro do trabalho investiguem o posto de 
trabalho para proteger o trabalhador. 
Material baseado na aula de Dr. Bruno Gil – 
Medicina UniFTC – 7º semestre

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